Mensageiro Sideral https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br De onde viemos, onde estamos e para onde vamos Sat, 04 Dec 2021 19:09:39 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Em rally marciano, rover dos EUA sofre revés e chinês ganha missão estendida https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/08/22/em-rally-marciano-rover-dos-eua-sofre-reves-e-chines-ganha-missao-estendida/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/08/22/em-rally-marciano-rover-dos-eua-sofre-reves-e-chines-ganha-missao-estendida/#respond Sun, 22 Aug 2021 15:00:51 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/zhurong-menor-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=10073 No rally marciano de 2021, o rover americano Perseverance está na liderança, mas com alguns sobressaltos pelo caminho. Em compensação, sua contraparte chinesa, o Zhurong, acaba de ganhar uma missão estendida depois de sobreviver aos primeiros 90 sóis (como são chamados os dias marcianos, com duração um pouco maior que os da Terra, com cerca de 24 horas e 40 minutos).

Não é de fato uma corrida (os dois nem estão no mesmo lugar em Marte), mas há uma disputa por prestígio entre as duas maiores potências espaciais. O Perseverance chegou primeiro ao planeta, tendo pousado com sucesso na cratera Jezero, em 18 de fevereiro. Desde então, ele já percorreu 2,17 km –distância nada desprezável.

O Zhurong, por sua vez, pousou em 14 de maio em Utopia Planitia, e cruzou 889 metros até 15 de agosto, quando acabou sua missão inicial. Pouco menos da metade do que já marcou o hodômetro do Perseverance, em metade do tempo que o rover da Nasa teve em Marte. Por esse ângulo, é uma disputa apertada. E reflete o quanto a tecnologia evoluiu em termos de inteligência artificial para autonavegação –o que torna o avanço pelo terreno mais dinâmico e menos dependente de comandos enviados da Terra.

Para efeito de comparação, o recordista de distância percorrida em Marte é o rover Opportunity, que avançou por 45,16 km. Mas ele o fez em terreno particularmente benigno e ao longo de mais de 14 anos em atividade (2004-2018). Seu irmão gêmeo Spirit, em condições menos clementes, operou por seis anos (2004-2010) e andou apenas 7,73 km. Não será surpresa, pelo andar da carruagem, se tanto o Perseverance como o Zhurong baterem esse recorde. Mas também não há garantias.

Em Utopia Planitia, onde pousou o rover chinês, o terreno é mais favorável. Já na cratera Jezero, durante algum tempo cogitou-se até que fosse inviável pousar, considerados os perigos oferecidos pelas formações geológicas. Em compensação, as recompensas científicas podem ser riquíssimas.

Em termos de instrumentação, ambos os veículos estão operando muito bem e prometem produzir grandes resultados científicos. Mas o Perseverance sofreu em sua primeira tentativa de colher e armazenar uma amostra de Marte. Escolhida a rocha, uma broca foi usada para extrair um pedaço, que no entanto esfarelou e acabou não sendo armazenado corretamente no tubo designado para isso. A equipe planeja tentar de novo, com outra rocha, em breve. A ideia é que um dia essas amostras possam ser trazidas de volta à Terra (algo que os chineses também pretendem fazer, mas não por meio do Zhurong).

Imagem feita pelo Perseverance revela buraco deixado pela primeira tentativa de colher uma amostra, malograda. (Crédito: Nasa)

Em breve, contudo, teremos uma parada no rally. No início de outubro, Marte passará por trás do Sol com relação à Terra, o que impede a comunicação entre os dois planetas. Os dois rovers serão colocados em modo de “espera”, até que o contato possa ser restabelecido, na segunda metade do mês. O que virá depois disso? Só o tempo dirá.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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Governo Biden propõe aumento de 6,3% à Nasa e mantém projeto de volta à Lua https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/04/11/governo-biden-propoe-aumento-de-63-a-nasa-e-mantem-projeto-de-volta-a-lua/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/04/11/governo-biden-propoe-aumento-de-63-a-nasa-e-mantem-projeto-de-volta-a-lua/#respond Mon, 12 Apr 2021 02:15:10 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/04/artemis-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9899 A Casa Branca divulgou na última sexta-feira (9) os destaques de sua proposta orçamentária para a Nasa em 2022. E, em geral, são só boas notícias para a agência espacial americana neste primeiro ano da administração Biden.

A proposta, que ainda precisará ser discutida e moldada no Congresso, prevê um total de US$ 24,7 bilhões para a agência, um aumento de 6,3% sobre os US$ 23,3 bilhões alocados para 2021. Até aí, Trump já vinha propondo aumentos significativos para a Nasa ano após ano. A diferença maior vem no equilíbrio entre os setores da agência.

Não há evidências de uma nova tentativa de inchar o orçamento do programa Artemis, que prevê o retorno tripulado à Lua, como aconteceu no passado. Há um aumento apenas módico de 5%, alocando US$ 6,9 bilhões para exploração tripulada em 2022. Isso significa que a meta de realizar o primeiro pouso lunar com astronautas em 2024 já pode ser tratada como virtual impossibilidade.

Porém, a nova gestão segue apoiando o programa, que antes era descrito como o que colocaria “o próximo homem e a primeira mulher” na Lua e agora diz respeito à “primeira mulher e a primeira pessoa de cor”.

Se não há inchaços, também não há tentativas de cancelamentos sumários, como Trump tentou seguidas vezes (e foi impedido pelo Congresso). A nova proposta prevê um aumento de 15% para programas de ciências da Terra, que passam de 2 bilhões em 2021 para 2,3 bilhões em 2022. Os recursos, diz o sumário da Casa Branca, serão usados para “iniciar a próxima geração de satélites de observação da Terra para estudar questões urgentes de ciência climática”.

Também foram mantidos recursos para os programas educacionais da Nasa e para o próximo grande telescópio espacial depois do James Webb, o Nancy Grace Roman. Trump havia tentado cancelar as duas iniciativas em múltiplas ocasiões. Missões interplanetárias não tripuladas, como a destinada a estudar Europa (lua de Júpiter) e o programa de retorno de amostras de Marte, estão contemplados.

No geral, parece um orçamento que sofrerá bem menos alterações significativas no Congresso do que em gestões anteriores, dando duas sinalizações bastante importantes: continuidade e equilíbrio.

É a primeira vez, em seis administrações (Bush pai, Clinton, Bush filho, Obama, Trump e Biden), que um presidente parece não ter intenções reformistas no programa espacial tripulado. Ainda é cedo, o novo governo está só começando, mas é um bom sinal e aumenta as chances de que o retorno à Lua se torne mesmo realidade nos próximos anos.

Em outro sinal de que não quer chacoalhar o barco, Biden indicou Bill Nelson, ex-senador pela Flórida historicamente envolvido com o programa (ele chegou a voar num ônibus espacial em 1986), para ser o próximo administrador da Nasa. Sua confirmação pelo Senado deve acontecer no dia 28 de abril.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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Nasa divulga imagem do Perseverance prestes a pousar em Marte https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/02/19/nasa-divulga-imagem-do-perseverance-prestes-a-pousar-em-marte/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/02/19/nasa-divulga-imagem-do-perseverance-prestes-a-pousar-em-marte/#respond Fri, 19 Feb 2021 19:24:22 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/02/rover-drop-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9810 A noite foi agitada no JPL (Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa), conforme as equipes recebiam os primeiros pacotes de dados do rover Perseverance, horas depois do pouso na cratera Jezero, em Marte. E as primeiras imagens são incríveis. A mais chamativa mostra algo nunca antes visto: o veículo baixado pelos cabos do guindaste propulsado que o levou à superfície, poucos metros antes de chegar ao chão.

A agência também divulgou uma imagem da câmera HiRise, do satélite Mars Reconnaissance Orbiter, que registrou a cápsula e o paraquedas do Perseverance no caminho para a descida.

Paraquedas aberto na descida do Perseverance, capturado pela câmera HiRise, do Mars Reconnaissance Orbiter. (Crédito: Nasa)

A equipe de imagens também trouxe imagens em cores e alta resolução das câmeras de engenharia do veículo, mostrando o primeiro vislumbre claro da superfície na região do pouso, depois das miniaturas transmitidas na pressa, em preto e branco e com as tampas protetoras das lentes ainda no lugar, logo após o pouso.

Primeira imagem de Marte feita pelo Perseverance após a extração da tampa protetora da lente de uma de suas câmeras de engenharia. (Crédito: Nasa)

Por fim, a Nasa mostrou um zoom na roda frontal direita do veículo, que mostra rochas com padrões que imediatamente interessaram aos cientistas. Eles discutem agora se ela é vulcânica ou sedimentar, o que pode ter implicações diferentes na interpretação de suas características.

A roda direita frontal do Perseverance, em uma imagem em zoom de uma das câmeras de engenharia. (Crédito: Nasa)

Os dados continuarão a fluir de Marte para a Terra, conforme os engenheiros executam os protocolos de preparação do software e do hardware para operação em solo. Espera-se que na segunda-feira (22) haja muito mais imagens e, possivelmente, os vídeos da descida — que pela primeira vez nos mostrarão como são, na realidade, os “sete minutos de terror”, processo que vai da entrada na atmosfera ao pouso no solo do planeta vermelho. A primeira movimentação sobre rodas é esperada para daqui a oito dias.

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Após ‘sete minutos de terror’, rover Perseverance, da Nasa, pousa com sucesso em Marte https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/02/18/apos-sete-minutos-de-terror-rover-perseverance-da-nasa-pousa-com-sucesso-em-marte/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/02/18/apos-sete-minutos-de-terror-rover-perseverance-da-nasa-pousa-com-sucesso-em-marte/#respond Thu, 18 Feb 2021 21:02:22 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/02/nhq202102180017-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9792 Após os “sete minutos de terror”, o rover Perseverance já está seguramente postado no interior da cratera Jezero, em Marte, onde retomará uma busca por vida marciana iniciada pelas sondas Viking, mais de 40 anos antes.

O drama foi acompanhado num misto de presencial e remoto, com o número de pessoas no centro de controle do JPL (Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa) restrito pela pandemia.

A espaçonave foi enviando “tons”, numa transmissão de banda estreita enviada diretamente para a Terra, indicando cada nova etapa do pouso. No minuto final, o local de descida perdeu linha direta de visada para o terceiro planeta, e a Nasa teve de contar com a retransmissão da telemetria feita pelo orbitador Mars Reconnaissance Orbiter. Às 17h55, estava tudo terminado. O rover estava em solo marciano e transmitiu suas primeiras imagens, produzidas com as câmeras de engenharia do veículo. (Tenha em mente que esse é o horário em que os sinais foram recebidos na Terra; tudo aconteceu cerca de 11 minutos antes, de forma automatizada, e o atraso tem a ver com o tempo que um sinal de rádio leva para atravessar a distância Terra-Marte.)

Com o sucesso, são 9 de 10 tentativas bem-sucedidas para os americanos no planeta vermelho, uma impressionante taxa de sucesso de 90%. E o que não faltarão, nos próximos dias, são visões sensacionais de Marte. Afinal de contas, estamos falando da missão com o maior número de câmeras já enviadas num único pacote a qualquer destino no espaço: são 23 ao todo, com direito a dois microfones (outra novidade).

Durante a descida, a comunicação é limitada. Mas, concluída a descida, a torrente de informações chegando do planeta vizinho deve ser avassaladora e se estender pelos próximos dias. “Vou dar uma descansada, porque eu vou ser a pessoa que vai estar recebendo os dados vindos da primeira manhã marciana”, conta Ivair Gontijo, físico brasileiro que trabalha no JPL e faz parte da missão.

O rover desceu às 15h53 (hora local na cratera Jezero). E tem uma pegadinha: o dia marciano é um pouco mais longo que o terrestre, 24h39. Com isso, os pesquisadores envolvidos com as primeiras operações do veículo vão passar um mês em “fuso marciano”. “Vou trabalhar a noite inteira, das 20h às 6h30 da manhã de quinta para sexta, quando estaremos recebendo os dados da primeira manhã marciana”, completa Gontijo. “A cada três dias, a gente muda dois fusos horários, 40 minutos mais tarde todos os dias.”

CHECAGEM DE SISTEMAS
Boa parte dos primeiros 30 dias é gasta para testar todos os equipamentos de bordo para o início das operações em Marte. O mastro central precisa se erguer, e o braço robótico faz exercícios de “calistenia” para checar se está tudo em ordem.

Isso envolve também um pequeno trânsito de cinco metros para testar a locomoção e, claro, todos os instrumentos devem enviar dados de operação e calibragem, após uma viagem de cerca de sete meses em espaço profundo.

Entre os dados que devem ser enviados à Terra num primeiro momento estão os ligados ao próprio processo de pouso. Pela primeira vez, teremos câmeras gravando em alta definição todas as etapas da descida, da abertura dos paraquedas à ação do guindaste propulsado que colocará o rover no chão. E há microfone embarcado, de modo que se pode esperar pela primeira vez ouvir os sons de Marte.

Sítio de pouso do rover Perseverance, próximo a um delta seco na cratera Jezero, Marte. (Crédito: Nasa)

LOCAL DE POUSO ÚNICO
A cratera Jezero foi escolhida cuidadosamente pelos cientistas e engenheiros para trazer o melhor retorno científico para a missão.

É um local onde missões anteriores jamais poderiam descer, por conta da irregularidade do terreno. Apenas a inteligência artificial embarcada na missão Mars 2020, que leva o rover Perseverance e seu fiel escudeiro, o mini-helicóptero Ingenuity, permitiria um pouso tão arriscado.

A característica que torna Jezero tão atraente é a clara presença de um antigo delta de rio, desembocando num antigo lago. Hoje, tudo seco, claro. Mas, 4 bilhões de anos atrás, água fluía pela superfície marciana. Análises feitas com imagens orbitais sugerem que este é um dos melhores lugares em Marte para a preservação de fósseis como estromatólitos – traços deixados por bactérias e arqueias que podem ter existido no planeta vermelho há bilhões de anos.

Antes de ganharem o espaço interplanetário, os instrumentos do Perseverance foram testados exaustivamente em condições similares aqui na Terra, analisando rochas da região de Woomera, na Austrália, onde se encontram algumas das evidências mais antigas de vida na Terra. A premissa é de que, se algo similar existiu em Marte na mesma época, o rover poderá identificar.

Claro, a ciência não é um jogo simples assim. Os pesquisadores apostam que quaisquer sinais de vida tendem a ser ambíguos a ponto de impedirem uma determinação irrefutável, ainda mais com a limitação instrumental de operar remotamente em Marte. Por isso, uma das metas mais importantes da missão é colher amostras e isolá-las em tubinhos, que depois serão recolhidos por outro rover e despachados num foguete de volta à Terra.

Acredita-se que somente com observações feitas nos laboratórios mais bem-equipados deste planeta será possível confirmar, de forma inquestionável, que houve vida no mundo vizinho.

Ainda assim, nunca estivermos tão perto da resposta à pergunta ancestral: estamos sós no universo? Claro, descobrir que Marte teve bactérias há 4 bilhões de anos, não nos faz muita companhia. Mas é preciso ir além do fato objetivo, para suas implicações: se o planeta vermelho viu a vida florescer, como ocorreu na Terra, isso é sinal de que a biosfera terrestre não é fruto de um acidente. Pelo contrário, sempre que as condições para a vida se manifestam, a vida aparece. E isso necessariamente conduz à conclusão de que o universo deve estar cheio de vida.

Claro, a inversa também é verdadeira. Se o Perseverance, num dos locais mais promissores para a busca de fósseis microbianos em Marte, não achar nada, o resultado também tem implicações. “Mesmo se a gente chegar à conclusão de que não existe absolutamente nada lá, é um resultado interessante também”, diz Gontijo. “Tanto o planeta Marte quanto o planeta Terra se formaram da mesma nebulosa de onde vem o Sol e vêm os outros planetas. Por que existe tanto carbono e tanto carbono vivente aqui e não existiria lá?”

Esta é, pois, a aventura da exploração. As respostas nos aguardam em Marte.

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AO VIVO: Pouso do rover Perseverance, da Nasa, em Marte https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/02/18/ao-vivo-pouso-do-rover-perseverance-da-nasa-em-marte/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/02/18/ao-vivo-pouso-do-rover-perseverance-da-nasa-em-marte/#respond Thu, 18 Feb 2021 19:00:42 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2020/07/perseverance-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9796 Após mais de quatro décadas, a Nasa vai retomar a busca direta por evidências de vida em Marte, com a missão Mars 2020 e o pouso do rover Perseverance, que acontece nesta quinta-feira (18). Acompanhe ao vivo com o Mensageiro Sideral, a partir das 17h.

O sinal de confirmação de uma descida segura ao planeta vermelho deve pintar às 17h55 – com alguma margem de incerteza, como tudo que cerca uma chegada ao mundo vizinho.

Pode-se olhar o copo meio cheio ou meio vazio. Por um lado, até hoje apenas missões americanas conseguiram descer com sucesso à superfície marciana. Fracassaram, em diversas tentativas, russos e europeus. No lado otimista, o histórico de tentativas da Nasa, agência espacial dos EUA, é muito bom. Foram até agora 9 missões, com apenas 1 insucesso (a Mars Polar Lander falhou em pousar em 1999; acertaram Viking 1 e 2, em 1976, Mars Pathfinder, em 1997, os rovers Spirit e Opportunity, em 2004, a sonda Phoenix, em 2008, o rover Curiosity, em 2012, e a sonda InSight, em 2018).

Isso enseja alguma confiança nos responsáveis pela missão, gerenciada a partir do JPL, o Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, em Pasadena, na Califórnia. Mas ninguém se engana quanto à tensão. “O pouso em Marte é sempre uma coisa muito dramática, não tem garantia de que realmente tudo vai dar certinho como a gente espera”, conta ao Mensageiro Sideral o físico brasileiro Ivair Gontijo, que participa da missão no JPL e tem envolvimento direto com um dos instrumentos do Perseverance, a SuperCam, instalada no mastro do veículo.

Na missão Curiosity, por sinal, Gontijo teve envolvimento no desenvolvimento do sistema de radar que permitiu o pouso do veículo. O Perseverance usa o mesmo sistema, que envolve paraquedas e um guindaste propulsado para a colocação do rover em solo (leia quadro abaixo). Mas agora há um aprimoramento no sistema de inteligência artificial embarcado, o que permitiu aos gerentes da missão escolherem um local de pouso mais acidentado, mas cientificamente muito promissor, na cratera Jezero.

“O Curiosity não poderia descer onde o Perseverance vai. Ele desceu numa cratera de 154 km de diâmetro, que tem uma região plana suficientemente grande. A cratera Jezero tem 40 km de diâmetro, é cinco vezes menor, e a região plana é muito pequenininha”, relata Gontijo. “Ele vai usar uma técnica chamada de navegação relativa de terreno – vai tirar fotos durante a descida, comparar com fotos orbitais e tentar evitar os obstáculos, ele mesmo escolhendo a região onde vai descer.”

Serão sete minutos eletrizantes da chegada ao topo da atmosfera, a 20 mil km/h, ao pouso, enquanto o processo é acompanhado a partir de dados de telemetria.

BUSCA POR VIDA
De forma emblemática, a missão tem um olhar duplo, para o passado e para o futuro. A principal meta científica do rover é buscar evidências de vida pregressa em Marte – sinais fósseis de que o planeta vermelho tenha sido habitado, na época em que era mais azul, como a Terra, entre 4 bilhões e 3 bilhões de anos atrás.

Uma inquirição direta por sinais biológicos é algo que a Nasa não faz desde as missões Viking, que obtiveram detecções ambíguas, enfim tidas como negativas, nos anos 1970. A agência concluiu que precisava entender muito melhor o passado e o ambiente de Marte antes de tentar encontrar vida, presente ou pregressa.

Passou então a seguir o lema “siga a água”. Como água é essencial para vida como a conhecemos, as missões se voltaram para a decifração do passado hidrológico de Marte. Daí não surpreende que a última década foi muito focada no estudo e na detecção desse composto no solo marciano.

Com o Curiosity, deu-se o primeiro salto, ainda tímido: a busca passou a ser pelos compostos orgânicos, ou seja, por moléculas complexas de carbono que estão intimamente associadas à vida. E agora vamos ao passo final, a busca por sinais fósseis de vida, com o Perseverance.

O nome parece ecoar não só esse arco na busca por biologia marciana, mas sobretudo o desafio de lançar e preparar a missão em meio à pandemia.

FUTURO VERMELHO
Além desse olhar para o passado de Marte, a missão é um primeiro passo na direção de um amanhã promissor para o planeta vermelho. Embarcado no rover, há um sistema que fará a coleta de amostras em pequenos tubos lacrados. Eles serão deixados reunidos na superfície, onde uma próxima missão os recolherá e os embarcará em um foguete para o primeiro lançamento já feito a partir de outro planeta.

O retorno de amostras é tido como o principal objetivo do programa de exploração marciana nesta década e será conduzido em parceria pela Nasa e pela ESA (Agência Espacial Europeia). O Perseverance é o primeiro passo dessa nova fase.

Depois disso, restará a realização de uma missão tripulada. Algo para a qual o Perseverance também tem uma contribuição para dar. O experimento Moxie, embarcado nele, pela primeira vez vai produzir oxigênio a partir do dióxido de carbono da atmosfera marciana. Será tecnologia essencial para futuras visitas humanas ao planeta.

Também está em teste pela primeira vez um mini-helicóptero chamado Ingenuity, que, se funcionar, realizará o primeiro voo por sustentação aérea em outro planeta. Jogando em seu favor, a baixa gravidade marciana, apenas 40% da terrestre. Jogando contra, a baixa densidade atmosférica, um centésimo da nossa. Testes em solo em câmaras de baixa pressão sugerem que deve funcionar. Mas, como tudo em exploração espacial, a certeza só vem depois que acontece.

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Rover da Nasa chega a Marte na quinta, com promessa de retomar busca por vida https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/02/17/rover-da-nasa-chega-a-marte-na-quinta-com-promessa-de-retomar-busca-por-vida/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/02/17/rover-da-nasa-chega-a-marte-na-quinta-com-promessa-de-retomar-busca-por-vida/#respond Thu, 18 Feb 2021 02:15:02 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/02/PIA24316_medium-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9786 Após mais de quatro décadas, a Nasa vai retomar a busca direta por evidências de vida em Marte, com a missão Mars 2020 e o pouso do rover Perseverance, que acontece nesta quinta-feira (18). O sinal de confirmação de uma descida segura ao planeta vermelho deve pintar às 17h55 – com alguma margem de incerteza, como tudo que cerca uma chegada ao mundo vizinho.

Pode-se olhar o copo meio cheio ou meio vazio. Por um lado, até hoje apenas missões americanas conseguiram descer com sucesso à superfície marciana. Fracassaram, em diversas tentativas, russos e europeus. No lado otimista, o histórico de tentativas da Nasa, agência espacial dos EUA, é muito bom. Foram até agora 9 missões, com apenas 1 insucesso (a Mars Polar Lander falhou em pousar em 1999; acertaram Viking 1 e 2, em 1976, Mars Pathfinder, em 1997, os rovers Spirit e Opportunity, em 2004, a sonda Phoenix, em 2008, o rover Curiosity, em 2012, e a sonda InSight, em 2018).

Isso enseja alguma confiança nos responsáveis pela missão, gerenciada a partir do JPL, o Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, em Pasadena, na Califórnia. Mas ninguém se engana quanto à tensão. “O pouso em Marte é sempre uma coisa muito dramática, não tem garantia de que realmente tudo vai dar certinho como a gente espera”, conta ao Mensageiro Sideral o físico brasileiro Ivair Gontijo, que participa da missão no JPL e tem envolvimento direto com um dos instrumentos do Perseverance, a SuperCam, instalada no mastro do veículo.

Na missão Curiosity, por sinal, Gontijo teve envolvimento no desenvolvimento do sistema de radar que permitiu o pouso do veículo. O Perseverance usa o mesmo sistema, que envolve paraquedas e um guindaste propulsado para a colocação do rover em solo (leia quadro abaixo). Mas agora há um aprimoramento no sistema de inteligência artificial embarcado, o que permitiu aos gerentes da missão escolherem um local de pouso mais acidentado, mas cientificamente muito promissor, na cratera Jezero.

“O Curiosity não poderia descer onde o Perseverance vai. Ele desceu numa cratera de 154 km de diâmetro, que tem uma região plana suficientemente grande. A cratera Jezero tem 40 km de diâmetro, é cinco vezes menor, e a região plana é muito pequenininha”, relata Gontijo. “Ele vai usar uma técnica chamada de navegação relativa de terreno – vai tirar fotos durante a descida, comparar com fotos orbitais e tentar evitar os obstáculos, ele mesmo escolhendo a região onde vai descer.”

Serão sete minutos eletrizantes da chegada ao topo da atmosfera, a 20 mil km/h, ao pouso, enquanto o processo é acompanhado a partir de dados de telemetria.

BUSCA POR VIDA
De forma emblemática, a missão tem um olhar duplo, para o passado e para o futuro. A principal meta científica do rover é buscar evidências de vida pregressa em Marte – sinais fósseis de que o planeta vermelho tenha sido habitado, na época em que era mais azul, como a Terra, entre 4 bilhões e 3 bilhões de anos atrás.

Uma inquirição direta por sinais biológicos é algo que a Nasa não faz desde as missões Viking, que obtiveram detecções ambíguas, enfim tidas como negativas, nos anos 1970. A agência concluiu que precisava entender muito melhor o passado e o ambiente de Marte antes de tentar encontrar vida, presente ou pregressa.

Passou então a seguir o lema “siga a água”. Como água é essencial para vida como a conhecemos, as missões se voltaram para a decifração do passado hidrológico de Marte. Daí não surpreende que a última década foi muito focada no estudo e na detecção desse composto no solo marciano.

Com o Curiosity, deu-se o primeiro salto, ainda tímido: a busca passou a ser pelos compostos orgânicos, ou seja, por moléculas complexas de carbono que estão intimamente associadas à vida. E agora vamos ao passo final, a busca por sinais fósseis de vida, com o Perseverance.

O nome parece ecoar não só esse arco na busca por biologia marciana, mas sobretudo o desafio de lançar e preparar a missão em meio à pandemia.

FUTURO VERMELHO
Além desse olhar para o passado de Marte, a missão é um primeiro passo na direção de um amanhã promissor para o planeta vermelho. Embarcado no rover, há um sistema que fará a coleta de amostras em pequenos tubos lacrados. Eles serão deixados reunidos na superfície, onde uma próxima missão os recolherá e os embarcará em um foguete para o primeiro lançamento já feito a partir de outro planeta.

O retorno de amostras é tido como o principal objetivo do programa de exploração marciana nesta década e será conduzido em parceria pela Nasa e pela ESA (Agência Espacial Europeia). O Perseverance é o primeiro passo dessa nova fase.

Depois disso, restará a realização de uma missão tripulada. Algo para a qual o Perseverance também tem uma contribuição para dar. O experimento Moxie, embarcado nele, pela primeira vez vai produzir oxigênio a partir do dióxido de carbono da atmosfera marciana. Será tecnologia essencial para futuras visitas humanas ao planeta.

Também está em teste pela primeira vez um mini-helicóptero chamado Ingenuity, que, se funcionar, realizará o primeiro voo por sustentação aérea em outro planeta. Jogando em seu favor, a baixa gravidade marciana, apenas 40% da terrestre. Jogando contra, a baixa densidade atmosférica, um centésimo da nossa. Testes em solo em câmaras de baixa pressão sugerem que deve funcionar. Mas, como tudo em exploração espacial, a certeza só vem depois que acontece.

O Mensageiro Sideral transmite o pouso do Perseverance ao vivo nesta quinta, a partir das 17h.

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Nasa lança missão Mars 2020, com o jipe Perseverance, para Marte https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/07/30/ao-vivo-nasa-lanca-missao-mars-2020-com-o-jipe-perseverance-para-marte/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/07/30/ao-vivo-nasa-lanca-missao-mars-2020-com-o-jipe-perseverance-para-marte/#respond Thu, 30 Jul 2020 10:55:09 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2020/07/perseverance-launch-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9494 A Nasa despachou nesta quinta-feira (30) mais uma de suas incansáveis missões marcianas. Mas esta tem sabor diferente, no estilo “O primeiro ano do resto de nossas vidas”. O rover Perseverance tem como foco o estudo das possibilidades de atividade biológica passada em Marte, enquanto pavimenta o caminho para o futuro da vida no planeta vermelho.

O lançamento, impulsionado por um foguete Atlas 5, aconteceu às 8h50 (de Brasília), a partir da plataforma 41 da Estação da Força Aérea em Cabo Canaveral, na Flórida, dando início a uma jornada interplanetária de sete meses, em regime pouco festivo, devido à pandemia do novo coronavírus.

“Infelizmente não foi possível viajar para ver”, conta Ivair Gontijo, físico brasileiro do JPL (Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa), em Pasadena, Califórnia, que participou do desenvolvimento da missão.

O jipe Perseverance, voando no interior de uma cápsula, deve realizar sua tentativa de pouso no mundo vizinho em 18 de fevereiro de 2021. Até lá, não terá por que sentir solidão, sabendo que voam a seu lado, praticamente na mesma trajetória de transferência da Terra a Marte, uma espaçonave dos Emirados Árabes Unidos e outra da China – o que por si só já dá uma medida de como o mundo está mudando.

O VELHO E O NOVO

Dos três participantes da atual jornada, aproveitando a janela que se abre a cada 26 meses para lançamentos até Marte (em razão do alinhamento planetário), a Nasa é a mais consistente e tradicional.

Para dar uma ideia disso, nos últimos 24 anos, a agência espacial americana só deixou de usar a janela marciana em duas ocasiões, em 2009 e em 2016. Foram ao todo 12 lançamentos para Marte no período, e apenas 2 missões perdidas (Mars Climate Orbiter e Mars Polar Lander, em 1999). Neste século, a Nasa ainda tem de saber o que significa fracasso na exploração marciana.

Isso contrasta com o esforço de chineses e árabes. Com o lançamento da Tianwen-1, a China faz sua segunda tentativa de chegar ao planeta vermelho – mas a primeira para valer. Antes disso, os chineses “cozinharam” às pressas um orbitador marciano em 2011, para voar acompanhado da sonda russa Fobos-Grunt. O foguete russo falhou, e as duas nem chegaram a deixar a órbita terrestre.

Nove anos depois, a China deixou de ser a “caroneira” dos russos e agora executa uma missão completa e ambiciosa. Usando um foguete Longa Marcha 5, com tecnologia 100% chinesa, a sonda Tianwen-1 é um projeto “três em um”: voam juntos um orbitador, um módulo de pouso e um rover. E não duvide se ela se tornar o segundo país no mundo a fazer um pouso bem-sucedido em Marte.

Fora os americanos, ninguém até hoje conseguiu. A Nasa pode ter feito parecer fácil, com seus 8 pousos de sucesso desde 1976 (com apenas uma falha, a já citada Polar Lander, de 1999). Mas nada poderia estar mais longe da verdade.

Tanto que o máximo que os soviéticos conseguiram, durante a Guerra Fria, foi pousar uma vez, em 1971, na missão Mars 3, e operar o módulo por 14,5 segundos, antes de pifar. E o outro país a bater na trave foi o Reino Unido, com a missão Beagle-2, em 2003. Imagens de satélite mostraram que o pequeno módulo até pousou direitinho, mas falhou em abrir seus painéis solares e, por isso, não conseguiu estabelecer comunicação com a Terra.

E a última falha num pouso marciano se deu há menos de quatro anos, em outubro de 2016, quando o módulo russo-europeu Schiaparelli se espatifou no solo por uma falha de software. Ou seja, não é fácil, e ninguém deve se chocar se a China falhar nesta tentativa.

Também não deve ser chocante se o Perseverance americano acabar não chegando inteiro ao solo de Marte. É bem verdade que o histórico ianque é excelente, e o mesmo método usado para colocar o novo rover no solo é o mesmo que serviu bem a seu antecessor, o jipe Curiosity, em 2012. Mas os americanos não chamam o processo de entrada atmosférica e pouso de “sete minutos de terror” à toa.

Evitando essa parte mais “zicada” das missões marcianas, os Emirados Árabes Unidos se concentraram em enviar apenas um orbitador. Batizado de Hope (ou Al Amal), ele representa a esperança do jovem país árabe a colocar seu primeiro marco nos arredores de Marte. A missão consiste em um satélite meteorológico marciano, com três instrumentos desenvolvidos em parceria com universidades americanas. Mas as ambições declaradas do país são enormes: construir e habitar uma cidade em Marte em 2117.

Loucura? Eles têm tempo até lá. Por ora, sua primeira espaçonave não tripulada marciana já está a caminho, depois de ser lançada por um foguete japonês H-2A, no último dia 19.

A BUSCA POR VIDA

Tanto a missão chinesa quanto a americana têm como objetivo declarado buscar sinais de vida marciana. Pode parecer surpreendente, mas ninguém admite de forma aberta este objetivo desde as sondas Viking, da década de 1970. Isso justamente porque aquele primeiro experimento de buscar atividade biológica produziu resultados estranhos e inconclusivos.

Desde então, a Nasa decidiu abordar o tema “pelas beiradas”. Primeiro, estabelecer as condições do presente e do passado de Marte, investigando onde e quando a água – composto essencial à vida – pode ter fluído por lá. Depois, com o jipe Curiosity, o objetivo foi detectar substâncias orgânicas – outro ingrediente requerido para a biologia. E agora o Perseverance (fazendo jus ao nome, perseverança) vai direto ao ponto, procurar sinais químicos fósseis de atividade microbiana no passado marciano.

Para isso, ele vai descer na cratera Jezero, onde sabe-se que água se acumulou no passado remoto e que possui as características geológicas ideais para a possível preservação de sinais de vida antigos.

O rover chinês da missão Tianwen-1 vai descer em outra região de Marte, Utopia Planitia, visitada previamente pela americana Viking-2.

O FUTURO

Investigar as possibilidades de vida em Marte respondem ao chamado de uma das mais clássicas dúvidas a perseguir o ser humano: estamos sós no universo? Mas, para além disso, também aborda questões práticas. Algo na linha: o que estamos eticamente autorizados a fazer no planeta vermelho?

É muito diferente decidir colonizar uma rocha sem vida ou um mundo com potencial biológico alienígena, e descobrir se há ou houve algo vivo por lá é parte essencial disso. A maior parte dos cientistas acreditam que isso não poderá ser respondido de forma definitiva sem que tragamos amostras de lá para estudo em laboratórios terrestres.

Nesse sentido, o Perseverance já traz uma amostra do futuro, colhendo rochas e armazenando-as em pequenos tubinhos selados, para posterior despacho de volta à Terra (por outra missão automatizada, a ser conduzida em parceria por americanos e europeus até o final desta década, com retorno previsto para 2031).

O rover também testa tecnologias destinadas a potencial uso em futuros trajes para astronautas e leva até mesmo um experimento cujo objetivo é produzir oxigênio a partir do dióxido de carbono atmosférico marciano. Robôs têm pouco uso para oxigênio, mas futuros habitantes de Marte precisarão muito dele.

Por fim, o Perseverance também promoverá um momento “Santos-Dumont/irmãos Wright” em Marte, com o teste do primeiro drone a voar pela tênue atmosfera daquele mundo, o mini-helicóptero Ingenuity.

Entre investigações do passado e teste de tecnologias pelo futuro, o Perseverance parece ser um ponto de inflexão na trajetória da exploração marciana. O olhar puramente científico começa a dar lugar a iniciativas mais voltadas para a posterior chegada da humanos ao planeta vermelho – para estudar e, quem sabe, para morar. O amanhã começa agora.

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Sucesso da SpaceX ofusca terremoto no programa lunar da Nasa https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/06/14/sucesso-da-spacex-ofusca-terremoto-no-programa-lunar-da-nasa/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/06/14/sucesso-da-spacex-ofusca-terremoto-no-programa-lunar-da-nasa/#respond Mon, 15 Jun 2020 02:15:58 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2020/06/blueorigin_hls_lander_de_ae_moon.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9383 O voo bem-sucedido da SpaceX que restaurou a capacidade americana de levar astronautas à órbita terrestre acabou abafando um terremoto que varreu os bastidores da Nasa, com a exoneração do diretor de programas tripulados da agência espacial americana, Doug Loverro. Na última sexta-feira (12), a organização nomeou, para o lugar dele, Kathy Lueders, até então gerente do programa comercial de envio de tripulação à Estação Espacial Internacional (ISS), numa tentativa de recuperar a confiança perdida.

O imbroglio envolveu a seleção das empresas para o desenvolvimento do módulo de pouso do programa Artemis, destinado a levar humanos mais uma vez à superfície lunar – segundo a meta imposta pela Casa Branca, até 2024, data que soa menos viável a cada dia que passa.

Os primeiros contratos de desenvolvimento do módulo de pouso foram anunciados em 30 de abril e seguirão o modelo adotado para os programas comerciais de transporte de carga e de tripulação à ISS. Foram selecionadas três empresas, em contratos com valores diferentes e valor total de US$ 967 milhões.

A Blue Origin (de Jeff Bezos) reuniu um grupo de empresas como Lockheed Martin, Northrop Grumman e Drape, e recebeu US$ 579 milhões para desenvolver um módulo de pouso de três estágios. A empresa Dynetics formou um consórcio de mais de 25 subcontratadas (e uma importante parceria com a europeia Thales Alenia) e levou US$ 253 milhões para criar um módulo de estágio único.

Correndo por fora, a SpaceX cavou US$ 135 milhões para seu veículo Starship – que a empresa de Elon Musk já estava desenvolvendo e testando com recursos próprios antes mesmo de a Nasa fechar a parceria. Com seu design “Flash Gordon”, a proposta da SpaceX é a mais arriscada, mas também a que traz maior possibilidade de uma revolução no transporte espacial. Com isso, a agência espacial optou por ter um pezinho no projeto.

Uma ausência notória na escolha foi a tradicionalíssima Boeing, que entrou na disputa, mas teve seu projeto classificado como caro demais e “impreciso” – linguagem técnica para “completo desastre”.

Doug Loverro presidiu essa escolha de descartar a Boeing. Mas com dor no coração. Aparentemente, antes da decisão final, ele havia repassado à empresa informações sobre como o projeto estava sendo mal visto, tentando encorajá-la a submeter mais detalhes que pudessem “salvá-la”. Isso não é permitido. Com a constatação de que isso de fato ocorreu, Loverro imediatamente pediu demissão, em 19 de maio, após apenas seis meses no cargo. Ele nem chegou a participar da revisão final que autorizaria o voo da Crew Dragon, dali a 11 dias.

Com a promoção de Kathy Lueders para o lugar de Loverro, espera-se que o programa recupere a estabilidade momentaneamente perdida. Mas, claro, o mergulho da economia em razão da pandemia torna ainda mais improvável que algum desses projetos esteja pronto para voar com tripulação em 2024.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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Nasa quer levar primeira mulher à Lua em 2024 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/05/20/nasa-quer-levar-primeira-mulher-a-lua-em-2024/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/05/20/nasa-quer-levar-primeira-mulher-a-lua-em-2024/#respond Mon, 20 May 2019 07:00:00 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/E2A1088F-7E5B-4780-8C06-DFABF83CE9D7-320x213.jpeg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8875 A Lua foi o principal assunto da semana que passou nos círculos espaciais. A Nasa apresentou os primeiros detalhes do seu plano de colocar astronautas no solo lunar até 2024, cientistas chineses publicaram os primeiros resultados científicos de sua exploração do lado afastado da Lua, e uma sonda conseguiu registrar o local de impacto do módulo israelense que tentou, sem sucesso, uma alunissagem em abril.

Na segunda-feira (13), a agência espacial americana enviou ao Congresso uma emenda ao seu pedido de orçamento para 2020, incluindo mais US$ 1,6 bilhão para o desenvolvimento de um módulo de pouso capaz de pousar na Lua com astronautas até 2024, num projeto batizado de Ártemis. Trata-se da irmã gêmea de Apolo na mitologia grega, uma referência ao primeiro projeto que levou humanos à superfície lunar entre 1969 e 1972 (o primeiro pouso, por sinal, completa 50 anos em julho). Desta vez, promete a Nasa, veremos a primeira mulher pisar na Lua.

A iniciativa, contudo, segue com rumos incertos. A proposta da Casa Branca é tirar os recursos necessários do Pell Grant, um programa de bolsas universitárias para americanos de baixa renda, e não é muito provável que essa conversa cole entre os congressistas democratas, maioria na Câmara. E o administrador da Nasa, James Bridenstine, já disse que será preciso colocar ainda mais dinheiro nos anos seguintes para cumprir o prazo.

De concreto, a Nasa selecionou 11 companhias para trabalhos iniciais num módulo de pouso tripulado, alimentados por modestos US$ 45,5 milhões.

Seguindo com o noticiário lunar, na quinta-feira (15), um grupo da Academia Chinesa de Ciências publicou na revista científica “Nature” os resultados colhidos durante o primeiro dia lunar na análise de solo feita pelo jipe robótico Yutu-2 na bacia do Polo Sul-Aitken — uma enorme depressão localizada no lado afastado da Lua. O rover chinês foi levado até lá no começo do ano pela missão Chang’e-4, a primeira na história a pousar no hemisfério lunar jamais visível da Terra.

Como esperado, a composição do solo ali é diferente de outras regiões, indicando que pode ser material proveniente do manto lunar. Espera-se que resultados adicionais ajudem a esclarecer não só a origem da Lua, mas também detalhes de como se dá a formação de planetas.

Na mesma quinta, a equipe do orbitador americano Lunar Reconnaissance Orbiter divulgou uma imagem do local de impacto do módulo israelense Beresheet, que tentou realizar a primeira alunissagem privada em 11 de abril. A pancada não foi suficiente para abrir uma cratera, mas deixou uma marca detectável na superfície.

Imagens do Lunar Reconnaissance Orbiter mostram local de impacto do módulo Beresheet. (Crédito: Nasa)

Achou muita coisa? A Lua promete se tornar um lugar ainda mais agitado em breve.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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Nasa publica estudo dos gêmeos separados por voo espacial de 1 ano https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/04/11/nasa-publica-estudo-dos-gemeos-separados-por-voo-espacial-de-1-ano/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/04/11/nasa-publica-estudo-dos-gemeos-separados-por-voo-espacial-de-1-ano/#respond Thu, 11 Apr 2019 21:45:58 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2019/04/gemeos-scott-mark-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8818 Parece aquela clássica narrativa do paradoxo dos gêmeos: um deles parte numa longa viagem pelo espaço enquanto o outro o espera na Terra. Um ano depois, quais as diferenças entre os dois? Em essência, mas sem envolver efeitos da teoria da relatividade, esse foi o experimento realizado pela Nasa ao deixar seu irmão Scott Kelly um ano inteiro na Estação Espacial Internacional (ISS).

Enquanto isso, o gêmeo Mark Kelly, também astronauta da agência espacial americana, ficou em solo, oferecendo uma ótima oportunidade para comparar os efeitos fisiológicos de se estar no espaço versus na Terra, com duas pessoas cujo DNA é idêntico.

E a principal descoberta é: não houve diferenças significativas de saúde entre Scott e Mark. Claro, esse “significativas” esconde uma porção de efeitos menores que foram descritos de forma pormenorizada em um artigo publicado na edição desta semana da revista Science.

Liderado por Francine Garrett-Bakelman, da Escola de Medicina da Universidade da Virgínia, nos EUA, o trabalho detalha todos os procedimentos realizados nesse estudo, que envolveu a estadia de Scott a bordo da ISS entre março de 2015 e março de 2016.

O estudo encontrou várias alterações específicas ligadas ao voo espacial (cujo principal malefício é a sensação de ausência de peso), como redução da massa corpórea, distensão da artéria carótida e alteração da estrutura ocular. De forma pouco inesperada, os cientistas também notaram mudanças na colônia de bactérias que Scott levou ao espaço — sua microbiota intestinal. Mas tudo voltou ao normal quando ele retornou.

O mais intrigante resultado talvez tenha sido no campo das mudanças de natureza biomolecular, como por exemplo uma diferença no processo de metilação do DNA em Scott. Esse processo tem a ver com o sistema que regula a ativação e desativação de genes no organismo.

Os pesquisadores apontam que essa discrepância parece diminuído seis meses depois que Scott voltou à Terra, e seus níveis globais de expressão gênica, de forma geral, voltaram ao normal. Mas em alguns genes, aparentemente ligados ao sistema imunológico, os efeitos persistiram mesmo depois desse tempo.

O mais difícil nos resultados é separar o que é efeito da viagem espacial e o que não é. Essas são pistas importantes para tentar mitigar efeitos de exposição prolongada ao ambiente de microgravidade, conforme a Nasa se prepara para enviar seus astronautas em missões de longa duração à Lua ou a Marte.

Voluntários terão de passar 60 dias numa cama inclinada. (Crédito: DLR)

OS DEITADÕES
O modo ideal de estudar os efeitos do voo espacial em humanos é enviando-os lá, claro. É o que aconteceu no Estudo dos Gêmeos da Nasa. Mas essa não é a solução mais prática e barata. E quem não tem cão caça com gato. Ou melhor, com cama.

A agência espacial americana é uma das financiadoras de um estudo que está à procura de voluntários. Sua tarefa será ficarem deitados por 60 dias seguidos, sem interrupções. Comer, beber, tomar banho, fazer tudo sem se levantarem.

A cama estará ligeiramente inclinada, com o lado da cabeça 6 graus mais baixo, para simular um dos efeitos que a microgravidade tem no corpo humano — os fluidos se redistribuem e se concentram na parte de cima (repare na cara inchada na foto de astronautas em órbita).

Eles terão também de respirar uma atmosfera com 4% de gás carbônico, para simular o ar de uma espaçonave.

O estudo está acontecendo na DLR (agência espacial alemã), e cada voluntário ganhará 16,5 mil euros por sua participação.

Os cientistas querem testar, em dois terços dos participantes, uma centrífuga de braço curto, numa tentativa de combater os efeitos maléficos da microgravidade.

Já é a segunda rodada dos estudos, que começaram em 2017, numa temporada de 30 dias e 11 participantes. Desta vez, serão 24.

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