Mensageiro Sideral https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br De onde viemos, onde estamos e para onde vamos Sat, 04 Dec 2021 19:09:39 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Novo estudo esquenta discussão sobre a habitabilidade das nuvens de Vênus https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/07/04/novo-estudo-esquenta-discussao-sobre-a-habitabilidade-das-nuvens-de-venus/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/07/04/novo-estudo-esquenta-discussao-sobre-a-habitabilidade-das-nuvens-de-venus/#respond Mon, 05 Jul 2021 02:15:38 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/04/Snapshot-47-320x213.png https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=10010 Um novo estudo sugere que as nuvens de Vênus, a despeito de terem temperatura e pressão adequadas para a vida, provavelmente não abrigam microrganismos. O motivo? Falta água. O novo trabalho é liderado por John Hallsworth, da Universidade da Rainha em Belfast, no Reino Unido, e Chris McKay, do Centro Ames de Pesquisa da Nasa, e foi publicado na última edição da Nature Astronomy.

É mais uma pesquisa que mostra como o interesse por nosso planeta vizinho mais próximo (e completamente inóspito à superfície, com temperaturas de 460° C) se reacendeu em tempos recentes, sobretudo após a detecção de fosfina (possível, ainda que não provável, marcador biológico nas nuvens venusianas) pelo grupo de Jane Greaves, da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, no ano passado. No mês passado, Nasa e ESA anunciaram novas missões direcionadas a Vênus para os próximos anos.

Muito do interesse é a perspectiva de que aquele mundo pode ter sido plenamente habitável, com oceanos e tudo mais, no passado remoto. Num ambiente assim, a vida teria condições para surgir. Conforme o planeta se ressecou, microrganismos poderiam ter estabelecido morada definitiva nas nuvens da alta atmosfera, onde as condições são mais aprazíveis, ainda que extremamente ácidas e com pouquíssima água. É aí que entra o estudo da equipe de Hallsworth e McKay.

Baseados em princípios químicos básicos, envolvendo composição, temperatura e pressão da atmosfera, os pesquisadores exploraram um índice conhecido como “atividade da água”, que contrasta a pressão parcial de vapor d’água em uma solução com um valor padrão. O grupo calculou a atividade da água nas soluções de ácido sulfúrico das nuvens de Vênus e concluiu que ela fica em 0,004, menos de um centésimo da requerida pelas formas de vida mais extremas da Terra nesse quesito, 0,585.

Isso levou os autores a tratar a questão de forma categórica, proclamando as nuvens venusianas “inabitáveis”. Outros especialistas, contudo, pedem cautela. O problema não são os resultados, e sim as premissas que levam a eles. “O trabalho é sólido no sentido de que os cálculos parecem ter sido feitos corretamente”, diz David Grinspoon, astrobiólogo da Universidade do Colorado (EUA). “Entretanto, as conclusões do estudo são excessivamente confiantes, porque sabemos menos sobre a atmosfera de Vênus e sobre a natureza da vida do que os autores pressupõem.”

Grinspoon aponta que há indícios não só de que as nuvens venusianas não sejam só ácido sulfúrico com um pinguinho de água, como o trabalho supõe, mas também de que elas não sejam homogêneas, oferecendo ambientes bem diferentes do que sugeriria uma média simplificada. Em suma, faltam dados.

Diante disso, como resolver a questão? Só tem um jeito: teremos mesmo de fazer mais observações e mandar novas sondas até lá para colher mais dados.

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Nasa anuncia duas novas missões a Vênus, com dois orbitadores e uma sonda atmosférica https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/06/02/nasa-anuncia-duas-novas-missoes-a-venus-com-dois-orbitadores-e-uma-sonda-atmosferica/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/06/02/nasa-anuncia-duas-novas-missoes-a-venus-com-dois-orbitadores-e-uma-sonda-atmosferica/#respond Wed, 02 Jun 2021 20:13:05 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/06/veritas-davinci-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9990 Agora é oficial: após mais de três décadas de abandono, a Nasa está voltando ao planeta Vênus, com duas missões robóticas. Chamadas DaVinci+ e Veritas, elas representam as primeiras investidas da agência espacial americana no segundo mundo a contar do Sol, nosso vizinho planetário mais próximo, desde a missão Magellan (Magalhães), lançada em 1989 e encerrada em 1994.

Vênus tem tamanho parecido com a Terra, mas sofre com uma atmosfera cem vezes mais densa e um efeito estufa acachapante, que eleva a temperatura média do planeta a 460 graus Celsius. Ele é meio como o “gêmeo malvado” do nosso mundo, e um lembrete desconfortável do que pode dar errado com planetas que, em outros aspectos, são bem similares ao nosso.

Contudo, nem sempre a história foi essa. É bem possível que, no começo, 4 bilhões de anos atrás, quando o Sistema Solar era jovem, Vênus fosse mais amigável, talvez abrigando até mesmo oceanos. A missão DaVinci+, com seu orbitador, estudará a atmosfera venusiana justamente atrás de pistas da existência pregressa desses mares hoje desaparecidos.

O projeto também contará com uma sonda atmosférica, que atravessará o invólucro de gases que envolve Vênus e investigará sua composição. O interesse por esses resultados, bem como os obtidos em órbita, cresceu em tempos recentes, depois que um grupo da Universidade de Cardiff apresentou, no ano passado, evidências de que um composto chamado fosfina pudesse estar presente nas nuvens venusianas, a uma altitude em que a pressão atmosférica e a temperatura são amenas. A detecção, bem como seu significado, ainda são muito debatidos pela comunidade de astrobiologia, mas há quem acredite que possam ser sinais de vida microbiana ainda hoje proliferando no ar venusiano.

Já a outra missão escolhida, Veritas, é um orbitador equipado com um poderoso radar para investigar a superfície venusiana e suas estruturas geológicas. Ele deve repetir o esforço de mapeamento realizado pela Magellan, mas desta vez com resolução bem maior. (Vale lembrar que Vênus é totalmente recorberto, o tempo todo, por nuvens espessas, de modo que o único meio de mapear a superfície em alta resolução a partir da órbita é com sistemas de radar.)

As duas missões foram selecionadas como parte do programa Discovery, que a Nasa promove para realizar sondas interplanetárias com objetivos restritos e custo mais modesto. Seu orçamento, fora o lançamento, não pode exceder US$ 500 milhões. Vale comparar com o rover marciano Perseverance, que custou à agência, no total, US$ 2,8 bilhões, numa missão classificada como Flagship (capitânia).

É a segunda vez que ambas chegam à fase final do processo seletivo; na rodada passada, em 2017, as duas acabaram preteridas por missões destinadas a asteroides (Lucy e Psyche, que devem voar em 2021 e 2022). Na concorrência, elas bateram outras duas propostas, o orbitador IVO, destinado à lua Io, de Júpiter, e a missão Trident, que faria um sobrevoo de Tritão, a maior das luas de Netuno. (Na primeira fase de seleção, em 2020, o Mensageiro Sideral apostou que pelo menos uma venusiana ia ganhar.)

A Nasa diz que os lançamentos devem ocorrer entre 2028 e 2030. Ainda está longe. Mas o fato é que a agência volta seu olhar para Vênus, depois de longas décadas. Depois da Magellan, o planeta recebeu os orbitadores Venus Express (da ESA, Agência Espacial Europeia), lançada em 2005 e destruída em 2015, e Akatsuki (da Jaxa, japonesa), lançada em 2010 e ainda operacional, embora em uma órbita que limita seus resultados científicos. Isso além de visitas ocasionais de espaçonaves de passagem, como a BepiColombo, cujo destino final é Mercúrio, mas fez um sobrevoo de Vênus no ano passado e fará outro neste ano.

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Reanálise de dados de sonda de 1978 reafirma fosfina nas nuvens de Vênus https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/03/28/reanalise-de-dados-de-sonda-de-1978-reafirma-fosfina-nas-nuvens-de-venus/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/03/28/reanalise-de-dados-de-sonda-de-1978-reafirma-fosfina-nas-nuvens-de-venus/#respond Mon, 29 Mar 2021 02:15:55 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/03/Pasted-Image-36-320x213.png https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9876 A história da fosfina em Vênus ganha mais um empolgante capítulo. Um quarteto de cientistas nos EUA reanalisou dados de uma antiga espaçonave americana dedicada ao estudo do planeta vizinho e diz ter encontrado evidências de moléculas em desequilíbrio químico nas nuvens de média altitude venusianas, dentre elas a bendita fosfina.

Cabe uma recapitulação, para quem chegou de Marte ontem. Em setembro de 2020, um grupo liderado por Jane Greaves, da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, indicou ter detectado 20 partes por bilhão de fosfina na atmosfera venusiana, a partir de dados colhidos pelo Telescópio James Clerk Maxwell, no Havaí, e pelo conjunto Alma, no Chile.

De acordo com os pesquisadores, a quantidade identificada não seria explicada por qualquer processo conhecido em Vênus. E, aqui na Terra, a fosfina é majoritariamente produto de metabolismo de microrganismos. Greaves e seus colegas jamais chegaram a soletrar “vida venusiana”, mas a implicação era clara.

Como acontece na ciência, qualquer descoberta anunciada passa pelo escrutínio do resto da comunidade. E aí começou a série de embaraços. O grupo de Cardiff recebeu críticas de todo lado, desde terem feito um processamento “maleável” dos dados para se encaixar à detecção até terem confundido o sinal do comum dióxido de enxofre com o da fosfina.

Para piorar tudo, descobriu-se que os dados do Alma passaram por um processamento errôneo (por culpa da própria equipe que opera o conjunto de radiotelescópios no Chile). Ao passar por uma recalibração, o sinal da fosfina ainda se mantinha, segundo a equipe da descoberta original, mas em quantidade bem menor – e mais facilmente explicável por mecanismos não biológicos.

Agora entre em cena mais uma peça do quebra-cabeça. Em artigo publicado no periódico Geophysical Research Letters, o grupo de Rakesh Mogul, da Universidade Politécnica Estadual da Califórnia, reanalisa dados do espectrômetro de massa da espaçonave americana Pioneer Venus.

Além de um orbitador, essa missão de 1978 contou com sondas que entraram na atmosfera venusiana colhendo dados, em 9 de dezembro daquele ano. O espectrômetro de massa colheu amostras do ar e as analisou.

Pouca atenção se deu então aos gases-traço, presentes em quantidade mínima na atmosfera. O que levou à reanálise agora, concentrando-se numa altitude entre 64,1 e 51,3 km. E aí surgiram potenciais evidências de fosfina.

Os dados também sugerem presença de sulfeto de hidrogênio, ácido nitroso, ácido nítrico, cianeto de hidrogênio e possivelmente amônia. E os pesquisadores lembram que várias dessas moléculas têm papel importante, na Terra, no ciclo do nitrogênio, fundamental para a vida por aqui. O próximo passo? Os pesquisadores querem mais dados in situ, e lembram que a missão DaVinci+, em estudo pela Nasa, seria um excelente passo na direção dessa meta.

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Dois estudos colocam em xeque detecção de fosfina na atmosfera de Vênus https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/10/25/dois-estudos-colocam-em-xeque-deteccao-de-fosfina-na-atmosfera-de-venus/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/10/25/dois-estudos-colocam-em-xeque-deteccao-de-fosfina-na-atmosfera-de-venus/#respond Mon, 26 Oct 2020 02:15:40 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2015/02/venus-pioneer-venus-167x180.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9616 A fosfina venusiana pode estar subindo no telhado. Dois estudos recém-apresentados, realizados por grupos independentes, colocam sérias dúvidas sobre a detecção do composto na alta atmosfera do planeta vizinho.

A potencial descoberta, baseada principalmente nos dados do conjunto de radiotelescópios Alma, no Chile, foi apresentada com toda pompa e circunstância em setembro pela equipe de Jane Greaves, da Universidade de Cardiff, no Reino Unido.

Os pesquisadores indicaram, em artigo publicado na Nature Astronomy, que a presença do composto, estimada em 20 partes por bilhão, não podia ser explicada por processos químicos conhecidos, avançando a hipótese de que talvez fossem indícios de vida microbiana nas nuvens venusianas.

Quase de imediato surgiram estudos alternativos para explicar por mecanismos geológicos, principalmente vulcanismo, a presença da fosfina, que aqui na Terra é associada à ação de bactérias anaeróbicas. Mas as coisas agora dão um passo além: dois estudos independentes sugerem que a detecção da fosfina pode não ter passado de um erro.

Primeiro, veio o resultado submetido por um grupo internacional no dia 15 de outubro. O trabalho deles envolveu tentar encontrar os sinais da fosfina em outras faixas de radiação infravermelha, fora da parte do infravermelho distante, que foi observada com o Alma.

Em artigo já aceito para publicação no Astronomy & Astrophysics, a equipe liderada por Thérèse Encrenaz, do Observatório de Paris, indicou não ter achado nada. Isso não quer dizer que a fosfina não esteja lá, mas impõe limites estritos para a quantidade que pode estar presente. Segundo eles, com confiança superior a 99,7%, não pode haver mais que 5 partes por bilhão de fosfina no ar venusiano. É um quarto do valor indicado pela equipe de Greaves.

A coisa ficou ainda mais complicada, contudo, no dia 19 de outubro, quando um grupo liderado por Ignas Snellen, da Universidade de Leiden, na Holanda, lançou no repositório de pré-prints arXiv uma reanálise dos dados colhidos originalmente pela equipe de Greaves com o Alma.

O trabalho indicou que o método de processamento usado pelo estudo original, com os chamados polinômios de de ordem 12, leva a resultados espúrios. Indo mais adiante, eles dizem que só conseguiram ver um único sinal similar ao da fosfina, mas a um nível de confiança baixo demais para que tivesse significância. E concluem dizendo que os dados publicados do Alma não fornecem evidência estatística de fosfina na atmosfera de Vênus.

O trabalho foi submetido para publicação no Astronomy & Astrophysics e acabou seguido por um movimento estranho por parte do próprio Alma, que recolheu os dados de seu banco público alegando problemas de controle de qualidade. O desfecho da história ainda é desconhecido, e as observações da sonda BepiColombo (que passou por Vênus no último dia 15 e o fará novamente no ano que vem) se tornam ainda mais importantes diante desse impasse. Talvez a fosfina venusiana não tenha passado de uma miragem.

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Vulcanismo pode explicar fosfina na atmosfera de Vênus, sugerem cientistas https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/10/04/vulcanismo-pode-explicar-fosfina-na-atmosfera-de-venus-sugerem-cientistas/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/10/04/vulcanismo-pode-explicar-fosfina-na-atmosfera-de-venus-sugerem-cientistas/#respond Mon, 05 Oct 2020 02:15:34 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2020/10/Snapshot-646-320x213.png https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9577 Uma dupla de pesquisadores da Universidade Cornell, nos EUA, precisou de apenas uma semana para propor um modo de explicar a presença do gás fosfina na alta atmosfera de Vênus sem evocar a presença de vida. Para Ngoc Truong e Jonathan Lunine, a detecção pode significar não que Vênus tenha micróbios, mas que seja um planeta geologicamente vivo, ou seja, repleto de atividade vulcânica.

Recuperando a saga: no dia 14 de setembro, um grupo internacional de pesquisadores liderado por Jane Greaver, da Universidade de Cardiff, no Reino Unido apresentou a detecção de fosfina (uma molécula simples, com três átomos de hidrogênio e um de fósforo) nas nuvens venusianas.

Isso, de acordo com eles, poderia ser um sinal de vida na alta atmosfera de Vênus, uma vez que esse gás, na Terra, é produzido rotineiramente por seres vivos. O grupo testou diversas hipóteses alternativas, sem envolver vida, e não encontrou outro meio de explicar a presença do gás detectada de forma mais ou menos constante, em observações feitas em 2017, com o Telescópio James Clerk Maxwell (no Havaí), e em 2019, com o conjunto de radiotelescópios Alma (no Chile).

A despeito do material exaustivo publicado pelos pesquisadores, era bola cantada que não tardariam a aparecer hipóteses alternativas. Truong e Lunine submeteram ao periódico Astrobiology sua explicação vulcânica para a fosfina em 21 de setembro.

A dupla da Universidade Cornell levanta a possibilidade de que a fosfina seja produzida pela interação de fosfetos ejetados do interior do planeta por erupções vulcânicas com o hidrogênio da água e do ácido sulfúrico na atmosfera.

De fato, magma terrestre, quando ejetado para a superfície na forma de lava, contém fosfetos. Os pesquisadores modelaram a quantidade necessária para gerar a fosfina na alta atmosfera, detectada numa proporção de 20 partes por bilhão, e constataram que seria possível chegar a algo assim se Vênus estivesse produzindo 93 quilômetros cúbicos de lava por ano. É um bocado. A média da Terra, para efeito de comparação, é de 20 a 25 quilômetros cúbicos por ano. Mas, quando há grandes erupções, pode passar bem disso.

Até o final do século 20, esperava-se apenas modestíssima atividade vulcânica em Vênus, com produção média de 3 quilômetros cúbicos de lava por ano – muito aquém do necessário para explicar a detecção. Mas as evidências vêm se acumulando em tempos recentes, graças à missão europeia Venus Express (2005-2015), de que o planeta talvez seja mais ativo do que isso. O quanto exatamente, ninguém sabe. Se o for a ponto de produzir a quantidade de lava necessária, essa pode ser uma explicação muito mais simples para o enigma da fosfina.

O novo artigo ainda precisa passar por revisão por pares e, claro, a palavra final, como sempre em ciência, estará com a natureza. Futuras missões terão de determinar não só se a fosfina está mesmo lá, mas se a hipótese biológica é mesmo a mais razoável para explicá-la. Por ora, o trabalho de Truong e Lunine está disponível como um pré-print no repositório arXiv.

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Sonda de passagem por Vênus tentará confirmar presença de fosfina em outubro https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/09/20/sonda-de-passagem-por-venus-tentara-confirmar-presenca-de-fosfina-em-outubro/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/09/20/sonda-de-passagem-por-venus-tentara-confirmar-presenca-de-fosfina-em-outubro/#respond Mon, 21 Sep 2020 02:15:17 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/1567214315756-BepiColombo_at_Venus_1280-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9565 A detecção de fosfina nas nuvens de Vênus, potencial sinal de vida naquele planeta infernal, pode ganhar confirmação antes do que se imaginava. Pesquisadores ligados à missão nipo-europeia BepiColombo tentarão detectar o composto na alta atmosfera durante um sobrevoo a ser conduzido em menos de um mês, no dia 15 de outubro.

Raras vezes na história da exploração espacial tivemos uma coincidência tão feliz. O trabalho de detecção liderado por Jane Greaver, da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, levou mais de três anos para ser cuidadosamente verificado e apresentado ao público, o que aconteceu só na última segunda-feira (14), com a publicação de um artigo na revista científica Nature Astronomy.

Quis o destino que a BepiColombo, uma missão projetada para investigar a fundo o planeta Mercúrio, fosse passar por Vênus quase exatamente um mês depois. Na verdade, trata-se de uma espaçonave dupla, com um segmento desenvolvido pelos japoneses e outro pelos europeus (que vão se separar ao atingirem seu destino final, em órbita de Mercúrio). Os sobrevoos de Vênus no meio do caminho são usados para ajustar sua trajetória e velocidade a fim de levá-la ao mais interno dos planetas solares.

Um dos instrumentos embarcados no segmento europeu da missão, chamado Mertis, é um radiômetro e espectrômetro de infravermelho que, em princípio, poderia captar a “assinatura” da fosfina na alta atmosfera. Resta saber se a sensibilidade será suficiente, mas ajuda muito que os cientistas da missão saibam o que estão procurando.

No sobrevoo de mês que vem, as chances de sucesso são relativamente modestas. Isso porque a sonda passará a respeitáveis 10 mil km do planeta e, sobretudo, porque as rotinas de observação foram planejadas antes do anúncio da fosfina, de forma que não foram otimizadas para a tentativa de confirmação do resultado obtido aqui na Terra, com o telescópio James Clerk Maxwell e o conjunto de radiotelescópios Alma.

Contudo, a sorte realmente sorriu para a missão, pois haverá um segundo sobrevoo venusiano, em 10 de agosto de 2021, quando a sonda passará a meros 550 km do planeta. Então, mesmo que a primeira passagem não permita a detecção, na segunda os cientistas poderão fazer um esforço concertado e aumentar as chances de sucesso.

Trata-se de uma detecção muito sutil, é verdade, uma vez que estamos falando de uma molécula que deve existir na pequena proporção de 20 partes por bilhão. Ou seja, a cada 1 bilhão de moléculas na atmosfera venusiana, 20 seriam de fosfina.

Em compensação, ter uma confirmação independente de uma sonda nas proximidades de Vênus em apenas um mês (ou um ano, pensando no sobrevoo seguinte) seria fantástico. E, de certo modo, já colocaria o planejamento de futuras missões robóticas em outro patamar: o objetivo não seria mais meramente confirmar a presença da molécula, mas sim determinar o que a está produzindo. Seria vida? Ou algum mecanismo químico ou geológico hoje desconhecido? A resposta se esconde em meio às brumas ácidas da alta atmosfera venusiana. Quem sabe, não por muito tempo.

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Achado de fosfina aumenta interesse por Vênus, e Nasa já planeja novas missões https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/09/14/achado-de-fosfina-aumenta-interesse-por-venus-e-nasa-ja-planeja-novas-missoes/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/09/14/achado-de-fosfina-aumenta-interesse-por-venus-e-nasa-ja-planeja-novas-missoes/#respond Mon, 14 Sep 2020 19:14:31 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2020/02/veritas-venus-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9562 O achado de fosfina – uma potencial bioassinatura – na alta atmosfera de Vênus certamente reacenderá o interesse pela exploração do planeta vizinho mais próximo da Terra.

Para que se tenha uma ideia, temos hoje uma única sonda operacional em órbita de Vênus – a japonesa Akatsuki. Lançada em 2010, ela só conseguiu se inserir ao redor do planeta em 2015, após uma falha na primeira tentativa, e completa uma volta a cada 10 dias. Foi o que deu pra fazer no improviso após a primeira falha na inserção orbital, já que o plano original envolvia uma órbita científica de 30 horas.

Os europeus tiveram uma sonda venusiana, Venus Express, que operou em órbita por 10 anos, entre 2006 e 2015. E os americanos fizeram sua última visita ao gêmeo infernal da Terra entre 1989 e 1994, com o orbitador Magellan (Magalhães). Chega a ser surreal o baixo interesse, dada a alta acessibilidade de Vênus – é mais fácil ir para lá que ir para Marte.

Parte do drama tem a ver com a hostilidade do ambiente. A superfície venusiana é tão inclemente que os únicos a de fato pousarem com sucesso uma sonda por lá foram os soviéticos, com as sondas não tripuladas do programa Venera, e mesmo assim elas duravam apenas um par de horas, antes que fossem destroçadas pelo calor acachapante e pela pressão atmosférica equivalente à de estar sob 1 km de oceano na Terra. E joga contra o fato de que a última sonda russa voou para Vênus em 1986.

Já está mais do que na hora de a comunidade espacial voltar novamente seu olhar para nosso planeta vizinho mais próximo. E a mudança já está a caminho.

Neste momento, a Nasa está em processo de seleção para as próximas missões da classe Discovery, que devem voar entre 2025 e 2026. Das quatro propostas pré-selecionadas em fevereiro deste ano, uma se destina a estudar vulcões em Io, lua de Júpiter, outra a fazer um sobrevoo do remotíssimo Netuno, e duas estão voltadas para Vênus.

Se antes da descoberta da fosfina era improvável que ao menos uma das propostas escolhidas não fosse destinada a Vênus, agora se torna impossível. E não duvide se acabarem escolhendo as duas.

Uma delas, Davinci (é um acrônimo, mas também uma óbvia referência ao famoso renascentista), pretende atravessar a atmosfera venusiana colhendo informações sobre sua composição e ir tirando fotos da superfície até chegar ao chão – no que seria o primeiro pouso suave americano em Vênus. A missão, freada por paraquedas, colheria dados por 63 minutos até chegar ao solo.

A outra proposta, Veritas, seria um novo orbitador, dedicado a estudar, por meio de radar de alta resolução, a superfície venusiana, enxergando através das nuvens.

Do ponto de vista da descoberta da fosfina e da investigação de possíveis sinais de vida nas nuvens de Vênus, Davinci parece mais atraente que Veritas. A escolha final da Nasa será feita em abril de 2021.

Fora isso, a redução do custo do acesso ao espaço faz com que organizações de pesquisa possam sonhar, elas mesmas, com missões de baixo custo. Sara Seager, pesquisadora do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e coautora do trabalho sobre a fosfina, disse que já há conversas com a empresa Rocket Lab para o lançamento de uma missão de baixa massa (apenas 3 kg) e baixo custo, focada especificamente no potencial astrobiológico venusiano. É um empolgante sinal de que o interesse por Vênus pode estar vindo para ficar.

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Astrônomos detectam potencial sinal de vida nas nuvens de Vênus https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/09/14/pesquisadores-detectam-composto-que-pode-indicar-vida-nas-nuvens-de-venus/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2020/09/14/pesquisadores-detectam-composto-que-pode-indicar-vida-nas-nuvens-de-venus/#respond Mon, 14 Sep 2020 15:00:14 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/04/Snapshot-47-320x213.png https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9552 Um grupo de pesquisadores do Reino Unido e dos Estados Unidos identificou aquela que pode ser a primeira evidência concreta de vida nas nuvens do planeta Vênus. Ou não.

O trabalho, publicado nesta segunda-feira (14) no periódico científico Nature Astronomy, envolveu a detecção de um composto chamado fosfina, ou hidreto de fósforo (PH3), nas nuvens venusianas. Na Terra, esse é um gás produzido predominantemente por bactérias anaeróbicas. Em Vênus, o que está gerando esse gás ainda é um mistério.

Fosfina, por si só, seria uma evidência pobre de vida. O gás já foi detectado em Júpiter e Saturno pela sonda Cassini, por exemplo, e ninguém diz que eles são marcadores biológicos por lá. O que torna este novo resultado particularmente intrigante é o fato de que o ambiente na alta atmosfera de Vênus é extremamente ácido, e nessas circunstâncias é esperado que hidreto de fósforo seja destruído muito rapidamente. O fato de ele estar lá sugere que há uma fonte muito boa constantemente reabastecendo o ar venusiano com essa molécula.

O achado, obtido por Jane Greaves, da Universidade de Cardiff, e seus colegas, veio com observações colhidas com o JCMT (Telescópio James Clerk Maxwell), em 2017, e com o observatório ALMA (Grande Conjunto Milimétrico/submilimétrico do Atacama), em 2019. Os dados, que envolvem a detecção, na “assinatura” da luz que vem de Vênus, dos marcadores da fosfina, indicam uma presença de 20 partes por bilhão na camada superior de nuvens, a uma altitude entre 53 e 62 km da superfície.

Você decerto já ouviu dizer que Vênus não é exatamente o planeta mais hospitaleiro do Sistema Solar. Com um efeito estufa acachapante, temperaturas de 470 graus Celsius (à sombra, se você achar uma) e uma pressão atmosférica cem vezes maior que a da Terra, ele é um lembrete muito claro de como um mundo tão similar ao nosso em tamanho e em distância ao Sol pode dar tão errado.

Ocorre que nem tudo é desgraça. Se morar na superfície de Vênus equivale a tentar viver dentro de um forno de pizza, a alta atmosfera é muito mais gentil. Nas altitudes mais altas do topo das nuvens, a uns 55 km de altitude, a pressão atmosférica é mais suave (metade da terrestre ao nível do mar) e a temperatura é amena (27 graus Celsius). Isso a Globo não mostra.

Há décadas, alguns cientistas mais ousados vêm propondo a hipótese de vida em Vênus, justamente nas camadas mais altas da atmosfera. Um problema é a escassez de água, que não é inexistente, mas é bem pouca. Outro é a acidez excessiva, graças às grandes quantidades de ácido sulfúrico. E os pesquisadores reconhecem essa dificuldade. “Eles são bem cautelosos, apontam que há problemas conceituais substanciais sobre a ideia de vida em Vênus, o fato de que o ambiente é extremamente desidratante e superácido”, avalia Ivan Glaucio Paulino Lima, astrobiólogo brasileiro no Centro Ames de Pesquisa da Nasa, não envolvido com o estudo.

Apesar disso, vários cientistas chegaram a pensar nas nuvens venusianas como um possível habitat para extremófilos (criaturas capazes de sobreviver a condições extremas). Carl Sagan evocou essa ideia no passado e, mais recentemente, Dirk Schulze-Makuch, voltou a sugerir essa possibilidade.

Com efeito, há evidências circunstanciais de que Vênus, em seu passado remoto, pode ter sido um planeta plenamente habitável, com oceanos. O Sol era menos brilhante bilhões de anos atrás, e sabe-se que havia muito mais água por lá do que há hoje — talvez já em vapor d’água, talvez em estado líquido, se a temperatura fosse mais amena. Se isso de fato aconteceu, certamente houve tempo no passado de Vênus para que a vida ao menos começasse seu processo evolutivo, de modo que a seleção natural pudesse produzir micróbios até hoje capazes de viver por lá, mesmo com toda a desgraceira à que o planeta está sujeito hoje.

O maior drama é que toda a pobre biosfera venusiana, se existir, terá de estar em suspensão na alta atmosfera. Nenhuma troca relevante com o solo esterilizante seria permitida, e isso é algo que não vemos aqui na Terra — habitats totalmente desconectados da superfície. Quer dizer que não possam existir? Não. Apenas significa que não sabemos se podem ou não, porque nunca vimos. (Os próprios autores do novo trabalho lançaram um artigo na revista Astrobiology com uma hipótese de como isso poderia acontecer.)

O que já dá para dizer é que coisas muito estranhas acontecem na alta atmosfera de Vênus. Já se conhece há algum tempo a existência de um misterioso componente que absorve luz ultravioleta no ar venusiano e gera misteriosas manchas escuras nas imagens do planeta captadas nessa frequência do espectro. Schulze-Makuch acha que podem ser micróbios que absorvem ultravioleta como forma de energia para seus metabolismos.

E agora tem a fosfina. Não houve falta de esforço de explicá-la por rotas mais convencionais. Em seu artigo, Greaves e seus colegas exploram as mais diversas hipóteses. Poderiam ser fontes na superfície do planeta? Micrometeoritos? Reações químicas induzidas por relâmpagos? Processos químicos nas nuvens? Depois de investigar todas essas possibilidades, foram incapazes de determinar a fonte dessas quantidades-traço do composto.

Isso quer dizer que deve ser vida? Claro que não. Lembre-se do mantra de Sagan: “Afirmações extraordinárias exigem evidências extraordinárias.” Essa nova detecção é intrigante, mas longe de extraordinária. Ela pode representar apenas um processo químico ou geológico que ainda não conhecemos, numa atmosfera alienígena que até hoje pouco estudamos.

Os autores do trabalho são os primeiros a dizer que o achado não é uma evidência robusta para vida microbiana. É o início de uma trilha, que agora precisa ser seguida pelos cientistas, com mais modelagens e observações, a fim de que se possa dar fim ao mistério.

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De volta ao planeta Vênus https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2015/12/11/de-volta-ao-planeta-venus/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2015/12/11/de-volta-ao-planeta-venus/#comments Fri, 11 Dec 2015 09:00:22 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=4335 A ousada manobra da sonda japonesa Akatsuki (aurora, em japonês) foi bem-sucedida, e a espaçonave já enviou suas primeiras imagens diretamente da órbita de Vênus — um mundo que pode ser visto como o “gêmeo mau” da Terra.

Imagem em ultravioleta de Vênus obtida pela Akatsuki em 7 de dezembro, a 72 mil km de distância. (Crédito: Jaxa)
Imagem em ultravioleta de Vênus obtida pela Akatsuki em 7 de dezembro, a 72 mil km de distância. (Crédito: Jaxa)

Acompanhar as missões interplanetárias da Jaxa (agência espacial nipônica) é sempre uma emoção. Cada uma delas parece ser um novo teste da famosa perseverança dos japoneses.

Tome a Akatsuki, por exemplo. Ela foi lançada em 2010, e o plano original previa a entrada em órbita de Vênus apenas seis meses depois. Só que o propulsor principal falhou no meio da manobra de inserção orbital, e a espaçonave passou lotada, se estabelecendo numa órbita ao redor do Sol.

Os japoneses constataram que o propulsor foi danificado além de qualquer possibilidade de reutilização. Mas é incrível como eles sempre encontram um plano B, que envolve criatividade e paciência.

No caso em questão, a ideia foi usar os pequenos propulsores de controle de atitude da Akatsuki (originalmente projetados apenas para fazer a espaçonave mudar sua orientação) e reencontrar Vênus dali a cinco anos. Nesse meio-tempo, a sonda foi colocada em estado de hibernação, para não desgastar seus componentes (originalmente projetados para durar 4,5 anos).

Mas ia dar certo? Uma coisa muito parecida acometeu outra missão interplanetária japonesa, a Nozomi (“esperança”, em japonês). Lançada em 1998, ela tinha como destino o planeta Marte. Mas gastou muito mais combustível do que o esperado e acabou sem chance de fazer sua inserção orbital, em 1999. Os japoneses, claro, formularam um plano B. Que também fracassou. E a sonda foi declarada perdida em 2003.

Eis que chega o dia 7 de dezembro de 2015. A Akatsuki teria o mesmo destino da Nozomi? Ou, de fato, a “Esperança” teria sido a última a morrer?

Contra todas as probabilidades, os pequenos propulsores de controle de atitude dispararam por cerca de 20 minutos — algo para o qual não foram projetados — e colocaram a sonda em órbita de Vênus. Mas é uma órbita loooooonga… no seu ponto de aproximação máxima, fica a meros 400 km das nuvens venusianas. No maior afastamento, vai a 440 mil km!

No projeto original, a sonda deveria completar uma volta a cada 30 horas. Mas a órbita atual leva 13 dias e 14 horas. Novas manobras, no ano que vem, vão reduzir o período orbital para 9 dias, e em abril começa a missão científica oficial.

A sonda é equipada com cinco câmeras — quatro cobrindo o ultravioleta e várias faixas do infravermelho, e uma com tecnologia especial para tentar detectar relâmpagos em Vênus. Até hoje, a existência de raios na atmosfera venusiana é um assunto controverso, e espera-se que a Akatsuki possa decifrar esse e outros mistérios.

A chegada se deu em ótima hora — no momento, não há nenhuma outra espaçonave em operação na órbita de Vênus. A última a trabalhar por lá foi a europeia Venus Express, que queimou na atmosfera em janeiro de 2015, depois de mais de nove anos em órbita.

Com sua atmosfera superdensa e efeito estufa avassalador, Vênus tem temperatura média de 460 graus Celsius — um lugar nada hospitaleiro, mesmo para sondas robóticas.

Ao mesmo tempo, é o planeta mais próximo da Terra e tem praticamente o mesmo tamanho do nosso. Daí a ideia do “gêmeo malvado”. Descobrir como Vênus deu no que deu é um passo fundamental não só para entendermos a história da nossa Terra mas também para estimarmos as chances de encontrar outros mundos habitáveis além do Sistema Solar.

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Semana agitada no Sistema Solar https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2015/12/06/semana-agitada-no-sistema-solar/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2015/12/06/semana-agitada-no-sistema-solar/#comments Sun, 06 Dec 2015 17:20:38 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=4306 O divertido de ser uma civilização espacial é que sempre tem alguma coisa acontecendo em algum lugar. Dê uma olhada no que rolou por esses dias e no que ainda está para acontecer por aí, em nosso Sistema Solar.

A Terra e a Lua vistas pela Hayabusa2 em 26 de novembro, dias antes de seu sobrevoo por nosso planeta (Crédito: Jaxa)
A Terra e a Lua vistas pela Hayabusa2 em 26 de novembro, dias antes de seu sobrevoo por nosso planeta (Crédito: Jaxa)

TERRA
Na última quinta-feira (3), a sonda japonesa Hayabusa2 fez um sobrevoo da Terra, obtendo algumas imagens encantadoras do pálido ponto azul e sua companheira cósmica, a Lua. A missão tem por objetivo pousar no asteroide Ryugu e então colher amostras de sua superfície para depois trazê-las de volta à Terra. Se a missão predecessora, Hayabusa, servir de termômetro, teremos grandes emoções pela frente. No momento, a boa notícia é que deu tudo certo: como previsto, o veículo passou a cerca de 3.000 km da superfície terrestre, sobre o Havaí, e usou a gravidade do planeta para colocá-la a caminho de seu destino, onde deve chegar em 2018.

Nessa mesma quinta-feira, a ESA (Agência Espacial Europeia) lançou com sucesso a espaçonave LISA Pathfinder, cujo objetivo é testar tecnologias que possibilitem a detecção de ondas gravitacionais no espaço. Previstas pela teoria da relatividade geral, as ondas gravitacionais podem abrir janelas para a exploração de objetos misteriosos do zoológico cósmico, como pulsares binários e buracos negros. No limite, talvez um dia seja possível detectar até mesmo as ondas gravitacionais produzidas pelo Big Bang! Mas não hoje. O LISA Pathfinder marca só o primeiro teste das tecnologias requeridas para esse tipo de detecção. O lançamento deu certo, e os sistemas da espaçonave serão colocados em funcionamento nas próximas duas semanas.

Como se não bastasse tudo isso, neste domingo (6), vulgo “hoje”, às 19h44, a empresa americana Orbital ATK lançou seu cargueiro Cygnus para reabastecer a Estação Espacial Internacional. A missão especialmente importante porque marca o retorno aos voos da Cygnus (embora com um foguete diferente) após o acidente ocorrido no ano passado. Em vez de usar o foguete Antares, que é da própria Orbital e está sendo reformulado, a empresa preferiu ir desta vez com o mais confiável Atlas V.

Concepção artística da Akatsuki em órbita de Vênus. Dedos cruzados na segunda-feira! (Crédito: Jaxa)
Concepção artística da Akatsuki em órbita de Vênus. Dedos cruzados na segunda-feira! (Crédito: Jaxa)

VÊNUS
Na segunda-feira (7), a sonda japonesa Akatsuki tentará entrar em órbita do “gêmeo mau” da Terra, a gloriosa Estrela D’Alva. Pela segunda vez, inclusive. Há exatamente um ano, a niponave tentou se estabelecer ao redor de Vênus, mas “faiô”. Mas, sabe como é, o Sistema Solar dá voltas, e quem está nele também. Agora apareceu uma nova chance, e está tudo no esquema para a tentativa. Não será a mesma órbita de antes — o que obrigou a missão a reformular seus objetivos científicos –, mas é sempre recompensador ter uma sonda orbitando um planeta vizinho.

Os misteriosos pontos brilhantes de Ceres, na cratera Occator, em nova imagem da Dawn (Crédito: Nasa)
Os misteriosos pontos brilhantes de Ceres, na cratera Occator, em nova imagem da Dawn (Crédito: Nasa)

CERES
A espaçonave americana Dawn segue reduzindo sua órbita em torno do misterioso planeta anão Ceres, o rei do cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter. Depois de fazer uma varredura completa a aproximadamente 1.500 km da superfície, em meados de dezembro ela chegará à órbita final, de menos de 400 km. Os terráqueos seguem intrigados pelos pontos brilhantes da cratera Occator, e a Nasa acaba de divulgar uma nova imagem deles, vistos de 1.470 km de altura, mas de um ângulo diferente. E em alguns dias teremos a publicação, na revista “Nature”, do primeiro trabalho científico consolidado sobre essa estranha formação. Eu já sei o que diz o artigo, mas se te contar terei de matar você também. ‘Guente firme.

JÚPITER
A Nasa também tem uma espaçonave a caminho de Júpiter, a Juno. Ela deve chegar lá no ano que vem, mas uma iniciativa interessante acaba de ser divulgada pela agência espacial americana: ela está pedindo ajuda do público para o processamento de imagens da câmera da sonda, além da seleção de alvos de interesse entre as nuvens do gigante gasoso. É basicamente uma iniciativa para recrutar entusiastas e criar uma imensa equipe virtual de gerenciamento da JunoCAM. Você pode ler mais sobre a iniciativa (em “ingrish”) aqui.

A fronteira norte da Sputnik Planum, em Plutão, entre montanhas e dunas. (Crédito: Nasa)
A fronteira norte da Sputnik Planum, em Plutão, entre montanhas e dunas. (Crédito: Nasa)

PLUTÃO
O pessoal da New Horizons ficou feliz da vida na sexta-feira (4), ao divulgar algumas das melhores imagens produzidas pela sonda em seu sobrevoo de Plutão, em 14 de julho. Essas provavelmente serão as imagens de mais alta resolução de detalhes da superfície plutoniana que teremos em muitas décadas. Estonteantes paisagens de montanhas, planícies, dunas e crateras do intrigante planeta anão.

Terreno esburacado ao norte da Sputnik Planum, com crateras de vários tamanhos. (Crédito: Nasa)
Terreno esburacado ao norte da Sputnik Planum, com crateras de vários tamanhos. (Crédito: Nasa)
As "Badlands" de Plutão, em imagem de alta resolução da New Horizons. (Crédito: Nasa)
As “Badlands” de Plutão, em imagem de alta resolução da New Horizons. (Crédito: Nasa)

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