Mensageiro Sideral https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br De onde viemos, onde estamos e para onde vamos Sat, 04 Dec 2021 19:09:39 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Com mais 20 luas descobertas, Saturno supera Júpiter em número de satélites https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/10/07/com-mais-20-luas-descobertas-saturno-supera-jupiter-em-numero-de-satelites/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/10/07/com-mais-20-luas-descobertas-saturno-supera-jupiter-em-numero-de-satelites/#respond Mon, 07 Oct 2019 18:31:35 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/PR_NEW-SATURN-moons-orbit_ForScott-880x587-320x213.png https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9074 É quase como um clássico futebolístico, disputado há décadas: quem tem mais luas, Júpiter ou Saturno? No mais recente embate, deu Saturno. Uma equipe liderada por Scott Sheppard, da Carnegie Institution for Science, nos EUA, descobriu mais 20 satélites naturais ao redor do gigante dos anéis, elevando a contagem a 82. Júpiter, com isso, passou à segunda colocação, com 79 luas conhecidas.

O novo placar foi anunciado nesta segunda-feira (07) pelo Minor Planet Center, a divisão da IAU (União Astronômica Internacional) responsável pela contabilização dos satélites naturais planetários, entre outros afazeres.

Estamos falando naturalmente de objetos pequenos, o que explica por que conseguiram se evadir de nossas buscas telescópicas por tanto tempo. Todas as luas recém-descobertas devem ter ao redor de 5 km de diâmetro, e 17 delas orbitam o planeta de forma retrógrada. Não, elas não são caretas. Isso apenas quer dizer que elas giram na direção contrária à da rotação planetária — um sintoma de que provavelmente se tratam de objetos desgarrados do Sistema Solar que acabaram aprisionados pela gravidade saturnina ao passar perto demais do gigante dos anéis.

“Estudar as órbitas dessas luas pode revelar suas origens, assim como informações sobre as condições ao redor de Saturno na época de sua formação”, disse Sheppard, em nota.

As luas se dividem em três grupos, com órbitas em geral longas, que cada lua completa em média a cada 2 ou 3 anos. Há uma dupla de luas prógradas (que giram na direção da rotação do planeta) e uma lua prógrada em meio a um grande grupo de luas retrógradas. Somando tudo, Saturno reassume o posto de rei das luas do Sistema Solar.

Agora, será este o último clássico Júpiter x Saturno? Pode apostar que não. Ainda há muitos corpos de pequeno porte a descobrir, e os dois planetas seguem capazes de capturar novos objetos com sua gravidade, convertendo-os em luas. Mas não há dúvida de que progredimos muito, em pouco tempo. Quer ver?

A clássica Enciclopédia Conhecer, em 1966, registrava Júpiter 12 x Saturno 9. Após a passagem das Voyagers por Júpiter e Saturno, entre 1979 e 1981, houve uma virada, com Saturno 17 x Júpiter 16. No final dos anos 1990, os telescópios em solo começaram a captar objetos menores ao redor dos dois maiores planetas do Sistema Solar, e a contagem explodiu. Em 2013, Júpiter já havia virado novamente, por 67 a 62. Novas investigações foram inflando ainda mais esses números, até a nova virada de Saturno, agora, 82 a 79. Alguém tem um palpite de quando vai ser o próximo jogo? A disputa está bem parelha.

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Anéis de Saturno são novos, indica sonda https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/01/17/aneis-de-saturno-sao-novos-indica-sonda/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/01/17/aneis-de-saturno-sao-novos-indica-sonda/#respond Thu, 17 Jan 2019 21:38:12 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2015/08/Saturn_Equinox1-e1440985362135-180x156.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8589 As principais joias do Sistema Solar — os famosos anéis de Saturno — são uma aquisição recente, revelam dados da sonda Cassini. De acordo com os resultados colhidos durante o Grand Finale da missão, em 2017, as estruturas feitas de minúsculos fragmentos de gelo se formaram entre 10 milhões e 100 milhões de anos atrás. É um piscar de olhos geológico.

Embora a incerteza seja nada desprezável (um fator 10), é a essa altura inquestionável que os anéis não se formaram junto com o planeta, há 4,5 bilhões de anos, como durante muito tempo se pensou.

A conclusão, apresentada na edição desta semana da revista científica americana Science, só foi possível porque a Cassini conseguiu, durante suas órbitas finais, fazer a delicada “pesagem” dos anéis, estimando sua massa.

Durante a imensa maioria dos quase 14 anos que a sonda passou orbitando Saturno (ela chegou lá em 2004), suas voltas ao redor do planeta abarcavam também os anéis. Isso na prática implicava medir a gravidade conjunta do sistema.

Para a fase final da missão, contudo, já com o combustível nas últimas, os cientistas resolveram ser mais ousados e fazer sobrevoos rasantes do planeta, passando entre o topo das nuvens e os anéis — 22 ao todo. Nessas passagens, era possível distinguir entre a gravidade do planeta (puxando para um lado) e a dos anéis (muito mais fraca, mas puxando para o outro). Sabendo a intensidade da força gravitacional exercida pelos anéis, tornou-se possível estimar sua massa.

Já se sabia que, para os anéis serem antigos, eles precisariam ter muita massa. Caso contrário, a degradação gradual já os teria feito desaparecer. E eis que os resultados indicaram que ele tem pouca massa, o que significa que é recente.

“Com esse trabalho, a Cassini cumpre uma meta fundamental de sua missão: não só determinar a massa dos anéis, mas usar a informação para refinar modelos e determinar a idade deles”, disse em nota Luciano Iess, da Universidade de Roma, autor principal do trabalho.

O resultado se encaixa bem com outros trabalhos, baseados em dados da Cassini e outros colhidos em solo, que sugerem que os anéis estão se degradando rapidamente e devem desaparecer em mais 300 milhões de anos.

Ele também é compatível com análises de mecânica celeste que sugeriam a impossibilidade de que as luas saturninas mais internas tivessem uma origem antiga, com a mesma idade do planeta.

É bonito ver quando as diferentes peças do quebra-cabeça se encaixam todas para contar a mesma história. E mais intrigante ainda é imaginar o que havia em Saturno antes dos anéis — todo um sistema de luas internas que deve ter em algum momento colapso por uma reação em cadeia de colisões, produzindo os anéis, parte dos quais coalesceram novamente para formar as atuais luas internas, dentre elas a apaixonante Encélado, uma bolinha de 500 km de diâmetro com um oceano habitável de água líquida em seu interior.

Se imaginarmos que Encélado é recente, temos aí uma chance menor de encontrarmos vida por lá. Talvez ainda não tenha dado tempo para ela se formar. Em compensação, temos uma boa chance de flagrar a química imediatamente precursora da origem à vida, ou mesmo talvez os primeiros passos da evolução biológica, a essa altura já apagados na Terra.

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Anéis de Saturno perdem 10 toneladas por segundo para o planeta, diz estudo https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/10/08/aneis-de-saturno-perdem-10-toneladas-por-segundo-diz-estudo/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/10/08/aneis-de-saturno-perdem-10-toneladas-por-segundo-diz-estudo/#respond Mon, 08 Oct 2018 05:00:24 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/cassini-saturno-concepcao-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8205 A cada segundo, cerca de 10 toneladas de material dos famosos anéis de Saturno mergulham no interior do planeta. E essa é apenas uma das descobertas recém-realizadas pelos cientistas com os dados da última fase da missão Cassini, encerrada no ano passado.

Um pacotaço de seis artigos científicos sobre o Grand Finale da sonda americana foi publicado na mais recente edição do periódico científico Science. Material complementar com ainda maior profundidade saiu ao mesmo tempo no periódico Geophysical Research Letters.

A maior parte dos resultados diz respeito à composição dos anéis e sua interação com a atmosfera do segundo maior planeta do Sistema Solar. Em suas últimas órbitas, a sonda Cassini realizou diversos voos rasantes sobre o planeta, passando no estreito vão entre o anel mais interno e o topo das nuvens.

Com isso, os instrumentos da espaçonave puderam “saborear” partículas dos próprios anéis, analisando sua composição. Os pesquisadores encontraram compostos orgânicos complexos, silicatos, metano, amônia, monóxido de carbono, nitrogênio e dióxido de carbono  — além, é claro, de água, sabidamente o principal componente das incontáveis partículas que perfazem os belos anéis saturninos.

Outro aspecto que surpreendeu nessa “chuva de anel” é o tamanho das partículas. Em geral elas têm tamanho nanoscópico, ou seja, medido em milionésimos de milímetros. Estão mais para “fumaça” do que para grãos, o que indica que algum processo — ainda desconhecido — quebra as partículas dos anéis em fragmentos ainda menores antes que elas mergulhem dentro do planeta.

O trabalho também revelou que há um cinturão de radiação até então desconhecido próximo ao planeta, que faz intersecção com o anel mais interno, e que os próprios anéis têm uma ligação de natureza elétrica com o planeta, com a formação de uma corrente entre eles e a atmosfera saturnina.

Os dados apresentados pela Nasa confirmam o que já se desconfiava: os anéis de Saturno estão paulatinamente sendo erodidos e podem um dia desaparecer. Mas e quanto ao passado deles? Quando foram formados? São novos? São antigos? Os dados da Cassini podem conter a resposta, conforme os cientistas sejam capazes de estimar, a partir deles, a massa total existente nos anéis. Esse resultado muito esperado, contudo, não foi objeto dos novos estudos. Mas calma lá, tem muito chão pela frente. Os dados colhidos pela sonda durante seu Grand Finale ainda darão pano para manga, trazendo tanto respostas quanto novas perguntas sobre o belo e misterioso Saturno.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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Encélado tem macromoléculas orgânicas complexas essenciais à vida https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/06/27/encelado-tem-macromoleculas-organicas-complexas-essenciais-a-vida/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/06/27/encelado-tem-macromoleculas-organicas-complexas-essenciais-a-vida/#respond Wed, 27 Jun 2018 17:36:17 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2015/03/enceladus-plume-180x135.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7866 Encélado se torna um alvo mais promissor para a busca por vida extraterrestre a cada dia que passa. Um novo estudo publicado nesta quarta-feira (27) revela que o oceano existente sob a crosta de gelo dessa pequena lua de Saturno tem grandes quantidades de moléculas orgânicas grandes e complexas.

Isso significa que, além de condições ambientais e fontes de energia adequadas para bactérias, Encélado também tem a matéria-prima requerida para que a química possa atingir a complexidade necessária para promover o metabolismo de seres vivos.

A descoberta foi feita pela combinação de dados de dois instrumentos diferentes que estavam a bordo da espaçonave Cassini. A missão acabou no ano passado, mas os dados colhidos pela sonda continuam sendo analisados e produzindo achados importantes, como este, que figura na edição desta semana da revista Nature.

A Cassini conseguiu progredir muito no estudo do conteúdo interno de Encélado graças a gêiseres de água que existem na região polar sul da pequenina lua. Ali, através de fissuras na crosta de gelo, conteúdo do oceano é disparado na forma de um spray para o espaço. Ao atravessar essas plumas, a sonda pôde ter contato direto com o material ejetado de Encélado.

Os instrumentos ideais para esse tipo de análise são os espectrômetros de massa, que permitem identificar moléculas individuais presentes nas amostras de acordo com a massa que possuem. A Cassini tinha dois deles a bordo. O CDA (Analisador de Poeira Cósmica) se concentrava em estudar o resultado da desintegração do que quer que se chocasse contra ele e o INMS (Espectrômetro de Massa Ionizada e Neutra) colhia amostras e estudava a composição dos gases presentes, assim como de moléculas produzidas no impacto.

Os pesquisadores dos dois instrumentos tiveram de trabalhar juntos, combinando ambos os dados, para tentar levar ao limite a capacidade de detecção, originalmente focados em moléculas de pequeno porte. E, com isso, obtiveram evidências bastante fortes de que há moléculas orgânicas em grande quantidade nas plumas de Encélado — e, por consequência, no oceano sob a crosta.

É difícil dizer exatamente que moléculas seriam essas, mas eles consideram favas contadas que elas tenham massa molecular acima de 200 unidades de massa atômica — o limite prático dos instrumentos embarcados na Cassini. Na prática, isso significa dizer que as moléculas detectadas têm mais de 200 vezes a massa do hidrogênio, o mais simples dos elementos químicos.

Com isso, já adentramos o terreno das macromoléculas — um requisito essencial para reações químicas ligadas à vida. Para dar um exemplo, um dos carboidratos mais importantes para o metabolismo, a glicose (C6H12O6) tem, em média, 180 unidades de massa atômica.

Os pesquisadores acreditam que esses compostos orgânicos mais complexos vão se acumulando na interface entre o oceano líquido e a capa de gelo que recobre Encélado, e aí são ejetados em profusão pelas plumas que chegam à superfície. É quase como se a lua já nos fizesse o favor de gerar amostras concentradas de compostos orgânicos para que pudéssemos avaliar o inventário de substâncias presentes no oceano.

“Fomos mais uma vez surpreendidos por Encélado”, diz Christopher Glein, do SwRI (Instituto de Pesquisa do Sudoeste), nos EUA, um dos autores do estudo. “Antes só havíamos identificado as moléculas orgânicas mais simples, contendo uns poucos átomos de carbono, mas mesmo isso era intrigante. Agora encontramos moléculas orgânicas com mais de 200 unidades de massa atômica. Isso é mais de dez vezes mais pesado que metano. Com moléculas orgânicas complexas emanando de seu oceano de água líquida, essa lua é o único corpo além da Terra que sabemos satisfazer simultaneamente a todos os requerimentos básicos para vida como a conhecemos.”

(Europa, lua de Júpiter, é candidatíssima a ter condições similares, mas ainda não conseguimos corroborar isso de forma conclusiva.)

A Cassini já havia confirmado anteriormente que o oceano de Encélado tem hidrogênio molecular e atividade hidrotermal no leito rochoso de seu oceano. Na Terra, essas fumarolas são habitat para alguns dos organismos mais primitivos a surgirem em nosso planeta, e eles se alimentam justamente de hidrogênio molecular. Ou seja, em termos químicos, sabemos não só que Encélado tem um oceano habitável, como tem habitats que serviriam maravilhosamente bem para alguns organismos terrestres.

A próxima questão é: poderia a química da vida ter surgido por lá? É nesse contexto que a nova descoberta se encaixa, oferecendo um resultado extremamente promissor. Claramente há química orgânica lá suficientemente complexa para animar os pesquisadores a continuarem procurando.

E para isso precisaremos de uma nova missão a Encélado, desta vez com um espectrômetro de massa mais capaz que o da Cassini, voltado para moléculas maiores e mais complexas. Diversos cientistas advogam que uma missão assim deveria ser prioridade na Nasa, mas ainda não há sinal verde da agência espacial americana, que está agora concentrada em seu retorno a Europa — uma lua maior que Encélado e que provavelmente também tem plumas ocasionais ejetadas de sua superfície. A missão Europa Clipper deve partir no começo da próxima década.

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Estudo revela segredo do oceano de Encélado https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/11/07/estudo-revela-segredo-do-oceano-de-encelado/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/11/07/estudo-revela-segredo-do-oceano-de-encelado/#comments Tue, 07 Nov 2017 17:40:14 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2015/03/enceladus-180x111.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7057 Um estudo feito por pesquisadores na Europa e nos Estados Unidos pode ter descoberto o segredo para a manutenção de um oceano habitável sob a crosta da pequenina lua Encélado, de Saturno.

De acordo com o trabalho, publicado nesta segunda-feira (06) na revista “Nature Astronomy”, o satélite natural pode manter seu oceano aquecido, em princípio, por até bilhões de anos, caso seu núcleo rochoso não seja completamente sólido, mas poroso, ou seja, cheio de vazios e interstícios, por onde a água do oceano pode fluir.

A hipótese é consistente com as observações feitas pela sonda Cassini, que de início foram recebidas como total surpresa pelos cientistas. Desde a missão Voyager a Saturno, em 1980, já se desconfiava que Encélado pudesse ter algum tipo de atividade geológica, uma vez que sua superfície se revelava livre de crateras e cheia de sinais de tectonismo.

Contudo, o que a Cassini revelou, a partir de 2005, foi um mundo extremamente ativo, a despeito de seu pequenino tamanho (504 km de diâmetro), com plumas de água sendo ejetadas para o espaço a partir de fissuras na região polar sul de Encélado.

O resultado, consistente com a presença de um oceano global sob a superfície congelada, era inesperado, porque não se imaginava que houvesse força de maré suficiente para manter a água em estado líquido, como há nas luas Europa e Ganimedes, de Júpiter. Encélado era simplesmente pequeno demais para isso, e os modelos sugeriam que ele deveria ter se congelado completamente poucos milhões de anos após sua formação.

A nova simulação tridimensional realizada por Gaël Choblet, da Universidade de Nantes, na França, e seus colegas mostra que este não precisa ser o caso se o núcleo rochoso de Encélado for poroso. Nesse caso, a força de maré agiria nele produzindo fricção capaz de gerar o calor extra para manter o oceano líquido. “Nós predizemos que essa atividade endogênica pode ser sustentada por dezenas de milhões a bilhões de anos”, escreveram os autores no artigo da “Nature Astronomy”.

Curiosamente, o modelo mostra também que existe uma tendência a liberar mais energia nas regiões polares, o que é consistente com a camada mais fina de gelo no polo sul e as plumas que dali emanam para o espaço, abastecendo de partículas o anel E de Saturno.

Modelo da estrutura interna de Encélado; núcleo poroso permite que a água do oceano seja processada em seu interior. (Crédito: ESA)

SEM ENTREGAR A IDADE
O trabalho é um passo importante para explicar as principais características globais observadas em Encélado pela Cassini: um oceano global, forte dissipação da energia de maré, uma espessura menor da crosta de gelo no polo sul e os indícios de atividade hidrotermal no leito rochoso do oceano, detectados a partir da composição das plumas.

Contudo, ele não nos aproxima de descobrirmos a verdadeira idade de Encélado. Há hoje duas possibilidades: ou a lua é tão antiga quanto Saturno e o resto do Sistema Solar, com 4,5 bilhões de anos, como em geral se pensava, ou ela pode ser tão jovem quanto “meros” 100 milhões de anos.

Nessa segunda possibilidade, apoiada por algumas evidências do estudo da dinâmica das luas mais internas de Saturno, Encélado teria se formado junto com os anéis do planeta e seria relativamente recente, fruto do colapso de um sistema primordial de luas destruído por impactos sucessivos.

Como a idade da lua está atrelada à dos anéis, está todo mundo de olho no processamento dos dados colhidos pela sonda Cassini em suas últimas semanas antes do mergulho final na atmosfera do planeta, em setembro. Eles podem indicar a massa total dos anéis e, com ela, uma estimativa mais fiel de sua idade.

A nova modelagem 3D do núcleo de Encélado é agnóstica com relação a isso: seus resultados são compatíveis tanto com uma lua que tem 4,5 bilhões de anos quanto com uma que tem apenas 100 milhões de anos. Contudo, essa pode ser a diferença entre uma lua habitável e uma lua habitada.

Sabemos, pelos dados da Cassini, que o oceano de Encélado tem a capacidade de abrigar bactérias metanógenas com extrema facilidade. Uma questão que fica é: Encélado teve os ingredientes certos para o surgimento da vida? Claramente, diversidade química não deve ter faltado. Os estudos da Cassini mostram a presença de moléculas orgânicas nas plumas que emanam do polo sul, e as simulações dos pesquisadores mostram que, com um núcleo poroso, toda a água do oceano teria sido “processada”, ou seja, teria passado pelo núcleo e experimentado temperaturas mais altas que 90 graus Celsius num período de 25 milhões a 250 milhões de anos.

Por outro lado, sabemos que o surgimento da vida não depende só de diversidade química e gradientes de energia apropriados. Um dos fatores essenciais na equação é tempo. Será que houve tempo suficiente em Encélado? Se a lua tem 4,5 bilhões de anos, pode apostar que sim. Se, contudo, ela tem apenas 100 milhões de anos, esse pode ter sido um fator limitante.

O mistério central de Encélado, portanto, continua. E os pesquisadores admitem isso. “Apenas missões futuras equipadas com instrumentos capazes de analisar as moléculas orgânicas nas plumas com precisão maior do que as medições da Cassini poderão nos dizer se as condições requeridas foram sustentadas por tempo suficiente para que a vida tenha emergido nesse distante mundo oceano”, concluem os autores em seu artigo.

Não sei quanto a você, mas, mal findada a missão Cassini, já não vejo a hora de termos outra espaçonave para explorar Saturno e suas luas.

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Astronomia: Os mistérios que restaram em Saturno https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/09/18/astronomia-os-misterios-que-restaram-em-saturno/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/09/18/astronomia-os-misterios-que-restaram-em-saturno/#comments Mon, 18 Sep 2017 05:00:42 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2015/08/Saturn_Equinox1-e1440985362135-180x156.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6887 Conheça os seis grandes mistérios que a Cassini deixou para a próxima missão a Saturno.

TEMPESTADE HEXAGONAL
Saturno tem uma estranha tempestade permanente no polo norte, que molda os ventos em forma hexagonal. O que a alimenta? Não sabemos, assim como não temos ideia da estrutura mais profunda da atmosfera do planeta gigante.

ESTRUTURA FINA DOS ANÉIS
A Cassini fez observações incríveis de todos os anéis de Saturno. Mas ela não foi capaz de se aproximar a ponto de ver as partículas individuais que os compõem. Uma próxima missão poderia se concentrar nisso, elevando nossa compreensão desse cartão postal do Sistema Solar.

RESPINGOS EM TÉTIS
Com pouco mais de mil quilômetros de diâmetro, a lua Tétis é praticamente toda feita de gelo de água. Esburacada e vulgar, ela não chamaria grande atenção, não fossem arcos vermelhos que cruzam sua superfície. Ninguém sabe como essas estruturas, que mais parecem respingos de tinta, foram parar lá.

O OCEANO DE DIONE
A vizinha de Tétis, Dione, é só um pouquinho maior, e bem mais densa, com um substancial núcleo rochoso. A Cassini obteve evidências consistentes de que ela tem um oceano de água líquida sob a crosta. Mas não será fácil aprender mais sobre ele no futuro, já que ele parece não ter contato com a superfície.

OS MARES DE TITÃ
A maior das luas saturninas merecia até ser planeta: é maior que Mercúrio e tem atmosfera mais densa que a da Terra. Lá, num frio de rachar, metano e etano fazem o papel da água, produzindo nuvens, chuvas, rios, lagos e mares. Que reações químicas bizarras podem acontecer num corpo líquido desses? Mandar uma nova sonda lá poderia elevar a expressão de Camões “por mares nunca dantes navegados” a um novo patamar.

HÁ VIDA EM ENCÉLADO?
Com 504 km de diâmetro, Encélado foi a grande surpresa da Cassini, com um oceano de água líquida sob a crosta e gêiseres no polo sul. A Cassini conseguiu determinar que o oceano teria tudo para abrigar microrganismos como os que existem na Terra. Mas será que tem algo vivo lá? Só uma nova missão, capaz de detectar moléculas orgânicas complexas, poderia responder isso.

BÔNUS: MEU RÉQUIEM PARA A CASSINI
Na edição de sábado (16), esta Folha publicou minha reportagem sobre o final da Cassini. Convido você à leitura, à sua conveniência, claro, clicando aqui.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

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AO VIVO: Sonda Cassini mergulha em Saturno https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/09/15/ao-vivo-sonda-cassini-mergulha-em-saturno/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/09/15/ao-vivo-sonda-cassini-mergulha-em-saturno/#comments Fri, 15 Sep 2017 05:11:08 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/04/fim-cassini-180x101.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6870 Depois de 20 anos no espaço e 13 anos revelando todos os segredos de Saturno, a missão Cassini chega ao seu final — produzindo dados científicos até o último segundo. A espaçonave mergulhou na atmosfera do segundo maior planeta do Sistema Solar e colheu informações sobre sua composição até se desintegrar como uma bola de fogo no céu saturnino. Acompanhe a transmissão ao vivo do Mensageiro Sideral, com imagens do controle da missão em Pasadena, nos EUA, e comentários do astrônomo Cassio Barbosa e do engenheiro aeroespacial Lucas Fonseca.

ÚLTIMAS ATUALIZAÇÕES

2h08 – A Cassini cruza a região da órbita da lua Encélado, já avançando para o domínio dos anéis de Saturno, rumo ao seu mergulho final.

4h14 – A espaçonave começa um rolamento de cinco minutos para apontar o seu espectrômetro de massa e íons na direção do mergulho, para que ele possa medir a composição da atmosfera. Sua operação passa agora a transmitir os pacotes de dados em tempo real, a modestos 3,4 Kbytes por segundo.

4h22 – A Cassini já cruzou a distância orbital do anel F, o mais externo dos anéis principais de Saturno.

5h45 – A sonda segue em contato permanente com a Terra desde que enviou suas últimas imagens, ontem.

7h00 Começando nosso feed de vídeo ao vivo (no player acima).

7h31 – Segundo as predições dos cientistas, nessa hora a Cassini começou a entrar na atmosfera de Saturno, a mais de 110 mil km/h. O ar ainda é muito rarefeito a essa altitude — mais ou menos a mesma densidade que se encontra, na Terra, na região orbital da Estação Espacial Internacional, a cerca de 400 km do chão. É quase nada, mas para a Cassini, a essa velocidade, é o suficiente para ela brigar com o arrasto para manter sua antena apontada para a Terra.

7h32 – Pelas estimativas, a Cassini já deve ter perdido a briga e sua antena não está mais apontada para a Terra. Esse é o fim de sua missão. Mas só saberemos em 83 minutos — tempo que os sinais de rádio dela levam para chegar à Terra, vindos de Saturno.

8h55 – SINAL CORTADO. Acabou a missão Cassini, tornando-se uma estrela cadente no céu de Saturno.

 

A MISSÃO

Lançada em 1997, a Cassini chegou a Saturno em 2004, onde foi responsável por incríveis descobertas, como a existência de oceanos de água líquida no interior das luas Titã e Encélado. Enquanto a primeira representa um ambiente muito similar ao que a Terra tinha quando a vida surgiu por aqui, a segunda tem fissuras em sua superfície que permitem que jatos de água escapem para o espaço. Ao atravessar essas plumas, a espaçonave confirmou que o ambiente do oceano de Encélado tem todas as condições para a existência de vida microbiana similar à encontrada no fundo dos oceanos terrestres.

A missão, que teve seu planejamento iniciado em 1982, consumiu US$ 3,9 bilhões e envolveu três agências espaciais: a americana Nasa, a europeia ESA e a italiana ASI. Um dos grandes destaques da missão foi o módulo europeu Huygens, que se desprendeu da Cassini e pousou em Titã em janeiro de 2005, tornando-se a primeira espaçonave a realizar um pouso numa lua que não fosse a da Terra.

Originalmente programada para durar só até 2008, a Cassini teve duas extensões de sua missão, que permitiram monitorar mudanças em Saturno conforme ele ia do inverno no hemisfério Norte para o verão (o planeta tem estações, como a Terra, mas elas se desenrolam muito mais lentamente, já que ele leva 29 anos para completar uma volta ao redor do Sol).

Agora, a missão tem de acabar porque não há mais combustível para manobrá-la. Deixá-la em órbita ameaçaria as luas potencialmente habitáveis, Titã e Encélado, de contaminação acidental de bactérias terrestres que possam ter sobrevivido a bordo da Cassini. Para evitar qualquer risco, decidiu-se por uma estratégia que foi batizada de Grand Finale — uma sequência de 22 órbitas que colocariam a Cassini entre Saturno e seus anéis.

A última órbita termina nesta sexta-feira (15). Existe alguma incerteza nos cálculos, mas a expectativa dos cientistas é que ela inicie a entrada na atmosfera de Saturno por volta das 7h31 (de Brasília) e perca a capacidade de manter sua antena apontada para a Terra apenas um minuto depois, mergulhando a uma velocidade superior a 110 mil km/h.

Os sinais, contudo, levam 83 minutos para viajar — à velocidade da luz — até as antenas gigantes da Deep Space Network em Camberra, na Austrália, onde serão captadas. Portanto, a Terra só ouvirá o silêncio que se seguirá à perda da Cassini por volta das 8h55.

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Astronomia: Chance para vida exótica em Titã? https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/07/31/astronomia-chance-para-vida-exotica-em-tita/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/07/31/astronomia-chance-para-vida-exotica-em-tita/#comments Mon, 31 Jul 2017 05:00:32 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/07/PIA06236-174x180.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6674 Radiotelescópio detecta em Titã molécula capaz de produzir células para vida exótica.

SOCIEDADE ALTERNATIVA
Dizem por aí, nos corredores da moda, que acrilonitrila é o novo preto. Isso pelo menos em Titã, onde esse composto acaba de ser detectado. Afirmam os cientistas que ele poderia exercer por lá o mesmo papel que na Terra é cumprido pelos lipídios para formar membranas celulares, talvez levando ao surgimento de formas de vida, inteiramente diferentes das terrestres, na maior das luas de Saturno.

QUASE UM PLANETA
Com 5.150 km de diâmetro, Titã chega a ser maior que o planeta Mercúrio, e é a única lua conhecida no Sistema Solar com uma atmosfera tão densa quanto a da Terra. E, a exemplo daqui, o principal gás a compor o ar lá é o nitrogênio.

FRIO DE RACHAR
A lua, orbitando o longínquo Saturno, recebe apenas um centésimo da luz solar que chega à Terra, o que resulta em um ambiente de -180C. A essa temperatura, água se comporta como rocha. E, no entanto, há também um ciclo hidrológico em Titã. Lá, os compostos que evaporam e chovem, preenchendo rios, lagos e mares, são hidrocarbonetos — metano e etano.

TUDO JUNTO E MISTURADO
Com a grande quantidade de compostos orgânicos em sua atmosfera enevoada, já se esperava que moléculas complexas surgissem, com a ajuda dos raios ultravioleta do Sol. Em 2015, um grupo da Universidade Cornell sugeriu que um desses compostos produzidos seria a acrilonitrila, com seu potencial para fabricar membranas.

GARIMPO DE DADOS
Para confirmar isso, um grupo da Nasa acaba de vasculhar dados colhidos pelo radiotelescópio Alma, no Chile. E encontrou sinais da molécula em Titã, em quantidade bastante alta. Eles sugerem que esse composto literalmente choveria por lá, numa concentração que permitiria produzir 10 milhões de membranas celulares por mililitro nos mares de metano e etano.

PEQUENO QUÍMICO
Claro que isso não quer dizer que deva existir vida em Titã. Mas trata-se de uma bela mostra de como o Universo pode exercer toda a sua criatividade química mesmo em ambientes que são diferentes dos prevalentes em nosso planeta.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

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Cassini continua a tirar o fôlego dos terráqueos https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/07/24/cassini-continua-a-tirar-o-folego-dos-terraqueos/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/07/24/cassini-continua-a-tirar-o-folego-dos-terraqueos/#comments Mon, 24 Jul 2017 19:10:38 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/07/PIA21621-180x158.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6657 Antes de mais nada, pare o que quer que você esteja fazendo, respire fundo, e perca algum tempo olhando para esta imagem. Isto é Saturno, visto de perto pela venerável sonda Cassini, que está completando suas últimas voltas antes de um mergulho fatal na atmosfera do segundo maior planeta do Sistema Solar, em 15 de setembro.

A imagem revela os anéis de Saturno como seriam vistos de uma perspectiva interna ao planeta e ainda mostra a névoa que recobre o céu azul da alta atmosfera saturnina. Capturada no dia 16 de julho, a imagem foi obtida pela Cassini quando ela estava a 1,25 milhão de km do planeta, já se afastando após mais um sobrevoo rasante através do vão entre os anéis e o gigante gasoso.

As cores não são exatamente as que nossos olhos veriam. Para realçá-las, a imagem faz uso de três filtros, dos vários disponíveis à Cassini para suas investigações científicas. Dois são de fato cores que enxergamos, verde e vermelho. Mas, para o lugar do azul, os cientistas usaram o filtro de ultravioleta. Então, tecnicamente, a imagem é dois terços cor real, um terço falsa cor. E 100% espetacular.

A imagem veio no último relatório ao público preparado pela equipe de comunicação do JPL (Laboratório de Propulsão a Jato) para informar das últimas descobertas feita pela sonda durante esta etapa derradeira da missão, o Grand Finale.

E, até agora, o que eles descobriram foi… complicado.

O campo magnético do planeta parece estar absurdamente alinhado com o eixo de rotação, algo que, segundo modelos teóricos, não deveria acontecer. Além de inviabilizar a medição do giro interno do planeta, o resultado parece desafiar nossas explicações de como o campo magnético no interior de Saturno é gerado. Os cientistas ainda não abandonaram suas ideias anteriores, mas esperam reunir mais dados até o final da missão para descobrir o que estão detectando e, com isso, decifrar como o planeta produz sua magnetosfera e qual é sua rotação real, obscurecida pelo fato de que a atmosfera superior — tudo que vemos do lado de fora — gira em velocidades diferentes em lugares diferentes.

Os resultados das medições de gravidade também apresentam dados intrigantes, aparentemente inconsistentes com o que se esperava da estrutura interna do planeta — a exemplo do que aconteceu com a Juno em Júpiter. Aparentemente, sabemos menos sobre como planetas gigantes se organizam internamente do que julgávamos antes, e tanto a Cassini como a Juno nos permitirão dar um salto significativo nessa compreensão no futuro próximo.

Por fim, o pessoal do JPL informou que a Cassini conseguiu colher amostras de partículas do anel D, o mais interno de Saturno, o que permitirá investigar sua composição. Imagens das câmeras também revelaram texturas no anel C, que ajudarão a decifrar sua estrutura e composição.

Estranhas texturas observadas pela Cassini no anel C, de Saturno. (Crédito: Nasa)

Por fim, a sonda também deu uma “cheirada” na exosfera — a camada mais alta e rarefeita da atmosfera do planeta — com seu espectrômetro, o que permitirá determinar em detalhes que gases a compõem. Essas medições, claro, terão seu ponto mais alto quando a sonda mergulhar no planeta, mandando dados da composição até perder o apontamento de sua antena com a Terra e queimar como uma estrela cadente saturnina, em 15 de setembro.

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Cassini faz as melhores imagens já obtidas da região polar Norte de Saturno https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/05/02/cassini-faz-as-melhores-imagens-ja-obtidas-da-regiao-polar-norte-de-saturno/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/05/02/cassini-faz-as-melhores-imagens-ja-obtidas-da-regiao-polar-norte-de-saturno/#comments Tue, 02 May 2017 05:00:37 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/05/saturno-26-abr-5-32am-w-180x180.png http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6317 Na madrugada desta terça-feira (2), a espaçonave Cassini realiza seu segundo mergulho no estreito vão entre os anéis de Saturno e o próprio planeta, e os cientistas certamente devem estar ansiosos pelas novas observações. Na primeira passagem, no último dia 26, a sonda produziu as imagens mais espetaculares do misterioso polo Norte saturnino.

A equipe da Nasa certamente está bem ocupada com o ritmo frenético do “Grand Finale”, a derradeira etapa da missão, que termina em 15 de setembro, após 22 sobrevoos próximos de Saturno. Tanto que, depois de divulgar um trio de imagens “cruas” do primeiro deles, sem processamento algum, passaram dias sem colocar nada de novo no ar.

Imagens não processadas e transmitidas pela Cassini após seu primeiro mergulho sob os anéis de Saturno (Crédito: Nasa)

O Mensageiro Sideral começou a ficar angustiado com isso e decidiu fazer justiça — ou melhor, processamento de imagens — com as próprias mãos. E a essa altura, no começo do texto, você já teve um gostinho do resultado.

COMO A CASSINI TIRA FOTOS
Uma das críticas que alguns desavisados fizeram na semana passada sobre as imagens divulgadas pela Nasa é que elas não eram coloridas.  O que eles não sabiam é que toda câmera digital, inclusive aquela do seu celular, só faz imagens em preto e branco. É isso mesmo. Só preto e branco. O truque que não deixa você perceber isso é que ela tira três fotos em preto e branco simultâneas: uma coleta as partículas de luz que têm comprimentos de onda próximos aos da cor vermelha, a segunda, das que se aproximam do verde, e a terceira, que estão próximas do azul.

E aí, num passe de mágica, ela combina as três imagens PB em uma única imagem colorida, aproximadamente nos mesmos tons que enxergamos, a partir das cores básicas vermelho, verde e azul (padrão conhecido pela sigla RGB, red-green-blue).

A Cassini funciona do mesmo jeito. Sua câmera de bordo, chamada ISS (Imaging Science Subsystem), tem duas configurações, de ângulo amplo e de ângulo estreito, e gera basicamente imagens PB a partir de uma série de filtros sensíveis a diferentes comprimentos de onda. Só que, enquanto a câmera do seu celular está satisfeita com três filtros, vermelho, verde e azul, os cientistas da Nasa queriam um pouco mais. Exatamente 26 a mais. São, ao todo, 29 filtros, com os mais variados objetivos científicos: alguns permitem enxergar através da névoa quase impenetrável da lua Titã, outros permitem enxergar ultravioleta (que nossos olhos não veem), outros infravermelho (idem), e a configuração mais simples é a “sem filtro nenhum”, ou seja, aí vai rolar um imagem PB mesmo, produzida por todas as partículas de luz que entrarem na câmera.

Certo, para brincar de processar as imagens “cruas” da sonda (que a Nasa publica integralmente assim que são recebidas da espaçonave aqui, para o desgosto dos teóricos da conspiração), eu precisava descobrir quais eram os filtros correspondentes aos clássicos RGB das nossas câmeras. Eu queria saber da Cassini que fotos eu poderia obter com o meu celular se estivesse viajando com ela. Após alguma pesquisa, descobri que eles figuram nas informações das imagens brutas com os códigos BL1 (para azul), GRN (verde) e RED (vermelho).

Em seguida, corri atrás de aprender como integrar as três imagens numa só, colorida, com um editor de imagens. Achei sem demora este excelente tutorial escrito por Emily Lakdawalla, da Planetary Society. E aí, uau.

Imagem do polo Norte de Saturno feita pela Cassini no dia 26 de abril, às 3h08 (UT). (Crédito: JPL-Caltech/Nasa/Salvador Nogueira)

O POLO NORTE DE SATURNO
É um espetáculo tão fascinante quanto bizarro — o planeta dos anéis tem bem sobre seu eixo de rotação uma corrente de ventos e nuvens que forma um imenso hexágono. Descoberto pela missão Voyager, em 1981,  esse padrão nunca havia sido observado antes em planeta algum. Desde então, o fenômeno chegou a ser reproduzido em laboratório com experimentos de fluidos, o que ajuda a entender como pode ser verdade uma coisa dessas.

O hexágono de Saturno, contudo, é dinâmico, e o que a Cassini nos ofereceu ao longo dos últimos anos foi uma oportunidade de monitorá-lo de forma quase contínua nos últimos anos. Até 2009, tudo que a sonda podia fazer era colocar aqueles filtros obscuros para trabalhar e obter imagens de infravermelho do polo Norte, uma vez que era inverno por lá e o hexágono estava escondido o tempo todo do Sol — como nos polos da Terra, que passam por seis meses de escuridão e seis meses de luminosidade. Só que lá em Saturno o ano (o período de translação do planeta) dura 29 anos terrestres. Uma longa espera.

A Cassini aguardou, resistiu, prosperou e foi premiada. Desde 2009, vem monitorando o hexágono e já notou um efeito interessante: entre 2012 e 2016, ele foi gradualmente mudando de cor, saindo de um tom mais azulado, para um mais pálido, quase no mesmo tom bege que domina a maior parte do planeta. Os cientistas especulam que a transformação possa ter a ver com reações fotoquímicas. Conforme a luz do Sol começou a bater por lá, a composição da atmosfera sofreu alterações que levaram à mudança de cor. Mas ainda é preciso estudar mais a questão, e nesse sentido o “Grand Finale” veio a bem a calhar: em órbitas que fazem sobrevoos rasantes do planeta, a sonda conseguiu obter as imagens mais próximas já feitas do hexágono e do vórtice azul que reside em seu centro.

Na boa, são de tirar o fôlego. E tenha em mente que a Cassini é uma espaçonave que decolou em 1997, ou seja, isso é tecnologia de ponta da Nasa dos anos 1990. Nada mau.

A Cassini registra o polo norte novamente às 4h36 (UT) do dia 26 de abril. (Crédito: JPL-Caltech/Nasa/Salvador Nogueira)

E O QUE TEM DE RUIM?
Claro, não podíamos encerrar sem antes dar alguma coisa para os reclamões reclamarem, não é? Sempre tem alguma coisa. E, no caso, a má notícia é que as imagens colhidas pela Cassini em seu momento de máxima, máxima aproximação — a cerca de 3.000 km do topo das nuvens — serão PB raiz mesmo, e não esse PB nutella que podemos transformar em uma imagem colorida por processamento.

Entenda o problema: quando a sonda cola em Saturno, está viajando a inimagináveis 124 mil km/h. É cerca de cinco vezes mais rápido que um satélite em órbita da Terra, e 130 vezes mais rápido que um avião de passageiros. Aí tem dois desafios: o primeiro é que a perspectiva muda muito depressa para a espaçonave. Entre a câmera bater a primeira e a segunda foto, com filtros diferentes, a sonda já está sobre um pedaço diferente do planeta. E tem o segundo — e fatal — desafio: o tempo de exposição da câmera, ou seja, o quanto você a deixa aberta para receber as partículas de luz, precisa ser muito curto. Se não for assim, a imagem sairá um borrão puro. E, se o tempo for curto, vai entrar pouca luz na câmera. E se você começar a colocar filtros, escolhendo quais fótons você quer e quais não quer, é capaz de ficar sem nenhum.

Por tudo isso, as observações feitas em aproximação máxima serão colhidas no modo “sem filtro”, deixando todo e qualquer fóton que queira aparecer na foto entrar na câmera. E aí é PB mesmo, sem choro nem vela.

Se você, como eu, acha que esse é um pequeno preço a se pagar por uma missão como a Cassini, fique ligado. Os próximos meses devem trazer muito mais. Na primeira passagem do Grand Finale, a Nasa constatou que a quantidade de partículas dos anéis na região por onde transitou a sonda é bem mais baixa do que o esperado — eles chamaram a região de “o grande vazio”. E essa é uma ótima notícia. Significa que, para o sobrevoo desta terça-feira (2), a Cassini não precisará viajar usando a antena como escudo, o que permitirá maior flexibilidade para observações.

E assim vamos seguindo, enquanto nos encaminhamos para a agridoce conclusão da missão, em 15 de setembro.

Imagem da Cassini no dia 29, já bem mais afastada de Saturno em sua órbita elíptica. (Crédito: JPL-Caltech/Nasa/Salvador Nogueira)

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