Mensageiro Sideral https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br De onde viemos, onde estamos e para onde vamos Sat, 04 Dec 2021 19:09:39 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Paleontologia em Marte https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2014/09/01/paleontologia-em-marte/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2014/09/01/paleontologia-em-marte/#comments Mon, 01 Sep 2014 08:58:13 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=2122 Um renomado paleobiólogo americano anda animado com a possibilidade de procurar fósseis de formas de vida antigas em rochas marcianas. Mas primeiro, claro, será preciso trazer essas pedras de lá.

Em tese, esse veio mineral de gipso fotografado pelo jipe Opportunity em solo marciano poderia conter fósseis.
Em tese, esse veio mineral de gipso fotografado pelo jipe Opportunity em solo marciano poderia conter fósseis.

J. William Schopf, pesquisador da Universidade da Califórnia em Los Angeles, apresentou suas ambições em palestra proferida na última sexta-feira, durante o Primeiro Encontro de Astrobiologia e Paleobiologia promovido pelo Instituto de Geociências da USP.

“Ainda estamos discutindo questões de segurança, como de que maneira trazer essas rochas para a Terra sem correr o risco de contaminá-la com os terríveis germes marcianos que supostamente vão matar todo mundo, o que tem tomado bastante do nosso tempo”, ironiza o cientista, referindo-se às preocupações da Nasa, talvez excessivamente zelosas, de como lidar com amostras com potencial biológico trazidas de outros mundos. “Mas vai acontecer. Nos próximos 20 anos, certamente vai acontecer.”

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Calma lá. Para que uma missão robótica capaz de trazer amostras de Marte possa mesmo ser bem-sucedida, antes será preciso determinar que tipo de rocha deve ser trazida de lá. Schopf sugere que deveríamos procurar, imagine você, amostras de gesso marciano.

Soa estranho, eu sei. Afinal, quando falamos de gesso, pensamos no material de construção, não no mineral de que ele é feito, o gipso. Mas resultados obtidos por sondas tanto em órbita de Marte como no solo mostram que há considerável presença de gipso no planeta vermelho. E o que talvez seja mais interessante: esse material é formado através de deposição por água.

Portanto, ao trazer gesso de Marte, teremos em mãos uma rocha sedimentar (ou seja, formada por camadas depositadas sucessivamente, ideal para a preservação de fósseis) que foi produzida na época em que Marte ainda era um planeta molhado, como a Terra.

TESTE PRÁTICO
Para confirmar que essa é mesmo uma boa ideia, Schopf conduziu recentemente uma espécie de projeto-piloto, procurando fósseis antigos em gesso terrestre — uma atividade que havia sido até então negligenciada pelos paleontólogos. E aí, em 2012, veio a boa notícia: ele encontrou micróbios fossilizados em diversas amostras espalhadas pelo mundo, em bom estado de preservação!

O paleobiólogo aponta que há hoje boas tecnologias, que ele mesmo ajudou a desenvolver, para fazer a caracterização dos potenciais fósseis marcianos, assim que eles sejam trazidos para a Terra.

Entre elas, está a microscopia de escaneamento de laser confocal (CLSM, na sigla inglesa), que funciona quase como uma “visão de raio X” para enxergar o interior da rocha, permitindo identificar a forma tridimensional do fóssil sem precisar danificar a amostra.

De forma complementar, uma outra técnica conhecida como espectroscopia Raman permite identificar a composição química do fóssil, confirmando que sua origem é de fato orgânica.

“Certamente quando tivermos as amostras de Marte teremos outros instrumentos ainda mais sofisticados para analisá-las, mas, se as obtivéssemos hoje, essas seriam as técnicas que usaríamos”, diz.

E O QUE TEM PARA HOJE?
A essa altura, você talvez já tenha se lembrado de que na verdade já possuímos algumas amostras que vieram de Marte — meteoritos ejetados da superfície do planeta vermelho após um impacto de asteroide que acabaram caindo aqui, após milhões de anos viajando pelo espaço interplanetário.

O mais famoso deles é uma pedra conhecida pela sigla ALH 84001, que atingiu o estrelato em 1996, quando a Nasa fez alvoroço ao dizer que ele continha sinais de vida marciana de 4 bilhões de anos (hoje o consenso científico é de que esses traços não consistem evidência conclusiva de vida extraterrestre, e Schopf foi um dos mais ferrenhos críticos do estudo original).

Esta imagem microscópica do meteorito ALH 84001 não contém sinais de vida marciana, segundo Schopf.
Esta imagem microscópica do meteorito ALH 84001 não contém sinais de vida marciana, segundo Schopf. As estruturas seriam pequenas demais, segundo ele.

O problema com todos eles, segundo Schopf, é que são as rochas erradas para procurar vida — em geral pedras formadas pelo resfriamento de lava resultante de erupções vulcânicas, conhecidas como rochas ígneas. Precisamos mesmo de rochas sedimentares, mas não é o tipo de pedra que encontraremos em bólidos que resistem desprotegidos à violência da entrada na atmosfera terrestre. “Rochas sedimentares são frágeis, elas fazem péssimos meteoritos”, disse o pesquisador americano ao Mensageiro Sideral.

Moral da história: precisamos mandar um robô até Marte colher as rochas certas e enviá-las de volta, em segurança, para os laboratórios na Terra. Americanos, europeus e russos já manifestaram interesse numa missão desse tipo, mas nenhuma agência espacial tem no momento um plano concreto para executá-la. Contudo, as coisas tendem a esquentar nos próximos anos. A ESA (agência espacial europeia) está para conduzir duas missões de busca por sinais de vida em Marte, em 2016 e 2018, e resultados intrigantes podem acelerar o interesse em preparar uma iniciativa de retorno de amostras.

Schopf torce, ansioso, para ainda estar na ativa quando isso tudo acontecer. A busca por vida extraterrestre continua!

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A vida como ela era https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2013/11/20/a-vida-como-ela-era/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2013/11/20/a-vida-como-ela-era/#comments Wed, 20 Nov 2013 09:02:22 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=927 Um quarteto internacional de pesquisadores diz ter identificado os primeiros sinais indisputáveis de vida encontrados na Terra. Os fósseis remontam a 3,48 bilhões de anos atrás e foram localizados na Austrália.

Estruturas deixadas por micróbios 3,5 bilhões de anos atrás. Velho é apelido.

Nora Noffke, da Old Dominion University, em Norfolk (EUA), apresentou o trabalho durante o II Workshop de Astro e Paleobiologia, realizado no IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) da USP (Universidade de São Paulo). Um artigo científico foi recentemente publicado no periódico “Astrobiology”.

Os sinais, encontrados em rochas da Formação Dresser, em Pilbara, no oeste australiano, são conhecidos pelos cientistas pela sigla Miss (Microbially induced sedimentary structures). Em português, estruturas sedimentares induzidas por micróbios.

O resultado apimenta a disputa pela busca do registro mais antigo de vida no planeta Terra. Sinais mais antigos, que chegam a 3,8 bilhões de anos de idade, foram apresentados no passado, mas acabaram contestados por boa parte da comunidade científica.

“Muita gente discorda, pois nem todos os critérios de biogenicidade são satisfeitos”, afirma Douglas Galante, astrobiólogo do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas, e um dos organizadores do workshop na USP. “Ainda há muito para ser discutido antes de batermos o martelo nessa questão.”

A TERRA COMO EXEMPLO

Determinar quando as primeiras formas biológicas surgiram na Terra é, evidentemente, uma das questões centrais para o estudo das possibilidades de vida em outras partes do Universo.

Sabe-se que a Terra se formou há 4,6 bilhões de anos, e que passou por intenso bombardeio de bólidos celestes (inclusive, potencialmente, a grande colisão que deu origem à Lua) até cerca de 3,8 bilhões de anos, quando as coisas finalmente se acalmaram no Sistema Solar.

Determinar que a vida surgiu logo após a estabilização das condições ambientais do planeta traz consigo uma premissa poderosa: a vida parece tomar conta de um ambiente tão logo ele se mostra favorável.

Daí os cientistas podem derivar algumas hipóteses: ou a vida já veio pronta do espaço, talvez transportada no interior de meteoritos, e colonizou o planeta assim que foi possível, ou os processos químicos que levam ao surgimento da vida não foram tão complicados e puderam ser realizados num período relativamente curto, logo que as condições planetárias se tornaram favoráveis.

Uma terceira possibilidade — não muito fácil de defender — é que simplesmente demos uma sorte danada, e fenômenos muito improváveis aconteceram aqui na Terra em rápida sucessão para dar origem a todos os organismos vivos que hoje habitam nossa biosfera. Mas não seria um processo que se repete com facilidade.

Qual será a alternativa correta? Ninguém sabe.

O interessante é que as tais Miss representam o trabalho não de uma única espécie de micróbio, mas de uma comunidade complexa de criaturas unicelulares. Um ecossistema microbiano. “Essa comunidades provavelmente existiam quase 3,5 bilhões de anos atrás”, afirma Noffke.

De certa forma, isso indiretamente empurra para trás o momento em que os primeiros seres vivos iniciaram seu reinado sobre o ambiente terrestre e sugere que a vida pode mesmo ser um fenômeno comum no cosmos. Embora, claro, a confirmação dessa premissa só poderá ser feita quando encontrarmos outros mundos com vida ou quando algum cientista conseguir recriar em laboratório todas as etapas exigidas para ir da química simples à complexidade dos organismos vivos.

Por ora, tudo não passa de material para reflexão.

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