Mensageiro Sideral https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br De onde viemos, onde estamos e para onde vamos Sat, 04 Dec 2021 19:09:39 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Cientistas encontram primeira evidência de uma lua fora do Sistema Solar https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/10/04/cientistas-encontram-primeira-evidencia-de-uma-lua-fora-do-sistema-solar/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/10/04/cientistas-encontram-primeira-evidencia-de-uma-lua-fora-do-sistema-solar/#respond Thu, 04 Oct 2018 03:02:22 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/exomoon-kepler-1625b-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8197 Quando o primeiro exoplaneta fora do Sistema Solar foi descoberto, em 1992, era uma bizarrice impensável: planetas que orbitavam um pulsar, o cadáver de uma estrela de alta massa. Quando o primeiro exoplaneta a orbitar uma estrela similar ao Sol foi descoberto, em 1995, era uma bizarrice impensável: um gigante gasoso que completava uma volta ao redor de seu astro-rei em meros 4 dias. Agora, em 2018, começam a se consolidar as primeiras evidências da descoberta de uma exolua, ou seja, uma lua de um planeta fora do Sistema Solar. E, adivinhe só, é uma bizarrice impensável.

Se Alex Teachey e David Kipping, da Universidade Columbia, em Nova York, estiverem certos, trata-se de uma lua do tamanho de Netuno a orbitar um planeta do tamanho de Júpiter. É para fritar a cabeça dos cientistas que tentam explicar como satélites naturais se formam. Mas primeiro precisa ser mesmo verdade, o que não é ainda certo — embora a hipótese tenha ganho um senhor empurrão com um novo artigo que a dupla acaba de publicar no periódico Science Advances, relatando resultados obtidos com o Telescópio Espacial Hubble.

A história começou no ano passado, quando Teachey e Kipping usaram uma técnica interessante para buscar evidências de exoluas nos dados do satélite Kepler, da Nasa.

Rememorando: o Kepler foi construído para encontrar planetas fora do Sistema Solar monitorando de forma constante o brilho de mais de 100 mil estrelas. A ideia era flagrar pequenas reduções periódicas de luminosidade que correspondessem à passagem de planetas à frente dessas estrelas, com relação à linha de observação do satélite. Deu certo, e milhares de planetas foram descobertos por este método.

Não é difícil imaginar como procurar também por exoluas com esses dados. Muitos pesquisadores imaginaram que, se houvesse alguma lua associada aos exoplanetas descobertos pelo Kepler, poderia haver alguma variação sutil no padrão de variação de brilho observado, dependendo da posição que a lua guardasse com relação ao planeta no momento do trânsito. O problema é que essa variação seria tão sutil, e provavelmente embaralhada ao limite de precisão do equipamento, que não seria nada fácil encontrá-la.

Teachey e Kipping, no entanto, não desistiram e desenvolveram um método em que “empilhavam” diversos trânsitos para tentar encontrar algo que indicasse a presença de uma exolua. E, em meio a vários sinais ambíguos, teve um que chamou a atenção, referente ao planeta Kepler-1625b. Ele foi descoberto ao redor de uma estrela similar ao Sol, mas bem mais velha, a 8.000 anos-luz de distância, na constelação do Cisne. E os dois pesquisadores de Columbia notaram que, entre os três trânsitos observados pelo Kepler, haviam variações que podiam ser bem explicadas por uma lua orbitando ao seu redor. Mas seria uma lua monstruosa, pelos nossos padrões atuais.

No Sistema Solar, a maior das luas é Ganimedes, de Júpiter, com 5.268 km de diâmetro. Ela é maior que o planeta Mercúrio, com seus 4.879 km de diâmetro, mas perde em tamanho de todos os demais planetas, e seu porte se encaixa bem ao processo de formação sugerido pelos cientistas para explicar luas ao redor de planetas gigantes. Já a hipotética exolua de Kepler-1625b seria mais ou menos do tamanho do planeta Netuno, ou seja, teria ela mesma o porte de um mundo gigante gasoso!

Desnecessário dizer que ninguém sabia (ou sabe) como um exoplaneta poderia ter uma lua tão grande. Daí a cautela dos pesquisadores. Eles decidiram que o próximo passo deveria pedir tempo no disputado Telescópio Espacial Hubble, para conferir com mais precisão um trânsito de Kepler-1625b à frente de sua estrela.

O novo artigo, publicado nesta quarta-feira (3), traz justamente essa nova observação, feita em outubro do ano passado e 3,8 vezes mais precisa que as obtidas originalmente com o Kepler. E ela tem elementos que favorecem a hipótese de que a tal exolua gigante é real, embora ainda não permita cravar a descoberta.

Dois fatos ligados à observação parecem corroborar a ideia. O primeiro foi que o planeta chegou “adiantado” para o trânsito, começando a passar à frente de sua estrela-mãe 77,8 minutos antes do esperado. É o que os cientistas chamam de TTV, sigla inglesa para variação no tempo do trânsito. Em geral, ela indica que há alguma interação gravitacional responsável por causar atrasos o adiantamentos do planeta observado. No caso em questão, é bem possível que essa interação seja causada pela presença de uma lua bem grande. (Tenha em mente que dois objetos astronômicos na verdade não giram exatamente um ao redor do outro, mas ambos ao redor do centro de massa do sistema que compõem; se o sistema é de uma lua relativamente grande, se comparada ao planeta, a oscilação ao redor do centro de massa do sistema por parte do planeta podia explicar como ele pode às vezes transitar adiantado, e às vezes atrasado, com relação a uma dada medição.)

Também é verdade que TTVs podem ser explicadas pela presença de outros planetas, em vez de luas, e por isso a evidência apresentada não é conclusiva — talvez exista um planeta adicional ainda não descoberto que explique a variação.

Já o segundo fato revelado pela observação do Hubble é mais difícil de explicar. Acompanhe comigo: se o exoplaneta chegou muito adiantado no trânsito pela presença de uma exolua, é de se supor que a exolua estivesse no lado oposto ao do movimento de translação do planeta. Isso significa que, após o trânsito dele, talvez fosse possível observar um trânsito dela, vindo logo atrás.

E é isso que o gráfico de luminosidade da estrela parece revelar — logo após a grande redução de brilho causada pela passagem do planeta, vem uma redução de brilho menor, mas clara, que… não chegamos a ver terminar porque o tempo de observação alocado para os pesquisadores (40 respeitáveis horas, para um trânsito planetário que duraria 19 horas) terminou antes do fim do possível trânsito da exolua!

Imagem ajuda a entender o que o Hubble teria visto, caso o sinal seja mesmo de uma exolua. (Crédito: ESA/Nasa/STScI)

“Uma lua companheira é a explicação mais simples e natural para a segunda redução na curva de luz e o desvio no tempo da órbita”, disse Kipping em nota. “Foi definitivamente um momento chocante ver aquela curva de luz do Hubble, meu coração começou a bater um pouco mais depressa quando eu continuava a olhar para aquela assinatura. Mas sabíamos que nosso trabalho era manter a cabeça no lugar e essencialmente presumir que era um erro, testando todos os modos concebíveis pelos quais os dados podiam estar nos enganando.”

Por esse invejável e muito sensato excesso de zelo, ainda não dá para cravar que encontramos a primiera exolua. Os próprios pesquisadores deixam isso claro em seu artigo científico, dizendo: “advogamos que se façam monitoramentos futuros do sistema para chegar as predições do modelo e confirmar a repetição do sinal similar ao de uma lua”.

A BIZARRICE
Partindo de modelos, os pesquisadores sugerem que a exolua teria diâmetro e massa similares aos de Netuno, e orbitaria um planeta com diâmetro um pouco maior que o de Júpiter, mas com massa bem maior. Imagina-se que a exolua de Kepler-1625b responda por apenas 1,5% da massa atribuída ao planeta — uma proporção mais ou menos igual à do sistema Terra-Lua, mas em versão tamanho família.

Os dinamicistas não têm a menor ideia de como um Netuno poderia se formar ao redor de um superjúpiter. A hipótese mais simples seria imaginar que ambos nasceram como planetas e um acabou capturado pela gravidade de outro e convertido em lua, mas é bem complicado fazer isso “funcionar” em simulações.

Curiosamente, Kepler-1625b está na zona habitável de sua estrela, completando uma volta ao redor dela a cada 287 dias. Evidentemente, como se trata de um gigante gasoso (assim como sua potencial exolua), não poderia abrigar vida. Mas e se houver uma outra lua, menorzinha e rochosa, capaz de manter água em estado líquido na superfície e, por consequência, uma biosfera? Podemos aí ter certeza de que, se ela existe, deve proporcionar a seus habitantes um dos espetáculos celestes mais bonitos da Via Láctea.

Siga o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube

]]>
0
Expansão do Universo não é igual em todo lugar, diz estudo https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/07/09/expansao-do-universo-nao-e-igual-em-todo-lugar-diz-estudo/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/07/09/expansao-do-universo-nao-e-igual-em-todo-lugar-diz-estudo/#respond Mon, 09 Jul 2018 05:00:15 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/Re-Ionization-Galaxy_Evolution_wideshot-H264-720p.01552_print-320x213.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7900 Um trio de pesquisadores acaba de demonstrar que a expansão do Universo não segue o mesmo ritmo em todas as partes do cosmos, o que pode ajudar a explicar discrepâncias entre medidas locais e globais da expansão obtidas pelos astrônomos.

Na Universidade Monash, na Austrália, Hayley Macpherson e seus colegas recriaram o cosmos num computador, partindo apenas das equações da relatividade geral e de medidas da radiação cósmica de fundo — uma espécie de eco luminoso do Big Bang, medido com precisão pelo satélite europeu Planck.

O estudo partiu dos dados reais do Planck para estimar a inomogeneidade original do Universo e dali passou a tratar a matéria como um fluido, cujo movimento era ditado pelas equações da teoria de Einstein. Os resultados foram apresentados em dois artigos, submetidos aos periódicos Physical Review X e Astrophysical Journal Letters.

Na simulação, o grupo viu um quadro bastante familiar, com a formação da chamada “teia cósmica”. São as maiores estruturas do Universo, compostas por enormes filamentos com incontáveis galáxias, em meio a grandes vazios.

Ao retratarem o Universo de maneira mais realista, os cientistas constataram que a expansão cósmica, iniciada com o Big Bang, avança significativamente mais depressa em regiões onde há menor concentração de matéria do que nas que compõem as regiões mais densas da “teia cósmica”.

E essa pode ser a chave para compreender um recente conflito entre diferentes estimativas da chamada constante de Hubble, a taxa de expansão cósmica. Enquanto medições baseadas na radiação de fundo indicam que a constante é de 67 km/s/Mpc, estimativas com base em objetos astrofísicos mais próximos apontavam uma taxa local de expansão de 73 km/s/Mpc.

Essa discrepância tem sido uma enorme dor de cabeça para os cosmólogos, mas talvez possa ao menos em parte ser explicada pela variação local da expansão. Caso isso se confirme, é sinal de que estamos numa região relativamente vazia do Universo, onde a expansão avança mais depressa do que a média global.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

Siga o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube

]]>
0
Dados da sonda Galileo indicam presença de plumas de água em lua de Júpiter https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/05/14/dados-da-sonda-galileo-indicam-presenca-de-plumas-de-agua-em-lua-de-jupiter/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/05/14/dados-da-sonda-galileo-indicam-presenca-de-plumas-de-agua-em-lua-de-jupiter/#respond Mon, 14 May 2018 15:00:55 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2016/09/Hubble_Europa_thumbnail_print-180x101.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7697 Em 1997, a velha espaçonave Galileo fez um sobrevoo rasante de Europa, passando a meros 206 km da superfície dessa fascinante lua gelada de Júpiter. Agora, novas evidências sugerem que a sonda cruzou uma pluma de água ejetada de dentro da lua por uma fissura que ligava o oceano profundo à crosta de gelo. É mais uma linha independente de investigação a sugerir que Europa tem plumas, o que deixa os cientistas cada vez mais ouriçados.

Na prática, se esse for mesmo o caso, isso significa que uma futura espaçonave que queira procurar evidências de habitabilidade e mesmo vida no oceano europano não precisaria nem pousar na lua, mas meramente analisar uma amostra da água que é ejetada para o espaço.

O novo achado, liderado por Xianzhe Jia, da Universidade de Michigan, foi publicado online no periódico científico Nature Astronomy nesta segunda-feira (14). O trabalho corrobora detecções anteriores feitas remotamente com o Telescópio Espacial Hubble. A Nasa promove às 14h uma coletiva para discutir os resultados.

Agora, a pergunta legítima que todo mundo pode fazer é: como diabos só foram descobrir agora algo que a defunta Galileo (destruída após mergulhar no interior de Júpiter em 2003) teria detectado 20 anos atrás?

Ocorre que os dados que indicam a presença da pluma não eram nada óbvios — nada como uma foto mostrando uma cortina de partículas ejetadas para o espaço, como a espaçonave Cassini conseguiu tirar ao sobrevoar Encélado, uma pequenina lua de Saturno. Em vez disso, o que a Galileo conseguiu foram dados de campo magnético e plasma durante um sobrevoo que a colocou a pouco mais de 200 km da superfície de Europa, em 16 de dezembro de 1997.

Na época, os dados foram classificados apenas como “esquisitos”. A chave para decifrá-los foi a pista dada posteriormente pelo Hubble. Por duas vezes, em 2012 e 2016, o venerável telescópio espacial detectou um sinal que poderia ser de plumas de água emanando de Europa. Era uma detecção duvidosa, dados a distância enorme até Júpiter e a pequenez de Europa, um pouco menor que a nossa Lua. Mas o resultado permitiu um cálculo interessante. Se as duas observações fossem mesmo de plumas, as partículas ejetadas deveriam atingir uma altitude de até uns 400 km da superfície de Europa.

Coube a Xianzhe Jia e seus colegas formular então a pergunta crucial: o que aconteceria ao campo magnético e ao plasma nas imediações de Europa se houvesse uma pluma de até uns 400 km bem no lugar por onde a Galileo passou em 1997?

A modelagem teórica então produziu um gráfico muito parecido com as medições feitas pela sonda na época, tirando delas o rótulo de “esquisitas” para colocar o mais interessante “parece uma pluma”.

Como se não bastasse, eles refizeram o trajeto da Galileo em seu sobrevoo e descobriram que ela passou bem perto de uma região na superfície da lua que é estranhamente mais quente e de onde parece ter emanado uma das plumas do Hubble — uma evidência adicional de que, de algum modo, o calor interno da lua, responsável por manter o oceano em estado líquido em seu interior, “vaza” por ali.

“Esses resultados fornecem fortes evidências independentes da presença de plumas em Europa”, escrevem os cientistas no resumo de seu artigo na Nature Astronomy.

GOL DA NASA
Para a agência espacial americana, o resultado é extremamente importante. Eles estão neste momento preparando uma nova espaçonave para estudar Europa de forma dedicada, caracterizar seu oceano e identificar se a lua é habitável — quiçá habitada. O orbitador Europa Clipper deve ser lançado até meados da próxima década e mapear detalhadamente o satélite natural joviano, a fim de que se escolha um local adequado para uma tentativa de pouso, com um módulo a ser lançado posteriormente.

De início, imaginava-se que um estudo mais sofisticado do oceano europano exigiria de fato um pouso e, se bobeasse, até mesmo uma perfuração de vários quilômetros para que se pudesse navegar pela água com um submarino robótico. Uma missão assim custaria basicamente um gazilhão de dólares, dinheiro que a agência espacial americana não tem.

O fato de que Europa tem plumas torna o estudo direto de seu oceano muito mais simples.

Com efeito, a espaçonave Cassini fez uma investigação bastante detalhada do oceano de Encélado ao atravessar suas vigorosas plumas e conseguiu confirmar que o oceano interno de água salgada dessa pequena bolota de gelo com meros 500 km de diâmetro tem todos os ingredientes para a existência de vida.

A espaçonave só não pôde procurar por moléculas biológicas complexas porque seu espectrômetro havia sido projetado para determinar apenas compostos mais simples. (Não custa lembrar que a Cassini foi lançada em 1997, com tecnologia de décadas atrás. Sua missão a Saturno foi concluída no ano passado, num mergulho ao interior do planeta, deixando forte gostinho de “quero mais”.)

O Europa Clipper terá tecnologia quase três décadas mais avançada, capaz de detecções ainda mais sofisticadas. Então, se Europa tem mesmo essas plumas, não é inconcebível que a nova sonda da Nasa possa descobrir coisas incríveis sobre a lua joviana sem sequer descer nela, já na próxima década.

AND NOW FOR SOMETHING COMPLETELY DIFFERENT
Façamos um brinde à ciência e a Stephen Hawking
Para quem gosta de conversa de bar da melhor qualidade, começa nesta segunda-feira (14) mais uma edição do Festival Pint of Science, um grande evento que acontece no Brasil inteiro promovendo uma das misturas mais interessantes que existem: cerveja e ciência.

Estarei no Café Journal, em São Paulo, a partir das 19h30, para fazer uma breve apresentação sobre o físico Stephen Hawking, em meio a outros dois craques do jornalismo de ciência. André Jorge de Oliveira, da revista Galileu, falará do futuro da exploração espacial, e Juliana Duarte, do ICB-USP, abordará o trabalho de divulgação científica dentro da universidade. Também teremos um debate. O Café Journal fica na Alameda dos Anapurus, 1121, em Moema, e, para quem quiser ir, aparentemente é necessário fazer reserva de mesas. Liga lá e apareça: (11) 5055-9454.

Mais informações sobre o Festival Pint of Science aqui.

Siga o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube

]]>
0
[Astronomia] Foto dos 28 anos do Hubble traz a pergunta: cores são falsas? https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/04/23/astronomia-o-show-do-hubble-e-mesmo-tudo-photoshop/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/04/23/astronomia-o-show-do-hubble-e-mesmo-tudo-photoshop/#respond Mon, 23 Apr 2018 05:00:57 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/04/heic1808a-320x213.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7618 A Nasa celebra nesta semana o 28° aniversário do glorioso Telescópio Espacial Hubble. Para comemorar, a agência sempre produz uma nova imagem espetacular, e a deste ano é de tirar o fôlego: admire em toda a sua glória a Nebulosa da Lagoa.

Ou melhor, admire parcialmente a glória de um pedaço pequeno e especialmente bonito da Nebulosa da Lagoa. Trata-se de um vasto berçário estelar a uns 4.000 anos-luz daqui, na constelação de Sagitário. Lá, nuvens de gás estão gestando estrelas neste exato momento.

A nebulosa inteira tem uns 55 anos-luz de largura, dos quais apenas 4 saíram na foto. E o que normalmente se fala diante das incríveis imagens do Hubble é: as cores são verdadeiras ou tudo não passa de Photoshop?

Para responder, cabe seguir as sábias palavras do mestre jedi Obi-Wan Kenobi: as cores são verdadeiras… “de um certo ponto de vista”.

O que são cores? Seria errado dizer que são uma propriedade da luz. Na verdade, elas são interpretações feitas pelo nosso cérebro de uma propriedade da luz.

Partículas luminosas, os chamados fótons, têm vários níveis de energia. Essa é a diferença entre vermelho e verde. Energia. Nossos olhos têm células especializadas em detectar certas faixas de energia apenas, e aí nosso cérebro “faz o photoshop”, combinando-as numa imagem colorida.

A exemplo dos nossos olhos, o Hubble também tem sensores especializados, mas em número muito maior. Os astrônomos podem comandar o telescópio a “enxergar” apenas “cores” muito específicas, como a que é emitida pelos átomos de hidrogênio numa dada circunstância. É quase um superpoder: “visão de H-alfa”.

No fim, basta combinar observações feitas com vários filtros como esse numa imagem colorida para que possamos perceber com nossos olhos todas as nuances dos fenômenos astronômicos com a mesma eficiência que o próprio Hubble, mesmo sem enxergarmos tão bem quanto ele.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

Siga o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube

]]>
0
Equipe acha galáxia sem matéria escura https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/03/28/equipe-acha-galaxia-sem-materia-escura/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/03/28/equipe-acha-galaxia-sem-materia-escura/#respond Wed, 28 Mar 2018 17:49:17 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/03/ngc-1052-df2-320x213.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7523 Um grupo de astrônomos americanos publicou uma descoberta extremamente importante para confirmar a existência da misteriosa matéria escura. Eles encontraram uma galáxia sem matéria escura.

Parece paradoxal que uma galáxia assim possa ser evidência da existência de algo que ela não tem, mas é exatamente esse o caso. Palmas, portanto, para a galáxia NGC1052-DF2, localizada a aproximadamente 65 milhões de anos-luz daqui.

Os astrônomos costumam “pesar” galáxias medindo a luz que elas emanam — que dão pistas da massa existente em termos de gás e estrelas ali — e o movimento dos objetos mais externos da galáxia em questão, que, em sua órbita, segundo a gravidade conforme descrita pela teoria da relatividade geral, precisam obedecer à quantidade total de massa presente. Normalmente, esses dois conjuntos de medidas sugerem que cada galáxia tem cerca de 30 vezes mais massa do que a que é visível diretamente por sua luz. Daí o nome “matéria escura” — trata-se de algo que exerce gravidade, mas não interage com a matéria convencional de nenhum outro modo.

Entra em cena a galáxia NGC1052-DF2. Combinando observações feitas com o Telescópio Espacial Hubble ao estudo espectroscópico de dez objetos pertencentes à galáxia que parecem ser aglomerados globulares de estrelas, feito com o telescópio de 10 metros do Observatório Keck, no Havaí, os pesquisadores puderam medir tanto a massa visível quanto a massa total, baseada no movimento dos aglomerados. E aí veio a surpresa: a massa visível bate com a massa total. Estamos diante de uma galáxia que não tem matéria escura.

“NGC1052-DF2 demonstra que a matéria escura não está sempre associada à matéria bariônica em escalas galácticas”, afirmam Pieter van Dokkum, da Universidade Yale, e seus colegas, em artigo publicado nesta semana no periódico Nature.

O achado é um grande alívio e compõe o conjunto de evidências reunidas pelos cientistas de que a matéria escura existe mesmo, e não é simplesmente um artefato gerado por uma compreensão deficiente da lei da gravidade nas maiores escalas. Se o que medimos como matéria escura fosse na verdade um problema com a teoria da relatividade geral, sempre que houvesse grande quantidade de matéria convencional, bariônica, haveria também um sinal de matéria escura.

No passado, os pesquisadores já haviam encontrado um par de aglomerados de galáxias distante, conhecido como o “aglomerado da bala”, em que a colisão entre os dois separou matéria escura da matéria convencional. Agora, com a descoberta de que a galáxia NGC1052-DF2 não tem matéria escura, fica mais uma vez constatado que não se trata apenas de um entendimento deficiente de como funciona a gravidade — há algo real, que pode ou não estar presente em galáxias e aglomerados galácticos.

Há modelos que explicam como pode haver galáxias sem matéria escura. No caso em questão, uma hipótese provável, segundo os cientistas, é que a galáxia tenha se formado a partir de um bolsão de gás que foi ejetado durante uma colisão de galáxias maiores. Na trombada, uma parte do gás é ejetada, mas a matéria escura das galáxias maiores não, reunindo-se ao redor das duas galáxias fundidas. “A localização [de NGC1052-DF2] próxima a uma galáxia elíptica e sua velocidade peculiarmente alta são consistentes com essa ideia”, explicam os cientistas em seu artigo.

Ao que parece, Einstein triunfará mais uma vez, e as teorias alternativas da gravidade capazes de dispensar a existência da matéria escura vão ficando pelo caminho. Resta, contudo, o grande enigma: se já sabemos o que a matéria escura não é, resta descobrir o que de fato ela é! De que é feita? Que tipo de partículas? Por que elas não interagem com a luz e com a matéria, exceto pela gravidade? Galáxias como a NGC1052-DF2 são só a proverbial ponta do iceberg.

Acompanhe o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube

]]>
0
Astronomia: NGC 1277, uma galáxia-relíquia https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/03/19/astronomia-ngc-1277-uma-galaxia-reliquia/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/03/19/astronomia-ngc-1277-uma-galaxia-reliquia/#respond Mon, 19 Mar 2018 05:00:11 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/03/ngc-1277-320x213.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7488 Hubble detecta ‘galáxia-relíquia’ próxima, capaz de revelar segredos do passado do cosmos.

PEÇA DE MUSEU
Usando o Telescópio Espacial Hubble, um quarteto internacional de astrônomos encontrou no Universo próximo uma “galáxia-relíquia” — representante de como costumavam ser muitas das galáxias no passado remoto.

NGC 1277
Ela está localizada na constelação de Perseu, próxima à região central de um grande aglomerado com mais de mil galáxias, a cerca de 240 milhões de anos-luz de distância da Via Láctea.

SÓ VELHARIA
Os pesquisadores liderados por Michael Beasley, do Instituto de Astrofísica das Canárias, notaram que essa galáxia tinha praticamente todos os seus aglomerados globulares de estrelas avermelhados — o que indica predominância de astros mais velhos.

CONGELADA NO TEMPO
O achado sugere que NGC 1277, em sua formação, produziu uma grande quantidade de estrelas — mil vezes mais depressa que a taxa observada hoje em nossa Via Láctea — e então parou. As maiores e azuis há muito morreram, e restaram apenas as mais velhas, que brilham por bilhões de anos.

HISTÓRIA ANTIGA
Imagina-se que todas as galáxias de grande porte comecem desse jeito. Só que, com o passar do tempo, elas passam a engolir galáxias vizinhas, menores, e reabastecer o gás para formar novas estrelas. Com NGC 1277, isso não aconteceu. Ao que tudo indica, ela está transitando depressa demais para capturar galáxias anãs pelo caminho.

O FUTURO DO PASSADO
A descoberta não é inesperada; os modelos sugerem que 1 em cada 1.000 galáxias no atual estágio de evolução do cosmos se apresente nesse estado. Ainda assim, é auspiciosa. Temos agora uma galáxia-relíquia perto de casa para estudar e, com isso, aprender mais sobre astros similares que vemos a bilhões de anos-luz de distância, representantes do Universo jovem que só aparecem como singelas manchas avermelhadas mesmo aos nossos mais poderosos telescópios.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

Acompanhe o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube

]]>
0
Astronomia: Viagem à nebulosa de Órion https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/01/15/astronomia-viagem-a-nebulosa-de-orion/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/01/15/astronomia-viagem-a-nebulosa-de-orion/#comments Mon, 15 Jan 2018 04:00:42 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/nebula-orion-nasa-180x101.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7294 Imagens dos telescópios Hubble e Spitzer ajudam a criar viagem 3D pela nebulosa de Órion.

ARTE E CIÊNCIA
A nebulosa de Órion é uma das figurinhas mais fáceis do céu. A olho nu, ela parece apenas uma estrela, próxima às famosas Três Marias. Ao telescópio, é um espetáculo de cores — um berçário estelar de 2 milhões de anos, localizado a 1.350 anos-luz daqui. E agora astrônomos e artistas da Nasa se reuniram para nos propiciar uma visita a um dos lugares mais maravilhosos de nossa vizinhança cósmica.

HUBBLE E SPITZER
A renderização 3D da nebulosa é baseada em observações feitas pelos telescópios espaciais Hubble e Spitzer. O Hubble, com seus filtros em luz visível, revela a visão aproximada de nossos próprios olhos, caso estivessem lá.

INVISÍVEL
Já o Spitzer se concentra em colher luz que é invisível aos nossos olhos, infravermelha — a mesma que sai do controle da TV. Ela revela os segredos da nebulosa em meio a seu ambiente empoeirado, onde estrelas e sistemas planetários inteiros estão sendo gestados.

LONGA VIAGEM
Uma viagem até a nebulosa de Órion é improvável; tal jornada, mesmo próximo à velocidade da luz, levaria mais de mil anos. E, com tecnologias atuais, mude o número para milhões. Mas, graças ao olhar afiado dos telescópios espaciais e ao poder da computação gráfica, podemos visitá-la virtualmente.

ESTRELAS NASCENTES
Num espaço de apenas 24 anos-luz de diâmetro, mais de 700 estrelas individuais já foram identificadas, e outras ainda estão por nascer em meio ao gás. A forte emissão de luz ultravioleta das estrelas maiores escavou uma espécie de bacia na nebulosa. Ao redor dessas estrelas, o Hubble já conseguiu identificar vários discos protoplanetários — planetas como a Terra decerto estão nascendo lá agora.

MORTE E VIDA
E assim caminha o Universo, em seu ciclo contínuo de criação e destruição. Conforme as estrelas vão nascendo, interações gravitacionais ao longo de milhões de anos acabam as expulsando do aglomerado, até dissipá-lo. Esses astros então terão suas órbitas individuais na Via Láctea, longe de seu berço, da mesma forma que provavelmente ocorreu ao Sol e sua família de planetas, há bilhões de anos.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

Acompanhe o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube

]]>
100
Objeto duplo no cinturão de asteroides é dublê de cometa, sugere Hubble https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/09/21/objeto-duplo-no-cinturao-de-asteroides-e-duble-de-cometa-sugere-hubble/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/09/21/objeto-duplo-no-cinturao-de-asteroides-e-duble-de-cometa-sugere-hubble/#comments Thu, 21 Sep 2017 05:49:27 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/09/IMG_0396-96x180.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6892 No começo acharam que era apenas mais um asteroide no cinturão entre Marte e Júpiter. Uma olhada mais atenta em 2011 revelou que o objeto parecia uma manchinha difusa, um sinal de que talvez se tratasse de um cometa. Mas nada havia preparado os cientistas para a descoberta que eles fariam em setembro de 2016, conforme o tal 288P se colocasse na posição mais favorável para observação. Eis que o poderoso Telescópio Espacial Hubble revelou que o objeto era na verdade… algo que não sabemos que nome dar. Talvez o melhor que possamos fazer no momento é chamá-lo de “asteroide-binário-que-se-comporta-como-cometa”.

De cara, a descoberta feita por um grupo alemão de astrônomos confirmou algo há muito suspeitado: a natureza não está nem aí para os rótulos que damos aos astros. Pode estar muito clara na cabeça dos cientistas a diferença básica entre um asteroide — que é preponderantemente feito de rocha e se formou nas regiões mais internas do Sistema Solar — e um cometa — que tem alto teor de gelos e origem na zona mais remota do sistema planetário. Mas isso não quer dizer que a natureza não possa embaralhar as cartas de vez em quando, como fez com o 288P.

As imagens do Hubble revelaram que ele é composto por dois bólidos com massa mais ou menos igual, girando ao redor de um centro de gravidade comum, a cerca de 100 km um do outro.

Asteroides duplos são relativamente comuns, então a novidade não é essa. O estranho desse objeto é a combinação de tamanho similar entre os dois componentes, separação relativamente grande entre eles, órbita bastante achatada e a atividade cometária que ele apresenta.

Essa combinação estranha de elementos de asteroide e cometa justificou a publicação da descoberta na revista “Nature”, em artigo que tem como primeira autora Jessica Agarwal, do Instituto Max Planck, na Alemanha.

O trabalho de detetive dos astrônomos, que acompanham o 288P desde 2011 (data de seu último periélio), revelou que ele faz parte de uma família de objetos no cinturão que resultou da fragmentação de um objeto maior, com cerca de 10 km de diâmetro, aproximadamente 7,5 milhões de anos atrás. E deve ter começado como um único objeto.

A quebra do astro parental pode deixado em seus “filhotes” partes de gelo que o compunham expostas ao Sol. Ao sublimarem, esses compostos voláteis podem levar à aceleração da rotação do objeto a ponto de dividi-lo em dois. É isso que provavelmente aconteceu ao 288P, uns 5.000 anos atrás, dando a ele sua configuração atual, binária.

O objeto, além de estranho, é de grande interesse dos cientistas, pois, com todas as suas características híbridas, ele pode ajudar bastante a entender a formação do cinturão de asteroides e o papel que cometas teriam nele. É o tipo de coisa que, por sua vez, pode ajudar a elucidar de onde veio a água da Terra. Mas, acima de tudo, é mais uma daquelas demonstrações contundentes da incrível variedade de astros que temos lá fora, a despeito de nossas classificações padronizadas.

Acompanhe o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube

]]>
70
Novo telescópio da Nasa poderá ver as primeiras galáxias do Universo, diz astrônoma brasileira https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/06/29/novo-telescopio-da-nasa-podera-ver-as-primeiras-galaxias-do-universo-diz-duilia-de-mello/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/06/29/novo-telescopio-da-nasa-podera-ver-as-primeiras-galaxias-do-universo-diz-duilia-de-mello/#comments Thu, 29 Jun 2017 23:30:16 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/06/conexao-duilia-180x101.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6530 Existe uma grande ansiedade para o lançamento do Telescópio Espacial James Webb, em outubro do ano que vem, sobretudo em conexão com o estudo de exoplanetas e a busca de potenciais evidências de habitabilidade e vida fora do Sistema Solar. Mas, quando o próximo grande observatório da Nasa foi projetado, seu objetivo era outro: sua missão principal era — e continua sendo — observar as primeiras galáxias do Universo.

Quem conta essa história é Duília de Mello, astrofísica, pesquisadora associada da agência espacial americana e vice-reitora da Universidade Católica da América, em Washington (EUA).

“O que ele foi feito mesmo para fazer é observar as primeiras galáxias. A gente não sabe quando as primeiras galáxias se formaram. A gente não sabe nem se teve uma primeira geração de estrelas e depois surgiram as galáxias, e é isso que o James Webb vai tentar ver”, afirma a pesquisadora ao Mensageiro Sideral.

Por essa razão, e diferentemente do Hubble, o novo telescópio será um observatório exclusivamente capaz de detectar luz infravermelha. Como o comprimento de onda da luz se estica ao atravessar grandes distâncias, em razão da expansão cósmica, o que era ultravioleta lá nos confins do Universo chega aqui já como infravermelho.

A astrônoma Duilia de Mello, com modelo do Telescópio Espacial James Webb (Crédito: Tommy Wiklind/Nasa)

“A gente vai conseguir então ver as primeiras galáxias, [que se formaram há] 13,5, 13,4 bilhões de anos. Essa é a ideia de observar com o James Webb, e é isso que eu quero fazer também — quero ver ‘baby galaxies’, galáxias bebezinhas, se formando”, conta Duília.

Os resultados que o novo telescópio trará com exoplanetas também empolgam a cientista. “Depois vamos ter de ter uma missão dedicada a exoplanetas, mas com o James Webb já se espera que se possa fazer alguma coisa transformadora, algo que vá ser legal.”

Em termos de pesquisa de exoplanetas, o foco estará sobre os mundos a orbitar estrelas menores e menos brilhantes — as anãs vermelhas, como Proxima Centauri, a estrela mais próxima do Sol. Contudo, há grande discussão entre os astrônomos se planetas na zona habitável dessas estrelas poderiam ou não ter ambientes favoráveis à vida. O James Webb pode ser o tira-teima neste caso.

Antes que ele possa fazer isso, contudo, o telescópio precisa ser lançado e funcionar corretamente. E Duília de Mello afirma que, no momento, esta é a maior preocupação de todos os envolvidos com o projeto. “Ele vai abrir [no espaço] igual a um guarda-chuvinha, e são 65 pontos de abertura. Se um desses der errado, são muitos bilhões de dólares, muita gente a perder o sono. Essa é a ansiedade atual.”

Concepção artística do James Webb no espaço (Crédito: Nasa)

Confira a seguir o que Duília de Mello tem a dizer sobre a inserção das mulheres na ciência, o que está reservado para o futuro do Hubble, qual telescópio a Nasa pretende lançar depois do James Webb, que pesquisas ela está conduzindo agora e qual foi a grande questão científica que já chegou a tirar seu sono, na entrevista completa.

Acompanhe o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube

]]>
109
Astronomia: A observação impossível de Einstein https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/06/19/astronomia-a-observacao-impossivel-de-einstein/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/06/19/astronomia-a-observacao-impossivel-de-einstein/#comments Mon, 19 Jun 2017 05:00:16 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/06/image2stscihp1725bf1200x900-180x135.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6502 Telescópio Hubble faz ‘observação impossível’ de Einstein e confirma teoria de evolução estelar.

A PEDIDO DE UM AMIGO
Em 1936, então já consagrado pela teoria da relatividade geral, Albert Einstein escreveu um curto artigo na revista “Science”, intitulado “Ação similar à de lente por uma estrela pelo desvio da luz no campo gravitacional”. Nele, o famoso físico descrevia como o alinhamento circunstancial de duas estrelas, com relação a nós, alteraria o caminho dos raios de luz do astro mais distante, produzindo um padrão de lente gravitacional ditado pelas equações da relatividade.

OBSERVAÇÃO IMPOSSÍVEL
Einstein, contudo, não tinha a menor esperança de ver tal observação realizada, principalmente por exigir um alinhamento muito preciso e, portanto, muito raro, e também por requerer incrível resolução dos telescópios. Ele conclui: “não há esperança de observar esse fenômeno diretamente”.

CORTA PARA 2013
Um grupo internacional de astrônomos, vasculhando cerca de 5.000 estrelas, encontrou uma que ia passar quase exatamente à frente de outra em março de 2014. Era uma anã branca — um cadáver estelar deixado pela morte de estrelas como o Sol após esgotar seu combustível — a meros 18 anos-luz daqui. Eles calcularam que o Telescópio Espacial Hubble, em princípio, podia observar o efeito de lente gravitacional descrito por Einstein.

TESTE DOS MODELOS
Uma das vantagens de obter sucesso na observação seria colocar à prova nossa compreensão teórica das anãs brancas. Se os modelos clássicos de evolução estelar estivessem certos, ela deveria ter 67% da massa do Sol. E a medida da lente gravitacional permitiria confrontar essa estimativa, já que a gravidade é proporcional à massa.

EINSTEIN TRIUNFA NOVAMENTE
Numa bateria de observações entre 2013 e 2015, os astrônomos conseguiram realizar a tal “observação impossível”. Apropriadamente, acabam de publicar seus resultados na “Science”, indicando a massa da estrela com incrível precisão: 67,5%, com margem de erro de 0,5%. Na mosca! Oitenta anos depois, os trabalhos de Einstein continuam a nos ajudar a desvendar os mistérios do Universo.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

Acompanhe o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube

]]>
208