Mensageiro Sideral https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br De onde viemos, onde estamos e para onde vamos Sat, 04 Dec 2021 19:09:39 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Europeus lançam a Solar Orbiter, sonda destinada a estudar o Sol de perto https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/02/10/europeus-lancam-sua-sonda-para-estudar-o-sol-de-perto/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/02/10/europeus-lancam-sua-sonda-para-estudar-o-sol-de-perto/#respond Mon, 10 Feb 2020 05:00:42 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2020/02/solar-orbiter-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9214 Partiu ao espaço nesta segunda-feira (10) mais uma sonda destinada a investigar de perto os mistérios da grande usina de energia do nosso sistema planetário: a europeia Solar Orbiter.

Não estaríamos aqui hoje não fosse o Sol (e, claro, a conveniência de a Terra estar no lugar certo para nem fritar, nem congelar), mas restam muitos mistérios não solucionados sobre nossa estrela-mãe.

A Solar Orbiter fará dobradinha com a já lançada e operacional Parker Solar Probe, americana, que vem batendo recordes sucessivos de aproximação máxima do Sol para investigar seus segredos. Até agora, em órbitas cada vez mais excêntricas (ovais), a sonda já chegou a estar a apenas 18,6 milhões de quilômetros da fotosfera (a superfície solar), em 29 de janeiro. Foi sua quarta passagem de raspão pelo Sol, literalmente mergulhando em sua coroa (a atmosfera estendida da estrela).

Em futuras órbitas, a distância mínima da Parker com o astro-rei será encurtada ainda mais, chegando a meros 6,2 milhões de quilômetros. Em contraste, a Solar Orbiter tem a promessa de vida mais fácil. 

Após ser impulsionada pelo foguete americano Atlas 5, a partir de Cabo Canaveral, na Flórida, a sonda europeia será inserida numa órbita elíptica ao redor do Sol, que será ajustada por meio de passagens de raspão pela Terra e por Vênus, usando a gravidade dos planetas como estilingue. Daqui a dois anos, ela deve atingir sua órbita operacional, que chegará no mínimo a 42 milhões de km da fotosfera.

É bem mais que a Parker, mas não é exatamente uma brisa. Seu periélio (ponto de máxima aproximação do Sol) levará a espaçonave para mais perto do Sol que Mercúrio, o menor e mais interno dos planetas. Para lidar com o calor, a Airbus, empresa responsável pelo projeto e pela construção da Solar Orbiter, desenvolveu um revestimento chamado SolarBlack. Aplicado ao escudo térmico da sonda, ele protegerá os 10 instrumentos embarcados de temperaturas superiores a 500° C – suficientes para derreter chumbo.

Futuros encontros com os planetas ajudarão a colocar a sonda numa órbita cada vez mais inclinada, dando meios para observar as latitudes mais altas da estrela – algo que a Parker, com órbita cuja inclinação de 3,4° com relação ao Sol (praticamente no equador solar), não permite fazer. Em sua missão estendida, se a Solar Orbiter aguentar até lá, sua inclinação orbital poderá chegar a até 33 graus.

As duas sondas, portanto, são complementares, e não por acaso há grande participação da Nasa no projeto da ESA. Juntas, elas devem fornecer o quadro mais completo já produzido do funcionamento do maravilhoso motor nuclear do Sistema Solar.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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Planetas geologicamente ‘vivos’ devem ser comuns na Via Láctea, diz estudo https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/11/29/planetas-geologicamente-vivos-devem-ser-comuns-diz-estudo/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/11/29/planetas-geologicamente-vivos-devem-ser-comuns-diz-estudo/#respond Thu, 29 Nov 2018 17:26:12 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/11/Ciclo_do_carbono_Melissa_de_Andrade_Nunes-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8378 É consensual entre os cientistas que a Terra é um planeta com vida em parte por ser um planeta “vivo”, ou seja, geologicamente ativo. São esses processos que ajudam a produzir o campo magnético terrestre e alimentam o chamado ciclo do carbono, ambos essenciais à biosfera. E agora um trabalho feito por um grupo internacional de pesquisadores com liderança brasileira demonstrou que ao menos essa característica geofísica não é peculiar ao nosso planeta; pelo contrário, deve ser comum em planetas rochosos espalhados por todo o disco da Via Láctea.

Os pesquisadores analisaram 53 estrelas gêmeas solares, ou seja, astros que mostram aproximadamente a mesma massa, o mesmo diâmetro e propriedades gerais muito similares às do Sol. Por meio de espectrógrafos, é possível analisar a “assinatura de luz” dessas estrelas todas e, a partir disso, identificar sua composição.

O grupo estava à procura de tório na composição desses astros. Isso porque se trata de um elemento radioativo importante na composição do interior planetário; ao sofrer decaimento, ele é uma fonte de calor interno, e com isso ajuda a manter o planeta geologicamente ativo.

“Confirmamos que há um grande orçamento energético do decaimento de tório para manter a convecção do manto dentro de potenciais planetas rochosos ao redor de gêmeas solares, desde a formação do fino disco galáctico até agora”, escreveram os pesquisadores em artigo publicado no periódico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

O trabalho tem como primeiro autor Rafael Botelho, orientando de doutorado de André Milone no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), e tem importantes implicações para uma avaliação do potencial para a vida na Via Láctea. “O mais empolgante é que parece que o tório também é abundante em gêmeas solares velhas, significando que o disco da galáxia pode estar repleto de vida, tanto no espaço quanto no tempo”, diz Botelho.

Não custa lembrar que o Sistema Solar é relativamente recente, comparado à idade da galáxia. Enquanto o Sol e sua família de planetas nasceram cerca de 4,5 bilhões de anos atrás, a Via Láctea, ainda que numa forma mais primitiva, já está por aí há mais de 10 bilhões de anos. Ou seja, há estrelas e planetas muito mais velhos que o Sol e a Terra, e a implicação é que mesmo nesses tempos mais antigos já havia concentração suficiente de tório para servir como “bateria de energia” para a atividade geológica.

É uma descoberta importante, uma vez que sabemos que o Universo nasceu apenas com elementos leves (hidrogênio, hélio e lítio), há 13,8 bilhões de anos, e foi apenas gradualmente se tornando mais enriquecido em elementos pesados, conforme as primeiras gerações de estrelas os foram fabricando e os espalhando pelo espaço ao fim de suas vidas. Aparentemente, esse processo de enriquecimento aconteceu de forma relativamente rápida, de modo que mesmo em épocas bem mais remotas já havia um inventário respeitável de fontes radioativas de calor para o interior de planetas.

O trabalho dá maior amplitude a um estudo feito anteriormente por um grupo da Universidade Estadual de Ohio, nos Estados Unidos, que analisou a presença de tório em 13 gêmeas solares. Com uma amostra mais robusta de 53, com as mais variadas idades, a nova pesquisa consolida as conclusões originais. Em ambos os casos, os dados espectrais das estrelas vieram do Harps, instrumento instalado no telescópio do ESO (Observatório Europeu do Sul) em La Silla, no Chile.

UM PROCESSO COMPLEXO
Mostrar que há energia de processos radioativos para planetas geologicamente ativos em toda a galáxia, contudo, não pode ser confundido com demonstrar que todos os planetas ricos em tório são geologicamente ativos.

Aliás, entender o que mantém o interior de um planeta “vivo” é ainda um problema a ser resolvido. Certamente se trata de uma questão multifacetada. Ter elementos radioativos capaz de gerar calor interno é um dos fatores, mas está longe de ser o único. Outro igualmente importante é a quantidade inicial de calor armazenada no planeta durante sua formação, em razão do processo violento de colisões que o gera. E é bem possível que o efeito de maré também contribua para “chacoalhar” (e assim manter aquecido) um manto planetário.

Um ótimo exemplo disso é a situação dos quatro planetas rochosos do Sistema Solar: Mercúrio, Vênus, Terra e Marte. Ambos se formaram a partir da mesma nebulosa que gerou o Sol, o que nos faz presumir que todos tiveram acesso ao tório presente nela — embora algumas diferenças de concentração possam existir em razão de os planetas terem se originado em diferentes locais do disco de gás e poeira responsável por sua formação ao redor do Sol nascente.

Modelos teóricos do interior dos quatro planetas rochosos do Sistema Solar, mais a Lua. (Crédito: Nasa/JPL)

A despeito disso, apenas Mercúrio e a Terra têm campos magnéticos apreciáveis (gerados no núcleo externo, ao que tudo indica), e apenas a Terra segue com tectonismo ativo. Vênus, apesar de ser praticamente do mesmo tamanho da Terra e dar toda pinta de ser geologicamente ativo, não apresenta sinais claros de placas tectônicas. Marte, por sua vez, que é menor, se mostra geologicamente morto. (A propósito, um dos objetivos da sonda InSight, que acabou de pousar por lá, é determinar quanto calor interno ainda existe no planeta.)

Então, não dá para saltar do fato “há tório” para a conclusão “há atividade geológica”. É apenas um indício de que energia fornecida por decaimento radioativo não é uma limitação para planetas geologicamente vivos.

“Se tivéssemos encontrado níveis muito baixos de tório em outras estrelas, isso poderia questionar o potencial de termos planetas rochosos geologicamente ativos na galáxia”, afirma Jorge Melendez, pesquisador do IAG-USP (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo) e coautor do trabalho. “Como encontramos níveis aproximadamente similares em todas as estrelas estudadas, isso indica que existe potencial de termos planetas ativos. Lógico que isso não quer dizer que todo planeta rochoso é ativo, mas pelo menos existe potencial para isso.”

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A fúria das estrelas anãs vermelhas https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/10/22/a-furia-das-estrelas-anas-vermelhas/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/10/22/a-furia-das-estrelas-anas-vermelhas/#respond Mon, 22 Oct 2018 04:00:44 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/ana-vermelha-planeta-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8256 Bastaram 10 horas de observações do Telescópio Espacial Hubble para que astrônomos detectassem uma supererupção estelar, daquelas capazes de estragar a habitabilidade de um planeta, em uma estrela anã vermelha. Pois é, o Universo costuma ser bem mais hostil lá fora do que viver na Terra sugere.

O resultado, aceito para publicação no Astrophysical Journal, faz parte de um estudo chamado Hazmat, voltado justamente para investigar as ameaças a que estão submetidos mundos potencialmente habitáveis ao redor de estrelas anãs vermelhas.

Menores que o nosso Sol, esses astros são extremamente comuns e compõem cerca de três quartos de todas as estrelas em nossa Via Láctea. Sabe-se também que, sobretudo em sua juventude, elas são muito mais ativas, com frequentes e imensas explosões de plasma e radiação. Mas os detalhes ainda carecem de investigação, e essa é uma das motivações do estudo Hazmat.

O projeto está voltado para a observação de estrelas anãs vermelhas jovens (40 milhões de anos), adolescentes (650 milhões de anos) e maduras (com bilhões de anos). A primeira fase contemplou 12 estrelas jovens, observadas em luz ultravioleta. Ao todo, foram observadas 18 explosões estelares, uma delas tão forte que pode ser classificada como uma “superexplosão”. Eles a apelidaram de Hazflare.

“Com o Sol, temos cem anos de boas observações e, nesse período, vimos uma ou duas explosões com energia comparável à da Hazflare”, disse Parke Loyd, pesquisador da Universidade Estadual do Arizona e primeiro autor da pesquisa. “Em menos de um dia dessas estrelas jovens, pegamos a Hazflare, o que significa que temos superexplosões acontecendo todos os dias ou talvez várias vezes ao dia.”

Uma explosão dessas, viajando na direção de um planeta como a Terra, seria capaz de varrer completamente sua atmosfera. O que, é claro, é uma péssima notícia para qualquer coisa que pretenda viver nele.

Os pesquisadores agora seguem trabalhando e passam a investigar estrelas com mais idade, sabidamente mais tranquilas. É possível que, com o passar de bilhões de anos, até as mais rebeldes anãs vermelhas se tornem menos inóspitas a planetas habitáveis. Resta contudo saber se há mecanismo que permita que eles restaurem sua atmosfera, varrida diversas vezes durante a evolução inicial do sistema.

A pergunta é premente, e a resposta, idem. Espera-se que, com a próxima geração de telescópios em terra e no espaço, seja possível estudar a atmosfera de planetas ao redor de anãs vermelhas próximas e assim caracterizar o ambiente que impera em suas superfícies.

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Conheça nossos novos vizinhos https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/10/15/conheca-nossos-novos-vizinhos/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/10/15/conheca-nossos-novos-vizinhos/#respond Mon, 15 Oct 2018 05:00:52 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/heic0913a-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8236 Um grupo internacional de pesquisadores com participação brasileira descobriu nada menos que 41 novos aglomerados estelares na vizinhança do Sistema Solar. Vizinhança naquelas, claro — estamos falando de um raio de 6.000 anos-luz. Mas, no contexto do tamanho da Via Láctea, com seus cerca de 100 mil anos-luz de diâmetro, é, como diria Fernando Vannucci, logo ali.

O achado, obtido pela colaboração Coin (acrônimo em inglês para Iniciativa Cosmoestatística), foi possível graças a dados colhidos pelo satélite europeu Gaia, e é ainda mais importante pelo fato de que, até recentemente, a comunidade astronômica dava esse censo local por essencialmente encerrado. O novo achado muda completamente esse entendimento e representa um aumento de mais de 20% no número de aglomerados estelares conhecidos em nossos arredores galácticos.

Aí você pergunta: mas por que diabos é importante ficar achando aglomerados estelares? E, indo ainda mais longe, que diabo é um aglomerado estelar? Bom, começando pelo fim, um aglomerado é basicamente um montão de estrelas (centenas a milhares delas) agrupadas, pelo fato de terem nascido na mesma ninhada e ainda não terem tido tempo de se dispersar pela galáxia.

Sabendo isso, fica mais fácil responder à primeira pergunta. Aglomerados, além de serem mais fáceis de ver do que estrelas individuais, representam estruturas jovens, que dão pistas de como cada região da galáxia está se transformando e de qual é, afinal, sua forma.

Mapa indica os novos aglomerados (em amarelo) descobertos pelo Coin em dados do satélite Gaia.

Não é segredo para ninguém que mapear a Via Láctea é extremamente difícil, pelo simples fato de que estamos do lado de dentro. É meio como tentar desenhar a costa brasileira a partir de Minas Gerais. Nesse sentido, o estudo dos aglomerados ajuda bastante.

Essa, é por sinal, a expectativa gerada pelo satélite Gaia. Seus dados contemplam a posição e velocidade de cerca de 1,7 bilhão de estrelas — por volta de 1% do total existente na Via Láctea. Seus dados prometem revolucionar vários campos da astronomia e permitirão ter uma noção sem precedentes da organização e da longa história da nossa galáxia.

As novas descobertas foram feitas com observações da região do braço de Perseus, um dos braços espirais da Via Láctea. “E estamos agora trabalhando para mapear o céu inteiro — potencial de descobertas enorme”, descreve Rafael de Souza, pesquisador da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, nos EUA, um dos líderes da Coin.

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Nasa despacha sonda para roçar o Sol https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/08/10/nasa-despacha-sonda-para-rocar-o-sol/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/08/10/nasa-despacha-sonda-para-rocar-o-sol/#respond Fri, 10 Aug 2018 05:00:47 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/parker-solar-probe-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7983 O tom é de jornada épica. A Nasa finalmente realiza o velho sonho de Ícaro, ao lançar a primeira espaçonave a visitar o Sol.

Pois é, o Sol. No Sistema Solar, não fica muito mais desafiador que isso, e a agência espacial americana pretende iniciar esta viagem na madrugada de sábado (11).

Às 4h33 (de Brasília), se a meteorologia permitir, o foguete Delta IV Heavy — segundo mais potente em operação hoje, perdendo só para o novíssimo Falcon Heavy da SpaceX — deve partir de Cabo Canaveral, na Flórida, para o espaço, levando consigo a Parker Solar Probe.

O nome é uma homenagem ao astrofísico solar americano Eugene Parker, que na década de 1950 fez grandes avanços teóricos na compreensão do vento solar — a torrente de partículas ionizadas lançadas pelo Sol ao espaço.

A missão da sonda é viajar para as regiões mais internas do Sistema Solar e no fim das contas se colocar numa órbita próxima do Sol, muito mais perto dele que o planeta Mercúrio.

A primeira “roçada” em nossa estrela-mãe acontece cerca de três meses após o lançamento, na primeira de 24 passagens próximas previstas ao longo de sete anos. Numa órbita bastante alongada, a cada afastamento a Parker Solar Probe cruza as órbitas de Mercúrio e Vênus, por vezes usando encontros próximos venusianos para “apertar” ainda mais seu cerco ao redor do Sol.

Claro que a sonda nunca vai entrar no interior da estrela — nada conhecido pela ciência poderia sobreviver intacto a um contato com a fotosfera solar (sua “superfície”), onde a temperatura é de cerca de 5.500 °C.

A espaçonave, contudo, fará travessias constantes da chamada coroa solar — que é basicamente a atmosfera estendida do Sol. Em sua aproximação máxima, estará a apenas 6,2 milhões de km da fotosfera (para efeito de visualização do nível de proximidade, nessa hora, entre ela e o Sol daria para colocar apenas uns quatro sóis enfileirados).

De forma curiosa, a coroa solar é ainda mais quente que sua superfície, atingindo temperatura de milhões de graus. Os cientistas ainda não sabem explicar direito o porquê, e a ideia é que a Parker Solar Probe ajude a descobrir o que rola.

Aí é honesto perguntar: mas se a sonda não aguentaria os 5.500 graus da superfície do Sol, como pode encarar uma temperatura de milhões de graus na coroa solar?

Tenha em mente a definição de temperatura: trata-se do grau de agitação das partículas. Na coroa solar, as partículas estão se movendo extremamente rápido — ou seja, a temperatura é alta –, mas a quantidade de partículas por volume é bem pequena. É o que torna a missão possível.

“Mesmo na órbita mais próxima do Sol a densidade de partículas por metro cúbico é cerca de um centésimo da do melhor vácuo obtido em laboratórios aqui na Terra”, explica Caius Lucius Selhorst, pesquisador da Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul) e especialista em física solar não envolvido com o projeto.

O maior desafio na verdade é lidar com a radiação luminosa — as partículas de luz do Sol chegam em maior quantidade quanto mais perto se está dele. Esses fótons, por sua vez, excitam materiais que encontram pela frente, agitando-os (e aí a sonda esquenta).

Para contornar o problema, a Parker Solar Probe conta com um escudo térmico de 12 cm de espuma de compósito de carbono ensanduichados entre duas folhas de fibra de carbono.

Todos os equipamentos, salvo a pontinha dos painéis solares e antenas, ficam atrás do escudo, onde a temperatura é mantida a confortáveis 29 °C. Na frente do escudo, onde a luz solar incide diretamente, a temperatura deve chegar a 1.371 °C. Mas ele aguenta.

ENTENDENDO O SOL
Os cientistas já têm uma compreensão razoável do que leva ao surgimento de estrelas como o Sol e de como elas “funcionam”, gerando energia por meio da fusão nuclear que acontece em seu interior.

Muitos detalhes, contudo, ainda pedem explicações mais sofisticadas. Isso inclui os padrões vistos nos ciclos de máximo e mínimos de atividade (que variam para cada estrela e, no caso do Sol, acontecem a cada 11 anos) e suas variações, e também nos fenômenos que acontecem na coroa para gerar o vento solar.

E o interesse pelo fenômeno vai muito além da curiosidade acadêmica. A interação do vento solar com o campo magnético terrestre é de alta relevância para nosso mundo tecnológico. Tempestades solares intensas podem danificar satélites em órbita e mesmo afetar redes elétricas em solo.

Daí a importância de saber prever esses fenômenos, e não há como fazer isso sem compreendê-los. Diversas espaçonaves foram lançadas nas últimas décadas para estudar o Sol, como a SoHO e o SDO, mas nenhuma com esse foco de visitar a coroa solar e tomar dados no local em que os fenômenos nascem. Em suas aproximações do Sol, a Parker Solar Probe estará no centro da ação.

“Creio que os dados obtidos serão fundamentais para ajudarmos a entender melhor os processos de formação do vento solar e das partículas energéticas que podem causar grandes distúrbios na nossa magnetosfera”, diz Selhorst.

Além dos dados inéditos, a espaçonave baterá diversos recordes. Em suas aproximações do Sol, puxada pela gravidade solar, ela chegará a 700 mil km/h — velocidade cerca de 30 vezes maior que a da Estação Espacial Internacional.

Nada disso virá de graça, claro. O projeto já está sendo desenvolvido há oito anos, com um gasto total de US$ 1,5 bilhão. Jornadas épicas custam caro. Mas, ao que parece, Ícaro finalmente será vingado.

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Satélite Gaia cria mapa 3D da Via Láctea https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/04/30/satelite-gaia-cria-mapa-3d-da-via-lactea/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/04/30/satelite-gaia-cria-mapa-3d-da-via-lactea/#respond Mon, 30 Apr 2018 05:00:29 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/04/Gaia_s_sky_in_colour-1-320x213.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7645 O Natal chegou mais cedo para os astrônomos. Na semana passada, a Agência Espacial Europeia divulgou a segunda bateria de dados do Gaia, satélite destinado a fazer o maior censo estelar da Via Láctea. Com essas informações, é possível gerar um mapa 3D da nossa galáxia, mesmo estando nós do lado de dentro dela.

Lançado em dezembro de 2013, o satélite começou a colher dados no ano seguinte. A primeira divulgação ocorreu em 2016 e continha já um catálogo respeitável, que permitia estimar a distância e o movimento de cerca de 2 milhões de estrelas.

O Gaia mede a distância das estrelas por um método conhecido como paralaxe. Em sua órbita ao redor do Sol, o satélite está ora de um lado, ora de outro do Sistema Solar, o que gera uma pequena mudança de perspectiva com relação às estrelas. Por trigonometria, pode-se calcular a distância com base na variação.

A rigor, poderíamos perceber isso com nossos próprios olhos, já que a Terra também ora está lá, ora está cá no Sistema Solar. Mas como a distância das estrelas é enorme, a mudança de perspectiva é muito pequena para ser registrada — exceto por um equipamento de alta precisão como o Gaia.

Neste segundo pacote, com 22 meses de dados, o número de estrelas cuja distância pode ser estimada subiu de 2 milhões para 130 milhões. E o número total de estrelas monitoradas é ainda maior: 1,7 bilhão. É uma revolução. Forma-se agora, gradualmente, uma base que vai alimentar o trabalho dos astrônomos por décadas a fio.

Só a título de exemplos, veja algumas pesquisas que já pipocaram.

Um grupo de astrônomos determinou que o disco da Via Láctea parece ser dinamicamente jovem e foi perturbado entre 300 e 900 milhões de anos atrás pela passagem próxima de uma galáxia anã vizinha.

Outro trabalho encontrou uma estrela que viaja em alta velocidade pela nossa galáxia, depois de ter sido ejetada da Grande Nuvem de Magalhães, sugerindo que essa modesta galáxia vizinha também tem um buraco negro gigante em seu centro.

Um terceiro analisou os resultados de detecção de 25 exoplanetas distantes por microlentes gravitacionais, corroborando 19 deles com os novos dados do Gaia.

Isso sem falar na própria equipe do satélite, que publicou um pacotaço de artigos numa edição especial da Astronomy & Astrophysics. Esse é apenas o começo de uma revolução na astronomia.

BÔNUS: Viaje virtualmente pelo céu de Gaia!
A Universidade de Heidelberg, na Alemanha, desenvolveu um software que é basicamente um simulador virtual do Universo baseado nos dados do satélite Gaia. Você pode baixá-lo e viajar pela galáxia clicando aqui.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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O nascimento dos mundos e a beleza de uma natureza infinitamente criativa https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/04/11/o-nascimento-dos-mundos-e-a-beleza-de-uma-natureza-infinitamente-criativa/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/04/11/o-nascimento-dos-mundos-e-a-beleza-de-uma-natureza-infinitamente-criativa/#respond Wed, 11 Apr 2018 18:40:19 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/04/eso1811a-320x213.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7551 Às vezes, falar de astronomia é meramente falar de admiração — expressar esse sentimento quase indescritível de encantamento ao se confrontar com a beleza de um Universo em eterna mudança, em que estrelas nascem, estrelas morrem, e o ciclo continua.

O mais bonito nisso é a reverência que o ser humano precisa adotar diante do cosmos, para reconhecer que, por um lado, é um raro e especial privilégio de nossa espécie sermos capazes de compreender o que faz o Universo ser como é e, por outro lado, aceitar que não haverá mente consciente capaz de antecipar toda a miríade de possibilidades que o cosmos é capaz de gestar em seus espaços infinitos.

Esses dois parágrafos anteriores tentam resumir o que me ocorre ao ver as novas imagens divulgadas pelo ESO, o Observatório Europeu do Sul, colhidas com o instrumento SPHERE, instalado no VLT, o Very Large Telescope, no Chile. Eles mostram discos de gás e poeira ao redor de estrelas jovens — a “impressão digital” do processo de formação de planetas — e revelam que incrível variedade eles podem ter.

Operando desde 2014, o SPHERE foi desenvolvido especialmente para observar diretamente planetas gigantes gasosos ao redor de outras estrelas — o que, por sinal, ele já fez. Contudo, o instrumento, focado em luz infravermelha, também é excelente para o estudo de discos protoplanetários.

Já se imagina há séculos que planetas se formem em discos de gás e poeira — um entendimento que se consolidou definitivamente como a hipótese correta na década de 1980, com a detecção das primeiras estruturas do tipo. Contudo, sempre se imaginou que o processo seguisse um padrão regular, capaz de produzir sistemas planetários similares ao nosso.

Faz sentido, quando só se tem um exemplo concreto do final de um processo, imaginar que esse seja o único desfecho possível, ou, ao menos, o mais provável deles.

Ocorre que, a partir de 1995, quando se descobriu o primeiro exoplaneta a orbitar uma estrela similar ao Sol, ficou claro que nem todo sistema planetário nasce para ser um análogo solar. Pelo contrário, o que vemos por aí é uma infinidade de arquiteturas possíveis, algumas das quais considerávamos literalmente impossíveis até vermos com que naturalidade indiferente à nossa indignação pessoal o cosmos as produz. Planetas em diferentes configurações orbitais em torno de estrelas binárias, planetas gigantes gasosos em órbitas ultracurtas, sistemas planetários ultracompactos, com planetas orbitando bem pertinho uns dos outros… todas essas configurações eram disparates completos, até serem observadas, de novo e de novo, espalhadas por aí.

Nos últimos 20 anos, os astrônomos vêm se adaptando a essa mudança. Desafiados pela criatividade da natureza, investigam como se formam os chamados Hot Jupiters, por que a migração planetária parece ser um processo tão comum — podendo inclusive ter acontecido no passado remoto do nosso Sistema Solar — e que diferentes processos levam a que tipos de sistemas.

Nesse sentido, a próxima revolução na compreensão vem agora, com os estudos cada vez mais detalhados dos discos protoplanetários. As imagens do SPHERE, colhidas para dois trabalhos científicos, se concentram em estrelas do tipo T Tauri, que são basicamente estrelas com brilho variável e muito, muito jovens — menos que 10 milhões de anos. Contraste isso com a idade do Sol, hoje em sua meia idade — 4,6 bilhões de anos –, e temos aí uma boa referência de como elas ainda são bebês.

A pesquisa ganhou o nome de DARTTS-S, acrônimo para Discos Ao Redor de Estrelas T Tauri com o SPHERE, e se concentrou em astros desse tipo a distâncias relativamente modestas da Terra, entre 230 e 550 anos-luz. E o que se vê, fora a beleza singela do processo que leva a formação de mundos inteiros, é sua incrível variedade.

Pode-se notar formas variadas nos discos, anéis concêntricos escuros em padrões diferentes, indicando as faixas de transição entre as regiões em que diversos compostos voláteis podem se solidificar em gelo e contribuir com a formação de planetesimais e até mesmo a presença inferida de planetas em processo de nascimento escavando vãos no disco.

Curioso observar como alguns discos com uma forma que lembra mais um hambúrguer.

E a descoberta mais interessante dessa bateria de observações foi encontrar um disco protoplanetário ao redor de uma estrela anã vermelha jovem.

Até aí, nada surpreendente. O que realmente causou coceiras no cérebro dos astrônomos foi o fato de que essa estrela pertence a um sistema múltiplo do qual foi observado também um disco protoplanetário de uma estrela T Tauri. E os dois discos, embora devam ser contemporâneos, posto que formados da mesma “ninhada” estelar, estão em estágios evolutivos diferentes: o da anã vermelha (visto na imagem acima, ao centro) está bem mais “velho” que o da T Tauri. Como se deu essa diferença? O que ela significa? Qual o impacto disso para a consolidação dos sistemas planetários nas duas estrelas? Os astrônomos não sabem, e até essa observação nem tinham como sequer fazer esta pergunta.

E esta é a beleza da ciência: ela presta homenagem aos que nos antecederam e propuseram as hipóteses corretas para explicar nossas observações, mas também clama pela próxima geração de cientistas, que será capaz de explicar fatos não compreendidos trazidos à tona pelas observações atuais. Isso, é claro, sem falar no privilégio singular de meramente poder testemunhar o Universo dinâmico, em constante transformação.

Quem disse que, ao redor de uma dessas estrelas T Tauri, não surgirá um planeta habitável que, daqui a uns 4 ou 5 bilhões de anos, dará origem a uma espécie suficientemente curiosa para olhar para o céu e se perguntar o que acontece por lá? O ciclo continua.

Para os mais inclinados aos aspectos técnicos dessas novas descobertas, um artigo de Henning Avenhaus e colegas aceito pelo Astrophysical Journal relata os oito discos T Tauri observados, e outro, de Elena Sissa e colegas, aceito pelo Astronomy & Astrophysics, relata a descoberta do disco em torno da anã vermelha.

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Astrônomo amador argentino flagra detonação de supernova em tempo real https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/02/21/astronomo-amador-argentino-flagra-detonacao-de-supernova-em-tempo-real/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/02/21/astronomo-amador-argentino-flagra-detonacao-de-supernova-em-tempo-real/#respond Wed, 21 Feb 2018 18:15:53 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/sn2016gkg-150x150.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7385 Por um golpe de sorte daqueles que fazem os ganhadores da Mega-Sena parecerem pessoas comuns, um astrônomo amador argentino apontou seu telescópio para uma galáxia exatamente no mesmo momento em que uma estrela explodiu por lá como supernova. O achado permitiu a raríssima oportunidade de estudar os primeiros momentos da detonação e assim explorar os detalhes de como ela se dá.

Aconteceu em 20 de setembro de 2016. Víctor Buso, de Rosário, na Argentina, estava testando uma nova câmera acoplada a seu telescópio com abertura de 40 centímetros, apontando-a na direção de uma galáxia espiral barrada chamada NGC 613, a cerca de 80 milhões de anos-luz de distância. (Isso, na prática, quer dizer que estamos vendo agora a luz que chegou até nós após 80 milhões de anos de viagem, o que quer dizer que estamos testemunhando o passado dessa galáxia.)

Enquanto fazia suas imagens de calibração, Buso percebeu que um novo astro brilhante apareceu na galáxia entre as primeiras e últimas imagens, feitas ao longo de apenas uma hora e meia. Ele havia flagrado, numa sequência sensacional de imagens, o antes e o depois de uma supernova.

Sequência de imagens obtidas por Buso e um gráfico que mostra o aumento de brilho da supernova com o tempo. (Crédito: Víctor Buso)

Supernovas são novas só no nome — tratam-se de explosões de estrelas moribundas, ou mesmo de cadáveres estelares — e foram assim chamadas porque apenas parecem ser novidades no céu, uma vez que eram muito menos brilhantes antes da explosão.

No caso em questão, Buso rapidamente acionou colegas profissionais e foi possível fazer um estudo detalhado da supernova, classificando-a como do tipo IIb. Explicando: os tipos têm a ver com a assinatura de luz que elas apresentam. Todas as do tipo II têm traços de hidrogênio. Se esses traços se mantêm, elas entram nos tipos P, L ou n. Se os traços de hidrogênio desaparecem depois de um tempo, tornando-as mais parecidas como uma supernova de tipo I, elas são classificadas como IIb.

Tudo isso é astronomiquês, claro. Resumindo a ópera em português, o que Buso registrou foi uma estrela de alta massa, mas que já havia perdido a maior parte de sua camada mais externa de hidrogênio (provavelmente roubada pela gravidade de uma estrela vizinha), explodindo após terminar de esgotar seu combustível nuclear interno. Pelas estimativas dos pesquisadores ao estudar detalhadamente a detonação e contrastá-la com modelos teóricos, a estrela que originou a SN 2016gkg nasceu com cerca de 20 vezes a massa do Sol, mas já havia emagrecido para cerca de 5 massas solares no momento de sua explosão.

Foi um enorme golpe de sorte, que permitiu que os astrônomos modelassem com precisão todas as etapas que envolvem a colossal explosão, inclusive a inicial, da qual não se tinha informação precisa para este tipo de supernova. De acordo com a astrônoma Melina Bersten, do Instituto de Astrofísica de La Plata, na Argentina, a chance aleatória de tropeçar com um evento desses em algo como 1 a 10 milhões ou talvez até 1 em 100 milhões. (Caso você queira comparar com a chance de acertar as seis dezenas da Mega-Sena, é 1 em 60 milhões.)

Os resultados da descoberta e os dois meses subsequentes de observação foram publicados na edição desta semana da revista “Nature”.

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Astronomia: Viagem à nebulosa de Órion https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/01/15/astronomia-viagem-a-nebulosa-de-orion/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/01/15/astronomia-viagem-a-nebulosa-de-orion/#comments Mon, 15 Jan 2018 04:00:42 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/nebula-orion-nasa-180x101.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7294 Imagens dos telescópios Hubble e Spitzer ajudam a criar viagem 3D pela nebulosa de Órion.

ARTE E CIÊNCIA
A nebulosa de Órion é uma das figurinhas mais fáceis do céu. A olho nu, ela parece apenas uma estrela, próxima às famosas Três Marias. Ao telescópio, é um espetáculo de cores — um berçário estelar de 2 milhões de anos, localizado a 1.350 anos-luz daqui. E agora astrônomos e artistas da Nasa se reuniram para nos propiciar uma visita a um dos lugares mais maravilhosos de nossa vizinhança cósmica.

HUBBLE E SPITZER
A renderização 3D da nebulosa é baseada em observações feitas pelos telescópios espaciais Hubble e Spitzer. O Hubble, com seus filtros em luz visível, revela a visão aproximada de nossos próprios olhos, caso estivessem lá.

INVISÍVEL
Já o Spitzer se concentra em colher luz que é invisível aos nossos olhos, infravermelha — a mesma que sai do controle da TV. Ela revela os segredos da nebulosa em meio a seu ambiente empoeirado, onde estrelas e sistemas planetários inteiros estão sendo gestados.

LONGA VIAGEM
Uma viagem até a nebulosa de Órion é improvável; tal jornada, mesmo próximo à velocidade da luz, levaria mais de mil anos. E, com tecnologias atuais, mude o número para milhões. Mas, graças ao olhar afiado dos telescópios espaciais e ao poder da computação gráfica, podemos visitá-la virtualmente.

ESTRELAS NASCENTES
Num espaço de apenas 24 anos-luz de diâmetro, mais de 700 estrelas individuais já foram identificadas, e outras ainda estão por nascer em meio ao gás. A forte emissão de luz ultravioleta das estrelas maiores escavou uma espécie de bacia na nebulosa. Ao redor dessas estrelas, o Hubble já conseguiu identificar vários discos protoplanetários — planetas como a Terra decerto estão nascendo lá agora.

MORTE E VIDA
E assim caminha o Universo, em seu ciclo contínuo de criação e destruição. Conforme as estrelas vão nascendo, interações gravitacionais ao longo de milhões de anos acabam as expulsando do aglomerado, até dissipá-lo. Esses astros então terão suas órbitas individuais na Via Láctea, longe de seu berço, da mesma forma que provavelmente ocorreu ao Sol e sua família de planetas, há bilhões de anos.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

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Astronomia: As maiores estrelas do Universo https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/01/08/astronomia-as-maiores-estrelas-do-universo/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/01/08/astronomia-as-maiores-estrelas-do-universo/#comments Mon, 08 Jan 2018 04:00:43 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/tarantula-180x180.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7267 Universo fabrica mais estrelas azuis, maiores que o Sol, do que se pensava, diz estudo.

PEQUENAS E GRANDES
Sem querer desmerecer o Sol, que é o responsável pela energia que alimenta nossa biosfera, mas vamos e venhamos: trata-se de uma estrelinha bem sem-vergonha. No Universo aí fora, há astros bem maiores, azuis, com dezenas ou centenas de vezes mais massa. Eles são menos comuns, mas, pelo visto, não tão incomuns quanto se pensava antes.

A GRAMA DA VIZINHA
Ao estudar com o VLT, no Chile, um berçário de estrelas numa galáxia vizinha da Via Láctea, a Grande Nuvem de Magalhães, um grupo de astrônomos descobriu que o Universo fabrica muito mais estrelas de alta massa do que antes se pensava.

BERÇÁRIO
O foco da investigação, publicada na revista “Science’, foi a Nebulosa da Tarântula (imagem acima), uma região particularmente rica em formação estelar. O estudo mostrou que o nascimento de novas estrelas começou a pipocar para valer naquela área uns 8 milhões de anos atrás e as coisas só começaram a sossegar no último milhão de anos.

CERTIDÃO DE NASCIMENTO
Para constatar isso, eles fizeram um censo de cerca de 800 estrelas, estudando tamanho, temperatura e idade. E aí perceberam que por lá havia muito mais estrelas de alta massa do que o esperado.

TERRA DE GIGANTES
E não é só que há mais estrelas maiores; o tamanho das grandes também é maior que o esperado. A recordista na amostra tem cerca de 200 vezes mais massa que o Sol. Imaginava-se que uma estrela desse porte surgisse apenas raramente, mas o fato de os cientistas já encontrarem uma numa baciada de 800 mostra que deve haver mais delas no Universo do que bebês gigantes em reportagens do G1.

RICO UNIVERSO
A descoberta tem várias implicações. Astros de alta massa costumam morrer explosivamente, como supernovas, e nisso semeiam o cosmos com elementos pesados, essenciais à vida. Após a detonação, o que resta vira uma estrela de nêutrons ou um buraco negro. Se estrelas de alta massa são mais comuns, supernovas também são, assim como estrelas de nêutrons e buracos negros. E isso sugere que o Universo evoluiu quimicamente mais rápido do que se pensava — quase como se estivesse com pressa de ficar interessante.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

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