Mensageiro Sideral https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br De onde viemos, onde estamos e para onde vamos Sat, 04 Dec 2021 19:09:39 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Astrônomo amador brasileiro detecta colisão de bólido celeste com Júpiter https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/09/14/astronomo-amador-brasileiro-detecta-colisao-de-asteroide-com-jupiter/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2021/09/14/astronomo-amador-brasileiro-detecta-colisao-de-asteroide-com-jupiter/#respond Tue, 14 Sep 2021 21:33:59 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/WhatsApp-Image-2021-09-14-at-16.46.05-320x213.jpeg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=10095 Manja aquela coisa de “vem meteoro”? Funcionou com os jovianos. Júpiter foi violentamente golpeado por um asteroide ou cometa na noite desta segunda-feira (13). E um brasileiro foi o primeiro a registrar a pancada.

“Por volta das 19h15 liguei o telescópio e a câmera e comecei a ajustar os parâmetros de captura”, diz o astrônomo amador José Luis Pereira, em São Caetano do Sul (SP). “Para minha surpresa, no primeiro vídeo percebi um brilho diferente no planeta.”

Pereira achou de início que era algo mais ligado aos ajustes do que ao planeta. Mas calhou que não era. De fato, Júpiter foi impactado por um objeto às 19h39 (de Brasília) do dia 13 de setembro.

O astrônomo amador brasileiro faz parte do programa DeTeCt de monitoramento dos planetas gigantes gasosos, usando um telescópio newtoniano com 275 mm de espelho principal, procurando eventos como esses (assim como mudanças na atmosfera que possam ser documentadas). “Chequei o resultado somente na manhã do dia 14, quando o programa me alertou para a alta probabilidade de impacto”, diz Pereira.

José Luis Pereira com seu telescópio. (Crédito: José Luis Pereira)

O resultado foi reportado, e agora astrônomos do resto do mundo estão procurando observações independentes. O coordenador do projeto DeTeCt, o francês Marc Delcroix, indica que que um observatório profissional da França, com telescópio de 62 cm, registrou também, além de um terceiro observador na Alemanha. “Mas esses registros paralelos ainda não foram oficializados”, destaca Pereira. “Acho que de hoje (14) para amanhã (15) teremos alguma confirmação nesse sentido.”

Júpiter é um alvo preferencial para asteroides no Sistema Solar, com seu tamanho e gravidade, de forma que o evento, embora incomum, não é surpreendente. Vale nessa hora lembrar o maior impacto já monitorado com o planeta, ocorrido em 1994, quando o cometa Shoemaker-Levy 9, depois de se fragmentar em pelo menos 21 pedaços, colidiu com Júpiter ao longo de seis dias.

Aqueles impactos deixaram marcas observáveis em Júpiter por várias semanas, registradas detalhadamente pelo Telescópio Espacial Hubble. Agora, os astrônomos vão buscar sinais deixados pela nova colisão. E para quem é da turma “vem meteoro”, vale lembrar que Júpiter tem diâmetro onze vezes maior que o da Terra. O flash observado por Pereira tem porte comparável ao do nosso planeta.

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Com mais 20 luas descobertas, Saturno supera Júpiter em número de satélites https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/10/07/com-mais-20-luas-descobertas-saturno-supera-jupiter-em-numero-de-satelites/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/10/07/com-mais-20-luas-descobertas-saturno-supera-jupiter-em-numero-de-satelites/#respond Mon, 07 Oct 2019 18:31:35 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/PR_NEW-SATURN-moons-orbit_ForScott-880x587-320x213.png https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9074 É quase como um clássico futebolístico, disputado há décadas: quem tem mais luas, Júpiter ou Saturno? No mais recente embate, deu Saturno. Uma equipe liderada por Scott Sheppard, da Carnegie Institution for Science, nos EUA, descobriu mais 20 satélites naturais ao redor do gigante dos anéis, elevando a contagem a 82. Júpiter, com isso, passou à segunda colocação, com 79 luas conhecidas.

O novo placar foi anunciado nesta segunda-feira (07) pelo Minor Planet Center, a divisão da IAU (União Astronômica Internacional) responsável pela contabilização dos satélites naturais planetários, entre outros afazeres.

Estamos falando naturalmente de objetos pequenos, o que explica por que conseguiram se evadir de nossas buscas telescópicas por tanto tempo. Todas as luas recém-descobertas devem ter ao redor de 5 km de diâmetro, e 17 delas orbitam o planeta de forma retrógrada. Não, elas não são caretas. Isso apenas quer dizer que elas giram na direção contrária à da rotação planetária — um sintoma de que provavelmente se tratam de objetos desgarrados do Sistema Solar que acabaram aprisionados pela gravidade saturnina ao passar perto demais do gigante dos anéis.

“Estudar as órbitas dessas luas pode revelar suas origens, assim como informações sobre as condições ao redor de Saturno na época de sua formação”, disse Sheppard, em nota.

As luas se dividem em três grupos, com órbitas em geral longas, que cada lua completa em média a cada 2 ou 3 anos. Há uma dupla de luas prógradas (que giram na direção da rotação do planeta) e uma lua prógrada em meio a um grande grupo de luas retrógradas. Somando tudo, Saturno reassume o posto de rei das luas do Sistema Solar.

Agora, será este o último clássico Júpiter x Saturno? Pode apostar que não. Ainda há muitos corpos de pequeno porte a descobrir, e os dois planetas seguem capazes de capturar novos objetos com sua gravidade, convertendo-os em luas. Mas não há dúvida de que progredimos muito, em pouco tempo. Quer ver?

A clássica Enciclopédia Conhecer, em 1966, registrava Júpiter 12 x Saturno 9. Após a passagem das Voyagers por Júpiter e Saturno, entre 1979 e 1981, houve uma virada, com Saturno 17 x Júpiter 16. No final dos anos 1990, os telescópios em solo começaram a captar objetos menores ao redor dos dois maiores planetas do Sistema Solar, e a contagem explodiu. Em 2013, Júpiter já havia virado novamente, por 67 a 62. Novas investigações foram inflando ainda mais esses números, até a nova virada de Saturno, agora, 82 a 79. Alguém tem um palpite de quando vai ser o próximo jogo? A disputa está bem parelha.

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O estranho campo magnético de Júpiter https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/09/10/o-estranho-campo-magnetico-de-jupiter/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/09/10/o-estranho-campo-magnetico-de-jupiter/#respond Mon, 10 Sep 2018 05:00:50 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/09/campo-magnetico-jupiter-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8044 Um estudo baseado nos dados colhidos em 8 dos 9 primeiros voos rasantes da sonda Juno por Júpiter mostra que o campo magnético do maior planeta do Sistema Solar é… esquisito.

Em órbita do gigante gasoso desde 2016, a espaçonave percorre um traçado que a leva alternadamente para perto e para longe de Júpiter. Na aproximação máxima, a cada 53 dias, a Juno chega a ficar a apenas 4.000 km do topo das nuvens jovianas.

A cada mergulho, ela atravessa o campo de radiação gerado pela magnetosfera do planeta, e sucessivas passagens vão criando um modelo 3D do campo magnético. Eis aí os dados que revelaram a bizarrice joviana nesse quesito.

Na Terra, o campo magnético é bem conhecido. Ele é gerado por correntes elétricas que se movem pelo ferro derretido da região mais externa do núcleo e funciona quase como se a Terra tivesse um ímã gigante dentro de si, com um polo magnético no norte e outro no sul. Nas demais regiões do globo, há uma homogeneidade do campo, dito não dipolar.

Em Júpiter a coisa é mais complicada. Além de um polo magnético no norte e outro no sul, há um foco parecido com o polo sul na região do equador, e o lado negativo do campo se distribui por todo o hemisfério Sul. Só no Norte há homogeneidade similar à dos dois hemisférios terrestres.

Imagem obtida pela sonda Juno em 15 de julho revela uma tempestade no hemisfério Sul de Júpiter, parecida com (mas menor que) a Grande Mancha Vermelha (Crédito: NASA/JPL-Caltech/SwRI/MSSS/Björn Jónsson)

Kimberly Moore, da Universidade Harvard, e seus colegas apostam, em artigo publicado na Nature, que a bizarrice tem a ver com a estrutura interna de Júpiter, bem diferente da terrestre. Imagina-se que o campo magnético joviano seja gerado no interior do planeta numa região em que o hidrogênio, seu principal componente, em razão da pressão, se comporta como um metal.

A configuração estranha do campo pode indicar que o dínamo do planeta não é gerado numa única camada espessa e uniforme, como na Terra. Para investigar isso, os cientistas terão de modelar esse campo em computador e deduzir qual seria a estrutura interna correspondente _ajudando assim a Juno a cumprir sua principal meta: entender como é o interior profundo do maior planeta do Sistema Solar.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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Garçom, me vê mais 12 luas em Júpiter e um vulcão em Io, por favor https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/07/17/garcom-me-ve-mais-12-luas-em-jupiter-e-um-vulcao-em-io-por-favor/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/07/17/garcom-me-ve-mais-12-luas-em-jupiter-e-um-vulcao-em-io-por-favor/#respond Tue, 17 Jul 2018 18:07:32 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/io-home-320x213.gif https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7913 Um grupo de astrônomos encontrou mais 12 luas orbitando Júpiter. Com a multidescoberta, o total agora subiu a 79, que garante ao maior planeta do Sistema Solar também o posto de maior proprietário de satélites naturais. Saturno fica em segundo, como lhe cai bem, com 62 luas.

E não é só isso, como diria o vendedor das facas Ginsu. Há menos de uma semana, a Nasa anunciou que a sonda Juno pode ter descoberto mais um vulcão em Io, a mais interna das grandes luas de Júpiter.

OK, é difícil dizer o que é mais provável, encontrar mais luas em Júpiter ou encontrar mais vulcões em Io. É o maior planeta do Sistema Solar versus o corpo celeste geologicamente mais ativo do Sistema Solar.

Comecemos por Io. Ele seria apenas uma grande bola de rocha (3.643 km de diâmetro), não fosse sua proximidade com Júpiter. O efeito de maré monumental gerado pela gravidade do planeta gigante gasoso chacoalha o interior da lua a ponto de aquecê-la brutalmente. O resultado é um sem-número de vulcões ativos.

A atual recordista na descoberta de vulcões é a astrônoma brasileira Rosaly Lopes, que trabalha no JPL, o Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa. Embora ela estude vulcões onde quer que eles estejam, o prato cheio sempre foi Io. Como parte da equipe da missão Galileo, que orbitou Júpiter entre 1995 e 2003, coube a ela estudar as imagens da superfície da lua e identificar os vulcões presentes.

Em entrevista ao Mensageiro Sideral no ano passado, ela mesma disse que, a despeito de seu recorde, provavelmente ainda há muitos outros vulcões a serem descobertos em Io — dadas as dificuldades técnicas enfrentadas pela missão Galileo. Sua afirmação serviu como premonição para o novo achado, que por isso mesmo não chega a ser surpreendente.

Surpresa mesmo é ver a Juno fazendo alguma descoberta em Io. A missão originalmente foi projetada para realizar observações de Júpiter, mas não de suas luas. Colocada numa órbita polar ao redor do planeta gigante gasoso, ela fica em posição desfavorável para até mesmo fotografar as grandes luas, que orbitam sobre a faixa equatorial do planeta.

Com efeito, a potencial descoberta do vulcão foi feita com uma foto em infravermelho obtida a grande distância de Io (470 mil km) e focada na região polar sul da lua, em 16 de dezembro de 2017.

A imagem, feita com o instrumento JIRAM (sigla para Mapeador Joviano de Auroras em Infravermelho), revela basicamente focos de calor na superfície de Io. Presume-se que sejam vulcões, como já confirmado para muitos deles graças ao trabalho da Galileo. Mas um em particular aparece a 300 km do foco de calor previamente mapeado mais próximo. Provavelmente é um vulcão até então desconhecido.

A ideia agora é recolher mais dados da JIRAM em futuros sobrevoos (alguns um pouco mais próximos que esse) para confirmar a descoberta e, quem sabe, fazer outras. Embora Io seja só um pouco maior que a Lua da Terra, são conhecidos cerca de 150 vulcões ativos por lá. E a estimativa é a de que existam mais 250 ainda por serem encontrados.

E AS 12 LUAS?

O aumento do rebanho de Júpiter não tem nada a ver com a Juno. As observações foram feitas todas da Terra, com telescópios. A única coisa em comum é que elas foram em sua maioria observadas pela primeira vez, a exemplo do novo vulcão de Io, em 2017. (Inclusive duas delas chegaram a ser provisoriamente anunciadas no ano passado.)

Desde então, os astrônomos liderados por Scott Sheppard, da Instituição Carnegie de Washington, realizaram uma série de observações para confirmar que os pequeninos pontos de luz de fato estavam orbitando o gigante gasoso, e não simplesmente passando por aquela região do céu, mas em órbita solar.

Curiosamente, não é isso que eles estavam procurando. Em vez disso, estavam vasculhando os céus em busca de objetos nos cafundós do Sistema Solar, quiçá o cobiçado planeta 9. “Júpiter só calhou de estar no céu perto dos campos em que estávamos buscando, e pudemos procurar novas luas ao mesmo tempo em que caçávamos planetas no limite exterior do Sistema Solar”, disse Sheppard.

A circular da União Astronômica Internacional que confirma a natureza dos objetos foi publicada nesta terça-feira (17), praticamente um ano após a descoberta.

Estamos falando, em todos os 12 casos, de pequenos objetos, com cerca de 1 a 3 km de diâmetro. Não se comparam em porte às luas galileanas (Io, Europa, Ganimedes e Calisto), assim chamadas por terem sido descobertas por Galileu Galilei entre 1609 e 1610. Em vez de mundos aproximadamente esféricos e grandes, são basicamente pedregulhos de forma irregular.

Sequência de imagens registra o movimento de uma das luas recém-descobertas, batizada de Valetudo. (Crédito: Carnegie)

A despeito disso, eles contam histórias fascinantes sobre a formação e a evolução do sistema de luas de Júpiter. Por exemplo: nove dessas luas recém-descobertas são retrógradas. Não quer dizer que sejam antiquadas, conservadoras ou eleitoras do Bolsonaro, claro. Órbitas retrógradas são aquelas em que o objeto gira na contramão da rotação do planeta. Provavelmente são objetos capturados pela gravidade de Júpiter no passado e convertidos de asteroides em luas.

E mais: essas nove luas compõem pelo menos três agrupamentos distintos, que parecem sugerir que elas são remanescentes de luas um pouco maiores, quebradas em pedaços após impactos com outros objetos. Em órbitas bem afastadas do planeta, elas levam cerca de dois anos terrestres para dar uma volta ao redor de Júpiter.

Outras duas luas recém-descobertas giram numa órbita prógrada, ou seja, acompanhando a rotação do planeta, e parecem fazer parte de um agrupamento previamente conhecido, indicando que elas também provavelmente fizeram parte de uma lua maior, que acabou fragmentada por impactos. Essas duas luas têm órbitas mais internas e levam menos de um ano para dar a volta em Júpiter.

Por fim, completando o pacote, uma lua realmente estranha foi descoberta: provisoriamente batizada de Valetudo (nada a ver com a música do Tim Maia ou a novela; é o nome da bisneta mitológica de Júpiter), ela tem provavelmente menos de 1 km de diâmetro e está numa órbita prógrada, mas cruzando uma faixa repleta de luas retrógradas. Ou seja: está pedindo para bater de frente com alguma delas num ponto futuro.

Talvez ela represente um “acidente prestes a acontecer” similar ao que fragmentou alguma das luas antigas e deu origem aos atuais agrupamentos observados. “Esta é uma situação instável”, diz Sheppard. “Colisões de frente rapidamente quebrariam e moeriam os objetos até virarem poeira.”

Esse caso ilustra bem como os astrônomos estudam processos cujas escalas de tempo em muito superam o tempo de vida do ser humano. Observando resultados de coisas que já aconteceram e juntando com coisas que se pode prever que ainda irão acontecer, podemos entender melhor o caminho que leva do passado longínquo ao futuro remoto, reconstruindo assim histórias que se estendem por bilhões de anos — como a que envolve a contínua formação e evolução do sistema de luas do gigante Júpiter.

Júpiter
Júpiter (Nasas, ESA e A. Simon (GSFC) , via Associated Press)

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Dados da sonda Galileo indicam presença de plumas de água em lua de Júpiter https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/05/14/dados-da-sonda-galileo-indicam-presenca-de-plumas-de-agua-em-lua-de-jupiter/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/05/14/dados-da-sonda-galileo-indicam-presenca-de-plumas-de-agua-em-lua-de-jupiter/#respond Mon, 14 May 2018 15:00:55 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2016/09/Hubble_Europa_thumbnail_print-180x101.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7697 Em 1997, a velha espaçonave Galileo fez um sobrevoo rasante de Europa, passando a meros 206 km da superfície dessa fascinante lua gelada de Júpiter. Agora, novas evidências sugerem que a sonda cruzou uma pluma de água ejetada de dentro da lua por uma fissura que ligava o oceano profundo à crosta de gelo. É mais uma linha independente de investigação a sugerir que Europa tem plumas, o que deixa os cientistas cada vez mais ouriçados.

Na prática, se esse for mesmo o caso, isso significa que uma futura espaçonave que queira procurar evidências de habitabilidade e mesmo vida no oceano europano não precisaria nem pousar na lua, mas meramente analisar uma amostra da água que é ejetada para o espaço.

O novo achado, liderado por Xianzhe Jia, da Universidade de Michigan, foi publicado online no periódico científico Nature Astronomy nesta segunda-feira (14). O trabalho corrobora detecções anteriores feitas remotamente com o Telescópio Espacial Hubble. A Nasa promove às 14h uma coletiva para discutir os resultados.

Agora, a pergunta legítima que todo mundo pode fazer é: como diabos só foram descobrir agora algo que a defunta Galileo (destruída após mergulhar no interior de Júpiter em 2003) teria detectado 20 anos atrás?

Ocorre que os dados que indicam a presença da pluma não eram nada óbvios — nada como uma foto mostrando uma cortina de partículas ejetadas para o espaço, como a espaçonave Cassini conseguiu tirar ao sobrevoar Encélado, uma pequenina lua de Saturno. Em vez disso, o que a Galileo conseguiu foram dados de campo magnético e plasma durante um sobrevoo que a colocou a pouco mais de 200 km da superfície de Europa, em 16 de dezembro de 1997.

Na época, os dados foram classificados apenas como “esquisitos”. A chave para decifrá-los foi a pista dada posteriormente pelo Hubble. Por duas vezes, em 2012 e 2016, o venerável telescópio espacial detectou um sinal que poderia ser de plumas de água emanando de Europa. Era uma detecção duvidosa, dados a distância enorme até Júpiter e a pequenez de Europa, um pouco menor que a nossa Lua. Mas o resultado permitiu um cálculo interessante. Se as duas observações fossem mesmo de plumas, as partículas ejetadas deveriam atingir uma altitude de até uns 400 km da superfície de Europa.

Coube a Xianzhe Jia e seus colegas formular então a pergunta crucial: o que aconteceria ao campo magnético e ao plasma nas imediações de Europa se houvesse uma pluma de até uns 400 km bem no lugar por onde a Galileo passou em 1997?

A modelagem teórica então produziu um gráfico muito parecido com as medições feitas pela sonda na época, tirando delas o rótulo de “esquisitas” para colocar o mais interessante “parece uma pluma”.

Como se não bastasse, eles refizeram o trajeto da Galileo em seu sobrevoo e descobriram que ela passou bem perto de uma região na superfície da lua que é estranhamente mais quente e de onde parece ter emanado uma das plumas do Hubble — uma evidência adicional de que, de algum modo, o calor interno da lua, responsável por manter o oceano em estado líquido em seu interior, “vaza” por ali.

“Esses resultados fornecem fortes evidências independentes da presença de plumas em Europa”, escrevem os cientistas no resumo de seu artigo na Nature Astronomy.

GOL DA NASA
Para a agência espacial americana, o resultado é extremamente importante. Eles estão neste momento preparando uma nova espaçonave para estudar Europa de forma dedicada, caracterizar seu oceano e identificar se a lua é habitável — quiçá habitada. O orbitador Europa Clipper deve ser lançado até meados da próxima década e mapear detalhadamente o satélite natural joviano, a fim de que se escolha um local adequado para uma tentativa de pouso, com um módulo a ser lançado posteriormente.

De início, imaginava-se que um estudo mais sofisticado do oceano europano exigiria de fato um pouso e, se bobeasse, até mesmo uma perfuração de vários quilômetros para que se pudesse navegar pela água com um submarino robótico. Uma missão assim custaria basicamente um gazilhão de dólares, dinheiro que a agência espacial americana não tem.

O fato de que Europa tem plumas torna o estudo direto de seu oceano muito mais simples.

Com efeito, a espaçonave Cassini fez uma investigação bastante detalhada do oceano de Encélado ao atravessar suas vigorosas plumas e conseguiu confirmar que o oceano interno de água salgada dessa pequena bolota de gelo com meros 500 km de diâmetro tem todos os ingredientes para a existência de vida.

A espaçonave só não pôde procurar por moléculas biológicas complexas porque seu espectrômetro havia sido projetado para determinar apenas compostos mais simples. (Não custa lembrar que a Cassini foi lançada em 1997, com tecnologia de décadas atrás. Sua missão a Saturno foi concluída no ano passado, num mergulho ao interior do planeta, deixando forte gostinho de “quero mais”.)

O Europa Clipper terá tecnologia quase três décadas mais avançada, capaz de detecções ainda mais sofisticadas. Então, se Europa tem mesmo essas plumas, não é inconcebível que a nova sonda da Nasa possa descobrir coisas incríveis sobre a lua joviana sem sequer descer nela, já na próxima década.

AND NOW FOR SOMETHING COMPLETELY DIFFERENT
Façamos um brinde à ciência e a Stephen Hawking
Para quem gosta de conversa de bar da melhor qualidade, começa nesta segunda-feira (14) mais uma edição do Festival Pint of Science, um grande evento que acontece no Brasil inteiro promovendo uma das misturas mais interessantes que existem: cerveja e ciência.

Estarei no Café Journal, em São Paulo, a partir das 19h30, para fazer uma breve apresentação sobre o físico Stephen Hawking, em meio a outros dois craques do jornalismo de ciência. André Jorge de Oliveira, da revista Galileu, falará do futuro da exploração espacial, e Juliana Duarte, do ICB-USP, abordará o trabalho de divulgação científica dentro da universidade. Também teremos um debate. O Café Journal fica na Alameda dos Anapurus, 1121, em Moema, e, para quem quiser ir, aparentemente é necessário fazer reserva de mesas. Liga lá e apareça: (11) 5055-9454.

Mais informações sobre o Festival Pint of Science aqui.

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Interior do gigante gasoso Júpiter gira como se planeta fosse sólido, diz sonda https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/03/08/interior-do-gigante-gasoso-jupiter-gira-como-se-planeta-fosse-solido-diz-sonda/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/03/08/interior-do-gigante-gasoso-jupiter-gira-como-se-planeta-fosse-solido-diz-sonda/#respond Thu, 08 Mar 2018 03:01:13 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/03/jupiter-polo-norte-320x213.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7420 A sonda Juno segue em sua missão de decifrar o interior de Júpiter, e uma nova leva de artigos científicos acaba de ser publicada na revista “Nature”. Há muitas revelações interessantes, uma das quais que, a uma profundidade de 3.000 km do topo das nuvens, o maior planeta do Sistema Solar, embora seja um gigante gasoso, gira como se fosse uma bola sólida.

Já era uma desconfiança dos cientistas. Sabe-se que Júpiter, a exemplo do próprio Sol, é majoritariamente feito dos elementos mais abundantes do Universo, hidrogênio e hélio. Ainda se estuda exatamente como esses gases se comportam a pressões cada vez maiores, e havia uma suspeita de que, a partir de uma determinada profundidade, ele se tornassem fluidos metálicos, por onde elétrons e prótons fluem livremente — daí o poderoso campo magnético de Júpiter. A essa profundidade, embora hidrogênio e hélio se tornem fluidos, o planeta em si se comporta como um esferoide sólido em sua rotação.

Os trabalhos publicados por dois grupos, um encabeçado por Yohai Kaspi, do Instituto Weizmann de Ciência, em Israel, e outro por Tristan Guillot, da Université Côte d’Azur, na França, corroboram essa visão, indicando que a transição em que os ventos da atmosfera joviana dão lugar a esse comportamento acontece a mais ou menos 3.000 km do topo das nuvens. Para efeito de comparação, Júpiter tem um raio de 69,9 mil km. Nessa camada superior, estão apenas 1% da massa total do planeta.

Os estudos são baseados nos dados do instrumento de rádio da Juno. A ideia é medir a transmissão da espaçonave para a Terra, cuja frequência exata é influenciada pelo campo gravitacional a que ela está submetida conforme passa perto de Júpiter. Pequenas variações na frequência indicam pequenas variações no campo gravitacional, que por sua vez apontam pequenas diferenças na distribuição de massa no interior do planeta.

Concepção artística da sonda Juno em órbita de Júpiter (Crédito: Nasa)

Com efeito, um outro grupo, liderado por Luciano Iess, da Sapienza Universitá di Roma, na Itália, publicou artigo correlato, indicando que o campo gravitacional de Júpiter varia de polo a polo. Ou seja, há uma assimetria entre a quantidade de massa que se faz presente no polo Norte, comparada ao polo Sul. Isso é surpreendente e inesperado para um planeta como Júpiter, que tem rápida rotação e é bastante achatado nos polos. De acordo com Iess e seus colegas, isso tem a ver com os fluxos de vento na atmosfera de Júpiter.

Que Júpiter é um rei da ventania, nunca foi segredo. Observando o topo das nuvens — o que se pode fazer até da Terra, ao telescópio — vemos que o maior planeta do Sistema Solar é composto por faixas alternadas claras e escuras que fluem em direções opostas.

Até a Juno, ninguém sabia se essa era uma característica apenas superficial, do topo da atmosfera, ou se refletia nas profundezas do planeta. Graças aos dados da sonda, sabemos que a segunda opção é a correta.

Capa da “Nature” desta semana destaca as novas descobertas de Júpiter. (Crédito: Nature)

“A descoberta mais estonteante de Iess e seus colegas é que há um componente do campo gravitacional de Júpiter que não mostra simetria norte-sul — uma observação peculiar para um planeta gigante gasoso em rotação rápida”, afirma Jonathan Fortney, pesquisador da Universidade da Califórnia em Santa Cruz que não se envolveu nos trabalhos, mas comentou-os em artigo separado para a “Nature”.

“Kaspi e seus colegas mostram que essa característica é resultado da assimetria latitudinal na velocidade dos ventos na superfície. A única maneira de esses ventos poderem afetar o campo gravitacional do planeta é se eles estiverem relativamente fundo e envolvessem uma quantidade substancial de massa. Isso implica que as faixas de Júpiter não são um fenômeno superficial, respondendo à velha questão.”

Os resultados da equipe de Kaspi sugerem que a magnitude dos ventos vai diminuindo vagarosamente com a profundidade até 3.000 km de profundidade, onde a pressão é cerca de 100 mil vezes maior que a da atmosfera da Terra ao nível do mar. É uma diferença brutal, inimaginável.

O quarto trabalho, o único a não envolver medições de gravidade, e sim observações em luz visível e infravermelha das regiões polares, foi conduzido por Alberto Adriani, do Istituto di Astrofisica e Planetologia Spaziali, na Itália, e colegas, e seu foco foi caracterizar os ciclones presentes nos polos de Júpiter — outra das surpresas da missão.

O trabalho concluiu que, no polo norte, oito ciclones circumpolares giram ao redor de um único ciclone, enquanto no sul o ciclone polar é cercado por outros cinco. Está claro que os ciclones formam um padrão poligonal ao redor do polo, mas os cientistas admitem não ter a mais vaga ideia de como eles podem ser persistentes, sem se fundirem, ou qual é sua origem. Os turbulentos polos de Júpiter continuam sendo um grande mistério — um que a Juno continuará a investigar ao longo de sua missão.

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Astronomia: Fontes radioativas podem alimentar vida em Europa https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/02/26/astronomia-fontes-radioativas-podem-alimentar-vida-em-europa/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/02/26/astronomia-fontes-radioativas-podem-alimentar-vida-em-europa/#respond Mon, 26 Feb 2018 05:00:29 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2014/04/europa-150x150.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7391 Estudo brasileiro mostra que pode haver vida movida a energia nuclear em lua de Júpiter.

FAMÍLIA NUCLEAR
Um novo estudo feito por pesquisadores brasileiros mostra que pode haver vida em Europa, uma das luas-oceano de Júpiter, alimentada pela energia do decaimento de elementos radioativos que devem existir em seu interior rochoso, como urânio e tório. Vida movida a energia nuclear.

NA TERRA COMO NO CÉU
“Quando falamos em energia nuclear, estamos falando de organismos que vivem à base de quimiossíntese, da redução de sulfato. Esse metabolismo existe na Terra, como numa mina profunda na África do Sul, e em lugares mais mundanos, como os manguezais”, explica Douglas Galante, pesquisador do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas (SP), e um dos autores do trabalho.

VARIEDADE
A pesquisa consistiu em avaliar a quantidade de energia que deve haver no leito rochoso de Europa proveniente de elementos radioativos, baseado nas melhores informações de que dispomos a respeito da composição da lua. O trabalho mostrou que deve existir uma grande variedade de fontes possíveis de energia em Europa que sejam biologicamente aproveitáveis.

ESQUEÇA O SOL
O Sol está distante demais de Júpiter e suas luas para ser de grande valia como fonte de energia. Mas especula-se que o oceano de Europa, escondido sob sua crosta de gelo, esteja em contato com um leito rochoso, que por sua vez deve ter fontes hidrotermais também capazes de alimentar ecossistemas limitados.

SÓ INDO ATÉ LÁ
Contudo, há uma distância enorme entre “pode haver vida” e “há vida”. Para cruzar esse abismo, a Nasa planeja para a próxima década uma nova sonda, o Europa Clipper, que vai à órbita de Júpiter para caracterizar o conteúdo do oceano de Europa. Ela também buscará o melhor local para um futuro módulo de pouso que possa fazer experimentos na superfície e investigar se há sinais químicos de vida no satélite natural.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

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Nasa divulga primeiras imagens do sobrevoo da Grande Mancha Vermelha de Júpiter https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/07/12/nasa-divulga-primeiras-imagens-do-sobrevoo-da-grande-mancha-vermelha-de-jupiter/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/07/12/nasa-divulga-primeiras-imagens-do-sobrevoo-da-grande-mancha-vermelha-de-jupiter/#comments Wed, 12 Jul 2017 17:54:17 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/07/JNCE_2017192_07C00061_V01-mapprojected-180x180.png http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6562 A equipe responsável pela sonda Juno, da Nasa, já divulgou as primeiras imagens produzidas pela JunoCam — a câmera de luz visível da espaçonave — durante o sobrevoo rasante da Grande Mancha Vermelha de Júpiter, realizado na segunda-feira (10). Elas foram divulgadas no site da missão hospedado no portal do Instituto de Pesquisas do Sudoeste (SwRI), que você pode visitar aqui.

São três imagens ao todo, mostrando a grande marca registrada do Sistema Solar de variadas altitudes: 13.917,4, 9.866,1 e 6.276,3 km. A segunda dessas reflete o momento em que a Juno passou exatamente sobre a Grande Mancha Vermelha. Na aproximação máxima do planeta, a sonda passou a meros 3.500 km do topo das nuvens jovianas.

Veja a sequência completa, com direito a zoom.

As imagens foram compostas a partir de três fotos diferentes, cada uma captando filtros de uma faixa de cor — verde, vermelho e azul. Combinadas, elas dão uma visão aproximada de como veríamos Júpiter com nossos próprios olhos, se estivéssemos a bordo da Juno.

Claro, esse é só um aperitivo — uma primeira divulgação, claramente para atender à ansiedade do público. Essas imagens devem passar por processamento adicional (e o público participa disso, com acesso às imagens brutas) para que se possa extrair mais detalhes.

A propósito, veja uma primeira imagem processada (por Gerald Eichstädt) para mostrar, com exagero de cores, as nuances da mancha. É de babar.

Imagem processada por Gerald Eichstädt, com base no material bruto da Nasa. (Crédito: NASA/SwRI/MSSS/Gerald Eichstädt /Seán Doran)

Além disso, temos de lembrar que a JunoCam — a câmera de luz visível — é só uma “cereja do bolo” na missão. O que conta mais são os resultados obtidos com os outros sete instrumentos embarcados, que sondam campos magnéticos, micro-ondas, infravermelho e ultravioleta. Com eles poderemos saber o que se esconde “por baixo” da Grande Mancha Vermelha e, assim, ter um melhor entendimento da dinâmica dessa tempestade gigante joviana que está rolando há pelo menos 350 anos.

Há muitas questões em aberto sobre ela, como o porquê da cor avermelhada das nuvens e se o encolhimento visto em tempos recentes é sinal de que ela está para sumir. Portanto, não saia daí.

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Astronomia: Na cara da Grande Mancha Vermelha https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/07/10/astronomia-na-cara-da-grande-mancha-vermelha/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/07/10/astronomia-na-cara-da-grande-mancha-vermelha/#comments Mon, 10 Jul 2017 05:00:58 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2013/09/jupiter-voyager-150x150.gif http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6549 Sonda Juno realiza hoje um voo rasante sobre a Grande Mancha Vermelha de Júpiter.

CARTÃO POSTAL
É difícil pensar em algo que seja, ao mesmo tempo, tão hipnoticamente encantador e apavorante quanto a Grande Mancha Vermelha de Júpiter, um “cartão postal” clássico do Sistema Solar. Embora os registros mais seguros dela comecem em 1830, há quem diga que ela já é vista ao telescópio desde 1665. Uma tempestade que perdura por quase 400 anos — e quem sabe quanto mais?

É HOJE!
Pois bem. Para os fãs da Grande Mancha Vermelha, hoje é um dia especial. É quando a sonda Juno faz seu primeiro sobrevoo dela. Jamais uma espaçonave passou tão perto antes, e a Nasa promete que todos os oito instrumentos estarão ligados, colhendo uma montanha de dados — e imagens — da principal marca registrada do rei dos planetas solares.

SETE ÓRBITAS E UM ANO
Há um ano, a Juno chegou a Júpiter, com a meta de decifrar sua estrutura interna e matar a charada de sua formação. Posicionada numa órbita alongada, ela realiza um sobrevoo próximo do planeta a cada 53 dias. Às 22h55 de hoje, estará a meros 3.500 km do topo das nuvens jovianas. E, apenas 11 minutos depois, já um pouco mais longe, passará sobre a Grande Mancha Vermelha.

VAI FUNDO
A JunoCam, câmera de luz visível, estará apontada para lá, assim como sensores de rádio, infravermelho e ultravioleta. Com isso, a Nasa espera registrar não só detalhes da estrutura superior das nuvens como também ter pistas do que existe abaixo delas, a centenas de quilômetros de profundidade — uma busca pela raiz do persistente fenômeno.

PARA GUARDAR
Embora a Grande Mancha Vermelha já esteja na mira dos nossos telescópios há séculos, ainda não compreendemos mesmo aspectos básicos, como o porquê de sua cor vermelha e quais são os turbulentos processos que a sustentam. E, para tornar tudo mais emocionante, sabemos que ela tem encolhido, e rápido, ao longo das últimas décadas. Será que ela vai voltar a crescer? Vai sumir de vez? Não sabemos. Mas, depois de hoje, pelo menos poderemos dizer que não perdemos a oportunidade de olhá-la bem de perto.

A Nasa diz que as imagens do sobrevoo devem ser divulgadas na sexta-feira (14).

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

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Campo magnético e turbulências polares de Júpiter surpreendem cientistas da sonda Juno https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/05/25/campo-magnetico-de-jupiter-surpreende-cientistas/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/05/25/campo-magnetico-de-jupiter-surpreende-cientistas/#comments Thu, 25 May 2017 18:10:13 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/05/juno-jupiter-linda-180x145.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6411 Júpiter tem um campo magnético ainda mais intenso do que se imaginava, seus polos turbulentos são diferentes de tudo que os cientistas já viram e os padrões atmosféricos vistos no topo das nuvens jovianas se aprofundam por centenas de quilômetros.

Essas são algumas das descobertas feitas pela sonda Juno, que desde 5 de julho do ano passado orbita o maior planeta do Sistema Solar. Nesta quinta-feira (25), os cientistas envolvidos com a missão apresentaram, em entrevista coletiva, os primeiros resultados científicos consolidados, publicados em dois artigos na edição desta semana da revista científica “Science” (aqui e aqui).

VEJA A COLETIVA, COM TRADUÇÃO SIMULTÂNEA

Os resultados remetem a apenas duas passagens próximas por Júpiter, realizadas pela espaçonave da Nasa a cada 53 dias, numa órbita bastante alongada que a traz a cerca de 4.000 km do topo das nuvens jovianas em seu ponto mais próximo.

Sondagens da atmosfera realizadas em micro-ondas mostraram que os padrões atmosféricos dominados por nuvens de amônia se mantêm nas profundezas da atmosfera, onde a pressão atinge mais de cem vezes a que se encontra na Terra ao nível do mar. Outro aspecto interessante é que as observações sugerem a existência, de Júpiter, de algo similar às células de Hadley — padrões de circulação atmosférica comuns na Terra, em que o ar circula na direção dos polos na alta atmosfera e retorna na direção do equador nas porções inferiores. Mas, claro, como em Júpiter, trata-se de uma versão gigante das células de Hadley terrestres.

Imagens feitas pela Juno mapeiam Júpiter em infravermelho. (Crédito: Connerney et al., Science)

CADA GIGANTE É UM GIGANTE
Por falar nas regiões polares, elas foram a grande surpresa de Júpiter. Nenhuma espaçonave havia feito observações tão detalhadas delas. “Apenas a Pioneer 11 obteve imagens não oblíquas sobre o polo norte de Júpiter, mas 10 vezes mais distante que a Juno”, escrevem os autores liderados por Scott Bolton, cientista-chefe da missão.

Polos norte e sul de Júpiter, vistos pela Juno. (Crédito Connerney et al., Science)

“As imagens dos polos de Júpiter mostram uma cena caótica, diferente dos polos de Saturno”, detalham os pesquisadores. “Eles parecem ser diferentes dos de Saturno de dois modos específicos. Primeiro, não há equivalente do hexágono polar norte de Saturno, embora ondas circumpolares tenham sido observadas. Segundo é a falta de um vórtice que seja rápido (150 m/s), compacto (2 graus ou 2.500 km em raio), e centrado no polo, como aqueles nos polos norte e sul de Saturno. Embora a área a 3 graus de latitude em torno do polo norte [de Júpiter] não esteja iluminada, o polo sul é visível e os traços visíveis lá são similares a outros na região. Logo, as dinâmicas e estruturas polares das atmosferas desses dois planetas são fundamentalmente diferentes. Observações futuras estabelecerão melhor a morfologia completa dos polos em todas as longitudes e caracterizarão sua evolução com o tempo.”

Outra coisa que irá exigir mais tempo de observação é uma das perguntas fundamentais a motivar a missão Juno: qual é a estrutura interna de Júpiter? Ele tem um núcleo feito de elementos pesados?

O trabalho nessas questões já começou. O magnetômetro da Juno demonstrou, por exemplo, que o campo magnético joviano é maior do que se esperava. Na aproximação máxima da sonda, ela registrou um campo de 7,766 gauss — mais de dez vezes o máximo medido na superfície da Terra, no polo sul (0,66 gauss).

O campo magnético continuará a ser medido ao longo da missão, a fim de que se investigue sua dinâmica. E, claro, ele dá pistas da estrutura interna de Júpiter e de onde e como, em seu interior, opera o dínamo que gera a magnetosfera.

Da mesma maneira, estudos com precisão inédita da gravidade de Júpiter estão sendo feitos com a Juno. Com a medida de apenas poucas passagens próximas, ainda não dá para cravar, e nenhum dos modelos de estrutura internos formulados até hoje se encaixa com as observações. Mas um estudo usando os dados até agora colhidos, e publicado em artigo no periódico “Geophysical Research Letters”, sugere que o núcleo com elementos pesados pode estar disperso numa região com cerca de metade do diâmetro do planeta — o que é completamente inesperado.

“Tínhamos dois modelos principais, um que Júpiter tivesse um núcleo rochoso compacto, com uma ou duas massas terrestres, e outro que Júpiter não tivesse núcleo algum”, disse Scott Bolton. “Nossos dados são incompatíveis com essas duas visões. O que parece é que o que existe é um núcleo difuso, que talvez vá do centro até a metade de Júpiter.”

No conjunto, os resultados, que também incluem observações em ultravioleta das auroras jovianas, estão mudando nossa forma de entender o maior dos planetas da família solar. Estamos, com isso, mais próximos de elucidar sua formação e, por consequência, a maneira como ele moldou o resto do sistema planetário em razão de sua enorme influência gravitacional.

Com apenas seis órbitas concluídas, a aventura da Juno está só começando.

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