Mensageiro Sideral https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br De onde viemos, onde estamos e para onde vamos Sat, 04 Dec 2021 19:09:39 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Missão da Nasa para desviar asteroide sublinha perigos da tecnologia https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/11/28/missao-da-nasa-para-desviar-asteroide-sublinha-perigos-da-tecnologia/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/11/28/missao-da-nasa-para-desviar-asteroide-sublinha-perigos-da-tecnologia/#respond Sun, 28 Nov 2021 15:00:36 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/11/dart-launch-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=10188 Na última quarta (24), a Nasa lançou ao espaço a missão Dart, com o objetivo de alterar a órbita de um asteroide de médio porte (160 metros). A motivação é tão clara quanto nobre: testar uma tecnologia que poderá salvar a civilização de um futuro impacto, caso algum desses objetos seja descoberto em rota de colisão com a Terra.

Até o momento, mapeamos cerca de 40% da população de asteroides com 140 metros ou mais, e não há nenhum a nos ameaçar. Resta identificar os outros 60%, o que deve ocorrer nos próximos anos, com o trabalho diligente de astrônomos profissionais e amadores, somado a significativos projetos capazes de detecção em massa, como o futuro Observatório Vera Rubin, no Chile, que deve iniciar sua operação científica em 2023.

O que parece estar sendo pouco discutido são as implicações éticas de uma missão assim, provavelmente porque é muito difícil sensibilizar a opinião pública sobre questões que parecem remeter mais à ficção científica que à ciência (de vez em quando rola uma pandemia, e o pessoal se lembra de que essas coisas são todas reais e precisam ser amplamente conhecidas, sob risco de sucumbirmos à desinformação).

Em seu livro “Pálido Ponto Azul”, de 1994, o astrônomo Carl Sagan sublinhou o dilema, lembrando que a mesma tecnologia capaz de desviar um asteroide em rota de colisão com a Terra também pode apontar para a nossa direção um desses objetos que originalmente não trombaria conosco. Esse risco costuma ser descartado com o argumento “só um louco faria algo assim”. Ao que Sagan relembra nossa própria história. “Sempre que ouço isso (e é muitas vezes apresentado nesses debates), lembro-me de que loucos realmente existem. Algumas vezes eles alcançam os mais altos níveis de poder político em nações industriais modernas.”

Escrevendo no século 20, o astrônomo remete a figuras como Hitler e Stalin para exemplificar o drama. Adentrando já a terceira década do século 21, vimos que as coisas não mudaram tanto nesse aspecto desde então. Ainda hoje, loucos chegam ao poder e, quando o fazem, tomam decisões que sabidamente causarão enorme tragédia humana sem qualquer constrangimento ou sinal de empatia. Você sabe do que estou falando.

A Dart em si não é motivo para preocupação. Está em boas mãos e não traz risco para a Terra (não há como sua colisão com o asteroide Dimorfo, no fim de 2022, colocá-lo, nem por acidente, na nossa direção). Mas é inegável que estamos legando ao futuro um instrumento que, nas mãos erradas, pode, sim, vir a ser perigoso.

É mais um lembrete do eterno dilema que o desenvolvimento da ciência e da tecnologia nos impõe, desde as primeiras lanças com ponta de pedra lascada. Se não vier acompanhado de ética e sabedoria, pode acabar causando mais mal do que bem. Parece ser o destino da humanidade lutar com valentia em busca de um caminho melhor para si enquanto dança distraidamente à beira do precipício.

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Nasa adia retorno tripulado à superfície da Lua para “não antes de 2025” https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/11/14/nasa-adia-retorno-tripulado-a-superficie-da-lua-para-nao-antes-de-2025/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/11/14/nasa-adia-retorno-tripulado-a-superficie-da-lua-para-nao-antes-de-2025/#respond Sun, 14 Nov 2021 15:00:17 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/04/starship-moon-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=10174 Esqueça a volta à Lua em 2024. Na semana passada, a chefia da Nasa apresentou atualizações ao cronograma de retorno lunar tripulado. A agência agora diz que o primeiro envio de astronautas à superfície não acontecerá antes de 2025. E não se surpreenda se essa data escapar para 2026 ou mesmo 2028.

O bode expiatório foi o processo recentemente imposto na justiça federal americana pela empresa Blue Origin, de Jeff Bezos, após perder a licitação da escolha do sistema de pouso para o programa lunar. Com três companhias na disputa, a Nasa acabou optando por apenas uma contratação, com a SpaceX, de Elon Musk, baseada em seu veículo Starship.

Altamente inovador, ele poderia transportar até 100 toneladas de cada vez à superfície lunar, algo que mudaria as regras do jogo para a criação de uma futura base. Mas também é uma aposta de alto risco, já que muita coisa nunca feita antes (como reabastecimento em órbita e alta cadência de lançamentos) precisa ser demonstrada antes que ele possa cumprir a missão.

A Blue Origin questionou a escolha na justiça, dizendo que a Nasa poderia ter optado por duas empresas. Ao escolher apenas uma, além de inibir a concorrência, a agência estaria colocando o retorno à Lua em risco. Levou sete meses, mas a Corte Federal validou o processo de escolha da Nasa.

Bezos colocou o rabo entre as pernas, e a agência usou o atraso para justificar a perda da chance de fazer o primeiro pouso tripulado em 2024. Mas vale ressaltar que essa meta sempre soou fantasiosa. Agora virou “não antes de 2025”. Ainda assim, haja otimismo. Tem muita coisa que precisa acontecer antes das próximas pegadas humanas no solo lunar.

A ação começa no ano que vem, com a missão Artemis I. Ela levará pela primeira vez uma cápsula Orion, impulsionada à órbita lunar pelo novo (e caríssimo) superfoguete SLS. Mas sem tripulação. Deve acontecer no primeiro semestre. No momento, o cronograma indica fevereiro.

Depois disso virá a Artemis II, essa sim a primeira tripulada. Repetindo o perfil de voo de sua antecessora, representará o primeiro retorno de astronautas à órbita lunar desde as missões Apollo, encerradas em 1972. A planilha hoje indica que o voo deve ser realizado até maio de 2024. E não dá para subestimar seu valor histórico: ela será a Apollo 8 do século 21.

Em paralelo, a SpaceX precisa amadurecer sua versão lunar do Starship e realizar um pouso não tripulado bem-sucedido na Lua, antes de poder levar os astronautas da missão de solo Artemis III. No momento, esse voo de demonstração não tem data para acontecer, mas a empresa espera realizar o primeiro lançamento orbital do Starship já no começo do ano que vem.

São essas as duas caminhadas paralelas que vão determinar quando veremos humanos saltitando pela Lua novamente. Segue sendo otimista pensar que será em 2025, mas o caminho está traçado, e os percalços, mapeados.

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Pesquisadores encontram primeiro candidato a planeta fora da Via Láctea https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/11/07/pesquisadores-encontram-primeiro-candidato-a-planeta-fora-da-via-lactea/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/11/07/pesquisadores-encontram-primeiro-candidato-a-planeta-fora-da-via-lactea/#respond Sun, 07 Nov 2021 15:00:33 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/11/Extragalactic-Exoplanet-System-Illustration-scaled-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=10165 Um grupo internacional de astrônomos detectou aquele que pode ser o primeiro exoplaneta observado fora da nossa galáxia. E, claro, é um esquisitão.

Não porque planetas nascidos fora da Via Láctea devam necessariamente ser estranhos ou inesperados. Longe disso. É hoje consenso que estrelas formam mundos ao seu redor em toda parte. O drama é detectar um exoplaneta tão longe assim, para além dos limites do nosso bairro cósmico.

O tamanho do astro detectado seria similar ao de Saturno, e ele seria morador da galáxia M51, localizada a 23 milhões de anos-luz daqui, próxima no céu à constelação boreal da Ursa Maior. E até aí, vamos combinar, nada estranho. O esquisito é em torno de qual objeto o tal planeta orbitaria. Estamos falando de uma binária de raios X.

Trata-se de uma estrela dupla, em que uma delas já explodiu e se tornou um de dois possíveis cadáveres estelares: um buraco negro ou uma estrela de nêutrons. Por gravidade, esse astro morto está engolindo matéria da sua vizinha ainda viva, e, no processo, gerando um disco de gás e poeira ao seu redor. Ao espiralar na direção do objeto compacto, essa matéria se torna poderosa emissora de raios X.

Os pesquisadores liderados por Rosanne Di Stefano, do Centro Harvard-Smithsonian para Astrofísica, pensaram que seria bem possível que existissem planetas em torno desses astros, já que foram encontrados na nossa Via Láctea planetas ao redor de estrelas de nêutrons. (Por sinal, os primeiros exoplanetas detectados na história da astronomia, em 1992, orbitavam um desses cadáveres estelares, e não uma estrela em sua fase ativa, como o Sol.)

Seguindo no raciocínio, eles presumiram que alguns desses sistemas estariam de tal modo alinhados que o planeta passaria à frente do astro compacto emissor de raios X, bloqueando temporariamente o fluxo. Um trânsito desses poderia ser detectado como uma “piscada” em raios X, mesmo a distâncias colossais, como as que separam outras galáxias.

Com efeito, ao vasculhar imagens colhidas pelos telescópios espaciais Chandra, da Nasa (agência espacial americana), e XMM Newton, da ESA (sua contraparte europeia), de três galáxias vizinhas, M51, M101 e M104, os pesquisadores encontraram um trânsito desse tipo, que batizaram de M51-ULS-1. Agora, uma análise detalhada do padrão observado, publicada na revista Nature Astronomy, sugere que não há explicação alternativa conhecida para o fenômeno. Com isso, o grupo o apresenta como o primeiro candidato a planeta extragaláctico.

O duro vai ser confirmar que ele está mesmo lá. Pela modelagem dos pesquisadores, levará uns 70 anos até que o M51-ULS-1b faça um novo trânsito, o que seria requerido para cravar que se trata mesmo de um planeta. Por outro lado, o esforço traz uma prova de princípio de que é possível encontrar exoplanetas mesmo em outras galáxias, embora apenas ao redor de astros compactos que sejam poderosos emissores de raios X.

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Grupo encontra sistema que reflete futuro do Sistema Solar após a morte do Sol https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/10/24/grupo-encontra-sistema-que-reflete-futuro-do-sistema-solar-apos-a-morte-do-sol/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/10/24/grupo-encontra-sistema-que-reflete-futuro-do-sistema-solar-apos-a-morte-do-sol/#respond Sun, 24 Oct 2021 15:00:52 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/joviano-anabranca-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=10158 Usando um telescópio no Havaí, um grupo internacional de astrônomos encontrou um planeta similar a Júpiter que é um sobrevivente da morte de sua estrela mãe, compondo um retrato similar ao que tende a ser o destino do Sistema Solar em mais uns 6 bilhões de anos.

Tudo começou com o registro de um evento de microlente gravitacional, em 2 de agosto de 2010. Trata-se de um efeito que surge quando um objeto com massa, ainda que discreto, transita à frente de outro mais distante e luminoso. A gravidade então distorce os raios de luz que vêm do fundo, como uma lente. Ao analisarem o padrão, os pesquisadores podem estimar o objeto que causou o efeito. No caso em questão, dois objetos: uma estrela com massa um pouco menor que a do Sol acompanhada por um planeta do porte de Júpiter.

Após o registro do evento, catalogado como MOA-2010-BLG-477Lb, o grupo liderado por Joshua Blackman, da Universidade da Tasmânia, na Austrália, fez observações subsequentes no Observatório Keck, em 2015, 2016 e 2018. O objetivo: encontrar a estrela responsável pela microlente. O planeta, muito menos brilhante, não seria visível. Mas a estrela sim –se fosse um astro ativo, como o Sol.

As imagens colhidas no infravermelho próximo de início indicaram uma possível candidata, mas com o passar do tempo ela mostrou ter movimento inconsistente com o visto na microlente. Em suma, não era ela. Nem havia qualquer outra possível candidata. Aí o grupo aplicou o clássico raciocínio sherlockiano, segundo o qual quando se elimina tudo que é impossível, o que quer que reste, por improvável que seja, tem de ser a verdade.

Já que não era possível que fosse uma estrela viva e ativa (inconsistente com as imagens), nem um cadáver de estrela de alta massa, como uma estrela de nêutrons ou um buraco negro (inconsistente com as imagens e a microlente), restou apenas uma alternativa: era uma anã branca, com um planeta joviano ao seu redor.

É o destino final do Sol: quando seu combustível nuclear se esgotar, ele inchará como uma gigante vermelha, depois perderá suas camadas superiores e tudo que restará é um núcleo em processo de resfriamento. Quando o Sistema Solar passar por essa fase, será um barata-voa danado nas regiões mais internas. Mercúrio, Vênus e possivelmente a Terra serão engolidos pela fase gigante vermelha do Sol. Porém, simulações sugerem que Júpiter, em sua órbita mais afastada, tem boa chance de resistir ao cataclismo. Só que um sistema análogo com sobreviventes nunca havia sido observado. Até agora.

Esse parece ter aberto a porteira, trazendo um retrato triste e sombrio do futuro longínquo de nosso pequeno quintal na vastidão do cosmos. A anã branca deve ter cerca de 53% da massa do Sol, e o planeta aproximadamente 40% mais massa que Júpiter. A descoberta foi divulgada em artigo publicado na revista Nature.

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Estudo sugere que Vênus nunca teve oceanos ou condições habitáveis https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/10/17/estudo-sugere-que-venus-nunca-teve-oceanos-ou-condicoes-habitaveis/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/10/17/estudo-sugere-que-venus-nunca-teve-oceanos-ou-condicoes-habitaveis/#respond Sun, 17 Oct 2021 15:00:30 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2013/09/Earth-and-Venus-SOURCE-NASA-via-the-Apollo-program-and-Mariner-10-150x150.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=10156 Um novo estudo publicado na revista Nature e liderado por pesquisadores da Universidade de Genebra, na Suíça, jogou água na fervura da busca por vida em Vênus. Ele sugere que o nosso vizinho mais próximo sempre foi, desde o nascimento, um inferno quente e inabitável.

Os pesquisadores liderados por Martin Turbet criaram simulações do clima das versões primordiais de Vênus e da Terra, mais de 4 bilhões de anos atrás, quando a superfície dos planetas era de rocha derretida.

Nessa época, ambos os planetas deviam conter vapor d’água apenas na atmosfera, já que o calor impedia a água de condensar e ocupar a superfície. Mas, enquanto a Terra pôde se resfriar, formando chuvas torrenciais que geraram nossos oceanos, lá em Vênus essas condições nunca chegaram. Em vez disso, o efeito estufa descontrolado acabou fazendo com que as moléculas de água fossem quebradas e perdidas para o espaço com o passar do tempo.

Que Vênus já teve muita água no passado é ponto pacífico. Isso porque a análise dos isótopos de hidrogênio (em essência, variantes atômicos que podem ter nenhum, um ou dois nêutrons no núcleo, além de um próton solitário) por lá indica uma presença bem maior de deutério (um nêutron) do que do hidrogênio simples (sem nêutron), comparado à Terra.

O melhor jeito de explicar essa diferença é que, quando as moléculas de água se quebram na atmosfera em razão da luz ultravioleta do Sol, o hidrogênio (mais leve) escapa mais para o espaço que o deutério (mais pesado), criando essa distorção.

A novidade foi a demonstração de como essa água pode nunca ter se estabilizado na superfície. E aí quem sofre são os entusiastas das possibilidades de vida em Vênus. Se o planeta nunca teve condições habitáveis, é improvável que possa ter sido em algum momento palco para o surgimento de micróbios.

Além disso, o estudo explica muito bem por que Terra e Vênus, de início “gêmeos”, evoluíram de forma diferente, levando em conta o que os cientistas chamam de “paradoxo do Sol fraco”. Tem a ver com o fato de que nossa estrela, no passado remoto, era menos brilhante e emitia menos radiação. Isso era difícil de conciliar com o fato de que a Terra sempre se mostrou um planeta com condições amenas, desde muito cedo, em vez de um planeta gélido por conta do Sol menos brilhante.

As simulações mostram que o Sol mais fraco pode ter feito a diferença no sucesso da Terra. Graças a ele, nosso planeta pôde se resfriar a ponto de os oceanos condensarem, algo que nunca teria acontecido em Vênus.

Apesar do bom encaixe com o atual estado do Sistema Solar, vale a ressalva: um modelo é apenas um modelo, e no caso venusiano as incertezas vêm junto com nosso relativo desconhecimento do planeta. Turbet e seus colegas enfatizam que os dados a serem colhidos pelas três missões agora em fase de planejamento (duas americanas, uma europeia) podem ajudar a corroborar ou refutar suas conclusões.

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Amostras trazidas da Lua por missão chinesa revelam vulcanismo tardio https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/10/10/amostras-trazidas-da-lua-por-missao-chinesa-revelam-vulcanismo-tardio/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/10/10/amostras-trazidas-da-lua-por-missao-chinesa-revelam-vulcanismo-tardio/#respond Sun, 10 Oct 2021 15:00:33 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/change-5-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=10138 A primeira missão chinesa de retorno de amostras da Lua começou a produzir seus primeiros frutos científicos. Pesquisadores estudando as rochas lunares trazidas pela espaçonave Chang’e-5 indicam que o basalto no local de pouso tem aproximadamente 2 bilhões de anos de idade.

O resultado confirma uma desconfiança que vem crescendo entre os cientistas: a Lua foi vulcanicamente ativa até mais recentemente do que se imaginava antes. Até uns dez anos atrás, a premissa era de que praticamente todo vulcanismo lunar no lado próximo da Lua cessou há uns 3 bilhões de anos, pouco depois da fase de bombardeio pesado tardio, uma época em que o Sistema Solar interno foi todo alvejado por uma grande quantidade de asteroides, entre 4,2 bilhões e 3,8 bilhões de anos atrás.

Além dessa confirmação de vulcanismo mais recente, a determinação da idade precisa desse fluxo de lava “jovem” (para os padrões lunares, não terrestres) ajuda a calibrar a técnica de contagem de crateras usada para datar superfícies lunares e planetárias. O raciocínio é simples: sem poder colher uma amostra de todo e qualquer terreno para datação por decaimento radioativo de elementos presentes no material, os pesquisadores presumem uma taxa média de impactos por asteroides e então contam a quantidade de crateras em uma dada região. As mais antigas têm mais buracos que as mais novas. Agora, com uma datação precisa de uma nova região lunar, fica mais fácil estimar a taxa média de impactos e, assim, calcular a idade de outros locais.

A missão chinesa foi a primeira a colher amostras lunares desde a soviética Luna-24, conduzida em 1976. Ela pousou em Oceanus Procellarum, a exemplo da Apollo-12, de 1969, mas longe do local em que desceu a missão tripulada americana. Trata-se de uma área cujo solo é composto por lava solidificada de uma antiga erupção vulcânica (ou talvez mais de uma, não há certeza). A espaçonave colheu amostras da superfície em dezembro de 2020 e as trouxe de volta à Terra para análise naquele mesmo mês.

O cálculo de idade, feito pela equipe de Xiaochao Che, da Academia Chinesa de Ciências Geológicas, foi publicado em 7 de outubro na revista Science. E agora resta o desafio de explicar como esse vulcanismo recente foi possível. “Não há evidência de altas concentrações de elementos produtores de calor no manto profundo da Lua, então explicações alternativas são exigidas para a longevidade do magmatismo lunar”, escreveram os pesquisadores.

É uma excelente demonstração de como é falsa a noção de que já investigamos a Lua o suficiente para entendê-la de forma completa. Certamente haverá muita ciência a ser produzida lá, conforme diversas nações, puxadas por China e EUA, se preparam para retomar sua exploração, com sondas e tripulações. Esse é só o começo.

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Capacidade de compreender o Universo depende da época em que o estudamos https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/10/03/capacidade-de-compreender-o-universo-depende-da-epoca-em-que-o-estudamos/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/10/03/capacidade-de-compreender-o-universo-depende-da-epoca-em-que-o-estudamos/#respond Sun, 03 Oct 2021 15:00:39 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2014/06/hudf-2014-150x150.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=10126 Causa perplexidade que uma espécie de primata evoluída em um planeta vulgar orbitando uma estrela idem em uma galáxia idem, em meio à imensa vastidão do Universo, tenha sido capaz de reconstituir a história cósmica em respeitável riqueza de detalhes. Tudo isso, em parte graças a um golpe de sorte. Nossa capacidade de compreender o Universo tem relação direta com a época em que o estamos observando.

Sabemos hoje que toda a imensidão que nos cerca, até onde a vista dos mais potentes telescópios alcança, esteve reunida em um ponto absurdamente denso e quente há uns 13,8 bilhões de anos, a partir do qual o processo de expansão do próprio tecido do espaço fez a energia coalescer em matéria, dando origem aos elementos químicos primordiais (hidrogênio, hélio e uma pitada de lítio), que por sua vez foram agregados pela gravidade para formar as primeiras estrelas, fornalhas de onde nasceram (por fusão nuclear sustentada ou explosiva) os demais elementos químicos. Gerações sucessivas de estrelas, organizadas gravitacionalmente em galáxias, que se reúnem em aglomerados, que formam superaglomerados, nos levaram de lá até aqui.

Também sabemos que a matéria visível (chamada de bariônica) compõe apenas uma ínfima parte do orçamento cósmico total de matéria e energia: 5%. Os outros 95% estão distribuídos entre a matéria escura (uns 25%) e a energia escura (uns 70%).

O leitor alerta pode dizer que talvez seja prematuro celebrar nosso grande conhecimento do Universo quando confessamos não saber do que são feitos 95% dele. É um fato. Por outro lado, vale notar que conseguimos modelar de forma razoavelmente acurada como se comportam tanto a matéria escura (cuja presença é perceptível por efeitos gravitacionais) como a energia escura (que percebemos o que faz, agindo desde uns 6 bilhões de anos atrás para acelerar a expansão).

O que mais espanta nessa saga científica, contudo, é a sorte que tivemos de estar estudando o Universo nesse exato momento de sua evolução, em que muitas pistas ainda estão presentes para decifrá-lo.

A expansão cósmica só foi descoberta pela presença de galáxias visíveis às mais variadas distâncias, e o início quente e denso só foi identificado graças à radiação cósmica de fundo. Mas sabemos que, no futuro longínquo, as galáxias distantes, em rápido afastamento, deixarão o Universo observável, e as mais próximas acabarão se fundindo com a nossa, deixando tudo que é visível limitado a uma única galáxia. Para uma civilização vivendo nessa era distante, a detecção da expansão se tornaria impossível. O mesmo vale para a radiação cósmica de fundo, que vai perdendo energia com o passar do tempo.

Estamos limitados pelo que o cosmos está disposto a nos expor, 13,8 bilhões de anos após o Big Bang. E aí a pergunta que angustia é: será que pistas cruciais para uma compreensão ainda mais refinada já foram apagadas pelo tempo?

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Astrônomos preveem que supernova vista em 2016 vai ter ‘reprise’ em 2037 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/09/26/astronomos-preveem-que-supernova-registrada-em-2016-vai-ter-reprise-em-2037/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/09/26/astronomos-preveem-que-supernova-registrada-em-2016-vai-ter-reprise-em-2037/#respond Sun, 26 Sep 2021 15:00:00 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/macs-j0138-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=10120 A detonação de uma supernova é um evento que se espera ver uma vez só. A estrela explode, temos nosso show pirotécnico, o brilho vai diminuindo até sumir, deixando para trás uma nebulosa e um cadáver estelar. Mas há uma supernova em particular da qual os astrônomos esperam uma reprise – para 2037.

Não, não será a mesma estrela explodindo de novo. Supernovas costumam mesmo ser eventos catastróficos únicos (embora tenham sido vistos casos em que o mesmo astro aparentemente detonou duas vezes, algo ainda não totalmente esclarecido). Aqui estamos falando de um truque diferente. É a mesma explosão, vista em dois momentos diferentes, não exatamente no mesmo lugar.

Entra em cena a relatividade geral de Einstein e a predição de que a gravidade curva raios de luz. A primeira demonstração da teoria, por sinal, foi obtida graças a isso, em 1919: astrônomos foram à Ilha do Príncipe, na África, e a Sobral, no Ceará, fotografar um eclipse solar, tentando registrar as estrelas de fundo. A ideia era contrastar suas posições durante o fenômeno com as que elas guardam no céu noturno, quando o Sol não está à frente delas para curvar seus raios de luz.

Deu certo, palmas para Einstein. Corta para hoje. Astrônomos estudam com afinco as chamadas lentes gravitacionais fortes, em que grandes e distantes aglomerados de galáxias, com massa total de muitos trilhões de sóis, curvam (e concentram) a luz vinda de objetos ainda mais afastados. Nesse processo, a luz de uma supernova que cruze o aglomerado por vários caminhos diferentes pode fazer com que o objeto apareça em várias posições distintas no nosso céu. E, claro, como a luz tem uma velocidade bem alta, mas finita, isso também implica que as imagens aparecerão em tempos diferentes, dependendo da distância total de cada caminho percorrido pela luz até chegar aos nossos telescópios.

Uma dessas lentes naturais incríveis é a do aglomerado de galáxias MACS J0138.0-2155. Ele foi fotografado pelo Hubble em 2016, e na imagem era possível ver três imagens distintas da mesma supernova. Em 2019, uma nova fotografia foi produzida, e as três haviam sumido. A luz da estrela explodida deve ter partido de seu ponto de origem há uns 10 bilhões de anos e foi curvada pelo aglomerado galáctico depois de 6 bilhões de anos de viagem.

O grupo de astrônomos liderado por Steve Rodney, da Universidade do Sul da Califórnia em Columbia, agora modelou a saga e calculou que uma nova imagem da detonação, a surgir do outro lado do aglomerado, deve pintar em 2037, com margem de erro de uns dois anos. A predição, publicada na Nature Astronomy, não é só vontade de ser bidu. Trata-se de um teste efetivo da modelagem da distribuição de massa no aglomerado, incluindo aí a contribuição da misteriosa matéria escura (que não sabemos o que é, mas podemos saber onde está, graças a fenômenos como esse). A conferir.

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Inspiration4 termina com sucesso e abre a fila de voos orbitais privados https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/09/19/inspiration4-termina-com-sucesso-e-abre-a-fila-de-voos-orbitais-privados/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/09/19/inspiration4-termina-com-sucesso-e-abre-a-fila-de-voos-orbitais-privados/#respond Sun, 19 Sep 2021 15:00:29 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/dragon-inspiration4-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=10115 Com uma amerissagem bem-sucedida na costa da Flórida no começo da noite de sábado (18), terminou de forma bem-sucedida a Inspiration4, primeira missão orbital tripulada privada. Mas Jared Isaacman, o bilionário que pagou a empreitada, e seus colegas de tripulação (Siam Proctor, Hayley Arceneaux e Chris Sembroski) são apenas os primeiros em uma fila que já começa a se alongar, iniciando para valer o processo de ocupação comercial da órbita terrestre baixa. Os próximos voos já estão no horizonte imediato.

A ambição tem mais de década. Quando a Nasa decidiu tocar um programa comercial de transporte de tripulações, em 2010, o plano era ter pelo menos duas empresas que pudessem atender à demanda da agência e, ao mesmo tempo, viabilizar a criação de um mercado privado de voo espacial. Uma vez desenvolvidos os veículos, a serem operados pelas companhias contratadas, a Nasa seria apenas um potencial cliente, dentre vários.

Em 2014, o processo seletivo amadureceu com a seleção de duas empresas, SpaceX e Boeing, para desenvolverem suas próprias naves, por, respectivamente, US$ 2,6 bilhões e US$ 4,2 bilhões. A SpaceX chegou na frente com a Crew Dragon, que realizou seu primeiro voo tripulado para a Nasa em 2020. A Boeing, com sua Starliner, teve mais problemas e ainda não chegou lá, mas espera-se que possa acontecer no ano que vem.

A Inspiration4 foi a quarta missão orbital tripulada da SpaceX e a primeira contratada por um ente privado. Mas já há fila. A companhia Axiom Space, cofundada e dirigida por Michael Suffredini, ex-gerente da Nasa, tem outros quatro voos contratados com a SpaceX. O primeiro deles, a ser realizado no início de 2022, tem tripulação fechada e será comandado pelo ex-astronauta da Nasa Michael López-Alegría. Será o primeiro voo privado à Estação Espacial Internacional (ISS), e a Axiom pagará “aluguel” à Nasa pelo uso dos serviços de bordo lá. Os outros três devem acontecer entre 2022 e 2023.

A Axiom também tem contrato com a Nasa para enviar dois módulos à estação, entre 2024 e 2025, no que seria o prelúdio para a construção de um complexo próprio em órbita. É outro objetivo confesso da agência espacial que estações privadas tomem o lugar da ISS após o fim da sua vida útil, em 2030, liberando recursos para a exploração do espaço profundo, com missões à Lua e a Marte.

Nesse primeiro momento, tudo segue muito caro. Cada voo de Crew Dragon sai por cerca de US$ 200 milhões. Agora imagine que o próximo foguete da SpaceX, o Starship, mantenha o custo de operação da dupla Falcon 9/Dragon, mas levando 100 passageiros de cada vez. O custo por assento cairia dos US$ 50 milhões atuais para US$ 2 milhões. E aí termine com a meta aspiracional de Elon Musk: cada lançamento do Starship por US$ 2 milhões. Nesse cenário, uma passagem individual sairia por US$ 20 mil. Ficção? Pelo contrário; é um futuro que já começa a bater à nossa porta.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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SpaceX promove nesta quarta (15) o primeiro voo orbital tripulado privado da história https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/09/12/spacex-promove-nesta-quarta-15-o-primeiro-voo-orbital-tripulado-privado-da-historia/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/09/12/spacex-promove-nesta-quarta-15-o-primeiro-voo-orbital-tripulado-privado-da-historia/#respond Sun, 12 Sep 2021 15:00:23 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/inspiration4-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=10090 Nós já vimos em julho os espalhafatosos (mas curtos) voos espaciais dos bilionários Richard Branson (Virgin Galactic) e Jeff Bezos (Blue Origin). Agora chegou a vez de vermos a versão do bilionário Elon Musk (SpaceX), bancada por outro bilionário, Jared Isaacman. E, como diria Bruno Henrique, do Flamengo, ela está em outro patamar.

Batizada de Inspiration4, a missão fará uso de uma cápsula Crew Dragon, desenvolvida originalmente para fornecer serviços de transporte de tripulação à Nasa. E a tripulação (que conta com quatro pessoas, nenhuma delas astronauta profissional) passará três dias em órbita.

É bem diferente de dar um pulinho ao espaço e retornar em seguida, como fizeram Branson e Bezos em seus voos suborbitais. Para entrar em órbita, uma cápsula precisa atingir velocidade superior aos 27 mil km/h. Já para um voo suborbital, a velocidade não costuma exceder os 4.000 km/h. Essa diferença se traduz no tamanho do foguete necessário e no incremento de complexidade (e risco) na subida e na descida, com uma reentrada potencialmente incendiária na atmosfera.

A Crew Dragon, contudo, já se mostrou à altura do desafio. Com ela, a SpaceX já conduziu três missões tripuladas à Estação Espacial Internacional para a Nasa, entre 2020 e 2021. A Inspiration4 é a quarta para a companhia, a segunda com a cápsula Resilience e a primeira com financiamento inteiramente privado. O custo não foi revelado, mas um bom palpite seria entre US$ 100 milhões e 200 milhões.

O nome Inspiration4 se justifica pela escalação da tripulação, pensada para representar qualidades específicas: liderança, esperança, generosidade e prosperidade.

Isaacman, 38, com experiência como piloto, assumiu o papel de liderança. A esperança foi representada por Hayley Arceneaux, 29, uma assistente médica do hospital infantil St. Jude, em Memphis, no Tennessee, que superou lá um câncer quando tinha dez anos. Para generosidade, a vaga ficou com Christopher Sembroski, 42, um dos doadores da campanha realizada para o mesmo hospital. E a vaga da prosperidade ficou com Sian Proctor, 51, uma geóloga e empreendedora que quase chegou a ser astronauta pela Nasa e agora realizará o sonho de ir ao espaço (tornando-se a quarta mulher negra a chegar lá).

A nave, que deve voar de Cabo Canaveral, Flórida, a partir das 21h01 (de Brasília) da próxima quarta-feira (15), com uma janela que se estende até quinta, não visitará a estação espacial, mas voará mais alto que ela, em uma órbita de 575 km de altitude. Uma cúpula instalada a bordo permitirá visões incríveis da Terra e do espaço. E a missão está sendo acompanhada praticamente de forma simultânea por uma minissérie documental na Netflix. Será o primeiro voo orbital tripulado totalmente financiado pela iniciativa privada, e seus promotores esperam que seja o marco de uma nova era para o acesso ao espaço.

Concepção artística da cúpula da cápsula Crew Dragon. (Crédito: SpaceX)

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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