Mensageiro Sideral https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br De onde viemos, onde estamos e para onde vamos Sat, 04 Dec 2021 19:09:39 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Talvez inócua, conferência do clima representa ascensão da inteligência planetária https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/10/31/talvez-inocua-conferencia-do-clima-representa-ascensao-da-inteligencia-planetaria/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/10/31/talvez-inocua-conferencia-do-clima-representa-ascensao-da-inteligencia-planetaria/#respond Sun, 31 Oct 2021 15:00:42 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/11/PIA00122_hires-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=10163 Começa neste domingo (31), em Glasgow, mais uma conferência do clima da ONU. A ambição é que a COP26 traga mais compromissos dos países para conter as mudanças climáticas. A expectativa, por sua vez, é que os resultados fiquem aquém dos necessários. Mas, dando um passo atrás, talvez ela represente parte de um evento geológico transformador na história da Terra: a ascensão da inteligência planetária.

É um conceito defendido por David Grinspoon, pesquisador da Universidade do Colorado. Nesses tempos de depressão civilizatória, encontrei algum conforto nessa ideia de que o chamado Antropoceno, em vez de uma grande tragédia global, possa ser o início de algo espetacular.

Antropoceno é o nome que se dá à época geológica em que os humanos se tornaram capazes de interferir nos rumos e no destino de seu planeta. Pode soar meio arrogante, mas isso nem sequer é novidade na história da Terra. Grinspoon nos lembra que há antecedentes de criaturas que causaram impacto devastador. Uns 2,5 bilhões de anos atrás, as cianobactérias tomaram conta dos oceanos e encheram a atmosfera de um gás então tóxico para a maior parte das formas de vida: o oxigênio. Extinção em massa e devastação provocada por criaturas vivas, portanto, não é novidade.

A exclusividade dos humanos é o modo pelo qual estamos devastando o planeta, movido por nossa ocupação desordenada suportada por intervenções tecnológicas, ou seja, pela inteligência. Mas, veja lá, é uma inteligência meia-boca. Até hoje, ela trouxe boas soluções locais, mas que produzem efeitos globais inadvertidos e catastróficos. Converter uma área de floresta para a agricultura ou queimar petróleo para locomoção são boas soluções tecnológicas locais. Mas contratam uma desgraça global, se aplicadas em larga escala –como estamos fazendo.

Grinspoon se pergunta se, do ponto de vista de possíveis civilizações avançadas lá fora, essa nossa sagacidade tecnológica representaria real inteligência. E aí elenca o que seria o próximo estágio: a tal inteligência planetária –a capacidade de usar nosso poderio tecnológico transformador para aliar soluções globais e locais, nos preservando e protegendo, como à biosfera, no longo prazo.

Isso exige forte cooperação internacional, o que, como estamos vendo, não é fácil. Grinspoon não tem ilusões quanto ao horizonte imediato. Para ele, as mudanças climáticas já são realidade e ainda cobrarão enorme sofrimento, além de levar gerações futuras a se perguntarem como fomos tão letárgicos, com décadas de sobreaviso. Mas, em eventos como a COP, vemos que a mudança de atitude, embora lenta, está “em andamento”. O século 21 não será batatinha, mas haverá um século 22, e nele talvez a inteligência já tenha se instalado na Terra como um fenômeno planetário –e possivelmente a força mais benigna que o mundo já conheceu. Apesar dos nossos passos em falso, ainda há esperança para a humanidade.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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Estudo sugere que Vênus nunca teve oceanos ou condições habitáveis https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/10/17/estudo-sugere-que-venus-nunca-teve-oceanos-ou-condicoes-habitaveis/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/10/17/estudo-sugere-que-venus-nunca-teve-oceanos-ou-condicoes-habitaveis/#respond Sun, 17 Oct 2021 15:00:30 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2013/09/Earth-and-Venus-SOURCE-NASA-via-the-Apollo-program-and-Mariner-10-150x150.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=10156 Um novo estudo publicado na revista Nature e liderado por pesquisadores da Universidade de Genebra, na Suíça, jogou água na fervura da busca por vida em Vênus. Ele sugere que o nosso vizinho mais próximo sempre foi, desde o nascimento, um inferno quente e inabitável.

Os pesquisadores liderados por Martin Turbet criaram simulações do clima das versões primordiais de Vênus e da Terra, mais de 4 bilhões de anos atrás, quando a superfície dos planetas era de rocha derretida.

Nessa época, ambos os planetas deviam conter vapor d’água apenas na atmosfera, já que o calor impedia a água de condensar e ocupar a superfície. Mas, enquanto a Terra pôde se resfriar, formando chuvas torrenciais que geraram nossos oceanos, lá em Vênus essas condições nunca chegaram. Em vez disso, o efeito estufa descontrolado acabou fazendo com que as moléculas de água fossem quebradas e perdidas para o espaço com o passar do tempo.

Que Vênus já teve muita água no passado é ponto pacífico. Isso porque a análise dos isótopos de hidrogênio (em essência, variantes atômicos que podem ter nenhum, um ou dois nêutrons no núcleo, além de um próton solitário) por lá indica uma presença bem maior de deutério (um nêutron) do que do hidrogênio simples (sem nêutron), comparado à Terra.

O melhor jeito de explicar essa diferença é que, quando as moléculas de água se quebram na atmosfera em razão da luz ultravioleta do Sol, o hidrogênio (mais leve) escapa mais para o espaço que o deutério (mais pesado), criando essa distorção.

A novidade foi a demonstração de como essa água pode nunca ter se estabilizado na superfície. E aí quem sofre são os entusiastas das possibilidades de vida em Vênus. Se o planeta nunca teve condições habitáveis, é improvável que possa ter sido em algum momento palco para o surgimento de micróbios.

Além disso, o estudo explica muito bem por que Terra e Vênus, de início “gêmeos”, evoluíram de forma diferente, levando em conta o que os cientistas chamam de “paradoxo do Sol fraco”. Tem a ver com o fato de que nossa estrela, no passado remoto, era menos brilhante e emitia menos radiação. Isso era difícil de conciliar com o fato de que a Terra sempre se mostrou um planeta com condições amenas, desde muito cedo, em vez de um planeta gélido por conta do Sol menos brilhante.

As simulações mostram que o Sol mais fraco pode ter feito a diferença no sucesso da Terra. Graças a ele, nosso planeta pôde se resfriar a ponto de os oceanos condensarem, algo que nunca teria acontecido em Vênus.

Apesar do bom encaixe com o atual estado do Sistema Solar, vale a ressalva: um modelo é apenas um modelo, e no caso venusiano as incertezas vêm junto com nosso relativo desconhecimento do planeta. Turbet e seus colegas enfatizam que os dados a serem colhidos pelas três missões agora em fase de planejamento (duas americanas, uma europeia) podem ajudar a corroborar ou refutar suas conclusões.

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Nasa lança missão Lucy, dedicada a estudar asteroides ‘companheiros’ de Júpiter https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/10/16/nasa-lanca-missao-lucy-dedicada-a-estudar-asteroides-companheiros-de-jupiter/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/10/16/nasa-lanca-missao-lucy-dedicada-a-estudar-asteroides-companheiros-de-jupiter/#respond Sat, 16 Oct 2021 09:52:15 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/lucy-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=10150 A Nasa lançou neste sábado (16) a sonda Lucy, sua primeira missão robótica dedicada a explorar os asteroides troianos, que acompanham o gigante Júpiter em sua órbita ao redor do Sol.

O lançamento partiu no horário marcado, às 6h34 (de Brasília), em Cabo Canaveral, Flórida. A espaçonave foi levada ao espaço por um foguete Atlas V, iniciando uma jornada que deve durar pelo menos 12 anos. Não é fácil chegar aos arredores da órbita joviana e mais difícil ainda chegar a uma velocidade suficientemente moderada para que a espaçonave possa explorar individualmente vários asteroides, um após o outro.

Para isso, a sonda fará três sobrevoos da própria Terra, em 2022, 2024 e 2030. Após o segundo deles, a Lucy passará, em 2025, por um objeto do cinturão de asteroides que atende pelo peculiar nome Donaldjohanson. É o nome do paleoantropólogo que descobriu o fóssil que dá nome à missão, o australopiteco de 3,5 milhões de anos que ajudou a reconstruir a história da evolução humana (ao estudar os asteroides troianos, a missão espera revelar os segredos da formação do Sistema Solar, tendo impacto similar ao de sua homônima fóssil).

Após passar pelo asteroide Donaldjohanson, a sonda chegará ao primeiro grupo de troianos a serem estudados, num dos cinco pontos de Lagrange que existem em cada sistema gravitacional de dois corpos.

Essas regiões, moldadas pela gravidade combinada de Júpiter e do Sol, servem como uma espécie de estacionamento natural para espaçonaves e outros pequenos objetos, como asteroides. Ao longo da missão, a Lucy visitará os pontos L4 e L5. O L4 fica na órbita de Júpiter, mas 60 graus à frente dele. Lá ela visitará cinto objetos: Eurybates e seu satélite Queta, Polymele, Leucus e Orus. Tudo isso entre 2027 e 2028.

Depois da visita ao L4, a sonda volta a fazer um sobrevoo da Terra e então ruma novamente para a órbita de Júpiter, mas desta vez para o L5, onde visitará pelo menos dois objetos: a dupla Patroclus e Menoetius, em 2033.

Ou seja, serão ao todo 7 asteroides troianos visitados, além do encontro com o Donaljohanson no cinturão de asteroides.

Para operar com sucesso em uma região tão longínqua do Sistema Solar, a sonda conta com dois painéis solares superleves e enormes, cada um formando um círculo com mais de 7 metros de diâmetro.

A missão foi selecionada em 2017 como parte do programa Discovery, em que a Nasa seleciona missões de baixo custo propostas por cientistas com objetivos bem definidos.

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Amostras trazidas da Lua por missão chinesa revelam vulcanismo tardio https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/10/10/amostras-trazidas-da-lua-por-missao-chinesa-revelam-vulcanismo-tardio/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/10/10/amostras-trazidas-da-lua-por-missao-chinesa-revelam-vulcanismo-tardio/#respond Sun, 10 Oct 2021 15:00:33 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/change-5-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=10138 A primeira missão chinesa de retorno de amostras da Lua começou a produzir seus primeiros frutos científicos. Pesquisadores estudando as rochas lunares trazidas pela espaçonave Chang’e-5 indicam que o basalto no local de pouso tem aproximadamente 2 bilhões de anos de idade.

O resultado confirma uma desconfiança que vem crescendo entre os cientistas: a Lua foi vulcanicamente ativa até mais recentemente do que se imaginava antes. Até uns dez anos atrás, a premissa era de que praticamente todo vulcanismo lunar no lado próximo da Lua cessou há uns 3 bilhões de anos, pouco depois da fase de bombardeio pesado tardio, uma época em que o Sistema Solar interno foi todo alvejado por uma grande quantidade de asteroides, entre 4,2 bilhões e 3,8 bilhões de anos atrás.

Além dessa confirmação de vulcanismo mais recente, a determinação da idade precisa desse fluxo de lava “jovem” (para os padrões lunares, não terrestres) ajuda a calibrar a técnica de contagem de crateras usada para datar superfícies lunares e planetárias. O raciocínio é simples: sem poder colher uma amostra de todo e qualquer terreno para datação por decaimento radioativo de elementos presentes no material, os pesquisadores presumem uma taxa média de impactos por asteroides e então contam a quantidade de crateras em uma dada região. As mais antigas têm mais buracos que as mais novas. Agora, com uma datação precisa de uma nova região lunar, fica mais fácil estimar a taxa média de impactos e, assim, calcular a idade de outros locais.

A missão chinesa foi a primeira a colher amostras lunares desde a soviética Luna-24, conduzida em 1976. Ela pousou em Oceanus Procellarum, a exemplo da Apollo-12, de 1969, mas longe do local em que desceu a missão tripulada americana. Trata-se de uma área cujo solo é composto por lava solidificada de uma antiga erupção vulcânica (ou talvez mais de uma, não há certeza). A espaçonave colheu amostras da superfície em dezembro de 2020 e as trouxe de volta à Terra para análise naquele mesmo mês.

O cálculo de idade, feito pela equipe de Xiaochao Che, da Academia Chinesa de Ciências Geológicas, foi publicado em 7 de outubro na revista Science. E agora resta o desafio de explicar como esse vulcanismo recente foi possível. “Não há evidência de altas concentrações de elementos produtores de calor no manto profundo da Lua, então explicações alternativas são exigidas para a longevidade do magmatismo lunar”, escreveram os pesquisadores.

É uma excelente demonstração de como é falsa a noção de que já investigamos a Lua o suficiente para entendê-la de forma completa. Certamente haverá muita ciência a ser produzida lá, conforme diversas nações, puxadas por China e EUA, se preparam para retomar sua exploração, com sondas e tripulações. Esse é só o começo.

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Em rally marciano, rover dos EUA sofre revés e chinês ganha missão estendida https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/08/22/em-rally-marciano-rover-dos-eua-sofre-reves-e-chines-ganha-missao-estendida/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/08/22/em-rally-marciano-rover-dos-eua-sofre-reves-e-chines-ganha-missao-estendida/#respond Sun, 22 Aug 2021 15:00:51 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/zhurong-menor-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=10073 No rally marciano de 2021, o rover americano Perseverance está na liderança, mas com alguns sobressaltos pelo caminho. Em compensação, sua contraparte chinesa, o Zhurong, acaba de ganhar uma missão estendida depois de sobreviver aos primeiros 90 sóis (como são chamados os dias marcianos, com duração um pouco maior que os da Terra, com cerca de 24 horas e 40 minutos).

Não é de fato uma corrida (os dois nem estão no mesmo lugar em Marte), mas há uma disputa por prestígio entre as duas maiores potências espaciais. O Perseverance chegou primeiro ao planeta, tendo pousado com sucesso na cratera Jezero, em 18 de fevereiro. Desde então, ele já percorreu 2,17 km –distância nada desprezável.

O Zhurong, por sua vez, pousou em 14 de maio em Utopia Planitia, e cruzou 889 metros até 15 de agosto, quando acabou sua missão inicial. Pouco menos da metade do que já marcou o hodômetro do Perseverance, em metade do tempo que o rover da Nasa teve em Marte. Por esse ângulo, é uma disputa apertada. E reflete o quanto a tecnologia evoluiu em termos de inteligência artificial para autonavegação –o que torna o avanço pelo terreno mais dinâmico e menos dependente de comandos enviados da Terra.

Para efeito de comparação, o recordista de distância percorrida em Marte é o rover Opportunity, que avançou por 45,16 km. Mas ele o fez em terreno particularmente benigno e ao longo de mais de 14 anos em atividade (2004-2018). Seu irmão gêmeo Spirit, em condições menos clementes, operou por seis anos (2004-2010) e andou apenas 7,73 km. Não será surpresa, pelo andar da carruagem, se tanto o Perseverance como o Zhurong baterem esse recorde. Mas também não há garantias.

Em Utopia Planitia, onde pousou o rover chinês, o terreno é mais favorável. Já na cratera Jezero, durante algum tempo cogitou-se até que fosse inviável pousar, considerados os perigos oferecidos pelas formações geológicas. Em compensação, as recompensas científicas podem ser riquíssimas.

Em termos de instrumentação, ambos os veículos estão operando muito bem e prometem produzir grandes resultados científicos. Mas o Perseverance sofreu em sua primeira tentativa de colher e armazenar uma amostra de Marte. Escolhida a rocha, uma broca foi usada para extrair um pedaço, que no entanto esfarelou e acabou não sendo armazenado corretamente no tubo designado para isso. A equipe planeja tentar de novo, com outra rocha, em breve. A ideia é que um dia essas amostras possam ser trazidas de volta à Terra (algo que os chineses também pretendem fazer, mas não por meio do Zhurong).

Imagem feita pelo Perseverance revela buraco deixado pela primeira tentativa de colher uma amostra, malograda. (Crédito: Nasa)

Em breve, contudo, teremos uma parada no rally. No início de outubro, Marte passará por trás do Sol com relação à Terra, o que impede a comunicação entre os dois planetas. Os dois rovers serão colocados em modo de “espera”, até que o contato possa ser restabelecido, na segunda metade do mês. O que virá depois disso? Só o tempo dirá.

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Lua de Júpiter tem tênue atmosfera de água, indicam observações do Hubble https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/08/01/lua-de-jupiter-tem-tenue-atmosfera-de-agua-indicam-observacoes-do-hubble/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/08/01/lua-de-jupiter-tem-tenue-atmosfera-de-agua-indicam-observacoes-do-hubble/#respond Mon, 02 Aug 2021 02:15:59 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/07/ganimedes-juno-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=10059 Um grupo internacional trabalhando com observações de arquivo do Telescópio Espacial Hubble identificou a presença de vapor d’água na tênue atmosfera da lua joviana Ganimedes.

Trata-se da maior lua do Sistema Solar, um pouquinho maior que Titã, de Saturno, e maior também que o planeta Mercúrio (embora menos densa). Mas falar em atmosfera nesse caso merece uma qualificação: melhor seria dizer exosfera, uma presença muito tênue de gases, que não se compara aos invólucros mais densos mesmo de atmosferas rarefeitas, como a de Marte (que por sua vez tem um centésimo da densidade da terrestre).

Em 1998, um espectrógrafo do Hubble fez as primeiras imagens em ultravioleta de Ganimedes e revelou um padrão de emissões que indicava a presença da exosfera e de um campo magnético, com padrões similares aos de auroras. Foi detectado oxigênio molecular, O2, e imaginou-se que houvesse também oxigênio atômico, para explicar a distribuição das faixas de emissão sobre a lua.

Novas observações foram colhidas em 2010 e 2018 (nessa última ocasião com um instrumento diferente) e então combinadas às feitas anteriormente. O processamento não revelou a presença de oxigênio atômico, e sim de vapor d’água, H2O. O resultado não é de todo inesperado, levando em conta a composição da lua. Ela é coberta por uma espessa crosta de gelo, sob a qual se esconde um oceano global de água líquida (mantido nesse estado pelo efeito de maré poderoso proporcionado por Júpiter).

A equipe de Lorenz Roth, do Instituto Real de Tecnologia KTH, na Suécia, constatou que há locais próximos ao equador em que a temperatura pode subir a ponto de sublimar um pouco do gelo, convertendo-o em gás, e alimentando a exosfera. Nessas regiões, há predominância de vapor d’água, em contraste com áreas mais frias, onde predomina o oxigênio molecular.

O trabalho foi publicado na Nature Astronomy e já serve como um esquenta para futuras missões a Ganimedes, como a europeia Juice, que será lançada em 2022 e deve chegar ao sistema de Júpiter em 2029. Sigla em inglês para Exploradora das Luas Geladas de Júpiter, a espaçonave em construção pela empresa Airbus visitará também Calisto e Europa, antes de entrar em órbita definitiva ao redor de Ganimedes, em 2034.

O principal objetivo da Juice será investigar o potencial de Ganimedes para abrigar vida. Nesse sentido, a melhor aposta segue sendo Europa. Ambas têm oceanos subsuperficiais, mas o de Europa está em contato direto com um leito rochoso e fontes hidrotermais (um possível análogo do local onde a vida primeiro surgiu na Terra). Já o oceano de Ganimedes está ensanduichado entre duas camadas de gelo, acima e abaixo. Por sorte, tem para todo mundo, já que a Nasa também prepara uma nova missão joviana, a Europa Clipper. Ela deve partir em 2024 e chegar lá um pouquinho depois da Juice, em 2030.

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Novo estudo esquenta discussão sobre a habitabilidade das nuvens de Vênus https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/07/04/novo-estudo-esquenta-discussao-sobre-a-habitabilidade-das-nuvens-de-venus/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/07/04/novo-estudo-esquenta-discussao-sobre-a-habitabilidade-das-nuvens-de-venus/#respond Mon, 05 Jul 2021 02:15:38 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/04/Snapshot-47-320x213.png https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=10010 Um novo estudo sugere que as nuvens de Vênus, a despeito de terem temperatura e pressão adequadas para a vida, provavelmente não abrigam microrganismos. O motivo? Falta água. O novo trabalho é liderado por John Hallsworth, da Universidade da Rainha em Belfast, no Reino Unido, e Chris McKay, do Centro Ames de Pesquisa da Nasa, e foi publicado na última edição da Nature Astronomy.

É mais uma pesquisa que mostra como o interesse por nosso planeta vizinho mais próximo (e completamente inóspito à superfície, com temperaturas de 460° C) se reacendeu em tempos recentes, sobretudo após a detecção de fosfina (possível, ainda que não provável, marcador biológico nas nuvens venusianas) pelo grupo de Jane Greaves, da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, no ano passado. No mês passado, Nasa e ESA anunciaram novas missões direcionadas a Vênus para os próximos anos.

Muito do interesse é a perspectiva de que aquele mundo pode ter sido plenamente habitável, com oceanos e tudo mais, no passado remoto. Num ambiente assim, a vida teria condições para surgir. Conforme o planeta se ressecou, microrganismos poderiam ter estabelecido morada definitiva nas nuvens da alta atmosfera, onde as condições são mais aprazíveis, ainda que extremamente ácidas e com pouquíssima água. É aí que entra o estudo da equipe de Hallsworth e McKay.

Baseados em princípios químicos básicos, envolvendo composição, temperatura e pressão da atmosfera, os pesquisadores exploraram um índice conhecido como “atividade da água”, que contrasta a pressão parcial de vapor d’água em uma solução com um valor padrão. O grupo calculou a atividade da água nas soluções de ácido sulfúrico das nuvens de Vênus e concluiu que ela fica em 0,004, menos de um centésimo da requerida pelas formas de vida mais extremas da Terra nesse quesito, 0,585.

Isso levou os autores a tratar a questão de forma categórica, proclamando as nuvens venusianas “inabitáveis”. Outros especialistas, contudo, pedem cautela. O problema não são os resultados, e sim as premissas que levam a eles. “O trabalho é sólido no sentido de que os cálculos parecem ter sido feitos corretamente”, diz David Grinspoon, astrobiólogo da Universidade do Colorado (EUA). “Entretanto, as conclusões do estudo são excessivamente confiantes, porque sabemos menos sobre a atmosfera de Vênus e sobre a natureza da vida do que os autores pressupõem.”

Grinspoon aponta que há indícios não só de que as nuvens venusianas não sejam só ácido sulfúrico com um pinguinho de água, como o trabalho supõe, mas também de que elas não sejam homogêneas, oferecendo ambientes bem diferentes do que sugeriria uma média simplificada. Em suma, faltam dados.

Diante disso, como resolver a questão? Só tem um jeito: teremos mesmo de fazer mais observações e mandar novas sondas até lá para colher mais dados.

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Nasa anuncia duas novas missões a Vênus, com dois orbitadores e uma sonda atmosférica https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/06/02/nasa-anuncia-duas-novas-missoes-a-venus-com-dois-orbitadores-e-uma-sonda-atmosferica/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/06/02/nasa-anuncia-duas-novas-missoes-a-venus-com-dois-orbitadores-e-uma-sonda-atmosferica/#respond Wed, 02 Jun 2021 20:13:05 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/06/veritas-davinci-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9990 Agora é oficial: após mais de três décadas de abandono, a Nasa está voltando ao planeta Vênus, com duas missões robóticas. Chamadas DaVinci+ e Veritas, elas representam as primeiras investidas da agência espacial americana no segundo mundo a contar do Sol, nosso vizinho planetário mais próximo, desde a missão Magellan (Magalhães), lançada em 1989 e encerrada em 1994.

Vênus tem tamanho parecido com a Terra, mas sofre com uma atmosfera cem vezes mais densa e um efeito estufa acachapante, que eleva a temperatura média do planeta a 460 graus Celsius. Ele é meio como o “gêmeo malvado” do nosso mundo, e um lembrete desconfortável do que pode dar errado com planetas que, em outros aspectos, são bem similares ao nosso.

Contudo, nem sempre a história foi essa. É bem possível que, no começo, 4 bilhões de anos atrás, quando o Sistema Solar era jovem, Vênus fosse mais amigável, talvez abrigando até mesmo oceanos. A missão DaVinci+, com seu orbitador, estudará a atmosfera venusiana justamente atrás de pistas da existência pregressa desses mares hoje desaparecidos.

O projeto também contará com uma sonda atmosférica, que atravessará o invólucro de gases que envolve Vênus e investigará sua composição. O interesse por esses resultados, bem como os obtidos em órbita, cresceu em tempos recentes, depois que um grupo da Universidade de Cardiff apresentou, no ano passado, evidências de que um composto chamado fosfina pudesse estar presente nas nuvens venusianas, a uma altitude em que a pressão atmosférica e a temperatura são amenas. A detecção, bem como seu significado, ainda são muito debatidos pela comunidade de astrobiologia, mas há quem acredite que possam ser sinais de vida microbiana ainda hoje proliferando no ar venusiano.

Já a outra missão escolhida, Veritas, é um orbitador equipado com um poderoso radar para investigar a superfície venusiana e suas estruturas geológicas. Ele deve repetir o esforço de mapeamento realizado pela Magellan, mas desta vez com resolução bem maior. (Vale lembrar que Vênus é totalmente recorberto, o tempo todo, por nuvens espessas, de modo que o único meio de mapear a superfície em alta resolução a partir da órbita é com sistemas de radar.)

As duas missões foram selecionadas como parte do programa Discovery, que a Nasa promove para realizar sondas interplanetárias com objetivos restritos e custo mais modesto. Seu orçamento, fora o lançamento, não pode exceder US$ 500 milhões. Vale comparar com o rover marciano Perseverance, que custou à agência, no total, US$ 2,8 bilhões, numa missão classificada como Flagship (capitânia).

É a segunda vez que ambas chegam à fase final do processo seletivo; na rodada passada, em 2017, as duas acabaram preteridas por missões destinadas a asteroides (Lucy e Psyche, que devem voar em 2021 e 2022). Na concorrência, elas bateram outras duas propostas, o orbitador IVO, destinado à lua Io, de Júpiter, e a missão Trident, que faria um sobrevoo de Tritão, a maior das luas de Netuno. (Na primeira fase de seleção, em 2020, o Mensageiro Sideral apostou que pelo menos uma venusiana ia ganhar.)

A Nasa diz que os lançamentos devem ocorrer entre 2028 e 2030. Ainda está longe. Mas o fato é que a agência volta seu olhar para Vênus, depois de longas décadas. Depois da Magellan, o planeta recebeu os orbitadores Venus Express (da ESA, Agência Espacial Europeia), lançada em 2005 e destruída em 2015, e Akatsuki (da Jaxa, japonesa), lançada em 2010 e ainda operacional, embora em uma órbita que limita seus resultados científicos. Isso além de visitas ocasionais de espaçonaves de passagem, como a BepiColombo, cujo destino final é Mercúrio, mas fez um sobrevoo de Vênus no ano passado e fará outro neste ano.

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China divulga primeiras imagens de seu rover em Marte https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/05/19/china-divulga-primeiras-imagens-de-seu-rover-em-marte/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/05/19/china-divulga-primeiras-imagens-de-seu-rover-em-marte/#respond Wed, 19 May 2021 11:45:51 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/05/20210519_083311-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9970 A China divulgou nesta quarta-feira (19) as primeiras imagens do seu rover Zhurong na superfície de Marte.

As fotografias revelam o veículo ainda sobre o módulo de pouso que o levou ao solo de Utopia Planitia, no planeta vermelho, na noite do último dia 14.

Além da pouca disposição dos chineses em divulgar seu programa espacial em tempo real, contribuiu para a demora nas imagens o fato de que o país só tem um satélite para servir de retransmissor em órbita de Marte: justamente a espaçonave Tianwen-1, que levou o Zhurong até lá.

O orbitador recentemente fez manobras adicionais de ajuste de sua trajetória, para facilitar a aquisição dos pacotes de dados enviados da superfície. E a expectativa é a de que o rover desça ao solo pela rampa para iniciar sua missão ainda nesta semana.

Imagem da rampa de acesso do Zhurong ao solo marciano. (Crédito: CNSA)

O Zhurong tem 240 kg e seis instrumentos científicos, além de painéis solares para alimentá-los com eletricidade. O jipe robótico deve realizar estudos de composição mineralógica de rochas, investigar o subsolo de Marte com um radar e buscar evidências de vida pregressa no solo marciano.

Com o pouso bem-sucedido, ele tornou a China apenas o segundo país a operar uma missão de solo em Marte, atrás apenas dos EUA.

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Com pouso de rover em Marte, China supera ex-URSS em feitos espaciais https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/05/17/com-pouso-de-rover-em-marte-china-supera-ex-urss-em-feitos-espaciais/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/05/17/com-pouso-de-rover-em-marte-china-supera-ex-urss-em-feitos-espaciais/#respond Mon, 17 May 2021 18:19:50 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/05/zhurong-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9966 É difícil superestimar o significado do pouso bem-sucedido do rover chinês Zhurong em Marte, ocorrido às 20h18 (pelo horário de Brasília) da última sexta-feira (14). Descer à superfície do planeta vermelho nunca é fácil, e a China fez isso em sua primeira tentativa, com um veículo sobre rodas de respeitáveis 240 kg.

Não é tão grande quanto os americanos Curiosity (899 kg) e Perseverance (1.025 kg), os dois últimos rovers a descerem por lá. Mas é maior que seus antecessores diretos, Spirit e Opportunity (185 kg), e maior que os dois jipinhos robóticos lunares Yutu (120 kg), lançados pela China. Massa é um bom tradutor de funcionalidades embarcadas e de capacidade de levar grandes cargas úteis a alvos distantes, daí a importância da comparação.

Mais do que isso, contudo, é preciso lembrar que a China fez algo que muitos tentaram, mas somente a Nasa até sexta passada conseguiu: pousar com sucesso e operar uma sonda em solo marciano. Nem mesmo a União Soviética, no auge da corrida espacial, havia conseguido isso. Seu melhor resultado, com a sonda Mars 3, foi um pouso suave seguido por 20 parcos segundos de operação, antes de o módulo pifar. Isso em 1971. Todas as tentativas posteriores tiveram resultado ainda pior. Recentemente, em 2016, a Rússia, em parceria com a Agência Espacial Europeia, voltou a tentar, com o módulo Schiaparelli. Fracassou.

Os próprios europeus bateram na trave, com o módulo inglês Beagle-2, uma valente (e barata) tentativa de descer ao solo marciano, em 2003. A missão falhou, mas imagens de satélite mostraram que foi por pouco. O módulo pousou, mas não conseguiu abrir todas as suas pétalas de painéis solares, impedindo que estabelecesse contato com a Terra.

No ano passado, a Europa adiou o envio de seu rover Rosalind Franklin, da missão ExoMars, após uma série de problemas nos testes de seu paraquedas supersônico para a travessia da tênue atmosfera marciana. O voo ficou para a próxima oportunidade, em 2022.

Os chineses já haviam conquistado um feito inédito em 2019, ao realizarem o primeiro pouso robótico no lado afastado da Lua, com a missão Chang’e-4. Isso nem a Nasa havia feito, mas também não havia tentado. Já a Chang’e-5, no ano passado, realizou a primeira coleta robótica de amostras do solo lunar desde a Luna-24 soviética, em 1976.

Em paralelo, o país avança a passos largos em seu programa tripulado, que iniciou no mês passado a construção de uma estação espacial nos moldes da russa Mir, com o lançamento de seu módulo principal. A primeira tripulação a ocupá-la deve subir em junho. E com isso a China já supera tudo que a antiga União Soviética havia feito de mais importante no espaço durante a Guerra Fria. Nada mau para quem lançou seu primeiro astronauta ao espaço apenas em 2003.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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