Mensageiro Sideral https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br De onde viemos, onde estamos e para onde vamos Sat, 04 Dec 2021 19:09:39 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Morre Michael Collins, astronauta da Apollo 11, aos 90 anos https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/04/28/morre-michael-collins-astronauta-da-apollo-11-aos-90-anos/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/04/28/morre-michael-collins-astronauta-da-apollo-11-aos-90-anos/#respond Wed, 28 Apr 2021 17:20:48 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/04/465040main_s69-31742-4x3_800-600-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9939 O mundo perdeu mais um astronauta do programa Apollo, que levou humanos à Lua entre 1968 e 1972. Desta vez foi Michael Collins, membro da tripulação que realizou a primeira alunissagem tripulada, na missão Apollo 11. Ele tinha 90 anos e morreu após uma batalha contra o câncer.

Collins teve como companheiros de viagem Neil Armstrong (1930-2012) e Buzz Aldrin (1930- ), mas, diferentemente dos colegas, ele permaneceu o tempo todo em órbita lunar, a bordo do módulo de comando Columbia, enquanto o módulo lunar Eagle descia à superfície para que Neil e Buzz pudessem caminhar pela superfície, naquele histórico 20 de julho de 1969.

Aquele já era o segundo voo espacial de Collins, que antes havia sido colega de tripulação de John Young na missão Gemini 10.

Nascido em Roma, na Itália, em 31 de outubro de 1930 (ele era filho de um oficial do Exército americano então estacionado lá), Collins também seguiu carreira militar, mas na Força Aérea dos EUA. Foi escolhido para ser astronauta na terceira turma da Nasa, em 1963, como parte da equipe que teria de voar nas missões Apollo.

Após sua visita à órbita lunar, ele foi convidado para se tornar chefe do Escritório de Relações Públicas (Bureau of Public Affairs) do Departamento de Estado dos EUA, função que exerceu por dois anos, entre 1969 e 1971. Mas não era a praia dele, e Collins pediu para ser, em vez disso, o Diretor do Museu Nacional do Ar e do Espaço, em Washington, onde ficou até 1978.

O ex-astronauta teve ainda passagens pela indústria aeroespacial e fundou, em 1985, uma empresa de consultoria. Paralelamente, sempre manteve o ativismo espacial, divulgando em livros, artigos e aparições públicas a importância da exploração do espaço.

Viúvo, ele deixou duas filhas, um filho e netos. A família deu a seguinte declaração: “Lamentamos compartilhar que nosso querido pai e avô faleceu hoje, após uma valente batalha com o câncer. Ele passou seus últimos dias em paz, com a família a seu lado. Mike sempre enfrentou os desafios da vida com graça e humildade, e encarou este, seu último desafio, da mesma maneira. Sentiremos muito a falta dele. Ainda assim, sabemos quão afortunado Mike se sentiu de ter vivido a vida que viveu. Honraremos seu desejo de que celebremos, e não lamentemos, essa vida. Por favor juntem-se a nós na lembrança acalentadora e alegre de seu humor afiado, seu silencioso senso de propósito e sua perspectiva sábia, ganha tanto de olhar para a Terra do espaço quando de contemplar as águas calmas do convés de seu barco de pesca.”

Michael Collins em 2019, falando às equipes das missões Apollo 11 e Artemis 1, no Centro Espacial Kennedy. (Crédito: Nasa)

O administrador interino da Nasa, Steve Jurczyk, também publicou uma declaração oficial em nome da agência espacial americana.

“Hoje o país perdeu um verdadeiro pioneiro e advogado vitalício da exploração no astronauta Michael Collins. Como piloto do módulo de comando da Apollo 11 – alguns o chamaram de ‘o homem mais solitário da história’ – enquanto seus colegas caminhavam na Lua pela primeira vez, ele ajudou nossa nação a atingir um marco definidor. Ele também se distinguiu no programa Gemini e como piloto da Força Aérea.

“Michael permaneceu como um promotor incansável do espaço. ‘Exploração não é uma escolha realmente, é um imperativo’, ele disse. Intensamente reflexivo sobre sua experiência em órbita, ele complementou: ‘O que valeria registrar é que tipo de civilização, nós, terráqueos, criamos e se nos aventuramos ou não em outras partes da galáxia.’

“Suas próprias realizações marcantes, seus escritos sobre suas experiências e sua lideração no Museu Nacional do Ar e do Espaço ajudaram a dar ampla exposição ao trabalho de todos os homens e emulheres que ajudaram nossa nação a se propelir à grandeza na aviação e no espaço. Não há dúvida de que ele inspirou uma nova geração de cientistas, engenheiros, pilotos de teste e astronautas.

“A Nasa lamento a perda desse astronauta e piloto realizado, um amigo de todos que buscam empurrar o envelope do potencial humano. Sendo seu trabalho nos bastidores ou à vista de todos, seu legado será sempre o de um dos líderes que deram os primeiros passos [dos Estados Unidos] da América no cosmos. E seu espírito irá conosco conforme nos aventuramos por horizontes mais distantes.”

E assim, pouco a pouco, os astronautas que construíram a saga da exploração espacial no século 20, heróis de tantos em tantos lugares do mundo, vão se despedindo de nós. Godspeed, Mike.

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A ignorância é a mãe do massacre; Capitão Cloroquina é meramente seu arauto https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/08/09/a-ignorancia-e-a-mae-do-massacre-capitao-cloroquina-e-meramente-seu-arauto/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/08/09/a-ignorancia-e-a-mae-do-massacre-capitao-cloroquina-e-meramente-seu-arauto/#respond Mon, 10 Aug 2020 02:15:56 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2020/08/luto-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9513 Fracassamos. Sim, “amos”. Todos nós. Fracasso coletivo e revoltante, ao atingirmos a trágica marca de 100 mil mortos pelo novo coronavírus no Brasil.

O cérebro humano não consegue intuir o significado de números grandes. Para que eles sejam mais que abstrações matemáticas, é preciso traduzir seu significado em coisas mais palpáveis. Se fossem R$ 100 mil, você poderia traduzir em termos de quantos meses poderia se sustentar com o dinheiro. No caso de 100 mil mortos, acho que a imagem mental é a de desastres aéreos. São o ícone da perda repentina, maciça e sem sentido de vidas.

As aeronaves que realizam a ponte aérea entre São Paulo e Rio de Janeiro costumam ter capacidade máxima ao redor de 200 passageiros. Agora imagine viver num mundo em que, nos últimos quatro meses, derrubamos 500 aeronaves. Não, pera. Quinhentos também é um número grande demais para intuir. Tente este: a cada dia, sem falta, caem 3 ou 4 aviões, matando todos a bordo. Todo. Dia. A cada sete horas, mais ou menos, cai um novo avião. E outro. E mais um. Desde o dia 17 de março.

O número vai crescendo, e a tristeza vira resignação. É o mecanismo psicológico que permite que humanos convivam com grandes tragédias. As pessoas sabem que a desgraça mora ao lado, mas não têm escolha senão tocar a vida adiante, torcendo para não serem sorteadas nessa loteria macabra. Exceto que, no caso da pandemia, as pessoas poderiam ter feito alguma coisa. Nós poderíamos ter feito alguma coisa. E falhamos.

Eu sei que fica muito mais confortável colocar tudo na conta do Capitão Cloroquina, né? Afinal, o vírus não teve no mundo melhor garoto-propaganda. Espero que ele ainda tenha de acertar essa dívida com a humanidade em Haia. Mas isso não nos autoriza a confundir o sintoma com a doença, esta de natureza crônica. Nossa falha é educacional.

Eu francamente acho que a esmagadora maioria não domina sequer a constatação científica simples de que 98% a 99,5% dos que contraem o SARS-CoV-2 se curam sozinhos. Para eles, “foi o sistema imune” é uma explicação tão válida quanto “foi a cloroquina”, “foi Deus”, “foi o ozônio no rabo”.

Quatro séculos depois de sua invenção, ainda não universalizamos a compreensão do método científico, e isso inviabiliza que a maior parte da sociedade distinga entre o que a ciência revela (incluindo suas próprias limitações) e “fatos alternativos”.

Essa negligência espiralou fora de controle com a internet e a proliferação das redes sociais digitais, usadas de forma perversa para manipular nossos instintos tribais e vieses de confirmação e para massificar a desinformação numa escala jamais vista antes.

A culpa pelo massacre perpetrado contra a população brasileira nesta pandemia é de Bolsonaro e seus zumbis vidrados. Mas a responsabilidade pelas condições que viabilizaram a eleição de um ogro cruel e ignorante como presidente do Brasil é de todos nós. Combater os sintomas não basta. Precisamos debelar a doença, que se alimenta de privilégio, arrogância e desinformação.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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Com a ajuda das Plêiades, Nova Zelândia celebra o ano novo maori https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/07/19/com-a-ajuda-das-pleiades-nova-zelandia-celebra-o-ano-novo-maori/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/07/19/com-a-ajuda-das-pleiades-nova-zelandia-celebra-o-ano-novo-maori/#respond Mon, 20 Jul 2020 02:15:34 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2014/10/pleiades-150x150.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9482 A celebração do ano novo é uma tradição humana que remonta às nossas origens, fruto da nossa capacidade singular de perceber os ciclos repetitivos da natureza. Mas quantos de nós seríamos capazes de identificar os anos se fôssemos completamente desprovidos de uma folhinha de calendário, para não falar de nossos oniscientes dispositivos eletrônicos?

Infelizmente, boa parte da conexão que nossos ancestrais tinham com o céu – a principal referência para decifrar ciclos como o das estações – a essa altura já foi perdida. Nesta segunda-feira (20), estaremos celebrando os 51 anos do homem à Lua, com a alunissagem da Apollo 11, bem como os 147 anos do nascimento de Alberto Santos-Dumont, nosso patrono da aviação. Todas lembranças oportunas. Mas quantas datas comemorativas das tradições dos nossos povos nativos você conhece? Vivemos num país em que autoridades declaram casualmente, a quem quiser ouvir, que abominam que os indígenas brasileiros preservem sua identidade e cultura.

Notem o contraste com a Nova Zelândia, que nesta mesma segunda-feira celebra o ano novo maori. Claro que os neozelandeses comemoram o réveillon ocidental, no dia 31 de dezembro. Mas também lembram cada novo começo do Maramataka, o calendário maori. Como ele é baseado nos ciclos lunares, não há sincronismo perfeito com o calendário gregoriano e, a cada volta da Terra ao redor do Sol, a data cai num dia diferente.

A celebração coincide com a primeira lua nova após o despontar no céu neozelandês, pouco antes do nascer do Sol, de um aglomerado de estrelas, bem no meio do inverno. Ele é chamado de Matariki. Não conhece? Tente as Plêiades.

Localizadas na constelação de Touro, a cerca de 440 anos-luz daqui, elas são um dos aglomerados abertos mais brilhantes do céu, com suas estrelas azuis e quentes. Para o povo maori, há milênios elas servem de referência para o plantio, a colheita e a caça, além de também ajudar na navegação. Os polinésios, por sinal, foram grandes navegadores do Pacífico, muito antes que os europeus sonhassem desbravar os oceanos.

Por diferentes nomes, as Plêiades são objetos culturalmente importantes desde sempre, entre povos tão distantes quanto os persas, os chineses, os maias, os astecas e os sioux da América do Norte.

Trata-se de mais um daqueles lembretes de que cada cultura faz a sua própria leitura do céu, e o céu, por sua vez, ajuda cada civilização a encontrar seu caminho para a ciência e a exploração. E veja só que curioso: os tupis-guaranis, a meio mundo de distância, também usavam o nascer das Plêiades como referência para seu ano novo.

Não temos atividades culturais promovidas pelo Brasil para celebrar o ano novo tupi-guarani. Mas, se você quiser acompanhar o ano novo maori, a Nova Zelândia (que já debelou a pandemia do novo coronavírus) promove (em facebook.com/PureNewZealand), a partir das 14h30, uma transmissão da festa. No fim das contas, somos todos humanos, e sempre vale celebrar a riqueza de nossa diversidade cultural – todos unidos sob o mesmo céu.

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Exercício de futurologia pós-covid tem de passar pelo lado positivo da crise https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/05/04/exercicio-de-futurologia-pos-covid-tem-de-passar-pelo-lado-positivo-da-crise/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/05/04/exercicio-de-futurologia-pos-covid-tem-de-passar-pelo-lado-positivo-da-crise/#respond Mon, 04 May 2020 04:00:33 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/11/PIA00122_hires-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9297 O que será da sociedade após a pandemia? Muitas das especulações flutuam entre o tragicômico e o surreal. Não, não teremos uma ditadura da epidemiologia. Tampouco um apocalipse zumbi. Em contraposição, ouso apostar no otimismo: superada a crise, estaremos melhores do que entramos. E a vida inevitavelmente voltará ao normal.

Por que melhores? No legado da pandemia, podemos esperar que mais gente absorva a lição básica de enxergar a natureza pelo prisma da matemática. Uma sociedade que não sabe multiplicar para além do “multiplicai-vos” estará, sempre, em sérios apuros.

Espero que agentes públicos tenham uma “memória socioimunológica” de ao menos algumas décadas, com uma pauta de ação e cooperação (local, nacional e global) em caso de novas emergências.

Também podemos imaginar que mais estados sairão com o entendimento de que “a conta” dos impactos sociais e econômicos é deles. Ninguém paga imposto para, na hora do aperto, ouvir “lamento, você quer que eu faça o quê?”. É para essas horas que o estado existe.

E haverá ganhos tecnológicos. Nos últimos meses, cientistas e técnicos têm apresentado desde lâmpadas germicidas mais eficientes a desinfetantes de longa duração, passando por respiradores de baixo custo. Eram todas tecnologias de prioridade baixa ou nula antes da crise. Embora agora sejam apenas paliativos leves, devem ajudar muita gente no futuro.

Isso para não falar em vacinas. Sim, estou otimista de que uma vacina para o novo coronavírus seja possível e esteja a caminho – até o fim do ano não seria impensável, apesar de a maioria dos agentes de saúde manter o discurso tradicional de “18 a 24 meses, na melhor das hipóteses”. (Ninguém pode culpá-los; antes de entrarmos no modo “pressa”, essa seria de fato a perspectiva otimista.)

A vacina pode não vir, claro. Mas, ainda assim, as tecnologias criadas e testadas hoje, para tentar fazer frente à covid-19, bem como a ampliação do parque industrial para produção em massa, beneficiarão tratamentos futuros.

De novo, antes da pandemia, vacinas avançadas eram vistas como prioridade baixa e risco alto. Agora, investimentos de bilhões se tornaram “modestos”, comparados à desgraça econômica. A relação custo-benefício se transformou – em benefício da medicina do futuro.

Dizem que a necessidade é a mãe da invenção. É mesmo. Sairemos da pandemia melhores do que entramos – mais solidários, maduros e preparados para a volta à normalidade. Não só porque é isso que humanos fazem (de novo e de novo), mas pela dívida que teremos com quem não concluirá conosco a travessia. Zelemos hoje pelo presente, fazendo nosso melhor, e o futuro se encarrega de si mesmo.

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Morre Alexei Leonov, primeiro homem a caminhar no espaço, aos 85 anos https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/10/11/morre-alexei-leonov-primeiro-homem-a-caminhar-no-espaco-aos-85-anos/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/10/11/morre-alexei-leonov-primeiro-homem-a-caminhar-no-espaco-aos-85-anos/#respond Fri, 11 Oct 2019 17:17:29 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/07/leonov-spacewalk-180x119.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9084 Mais um grande herói da conquista do espaço nos deixou. Alexei Leonov, cosmonauta responsável pela primeira caminhada espacial da história, morreu nesta sexta-feira (11), em Moscou, aos 85 anos.

Um dos expoentes do grupo de cosmonautas soviéticos na corrida espacial, ele foi um dos 20 pilotos da Força Aérea da URSS a serem recrutados em 1960 para o programa espacial, ao lado de figuras como Yuri Gagarin e Gherman Titov. Sua primeira missão foi a bordo da Voskhod 2, em março de 1965, quando realizou a primeira atividade extraveicular da história, a chamada caminhada espacial.

Alexei Leonov (acima, esq.), ao lado de Gherman Titvo, com vários membros da primeira turma de cosmonautas. Ao centro, abaixo, Yuri Gagarin e Valentina Tereshkova. (Crédito: Arquivo/RIA Novosti)

Preso por um cordão umbilical de 15 metros, Leonov passou 12 minutos fora de sua cápsula, em voo livre ao redor da Terra, protegido apenas por seu traje espacial. Os relatos da época sugeriram que tudo correra bem e que o cosmonauta se sentira muito bem durante seu passeio extraveicular, mas não foi bem assim que aconteceu. Documentos revelados somente após o fim da Guerra Fria contaram uma história bem diferente. Para começar, o traje de Leonov inflou mais do que o previsto e o cosmonauta mal conseguia dobrar suas articulações – a ponto de não ser capaz de ligar a câmera instalada em seu peito para filmar a caminhada espacial de seu ponto de vista.

Ele também foi incapaz de resgatar a câmera colocada do lado de fora da nave para registrar o evento. O calor do corpo do cosmonauta subiu 1,8 grau Celsius durante a atividade extraveicular. Na volta à câmara de descompressão, mais dificuldades. O traje inflado de Leonov não permitiu que ele adentrasse o compartimento com facilidade. Somente depois que ele reduziu a pressão interna da roupa foi possível retornar à câmara, selá-la, pressurizá-la, abrir a escotilha interna e retornar ao seu assento na Voskhod 2.

Leonov tinha sobrevivido à caminhada espacial, mas as dificuldades ainda não haviam terminado. O sistema de reentrada automatizado da Voskhod apresentou problemas, e seu colega de voo, Pavel Belyayev, foi obrigado a realizar o procedimento manualmente, uma órbita depois da prevista para o fim do voo. O retorno acabou ocorrendo fora do local planejado, e a cápsula desceu em meio a uma densa floresta na gélida encosta das montanhas Ural.

Após horas de busca, helicópteros localizaram a nave e despejaram suprimentos para os dois cosmonautas, que tiveram de passar a noite na neve, rodeados por lobos. Somente no dia seguinte a dupla pôde ser resgatada, e os soviéticos comemoraram mais uma conquista na corrida espacial.

Leonov permaneceu com o programa e por pouco não se tornou o primeiro humano a viajar ao redor da Lua. Uma missão circunlunar simples estava programada pelos soviéticos para o fim de 1968, mas atrasos na preparação, bem como o voo bem-sucedido da americana Apollo 8, em dezembro de 1968, acabaram levando ao cancelamento deste projeto. Ainda assim, Leonov seguia cotado para estar na primeira missão soviética de pouso lunar. Como sabemos, os russos não conseguiram resolver seus problemas com o foguete N1, e o sucesso da Apollo 11, em julho de 1969, acabou levando a União Soviética a despriorizar os voos lunares e, por fim, cancelá-los – fingindo por décadas jamais ter desenvolvido esforço do tipo.

A última missão espacial de Leonov se deu em 1975, no famoso projeto Apollo-Soyuz, que envolveu a primeira cooperação entre americanos e soviéticos no espaço. A ideia era desenvolver conjuntamente um equipamento de acoplagem que permitisse reunir uma Apollo americana e uma Soyuz soviética em órbita, como plano de contingência caso alguma delas tivesse problemas com seu veículo no espaço e precisasse de um resgate de emergência. Era a exploração espacial amenizando a tensão entre as superpotências.

Foi o fim perfeito para sua carreira como cosmonauta, uma vez que Leonov, embora orgulhoso de seu país, sempre fosse um defensor da paz e da cooperação espacial. Depois do voo, ele assumiu o comando do escritório dos cosmonautas soviéticos, função que desempenhou até 1982. Artista, fez inúmeras pinturas retratando lindas cenas espaciais, sobretudo de seus próprios voos. Escreveu livros sobre espaço, ficção e não ficção, e, claro, manteve um elo com o programa espacial russo o quanto pôde, mesmo depois de sua aposentadoria.

Tive a chance de conhecê-lo em 2006, quando do voo do astronauta (hoje ministro) Marcos Pontes. Atencioso, Leonov respondeu às perguntas que fiz e se mostrou um grande representante da era em que os soviéticos lideravam a conquista do espaço. Não dá para dizer que não foi uma vida plena e bem vivida, mas evidentemente seu senso de responsabilidade e perseverança nos farão falta.

Salvador Nogueira (eu!) e Alexei Leonov, em Baikonur, antes do lançamento do astronauta Marcos Pontes ao espaço, em março de 2006. (Crédito: Salvador Nogueira/arquivo pessoal)

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Ciência de foguetes e os 50 anos da maior errata espacial do New York Times https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/07/17/ciencia-de-foguetes-e-os-50-anos-da-maior-errata-espacial-do-new-york-times/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/07/17/ciencia-de-foguetes-e-os-50-anos-da-maior-errata-espacial-do-new-york-times/#respond Wed, 17 Jul 2019 15:28:35 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2013/08/saturnv-150x150.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8945 A missão Apollo 11 não foi só uma grande façanha histórica, mas propiciou uma das mais icônicas erratas do todo-poderoso jornal New York Times. O episódio ilustra a dificuldade de compreender como um foguete pode se deslocar no vácuo do espaço.

A física envolvida é absolutamente trivial e remonta às leis de movimento de Isaac Newton, no século 17. A terceira lei dita o seguinte: “Para cada ação, há uma reação de igual intensidade e sentido oposto.”

Isso explica, por exemplo, por que um bêbado trombando numa parede cai para trás. Do mesmo modo que ele empurra a parede adiante, a parede o empurra de volta para trás. (Sóbrios também teriam o mesmo efeito, mas esses não costumam praticar o experimento.)

É exatamente esse fenômeno o usado pelos foguetes para voarem. Uma câmara de combustão interna combina oxidante e combustível, produzindo um jato de exaustão que atira a massa da combustão para trás. (No caso de um foguete que usa hidrogênio e oxigênio líquidos, como o segundo e terceiro estágios do foguete lunar Saturn V, a exaustão é feita de água, a combinação de hidrogênio e oxigênio.)

Se você atira a massa para trás, diz Newton, a massa também vai atirá-lo para a frente. E como a intensidade da força é igual, você pode calcular facilmente quanta aceleração um foguete pode ter com base em quanto ele acelera o jato de exaustão e quanta massa por segundo ele exaure. Então, se você queima uma tonelada por segundo de combustível, para levantar um foguete com cem toneladas, a velocidade do jato de exaustão será cem vezes maior que a velocidade da decolagem (na verdade ainda um pouco maior, se você contar que o ar atrapalha o voo, criando resistência, e a gravidade imprime uma aceleração constante de 9,8 m/s/s contrária ao movimento do foguete). Tudo isso é facilmente calculável usando a clássica fórmula de Newton, F=ma (força equivale a massa multiplicada pela aceleração), sua segunda lei do movimento.

E, já que falamos das duas últimas, falemos também da primeira, a chamada lei da inércia — ela diz que objetos em repouso tendem a continuar em repouso a não ser que uma força aja sobre eles, e o mesmo acontece com objetos em movimento cuja velocidade é uniforme. Ou seja, se você coloca algo no espaço — digamos, sei lá, um automóvel do Elon Musk — a 60 km/h, longe de influências gravitacionais, ele continuará para sempre a 60 km/h, sem precisar de impulso ou combustível adicionais.

Essa também é uma lei importante para o voo espacial, uma vez que espaçonaves passam a maior parte do tempo voando por inércia, mas elas nunca estão realmente livres de qualquer força, pois a gravidade é onipresente. Você pode escapar da gravidade da Terra, mas ainda permanecer preso à gravidade do Sol; você pode escapar da gravidade do Sol, mas ainda permanecer preso à gravidade conjunta da Via Láctea; você pode escapar da Via Láctea, mas ainda estará preso à gravidade do conjunto de galáxias do qual ela faz parte; e assim por diante.

Usando o exemplo da missão Apollo 11, por exemplo: depois de ganhar o impulso inicial do Saturn V para escapar do poço gravitacional da Terra, a espaçonave viajava por inércia até as imediações lunares (com pequenas correções de curso com o propulsor do veículo), onde reduzia sua velocidade para cair no poço gravitacional da Lua apenas o suficiente para permanecer em órbita lunar (“caindo” o tempo todo, mas “errando” a Lua, pois a velocidade é tal que a curvatura de queda acompanha a curvatura do astro — isso é o que chamamos de estar em órbita; como diziam Woody e Buzz Lightyear, em Toy Story, orbitar nada mais é que “cair com estilo”). Mais tarde, o módulo lunar freava mais um pouco, mudando a curva de queda para finalmente “cair” na Lua. Depois do pouso controlado, a decolagem se dava acelerando para voltar à órbita e aí se reencontrar com o módulo de comando e serviço, que usava seu propulsor para aumentar a velocidade a ponto de escapar do poço gravitacional da Lua e retornar por inércia (salvo algumas correções de curso) ao poço gravitacional terrestre.

Bem, tudo parece muito simples dito deste modo. Mas um engano comum é achar que, no jogo de empurra-empurra que permite que um foguete se desloque, o empurrão se daria não do jato de exaustão com o próprio foguete, mas sim do foguete com o ar. Não é o caso, mas o engano é compreensível: todas as outras formas de transporte estabelecem essa relação: o carro empurra o chão para trás com suas rodas; a turbina de um avião empurra o ar para trás; um motor de navio empurra a água para trás. Daí a impressão de que um foguete também precisaria empurrar o ar para trás a fim de ir adiante. Não precisa, como vimos antes — o empuxo é extraído da energia da combustão que empurra o jato de de exaustão para trás, que empurra o resto do veículo para a frente.

Eis que chegamos ao ponto em que o New York Times entra na história. Em 13 de janeiro de 1920, o jornalão americano publicou um editorial destinado a ridicularizar o professor Robert Goddard, pioneiro cientista de foguetes americano que estava, pasme você, sugerindo a possibilidade de uma tecnologia similar permitir uma viagem à Lua.

Escreveu o NYT:

Que o professor Goddard, com sua ‘cátedra’ no Clark College e o apoio da Instituição Smithsonian, não saiba a relação de ação e reação, e a necessidade de haver algo melhor do que um vácuo contra o que reagir — dizer isso seria absurdo. Claro, ele parece apenas não ter o conhecimento apresentado diariamente no ensino médio.

Ledo engano. Goddard bem que tentou explicar onde estava a falha de raciocínio num artigo na revista Scientific American, mas as críticas predominaram, fazendo com que o cientista de foguetes passasse a evitar atenção do público, embora prosseguisse com suas pesquisas.

Passaram-se “apenas” 49 anos para que, em 17 de julho de 1969, um dia após a decolagem da Apollo 11, o jornal publicasse a seguinte errata:

17 DE JULHO, 1969: Em 13 de janeiro de 1920, o Topics of the Times, uma página editorial do The New York Times, descartou a noção de que um foguete pudesse funcionar num vácuo e comentou sobre as ideias de Robert H. Goddard, o pioneiro de foguetes, da seguinte maneira: ‘Que o professor Goddard, com sua ‘cátedra’ no Clark College e o apoio da Instituição Smithsonian, não saiba a relação de ação e reação, e a necessidade de haver algo melhor do que um vácuo contra o que reagir — dizer isso seria absurdo. Claro, ele parece apenas não ter o conhecimento apresentado diariamente no ensino médio.’

Investigações e experimentos andicionais confirmaram as descobertas de Isaac Newton no século 17 e agora está definitivamente estabelecido que um foguete pode funcionar num vácuo tão bem quanto numa atmosfera. O Times lamenta o erro.

BÔNUS:
Confira as reportagens do Mensageiro Sideral publicadas até agora nesta Folha sobre os 50 anos da Apollo 11.

Como foi a corrida que levou ao primeiro passo na Lua há 50 anos
‘Semana da Lua’ terá eventos, anúncios e até lançamentos
Há exatos 50 anos, astronautas partiam em direção à Lua
Um em cada quatro brasileiros diz que pouso lunar é mentira
Exploração lunar evoluiu e ficou mais sofisticada, acessível e científica

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‘Semana da Lua’ terá eventos, anúncios e até lançamentos https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/07/15/semana-da-lua-tera-eventos-anuncios-e-ate-lancamentos/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/07/15/semana-da-lua-tera-eventos-anuncios-e-ate-lancamentos/#respond Mon, 15 Jul 2019 05:00:21 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2014/07/apollo11-150x150.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8941 Em meio às comemorações dos 50 anos da Apollo 11, esta promete ser a semana da Lua. Nesta segunda (15), o administrador da Nasa, James Bridenstine, falará sobre os planos para missões tripuladas à Lua e a Marte. Há grande movimentação dentro da agência, com substituição de lideranças no programa tripulado, o que cria certo suspense.

Por ora, segue de pé (e sem verba), a ideia de colocar novas pegadas na Lua com o programa Artemis, em 2024. Mas há rumores de que um anúncio, talvez até com a participação de Donald Trump, aconteça no dia 19, um dia antes do 50º aniversário das andanças de Neil Armstrong e Buzz Aldrin pelo Mar da Tranquilidade. A agência americana planeja uma série de ações para celebrar o feito de 1969.

Na terça (16), a SpaceX pretende testar um protótipo de nave que poderá levar humanos à Lua e à Marte. Será apenas uma decolagem, com voo de 20 metros, e um pouso, mas trata-se de marco importante no desenvolvimento do veículo, que deve se tornar operacional em 2021.

A Nasa, por sua vez, está planejando uma série de ações para celebrar, culminando com um evento especial na sexta (19), a ser transmitido ao vivo em seu site (htts://www.nasa.gov).

No sábado (20), haverá eventos no mundo inteiro, inclusive no Brasil. Para quem está no Rio, o Museu do Amanhã promove o evento A Humanidade da Lua, com a exibição de dois episódios da série produzida para o programa Sem Fronteiras, do canal GloboNews, e um debate, com o astrônomo Gustavo Porto de Mello e o engenheiro Lucas Fonseca (mais em
museudoamanha.org.br).

Em São Paulo, o Planetário do Ibirapuera realiza uma sessão especial no sábado e outra no domingo, voltada para os 50 anos da Apollo 11
(bit.ly/30xnSP3).

Por fim, em algum ponto dos próximos dias a agência espacial indiana deve lançar sua segunda missão lunar não tripulada. Era para ter acontecido no domingo (14). A Chandrayaan 2 partiria do Centro Espacial Satish Dhawan, embarcada no foguete GSLV Mk.3, o mais potente daquele país, em seu quarto voo. Um problema de última hora menos de uma hora antes do lançamento, contudo, levou a um adiamento.

A missão é ambiciosa: inclui orbitador, módulo de pouso e jipe robótico, com a ambição de realizar um pouso próximo ao polo Sul lunar. Se tudo correr bem, a sonda deve atingir a órbita da Lua perto de 5 de agosto e conduzir um pouso dali a praticamente um mês, em 6 de setembro.

De saída, ela será colocada numa órbita elíptica ao redor da Terra, com apogeu de 40.000 km. A ideia é elevar o apogeu até intersectar com a Lua, dez vezes mais distante. Se a alunissagem for bem-sucedida, a Índia será o quarto país a realizar a façanha (depois de Rússia, EUA e China).

BÔNUS

Confira esta série de vídeos que o Mensageiro Sideral está publicando no YouTube sobre a conquista da Lua.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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Novo artigo destaca papel central de Sobral na confirmação da relatividade https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/05/29/novo-artigo-destaca-papel-central-de-sobral-na-confirmacao-da-relatividade/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/05/29/novo-artigo-destaca-papel-central-de-sobral-na-confirmacao-da-relatividade/#respond Wed, 29 May 2019 05:07:17 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/59FDCED8-6B60-402D-B1DF-0BE91791C99B-320x213.jpeg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8887 Nesta quarta-feira (29), exatos cem anos atrás, duas expedições britânicas, à Ilha do Príncipe, na África, e a Sobral, no Ceará, realizaram o primeiro teste da relatividade geral, ao observar um eclipse total do Sol. E, apesar do reconhecimento internacional relativamente modesto, uma dupla de pesquisadores aponta que vieram mesmo do Brasil as imagens que permitiram concluir em favor da teoria de Einstein.

Em artigo-comentário publicado na edição deste mês da revista Nature Physics, Luís Carlos Bassalo Crispino, da UFPA (Universidade Federal do Pará) e Daniel Kennefick, da Universidade do Arkansas (nos EUA), destrincham toda a história da observação do eclipse e de como, apesar das dificuldades, foi possível aos cientistas envolvidos no trabalho afirmar com confiança que a relatividade geral previa corretamente a forma como a gravidade do Sol desviava raios de luz vindos de estrelas distantes.

“Com esta publicação, tentamos resgatar a importância
das medidas realizadas no Brasil”, diz Crispino ao Mensageiro Sideral. “Por várias razões, boa parte da comunidade internacional não dá a devida importância aos resultados obtidos em Sobral.”

Em parte, diz a dupla, esse efeito está ligado à fama de Arthur Eddington, um dos idealizadores das expedições, ao lado do astrônomo real britânico à época, Frank Dyson. Entusiasta da teoria de Einstein mesmo antes de sua confirmação, Eddington se tornou o nome mais comumente associado ao experimento — e calhou de ele coordenar os trabalhos de observação na Ilha do Príncipe, na costa africana. Já a expedição que veio ao Brasil foi liderada por Charles Davidson e Andrew Crommelin. Só que foi das placas feitas em Sobral, e não em Príncipe, que vieram as imagens de melhor qualidade do eclipse, por uma larga margem.

“Neste ano do centenário, a contribuição desses dois homens, e de Dyson, deveria ser restaurada a seu lugar de direito ao lado de Eddington nessa história de grande empreendimento científico”, escrevem Crispino e Kennefick em seu texto na Nature Physics.

(A propósito, para conhecer mais a história das expedições de 1919 e entender como um eclipse pôde confirmar a teoria de Einstein, clique aqui.)

CELEBRAÇÕES

Para comemorar a data, diversos eventos culturais estão ocorrendo em várias partes do país. No Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, ocorre entre as 16h e as 20h desta quarta a atividade “Um eclipse para chamar de seu”. Nele, um painel composto pelo cineasta Andrucha Waddington, o antropólogo Marcio Campos, a astrônoma Patrícia Spinelli e a historiadora Maria Eichler discutirá as diferentes formas de apropriação – científicas, culturais e religiosas – de um eclipse. A moderação será de Alfredo Tolmasquim, diretor de Desenvolvimento Científico do Museu do Amanhã.

Após os debates, às 18h, haverá a exibição do filme nacional “Casa de Areia” (2005), protagonizado por Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, com direção de Andrucha Waddington. O  filme retrata o encontro da personagem de Fernanda Torres com os membros da comissão inglesa, que se encontrava em uma região inóspita, para comprovar a teoria de Einstein.  (Por uma liberdade poética, o filme se passa na região dos Lençóis Maranhenses, embora na realidade a comissão inglesa tenha estado em Sobral, no sertão nordestino.)

Para participar do evento no Museu do Amanhã, basta se inscrever, clicando aqui.

Também em Sobral, onde tudo começou, há uma celebração com um evento de três dias organizado pela SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). Para mais detalhes, clique aqui.

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Alan Bean morre aos 86 anos; restam apenas quatro “andarilhos lunares” https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/05/27/alan-bean-morre-aos-86-anos-restam-apenas-quatro-andarilhos-lunares/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/05/27/alan-bean-morre-aos-86-anos-restam-apenas-quatro-andarilhos-lunares/#respond Sun, 27 May 2018 18:26:11 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/bean_portrait-320x213.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7739 Mais um herói da conquista lunar se foi. Neste sábado (26), perdemos Alan Bean, o quarto homem a pisar na Lua. Sua morte veio duas semanas depois de ele ficar muito doente durante uma viagem pelos Estados Unidos. Ele tinha 86 anos.

Bean foi o piloto do módulo lunar da missão Apollo 12, que desceu à superfície lunar em novembro de 1969. Foi a primeira missão a demonstrar a capacidade de pouso de alta precisão, pois a alunissagem deveria ser feita o mais perto possível da sonda não tripulada Surveyor 3, no Oceano das Tormentas. O responsável pela manobra bem-sucedida foi o comandante Charles “Pete” Conrad, assistido por Bean.

A missão trouxe de volta a câmera de TV da Surveyor 3, para verificar os efeitos do ambiente lunar sobre ela após vários anos por lá. E uma descoberta intrigante foi feita: uma colônia de bactérias em hibernação foi “revivida”, depois que o equipamento voltou à Terra. Há discussão até hoje sobre se as bactérias sobreviveram em estado criptobiótico por quase três anos na Lua ou se o resultado foi fruto de uma contaminação posterior, mas, pelo sim, pelo não, a Nasa começou a tratar muito mais seriamente a possibilidade de contaminação de outros mundos com formas de vida terrestres após esse incidente.

Após a missão lunar, Bean voltou ao espaço como comandante da segunda expedição ao laboratório Skylab, em julho de 1973. No total, ele passou 69 dias, 15 horas e 45 minutos no espaço, dos quais 31 horas e 31 minutos na superfície lunar.

Alan Bean trabalha na superfície lunar. No reflexo do capacete, o fotógrafo, Pete Conrad. (Crédito: Nasa)

Nascido em 15 de março de 1932, em Wheeler, Texas, Bean se formou em engenharia aeronáutica pela Universidade do Texas em 1955. Depois frequentou a Escola de Pilotos de Teste da Marinha americana e foi um dos 14 escolhidos pela Nasa para o terceiro grupo de astronautas, em outubro de 1963.

Sua aposentadoria da Marinha veio em 1975, e da Nasa, em 1981. Depois disso, Bean dedicou sua vida à arte, produzindo belas pinturas inspiradas por sua viagem à Lua.

Uma inspiração para gerações de astronautas que vieram depois, Bean deixa a esposa, uma irmã, um filho e uma filha, além de uma vida cheia de realizações.

Para os entusiastas da exploração espacial, fica a angústia de contar nos dedos de uma mão os homens que pisaram na Lua e que ainda estão entre nós. São quatro ao todo: Buzz Aldrin (Apollo 11), David Scott (Apollo 15), Charles Duke (Apollo 16) e Harrison Schmitt (Apollo 17).

Será que algum deles ainda estará por aqui para ver humanos retornarem à superfície lunar?

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O atraso é o preço da qualidade: uma homenagem a Ricardo Bonalume Neto https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/03/24/o-atraso-e-o-preco-da-qualidade-uma-homenagem-a-ricardo-bonalume-neto/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/03/24/o-atraso-e-o-preco-da-qualidade-uma-homenagem-a-ricardo-bonalume-neto/#respond Sat, 24 Mar 2018 20:37:25 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/03/Bonalume-320x213.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7510 O jornalismo científico desta Folha perdeu no último sábado (24) um de seus mais brilhantes luminares, com a morte de Ricardo Bonalume Neto. “Monsieur Boná”, como às vezes era chamado, deixa um vazio nas páginas de Ciência que não será preenchido com facilidade.

O velho Bona já havia muito abrilhantava a cobertura de exploração espacial e astronomia, para não mencionar sua ampla experiência cobrindo guerras como o principal “milicólogo” do jornalismo brasileiro, quando cheguei à redação do jornal, em 2000. No ano seguinte, tive o privilégio de cobrir com ele uma Reunião Anual da SBPC, em Salvador — em plena greve da polícia militar.

Vagamos pela cidade com a confiança que só um repórter experiente que já cobriu conflitos como o do Zaire nos anos 1990 — atual República Democrática do Congo, ele faria questão de frisar — e um foca imprudente poderiam ter. No restaurante, ouvimos de um garçom: “É guerra!” Virou um dos muitos bordões que o inesquecível Bona adorava lançar na redação.

O melhor deles, talvez, fosse a resposta padrão a um editor oprimido pelo fechamento: “O atraso é o preço da qualidade!” Fato real e ainda mais pertinente na época atual, em que o noticiário se tornou uma demanda instantânea. Bona era um mestre na arte de transformar ciência em notícia, com um texto saboroso e uma técnica de quem se preocupava mais com a excelência do que com a sobrevivência. E ai de quem reclamasse para ele das agruras do jornalismo. “Ganha bem para isso!” Fina ironia, sempre capaz de despertar gargalhadas em meio a momentos de tensão.

Bona foi cedo demais, aos 57 anos, após uma cirurgia a que não resistiu. Deixará saudade entre os que frequentaram a redação desta Folha nas últimas décadas e entre os incontáveis milhares que apreciavam seu trabalho nestas páginas. Do meu amigo, carrego a lembrança e o exemplo de um jornalista que praticava seu ofício com a alegria e o bom humor de quem está numa grande festa. E a festa tem que continuar. Um brinde a você, Monsieur Boná!

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