Mensageiro Sideral https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br De onde viemos, onde estamos e para onde vamos Sat, 04 Dec 2021 19:09:39 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 O mistério cósmico do ovo e da galinha https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/06/17/o-misterio-cosmico-do-ovo-e-da-galinha/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/06/17/o-misterio-cosmico-do-ovo-e-da-galinha/#respond Mon, 17 Jun 2019 05:00:33 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2019/06/heic1911a-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8902 Sabemos que toda grande galáxia tem um buraco negro supergigante em seu centro. Mas há nesse fato um mistério clássico, no melhor estilo “o que vem primeiro, o ovo ou a galinha?”. É a galáxia que, ao evoluir, gera um buraco negro com milhões de vezes a massa do Sol, ou é o buraco negro gigante e antigo que faz evoluir a galáxia no seu entorno? A resposta a essa pergunta ainda é desconhecida, e o mais provável é que ela seja similar à do ovo ou da galinha, necessariamente prefaciada com as palavras “é mais complicado que isso”.

Na semana passada, a equipe responsável pelo Telescópio Espacial Hubble divulgou imagens de um bom lugar onde procurarmos pistas para resolver o enigma: a galáxia ESO 495-21, localizada a 30 milhões de anos-luz daqui, na constelação austral da Bússola.

Ela é bem pequena, com apenas 3 mil anos-luz de diâmetro (comparados aos 100 mil anos-luz da Via Láctea), e no entanto está formando estrelas num ritmo assustador — mil vezes mais depressa do que na nossa galáxia. Mas o mais interessante é que há evidências de que, em seu centro, há um buraco negro supergigante com massa de 1 milhão de sóis. É menor que o da Via Láctea (com massa estimada em 4 milhões de sóis), mas ainda assim é proporcionalmente muito grande, em contraste com o tamanho da galáxia.

O pequeno porte, a forma indistinta e a produção acelerada de estrelas fazem da galáxia ESO 495-21 um exemplar bastante incomum entre as populações galácticas mais próximas da Terra. Os astrônomos acreditam, contudo, que ela provavelmente se sentiria em casa no passado remoto do Universo, onde galáxias pequenas, bagunçadas e com alta taxa de formação estelar (as chamadas “galáxias starburst”) deviam ser o feijão com a arroz cósmico.

O fato de que ela, apesar da aparência jovial, provavelmente tem um superburaco negro dá a impressão de que esses objetos surgem bem cedo na história de uma galáxia — se é que não nascem primeiro que ela. O certo é que, uma vez que temos uma galáxia jovem e um superburaco negro para lhe servir de centro, ambos evoluem de mãos dadas. Os jatos de radiação emitidos pelo disco de gás que circunda o buraco negro ajudam a modular a formação estelar da galáxia em volta, e a presença de matéria galáctica ajuda a alimentar o buraco negro e fazê-lo crescer.

Uma questão importante em aberto é a de como nascem os buracos negros supergigantes em primeiro lugar. Ajuda providencial nesse sentido está vindo das detecções recentes de ondas gravitacionais, que estão permitindo identificar uma população de buracos negros jamais sondada antes. Pouco a pouco, os astrônomos vão juntando as peças para no fim das contas responder à pergunta que mais nos interessa: como viemos parar aqui?

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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Cientistas encontram primeira evidência de uma lua fora do Sistema Solar https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/10/04/cientistas-encontram-primeira-evidencia-de-uma-lua-fora-do-sistema-solar/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/10/04/cientistas-encontram-primeira-evidencia-de-uma-lua-fora-do-sistema-solar/#respond Thu, 04 Oct 2018 03:02:22 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/exomoon-kepler-1625b-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8197 Quando o primeiro exoplaneta fora do Sistema Solar foi descoberto, em 1992, era uma bizarrice impensável: planetas que orbitavam um pulsar, o cadáver de uma estrela de alta massa. Quando o primeiro exoplaneta a orbitar uma estrela similar ao Sol foi descoberto, em 1995, era uma bizarrice impensável: um gigante gasoso que completava uma volta ao redor de seu astro-rei em meros 4 dias. Agora, em 2018, começam a se consolidar as primeiras evidências da descoberta de uma exolua, ou seja, uma lua de um planeta fora do Sistema Solar. E, adivinhe só, é uma bizarrice impensável.

Se Alex Teachey e David Kipping, da Universidade Columbia, em Nova York, estiverem certos, trata-se de uma lua do tamanho de Netuno a orbitar um planeta do tamanho de Júpiter. É para fritar a cabeça dos cientistas que tentam explicar como satélites naturais se formam. Mas primeiro precisa ser mesmo verdade, o que não é ainda certo — embora a hipótese tenha ganho um senhor empurrão com um novo artigo que a dupla acaba de publicar no periódico Science Advances, relatando resultados obtidos com o Telescópio Espacial Hubble.

A história começou no ano passado, quando Teachey e Kipping usaram uma técnica interessante para buscar evidências de exoluas nos dados do satélite Kepler, da Nasa.

Rememorando: o Kepler foi construído para encontrar planetas fora do Sistema Solar monitorando de forma constante o brilho de mais de 100 mil estrelas. A ideia era flagrar pequenas reduções periódicas de luminosidade que correspondessem à passagem de planetas à frente dessas estrelas, com relação à linha de observação do satélite. Deu certo, e milhares de planetas foram descobertos por este método.

Não é difícil imaginar como procurar também por exoluas com esses dados. Muitos pesquisadores imaginaram que, se houvesse alguma lua associada aos exoplanetas descobertos pelo Kepler, poderia haver alguma variação sutil no padrão de variação de brilho observado, dependendo da posição que a lua guardasse com relação ao planeta no momento do trânsito. O problema é que essa variação seria tão sutil, e provavelmente embaralhada ao limite de precisão do equipamento, que não seria nada fácil encontrá-la.

Teachey e Kipping, no entanto, não desistiram e desenvolveram um método em que “empilhavam” diversos trânsitos para tentar encontrar algo que indicasse a presença de uma exolua. E, em meio a vários sinais ambíguos, teve um que chamou a atenção, referente ao planeta Kepler-1625b. Ele foi descoberto ao redor de uma estrela similar ao Sol, mas bem mais velha, a 8.000 anos-luz de distância, na constelação do Cisne. E os dois pesquisadores de Columbia notaram que, entre os três trânsitos observados pelo Kepler, haviam variações que podiam ser bem explicadas por uma lua orbitando ao seu redor. Mas seria uma lua monstruosa, pelos nossos padrões atuais.

No Sistema Solar, a maior das luas é Ganimedes, de Júpiter, com 5.268 km de diâmetro. Ela é maior que o planeta Mercúrio, com seus 4.879 km de diâmetro, mas perde em tamanho de todos os demais planetas, e seu porte se encaixa bem ao processo de formação sugerido pelos cientistas para explicar luas ao redor de planetas gigantes. Já a hipotética exolua de Kepler-1625b seria mais ou menos do tamanho do planeta Netuno, ou seja, teria ela mesma o porte de um mundo gigante gasoso!

Desnecessário dizer que ninguém sabia (ou sabe) como um exoplaneta poderia ter uma lua tão grande. Daí a cautela dos pesquisadores. Eles decidiram que o próximo passo deveria pedir tempo no disputado Telescópio Espacial Hubble, para conferir com mais precisão um trânsito de Kepler-1625b à frente de sua estrela.

O novo artigo, publicado nesta quarta-feira (3), traz justamente essa nova observação, feita em outubro do ano passado e 3,8 vezes mais precisa que as obtidas originalmente com o Kepler. E ela tem elementos que favorecem a hipótese de que a tal exolua gigante é real, embora ainda não permita cravar a descoberta.

Dois fatos ligados à observação parecem corroborar a ideia. O primeiro foi que o planeta chegou “adiantado” para o trânsito, começando a passar à frente de sua estrela-mãe 77,8 minutos antes do esperado. É o que os cientistas chamam de TTV, sigla inglesa para variação no tempo do trânsito. Em geral, ela indica que há alguma interação gravitacional responsável por causar atrasos o adiantamentos do planeta observado. No caso em questão, é bem possível que essa interação seja causada pela presença de uma lua bem grande. (Tenha em mente que dois objetos astronômicos na verdade não giram exatamente um ao redor do outro, mas ambos ao redor do centro de massa do sistema que compõem; se o sistema é de uma lua relativamente grande, se comparada ao planeta, a oscilação ao redor do centro de massa do sistema por parte do planeta podia explicar como ele pode às vezes transitar adiantado, e às vezes atrasado, com relação a uma dada medição.)

Também é verdade que TTVs podem ser explicadas pela presença de outros planetas, em vez de luas, e por isso a evidência apresentada não é conclusiva — talvez exista um planeta adicional ainda não descoberto que explique a variação.

Já o segundo fato revelado pela observação do Hubble é mais difícil de explicar. Acompanhe comigo: se o exoplaneta chegou muito adiantado no trânsito pela presença de uma exolua, é de se supor que a exolua estivesse no lado oposto ao do movimento de translação do planeta. Isso significa que, após o trânsito dele, talvez fosse possível observar um trânsito dela, vindo logo atrás.

E é isso que o gráfico de luminosidade da estrela parece revelar — logo após a grande redução de brilho causada pela passagem do planeta, vem uma redução de brilho menor, mas clara, que… não chegamos a ver terminar porque o tempo de observação alocado para os pesquisadores (40 respeitáveis horas, para um trânsito planetário que duraria 19 horas) terminou antes do fim do possível trânsito da exolua!

Imagem ajuda a entender o que o Hubble teria visto, caso o sinal seja mesmo de uma exolua. (Crédito: ESA/Nasa/STScI)

“Uma lua companheira é a explicação mais simples e natural para a segunda redução na curva de luz e o desvio no tempo da órbita”, disse Kipping em nota. “Foi definitivamente um momento chocante ver aquela curva de luz do Hubble, meu coração começou a bater um pouco mais depressa quando eu continuava a olhar para aquela assinatura. Mas sabíamos que nosso trabalho era manter a cabeça no lugar e essencialmente presumir que era um erro, testando todos os modos concebíveis pelos quais os dados podiam estar nos enganando.”

Por esse invejável e muito sensato excesso de zelo, ainda não dá para cravar que encontramos a primiera exolua. Os próprios pesquisadores deixam isso claro em seu artigo científico, dizendo: “advogamos que se façam monitoramentos futuros do sistema para chegar as predições do modelo e confirmar a repetição do sinal similar ao de uma lua”.

A BIZARRICE
Partindo de modelos, os pesquisadores sugerem que a exolua teria diâmetro e massa similares aos de Netuno, e orbitaria um planeta com diâmetro um pouco maior que o de Júpiter, mas com massa bem maior. Imagina-se que a exolua de Kepler-1625b responda por apenas 1,5% da massa atribuída ao planeta — uma proporção mais ou menos igual à do sistema Terra-Lua, mas em versão tamanho família.

Os dinamicistas não têm a menor ideia de como um Netuno poderia se formar ao redor de um superjúpiter. A hipótese mais simples seria imaginar que ambos nasceram como planetas e um acabou capturado pela gravidade de outro e convertido em lua, mas é bem complicado fazer isso “funcionar” em simulações.

Curiosamente, Kepler-1625b está na zona habitável de sua estrela, completando uma volta ao redor dela a cada 287 dias. Evidentemente, como se trata de um gigante gasoso (assim como sua potencial exolua), não poderia abrigar vida. Mas e se houver uma outra lua, menorzinha e rochosa, capaz de manter água em estado líquido na superfície e, por consequência, uma biosfera? Podemos aí ter certeza de que, se ela existe, deve proporcionar a seus habitantes um dos espetáculos celestes mais bonitos da Via Láctea.

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[Astronomia] Foto dos 28 anos do Hubble traz a pergunta: cores são falsas? https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/04/23/astronomia-o-show-do-hubble-e-mesmo-tudo-photoshop/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/04/23/astronomia-o-show-do-hubble-e-mesmo-tudo-photoshop/#respond Mon, 23 Apr 2018 05:00:57 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/04/heic1808a-320x213.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7618 A Nasa celebra nesta semana o 28° aniversário do glorioso Telescópio Espacial Hubble. Para comemorar, a agência sempre produz uma nova imagem espetacular, e a deste ano é de tirar o fôlego: admire em toda a sua glória a Nebulosa da Lagoa.

Ou melhor, admire parcialmente a glória de um pedaço pequeno e especialmente bonito da Nebulosa da Lagoa. Trata-se de um vasto berçário estelar a uns 4.000 anos-luz daqui, na constelação de Sagitário. Lá, nuvens de gás estão gestando estrelas neste exato momento.

A nebulosa inteira tem uns 55 anos-luz de largura, dos quais apenas 4 saíram na foto. E o que normalmente se fala diante das incríveis imagens do Hubble é: as cores são verdadeiras ou tudo não passa de Photoshop?

Para responder, cabe seguir as sábias palavras do mestre jedi Obi-Wan Kenobi: as cores são verdadeiras… “de um certo ponto de vista”.

O que são cores? Seria errado dizer que são uma propriedade da luz. Na verdade, elas são interpretações feitas pelo nosso cérebro de uma propriedade da luz.

Partículas luminosas, os chamados fótons, têm vários níveis de energia. Essa é a diferença entre vermelho e verde. Energia. Nossos olhos têm células especializadas em detectar certas faixas de energia apenas, e aí nosso cérebro “faz o photoshop”, combinando-as numa imagem colorida.

A exemplo dos nossos olhos, o Hubble também tem sensores especializados, mas em número muito maior. Os astrônomos podem comandar o telescópio a “enxergar” apenas “cores” muito específicas, como a que é emitida pelos átomos de hidrogênio numa dada circunstância. É quase um superpoder: “visão de H-alfa”.

No fim, basta combinar observações feitas com vários filtros como esse numa imagem colorida para que possamos perceber com nossos olhos todas as nuances dos fenômenos astronômicos com a mesma eficiência que o próprio Hubble, mesmo sem enxergarmos tão bem quanto ele.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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Astronomia: Viagem à nebulosa de Órion https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/01/15/astronomia-viagem-a-nebulosa-de-orion/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/01/15/astronomia-viagem-a-nebulosa-de-orion/#comments Mon, 15 Jan 2018 04:00:42 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/nebula-orion-nasa-180x101.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7294 Imagens dos telescópios Hubble e Spitzer ajudam a criar viagem 3D pela nebulosa de Órion.

ARTE E CIÊNCIA
A nebulosa de Órion é uma das figurinhas mais fáceis do céu. A olho nu, ela parece apenas uma estrela, próxima às famosas Três Marias. Ao telescópio, é um espetáculo de cores — um berçário estelar de 2 milhões de anos, localizado a 1.350 anos-luz daqui. E agora astrônomos e artistas da Nasa se reuniram para nos propiciar uma visita a um dos lugares mais maravilhosos de nossa vizinhança cósmica.

HUBBLE E SPITZER
A renderização 3D da nebulosa é baseada em observações feitas pelos telescópios espaciais Hubble e Spitzer. O Hubble, com seus filtros em luz visível, revela a visão aproximada de nossos próprios olhos, caso estivessem lá.

INVISÍVEL
Já o Spitzer se concentra em colher luz que é invisível aos nossos olhos, infravermelha — a mesma que sai do controle da TV. Ela revela os segredos da nebulosa em meio a seu ambiente empoeirado, onde estrelas e sistemas planetários inteiros estão sendo gestados.

LONGA VIAGEM
Uma viagem até a nebulosa de Órion é improvável; tal jornada, mesmo próximo à velocidade da luz, levaria mais de mil anos. E, com tecnologias atuais, mude o número para milhões. Mas, graças ao olhar afiado dos telescópios espaciais e ao poder da computação gráfica, podemos visitá-la virtualmente.

ESTRELAS NASCENTES
Num espaço de apenas 24 anos-luz de diâmetro, mais de 700 estrelas individuais já foram identificadas, e outras ainda estão por nascer em meio ao gás. A forte emissão de luz ultravioleta das estrelas maiores escavou uma espécie de bacia na nebulosa. Ao redor dessas estrelas, o Hubble já conseguiu identificar vários discos protoplanetários — planetas como a Terra decerto estão nascendo lá agora.

MORTE E VIDA
E assim caminha o Universo, em seu ciclo contínuo de criação e destruição. Conforme as estrelas vão nascendo, interações gravitacionais ao longo de milhões de anos acabam as expulsando do aglomerado, até dissipá-lo. Esses astros então terão suas órbitas individuais na Via Láctea, longe de seu berço, da mesma forma que provavelmente ocorreu ao Sol e sua família de planetas, há bilhões de anos.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

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Astronomia: A estrela que desapareceu https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/05/29/astronomia-a-estrela-que-desapareceu/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/05/29/astronomia-a-estrela-que-desapareceu/#comments Mon, 29 May 2017 05:00:43 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/05/collapsingst-180x120.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6428 Cientistas testemunham estrela virar buraco negro e sumir, sem explodir como supernova.

JANELA INDISCRETA
Descobrir supernovas nunca foi trabalho duro. Afinal, essas imensas explosões cósmicas de estrelas de alta massa que esgotaram seu combustível interno são tudo, menos discretas. As detonações cataclísmicas chegam a brilhar mais que a soma de todas as estrelas em uma galáxia.

MORTE VIOLENTA
Essa é a forma de morte esperada para astros bem maiores que o Sol. Em sua fase final, conforme a capacidade de gerar energia vai se esvaindo, eles incham e se tornam estrelas gigantes vermelhas. Ao fim do processo, não há mais como contrabalançar a gravidade, e o núcleo estelar é esmagado. Num efeito rebote, as camadas exteriores são expelidas. Faça-se a luz.

VARIANTE SUTIL
Os astrônomos há tempos desconfiam, contudo, que algumas dessas estrelas podem passar pelo processo de implosão sem chegar a gerar uma supernova. Elas teriam um sutil aumento de brilho e, em seguida, entrariam em colapso, virando um buraco negro. Agora, uma equipe da Universidade Estadual de Ohio anunciou ter, pela primeira vez, conclusivamente testemunhado o fenômeno.

CADÊ A ESTRELA?
Imagens do Telescópio Espacial Hubble produzidas em 2007 revelavam uma gigante vermelha, com 25 vezes a massa do Sol, na galáxia espiral NGC 6946, a 22 milhões de anos-luz daqui. Mas, em 2015, observações feitas com o Large Binocular Telescope, no Arizona, indicaram que ela desapareceu. Uma nova imagem feita pelo Hubble confirmou o sumiço, e observações com o satélite Spitzer, em infravermelho, apontaram a mesma coisa. Ali, diante dos telescópios, uma estrela morreu, e um buraco negro nasceu, sem supernova.

AH, BOM
O achado ajuda a explicar por que a taxa de formação de estrelas de alta massa parece ser maior que a de supernovas. Segundo o grupo de Ohio, até 30% das estrelas podem morrer sem explosão. A descoberta também é consistente com as recentes detecções de ondas gravitacionais da colisão de buracos negros com 30 massas solares — objetos grandes demais para terem nascido só com o que restou de uma supernova.

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AO VIVO: Nasa anuncia novas descobertas sobre mundos-oceanos além da Terra https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/04/12/ao-vivo-nasa-anuncia-novas-descobertas-sobre-mundos-oceanos-alem-da-terra/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/04/12/ao-vivo-nasa-anuncia-novas-descobertas-sobre-mundos-oceanos-alem-da-terra/#comments Wed, 12 Apr 2017 17:25:20 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/04/astrobiologia-nasa-180x101.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6213 A Nasa, agência espacial americana, apresenta nesta quinta-feira (13) novos resultados obtidos com a sonda Cassini e o Telescópio Espacial Hubble sobre os mundos-oceanos do nosso Sistema Solar. Confira a entrevista coletiva ao vivo, com tradução simultânea do Mensageiro Sideral.

Participam do evento no Quartel-General da Nasa:

– Thomas Zurbuchen, vice-administrador do diretório de ciência no QG da Nasa em Washington.
– Jim Green, diretor da divisão de ciência planetária no QG da Nasa.
– Mary Voytek, astrobióloga sênior no QG da Nasa.
– Linda Spilker, cientista de projeto da Cassini no JPL (Jet Propulsion Laboratory), em Pasadena, Califórnia.
– Hunter Waite, líder da equipe do Cassini Ion and Neutral Mass Spectrometer no Southwest Research Institute (SwRI) em San Antonio.
– Chris Glein, associado da equipe do Cassini INMS no SwRI.
– William Sparks, astrônomo do Space Telescope Science Institute, em Baltimore.

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Plutão e suas luas muito loucas https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2015/06/03/plutao-e-suas-luas-muito-loucas/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2015/06/03/plutao-e-suas-luas-muito-loucas/#comments Wed, 03 Jun 2015 19:07:02 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=3475 Nunca a frase “amanhã é outro dia” foi tão verdadeira. Em algumas das pequenas luas de Plutão, jamais um dia é igual ao outro. Uma análise detalhada das imagens obtidas nos últimos anos pelo Telescópio Espacial Hubble sugere que pelo menos duas delas — e possivelmente todas as quatro — têm um comportamento para lá de bizarro: elas giram em torno de seu próprio eixo de forma caótica. Em outras palavras, é impossível prever quando o Sol nasce e se põe por lá a cada dia, ou em que direção.

Sequência ilustra (falta de) padrão de rotação esperado em Nix, uma das pequenas luas de Plutão. (Crédito: Nasa)
Sequência ilustra (falta de) padrão de rotação esperado em Nix, uma das pequenas luas de Plutão. (Crédito: Nasa)

O estudo, feito por Mark Showalter, do Instituto SETI, e Douglas Hamilton, na Universidade de Maryland, figura nas páginas do periódico “Nature” e é basicamente a última chance que eles têm de fazer previsões e descobertas com imagens colhidas à distância, antes que a espaçonave New Horizons coloque um ponto final a tudo que se pode especular de longe.

A sonda da Nasa passará pelo planeta anão e seu intrincado sistema de satélites naturais no dia 14 de julho. E, confesso, estou quase roendo as unhas de tanta ansiedade. Mas os cientistas, sempre mais controlados, estão meramente fazendo previsões.

Analisando cuidadosamente os padrões de brilho e os movimentos das luas Estige, Nix, Cérbero e Hidra — todas pequenas, de forma irregular e descobertas nos últimos anos –, Showalter e Hamilton fizeram algumas inferências curiosas. Eles notaram, por exemplo, que as cinco lunas plutonianas — incluindo aí a maior, mais próxima e mais conhecida, Caronte — parecem ter um padrão de ressonância quase exato entre seus períodos orbitais. Ou seja, enquanto Caronte dá seis voltas em torno do centro de gravidade do sistema (que fica perto de Plutão, mas não dentro dele, de forma que o planeta anão também orbita em torno de um “ponto vazio” no centro de tudo), Hidra dá uma. Para cada cinco voltas de Caronte, Cérbero, dá uma. Para cada quatro voltas de Caronte, Nix dá uma. E para cada três voltas de Caronte, Estige completa uma.

Plutão e suas luas, em imagem do Hubble (Crédito: Nasa)
Plutão e suas luas (Caronte, Estige, Nix, Cérbero e Hidra), em imagem do Hubble (Crédito: Nasa)

Além disso, análises da luz emanada dessas luas mais afastadas parecem sugerir que uma interação gravitacional entre elas e os dois maiores objetos do sistema impedem uma rotação estável. Enquanto Plutão e Caronte giram em torno de seus próprios eixos de modo que um esteja sempre com a mesma face voltada para o outro, e vice-versa, as outras quatro luas parecem ter um giro altamente irregular. Quase com certeza Nix e Hidra estão nessa, e possivelmente também Cérbero e Estige.

Outra coisa estranha é que Nix e Hidra parecem ter o formato de uma bola de futebol, enquanto Cérbero parece ser mais escuro que todos os demais, mostrando uma heterogeneidade na composição difícil de explicar.

Melhor imagem até agora obtida de Plutão, pela sonda New Horizons (Crédito: Nasa)
Melhor imagem até agora obtida de Plutão, pela sonda New Horizons (Crédito: Nasa)

Tudo isso começará a ser esclarecido em pouco mais de um mês, quando a New Horizons estiver em boa posição para destrancar os mistérios de Plutão e suas luas. Falta pouco agora. Semana passada, a Nasa divulgou as primeiras imagens colhidas pela sonda que já superam em qualidade as produzidas pelo Hubble. Dê uma olhada (aí do lado) e prepare-se para os próximos dias. Serão de arrepiar.

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A galáxia mais distante já vista https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2015/05/13/a-galaxia-mais-distante-ja-vista/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2015/05/13/a-galaxia-mais-distante-ja-vista/#comments Wed, 13 May 2015 08:57:21 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=3364 Novo recorde na astronomia: um grupo internacional de pesquisadores anunciou a descoberta da galáxia mais distante já vista até agora. A luz detectada pelos telescópios partiu dela quando o Universo tinha apenas cerca de 5% de sua idade atual, mais de 13 bilhões de anos atrás. O achado representa uma janela para a investigação da turbulenta adolescência cósmica — o que, convenhamos, é um grande feito. Todo mundo sabe que adolescentes nunca gostam de ser espionados.

Imagem do Telescópio Espacial Hubble detecta luz de galáxia formada mais de 13 bilhões de anos atrás.
Imagens do Telescópio Espacial Hubble detectam luz da galáxia mais distante já vista (seta indica a posição, zoom no destaque), formada mais de 13 bilhões de anos atrás. (Crédito: Nasa/ESA)

A galáxia EGS-zs8-1, como foi batizada pelos cientistas, é particularmente surpreendente, porque, apesar de ser uma das primeiras da história do Universo (ao menos que tenhamos conseguido ver até agora), ela já é bem parrudinha — os pesquisadores liderados por Pascal Oesch, da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, estimam que ela tenha cerca de 15% da massa da nossa Via Láctea.

A detecção original foi feita combinando dados dos telescópios espaciais Hubble e Spitzer, e a observação subsequente que permitiu a estimativa da distância (e da idade) foi conduzida com o telescópio Keck I, no Havaí. Os resultados acabam de ser publicados no periódico “Astrophysical Journal Letters”.


OUTRAS HISTÓRIAS LEGAIS QUE VOCÊ PODE TER PERDIDO:
Nasa divulga imagem em alta definição dos pontos brilhantes de Ceres
Grupo detecta evidência de vulcões em planeta infernal fora do Sistema Solar


DE VOLTA AO COMEÇO
É uma coisa que encanta tanto quanto choca, mas observar as profundezas do cosmos equivale a comprar um bilhete para uma viagem ao passado. Como a luz viaja a uma velocidade enorme, mas ainda assim limitada, sua travessia de enormes distâncias no espaço não é instantânea. A luz dessa galáxia longínqua que agora chega aos nossos telescópios partiu de lá quando o Universo tinha “apenas” 650 milhões de anos — hoje ele tem 13,8 bilhões de anos.

E como sabemos há quanto tempo a luz está em trânsito? Acontece que, enquanto ela viaja pelo espaço, o próprio espaço está se esticando — um efeito da expansão iniciada pelo Big Bang. E aí isso faz com que a própria onda de luz se estique durante o caminho, alterando sua frequência. Em outras palavras, a luz vai ficando mais avermelhada. A medição precisa desse “desvio para o vermelho” (ou redshift, em inglês) é o que permite calcular quanto espaço a luz de fato atravessou.

No caso em questão (redshift = 7,73, para os entendidos), a luz da galáxia EGS-zs8-1 (como foi batizada pelos astrônomos) viajou por cerca de 13,1 bilhões de anos, mas a galáxia a essa altura está a uma distância bem maior que 13,1 bilhões de anos-luz, pois regiões do espaço que estavam mais comprimidas na época em que a luz começou sua jornada hoje já se esticaram bem mais. Resultado: EGS-zs8-1 deve estar atualmente a quase 30 bilhões de anos-luz da Terra.

A análise da luz permitiu estimar não só o porte da galáxia, comparado ao da Via Láctea, como também deu margem a um cálculo do ritmo de formação estelar nela. E ele é cerca de 80 vezes maior do que o visto na nossa galáxia hoje.

PUBERDADE CÓSMICA
Trata-se de mais um estudo que ajuda a consolidar a noção de que o Universo teve uma adolescência tardia, rápida e furiosa, atingindo um alto grau de maturidade já em seu primeiro bilhão de anos de existência. Decerto, naquela galáxia, mais de 13 bilhões de anos atrás, havia um grande número de estrelas e um enriquecimento razoável das nebulosas com elementos químicos pesados — por meio de supernovas — para viabilizar a existência de todos os ingredientes necessários à vida. Ao que tudo indica, somos recém-chegados a uma festa que já está rolando há muito, muito tempo.

Os pesquisadores estão encantados com o acesso cada vez maior, por meio de instrumentos mais sofisticados, desse período crucial da “puberdade” cósmica, a chamada era da reionização, em que as galáxias já começavam a se tornar grandonas, mas se comportavam de maneira bem diferente de suas versões maduras, produzindo estrelas em ritmo furioso. A expectativa deles é que novos recordes de distância (e idade) sejam batidos nos próximos anos, sobretudo quando o Telescópio Espacial James Webb, rotulado pela Nasa como o sucessor do Hubble, for ao espaço, em 2018.

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Viajando pelo espaço com o Hubble https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2015/04/24/viajando-pelo-espaco-com-o-hubble/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2015/04/24/viajando-pelo-espaco-com-o-hubble/#comments Fri, 24 Apr 2015 08:58:20 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=3305 Quantas vezes você viu uma daquelas imagens incríveis do Hubble e quis por um instante ser capaz de viajar até lá para ver tudo de perto? Pois bem. Hoje, vamos fazer exatamente isso.

O aglomerado Westerlund 2 e a nebulosa Gum 29, em imagem obtida pelo Hubble em comemoração a seus 25 anos (Crédito: Nasa/ESA/STScI)
O aglomerado Westerlund 2 e a nebulosa Gum 29, em imagem obtida pelo Telescópio Espacial Hubble em comemoração a seus 25 anos de operações em órbita (Crédito: Nasa/ESA/STScI)

Em comemoração aos 25 anos do telescópio mais amado do mundo, completados exatamente hoje, 24 de abril de 2015, a Nasa e a ESA produziram uma reconstituição de como seria uma jornada interestelar até um aglomerado de estrelas chamado Westerlund 2. Confira o vídeo, narrado pelo Mensageiro Sideral.

Westerlund 2 fica na região da nebulosa Gum 29, localizada a 20 mil anos-luz da Terra, na constelação austral da Quilha (ou Carina). O Hubble só pode fotografá-la das redondezas da Terra, a partir de sua órbita a cerca de 500 km de altitude. Mas imagine percorrer essa distância toda em pouco mais de um minuto, atravessando incríveis nuvens e pilares onde novas estrelas estão prestes a nascer, e então chegar ao aglomerado aberto, recheado de estrelas jovens e muito brilhantes. Estima-se que ele tenha apenas 2 milhões de anos — uma ninharia em termos cósmicos.

Em mais alguns milhões de anos, muitas dessas estrelas maiores explodirão em rápida sucessão, como milho de pipoca, na forma de supernovas. Essa violência acabará por levar à dispersão do aglomerado, e as estrelas mais modestas se espalharão pela Via Láctea. Um dia, num passado remoto, quase 5 bilhões de anos atrás, algo parecido deve ter acontecido ao nosso Sol.

É um daqueles momentos de revelação. A mesma coisa que aconteceu por aqui há muito tempo, neste exato momento, se desenrola em outros cantos da galáxia, e acontecerá ainda em muitos outros lugares espalhados pelo cosmos. Somos parte de uma história muito maior que nós mesmos. E, graças ao Hubble, temos hoje o poder de contextualizar nosso papel no incrível teatro do Universo.

NA TV: Neste sábado (25), dois programas imperdíveis! Às 16h, na TV Cultura, a série “SP Pesquisa” irá explorar um tema muito afeito aos leitores do Mensageiro Sideral — a origem da vida. E a partir das 22h, no Jornal das Dez da GloboNews, vamos relembrar os 25 anos do Telescópio Espacial Hubble e suas principais descobertas. Confira!

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Hubble detecta possível planeta em Alfa Centauri https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2015/04/13/hubble-detecta-possivel-planeta-em-alfa-centauri/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2015/04/13/hubble-detecta-possivel-planeta-em-alfa-centauri/#comments Mon, 13 Apr 2015 08:58:45 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=3242 O Telescópio Espacial Hubble pode ter detectado a presença de um planeta de porte similar ao da Terra no sistema estelar mais próximo de nós — Alfa Centauri. Se confirmada, a descoberta seria extraordinária. Mas os cientistas adotam cautela — como canja de galinha, ela nunca faz mal a ninguém. Tudo que temos no momento é a detecção de uma redução momentânea do brilho da estrela, como se um planeta tivesse passado à sua frente.

Concepção artística de planeta rochoso em torno de Alfa Centauri B (Crédito: ESO)
Concepção artística de planeta rochoso em torno de Alfa Centauri B (Crédito: ESO)

O trabalho foi publicado no periódico “Monthly Notices of the Royal Astronomical Society” e tem como autores alguns dos pesquisadores mais respeitados no campo dos exoplanetas — dentre eles Didier Queloz, um dos descobridores do primeiro mundo a orbitar uma estrela similar ao Sol, em 1995. (Por falar nisso, é incrível pensar que nos últimos 20 anos fomos de zero descobertas a tudo que sabemos hoje. Vivemos numa época especial. Baita privilégio.)

Curiosamente, o grupo internacional estava procurando confirmar a presença de um outro planeta de tamanho similar ao da Terra que chegou a ser anunciado em 2012, mas até agora não convenceu completamente a comunidade científica, que o trata meramente como “candidato”. Não rolou. Nenhuma confirmação pôde ser obtida. Em compensação, eles podem ter atirado no que viram e acertado no que não viram — um outro planeta.

(Você se interessa pelo tema busca por vida extraterrestre e deseja se aprofundar no assunto? Dê uma olhadinha nisto aqui!)

Confuso, né? Acredite, os cientistas também se sentem assim no que diz respeito a Alfa Centauri — que na verdade é um sistema com três estrelas. Alfa Centauri A e B são bem parecidas com o Sol — a primeira um pouquinho maior, a segunda um cadinho menor — e giram uma ao redor da outra a cada 80 anos, aproximadamente. Já a terceira estrela é uma anã vermelha, bem menor que o Sol, chamada Proxima Centauri. Ela orbita em torno das duas maiores a uma distância de cerca de 0,2 ano-luz. O sistema fica a aproximadamente 4,3 anos-luz do Sol.

Apesar de ser o sistema estelar mais próximo de nós, não é nada fácil encontrar planetas por lá. E veja você que os astrônomos têm tentado desde que primeiro desenvolvemos as tecnologias para procurá-los.

BUSCAS INDIRETAS
Tentar tirar fotos dos planetas, com os telescópios atuais, é impraticável, salvo em circunstâncias muito especiais. A luz da estrela é tão maior que a do planeta que é como tentar enxergar uma pulga num holofote visto a quilômetros de distância. Diante dessa dificuldade, os cientistas apelam para dois métodos indiretos. O mais antigo deles é o que envolve medir variações na assinatura de luz da estrela. Vamos entender isso.

Planetas girando em torno de estrelas, apesar de muito menores que elas, provocam efeitos gravitacionais no astro central. Conforme eles avançam em sua órbita, puxam a estrela para lá e para cá, causando nela uma espécie de bamboleio. Pouca coisa, deslocamentos da ordem de poucos metros ou centímetros por segundo. Mas esse zigue-zague sutil pode ser identificado no espectro da estrela, do mesmo jeito que conseguimos dizer se uma ambulância está se afastando ou se aproximando pelo tom da sirene — é o chamado efeito Doppler.

Para isso, os astrônomos usam espectrógrafos, instrumentos instalados em telescópios que conseguem medir precisamente essa variação. Precisamente naquelas — o limite da tecnologia atualmente é de cerca de meio metro por segundo.

Foi usando o melhor desses espectrógrafos dedicados a buscas de exoplanetas, o HARPS, do ESO (Observatório Europeu do Sul), que astrônomos do Observatório de Genebra — dentre eles alguns dos autores do atual trabalho — encontraram em Alfa Centauri B um “bamboleio” compatível com a presença de um planeta com apenas 10% mais massa que a Terra numa órbita extremamente curta, completando uma volta a cada 3,2 dias terrestres.

Desde então, diversos outros grupos têm tentado confirmar a descoberta com dados de outros espectrógrafos e novas análises dos espectros colhidos pelo HARPS. Ninguém chegou perto. E tudo ficou mais complicado desde o ano passado, conforme as órbitas de Alfa Centauri A e B as aproximaram uma da outra, com relação a observadores na Terra. Com a aproximação, ficou muito mais difícil colher a assinatura de luz de uma das estrelas sem contaminá-la com a assinatura da vizinha.

A órbita de Alfa Centauri B em torno de A e a posição aparente no céu, vista da Terra, ao longo dos últimos anos. (Crédito: Wikipedia Commons)
A órbita de Alfa Centauri B em torno de A e a posição aparente no céu, vista da Terra, ao longo dos últimos anos. (Crédito: Wikipedia Commons)

UMA ESTRATÉGIA DIFERENTE
E aí é que entra a técnica empregada agora pelos cientistas com o Telescópio Espacial Hubble. Ela não tenta encontrar planetas observando variações na luz relacionadas ao bamboleio estelar. Em vez disso, consiste em detectar reduções momentâneas no brilho da estrela conforme planetas passam à sua frente. É a mesma estratégia que foi aplicada com sucesso pelo satélite Kepler, da Nasa, para descobrir mais de mil planetas e outros 4.000 candidatos ainda aguardando confirmação.

Era um tiro no escuro, por uma razão muito simples — para detectar esses trânsitos planetários, o sistema precisa estar num alinhamento preciso com relação a nós. Os pesquisadores estimaram que a chance de termos essa sorte, no caso de Alfa Centauri B, era de 9,5%. Pequena, verdade, mas ainda assim valia a tentativa.

Apesar de ser ótimo para isso, não dá para usar o Hubble com o objetivo de procurar trânsitos a esmo, pois seria preciso mantê-lo apontado para a mesma estrela por muitos dias seguidos — e o tempo do telescópio é disputado a tapa pelos astrônomos. Contudo, no caso de Alfa Centauri B, tínhamos já um pista de um possível planeta, de forma que os pesquisadores só precisavam apontar o Hubble no momento em que um trânsito podia acontecer. Com isso, resolveram a parada em duas baterias de observação, em 2013 e 2014, que somaram cerca de 40 horas.

A primeira bateria de observações, em julho de 2013, pareceu detectar mesmo um trânsito — por 3,8 horas, Alfa Centauri B pareceu reduzir sutilmente seu brilho, como se um planeta estivesse passando à frente dela. Uau.

Para confirmar o achado, eles realizaram a segunda bateria de observações, em julho de 2014. E aí, veio a má notícia. Dessa segunda vez, nada de trânsito.

O suposto trânsito de 2013 já não era um bom encaixe para o procurado Alfa Centauri Bb (como é chamado o planeta-candidato com órbita de 3,2 dias), pois durava tempo demais. A única forma de compatibilizá-lo com as previsões seria supor que sua órbita é extremamente achatada. Mas isso não é muito convincente, pois estudos dinâmicos mostram que, em coisa de 100 milhões de anos, mesmo essa órbita acabaria praticamente circularizada. E Alfa Centauri tem entre 5 e 6 bilhões de anos (um pouco mais velho que o nosso Sol, com 4,6 bilhões de anos), de forma que esse planeta já devia estar numa órbita praticamente circular há muito tempo.

Mas tudo piorou com os dados de 2014, que não contêm um trânsito. Aí não tem jeito. Agora eles sabem que, se o tal planeta existe mesmo, ele não transita à frente da estrela, com 96,6% de certeza. Não quer dizer que ele não exista, apenas que sua órbita não está alinhada da forma que gostaríamos.

Comparação de tamanho entre o Sol (à esquerda) e o trio de Alfa Centauri, A, B e Proxima (Crédito: Wikipedia Commons)
Comparação de tamanho entre o Sol (à esquerda) e o trio de Alfa Centauri, A, B e Proxima (Crédito: Wikipedia Commons)

SERÁ QUE ELE É?
Contudo, isso ainda nos deixa com o trânsito de 3,8 horas detectado em julho de 2013. O que ele poderia ser? O grupo buscou explorar alternativas, como manchas estelares, efeitos introduzidos pela instrumentação ou mesmo a passagem fortuita de uma estrela menos brilhante ao fundo, gerando um falso positivo para trânsito planetário. Nada disso se encaixa.

Resumo da ópera: talvez o trânsito reflita mesmo a existência de um planeta em torno de Alfa Centauri, embora não o anunciado em 2012. Baseados nos dados colhidos pelo Hubble, os pesquisadores estimam que ele tenha tamanho similar ao da Terra e leve no máximo 20,4 dias terrestres para dar uma volta em torno da estrela, embora o período orbital mais provável esteja em torno de 12 dias. (Em todo caso, ele seria quente demais para abrigar água em estado líquido e vida como a conhecemos.)

O duro é que não é viável manter o Hubble três semanas seguidas apontado para Alfa Centauri B em busca da repetição do trânsito — é tempo demais para o telescópio mais disputado pela comunidade astronômica. E tentar fazer a detecção com equipamento mais modesto anda extremamente complicado por esses dias, até pelo fato de Alfa Centauri A e B estarem muito perto uma da outra, diluindo ainda mais o sinal do trânsito.

Por outro lado, um planeta com esse porte numa órbita desse tipo produziria um bamboleio estelar de cerca de 30 centímetros por segundo — além da precisão dos atuais espectrógrafos.

Ou seja, não espere para tão já a confirmação desse possível planeta. De toda forma, seria uma sorte incrível se encontrássemos planetas que fazem trânsitos logo no sistema estelar mais próximo, pois esses serão os mundos que terão sua atmosfera sondada pelo Telescópio Espacial James Webb, sucessor do Hubble, a partir de 2018.

Estudos teóricos de Alfa Centauri mostram que existem órbitas estáveis para planetas rochosos na zona habitável tanto da estrela A como da B. Sabemos que ambas não possuem planetas gigantes gasosos — que dariam pistas muito mais claras de sua presença em medições de bamboleio estelar –, mas nada impediria a existência de mundos como o nosso ao redor dela.

A descoberta de planetas em Alfa Centauri seria o maior motivador em que consigo pensar para que programas espaciais do mundo todo começassem a buscar tecnologias de propulsão capazes de vencer o imenso abismo entre nós e as estrelas mais próximas.

Não é à toa que tem tanto astrônomo olhando para lá e procurando. E o melhor de tudo: agora que sabemos que praticamente todas as estrelas — inclusive aquelas em sistemas múltiplos — têm planetas, achar alguma coisa lá é só uma questão de tempo. Fique de olho.

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