Mensageiro Sideral https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br De onde viemos, onde estamos e para onde vamos Sat, 04 Dec 2021 19:09:39 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Grupo encontra sistema que reflete futuro do Sistema Solar após a morte do Sol https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/10/24/grupo-encontra-sistema-que-reflete-futuro-do-sistema-solar-apos-a-morte-do-sol/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/10/24/grupo-encontra-sistema-que-reflete-futuro-do-sistema-solar-apos-a-morte-do-sol/#respond Sun, 24 Oct 2021 15:00:52 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/joviano-anabranca-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=10158 Usando um telescópio no Havaí, um grupo internacional de astrônomos encontrou um planeta similar a Júpiter que é um sobrevivente da morte de sua estrela mãe, compondo um retrato similar ao que tende a ser o destino do Sistema Solar em mais uns 6 bilhões de anos.

Tudo começou com o registro de um evento de microlente gravitacional, em 2 de agosto de 2010. Trata-se de um efeito que surge quando um objeto com massa, ainda que discreto, transita à frente de outro mais distante e luminoso. A gravidade então distorce os raios de luz que vêm do fundo, como uma lente. Ao analisarem o padrão, os pesquisadores podem estimar o objeto que causou o efeito. No caso em questão, dois objetos: uma estrela com massa um pouco menor que a do Sol acompanhada por um planeta do porte de Júpiter.

Após o registro do evento, catalogado como MOA-2010-BLG-477Lb, o grupo liderado por Joshua Blackman, da Universidade da Tasmânia, na Austrália, fez observações subsequentes no Observatório Keck, em 2015, 2016 e 2018. O objetivo: encontrar a estrela responsável pela microlente. O planeta, muito menos brilhante, não seria visível. Mas a estrela sim –se fosse um astro ativo, como o Sol.

As imagens colhidas no infravermelho próximo de início indicaram uma possível candidata, mas com o passar do tempo ela mostrou ter movimento inconsistente com o visto na microlente. Em suma, não era ela. Nem havia qualquer outra possível candidata. Aí o grupo aplicou o clássico raciocínio sherlockiano, segundo o qual quando se elimina tudo que é impossível, o que quer que reste, por improvável que seja, tem de ser a verdade.

Já que não era possível que fosse uma estrela viva e ativa (inconsistente com as imagens), nem um cadáver de estrela de alta massa, como uma estrela de nêutrons ou um buraco negro (inconsistente com as imagens e a microlente), restou apenas uma alternativa: era uma anã branca, com um planeta joviano ao seu redor.

É o destino final do Sol: quando seu combustível nuclear se esgotar, ele inchará como uma gigante vermelha, depois perderá suas camadas superiores e tudo que restará é um núcleo em processo de resfriamento. Quando o Sistema Solar passar por essa fase, será um barata-voa danado nas regiões mais internas. Mercúrio, Vênus e possivelmente a Terra serão engolidos pela fase gigante vermelha do Sol. Porém, simulações sugerem que Júpiter, em sua órbita mais afastada, tem boa chance de resistir ao cataclismo. Só que um sistema análogo com sobreviventes nunca havia sido observado. Até agora.

Esse parece ter aberto a porteira, trazendo um retrato triste e sombrio do futuro longínquo de nosso pequeno quintal na vastidão do cosmos. A anã branca deve ter cerca de 53% da massa do Sol, e o planeta aproximadamente 40% mais massa que Júpiter. A descoberta foi divulgada em artigo publicado na revista Nature.

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Astrônomos de Cambridge propõem nova categoria de exoplanetas habitáveis https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/08/29/astronomos-de-cambridge-propoem-nova-categoria-de-exoplanetas-habitaveis/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/08/29/astronomos-de-cambridge-propoem-nova-categoria-de-exoplanetas-habitaveis/#respond Sun, 29 Aug 2021 15:00:09 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/planeta-hiceanico-hycean-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=10079 Pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, sugerem que a busca por planetas com vida não deve se limitar a mundos similares ao nosso e cravam que uma categoria em particular desses objetos é candidatíssima para a primeira detecção de biossinais: os planetas hiceânicos.

Nome estranho, né? Demorei um pouco para entender de onde veio. Aguenta aí que eu chego lá. Muito já foi dito sobre os planetas oceânicos, que seriam um pouco maiores que a Terra e totalmente recobertos por espessas camadas de água, capazes de fazer nossos mares parecerem piscininhas.

E aí a categoria seguinte, até então pouco prestigiada, seria composta por planetas ainda maiores, que, além de serem ricos em água, teriam atmosferas extensas em que predomina o hidrogênio, similares às de planetas gigantes gasosos.

Em ambos os casos, estamos falando de mundos com tamanho intermediário entre a Terra (o maior dos mundos solares rochosos) e Netuno (o menor dos gasosos, com diâmetro cerca de quatro vezes maior que o terrestre). Não existe nada assim no Sistema Solar, mas os astrônomos já encontraram centenas de planetas com diâmetros nessa faixa intermediária, e são geralmente referidos como superterras (com diâmetro até 60% maior que o da Terra) ou mininetunos (se maiores que 60%).

Até recentemente, apesar de mais numerosos que as superterras, os mininetunos eram considerados candidatos ruins a abrigar vida. Especulava-se que a pressão e a temperatura sob sua atmosfera rica em hidrogênio fossem excessivamente altas para permitir a existência de vida.

O jogo começou a virar no ano passado, quando a equipe de Nikku Madhusudhan, em Cambridge, mostrou em um estudo publicado no Astrophysical Journal Letters que o mininetuno K2-18 b, descoberto pelo satélite Kepler, da Nasa, a despeito de ser 2,6 vezes maior que a Terra, poderia, em tese, ter um oceano habitável sob sua atmosfera hidrogenada. Hidrogênio+oceânico, hiceânico. Rá.

Agora, em um novo artigo, desta vez no Astrophysical Journal, Madhusudhan e seus colegas Anjali Piette e Savvas Constantinou, apresentam de forma mais ampla a categoria dos planetas hiceânicos. Em tese, mundos com até 2,6 vezes o diâmetro terrestre podem guardar condições habitáveis, e a chamada zona de habitabilidade (região ao redor da estrela em que a quantidade de radiação é compatível com a existência de corpos d’água de forma estável em um planeta) seria bem mais larga para esses mundos do que para análogos terrestres.

E o que mais empolga é que muitos dos potenciais planetas hiceânicos poderão ter sua atmosfera estudada em detalhes muito em breve pelo Telescópio Espacial James Webb, que a Nasa espera lançar até o fim do ano. Observações do K2-18 b, por sinal, já estão programadas entre as primeiras a serem feitas pelo novo satélite.

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Instrumento está perto de poder detectar gêmeo da Terra, diz estudo brasileiro https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/08/15/instrumento-esta-perto-de-poder-detectar-gemeo-da-terra-diz-estudo-brasileiro/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/08/15/instrumento-esta-perto-de-poder-detectar-gemeo-da-terra-diz-estudo-brasileiro/#respond Mon, 16 Aug 2021 02:15:43 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2015/07/eso1529a-180x74.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=10070 Apesar de termos ouvido muito nos últimos anos sobre a descoberta de exoplanetas com potencial para serem habitáveis ou similares à Terra, a detecção de um análogo perfeito do nosso mundo ainda não aconteceu. Mas estamos chegando cada vez mais perto, como mostra um novo estudo conduzido majoritariamente por pesquisadores brasileiros.

O trabalho, que tem como primeiro autor Yuri Netto, do IAG-USP (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo), foi aceito para publicação no Astronomical Journal. Ele teve por objetivo testar o nível de precisão do Espresso, novo espectrógrafo instalado no VLT, telescópio do ESO (Observatório Europeu do Sul) no Chile. Esse instrumento foi projetado para a busca de análogos terrestres, ou seja, exoplanetas com a massa da Terra, numa órbita similar à da Terra, orbitando uma estrela como o Sol.

Para fazer isso, pelo método de medição de velocidades radiais (a famosa detecção do bamboleio das estrelas conforme planetas giram ao redor delas e as atraem para cá e para lá), seria preciso atingir uma precisão de 10 cm/s. (Pense nisto: medir um movimento de meros dez centímetros a cada segundo de uma estrela localizada a anos-luz daqui.)

O espectrógrafo antecessor do Espresso, o Harps, instalado em La Silla, também no Chile, tem precisão de 1 m/s. Ou seja, a ambição é melhorar em dez vezes as medidas disponíveis. E a essa altura ele já está quase lá.

O grupo conduziu 24 observações da estrela HIP 11915, espalhadas ao longo de 60 noites. O astro, localizado a 175 anos-luz daqui na constelação da Baleia, foi escolhido por ser um gêmeo solar que tem um planeta análogo a Júpiter, descoberto com o Harps, também por brasileiros, em 2015, e está agora numa fase de baixa atividade estelar.

Após as observações e o pós-processamento (destinado a “limpar” o ruído, produzido principalmente pela atividade da estrela), os pesquisadores obtiveram medidas seguras de velocidade radial com média de 24 cm/s. Isso estabeleceu, portanto, a qualificação mínima do Espresso –na pior das hipóteses, precisão de uns 20 cm/s. Pode parecer frustrante, mas é um ótimo resultado.

A expectativa é que, quanto mais observações sejam feitas, maior seja a precisão atingida. E 60 noites, como nesse estudo inicial, é um período bem restrito para a busca de exoplanetas: afinal, para confirmar uma detecção, é preciso que o planeta complete ao menos uma volta inteira ao redor da estrela, o que no caso de um análogo perfeito da Terra exigiria uns 360 dias.

Com mais observações e aperfeiçoamentos do processamento, é bem possível que o Espresso atinja a ambicionada faixa de sensibilidade dos 10 cm/s. E a estrela HIP 11915, lembram os pesquisadores, seria um ótimo lugar para seguirmos olhando. Afinal, até onde sabemos, a similaridade com o Sistema Solar é notável. Quem sabe não é lá que encontraremos o primeiro análogo perfeito da Terra?

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Instrumento bate recorde e detecta exoplaneta com apenas 40% da massa da Terra https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/08/08/instrumento-bate-recorde-e-detecta-exoplaneta-com-apenas-40-da-massa-da-terra/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/08/08/instrumento-bate-recorde-e-detecta-exoplaneta-com-apenas-40-da-massa-da-terra/#respond Sun, 08 Aug 2021 22:50:38 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/l98-59b-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=10063 Uma equipe internacional usando o Very Large Telescope, no Chile, conseguiu realizar um feito impressionante: detectar um exoplaneta com cerca de 40% da massa da Terra em uma estrela a 35 anos-luz daqui. Foi a primeira vez que um mundo de porte tão modesto foi sondado por meio da técnica de velocidade radial, em que se medem distorções na assinatura de luz da estrela conforme planetas giram ao redor dela e a fazem bambolear, por conta da interação gravitacional.

A façanha só foi possível graças ao Espresso, espectrógrafo instalado em 2018 no VLT que tem precisão bem maior que a de seus predecessores. Os resultados do grupo liderado por Olivier Demangeon, da Universidade do Porto, em Portugal, foram aceitos para publicação no periódico Astronomy & Astrophysics e indicam a presença de pelo menos quatro planetas, possivelmente cinco, ao redor da estrela L 98-59. Três deles eram previamente conhecidos, tendo sido descobertos pelo satélite Tess em 2019.

A espaçonave caçadora de exoplanetas da Nasa os detecta pelo método do trânsito, medindo a redução de brilho da estrela quando eles passam à frente dela. Isso permite estimar o diâmetro desses mundos, mas não a massa. A técnica de velocidade radial, por sua vez, oferece a massa, mas não o diâmetro. Daí a motivação para o novo estudo.

Comparação entre a temperatura de equilíbrio, em Kelvin, de Mercúrio, Vênus e Terra e a dos planetas do sistema L 98-59. O quarto planeta, d, é pontilhado porque o diâmetro é desconhecido, e o quinto ainda carece de confirmação. (Crédito: ESO)

Os planetas b, c e d têm períodos bem curtos, completando uma volta ao redor de sua estrela a cada 2,2, 3,7 e 7,45 dias terrestres, respectivamente. Tão próximos assim, são decerto inabitáveis, mesmo levando em conta o fato de que L 98-59 é uma estrela anã vermelha, menor e mais fria que o Sol. Ainda assim, eles despertam interesse. E a combinação dos dados de massa e diâmetro permite estimar sua densidade e, com isso, projetar a possível composição.

Os dois mais internos, dos quais o menor de todos é o primeiro deles, são rochosos e secos. Já o terceiro deles, d, parece ser um planeta que tem 30% de sua massa em água, o que faria dele um mundo-oceano. A despeito disso, a temperatura provavelmente o torna inabitável.

Além disso, os dados de velocidade radial indicaram a presença de um quarto planeta, que não havia sido identificado pelo Tess, com massa no mínimo três vezes maior que a da Terra e um período de 12,8 dias. Há também indícios de um quinto planeta, esse ainda não confirmado, com período de 23 dias. Se ele existir, deve estar bem no meio da chamada zona habitável do sistema, onde a distância para a estrela permitiria a presença de água líquida de forma estável na superfície.

Além de quebrar recordes de sensibilidade na detecção de planetas por velocidade radial, o achado é importante para o futuro da pesquisa desses objetos. O sistema L 98-59 está próximo o suficiente para permitir que o Telescópio Espacial James Webb, a ser lançado no fim deste ano, possa tentar sondar a composição atmosférica de seus planetas.

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Astrônomos registram processo de formação de luas ao redor de exoplaneta https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/07/25/astronomos-registram-processo-de-formacao-de-luas-ao-redor-de-exoplaneta/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/07/25/astronomos-registram-processo-de-formacao-de-luas-ao-redor-de-exoplaneta/#respond Mon, 26 Jul 2021 02:15:29 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/07/pds70c-disco-320x213.jpg true https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=10054 Astrônomos obtiveram as primeiras observações inequívocas de que está acontecendo formação de luas ao redor de um exoplaneta no sistema PDS 70, a uns 370 anos-luz de distância daqui, na constelação do Centauro.

PDS, no caso, não é o velho partido de Paulo Maluf, mas ainda assim é do Brasil-sil-sil. Trata-se da sigla para Pico dos Dias Survey, um catálogo de astros jovens identificados pelo Observatório Pico dos Dias, em Brazópolis (MG), a partir de 1989.

O sistema PDS 70, em particular, tem tido grande destaque. Os dois planetas conhecidos, PDS 70b e c, foram descobertos por observação direta com o VLT (Very Large Telescope), também no Chile, em 2018 e 2019. E no ano passado um grupo internacional usou o Telescópio Espacial Hubble para medir o processo de acreção (crescimento) do mais interno deles, o PDS 70b. Eis o motivo pelo qual o sistema atrai tanto o interesse dos astrônomos: com uns 5 milhões de anos, ele é jovem a ponto de a formação dos planetas ainda estar em andamento.

Agora, as novas observações, feitas com o conjunto de radiotelescópios Alma e lideradas por Myrian Benisty, da Universidade do Chile, trazem um elemento a mais para o interesse no sistema: a detecção clara de um disco de gás e poeira ao redor de um dos planetas, PDS 70c, reproduzindo em microescala a formação planetária. Os pesquisadores estimam que haja massa suficiente ali para formar três luas como a da Terra, e o disco em si é enorme, comparável à distância Terra-Sol, 150 milhões de km.

Com o achado, os pesquisadores poderão estudar “em tempo real” como se formam luas em torno de planetas gigantes, investigação que também deve ajudar a explicar como nascem os próprios planetas. E, para além disso, o resultado confirma que o processo de formação de luas é de fato comum, como seria de se esperar.

Diferentemente da formação de planetas, que durante muito tempo contou com um único exemplo conhecido, a geração de luas se ofereceu aos astrônomos de cara como um processo comum, dado que todos os planetas gigantes do Sistema Solar trazem evidências de que algo assim tenha ocorrido, há 4,5 bilhões de anos. Claro, muitas das luas de Júpiter, Saturno, Urano e Netuno são meramente asteroides ou cometas capturados pela gravidade, mas algumas delas, maiores e organizadas em órbitas sobre o equador planetário, sugeriam uma origem local, a partir de um disco de gás e poeira –uma versão em miniatura do nascimento dos planetas ao redor do Sol.

Ainda assim, temos pouquíssimas evidências de exoluas maduras. Os dados dos satélites caçadores de planetas até agora se mostraram insuficientes para detectá-las com convicção (embora haja candidatos fortes, como o bizarro Kepler-1625b, mas isso é conversa para outro dia). Com o novo estudo, aceito para publicação no Astrophysical Journal Letters, resta a conclusão de que nos falta apenas procurar melhor.

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Com catálogo brasileiro, Hubble detecta engorda de um exoplaneta em formação https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/05/09/com-catalogo-brasileiro-hubble-detecta-engorda-de-um-exoplaneta-em-formacao/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/05/09/com-catalogo-brasileiro-hubble-detecta-engorda-de-um-exoplaneta-em-formacao/#respond Mon, 10 May 2021 02:15:35 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/05/pds70b-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9956 Um grupo de astrônomos nos EUA e na China usou o Telescópio Espacial Hubble para observar diretamente um exoplaneta do porte de Júpiter em pleno processo de formação e estimar quanta massa ele está agregando a cada ano. Isso graças ao trabalho de pesquisadores brasileiros, que usaram o Observatório Pico dos Dias, em Brasópolis (MG), para catalogar o sistema em primeiro lugar.

A estrela PDS 70 é uma das muitas listadas na Pico dos Dias Survey, iniciativa nacional nascida em 1989 para buscar astros estelares jovens. Localizada a aproximadamente 370 anos-luz da Terra, na constelação do Centauro, ela tem algo como 5 milhões de anos, cerca de 82% da massa do Sol e dois exoplanetas já catalogados, ambos observados diretamente com o VLT, do ESO (Observatório Europeu do Sul), em meio a um disco protoplanetário. Ou seja, esses são planetas ainda em estágio final de formação. E agora, com os dados do Hubble, foi possível estimar o atual ritmo de crescimento do mais interno deles, PDS 70b.

As observações foram feitas em duas faixas do espectro eletromagnético, uma delas a famosa linha H-alfa, na parte do visível (emitida quando um elétron desce do terceiro para o segundo nível num átomo de hidrogênio), e outra no ultravioleta. Com isso, o grupo liderado por Yifan Zhou, da Universidade do Texas em Austin, fez o primeiro imageamento direto de um exoplaneta em ultravioleta, além de monitorar seu brilho ao longo de cinco meses.

A ideia era basicamente usar as medições em dois comprimentos de onda para conseguir estimar o que era brilho em razão do próprio calor de formação e o que vinha de um excedente, resultado de mais gás e poeira caindo nele.

Foram ao todo 18 órbitas do Hubble, com as observações distribuídas em 6 blocos de 3 órbitas consecutivas, entre fevereiro e julho de 2020. O sucesso veio graças a uma nova técnica que envolveu variar o ângulo de visada do telescópio a cada passagem e reconstruir as imagens por pós-processamento.

Graças a isso, os pesquisadores puderam estimar que o planeta PDS 70b está acretando massa a um ritmo de 14 bilionésimos de uma massa de Júpiter por ano, resultado que publicaram no periódico Astronomical Journal. Pode parecer pouco, mas ele já tem mais ou menos a mesma massa de Júpiter, orbitando a 22 unidades astronômicas da estrela (cerca de quatro vezes a distância do nosso Júpiter ao Sol).

Já o planeta c é ainda maior, com 4,4 massas de Júpiter, e mais distante, orbitando a 30 unidades astronômicas do astro central. Apesar disso, não foi detectado pelas observações. Ou melhor, até foi, mas com baixa significância estatística, que impedia de distingui-lo de um falso positivo. É apenas um lembrete de como os cientistas estão levando ao limite os atuais telescópios, dentre eles o Hubble, na tentativa de compreender minuciosamente como se formam os planetas.

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Hubble analisa atmosfera de planeta rochoso fora do Sistema Solar https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/03/14/hubble-analisa-atmosfera-de-planeta-rochoso-fora-do-sistema-solar/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/03/14/hubble-analisa-atmosfera-de-planeta-rochoso-fora-do-sistema-solar/#respond Mon, 15 Mar 2021 02:15:09 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/03/gj1132b-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9868 Graças ao glorioso Telescópio Espacial Hubble, ganhamos na semana passada uma boa olhada na composição da atmosfera de um planeta rochoso fora do Sistema Solar com tamanho e densidade similares aos da Terra. Ele está longe de ser um paraíso habitável, então não se anime demais, mas se trata de avanço notável e um prelúdio de resultados ainda mais interessantes por vir.

O trabalho foi aceito para publicação no periódico Astronomical Journal e é resultado de uma colaboração entre pesquisadores americanos, britânicos e brasileiros. Pelo lado nacional, participaram Adriana Valio, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, e Raissa Estrela, atualmente em um pós-doutorado no JPL, o Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, nos EUA.

O alvo foi o planeta GJ 1132 b, localizado a 41 anos-luz daqui. Ele orbita uma anã vermelha, estrela bem menor que o Sol, completando uma volta em apenas 38 horas. Ou seja, está coladinho ao seu astro-rei. Com isso, recebe 19 vezes mais radiação estelar que a Terra ganha do Sol. Ninguém espera encontrar vida lá.

Porém, há motivos para festa sobre a detecção, que prenuncia o que se pode esperar em planetas ao redor de anãs vermelhas. Houve por décadas uma desconfiança dos astrônomos de que o alto nível de turbulência dessas pequenas estrelas impedisse um mundo próximo de conservar uma atmosfera. Eis aqui um planeta que, desde 2017, sabemos ter um invólucro gasoso.

Com diâmetro 16% e massa 66% maiores que os terrestres, GJ 1132 b é claramente rochoso, um pouco mais denso que a Terra. Ao observar a luz emitida pela estrela que trafegou de raspão por sua atmosfera antes de chegar à Terra, o Hubble obteve um espectro (a decomposição da luz) que carregava consigo a assinatura dos gases que encontrou pelo caminho.

Agora sabemos que há hidrogênio, cianeto de hidrogênio e metano na atmosfera do planeta, além de aerossóis que lembram muito o que vemos no ar de Titã, a maior das luas de Saturno. A hipótese dos cientistas é que GJ 1132 b, em sua origem, fosse um mininetuno, com uma vasta atmosfera primordial de hidrogênio e hélio. Essa sim teria sido varrida pelo vento estelar, tempos atrás. Mas então, graças à atividade vulcânica, o planeta ganhou uma segunda atmosfera – a que vemos agora.

A detecção do Hubble está no limite dos instrumentos do telescópio espacial, mas os pesquisadores esperam que o Telescópio Espacial James Webb, a ser lançado em outubro próximo, possa confirmar os resultados com maior facilidade. E, para além disso, perscrutar as atmosferas de muitos outros exoplanetas rochosos, alguns deles localizados nas zonas habitáveis de seus sistemas – faixa nem muito quente, nem muito fria em torno da estrela, onde condições para a vida poderiam prevalecer na superfície de um mundo ali localizado. É para ficar ansioso com o que vem por aí.

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Com nova técnica, astrônomos acham potencial planeta em Alfa Centauri https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/02/14/com-nova-tecnica-astronomos-acham-potencial-planeta-em-alfa-centauri/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/02/14/com-nova-tecnica-astronomos-acham-potencial-planeta-em-alfa-centauri/#respond Mon, 15 Feb 2021 02:15:55 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/02/near-alfacen-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9778 O sonho de visualizar diretamente planetas como a Terra fora do Sistema Solar ficou um pouquinho mais próximo, com uma nova técnica desenvolvida por um grupo internacional de astrônomos. Como demonstração, eles a usaram para investigar o sistema de Alfa Centauri (o mais próximo de nós, a 4,3 anos-luz daqui) e podem já ter encontrado um planeta por lá.

O projeto, denominado NEAR (sigla inglesa para Novas Terras na Região de Alfa Centauri), envolveu a instalação de atualizações em um dos instrumentos do VLT, o Telescópio Muito Grande, no Chile. A câmera de infravermelho médio recebeu um novo coronógrafo, destinado a bloquear a luz das estrelas imageadas e permitir, com isso, a visualização de objetos menos brilhantes em seus arredores. Além disso, ela foi usada em conjunto com um dos telescópios do VLT que tinha um espelho secundário maleável, que compensa, em tempo real, deformações da imagem causadas por turbulência atmosférica.

Os pesquisadores liderados por Kevin Wagner, da Universidade do Arizona, estimaram que seria possível detectar planetas, no limite extremo, com até três vezes o diâmetro da Terra nos arredores da zona habitável da maior das duas estrelas principais, Alfa Centauri A, com 100 horas de observação.

Ainda não seria um planeta rochoso, como o nosso, mas já começa a se aproximar disso. Eles estimam que, com telescópios de próxima geração, com espelho principal de cerca de 30 metros (em contraste com o VLT, que tem 8 metros), deve ser fácil detectar um planeta como a Terra em Alfa Centauri com apenas algumas poucas horas.

A campanha de observação do sistema foi feita entre maio e junho de 2019, e então os pesquisadores tiveram de eliminar da imagem os ruídos gerados pelo próprio telescópio e seus arredores (quase tudo gera calor, ou seja, emissão em infravermelho, que contamina a detecção). Feito isso, restou um brilho persistente a uma distância de 1,1 unidade astronômica da estrela A, que pode ser ser um planeta com diâmetro entre 3 e 11 vezes o da Terra. Algo entre um mininetuno e um júpiter. Só que observações por outros métodos descartaram um equivalente joviano. Então, se for mesmo um planeta, será menor que Saturno.

Os cientistas destacam ainda que, dada a novidade da técnica, não dá para descartar que a detecção seja algum artefato de imagem não previsto. Eles fizeram de tudo para contornar isso, até mesmo testando a inserção artificial de planetas na imagem para ver se o processamento pegava, e tudo faz parecer que é para valer – um planeta ou talvez um disco de poeira ao redor da estrela. A única forma de confirmar a real identidade do objeto, a partir de agora, é fazer novas observações. Mas não há dúvida de que é um resultado inicial bastante promissor, que abre caminho também para a observação de outras estrelas próximas, como Epsilon Eridani, Epsilon Indi e Tau Ceti. Os resultados foram publicados na Nature Communications.

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Planeta gigante ‘superfofo’ intriga cientistas https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/01/26/planeta-gigante-superfofo-intriga-cientistas/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/01/26/planeta-gigante-superfofo-intriga-cientistas/#respond Tue, 26 Jan 2021 19:22:23 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/wasp-107b-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9752 Um dos exoplanetas menos densos já descobertos é na verdade ainda menos denso do que antes se estimava. É o que sugere um estudo aceito para publicação no Astronomical Journal.

O trabalho, que tem como primeira autora Caroline Piaulet, da Universidade de Montreal, no Canadá, mostrou que o planeta conhecido como WASP-107b, embora tenha um diâmetro comparável ao de Júpiter, tem menos de um décimo da massa do maior planeta do Sistema Solar.

O resultado é fruto de quatro anos de observações com o espectrógrafo HIRES, do Observatório Keck, no Havaí. Com o instrumento, os astrônomos podem medir o bamboleio gravitacional induzido pelo planeta em sua estrela, que guarda relação direta com sua massa. Já o diâmetro é extrapolado a partir dos trânsitos que o mundo faz à frente de sua estrela.

WASP-107b dá uma volta em torno de seu sol, que é um pouco menor que o nosso, a cada 5,7 dias, e sua natureza “grande e muito leve” desafia os modelos de formação planetária. Pelas estimativas, ele teria uma massa em seu núcleo de menos de 5 vezes a da Terra, o que, de acordo com os cálculos, seria insuficiente para que ele agregasse um grande invólucro de gás em torno de si. E, no entanto, lá está ele, com uma atmosfera estendida que o faz ter o tamanho de Júpiter, com estimados 85% de hidrogênio e hélio gasosos compondo sua massa. É um enigma.

Os dados do Keck também indicaram a presença de um segundo planeta, maior e numa órbita excêntrica e mais larga, com período de três anos terrestres.

O WASP-107b há tempos intriga os astrônomos e foi nele que eles detectaram pela primeira vez a presença de hélio na atmosfera de um exoplaneta, usando o Hubble, em 2018. Para o futuro, esse estranho mundo deve continuar sendo um alvo preferencial, cuja existência pode ter grande importância para a compreensão de como nascem e evoluem planetas gigantes gasosos.

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Astrônomos detectam planeta errante do porte da Terra vagando pela Via Láctea https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/10/30/astronomos-detectam-planeta-errante-do-porte-da-terra-vagando-pela-via-lactea/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/10/30/astronomos-detectam-planeta-errante-do-porte-da-terra-vagando-pela-via-lactea/#respond Fri, 30 Oct 2020 19:18:58 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2020/10/ffp1080_2-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9635 Um grupo internacional de astrônomos fez a primeira detecção do que provavelmente é um planeta com a massa da Terra – ou talvez ainda menor – vagando sozinho pela Via Láctea. Surpresa zero de que astros assim existam, mas sua detecção mostra que essa população de objetos já pode ser estudada pelos astrônomos, o que é um avanço importante.

Os chamados planetas errantes devem ser extremamente comuns, mas, como se pode imaginar, muito difíceis de ver. Sabemos que o processo de formação planetária é bastante turbulento, e interações gravitacionais por vezes podem ejetar mundos inteiros de seu sistema de origem. Então, em vez de girarem ao redor de estrelas (como fazem os nossos planetas em torno do Sol), eles vagam pela Via Láctea, em órbitas ao redor do centro galáctico.

Devem, portanto, existir aos montes. Mas é muito difícil detectá-los, por duas razões: na escuridão do espaço interestelar, não emitem radiação luminosa suficiente para serem notados. E, o que torna tudo ainda mais difícil, não sabemos onde procurá-los.

Bem, então como o grupo liderado por Andrzej Udalski, da Universidade de Varsóvia, na Polônia, encontrou esse pequeno mundo errante? O truque é vasculhar o céu à procura das chamadas lentes gravitacionais.

Como parte de um projeto conduzido há 28 anos, chamado OGLE, os pesquisadores vasculham o céu em busca de estrelas que possam passar por uma súbita alteração em seu padrão luminoso que indique a presença de uma microlente gravitacional.

Trata-se de um efeito predito pela relatividade geral, em que raios de luz são curvados pela presença de um objeto com massa em seu caminho entre o objeto de origem e nossos telescópios na Terra. Esse padrão pode ser registrado e indicaria a passagem de um astro pequeno demais para ser visto, entre nós e uma estrela distante, agindo literalmente como uma lente.

Em novo artigo publicado no periódico Astrophysical Journal Letters, o grupo de Udalski reporta a mais rápida microlente gravitacional já registrada, com duração de 41,5 minutos. Tudo isso aconteceu em 18 de junho de 2016 e ficou na base de dados do OGLE até o evento ser analisado detalhadamente pelos cientistas.

A modelagem indica que o objeto a produzir a lente, registrada como OGLE-2016-BLG-1928, muito provavelmente é um objeto com massa inferior à da Terra, talvez apenas um pouco maior que Marte. Claro, uma vez concluída a lente, o astro nunca mais pode ser visto. Ninguém sabe exatamente a que distância está, de onde vem, para onde vai. Só se pode dizer que está a milhares de anos-luz de distância.

Os pesquisadores não conseguem nem mesmo descartar a hipótese de que o planetinha esteja preso a alguma estrela, embora possam afirmar não ter encontrado nenhum astro candidato a uma distância de 8 unidades astronômicas da lente (pouco menos que a distância do Sol a Saturno).

Tudo aconteceu na direção do centro da galáxia, e a interpretação dos dados depende da identificação da distância da estrela distante que teve sua luz distorcida pelo planeta. Se ela estiver no bojo da galáxia (região mais central), isso significa que ela está mais longe e a lente foi maior, colocando a massa do planeta em torno de duas vezes a da Terra. Contudo, análises de dados do satélite Gaia dessa estrela sugerem que ela está mais próxima, no disco galáctico, o que colocaria a lente ainda mais perto de nós e menos intensa. Aí a massa do planeta seria apenas de 30% da terrestre.

“Portanto, a lente é uma das melhores candidatas para um planeta errante de massa terrestre já detectadas até hoje”, dizem os cientistas em seu artigo. “Esta população de planetas livres (ou de órbita larga) de baixa massa pode ser mais explorada por experimentos vindouros de microlentes.”

Os pesquisadores estão particularmente de olho nos resultados que poderão vir do telescópio espacial Nancy Grace Roman (antes conhecido como WFIRST), que a Nasa pretende lançar na segunda metade desta década.

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