Agora, a sonda inicia uma longa jornada de mais de sete anos até se estabelecer em órbita de Mercúrio, o que deve acontecer em dezembro de 2025. Se tudo correr bem, ela deve se tornar apenas a segunda missão orbitadora ao  planeta.

A BRIGA É COM O SOL
Pode soar estranho que uma missão orbital até o mais interno dos mundos do Sistema Solar leve tanto tempo e seja tão complicada, a ponto de só ter sido feita uma vez até hoje. Afinal, a distância mínima entre a Terra e Mercúrio é modesta em termos astronômicos, de pouco mais de 77 milhões de km.

É pouco mais que a distância mínima até Marte (55 milhões de km) e não custa lembrar que ir até o planeta vermelho para uma missão orbital exige entre seis e oito meses de voo.

Pois é, entram aí as malucas inconveniências do voo espacial, que tem como seu mais implacável senhor a força da gravidade. E ninguém por essas bandas comanda tanto nesse quesito quanto o Sol.

Viajar para Marte significa ir do terceiro para o quarto planeta, ou seja, se afastar do Sol. Isso implica que a ação gravitacional dele vai ficando cada vez mais fraca conforme a nave se afasta, e essa força age para frear a nave (tentando puxá-la para o centro do Sistema Solar, do mesmo jeito que a gravidade terrestre aponta para o coração do nosso planeta).

Agora pense no que significa ir, em vez disso, mais para dentro do Sistema Solar, na direção de Mercúrio. O efeito da gravidade solar é inverso: ela fica cada vez mais forte e a força é no mesmo sentido do movimento, acelerando a nave.

Ou seja, o problema não é o tempo que levaria para chegar até Mercúrio. Note que a Parker Solar Probe, sonda da Nasa dedicada a estudar o Sol, partiu em agosto último e já está hoje, dois meses depois, mais perto do Sol que Mercúrio. O drama é a velocidade. Não por acaso, a Parker Solar Probe está destinada a se tornar a espaçonave mais rápida já lançada. Pode colocar na conta do Sol.

Se sua nave chega depressa demais a Mercúrio, vai passar lotada — com a freada que seria necessária para ser capturada pela débil gravidade do planeta, não haveria propulsão que chegasse.

Essa foi uma das principais razões que mantiveram Mercúrio praticamente inexplorado durante todo esse tempo. (Outra, como você pode imaginar, é que estar tão perto do Sol quanto aquele planeta pode fritar circuitos, se não houver tecnologia para protegê-los do calor intenso.)

O método de voo espacial que permite uma ida a Mercúrio em velocidade adequada para a exploração é justamente o que dá nome à atual missão. Concebido pelo engenheiro e matemático Giuseppe “Bepi” Colombo (1920-1984), ele envolve o uso de passagens de raspão por planetas como estilingues gravitacionais para modular a velocidade e a direção de espaçonaves.

A técnica foi essencial para que a sonda americana Mariner 10 pudesse fazer sobrevoos de Mercúrio, em 1974 e 1975, e que a também americana Messenger se tornasse a primeira a orbitar o pequeno planeta, entre 2011 e 2015.

Agora, a BepiColombo dá um passo além, usando propulsão elétrica (com motores em que íons são acelerados para propelir a nave na direção oposta, daí chamados de iônicos). Com esse módulo adicional, a sonda já pode ir reduzindo sua velocidade ao longo do caminho, facilitando a inserção orbital. A despeito disso, ela fará ao todo nove sobrevoos planetários (1 da Terra, 2 de Vênus e 6 de Mercúrio) antes de entrar em órbita  do menor planeta a girar ao redor do Sol.

INDO ALÉM DA MESSENGER
Ao chegar a Mercúrio de forma definitiva, no fim de 2025, o módulo de propulsão é descartado, e a espaçonave remanescente se separa em duas: o MMO (Orbitador Magnestosférico de Mercúrio), projetado pela Jaxa, a agência espacial japonesa, e o MPO (Orbitador Planetário de Mercúrio), da ESA (Agência Espacial Europeia).

Como operarão em conjunto, poderão gerar dados simultaneamente e assim compreender de forma mais completa como funciona o campo magnético de Mercúrio em sua interação com o vento solar. A Messenger revelou que o ponto de origem da magnetosfera mercuriana fica deslocado do centro do planeta, e a BepiColombo poderá ajudar a entender por quê.

Além disso, a missão pretende aprofundar outras descobertas feitas pela Messenger, como a detecção de gelo de água em crateras nos polos do planeta, onde a luz do Sol nunca incide, e obter imagens de alta resolução da superfície, além de informações sobre sua composição.

Trata-se de uma missão que está em desenvolvimento já há mais de uma década, e que envolve um investimento conjunto de europeus e japoneses da ordem de 1,65 bilhão de euros. Mas a ciência produzida está longe de se restringir apenas a Mercúrio.

Ao decifrarmos os segredos do planeta solar mais interno, ficamos também mais próximos de entender as forças que moldam um sem-número de mundos fora do Sistema Solar, uma vez que descobertas recentes mostram que exoplanetas ocupando órbitas ainda menores que as de Mercúrio são extremamente comuns.

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Após a decolagem, se tudo correr bem, a sonda iniciará uma longa jornada de mais de sete anos até se estabelecer em órbita de Mercúrio, o que deve acontecer em dezembro de 2025. Se tudo correr bem, ela deve se tornar apenas a segunda missão orbitadora ao  planeta.

A BRIGA É COM O SOL
Pode soar estranho que uma missão orbital até o mais interno dos mundos do Sistema Solar leve tanto tempo e seja tão complicada, a ponto de só ter sido feita uma vez até hoje. Afinal, a distância mínima entre a Terra e Mercúrio é modesta em termos astronômicos, de pouco mais de 77 milhões de km.

É pouco mais que a distância mínima até Marte (55 milhões de km) e não custa lembrar que ir até o planeta vermelho para uma missão orbital exige entre seis e oito meses de voo.

Pois é, entram aí as malucas inconveniências do voo espacial, que tem como seu mais implacável senhor a força da gravidade. E ninguém por essas bandas comanda tanto nesse quesito quanto o Sol.

Viajar para Marte significa ir do terceiro para o quarto planeta, ou seja, se afastar do Sol. Isso implica que a ação gravitacional dele vai ficando cada vez mais fraca conforme a nave se afasta, e essa força age para frear a nave (tentando puxá-la para o centro do Sistema Solar, do mesmo jeito que a gravidade terrestre aponta para o coração do nosso planeta).

Agora pense no que significa ir, em vez disso, mais para dentro do Sistema Solar, na direção de Mercúrio. O efeito da gravidade solar é inverso: ela fica cada vez mais forte e a força é no mesmo sentido do movimento, acelerando a nave.

Ou seja, o problema não é o tempo que levaria para chegar até Mercúrio. Note que a Parker Solar Probe, sonda da Nasa dedicada a estudar o Sol, partiu em agosto último e já está hoje, dois meses depois, mais perto do Sol que Mercúrio. O drama é a velocidade. Não por acaso, a Parker Solar Probe está destinada a se tornar a espaçonave mais rápida já lançada. Pode colocar na conta do Sol.

Se sua nave chega depressa demais a Mercúrio, vai passar lotada — com a freada que seria necessária para ser capturada pela débil gravidade do planeta, não haveria propulsão que chegasse.

Essa foi uma das principais razões que mantiveram Mercúrio praticamente inexplorado durante todo esse tempo. (Outra, como você pode imaginar, é que estar tão perto do Sol quanto aquele planeta pode fritar circuitos, se não houver tecnologia para protegê-los do calor intenso.)

O método de voo espacial que permite uma ida a Mercúrio em velocidade adequada para a exploração é justamente o que dá nome à atual missão. Concebido pelo engenheiro e matemático Giuseppe “Bepi” Colombo (1920-1984), ele envolve o uso de passagens de raspão por planetas como estilingues gravitacionais para modular a velocidade e a direção de espaçonaves.

A técnica foi essencial para que a sonda americana Mariner 10 pudesse fazer sobrevoos de Mercúrio, em 1974 e 1975, e que a também americana Messenger se tornasse a primeira a orbitar o pequeno planeta, entre 2011 e 2015.

Agora, a BepiColombo dá um passo além, usando propulsão elétrica (com motores em que íons são acelerados para propelir a nave na direção oposta, daí chamados de iônicos). Com esse módulo adicional, a sonda já pode ir reduzindo sua velocidade ao longo do caminho, facilitando a inserção orbital. A despeito disso, ela fará ao todo nove sobrevoos planetários (1 da Terra, 2 de Vênus e 6 de Mercúrio) antes de entrar em órbita  do menor planeta a girar ao redor do Sol.

INDO ALÉM DA MESSENGER
Ao chegar a Mercúrio de forma definitiva, no fim de 2025, o módulo de propulsão é descartado, e a espaçonave remanescente se separa em duas: o MMO (Orbitador Magnestosférico de Mercúrio), projetado pela Jaxa, a agência espacial japonesa, e o MPO (Orbitador Planetário de Mercúrio), da ESA (Agência Espacial Europeia).

Como operarão em conjunto, poderão gerar dados simultaneamente e assim compreender de forma mais completa como funciona o campo magnético de Mercúrio em sua interação com o vento solar. A Messenger revelou que o ponto de origem da magnetosfera mercuriana fica deslocado do centro do planeta, e a BepiColombo poderá ajudar a entender por quê.

Além disso, a missão pretende aprofundar outras descobertas feitas pela Messenger, como a detecção de gelo de água em crateras nos polos do planeta, onde a luz do Sol nunca incide, e obter imagens de alta resolução da superfície, além de informações sobre sua composição.

Trata-se de uma missão que está em desenvolvimento já há mais de uma década, e que envolve um investimento conjunto de europeus e japoneses da ordem de 1,65 bilhão de euros. Mas a ciência produzida está longe de se restringir apenas a Mercúrio.

Ao decifrarmos os segredos do planeta solar mais interno, ficamos também mais próximos de entender as forças que moldam um sem-número de mundos fora do Sistema Solar, uma vez que descobertas recentes mostram que exoplanetas ocupando órbitas ainda menores que as de Mercúrio são extremamente comuns.

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Essa já é o quarto episódio da série, que fez visitas à Terra, à Lua e ao Sol. (E, para dar uma olhada nesses e em outros vídeos, dê uma passada lá no canal!)

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Clique aqui para ler a reportagem deste escriba publicada hoje na Folha, destacando os louros científicos colhidos pela primeira orbitadora de Mercúrio.

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