Mensageiro Sideral https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br De onde viemos, onde estamos e para onde vamos Sat, 04 Dec 2021 19:09:39 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Astrônomos detectam sinal misterioso vindo de Proxima Centauri https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/12/19/astronomos-detectam-sinal-misterioso-vindo-de-proxima-centauri/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/12/19/astronomos-detectam-sinal-misterioso-vindo-de-proxima-centauri/#respond Sat, 19 Dec 2020 18:09:11 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2016/08/proxima-b-180x115.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9719 O projeto de busca por inteligência extraterrestre Breakthrough Listen encontrou um sinal intrigante e promissor emitido de Proxima Centauri, a estrela vizinha mais próxima do Sol, a meros 4,2 anos-luz de distância. Algumas características do sinal parecem típicas de uma transmissão artificial, mas os pesquisadores ainda não descartam que seja interferência humana – embora também não tenham encontrado evidências disso.

Antes de alguém estourar um champanhe aí, vale o alerta: não estamos falando de algo que já possa ser descrito como evidência de vida inteligente fora da Terra. Os cientistas do projeto fazem questão de enfatizar que, neste momento, trata-se apenas de um resultado provocante, que precisará ser confirmado de forma independente e terá de passar por análises cuidadosas para descartar um falso positivo causado por interferência terrestre ou mesmo por uma (menos provável) ocorrência natural.

Tendo dado o aviso, vamos à história, sobre a qual inicialmente os pesquisadores nem pretendiam falar até a publicação de um artigo científico, no começo de 2021. Mas é difícil conter o entusiasmo com coisas assim, e o achado acabou chegando aos ouvidos do jornal britânico The Guardian, que publicou uma reportagem a respeito na sexta-feira (18).

A história da detecção começou em 29 de abril de 2019, quando um grupo de pesquisadores iniciou uma bateria de observações com o radiotelescópio de Parkes, na Austrália, para estudar explosões estelares em Proxima Centauri – uma anã vermelha, bem menor do que o Sol, em torno da qual orbita um planeta na zona habitável (a região do sistema propícia para a manutenção de água de forma estável na superfície de um corpo planetário).

O radiotelescópio Parkes, da Austrália, faz parte do maior projeto de busca por inteligência extraterrestre da história , o Breakthrough Listen.(Crédito: CSIRO)

Os dados (um total de 26 horas de escuta distribuídas ao longo de uma semana, 30 minutos de cada vez) serviriam secundariamente à caça de potenciais sinais de origem artificial no âmbito do projeto Breakthrough Listen, financiado pelo magnata russo Yuri Milner desde 2015, a um custo de US$ 100 milhões, com o objetivo de procurar sinais de inteligência extraterrestre.

No fim de outubro de 2020, mais de um ano depois, a análise revelou algo peculiar em meio à cacofonia de rádio emanada de Proxima Centauri naquelas 26 horas: um sinal intenso e de banda bastante estreita, a 982 megahertz.

O mesmo sinal foi achado em cinco sessões seguidas de observação da estrela (cada uma com 30 minutos), ao longo de cerca de três horas. Nos intervalos entre essas sessões, quando o radiotelescópio colhia dados apontado para outra região do céu, o sinal desaparecia. Essa é uma das principais estratégias para eliminar a possibilidade de interferência terrestre (que acontece de monte). Se o sinal aparecesse em duas regiões afastadas do céu na mesma noite de observação, obviamente não estaria vindo do céu. Mas a detecção, designada agora pela sigla BLC1 (Breakthrough Listen Candidate 1), passou por esse teste.

Foi, de fato, o primeiro sinal a passar por todo o escrutínio dos cientistas do projeto, exaurindo as possibilidades mais mundanas para descartá-lo como falso positivo. E tem essa peculiaridade de estar numa faixa de frequência super limitada, o que nunca se viu em qualquer sinal de origem natural (estrelas geram um monte de emissão de rádio, mas nunca em banda estreita).

Por outro lado, ele parece apenas um “tom”, não tem qualquer modulação que possa estar transportando informação adicional. E sua sutil deriva de frequência (potencialmente indicativa do movimento conjunto do ponto de origem e do ponto de recepção do sinal) não parece consistente com um transmissor em órbita de Proxima Centauri, como seria o caso de uma antena localizada em um planeta lá.

Claro, também tem o fato de que ninguém mais replicou essa observação feita em Parkes. A repetição e uma nova detecção do mesmo sinal são pré-requisitos fundamentais para mover o achado da lista dos “promissores” para a lista dos “prováveis”.

Ninguém no Breakthrough Listen no momento sabe explicar a origem do sinal. Mas ninguém também está apostando em alienígenas. “A coisa mais provável é que seja alguma causa humana”, disse à revista Scientific American Pete Worden, diretor executivo do projeto Breakthrough Initiatives, que engloba o Listen. “E, quando digo mais provável, é algo como 99,9%.”

A ciência, contudo, vive de testar hipóteses. O trabalho que virá a seguir é permanecer na escuta, em busca de uma repetição, e ao mesmo tempo escrutinar os dados colhidos, à caça de fenômenos que possam explicar o misterioso “tom” na frequência dos 982 megahertz que pareceu, por cerca de três horas, estar vindo de Proxima Centauri.

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Não, o primeiro contato ainda não ocorreu https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/08/30/nao-o-primeiro-contato-ainda-nao-ocorreu/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/08/30/nao-o-primeiro-contato-ainda-nao-ocorreu/#respond Mon, 31 Aug 2020 02:15:50 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/11/eso1737c-178x180.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9524 Em sua coluna publicada nesta Folha no domingo passado (23), Ronaldo Lemos levanta a possibilidade de que o primeiro contato com uma inteligência extraterrestre já tenha ocorrido, por ocasião da visita do objeto interestelar ‘Oumuamua, que passou por nossas redondezas em 2017 e agora ruma novamente para os confins do espaço profundo.

Lemos evoca a hipótese defendida por Abraham Loeb, chefe do departamento de astronomia de Harvard. O astrofísico propôs, em outubro de 2018, que o ‘Oumuamua poderia na verdade ser uma nave alienígena – mais especificamente um veleiro –, ideia que segue entusiasmando Loeb a ponto de ser o tema do seu próximo livro.

Isso dá à luz duas discussões. A mais simples: o primeiro contato pode já ter ocorrido? A resposta é, com certeza, não. Não basta que alguém pense ter encontrado inteligência extraterrestre – seja um piloto de caça encontrando um óvni, seja um astrônomo de Harvard investigando um objeto interestelar. Será preciso demonstrar isso, para além de qualquer dúvida. O “primeiro contato”, se um dia acontecer, será um evento sociológico.

Agora, a questão mais complicada: pode o ‘Oumuamua ser uma espaçonave? A resposta que temos da imensa maioria dos colegas de Loeb é: “muito provavelmente não”.

Loeb é um livre pensador e gosto de sua atuação destemida, um amante de hipóteses improváveis. Exemplo: menos de dois meses atrás, ele foi autor de um artigo sugerindo que o Planeta 9 possa na verdade ser um buraco negro primordial. Maravilhoso. Mas tenha em mente que ninguém sabe se o tal nono planeta do Sistema Solar existe. Tampouco há qualquer evidência para buracos negros primordiais. Mas Loeb está lá, brincando com as duas ideias e as combinando em uma hipótese perfeitamente científica.

Ser científica não significa ter boa chance de estar correta. Significa meramente ser consistente com os fatos conhecidos e passível de teste futuro por observações e experimentos.

De fato, Loeb gosta de apostar contra a banca em hipóteses de baixíssima probabilidade. Tem o Planeta 9 como buraco negro primordial. Tem a antiga estrela companheira do Sol. Tem as civilizações que morariam ao redor de anãs brancas. E tem o ‘Oumuamua espaçonave. É bem provável que todas estejam erradas. Mas não avançar hipóteses arrojadas por medo do ridículo é o caminho mais curto para a mediocridade.

A última contribuição acadêmica de Loeb ao debate sobre o viajante interestelar, por sinal, foi algo pedestre: um artigo em que mostra que uma composição de gelo de hidrogênio é inconsistente com as observações. Essa ideia, para começar, já era improvável, então o esperado é que caia mesmo.

O mistério do ‘Oumuamua, na verdade, é movido pela ignorância. Quando o descobrimos, ele já estava indo embora, e tivemos pouca chance de estudá-lo. Sem bons dados, muitas hipóteses se viabilizam. Mas, a despeito do fascínio que desperta, a ideia da origem artificial segue no fim de uma longa fila de possibilidades.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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Após três décadas, Nasa volta a investir na busca por inteligência extraterrestre https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/06/21/apos-tres-decadas-nasa-volta-a-investir-na-busca-por-inteligencia-extraterrestre/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/06/21/apos-tres-decadas-nasa-volta-a-investir-na-busca-por-inteligencia-extraterrestre/#respond Mon, 22 Jun 2020 02:15:30 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2015/03/kepler62-180x101.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9407 Após mais de três décadas, a Nasa volta oficialmente a investir em busca por inteligência extraterrestre. Desta vez, o foco é na procura pelas “tecnoassinaturas”, nome dado aos sinais discretos (mas suficientemente notáveis) que civilizações podem produzir em seu planeta de origem, mesmo sem querer. Exemplo: poluição atmosférica.

É uma nova maneira de proceder com essa linha de pesquisa, conhecida pela sigla Seti. Até então, os pesquisadores precisavam contar com a boa-vontade de eventuais sociedades comunicativas, na esperança de que elas enviassem um sinal de rádio ou laser direcionado a nós, passível de detecção por nossos mais sensíveis telescópios e antenas.

A última vez em que a Nasa se meteu com isso, por sinal, foi um fiasco. Após anunciar, em 1992, o financiamento de um grande projeto de escuta radiotelescópica, cobrindo o céu inteiro (com especial atenção para as estrelas mais próximas e promissoras), a agência espacial americana foi barrada pelo Congresso, que ironizou a iniciativa como uma infrutífera “caça aos homenzinhos verdes”.

Reduzido em escopo e apropriadamente rebatizado de Phoenix, o projeto acabou seguindo adiante, a partir de 1995, tocado pelo Instituto Seti, com verbas privadas. Nada foi encontrado.

Desde então, falar em civilizações extraterrestres nos círculos científicos deixou de ser tabu. Telescópios espaciais e em solo já descobriram milhares de planetas fora do Sistema Solar, dezenas dos quais se encontram na chamada “zona habitável” – a faixa ao redor de sua estrela-mãe que não é nem muito quente, nem muito fria, permitindo a existência de água em estado líquido na superfície de um mundo que lá estiver. (A Terra, claro, está na zona habitável do Sistema Solar.)

Por ora, trata-se de um trabalho modesto: apenas uma bolsa para um pequeno grupo de cientistas com o objetivo de elencar possíveis tecnoassinaturas, detectáveis com a próxima geração de telescópios. O estudo iniciará a criação de um catálogo de assinaturas de luz hipotéticas, que no fim das contas poderá ser comparado às assinaturas de luz reais dos exoplanetas.

O grupo, liderado pelo astrofísico Adam Frank, da Universidade de Rochester, vai se concentrar no início em dois tipos de tecnoassinaturas: traços de poluição atmosférica e a presença de vastos campos de painéis solares. “Deste modo, astrônomos que observem um exoplaneta distante saberão onde e o que procurar.”

Trata-se de uma extensão da busca por bioassinaturas (sinais de qualquer tipo de vida), uma tarefa menos inglória. Tome a Terra por exemplo: enquanto nossas crescentes tecnoemissões de CO2 levam esse gás a responder por 0,04% da atmosfera, a “poluição” gerada pela fotossíntese (plantas e cianobactérias) responde por 21% da atmosfera, na forma de oxigênio. A quantidade facilita a detecção por astrônomos alienígenas que estejam limitados a observar nosso planeta de muito longe. (Aliás, se essa turminha estiver a 250 anos-luz daqui, nem tem como saber que já rolou revolução industrial na Terra; eles veem agora nosso planeta como ele era em 1770.)

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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Via Láctea deve ter hoje ao redor de 36 civilizações, palpitam astrônomos https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/06/16/via-lactea-deve-ter-hoje-ao-redor-de-36-civilizacoes-palpitam-astronomos/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/06/16/via-lactea-deve-ter-hoje-ao-redor-de-36-civilizacoes-palpitam-astronomos/#respond Tue, 16 Jun 2020 19:21:19 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2016/08/ranking-planets-kepler-180x101.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9393 Quem não ama estimativas de quantas civilizações como a nossa, capazes de potencial comunicação interestelar, existem lá fora? Tem uma nova dessas na praça e ela conclui… (que rufem os tambores!) …que há neste momento, na Via Láctea, um mínimo de 36 sociedades alienígenas comunicativas. Levando em conta a margem de erro das estimativas, esse número mínimo pode ser qualquer coisa entre 4 e 211.

Foi o que concluíram Tom Westby e Christopher Conselice, da Universidade de Nottingham, em artigo recém-publicado no periódico The Astrophysical Journal. Ele se junta a uma ilustre lista de estudos que, ao longo das últimas seis décadas, tentaram estimar a probabilidade de esforços de escuta por sinais de inteligência extraterrestre (busca conhecida pela sigla inglesa Seti), mesmo sem ter qualquer referência clara das probabilidades envolvidas no surgimento da vida em um planeta, sua evolução para a inteligência e a aquisição da capacidade de comunicação interestelar, combinada ao tempo que uma civilização persiste com essa capacidade e esse interesse. É gentil dizer que todos eles chegaram a formular algo mais que um palpite minimamente informado, e com este não estamos em terreno novo. O novo resultado continua sendo tão bom quanto qualquer outro obtido ao longo das últimas décadas.

A brincadeira começou em 1960, quando o astrônomo americano Frank Drake escreveu a equação que acabaria ganhando seu próprio nome, empilhando fatores envolvidos nesse cálculo, como o percentual de estrelas que têm planetas, o percentual deles que desenvolve vida, o percentual em que a vida se torna inteligente, e assim por diante.

O trabalho de Westby e Conselice é justamente uma adaptação da Equação de Drake, à luz de um conceito que eles definem como o Princípio Copernicano Astrobiológico.

“Rederivamos uma versão moderna de uma equação com a de Drake ao primeiro adotarmos a premissa simples de que um planeta suficientemente similar à Terra na zona habitável de uma estrela adequada que exista por um tempo suficientemente longo irá formar vida num padrão similar ao que ocorreu na Terra”, escreveram os autores.

Peraí, como é que é? Esse postulado esconde um universo inteiro de mistérios não respondidos, varrendo tudo para debaixo do tapete. Não temos a mais vaga ideia de se a Terra é um “exemplo típico” do que acontece com um planeta como a Terra quando atinge a idade da Terra. Não sabemos se, em condições como as da Terra, a vida precisa de meio bilhão de anos para surgir e deixar sua marca (como foi o caso aqui) e, depois disso, precisa de mais 4 bilhões de anos para desembocar em alguma forma de vida capaz de produzir radiotelescópios e fake news. Temos apenas um exemplo — o nosso –, e é impossível extrair estatísticas com base em um único caso. Há quem diga que o fenômeno da vida é extremamente fortuito e que só aconteceu na Terra por pura sorte, sem se repetir em qualquer outro lugar, e há quem diga que a Terra pode ter sido uma espécie de “atrasilda” na corrida para a vida complexa e inteligente, algo que poderia ter ocorrido muito mais depressa. Para não perder muito tempo especulando sobre o que se desconhece, os pesquisadores decidiram partir do princípio estabelecido desde Copérnico (ao tirar a Terra do centro do universo) de que nosso planeta não tem nada que o faça especial e, com isso, tratá-lo como um exemplo típico do que acontece a um mundo que se vê nas mesmas circunstâncias dele.

Isso se traduziu mais ou menos da seguinte maneira: todo planeta em circunstâncias paralelas da Terra que atingir 5 bilhões de anos vai em algum momento de sua existência posterior desenvolver uma civilização comunicativa (o que eles chamaram de Limite Copernicano Astrobiológico Fraco) ou, sendo mais restrito, que todo planeta em circunstâncias paralelas da Terra vai desenvolver uma civilização comunicativa quando esse mundo estiver com idade entre 4,5 bilhões e 5,5 bilhões de anos (o que eles chamaram de Limite Copernicano Astrobiológico Forte).

Um fator de ignorância que a dupla de Nottingham não eliminou, ao reescrever a equação de Drake, foi o tempo médio de vida de uma civilização comunicativa. E, claro, não sabemos quanto tempo é isso. Nossa única referência é a nossa própria civilização, que tem a tecnologia para enviar sinais para fora de seu planeta há cerca de 100 anos. Os pesquisadores então adotaram esse número como uma estimativa segura. Sabemos que com certeza uma civilização comunicativa pode viver 100 anos.

Misturando todos esses fatores na Cozinha Maravilhosa de Drake, eles chegam aos resultados, para os cenários fraco (mais otimista) e forte (mais pessimista).

Pelo cenário fraco, eles chegam a um total de 928 civilizações comunicativas na Via Láctea hoje. Com as margens de erro embutidas nas estimativas, esse número poderia ser qualquer um entre 110 e 2.808. E a distância média entre civilizações poderia ser de 3.320 anos-luz, aproximadamente.

Pelo cenário forte, já apresentamos os números lá em cima: 36 civilizações comunicativas, podendo na verdade ser qualquer número entre 4 e 211. E aí a distância média entre civilizações seria de cerca de 17 mil anos-luz.

Agora, não se espante com os números. Nos dois casos, é uma péssima notícia. Eles sugerem que, para todos os efeitos práticos, a busca por inteligência extraterrestre (Seti) é uma perda de tempo. Eles calculam que, no cenário fraco, ela teria de ser conduzida por cerca de mil anos antes de produzir resultados positivos. Saltando para o cenário forte, estamos falando em 6 mil anos. Parece uma batalha perdida antes mesmo de ser travada, ainda mais para civilizações comunicativas que duram 100 anos. Mesmo que a gente recebesse um “olá!” hoje, da civilização mais próxima (pelo cenário fraco, 3.000 anos-luz daqui), até a gente disparar um “olá!” de volta e eles receberem, terão se passado 3.000 anos e eles provavelmente estarão extintos antes de detectarem o sinal de volta. E quem vai mandar uma mensagem se não há qualquer esperança de receber uma resposta, ainda que ela seja ouvida por alguém?

Há, é claro, uma óbvia pegadinha nessas conclusões todas. Elas partem do princípio de que civilizações comunicativas vivem em média apenas cem anos. A exemplo da equação de Drake original, a nova versão de Westby e Conselice é extremamente sensível a esse fator, numa proporção direta. Se o tempo médio de existência de uma civilização comunicativa for de 200 anos, em vez de 100, o número de sociedades na Via Láctea dobra. Se for 1.000 anos, aumenta dez vezes. E, óbvio, a distância média da civilização mais próxima e o tempo de busca até o primeiro contato também caem proporcionalmente.

Ao final do artigo, a dupla rapidamente entretém essas possibilidades. Imagine, por exemplo, que na verdade civilizações comunicativas, uma vez que surjam, durem 1 milhão de anos. Nesse caso, teríamos uma Via Láctea com jeitão de Star Trek: a civilização alienígena mais próxima estaria a uma distância entre 20 e 300 anos-luz daqui, e aí um primeiro contato poderia acontecer a qualquer momento.

Agora, uma civilização tão longeva assim estaria muito distante de qualquer experiência que humanos tenhamos tido. Nossa espécie, desde as cavernas, tem coisa de 200 mil anos. E, em termos de história registrada pela escrita, coisa de 4.000 anos. Está além da imaginação especular o que seria uma civilização de 1 milhão de anos.

Trazendo para algo mais imaginável, eles também fazem o exercício para um tempo de vida médio de 2.000 anos para uma sociedade comunicativa. Nesse caso, a civilização mais próxima deve estar a uma distância entre 400 e 7.000 anos-luz, e um sucesso por buscas do tipo Seti seria difícil, mas não impossível.

“Se não encontrarmos vida inteligente num raio de cerca de 7.000 anos-luz”, dizem os autores, “isso indicaria uma de duas coisas. A primeira é que o tempo de vida de civilizações deve ser bem menor que 2.000 anos, sugerindo que a nossa pode ser também bem curta. A segunda é que a vida na Terra é bem singular, e a vida inteligente não surge automaticamente após 5 bilhões de anos num planeta adequado, mas em um processo mais aleatório.”

O artigo deles termina em uma defesa dos esforços que tentam detectar sinais de inteligência extraterrestre, como “um modo científico e probabilístico de determinar quanto tempo a civilização na Terra provavelmente vai durar, ou os métodos pelos quais a vida se desenvolve”. “Se não encontrarmos vida em um raio de 10 mil anos-luz, por exemplo, isso seria um mau sinal para o tempo de vida de civilizações, presumindo que exointeligências sejam similares às nossas ou, em outras palavras, que o Princípio Copernicano Astrobiológico se sustente.”

Resumo da ópera? Não sabemos o suficiente, e esse esforço, assim como todos que o antecederam antes dele desde a formulação original da Equação de Drake, são muito mais medidas do quanto nós ainda não sabemos do que do quanto de fato sabemos sobre a natureza da vida e da inteligência. A única real forma de aprendermos mais é continuando a explorar e a estudar todos os fatores envolvidos, da química prebiótica à sociologia pós-atômica, usando para isso os laboratórios e telescópios que somos no momento capazes de construir, até que o quadro se torne mais claro.

Quanto ao trabalho de Westby e Conselice, achei divertido ver que os números a que eles chegaram acabaram relativamente parecidos com os que eu produzi em minha própria “solução” especulativa da equação de Drake, publicada em 2014, partindo de pressupostos similares que usavam a Terra como referência “copernicana”, mas sem alterar a formulação original de Drake. Lá, eu cheguei a 4 civilizações comunicativas. É um pouquinho menos que as 36 de Westby e Conselice, mas eu excluí da conta as estrelas anãs vermelhas, que perfazem 76% do total na Via Láctea. Se eu as tivesse incluído (como o faz a dupla de Nottingham), eu teria chegado a 20. Quando você pára para pensar que há variação possível de pelo menos umas 10 ordens de grandeza em respostas da Equação de Drake, são dois resultados extremamente próximos. O que não faz deles mais corretos, mas mostra que tem mais gente seguindo calibragem similar nos palpites que preenchem as lacunas do conhecimento.

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O silêncio da busca por inteligência extraterrestre e seu significado https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/07/08/o-silencio-da-busca-por-inteligencia-extraterrestre-e-seu-significado/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/07/08/o-silencio-da-busca-por-inteligencia-extraterrestre-e-seu-significado/#respond Mon, 08 Jul 2019 05:07:14 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2016/11/parkes_telescope-menor-180x125.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8933 O maior projeto de escuta em busca de sinais de civilizações extraterrestres apresentou seu resultado de três anos de observações. Você não ouviu nada a respeito? Nem eles. “Após excluirmos eventos com características consistentes com interferência de rádio terrestre, ficamos com zero candidatos”, escrevem os pesquisadores coordenados por S. Pete Worden, em artigo submetido para publicação no Astrophysical Journal.

Não é de forma alguma uma surpresa. O projeto Breakthrough Listen tem duração prevista para dez anos e sabe que, mesmo com sua duração total, a probabilidade de um contato é baixa. Isso, por diversas razões. Não só uma civilização inteligente não deve existir em cada esquina do Universo como também é preciso que aconteçam uma série de coincidências para que o contato seja feito.

Olha só: para começar, eles precisam usar tecnologias similares às nossas (rádio ou laser) em suas tentativas de comunicação interestelares. Também é necessário que eles transmitam na nossa direção de forma que o sinal chegue exatamente no momento em que estamos escutando aquela estrela em particular. Por fim, é preciso que o sinal esteja nas frequências em que estamos escutando, para não passar despercebido.

Tudo isso mostra como é improvável escutarmos a estrela certa, na hora certa, com a tecnologia certa, na frequência certa, para afinal contatarmos uma civilização alienígena. Com efeito, o Breakthrough Listen ouviu 189 estrelas próximas com o radiotelescópio Parkes, na Austrália, e 1.138 com o radiotelescópio de Green Bank, nos Estados Unidos. Embora ainda tenha muito trabalho pela frente, já é a maior busca do tipo feita até hoje por um projeto de Seti (busca por inteligência extraterrestre, na sigla inglesa). Foram ouvidas frequências entre 1,1 e 3,45 GHz, e cada estrela era monitorada por cinco minutos. É a caça da famosa agulha no palheiro.

A boa notícia é que mesmo sem detectar nada esses estudos nos dizem algo muito importante: eles nos ajudam a delimitar o tamanho do palheiro. É possível estimar o significado estatístico de uma não detecção. No limite mais forte imposto pelo estudo, é possível dizer que, para não termos achado nada, menos de 0,37% das estrelas devem ter um transmissor alienígena detectável com a sensibilidade de nossos radiotelescópios. Ou seja, algo como menos de 1 em 300 estrelas.

Isso ajuda a dimensionar o tamanho (pequeno) do fracasso. Mesmo que esforços posteriores vasculhando bilhões de estrelas derrubem esse número para menos de 1 em 300 milhões, ainda assim poderíamos ter umas 300 civilizações espalhadas pela Via Láctea. O silêncio até agora diz muito mais sobre a dificuldade da busca do que sobre a real prevalência de vida inteligente no Universo.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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Nunca estivemos sós no Universo https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/01/28/nunca-estivemos-sos-no-universo/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/01/28/nunca-estivemos-sos-no-universo/#respond Mon, 28 Jan 2019 04:00:37 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2015/12/p1535ay-crop-180x135.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8612 No último dia 20, o querido e sempre inspirado Drauzio Varella apresentou nesta Folha sua visão sobre a nossa suposta solidão cósmica. Em resumo, ele sugeriu que, mesmo que exista vida inteligente num planeta distante, é improvável que sejamos capazes de travar qualquer comunicação com ela. A ideia é que é virtualmente impossível que formas de vida sofisticadas em outros mundos tenham qualquer similaridade conosco, já que teriam nascido de uma árvore evolutiva tão contingencial quanto a nossa. Em resumo: eles seriam tão diferentes de nós que isso impediria qualquer tipo de compreensão mútua.

Embora eu reconheça como verdadeiros todos os fatos científicos elencados por Drauzio em sua argumentação, ainda julgo saudável uma certa dose de ceticismo quanto à convicção de que, com alta dose de probabilidade, não há inteligências “compatíveis” com a nossa lá fora.

Repare no salto de fé quase invisível entre ter uma história evolutiva particular e ter uma história evolutiva especial. É verdade que a existência dos humanos modernos é largamente contingente — certamente não teria acontecido se, digamos, um asteroide não tivesse levado os dinossauros ao ocaso, há 65 milhões de anos, e uma sequência grande de mutações aleatórias nos mamíferos, selecionadas pela natureza, não tivesse se processado depois disso.

Por outro lado, não temos como saber como teria sido a evolução no planeta se os dinossauros não tivessem sido extintos. Nos faltam as histórias jamais trilhadas. É fato que nós, humanos, não estaríamos aqui. Mas como garantir que outro caminho evolutivo não teria desembocado numa espécie inteligente e tecnológica, capaz das mesmas proezas e, em certa medida, “equivalente” a nós para efeito de comunicação interestelar?

Existe um processo muito interessante a guiar as formas que a vida pode assumir na natureza; é a chamada evolução convergente. Em essência, é o fato de que, diante de desafios evolutivos similares, as soluções biológicas se repetem de novo e de novo, de maneira independente. Pegue o problema do voo, por exemplo. Para solucioná-lo, a evolução gerou asas em insetos; depois, de maneira independente, em pterossauros; mais uma vez, tempos depois, nas aves; de novo, adiante, nos mamíferos (lembre-se dos morcegos); e por fim, por intermédio de construtos artificiais, nos humanos, com seus aeroplanos. É um bocado de repetição — com resultados parelhos — para chamarmos esse processo de “completamente aleatório”.

E é só um exemplo, de muitos. A fotossíntese evoluiu diversas vezes. Nadadeiras evoluíram repetidas vezes. E, crucialmente, o crescimento do cérebro em comparação ao tamanho do corpo, a despeito de seu custo energético brutal para o organismo, também aconteceu em diversas linhagens evolutivas — nas aves, nos cefalópodes, nos cetáceos e nos primatas, para citar quatro exemplos. Parece haver alguma pressão evolutiva para inteligência.

Isso quer dizer que uma civilização tecnológica seria na verdade o desfecho natural da evolução em uma biosfera pujante? Provavelmente não, mas a verdade é que o fato de sermos o produto de uma sequência singular e irrepetível de eventos não significa que ninguém mais chegará a um nível de abstração em que, cedo ou tarde, a ciência — nada mais que uma forma sofisticada e rigorosa de investigar relações de causa e efeito — é inventada.

E, se há outras civilizações lá fora aplicando o método científico, elas hão de descobrir parâmetros realmente universais: a frequência de vibração do hidrogênio é a mesma no Universo todo; a velocidade da luz é a mesma no Universo todo; 2+2 são iguais a 4 no Universo todo. Com esses parâmetros, é possível construir uma gramática elementar que permita a troca de informações úteis e compreensíveis entre sociedades dotadas de radiotelescópios, mesmo que separadas por dezenas ou centenas de anos-luz.

Será uma comunicação fluida, precisa, como esta sequência de letras para você? Decerto não. Mas não existe uma separação rígida entre comunicação e não comunicação, assim como também não há uma separação rígida entre inteligência humana e não humana. E este é outro ponto importante: estamos cercados de criaturas inteligentes com as quais já nos comunicamos, com graus variados de sucesso. Tudo isso por diversas trilhas evolutivas, em um único planeta, de uma estrela vulgar, de uma galáxia mediana, de um Universo de 2 trilhões de galáxias.

Olhando para a biosfera terrestre, é fácil notar que, na verdade, nunca estivemos sós no Universo. Apenas nossa arrogância nos impediu por tanto tempo de formalizar isso. E é tudo que basta — nos despirmos da noção de que somos um “acaso singular” ou um “milagre” — para saber que ainda é cedo para dizermos quanta inteligência há ou não há num cosmos de infindáveis possibilidades, e com que nível de sofisticação poderemos nos comunicar com ela. É dever da ciência não abraçar pressupostos categóricos, por mais que soem razoáveis, e partir em busca de evidências, sempre mantendo a mente aberta. A resposta certa sobre se podemos ou não nos comunicar com inteligências extraterrestres é: não sabemos. Mas queremos descobrir.

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‘Oumuamua, de nave alien a lixo espacial https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/11/12/oumuamua-de-nave-alien-a-lixo-espacial/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/11/12/oumuamua-de-nave-alien-a-lixo-espacial/#respond Mon, 12 Nov 2018 04:00:58 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/11/eso1737a-180x113.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8305 Quando foi descoberto, em 2017, acharam que ele era um cometa. Depois um asteroide. Depois cogitaram uma nave alienígena. Aí voltou a ser cometa. Depois asteroide. E agora estamos falando em espaçonave novamente. Afinal, o que é o tal ‘Oumuamua, o primeiro objeto interestelar a ser detectado vagando por nosso Sistema Solar?

O assunto esquentou por conta de um artigo científico assinado por uma dupla de Harvard, Abraham Loeb e Shmuel Bialy. Nele, os cientistas investigam um dos mistérios do ‘Oumuamua – o fato de que sua trajetória de saída do Sistema Solar tem uma sutil aceleração própria. Os dois levantam a hipótese de que ela possa se dar por pressão da radiação solar – ou seja, a luz do Sol estaria batendo no objeto e dando-lhe um suave empurrão. É o método usado para propulsão por veleiros solares.

A dupla de Harvard então fez o seguinte exercício: com base na aceleração observada, o ‘Oumuamua poderia realisticamente ser uma vela solar? A resposta, nada surpreendente dadas todas as incertezas das observações, é que sim.

Há, contudo, uma distância interestelar entre demonstrar o possível e sugerir o provável. Com efeito, uma equipe da Agência Espacial Europeia, em julho, analisou e descartou a explicação da pressão de radiação, fechando com a hipótese mais provável de que a aceleração tenha se dado pela ejeção de gases na aproximação com o Sol, à moda dos cometas.

É verdade que o ‘Oumuamua nunca exibiu comportamento de cometa, o que faz alguns cientistas duvidarem dessa explicação também. Então por que não dar uma chance à vela espacial? Dica: por que, embora possível, não faz sentido. O objeto chegou por aqui não a velocidades esperadas de voo interestelar prático, mas como quem teria sido ejetado de um sistema vizinho por gravidade, numa jornada de milhões de anos.

Já seria um bom motivo para dispensar os aliens. Mas Loeb e Bialy não desistem; eles sugerem que, em vez de ser uma nave enviada de propósito para nosso glorioso Sistema Solar, o ‘Oumuamua poderia ser simplesmente lixo espacial. Uma vela abandonada usada por uma civilização antiga em seu próprio sistema planetário, mais tarde ejetada de lá por alguma interação gravitacional aleatória.

Não é preciso ser astrofísico para estimar que a probabilidade de tropeçarmos em lixo de alienígenas é ridiculamente baixa. Ou seja: eu, se fosse você, continuaria apostando que o ‘Oumuamua é um cometa ou asteroide. Por outro lado, é quase um ato de justiça poética imaginar que a primeira evidência científica de que não estamos sós no Universo possa ser um pedaço de lixo que vagou por milhões de anos até ir parar na soleira da nossa porta.

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Linguistas discutem como falar com ETs https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/05/28/linguistas-discutem-como-conversar-com-ets/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/05/28/linguistas-discutem-como-conversar-com-ets/#respond Mon, 28 May 2018 05:00:28 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/ata4_h-320x213.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7747 Parece coisa de cinema. No último sábado (26), um grupo de pesquisadores envolvendo linguistas e outros especialistas se reuniu, em meio a uma conferência organizada pela Sociedade Espacial Nacional dos EUA, para discutir como seria possível conversar com extraterrestres. O evento, apropriadamente, aconteceu em Los Angeles, em meio à Conferência Internacional de Desenvolvimento Espacial, a ISDC 2018.

Soa como colocar o carro à frente dos bois. Afinal, nem sabemos se existem mesmo outras civilizações lá fora e muito menos se podemos de fato trocar mensagens com elas. Todas as buscas de potenciais sinais enviados por inteligências extraterrestres, a chamada SETI, até o momento fracassaram. Há um estranho silêncio lá fora, e não sabemos se isso é porque procuramos pouco, porque procuramos do jeito errado ou porque não tem ninguém lá.

A reunião foi organizada pela organização METI, sigla para Mensagens para Inteligências Extraterrestres. Seu principal objetivo é desenvolver formas de se comunicar de forma efetiva com outras civilizações, caso um dia encontremos uma.

O workshop foi interessante e trouxe até mesmo um artigo coautorado por um dos papas da linguística, Noam Chomsky, conhecido por sua teoria da gramática universal. Ela sugere que os humanos têm de forma inata uma estrutura pré-programada de comunicação e que todas as línguas de uma maneira ou de outra se conformam a esse padrão.

O novo trabalho se pergunta o quão “universal” seria essa gramática. Ela poderia ser estendida a civilizações extraterrestres, surgidas de outros caminhos evolutivos? A conclusão a que eles chegaram foi um intrigante “provavelmente sim”.

Trate isso com a pitada de sal que merece, claro. Mas, se for esse o caso, aumentam as chances de que, como dizia Carl Sagan, civilizações possam trocar entre si suas versões da proverbial “Enciclopédia Galáctica”, uma vez estabelecido o contato.

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Estudo confirma que Estrela de Tabby não tem megaestrutura artificial alienígena https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/01/03/estudo-confirma-que-estrela-de-tabby-nao-tem-megaestrutura-artificial-alienigena/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/01/03/estudo-confirma-que-estrela-de-tabby-nao-tem-megaestrutura-artificial-alienigena/#comments Wed, 03 Jan 2018 16:22:21 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/tabby-180x101.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7246 Um novo estudo confirmou o que a maioria dos astrônomos já desconfiava desde o início — as estranhas variações de brilho pelas quais passa o astro chamado KIC 8462852, a chamada Estrela de Tabby, não são causadas por uma megaestrutura alienígena em construção ao redor dela.

O trabalho foi baseado em novos dados colhidos em observações posteriores feitas com telescópios em solo, que foram além daqueles obtidos pelo satélite Kepler. Uma campanha de financiamento coletivo com cerca de 1.700 pessoas juntou mais de US$ 100 mil para a compra de tempo de telescópio para que os estudos continuassem.

Tabetha Boyajian e parte de sua equipe na Universidade Estadual da Louisiana (Crédito: LSU).

Com isso, foi possível acompanhar a variação de brilho da estrela nos últimos meses. E a observação crucial para determinar que não se tratava mesmo de uma construção artificial foi comparar os padrões de redução de brilho em diversos comprimentos de onda diferentes. Se fossem uma construção, a estrutura bloquearia da mesma maneira todas as frequências.

Contudo, não foi isso que se viu. Dependendo do comprimento de onda, a variação era maior ou menor. Em resumo: cores diferentes são bloqueadas a intensidades diferentes. Isso descarta explicações que envolvessem corpos sólidos de grande porte, fossem eles planetas ou megaestruturas artificiais.

O que restou? Bem, a hipótese mais provável continua sendo aquela que já havia sido aventada desde o início — poeira, talvez produzida por uma grande quantidade de cometas. É impossível, contudo, afirmar isso com toda certeza agora. Uma possibilidade alternativa é que a própria estrela tenha uma variação de brilho própria, talvez por ter recentemente engolido um planeta — os novos dados são consistentes com isso também.

O caso é uma interessante demonstração de como funciona a ciência. Hipóteses são formuladas, e dados são colhidos que podem corroborar ou refutar essas hipóteses. No caso em questão, as novas observações eliminaram algumas das possibilidades, mas restam outras ainda no jogo. Futuras observações podem ir ainda mais longe e nos deixar apenas com uma resposta. Ainda não chegamos lá, mas já tivemos importantes descartes.

O trabalho liderado por Tabetha Boyajian, foi publicado nesta quarta-feira (3) no “Astrophysical Journal Letters”.

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Astronomia: Na escuta do ‘Oumuamua https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/12/18/astronomia-na-escuta-do-oumuamua/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/12/18/astronomia-na-escuta-do-oumuamua/#comments Mon, 18 Dec 2017 04:00:24 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/12/Snapshot-5-180x101.png http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7200 Busca de sinais artificiais no ‘Oumuamua, objeto interestelar, dá em nada. Ou não?

MISTÉRIO
Dizem que a pressa é inimiga da perfeição. Ela pode também ser inimiga da boa ciência, numa sociedade afeita ao imediatismo. Menos de 24 horas depois de iniciarem uma “escuta” do objeto ‘Oumuamua, um visitante interestelar que poderia ser uma espaçonave alienígena, o projeto Breakthrough Listen informou: “não detectamos sinais artificiais”.

PRESSA
Eles certamente foram pressionados a emitir o comunicado. Eu mesmo recebi mensagens na linha: “E aí, captaram alguma coisa?” Vejam o que aconteceu: o projeto usou o radiotelescópio de Green Bank para tentar captar algum sinal vindo do objeto que adentrou o Sistema Solar em setembro e agora ruma de volta para o espaço interestelar.

PARCIAL
Era só a primeira de quatro sessões de escuta programadas. Em duas horas, foram colhidos imodestos 90 TB, em frequências que iam de 1 a 12 GHz. Até a emissão do comunicado, só havia sido possível analisar os dados da banda S (1,7 a 2,6 GHz).

COMEÇO
Nenhum sinal artificial foi detectado — mas só nessa banda. Ainda havia um bocado de dados para analisar. E outras três sessões de observação nos próximos dias. Ou seja: cedo demais para conclusões.

BOA APOSTA
Vamos tirar da frente o óbvio: provavelmente o ‘Oumuamua é só um asteroide e não tem nenhum sinal artificial para ser detectado. É uma ótima aposta julgar que a conclusão não vai mudar: “sem transmissões artificiais”. Contudo, vamos combinar que, quando você analisou uma fração de uma de quatro tomadas de dados (planejadas para levar em conta a rotação do objeto), é muito cedo para emitir conclusões. Por que então os pesquisadores fizeram isso? A resposta é: porque desaprendemos a esperar.

RELEMBRANDO
Deseducados pela rapidez da internet, esperamos sempre respostas instantâneas. Má notícia: a ciência não funciona assim. A título de exemplo, não se pode confirmar a existência de um exoplaneta até que ele complete ao menos uma órbita. A natureza é árbitra da ciência, e ela tem seu próprio ritmo. No século 21, precisamos reaprender essa lição, que os antigos já sabiam de cor.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

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