Mensageiro Sideral https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br De onde viemos, onde estamos e para onde vamos Sat, 04 Dec 2021 19:09:39 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Talvez inócua, conferência do clima representa ascensão da inteligência planetária https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/10/31/talvez-inocua-conferencia-do-clima-representa-ascensao-da-inteligencia-planetaria/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/10/31/talvez-inocua-conferencia-do-clima-representa-ascensao-da-inteligencia-planetaria/#respond Sun, 31 Oct 2021 15:00:42 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/11/PIA00122_hires-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=10163 Começa neste domingo (31), em Glasgow, mais uma conferência do clima da ONU. A ambição é que a COP26 traga mais compromissos dos países para conter as mudanças climáticas. A expectativa, por sua vez, é que os resultados fiquem aquém dos necessários. Mas, dando um passo atrás, talvez ela represente parte de um evento geológico transformador na história da Terra: a ascensão da inteligência planetária.

É um conceito defendido por David Grinspoon, pesquisador da Universidade do Colorado. Nesses tempos de depressão civilizatória, encontrei algum conforto nessa ideia de que o chamado Antropoceno, em vez de uma grande tragédia global, possa ser o início de algo espetacular.

Antropoceno é o nome que se dá à época geológica em que os humanos se tornaram capazes de interferir nos rumos e no destino de seu planeta. Pode soar meio arrogante, mas isso nem sequer é novidade na história da Terra. Grinspoon nos lembra que há antecedentes de criaturas que causaram impacto devastador. Uns 2,5 bilhões de anos atrás, as cianobactérias tomaram conta dos oceanos e encheram a atmosfera de um gás então tóxico para a maior parte das formas de vida: o oxigênio. Extinção em massa e devastação provocada por criaturas vivas, portanto, não é novidade.

A exclusividade dos humanos é o modo pelo qual estamos devastando o planeta, movido por nossa ocupação desordenada suportada por intervenções tecnológicas, ou seja, pela inteligência. Mas, veja lá, é uma inteligência meia-boca. Até hoje, ela trouxe boas soluções locais, mas que produzem efeitos globais inadvertidos e catastróficos. Converter uma área de floresta para a agricultura ou queimar petróleo para locomoção são boas soluções tecnológicas locais. Mas contratam uma desgraça global, se aplicadas em larga escala –como estamos fazendo.

Grinspoon se pergunta se, do ponto de vista de possíveis civilizações avançadas lá fora, essa nossa sagacidade tecnológica representaria real inteligência. E aí elenca o que seria o próximo estágio: a tal inteligência planetária –a capacidade de usar nosso poderio tecnológico transformador para aliar soluções globais e locais, nos preservando e protegendo, como à biosfera, no longo prazo.

Isso exige forte cooperação internacional, o que, como estamos vendo, não é fácil. Grinspoon não tem ilusões quanto ao horizonte imediato. Para ele, as mudanças climáticas já são realidade e ainda cobrarão enorme sofrimento, além de levar gerações futuras a se perguntarem como fomos tão letárgicos, com décadas de sobreaviso. Mas, em eventos como a COP, vemos que a mudança de atitude, embora lenta, está “em andamento”. O século 21 não será batatinha, mas haverá um século 22, e nele talvez a inteligência já tenha se instalado na Terra como um fenômeno planetário –e possivelmente a força mais benigna que o mundo já conheceu. Apesar dos nossos passos em falso, ainda há esperança para a humanidade.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

Siga o Mensageiro Sideral no FacebookTwitterInstagram e YouTube

]]>
0
Depois de apuros em modo de ‘sobrevivência’, Amazônia-1 já faz imagens do Brasil https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/03/07/depois-de-apuros-em-modo-de-sobrevivencia-amazonia-1-ja-faz-imagens-do-brasil/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/03/07/depois-de-apuros-em-modo-de-sobrevivencia-amazonia-1-ja-faz-imagens-do-brasil/#respond Mon, 08 Mar 2021 02:15:56 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/03/amazonia-1-novo-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9863 Entre o rastreamento independente realizado por observadores no exterior e as acusações de “fake news” por parte do alto escalão do governo, a primeira semana do Amazônia-1 no espaço foi bastante agitada. Eis a história completa, como ela se deu.

Na madrugada do domingo passado (28), o foguete indiano PSLV injetou o primeiro satélite 100% brasileiro de observação da Terra em uma órbita polar de 750 km de altitude. A espaçonave saiu com uma rotação excessiva ao se desprender, mas isso foi ajustado pelo sistema de controle de atitude do satélite.

A primeira passagem mostrou situação nominal e os engenheiros e técnicos do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em São José dos Campos (SP), iniciaram o processo de certificação do satélite, com as checagens usuais.

Na terça (2), em antecipação a dois sobrevoos do solo brasileiro no dia seguinte, foi disparado o comando para colocar o Amazônia-1 em modo missão, preparando a ativação de sua câmera. E aí a realidade se desvia da versão oficial.

De acordo com envolvidos no projeto que preferem não se identificar, um dos parâmetros de operação do satélite apresentou um valor não nominal, e o computador de bordo ativou automaticamente o modo de sobrevivência. Nessa situação, o Amazônia-1 inicia um movimento para garantir que luz solar incida sobre seus painéis, prevenindo a descarga das baterias. Foi nesse período que dois rastreadores, um nos EUA e outro na Itália, separados por cerca de 7 horas, detectaram a suposta “fake news”. Era real.

Atividades espaciais, como sabemos, são desafiadoras. E a equipe do Inpe sempre esteve à altura do desafio. Interpretando corretamente a situação e seguindo os protocolos, com apoio de estações auxiliares fora do país (para aumentar as oportunidades de contato), ainda no final da noite de terça a situação fora contornada, e o satélite entrou em modo missão. Grande vitória, após um aperto. É do jogo. Até o Hubble, vira e mexe, entra em modo de segurança.

Mesmo assim, na quarta (3), enquanto o Amazônia-1 fazia duas passagens pelo Brasil e registrava belas imagens, o diretor do Inpe, Clezio de Nardin, e o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, entraram em “modo governo”, afirmando que nada de incomum aconteceu. “Fake news”. Perderam uma espetacular oportunidade de mostrar como dificuldades são enfrentadas e vencidas pelos profissionais do Inpe.

Superado o episódio, resta uma dúvida: queremos um programa espacial civil aberto e transparente, à la Nasa, ou vamos pela rota do segredo e do silêncio, como a China? Não custa lembrar que a inserção orbital da Tianwen-1 em Marte só foi acompanhada ao vivo por rastreadores independentes, da mesma forma que se identificou o comportamento incomum do Amazônia-1 na última terça. Essa deixo para os ideólogos governistas de plantão.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

Siga o Mensageiro Sideral no FacebookTwitterInstagram e YouTube

]]>
0
Inpe diz que operação do Amazônia-1 está normal https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/03/03/inpe-diz-que-operacao-do-amazonia-1-esta-normal/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/03/03/inpe-diz-que-operacao-do-amazonia-1-esta-normal/#respond Wed, 03 Mar 2021 16:05:53 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/03/satelite-amazonia-1_site-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9842 Após uma noite de desencontros e “silêncio de rádio”, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) fez uma manifestação pública nesta quarta-feira (3), indicando que está tudo sob controle com o primeiro satélite de imageamento 100% brasileiro, o Amazônia-1. Durante passagens por sobre estações de rastreamento independentes na Itália e nos EUA, na terça-feira, a intermitência do sinal sugeria uma possível rotação anômala.

Em entrevista à TV Vanguarda, afiliada da Globo em São José dos Campos (SP), o diretor do instituto, Clezio di Nardin, afirmou não haver problemas com a espaçonave. “Não é fato que ele está descontrolado. O lançamento do satélite foi um sucesso. Não há registro de qualquer intercorrência.”

Ainda de acordo com ele, o satélite passa por uma fase de qualificação, como é comum com todos os novos satélites. “Estamos testando todos os subsistemas do satélite. Bateria, painéis, câmera, liga e desliga, inclusive umas manobrazinhas para colocar ele na órbita precisa dele. Essa fase inicial leva até o dia 15 de março, aí teremos a primeira imagem definitiva, oficial do Inpe.”

Mensageiro Sideral apurou, em contato com envolvidos no projeto que preferem não se identificar, que o satélite foi de fato injetado em órbita com velocidade de rotação mais alta do que o esperado, mas, segundo essas mesmas fontes, já foi estabilizado. Lançado no último domingo (28) por um foguete indiano PSLV, o Amazônia-1 é o primeiro a usar a Plataforma Multimissão desenvolvida pelo Inpe para baratear o custo de futuras espaçonaves. O satélite custou, entre fabricação e lançamento, R$ 380 milhões, fruto de um trabalho de 13 anos.

Seguimos na torcida para que o Amazônia-1 e o Inpe tenham sucesso nesta importante empreitada espacial.

Siga o Mensageiro Sideral no FacebookTwitterInstagram e YouTube

]]>
0
Rastreadores de satélites suspeitam que Amazônia-1 pode estar fora de controle https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/03/02/rastreadores-de-satelites-suspeitam-que-amazonia-1-pode-estar-fora-de-controle/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/03/02/rastreadores-de-satelites-suspeitam-que-amazonia-1-pode-estar-fora-de-controle/#respond Wed, 03 Mar 2021 01:51:25 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/03/satelite-amazonia-1_site-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9831 Em pelo menos duas passagens, rastreadores de satélites nos EUA e na Itália fizeram captações intermitentes, separadas por quase sete horas, de sinais transmitidos pelo Amazônia-1, satélite brasileiro lançado no último domingo (28). A irregularidade do sinal parece indicar que a espaçonave está girando fora de controle.

O Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) não se pronunciou oficialmente sobre a questão. A AEB (Agência Espacial Brasileira) diz apenas que aguarda pronunciamento do Inpe.  Em um grupo privado de discussão no aplicativo Telegram, engenheiros envolvidos com o projeto declaram que não estão autorizados a falar sobre o assunto, mas minimizam a gravidade da situação. Especialistas ouvidos pelo Mensageiro Sideral sugerem que o padrão indica problemas. “Não parece bom” é a frase corrente.

Enquanto aguardamos uma declaração oficial, vale o lembrete: mesmo que de fato o satélite esteja girando fora de controle, não quer dizer que a situação seja irrecuperável. Decerto haverá tentativas de enviar comandos e usar o sistema de controle de atitude (giroscópios no interior da espaçonave que permitem reorientá-la) para estabilizá-lo.

Cerca de 45 minutos após o lançamento, na madrugada de domingo, a estação de rastreamento em solo brasileiro captou sinais do satélite, indicando uma inserção orbital bem-sucedida. Não se mencionou então a possibilidade de que ele estivesse girando de forma imprevista ou descontrolada. O problema pode ter se originado logo após a liberação do satélite pelo lançador indiano PSLV (as imagens indicam uma suave rotação incomum), ou algum comando enviado à espaçonave pode ter iniciado o processo. A essa altura, sem informações oficiais, não há como especular o que houve exatamente e quais as possibilidades de trazê-lo de volta a um estado nominal.

A primeira indicação de problema veio dos EUA, quando, por volta das 11h55 (de Brasília) desta terça-feira (2), o grupo USA Satcom tuitou: “Passagem do Amazônia-1 na banda S. Parece estar capotando… talvez não tão bom para banda X” (indicando que a rotação poderia dificultar a captação).

Até aí, poderia ser um problema do receptor ou uma coincidência em que um teste de reorientação do satélite estivesse ocorrendo naquele momento. Só que, quase sete horas depois, às 18h14, da Itália, o rastreador indicado como supertracker fez o mesmíssimo diagnóstico: “Passagem do Amazônia-1. Recebido em banda S e em banda X. Nada na banda X e um sinal de capotamento na banda S.”

Projetado para tirar fotos do solo com resolução de 64 metros por pixel, o Amazônia-1 precisa estar estabilizado, com a câmera apontada adequadamente, para realizar seu trabalho. Se estiver mesmo capotando, e isso não puder ser revertido, a missão pode muito bem estar diante de seu precoce final. Torçamos para que não.

A iniciativa, sonhada há três décadas e realizada nos últimos 13 anos, custou R$ 380 milhões, incluindo o lançamento com os indianos. Além de ser o primeiro satélite de imageamento da Terra 100% nacional, é o primeiro uso da Plataforma Multimissão, desenvolvida pelo Inpe para baratear o custo de futuras espaçonaves.

Siga o Mensageiro Sideral no FacebookTwitterInstagram e YouTube

]]>
0
Da Índia, Brasil lança seu 1º satélite de observação da Terra, Amazônia-1 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/02/28/da-india-brasil-lanca-seu-1o-satelite-de-observacao-da-terra-amazonia-1/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/02/28/da-india-brasil-lanca-seu-1o-satelite-de-observacao-da-terra-amazonia-1/#respond Sun, 28 Feb 2021 06:37:46 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/02/PSLV-DL-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9824 O Brasil já tem seu primeiro satélite de imageamento da Terra 100% nacional. Lançado por um foguete indiano PSLV (Veículo Lançador de Satélite Polar, na sigla em inglês) na madrugada de domingo (28), o Amazônia-1 entrou em órbita e estabeleceu comunicação com a equipe responsável pela missão, no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, em São José dos Campos (SP).

O sucesso é um marco importante para o combalido programa espacial brasileiro e coroa um trabalho de cerca de três décadas no Inpe, da concepção original ao voo. E, se trinta anos soa como um intervalo absurdamente longo para um projeto desse tipo, é porque é mesmo. A boa notícia é que uma missão espacial nunca é simples, e até agora tudo parece ter dado certo.

Lançado à 1h54 (de Brasília), a partir do Centro Espacial Satish Dhawan, no sul da Índia, o Amazônia-1 foi colocado, 17 minutos depois, numa órbita polar (que circula a Terra sobrevoando os polos) com altitude de 760 km.

Equipado com uma câmera de campo amplo capaz de registrar imagens que cobrem uma largura de cerca de 860 km com resolução de aproximadamente 60 metros, ele agora fará companhia no espaço aos satélites Cbers-4 e 4A, construídos em parceria por Brasil e China. O feito eleva para três o número de equipamentos de observação da Terra nacionais em operação. A vida útil mínima do Amazônia-1 é estimada em quatro anos, e o custo do projeto, incluindo lançamento, é de R$ 380 milhões.

Para além de ser o primeiro satélite de observação terrestre totalmente brasileiro, esta é a missão de validação da Plataforma Multimissão (PMM), projeto do Inpe que tem por objetivo criar uma estrutura “genérica” para satélites, com todos os subsistemas essenciais do ponto de vista de engenharia, deixando espaço para a instalação de diferentes instrumentos para propósitos variados.

Um sonho antigo, por exemplo, era usar o mesmo modelo de plataforma do Amazônia-1 em um satélite astronômico, voltado para observações de raios X. A missão chegou a ser formatada no instituto, mas nunca apareceram os recursos para torná-la realidade. E a essa altura, com tanto tempo de desenvolvimento, a PMM já nasce “velha” em termos tecnológicos. Pior ainda, não existem grandes perspectivas imediatas de novas missões.

Até há planos para dois satélites da série Amazônia (1A e 2), mas não se vê perspectiva de financiamento para que eles possam iniciar seu ciclo de desenvolvimento. Outras propostas para a PMM são ainda mais remotas.

Com a iminente reformulação do PNAE (Programa Nacional de Atividades Espaciais) para a próxima década, devemos ter uma noção mais clara do que se pode ambicionar. Mas não há razões para otimismo. O maior perigo agora, com o crescimento explosivo do déficit público e a miopia estratégica em governos recentes ao desinvestir pesadamente em ciência e tecnologia, é o Amazônia-1 acabar tendo de mudar de nome para Amazônia-Único.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

Siga o Mensageiro Sideral no FacebookTwitterInstagram e YouTube

]]>
0
Tomografia 3D criada por brasileiros pode ajudar a caçar fósseis de Marte https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/05/18/tomografia-3d-criada-por-brasileiros-pode-ajudar-a-cacar-fosseis-de-marte/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/05/18/tomografia-3d-criada-por-brasileiros-pode-ajudar-a-cacar-fosseis-de-marte/#respond Mon, 18 May 2020 09:00:00 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2020/05/Fig2cy.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9311 Um grupo internacional de pesquisadores, liderado por brasileiros, acaba de desenvolver um método para investigar microfósseis no interior de rochas sem destruí-los, criando uma nanotomografia 3D de sua estrutura. Os cientistas esperam futuramente usar a técnica para a busca por sinais de vida em amostras vindas de Marte.

O trabalho tem como primeira autora Lara Maldanis, pesquisadora do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), órgão do CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais), localizado em Campinas (SP). Ela atualmente faz pós-doutorado na Universidade de Grenoble, França. O artigo descrevendo os resultados foi publicado na edição desta semana do periódico Scientific Reports.

Os pesquisadores trabalharam com uma amostra da Formação Gunflint, no Canadá. “É um verdadeiro ícone no estudo da vida antiga na Terra”, conta Maldanis. Trata-se de uma das regiões mais bem documentadas de fósseis antigos, remontando a uma época em que a Terra era habitada tão somente por microorganismos simples, como bactérias e arqueias.

A técnica envolve recortar um pequeno pedaço da rocha, contendo as estruturas de interesse, na forma de um tubinho de apenas 25 micrômetros (milésimos de milímetro), e então submetê-lo a uma varredura de raios X gerados por uma fonte de luz síncrotron (os pesquisadores usaram a da SLS, Fonte de Luz Suíça, no Instituto Paul Scherrer, em Viligen).

O resultado é uma nanotomografia computadorizada de raios X que produz uma imagem 3D do que restou de células bacterianas que viveram há bilhões de anos. No caso em questão, 1,88 bilhão de anos. “A técnica nos permite ver a célula por todos os ângulos, e isso é muito importante quando se tenta diferenciar uma bactéria fóssil, que às vezes não passa de uma minúscula esfera ou filamento sem nenhuma ornamentação, de cristais ou simples aglomerados de matéria orgânica”, diz Maldanis.

Fotografia da amostra (a) e resultado da nanotomografia 3D, na mesma orientação do que se vê na foto (b) e em outros ângulos (c e d). A barra de escala tem 5 micrômetros. (Crédito: Maldanis et al.)

Até então, a única técnica capaz de produzir algo parecido envolvia microscopia eletrônica de varredura, com um agravante: “Para poder ver o fóssil em 3D, era preciso remover camada por camada, destruindo-o completamente”, destaca a pesquisadora. “Nossa técnica, além de não ser destrutiva, tem o adicional de ter um ótimo contraste para a matéria orgânica das células.”

Pelo lado brasileiro, o trabalho tem financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e do Instituto Serrapilheira, no âmbito do projeto de astrobiologia liderado por Douglas Galante, pesquisador do LNLS (CNPEM). E a expectativa, claro, é que esse seja apenas o começo. Com a técnica devidamente demonstrada, os pesquisadores esperam explorar outras amostras e explorar algumas das questões que perturbam os estudiosos dos primeiros passos da vida na Terra.

“Agora temos convicção de que essa técnica poderá contribuir muito em algumas discussões muito interessantes”, diz Maldanis. “Gostaríamos muito de testar, por exemplo, os microfósseis de Apex Chert, na Austrália, descritos como os fósseis mais antigos da Terra, mas que são alvo de discussão e controvérsia há mais de 20 anos!”

E por que parar em amostras terrestres? O grupo tem esperança de aplicar o método, por exemplo, em alguma amostra do famoso meteorito ALH84001, proveniente de Marte. Pesquisadores da Nasa, em 1996, disseram ter identificados nanofósseis de possíveis micróbios marcianos nele. Hoje o consenso científico é de que se tratam de estruturas não biológicas, mas os autores da pesquisa até hoje apostam em sua conclusão original e talvez uma técnica mais sofisticada de imageamento possa colocar ponto final à questão, para um lado ou para o outro. Não é fácil a Nasa emprestar um farelinho que seja do ALH84001, mas os pesquisadores brasileiros ainda não desistiram.

E a perspectiva de estudar rochas marcianas ganha contornos ainda mais interessantes conforme as agência espaciais começam a por em marcha um plano para trazer novas amostras de Marte. O jipe Perseverance, que parte em julho, tem como um de seus objetivos colher amostras de interesse, para futuro envio de volta à Terra. “Queremos mostrar com esse trabalho, e os que ainda virão, que um síncrotron pode ser o melhor lugar para estudá-las”, diz Maldanis. “E quem sabe até, se não for sonhar muito, algumas dessas análises não possam ser feitas no nosso Sirius [novo acelerador de luz síncrotron em construção no LNLS]?”

Siga o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube

]]>
0
Polo norte magnético sai do Canadá e se desloca na direção da Rússia https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/01/06/polo-norte-magnetico-sai-do-canada-e-se-desloca-na-direcao-da-russia/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/01/06/polo-norte-magnetico-sai-do-canada-e-se-desloca-na-direcao-da-russia/#respond Mon, 06 Jan 2020 05:00:07 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2020/01/wmm-1200x480-v2-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9167 Até quem estuda em livro didático que não tem muita coisa escrita sabe que as bússolas, guiadas pelo campo magnético terrestre, apontam para o norte. Mas para onde no norte? Já foi no Canadá, mas agora, após um rápido e inesperado deslocamento nos últimos anos, agora está mais para a Rússia. E um novo modelo produzido em cooperação por americanos e britânicos ajuda o mundo todo a se adaptar ao movimento do polo norte magnético.

Ao contrário dos polos geográficos (pontos em torno dos quais a Terra gira), que se movem quase nada (o eixo de rotação em si faz um bamboleio, mas o local do planeta em que se localiza o eixo em si não muda, salvo ao longo de muitos milhões de anos), os polos magnéticos se deslocam com mais facilidade.

Já se sabe disso desde o século 19, mas houve uma surpresa nos anos 1990, quando a velocidade de deslocamento saiu de modestos 15 km por ano para 55 km anuais (e então deu uma maneirada, para cerca de 40 km por ano). Em 2018, o polo norte magnético cruzou a linha internacional de mudança de data e foi parar no Oriente. E agora se aproxima do norte da Rússia.

A mudança obriga a atualizações constantes do modelo do campo magnético terrestre, importantes para manutenção de satélites em órbita, preservação da precisão de GPS e estudos de mineração, entre outras aplicações relevantes.

Daí a divulgação, em dezembro, do Modelo Magnético Mundial 2020, produzido em parceria pela Agência Nacional de Inteligência Geoespacial dos EUA e pelo Centro Geográfico de Defesa do Reino Unido. A ideia é que esse modelo, de uso livre e gratuito, esteja disponível até o final de 2024, quando deverá ser novamente atualizado.

Ter um campo magnético é uma das coisas que faz da Terra um lugar especial. Originado na região mais externa do núcleo do nosso planeta, ele é resultado do fluxo de correntes elétricas em meio ao ferro semiderretido que existe lá embaixo. As correntes elétricas acabam agindo como um ímã gigante, gerando um campo em torno do planeta que o protege das partículas potencialmente perigosas do vento solar.

Compreendê-lo é essencial. Sabe-se, pelo registro geológico, que ele se inverte de tempos em tempos (norte vira sul, sul vira norte). Mas ninguém sabe prever quando isso acontece, e nos últimos 5 milhões de anos o período atual é o mais longo. Faz uns 780 mil anos que ele está lá pelos lados da casa do Papai Noel.

A aceleração recente do deslocamento polar fez com que alguns pensassem que estamos prestes a encarar uma nova inversão. A imensa maioria dos pesquisadores, contudo, considera isso extremamente improvável até o momento. Por ora, e pelo futuro previsível, as bússolas devem continuar apontando para o norte.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

Siga o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube

]]>
0
Para além da Terra e da Lua https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/02/07/para-alem-da-terra-e-da-lua/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/02/07/para-alem-da-terra-e-da-lua/#respond Thu, 07 Feb 2019 16:19:59 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/feb4-fixed-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8621 Não há nada de rigorosamente novo, mas é sempre uma visão bonita: um satélite chinês capturou uma bela visão do lado afastado da Lua, em primeiro plano, e a Terra, ao fundo.

A imagem foi capturada pelo microssatélite LongJiang 2, que foi colocado em órbita lunar no mesmo lançamento que levou o satélite de telecomunicação Queqiao, que permite contato entre a missão Chang’e-4 e o jipe Yutu-2, no lado afastado lunar, e a Terra. Para isso, ele precisa ter uma visão desimpedida tanto de um como de outro corpo celeste.

Repare que tanto Lua quanto Terra estão “cheias”, o que significa que do nosso ponto de vista, por aqui, a Lua estava em sua fase nova (o lado próximo estava completamente obscurecido). A foto foi registrada em 3 de fevereiro de 2019, e a América do Sul figura na imagem do pequeno globo azul e branco.

A imagem foi obtida com uma câmera de baixa resolução (640×480) instalada no satélite experimental, e não é nem a mais bonita, nem a mais impressionante das imagens do tipo. Mas é a mais recente e nos ajuda a lembrar da solidão de nosso pequeno planeta em meio ao imenso vazio interplanetário.

Para outras visões semelhantes, relembre a imagem da C5-T1, também chinesa, em 2014, e a da câmera EPIC, da Nasa, a bordo do satélite Dscovr, em 2015.

Siga o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube

]]>
0
Satélite de observação põe Peru no mapa https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/12/10/satelite-de-observacao-poe-peru-no-mapa/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/12/10/satelite-de-observacao-poe-peru-no-mapa/#respond Mon, 10 Dec 2018 04:00:26 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/perusat-1-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8429 É aquela história que a gente sempre ouve por aí: para que investir no espaço quando há tantos problemas para resolver aqui embaixo? Essa ladainha foi muito repetida no Peru desde 2014, quando o governo peruano fechou um acordo de € 150 milhões (R$ 667 milhões nos valores de hoje) para adquirir um satélite de observação da Terra, o PerúSAT-1.

O pacotaço comprado da empresa francesa Airbus incluiu satélite, lançamento, centro de recepção e processamento das imagens, treinamento e suporte, e o lançamento aconteceu em Kourou, na Guiana Francesa, em 2016.

Na semana passada, a agência espacial peruana (Conida) promoveu um workshop internacional para discutir os resultados após dois anos de operações do PerúSAT-1, a que compareci a convite da Airbus e da Conida. O satélite de 430 kg está numa órbita polar de 694 km de altitude, e de lá, com seu telescópio, pode tirar fotos de qualquer lugar da Terra com resolução de 70 cm por pixel.

Não subestime esse número. Ninguém na América Latina tem à disposição um satélite tão poderoso. E, pelo que se vê nas apresentações, os peruanos têm explorado bem o potencial. “Estamos numa nova era”, resumiu o general Carlos Caballero, chefe institucional da agência peruana.

As imagens têm sido usadas por múltiplas instituições públicas para aperfeiçoar mapas cartográficos e lidar com desastres naturais, como as enchentes ocasionadas pelo “El Niño costeiro” que afetou o Peru no ano passado. As imagens também dão suporte a atividades tão díspares quanto vigilância do desmatamento da Amazônia peruana, apoio à agricultura, descoberta de focos de mineração ilegal e fiscalização de obras.

O sítio arqueológico de Machu Picchu, no Peru, visto do espaço pelo satélite PerúSAT-1. (Crédito: Ministerio de Defensa del Perú)

Aí você diz: não seria mais barato simplesmente comprar imagens de algum fornecedor, em vez de ter um satélite próprio? Bem, o Peru fazia isso até então, a um custo médio anual de cerca de € 2 milhões (R$ 8,9 milhões), por umas dez imagens. Agora, o país tem mais de 30 mil imagens por ano, e o satélite, uma vida útil de pelo menos 10 anos. Faça as contas.

Isso sem falar no incremento à relevância geopolítica do país, que já fechou acordo para intercambiar imagens com a Coreia do Sul e está em conversas com o Brasil para ceder imagens em troca de uso do SGDC-1, o satélite brasileiro de telecomunicações.

O governo peruano estima que, em um ano de operação, o PerúSAT-1 recuperou todo o custo e agora já opera no azul. É daqueles exemplos de livro didático que explicam a correlação clara, mas misteriosamente tão difícil de assimilar, entre desenvolvimento econômico e investimento espacial.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

Siga o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube

]]>
0
Dia terrestre só tinha 18 horas há 1,4 bilhão de anos https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/06/05/um-dia-na-vida-da-terra-ha-14-bilhao-de-anos-so-tinha-18-horas-e-40-minutos/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/06/05/um-dia-na-vida-da-terra-ha-14-bilhao-de-anos-so-tinha-18-horas-e-40-minutos/#respond Tue, 05 Jun 2018 09:00:56 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/61_earth_moon_galileo-320x213.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7773 Se você hoje em dia não tem tempo para nada, saiba que a sua sorte é não ter nascido 1,4 bilhão de anos atrás. Naquela época, o dia na Terra durava apenas pouco mais de 18 horas.

Este é um dos resultados obtidos por um novo estudo que faz uma impressionante combinação de geologia com astronomia para desvendar os segredos do passado remoto do Sistema Solar. Stephen Meyers, da Universidade de Wisconsin-Madison, e Alberto Malinverno, da Universidade Columbia, ambas nos EUA, publicaram seus resultados na PNAS, a revista da Academia Nacional de Ciências americana.

Sabe-se há bastante tempo que a Lua está gradualmente se afastando da Terra e que, ao mesmo tempo, a gravidade exercida por nosso satélite natural vem freando gradualmente a velocidade de rotação do planeta — os dias vêm ficando um tantico de nada mais longos com o passar dos tempos, e por isso de vez em quando o pessoal adiciona um segundo a mais no último dia do ano, para reajustar tudo.

Também sabemos que certos padrões orbitais repetitivos envolvendo os mundos mais internos do Sistema Solar influenciam a órbita e o eixo de rotação terrestres, com isso alterando o clima — são os chamados ciclos de Milankovitch, que podem explicar mudanças ambientais ocorridas em escalas que vão de milhares e centenas de milhares de anos.

(Para mudanças climáticas como as que estão acontecendo agora, medida em décadas ou menos, só mesmo uma grande catástrofe ambiental, como a alteração radical do nível de radiação solar, o impacto de um asteroide, supervulcanismo ou a ação de uma espécie inteligente viciada em petróleo.)

É possível explicar por modelos astronômicos a periodicidade do ciclos de Milankovitch, assim como encontrar evidências geológicas deles ao estudar amostras de formações rochosas cuja idade se conhece. Contudo, existe um limite para o quanto essas duas estratégias podem mergulhar nas brumas do passado. Mesmo um sistema planetário “ordeiro” como o nosso deve sofrer variações que vão além do previsível em escalas de tempo que ultrapassam os 50 milhões de anos. E nem sempre se pode datar com precisão amostras de rocha ou encontrar parâmetros seguros ligados às condições ambientais do nosso planeta na época em que elas foram formadas.

O segredo do sucesso no trabalho de Meyers e Malinverno foi combinar as duas estratégias num único modelo integrado de análise estatística, com isso reduzindo significativamente as incertezas.

Para o estudo, os pesquisadores se concentraram em amostras da Formação Xiamaling, na China, que sabidamente têm 1,4 bilhão de anos, e da Cadeia Walvis, no Atlântico Sul, com idade de 55 milhões de anos — esta última só um cadinho fora do que modelos puramente astronômicos podem prever com segurança.

Jogando os dados todos em seu modelo estatístico, eles obtiveram, como seria de se esperar, parâmetros muito próximos dos atuais para a mais recente das medidas. Um dia há 55 milhões de anos durava aproximadamente 23 horas e 48 minutos. Hoje, uma rotação completa da Terra dura 23 horas e 56 minutos (o chamado dia sideral, medido com relação às estrelas distantes; se medirmos com relação ao Sol, levando em conta a translação do planeta, chegamos às familiares 24 horas). De forma correspondente, a Lua estava mais perto, a uma distância média de 383,1 mil km. Hoje, a distância média é de 384,4 mil km.

Quando o assunto é a Formação Xiamaling, de 1,4 bilhão de anos, a mudança é bem mais radical. De acordo com os pesquisadores, a Lua estava a 340,8 mil km nessa época, e o dia terrestre era de modestas 18 horas e 40 minutos.

Além de reduzir enormemente as incertezas (tanto na idade das amostras como de parâmetros astronômicos, como a posição da Lua), o modelo ajuda a desvendar o passado dinâmico do Sistema Solar. Afinal, os ciclos de Milankovitch, que podem ser determinados no passado geológico com mais precisão graças a essa redução das barras de erro das medidas, estão associados às interações gravitacionais dos cinco planetas mais internos (de Mercúrio a Júpiter).

O estudo também corrobora a noção de que a taxa de dissipação da velocidade da rotação terrestre vem crescendo com o passar do tempo. Modelos que usam a taxa atual para projetar épocas passadas indicam que a Lua estaria a meros 270 mil km da Terra há 1,4 bilhão de anos. A nova estimativa a coloca bem mais distante, a 340 mil km, o que está corrobora certos modelos dinâmicos da interação Terra-Lua.

E o mais legal disso tudo é que se trata apenas de um aperitivo, com duas únicas formações rochosas. “A aplicação dessa metodologia a registros sedimentares que se estendem por toda a história da Terra facilitarão a calibração da escala de tempo geológico, circunscreverão a história do sistema Terra-Lua no passado distante e são promissoras na reconstrução da evolução das frequências orbitais fundamentais do Sistema Solar ao longo de bilhões de anos”, escrevem os autores.

Siga o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube

]]>
0