Mensageiro Sideral https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br De onde viemos, onde estamos e para onde vamos Sat, 04 Dec 2021 19:09:39 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Estudo explica as dunas de Plutão https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/06/04/estudo-explica-as-dunas-de-plutao/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/06/04/estudo-explica-as-dunas-de-plutao/#respond Mon, 04 Jun 2018 05:00:05 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/plutao-dunas-2-320x213.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7767 As dunas de Plutão intrigaram os cientistas assim que foram primeiro observadas, em 2015. Imagens da sonda New Horizons revelaram sua existência, após o histórico sobrevoo de 14 de julho daquele ano. O problema: ninguém conseguia explicar como elas podiam existir. Agora, um grupo internacional de pesquisadores parece ter a resposta.

Essas formações esculpidas pelo vento nunca foram exclusividade terrestre. Marte tem dunas. Vênus, idem. A lua Titã, de Saturno, também. E até cometas, como a sonda Rosetta mostrou, também têm estruturas similares.

Em Plutão, contudo, foi um achado inesperado. O planeta anão tem uma atmosfera rarefeita demais para carregar partículas de um lado a outro. Para dar uma ideia, a pressão atmosférica na superfície plutoniana é apenas um centésimo de milésimo da terrestre ao nível do mar.

E, no entanto, as dunas estão lá, para quem tiver interesse por turismo interplanetário de aventura. Como elas surgiram? Matt Telfer, da Universidade de Plymouth, no Reino Unido, e seus colegas encontraram uma possível solução e a publicaram na última edição da revista Science.

O Sol não esquenta grande coisa na região de Plutão, quase 40 vezes mais afastado dele que a Terra. O mais quente que fica por lá é -218 ºC. Congelante pelos nossos padrões, mas suficiente para converter parte do metano sólido presente na superfície em vapor. Esse gás evaporando do chão, lutando contra a débil gravidade plutoniana, é suficiente para elevar partículas no ar — talvez de gelo de metano, talvez de nitrogênio, ainda não se sabe.

Uma vez suspensas, até mesmo a modesta atmosfera consegue arrastá-las e gerar o padrão observado na planície Sputnik pela New Horizons. De acordo com o modelo explicativo dos pesquisadores, as formações registradas são relativamente recentes — menos de meio milhão de anos. Mais uma prova de que, a despeito da pequenez, Plutão é mundo dinâmico e fascinante.

BÔNUS: O céu de junho
Confira as principais efemérides para o mês, marcado pelas aproximações máximas de Saturno e Vesta.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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Astronomia: Frio de rachar em Plutão https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/11/20/astronomia-frio-de-rachar-em-plutao/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/11/20/astronomia-frio-de-rachar-em-plutao/#comments Mon, 20 Nov 2017 04:00:20 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2015/10/blue_skies_on_pluto-final-2-180x180.png http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7090 Névoa no ar de Plutão explica por que o planeta anão é ainda mais gélido que o esperado.

A BRISA DO HADES
Há algo de gélido no reino de Plutão. OK, não foi novidade quando o planeta anão, visitado pela primeira vez em 2015, pela sonda New Horizons, se mostrou um lugar frio de rachar. Afinal, é o que já se imagina de uma bolota de gelo 40 vezes mais distante do Sol que a Terra.

PÕE MAIS GELO
O que realmente surpreendeu os cientistas da missão foi que ele se mostrou ainda mais frio do que eles esperavam, com temperaturas superficiais que podem cair a -240 graus Celsius. E agora finalmente um trio de pesquisadores parece ter descoberto por quê. É a névoa que recobre o planeta anão.

TERMOSTATO
Já sabemos há décadas que Plutão tem uma atmosfera. Ralinha, mas está lá. E uma das principais propriedades do invólucro de ar de um mundo, seja ele qual for, é modular a temperatura. De início, os pesquisadores achavam que a atmosfera plutoniana, dominada por nitrogênio e metano, fizesse esse serviço de termostato. Só que os modelos antes do sobrevoo da New Horizons baseados nessa ideia sugeriam, por exemplo, uma temperatura de relativamente modestos -140 graus Celsius a uma altitude de 100 km. O que a sonda viu foi uns 40 graus mais frio.

ALGO NO AR
Ninguém de início imaginou que a névoa, feita de partículas de moléculas orgânicas em suspensão na alta atmosfera plutoniana, pudesse explicar a grande diferença. Até porque, até a New Horizons passar por lá, ninguém nem sabia que essa névoa existia.

NOVO ENCAIXE
Xi Zhang, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, e seus colegas então resolveram modelar a atmosfera levando em conta também os efeitos da névoa, e aí teoria e observação se alinharam lindamente — provavelmente um mistério resolvido.

PREDIÇÃO
Mas o teste final ainda vem aí: se o modelo estiver certo, Plutão deve ser mais brilhante em infravermelho do que antes se imaginava — algo que poderá ser colocado à prova pelo Telescópio Espacial James Webb, a ser lançado pela Nasa em 2019. O trabalho foi publicado na última edição do periódico britânico “Nature”.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

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Faça um tour pelas montanhas de Plutão! https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/07/14/faca-um-tour-pelas-montanhas-de-plutao/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/07/14/faca-um-tour-pelas-montanhas-de-plutao/#comments Fri, 14 Jul 2017 18:00:08 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/07/plutao-altimetrico-180x100.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6579 Exatos dois anos atrás, em 14 de julho de 2015, chegávamos a Plutão. O sobrevoo da sonda New Horizons revolucionou nosso entendimento do planeta anão mais famoso do Sistema Solar e sua maior lua, Caronte. E, claro, a exploração científica dos dados colhida durante o frenético encontro está apenas começando.

Para comemorar a data, a Nasa divulgou mapas altimétricos de Plutão e Caronte — que indicam basicamente a altitude do terreno nas regiões dos dois corpos celestes que puderam ser registradas com qualidade suficiente durante o sobrevoo. E, para tornar tudo ainda mais interessante, criaram um “tour virtual” pelos dois astros.

Por um lado, os mapas destacam a qualidade das informações colhidas pela missão. Mas, por outro lado, também revelam o quanto da superfície de Plutão ainda ficou oculto. Da latitude de 30 graus Sul para baixo, por exemplo, não temos rigorosamente nada — nem imagens distantes, uma vez que o ângulo de rotação de Plutão manteve essa região permanentemente oculta das câmeras.

Mapas de elevação de Plutão e Caronte feitos com dados da New Horizons. (Crédito: NASA/JHUAPL/SwRI/LPI)

Situação similar se viu em Caronte, que mantém um alinhamento permanente com Plutão, com a mesma face sempre voltada para o mesmo lado do planeta anão (e vice-versa, a propósito).

Os mapas são interessantes, mas nada substitui o sobrevoo virtual por esses terrenos que foi possível recriar. Confira o vídeo que mostra como seria passear por sobre várias regiões de Plutão e Caronte — com um exagero de relevo de duas a três vezes o real, para permitir uma percepção visual mais detalhada dos acidentes do terreno.

O trabalho de visualização 3D foi feito pelos cientistas Paul Schenk e John Blackwell, do Instituto Lunar e Planetário, nos Estados Unidos. É imperdível.

Enquanto isso, a New Horizons continua sua odisseia espacial, com um encontro marcado com um pequeno objeto do cinturão de Kuiper em janeiro de 2019. A aventura continua.

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Astronomia: No reino dos planetas anões https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/04/17/astronomia-no-reino-dos-planetas-anoes/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/04/17/astronomia-no-reino-dos-planetas-anoes/#comments Mon, 17 Apr 2017 05:00:28 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/04/NewHorizonsKBOencounter-180x101.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6234 Cientistas usam sonda que foi a Plutão como telescópio para estudar outros planetas anões.

DE OLHO
Depois de visitar Plutão, a sonda New Horizons está a meio caminho de seu próximo alvo, o objeto conhecido como 2014 MU69. Nesse meio tempo, ela tem sido usada como um telescópio móvel para a observação de outros astros residentes nos confins do Sistema Solar.

DAQUI ATÉ LÁ
A revelação foi feita por Alan Stern, cientista-chefe da missão, numa reunião científica em Montevidéu, no Uruguai, na semana passada. Além de apresentar os planos da equipe para as observações do MU69, num sobrevoo marcado para 1º de janeiro de 2019, ele comentou alguns dos resultados obtidos no estudo remoto de membros do clube do qual Plutão é o sócio mais notório.

UM DE MUITOS
O cinturão de Kuiper é um conjunto de objetos remanescentes do processo que levou à formação do Sistema Solar, há 4,6 bilhões de anos, e está localizado numa região entre 30 e 50 vezes mais afastada do Sol que a Terra. É lá que Plutão mora.

OS VISITANTES
Vez por outra vemos um objeto do cinturão aparecer nas nossas redondezas — muitos cometas vêm de lá. Contudo, essas aproximações os trazem para perto do Sol e isso afeta radicalmente sua superfície, de modo que eles não são referências ideais para investigarmos suas propriedades originais.

RESULTADOS
A New Horizons já observou, além de Plutão, três planetas anões com sua câmera telescópica: Quaoar, Makemake e Haumea. A análise dos dados ainda não terminou, mas espera-se que ela possa ajudar a determinar parâmetros como a rotação desses objetos. Com efeito, a sonda conseguiu já medir a rotação de um astro no cinturão de Kuiper, o pequeno Arawn. Com 145 quilômetros de diâmetro, ele não chega a ser planeta anão. Mas agora sabemos que o “dia” lá dura 5,5 horas.

NO CONTEXTO
As imagens em si não são espetaculares como as de Plutão — os objetos aparecem como pontinhos. Mas com elas os cientistas começam a colocar o mais famoso dos planetas anões no contexto de seus vizinhos e investigar toda a variedade que existe nessa fronteira ainda largamente inexplorada do Sistema Solar.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

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‘Coração’ de Plutão revela a saga do planeta anão https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2016/11/16/coracao-de-plutao-revela-a-saga-do-planeta-anao/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2016/11/16/coracao-de-plutao-revela-a-saga-do-planeta-anao/#comments Wed, 16 Nov 2016 19:40:10 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2016/11/Keane-Pluto-Reorienting-2-unannotated-180x142.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=5620 O famoso “coração” de Plutão, a mais evidente das formações visíveis nas imagens da sonda New Horizons, está dando o que falar. Um par de novos estudos revelam lances do passado e do presente do mais célebre dos planetas anões — inclusive com a apresentação de evidências de que um oceano de água líquida sob a gélida superfície congelada ainda possa existir por lá até hoje.

Batizada de Sputnik Planitia pelos cientistas da missão — que, por sinal, terminou apenas duas semanas atrás o “download” de todos os dados colhidos durante o rápido sobrevoo de Plutão, em 14 de julho de 2015 –, a região esquerda (e mais clara) do “coração” consiste numa camada extensa de deposição de nitrogênio sólido.

Aqui na Terra, com nosso clima ameno, o nitrogênio só pode existir como gás. Mas lá em Plutão, sob o frio intenso de -230 graus Celsius dos cafundós do Sistema Solar, a história é outra. Lá o nitrogênio atmosférico pode se solidificar e se depositar sobre a superfície. Neve plutoniana.

Agora, por que esse nitrogênio todo foi se juntar ali? É exatamente isso o que aconteceria se a região tivesse sido vitimada por um impacto de um meteorito gigante no passado remoto. A ocorrência não seria totalmente inesperada. Eventos como esse são comuns, sobretudo nas fases iniciais de formação dos sistemas planetários, e explicam tanto a formação da Lua, ao redor da Terra, quanto a de Caronte, o maior dos satélites naturais plutonianos.

Só que essa pancada aí não gerou uma nova lua, até onde sabemos. Apenas escavou uma bacia enorme em Plutão, com cerca de 1.000 km de largura. Era o lugar ideal para que o nitrogênio que estivesse sendo evaporado nas regiões polares — que, no caso de Plutão, ficam voltadas para o Sol — pudesse se solidificar e acumular como neve ali.

Esse processo de acúmulo de neve foi lento, gradual, e muito provavelmente ainda está em andamento — a maior revelação feita pela New Horizons é que Plutão é um mundo ativo, com ciclos e processos geológicos complexos.

Agora, você pode imaginar que ir juntando nitrogênio durante muito tempo foi aumentando a quantidade de massa presente naquela parte específica do planeta anão. E estamos falando de uma região bem grande (1.000 km) num planeta anão (com 2.300 km de diâmetro). Isso quer dizer, na prática, que Plutão engordou na região da Sputnik Planitia!

Esse processo de “gordura localizada”, por sua vez, ajuda a explicar outra característica da Sputnik Planitia — ela está diametralmente oposta a Caronte, a maior das luas.

Mas ela não começou ali. De acordo com os modelos, Plutão literalmente “tombou” com o passar do tempo para atingir esse equilíbrio.

Hoje, o planeta anão e a maior de suas luas estão no que se convencionou chamar de “trava gravitacional”. A mesma face de Plutão fica sempre voltada para a mesma face de Caronte. Mas agora temos pistas de que essa acomodação pelo efeito de maré ainda sofre ajustes por conta dessa constante transferência de massa, na forma de neve de nitrogênio, no planeta anão.

Ao que tudo indica, nem sempre a face oposta a Caronte era onde estava a Sputnik Planitia. De acordo com uma modelagem publicada na última edição da “Nature”, Plutão foi gradualmente mudando seu eixo de rotação para que isso acontecesse.

keane-animation-sizeE, segundo James Keane, da Universidade do Arizona em Tucson, e seus colegas, o processo ainda não acabou: o eixo de rotação ainda deve se deslocar um pouco mais nos próximos milhões de anos, conforme mais nitrogênio se acumular na região do “coração” plutoniano (que, a despeito do aumento gradual de massa, ainda está cerca de 3,5 km afundado com relação a seus arredores na superfície).

O OCEANO
Keane aponta que as coisas se desenrolariam conforme seu modelo apenas se houvesse um oceano de água líquida no interior de Plutão, que foi se solidificando com o passar do tempo. Seu estudo indica a presença de fissuras no solo plutoniano que seriam indicativas desse congelamento interno e gradual.

Contudo, outro estudo, publicado lado a lado na mesma edição da “Nature”, parece sugerir que o oceano ainda deve estar lá.

Francis Nimmo, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, e seus colegas chegaram, de forma independente, às mesmas conclusões de Keane no que diz respeito à formação da Sputnik Planitia e a mudança de rotação de Plutão ao longo do tempo. Mas, com um detalhe adicional: na modelagem deles, o oceano ainda estaria lá — não teria congelado totalmente ainda, mesmo depois de 4,6 bilhões de anos de resfriamento interno.

Eles alegam que, para o modelo funcionar com um oceano completamente congelado, a Sputnik teria de ter acumulado uma camada de 40 km de neve de nitrogênio — quantidade que, segundo os pesquisadores, é irrealista.

Estima-se que a quantidade real esteja em torno de 3 a 10 km de espessura — o que, por si só, não chega a ser massa suficiente para fazer a girada no eixo de rotação. Mas, então, de onde estaria vindo a massa que falta?

A equipe de Nimmo mostra que o impacto formador da Sputnik naturalmente teria arrancado grandes quantidades de gelo de água superficial e, com isso, levado a um soerguimento da divisão entre gelo e água naquela parte do planeta anão. Água é mais densa que gelo, o que equivale a dizer que, para volumes iguais, água tem mais massa. O soerguimento, trazendo o oceano interno para mais perto da superfície naquela região, explicaria o aumento de massa ali naquele ponto, capaz de fazer o planeta anão “tombar” em seu eixo com o passar de milhões de anos.

RESUMINDO
Como se pode ver, não é fácil deduzir a história geológica de um planeta anão pelas medições furiosas feitas num único sobrevoo. Aliás, é notável que grupos independentes de cientistas possam chegar a conclusões similares — sinal de que, a essa altura, já temos conhecimento suficiente para compreender muitos processos planetários, mesmo com uma única “passada d’olhos”.

A essa altura, é seguro afirmar que:

– A região da Sputnik Planitia, apesar da baixa altitude, representa uma região com mais massa em Plutão, que continua a evoluir e crescer conforme a neve de nitrogênio segue se acumulando em sua superfície.

– Plutão “tombou”, graças ao efeito de maré, para que a Sputnik Planitia — provavelmente produzida por um impacto violento no passado do planeta anão — ficasse no lado oposto ao da lua Caronte.

– É quase certo que Plutão teve um oceano de água líquida sob a superfície no passado, e há algumas dicas de que ao menos parte desse oceano possa não ter ainda se congelado e ainda estar lá até hoje.

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Plutão deve ter um oceano sob a crosta de gelo https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2016/06/22/plutao-deve-ter-um-oceano-sob-a-crosta-de-gelo/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2016/06/22/plutao-deve-ter-um-oceano-sob-a-crosta-de-gelo/#comments Wed, 22 Jun 2016 19:38:01 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2016/06/pluto-nh-superresolucao-167x180.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=4925 O nível de atividade geológica na superfície de Plutão indica que ele deve ter — ainda hoje — um oceano de água sob a crosta congelada. É o que sugere um novo estudo recém-publicado por cientistas americanos, com base nas imagens da sonda New Horizons.

Vou dar um tempinho para você processar isso. Tem água. Em Plutão. Um planetinha anão. Nos cafundós do Sistema Solar.

Digeriu? Vamos em frente. O trabalho tem como primeiro autor Noah Hammond, orientado por Amy Barr, ambos da Universidade Brown, nos Estados Unidos. Eles não fazem parte da equipe da New Horizons, que fez o histórico sobrevoo de Plutão em julho do ano passado, mas a pesquisa foi financiada pela Nasa e aceita para publicação no “Geophysical Research Letters”.

“No nosso trabalho, procuramos por traços tectônicos na superfície de Plutão para entender seu anterior e executamos modelos de evolução térmica para nos ajudar a entender como o interior de Plutão pode ter evoluído com o tempo”, disse Hammond, em nota.

A ideia é que Plutão tenha nascido muito mais quente, 4,6 bilhões de anos atrás, pela energia das colisões de planetesimais que o formaram, e a partir dali tenha se resfriado paulatinamente.

Nesse momento, quando seus componentes tivessem se diferenciado (com a criação de camadas a partir do afundamento do material rochoso, mais denso), um oceano de água líquida teria se formado sob a crosta gelada.

Desde então, o interior de Plutão estaria em processo de resfriamento — como, aliás, devem estar todos os núcleos planetários. Nisso, o oceano deveria gradualmente ir se congelando.

Contudo, se o congelamento tivesse sido completo, isso produziria uma rachadura significativa na crosta — o que não foi observado nas imagens da New Horizons. Em vez disso, os traços tectônicos observados são compatíveis com o congelamento de parte do oceano interno. E como muitos desses traços são geologicamente recentes, é bem provável que parte dele ainda esteja em estado líquido até hoje.

Isso, por sua vez, não depende de nenhum efeito de maré e significa que muitos outros planetas anões no cinturão de Kuiper podem ter características similares, com oceanos sob a superfície.

“Muitas pessoas pensaram que Plutão estaria geologicamente ‘morto’, que estaria coberto de crateras e teria uma superfície antiga”, disse Barr. “Nosso trabalho mostra como até mesmo Plutão, na borda do Sistema Solar, com muito pouca energia, pode ter tectonismo. Estamos gratos à equipe da New Horizons por trabalhar tão duro para guiar a espaçonave a Plutão e produzir as imagens bonitas que motivaram nosso estudo. Elas forneceram outra peça do quebra-cabeça da planetologia comparativa dos mundos gelados.”

Como diria o sr. Spock, fascinante!

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Semana agitada no Sistema Solar https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2015/12/06/semana-agitada-no-sistema-solar/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2015/12/06/semana-agitada-no-sistema-solar/#comments Sun, 06 Dec 2015 17:20:38 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=4306 O divertido de ser uma civilização espacial é que sempre tem alguma coisa acontecendo em algum lugar. Dê uma olhada no que rolou por esses dias e no que ainda está para acontecer por aí, em nosso Sistema Solar.

A Terra e a Lua vistas pela Hayabusa2 em 26 de novembro, dias antes de seu sobrevoo por nosso planeta (Crédito: Jaxa)
A Terra e a Lua vistas pela Hayabusa2 em 26 de novembro, dias antes de seu sobrevoo por nosso planeta (Crédito: Jaxa)

TERRA
Na última quinta-feira (3), a sonda japonesa Hayabusa2 fez um sobrevoo da Terra, obtendo algumas imagens encantadoras do pálido ponto azul e sua companheira cósmica, a Lua. A missão tem por objetivo pousar no asteroide Ryugu e então colher amostras de sua superfície para depois trazê-las de volta à Terra. Se a missão predecessora, Hayabusa, servir de termômetro, teremos grandes emoções pela frente. No momento, a boa notícia é que deu tudo certo: como previsto, o veículo passou a cerca de 3.000 km da superfície terrestre, sobre o Havaí, e usou a gravidade do planeta para colocá-la a caminho de seu destino, onde deve chegar em 2018.

Nessa mesma quinta-feira, a ESA (Agência Espacial Europeia) lançou com sucesso a espaçonave LISA Pathfinder, cujo objetivo é testar tecnologias que possibilitem a detecção de ondas gravitacionais no espaço. Previstas pela teoria da relatividade geral, as ondas gravitacionais podem abrir janelas para a exploração de objetos misteriosos do zoológico cósmico, como pulsares binários e buracos negros. No limite, talvez um dia seja possível detectar até mesmo as ondas gravitacionais produzidas pelo Big Bang! Mas não hoje. O LISA Pathfinder marca só o primeiro teste das tecnologias requeridas para esse tipo de detecção. O lançamento deu certo, e os sistemas da espaçonave serão colocados em funcionamento nas próximas duas semanas.

Como se não bastasse tudo isso, neste domingo (6), vulgo “hoje”, às 19h44, a empresa americana Orbital ATK lançou seu cargueiro Cygnus para reabastecer a Estação Espacial Internacional. A missão especialmente importante porque marca o retorno aos voos da Cygnus (embora com um foguete diferente) após o acidente ocorrido no ano passado. Em vez de usar o foguete Antares, que é da própria Orbital e está sendo reformulado, a empresa preferiu ir desta vez com o mais confiável Atlas V.

Concepção artística da Akatsuki em órbita de Vênus. Dedos cruzados na segunda-feira! (Crédito: Jaxa)
Concepção artística da Akatsuki em órbita de Vênus. Dedos cruzados na segunda-feira! (Crédito: Jaxa)

VÊNUS
Na segunda-feira (7), a sonda japonesa Akatsuki tentará entrar em órbita do “gêmeo mau” da Terra, a gloriosa Estrela D’Alva. Pela segunda vez, inclusive. Há exatamente um ano, a niponave tentou se estabelecer ao redor de Vênus, mas “faiô”. Mas, sabe como é, o Sistema Solar dá voltas, e quem está nele também. Agora apareceu uma nova chance, e está tudo no esquema para a tentativa. Não será a mesma órbita de antes — o que obrigou a missão a reformular seus objetivos científicos –, mas é sempre recompensador ter uma sonda orbitando um planeta vizinho.

Os misteriosos pontos brilhantes de Ceres, na cratera Occator, em nova imagem da Dawn (Crédito: Nasa)
Os misteriosos pontos brilhantes de Ceres, na cratera Occator, em nova imagem da Dawn (Crédito: Nasa)

CERES
A espaçonave americana Dawn segue reduzindo sua órbita em torno do misterioso planeta anão Ceres, o rei do cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter. Depois de fazer uma varredura completa a aproximadamente 1.500 km da superfície, em meados de dezembro ela chegará à órbita final, de menos de 400 km. Os terráqueos seguem intrigados pelos pontos brilhantes da cratera Occator, e a Nasa acaba de divulgar uma nova imagem deles, vistos de 1.470 km de altura, mas de um ângulo diferente. E em alguns dias teremos a publicação, na revista “Nature”, do primeiro trabalho científico consolidado sobre essa estranha formação. Eu já sei o que diz o artigo, mas se te contar terei de matar você também. ‘Guente firme.

JÚPITER
A Nasa também tem uma espaçonave a caminho de Júpiter, a Juno. Ela deve chegar lá no ano que vem, mas uma iniciativa interessante acaba de ser divulgada pela agência espacial americana: ela está pedindo ajuda do público para o processamento de imagens da câmera da sonda, além da seleção de alvos de interesse entre as nuvens do gigante gasoso. É basicamente uma iniciativa para recrutar entusiastas e criar uma imensa equipe virtual de gerenciamento da JunoCAM. Você pode ler mais sobre a iniciativa (em “ingrish”) aqui.

A fronteira norte da Sputnik Planum, em Plutão, entre montanhas e dunas. (Crédito: Nasa)
A fronteira norte da Sputnik Planum, em Plutão, entre montanhas e dunas. (Crédito: Nasa)

PLUTÃO
O pessoal da New Horizons ficou feliz da vida na sexta-feira (4), ao divulgar algumas das melhores imagens produzidas pela sonda em seu sobrevoo de Plutão, em 14 de julho. Essas provavelmente serão as imagens de mais alta resolução de detalhes da superfície plutoniana que teremos em muitas décadas. Estonteantes paisagens de montanhas, planícies, dunas e crateras do intrigante planeta anão.

Terreno esburacado ao norte da Sputnik Planum, com crateras de vários tamanhos. (Crédito: Nasa)
Terreno esburacado ao norte da Sputnik Planum, com crateras de vários tamanhos. (Crédito: Nasa)
As "Badlands" de Plutão, em imagem de alta resolução da New Horizons. (Crédito: Nasa)
As “Badlands” de Plutão, em imagem de alta resolução da New Horizons. (Crédito: Nasa)

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Vulcões em Plutão? https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2015/11/10/vulcoes-em-plutao/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2015/11/10/vulcoes-em-plutao/#comments Tue, 10 Nov 2015 18:52:30 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=4216 OK, vamos lá. Que surpresas já tivemos em Plutão? Dunas numa atmosfera rarefeita, atividade geológica recente, neve de nitrogênio, montanhas de gelo de água… Quer mais uma? Dois possíveis vulcões foram avistados pela sonda New Horizons.

Montanhas vistas ao sul da Sputnik Planum, em Plutão, parecem ter caldeiras, como vulcões. (Crédito: Nasa)
Montanhas vistas ao sul da Sputnik Planum, em Plutão, parecem ter caldeiras, como vulcões. (Crédito: Nasa)

É o que sugere uma análise preliminar feita pela equipe de cientistas da missão, apresentada na segunda-feira (9), no início da 47a Reunião Anual da Divisão de Ciências Planetárias da Sociedade Astronômica Americana, em National Harbor, Maryland.

Duas das montanhas mais proeminentes registradas nas imagens da sonda durante seu sobrevoo histórico de Plutão, realizado em 14 de julho, chamadas informalmente de Wright e Piccard, têm depressões bem no pico.

“Essas são grandes montanhas com um grande buraco em seu cume, e na Terra isso significa geralmente uma coisa — um vulcão”, disse Oliver White, pesquisador do Centro Ames de Pesquisa, da Nasa, em nota divulgada pela agência espacial americana.

Agora, entre parecer ser e ser vai uma distância, e ainda não há subsídios para confirmar a hipótese de vulcões. E não custa lembrar que esses não são vulcões como os da Terra, que cospem lava — ou, para os íntimos, magma, também conhecido como rocha derretida. Em Plutão, nos cafundós do Sistema Solar, não há energia e calor suficientes para derreter pedras — a, não ser, é claro, que essas pedras sejam de gelo! Estamos falando, portanto, de criovulcões.

Agora, que gelo eles expelem? Os cientistas não têm ainda ideia — cogitam coisas como água, nitrogênio, amônia ou ainda metano. De toda forma, a ideia de qualquer tipo de vulcão já é empolgante por si só, pois dá pistas de como se deu a evolução geológica e atmosférica de Plutão.

POR DENTRO DE PLUTÃO
Outro estudo apresentado durante a reunião pode dar pistas do que permite toda essa atividade geológica, que perdura até hoje, no pequeno planeta anão. Alex Trowbridge e Henry J. Melosh, da Universidade de Purdue, se puseram a investigar por que Plutão parece tão mais ativo que, por exemplo, Ceres, o planeta anão que existe no cinturão de asteroides. Ceres é interessante, sem dúvida, e tem algum tipo de atividade, evidenciada pela presença de intrigantes pontos brilhantes no interior de crateras (que aparentemente são concentrações de sais), mas é um mundo muito mais esburacado — e portanto geologicamente antigo — que Plutão.

Curiosamente, a julgar pela densidade dos dois mundos e por sua formação, ambos devem ter mantos de gelo de água. Mas, em Ceres, isso não foi suficiente para produzir tectonismo ou vulcanismo, pelo menos não de forma tão intensa quanto em Plutão.

Melosh e seu orientando Trowbridge decidiram desenvolver um método para estimar o vigor dos mantos desses mundos gelados e, com isso, além de explicar as diferenças entre Plutão e Ceres, também ajudar a prever o que podemos encontrar em outros planetas anões e satélites similares Sistema Solar afora.

E o que eles concluíram é que, como Plutão se formou mais afastado do Sol, a mistura de substâncias voláteis que ajudaram a produzir sua composição foi bem diferente da de Ceres. Em especial, muito mais amônia.

Se você mistura água e amônia, é como adicionar uma substância anticongelante — mesmo a temperaturas muito baixas, o manto permanece pastoso e permite a ocorrência de convecção. Em essência, o material consegue se mover para cima e para baixo, guiado por diferenças de temperatura, e com isso alimentar a atividade geológica vista na superfície.

No caso de Plutão, os pesquisadores apostam que uma mistura de água com 5% de amônia seria suficiente para explicar os fenômenos observados pela New Horizons. Já Ceres, sem amônia, acabou com o seu interior congelado — ou pelo menos, significativamente menos sujeito a convecção que seu colega do cinturão de Kuiper.

Agora, a dupla quer usar o mesmo conjunto de equações para prever o que podemos encontrar lá fora em outros objetos do cinturão de Kuiper, incluindo o pequeno mundo que a New Horizons deve encontrar em 2019, caso a Nasa banque a extensão da missão.

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O céu de Plutão é azul! https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2015/10/08/o-ceu-de-plutao-e-azul/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2015/10/08/o-ceu-de-plutao-e-azul/#comments Thu, 08 Oct 2015 16:40:11 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=4097 As últimas de Plutão: imagens da New Horizons revelam que o céu plutoniano é azul. Segundo Alan Stern, cientista-chefe da missão, foi uma surpresa. “Quem teria esperado um céu azul no cinturão de Kuiper? É lindo”, disse, em nota divulgada pela Nasa.

Imagem feita pela New Horizons que se aproxima do que veríamos com os próprios olhos revela a atmosfera azulada de Plutão. (Crédito: Nasa)
Imagem feita pela New Horizons que se aproxima do que veríamos com os próprios olhos revela a atmosfera azulada de Plutão. (Crédito: Nasa)

Tão interessante quanto foram os últimos dados espectrográficos, que sugerem a presença de gelo de água exposto na superfície plutoniana. Já sabíamos, com base nas observações iniciais e no conhecimento que temos da física em baixas temperaturas, que as grandes cadeias de montanhas vistas no solo de Plutão eram feitas primordialmente de gelo de água. Contudo, é sempre bom obter validação por observações, e o espectrógrafo Ralph revelou a assinatura de água em suas detecções.

Curiosamente, as regiões com gelo de água exposto coincidem com algumas das áreas mais avermelhadas na superfície. Ainda será preciso quebrar a cabeça para entender o que está dando essa coloração ao gelo.

Regiões marcadas em azul indicam a presença de gelo de água exposto na superfície. (Crédito: Nasa)
Regiões marcadas em azul indicam a presença de gelo de água exposto na superfície. (Crédito: Nasa)

Quanto ao céu azul, ele parece estar relacionado com a forma como certos compostos orgânicos gerados pela reação do metano e do nitrogênio primordiais com a radiação ultravioleta do Sol produzem material particulado — provavelmente de cor cinza ou vermelha, mas capaz de espalhar a luz dando a tonalidade azul ao tênue invólucro de ar em torno de Plutão.

O estudo da cor da atmosfera ajudará a determinar exatamente a natureza, a densidade e o tamanho dessas partículas suspensas no ar.

A essa altura, a sonda New Horizons já está a milhões de quilômetros de Plutão, mas segue transmitindo alguns de seus mais bem-guardados segredos, fruto do encontro rápido entre os dois, ocorrido em 14 de julho. Fique de olho, que vem muito mais por aí. O livro definitivo sobre o “ex-planeta” ainda está por ser escrito!

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Os segredos molhados de Caronte https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2015/10/02/os-segredos-molhados-de-caronte/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2015/10/02/os-segredos-molhados-de-caronte/#comments Fri, 02 Oct 2015 08:55:11 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=4069 OK, vamos aceitar os fatos: água em estado líquido é mesmo uma coisa absolutamente trivial no Universo. Até Caronte, a maior das luas de Plutão, lá nos confins do Sistema Solar, parece já ter tido um oceano de água sob sua superfície, embora a essa altura ele já tenha congelado. É o que sugerem as novas imagens da missão New Horizons, que segue transmitindo seus tesouros científicos para a Terra.

Caronte, vista pela sonda New Horizons, com cores realçadas para diferenciar composição dos terrenos (Crédito: Nasa)
Caronte, vista pela sonda New Horizons, com cores realçadas para diferenciar composição dos terrenos (Crédito: Nasa)

Antes de continuarmos com o assunto de água, pare uns segundinhos para admirar a imagem acima. Este é Caronte, o maior satélite natural de Plutão. Até julho deste ano, não fazíamos a mais vaga ideia do que encontraríamos em sua superfície. São apenas 1.208 km de diâmetro — pouco mais de um terço do da nossa Lua –, mas quanta coisa interessante se vê nessa foto feita pela New Horizons. Um mundo inteiro, desconhecido até anteontem, por assim dizer.

Viu? Vamos em frente. O que sugere o passado oceânico de Caronte é esse imenso sistema de cânions que praticamente corta a lua ao meio. Sabemos que ele se estende por mais de 1.600 km e pode até mesmo se estender até o lado afastado de Caronte, que não foi bem observado pela New Horizons.

Ele tem quatro vezes o comprimento do Grand Canyon, na Terra. “É como se a crosta inteira de Caronte tivesse se aberto”, disse John Spencer, um dos pesquisadores da New Horizons.

Mosaico de imagens mais próximas feitas pela New Horizons em Caronte. Ainda haverá imagens ainda mais detalhadas! (Crédito: Nasa)
Mosaico de imagens mais próximas feitas pela New Horizons em Caronte. Ainda haverá imagens ainda mais detalhadas! (Crédito: Nasa)

A deformação radical e violenta que provavelmente gerou os cânions é um sinal de um oceano sob a superfície que se congelou. Ao congelar, como gelo ocupa mais espaço que água, o solo basicamente rachou. Em escala planetária.

Note também como há regiões mais lisas, com menor proporção de crateras. Isso significa que são regiões mais jovens. (Contar crateras é uma forma razoavelmente simples e segura de estimar a idade de um terreno, uma vez que a frequência de impactos é mais ou menos regular; portanto, um terreno com menos crateras deve ser mais jovem que um com mais crateras.)

Essas áreas, concentradas ao sul dos cânions, parecem ser fruto de criovulcanismo — um processo similar ao vulcanismo que temos na Terra, mas com água fazendo o papel de lava. Ou seja, erupções de água recobriram o terreno antigo, renovando-o.

Tudo isso muito tempo atrás. Quanto tempo? Difícil dizer no momento. A questão central, no entanto, é: Caronte, ao que parece, já teve um oceano.

ÁGUA, ESSA COISA BÁSICA
Noutros tempos, diríamos que isso a coloca numa lista seleta. Mas encontrar corpos com água líquida na superfície ou no subsolo tem se tornado tão comum que, ao que tudo indica, água não é exatamente uma commodity rara no Universo.

Do que já sabemos com certeza, Marte tem fluxos de água na superfície (se você mora na Terra, acho que chegou a ver algo sobre isso essa semana, né?), Europa (em torno de Júpiter) tem um vasto oceano global sob a crosta de gelo, Ganimedes (também em torno de Júpiter) tem um oceano ensanduichado por duas camadas de gelo e Encélado (em torno de Saturno) tem um oceano global sob a superfície, com plumas atirando essa água para o espaço!

Se incluirmos corpos que possivelmente tiveram oceanos (superficiais ou subsuperficiais) no passado, dá para listar Vênus (sim, nos primórdios do Sistema Solar, 4 bilhões de anos atrás, ele pode ter sido “molhado”!), Ceres, Plutão e mais um punhado de luas por aí. E alguns desses ainda podem ter água líquida (Plutão em particular intriga).

Montagem com Plutão e Caronte, mostrando o brilho relativo de ambos (Crédito: Nasa)
Montagem com Plutão e Caronte, mostrando o brilho e o tamanho relativo de ambos (Crédito: Nasa)

Moral da história: se tudo que é preciso para o surgimento da vida é água em estado líquido (abundante!), compostos orgânicos (abundantes!), uma fonte de energia (de preferência movida por fontes geotérmicas no fundo dos oceanos) e alguns milhões de anos, como muitos cientistas acreditam, vários lugares do Sistema Solar podem ter originado biologia.

Antes de se animar demais, note que essa é só uma hipótese, no momento. Pode ou não estar correta, e em ciência nada pode ser aceito sem questionamentos. Para confirmar (ou refutar) isso, só há um jeito. Precisamos encontrar outro lugar que tem ou teve vida. Marte, por ter sido tão parecido com a Terra no passado e ainda hoje guardar resquícios de seu passado úmido (sem falar que é o lugar mais próximo onde podemos procurar), é o principal candidato para a busca.

Intriga, no entanto, imaginar que a resposta também possa estar em Caronte. Ou Europa. Ou Encélado. Ou Plutão. Ou até mesmo na alta atmosfera de Vênus. De repente, o Mensageiro Sideral se sente numa loteria em que ele sozinho comprou todos os bilhetes! Um deles, em algum momento, há de ser sorteado. Ou não?

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