Mensageiro Sideral https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br De onde viemos, onde estamos e para onde vamos Sat, 04 Dec 2021 19:09:39 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Voyager-2 chegou ao espaço interestelar https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/12/10/voyager-2-chegou-ao-espaco-interestelar/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/12/10/voyager-2-chegou-ao-espaco-interestelar/#respond Mon, 10 Dec 2018 16:17:09 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/heliosfera-voyager-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8435 A sonda Voyager-2 se tornou no mês passado a segunda espaçonave enviada da Terra a atingir o espaço interestelar, seis anos depois de sua irmã-gêmea, a Voyager-1. A notícia foi divulgada pela Nasa, a agência espacial americana, nesta segunda-feira (10).

Há uma certa confusão sobre o que significa “chegar ao espaço interestelar”, então vamos tirar isso da frente logo de cara. O Sol é uma estrela e, como tal, tem um poderoso campo magnético que guia o chamado vento solar — uma torrente de partículas que é emanada em todas as direções a partir dele e predomina numa região conhecida como heliosfera. Conforme vamos nos afastando, o campo magnético vai se enfraquecendo e, num determinado momento, as partículas do vento solar passam a não mais predominar sobre o ambiente, que passa a ser marcado pelos raios cósmicos vindos de fora. Essa é a fronteira que a Voyager-1 cruzou em 2012, e a Voyager-2 atingiu agora, em 5 de novembro último.

Gráfico mostra dados registrados pela Voyager-2 indicando a saída da heliosfera. (Crédito: Nasa)

Isso, claro, não quer dizer que a nave tenha cruzado o objeto mais distante a orbitar o Sol. Estima-se que existam objetos fracamente presos ao Sol a até um ano-luz de distância (cerca de 63,2 mil unidades astronômicas) dele, e a Voyager-2 está agora a apenas 119 UA. Ainda assim, não devemos desprezar essa viagem; Ultima Thule, objeto que a sonda New Horizons está prestes a explorar depois de ter passado por Plutão, em 2015, está a muito mais modestos 43 UA do Sol. (Esses números dão uma boa noção da diferença dramática que é explorar o Sistema Solar e tentar visitar outras estrelas; a mais próxima, Alfa Centauri, está a 4,2 anos-luz, ou 265,4 mil UA.)

O resultado é cientificamente muito relevante. No caso da Voyager-1, porque até então essa divisa entre o domínio magnético do Sol e o espaço interestelar era conhecida apenas por meio de modelos. E no caso da Voyager-2, por oferecer medidas numa outra direção de saída da “bolha solar”, já que a Voyager-1 foi arremessada para fora do plano da órbita dos planetas após o encontro com Saturno, em 1980, e a Voyager-2 seguiu em frente para encontrar Urano, em 1986, e depois Netuno, em 1989, antes de rumar para fora do Sistema Solar. Ambas foram lançadas da Terra em 1977.

E a Voyager-2 ainda ofereceu um bônus: um instrumento crucial para medir o ambiente de partículas pelo qual viaja a espaçonave, o Plasma Science Experiment (PLS), ainda está funcionando; na Voyager-1, ele estava pifado, o que dificultou identificar a passagem pela fronteira da heliosfera.

A Voyager-2 inicia sua jornada interestelar. Godspeed! (Crédito: Nasa)

As duas espaçonaves vão continuar em operação, enviando dados para a Terra e ajudando na compreensão das regiões afastadas pelas quais estão viajando. Mas a eletricidade para mantê-las ativas está acabando. Elas são equipadas com RTGs (em essência, pilhas de plutônio radioativo que geram calor, então convertido em energia elétrica) e, depois de 41 anos no espaço, seu rendimento é cada vez menor. Os instrumentos devem começar a ser desligados um a um para economizar energia e provavelmente todos estarão desligados, encerrando a missão, até 2030. Dali em diante, ambas serão objetos inertes a vagar pelo espaço entre as estrelas da Via Láctea.

Os resultados detalhados do marco atingido pela Voyager-2 foram apresentados nesta segunda-feira (10) na reunião de outono da União Geofísica Americana (AGU), em Washington. Confira abaixo a entrevista que fiz tempos atrás com Ed Stone, cientista-chefe da missão, sobre os principais marcos dessa incrível jornada de exploração.

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Voyager preferiu não ir a Plutão, diz cientista-chefe https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/08/24/voyager-preferiu-nao-ir-a-plutao-diz-cientista-chefe/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/08/24/voyager-preferiu-nao-ir-a-plutao-diz-cientista-chefe/#comments Thu, 24 Aug 2017 09:00:28 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2013/12/voyager-150x150.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6802 Durante seu planejamento inicial, a missão Voyager, que completou 40 anos no espaço no último domingo (20), poderia ter ido até Plutão — então tido como o nono planeta do Sistema Solar. Mas os cientistas preferiram deixar para lá, em nome de outro alvo: Titã, a maior das luas de Saturno. É o que conta Ed Stone, 81, cientista-chefe da missão desde 1972, em entrevista ao Mensageiro Sideral.

Uma possibilidade originalmente aventada seria mandar a Voyager 1 para Júpiter, Saturno e, de lá, para Plutão, enquanto a Voyager 2 visitaria Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, como de fato aconteceu. Mas os cientistas estavam especialmente intrigados com Titã, a única lua do Sistema Solar a abrigar uma atmosfera densa recheada de moléculas orgânicas. Só que a trajetória ótima para o estudo de Titã impediria a sonda de ganhar o impulso gravitacional certo de Saturno para pegar o caminho de Plutão. E aí, entre um alvo e outro, os pesquisadores da Nasa preferiram ficar com Titã.

“Bem, Titã estava obviamente apenas quatro anos depois do lançamento, e Plutão teria sido doze anos”, diz Stone. “Então, alguém estaria trocando algo que achávamos bem provável que acontecesse por algo que era menos provável, que a espaçonave pudesse durar por tanto tempo.”

A exploração da lua saturnina produziu alguns resultados muito interessantes, como a descoberta de que a atmosfera dela era majoritariamente feita de nitrogênio, como a da Terra, e que muitas reações químicas prebióticas deviam se desenrolar por lá. Também foram obtidas evidências de que Titã tinha nuvens de metano e provavelmente chuvas de metano.

Mas, no fim das contas, passar perto da lua não foi tão vantajoso para a Voyager 1, considerando que Titã era encoberto por uma densa névoa que impedia qualquer observação da superfície em luz visível. E o reconhecimento de Plutão teve de esperar a sonda New Horizons, que finalmente completou a meta deixada em aberto pelas Voyagers em 2015.

Aproveitando a deixa sobre “dúvidas” e “caminhos percorridos”, confira essa pequena — mas eloquente e genial — tira de quadrinhos produzida por Renato Cambraia, engenheiro e quadrinista, em homenagem aos 40 anos da missão Voyager.

E confira a seguir o papo de cerca de meia hora que o Mensageiro Sideral travou com Ed Stone, falando dos pontos altos da Voyager, os resultados da missão interestelar até aqui, o que se espera descobrir ao longo da próxima década, o famoso Golden Record destinado a uma potencial civilização extraterrestre e como foi trabalhar com Carl Sagan. A conversa é acompanhada por muitas imagens e vídeos históricos da Voyager.

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Astronomia: Duas novas luas em Urano? https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2016/10/24/astronomia-duas-novas-luas-em-urano/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2016/10/24/astronomia-duas-novas-luas-em-urano/#comments Mon, 24 Oct 2016 04:02:52 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2016/10/uranus_hstimage-180x101.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=5517 Nova análise de imagens da sonda Voyager 2 sugere a existência de mais duas luas em Urano.

CHÁ DE SUMIÇO
Revirando dados colhidos pela sonda Voyager 2 durante sua passagem por Urano, em 1986, uma dupla de pesquisadores da Universidade de Idaho, nos Estados Unidos, encontrou evidências de mais duas luas no sétimo planeta do Sistema Solar. Detalhe: elas não aparecem em nenhuma das imagens.

DE BACIADA
Urano tem 27 luas conhecidas, mas é certo que existam muitas mais — planetas gigantes são notórios pelo grande número de satélites naturais ao seu redor. O principal problema para contá-los todos é a distância que nos separa deles.

QUARTETO MÁGICO
Júpiter e Saturno, os dois mais próximos, são bem conhecidos. Várias espaçonaves passaram por lá e algumas por lá ficaram. É o caso da Juno, que está neste momento orbitando Júpiter, e da Cassini, que já explora o sistema saturnino desde 2004. Urano e Netuno, contudo, ainda são dois grandes desconhecidos. Ambos só foram visitados uma vez, e de passagem, pela Voyager 2.

PANELA VELHA
A sonda foi lançada em 1977, então você pode imaginar que ela não está exatamente equipada com câmeras de última geração. As imagens que ela fez, por melhores que sejam, têm limitações. Por isso, as pequenas luas sugeridas pelos astrônomos seriam invisíveis nas fotografias. Mas elas teriam deixado uma pista de sua existência nos anéis de Urano.

NA TRILHA DO PASTOREIO
Os pesquisadores notaram irregularidades em dois dos anéis, alfa e beta, que parecem indicar a existência de luas “pastoras”. Elas são assim chamadas porque guiam os anéis e os mantêm coesos. O fenômeno foi descoberto e bem estudado em Saturno, onde vários de seus anéis são “escoltados” por luas pastoras.

PEQUENAS E DISCRETAS
Pelas contas dos cientistas, essas duas hipotéticas luas uranianas seriam bem pequeninas — teriam entre 4 e 14 quilômetros de diâmetro. Agora começa a corrida pela confirmação de que elas estão lá mesmo. E, para isso, observações por telescópio terão de bastar; não há no momento planos para o envio de uma nova espaçonave a Urano, localizado a quase 3 bilhões de quilômetros daqui.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

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Hubble encontra lua “perdida” de Netuno https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2013/10/16/hubble-encontra-lua-perdida-de-netuno/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2013/10/16/hubble-encontra-lua-perdida-de-netuno/#comments Wed, 16 Oct 2013 10:23:22 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=744 Imagens do Telescópio Espacial Hubble encontraram uma lua “perdida” de Netuno — o mais distante dos planetas do Sistema Solar.

Imagem do Hubble, com realce para objetos mais afastados, revela a pequena Naiad (no círculo)

A pequena Naiad havia sido descoberta em 1989 pela sonda Voyager-2 (de saudosa história), em sua histórica passagem por aquele planeta. E desde então a lua nunca mais havia sido vista.

A dificuldade em vê-la da Terra vem do fato de que a lua orbita muito próxima ao planeta, que é 2 milhões de vezes mais brilhante que ela. A equipe de Mark Showalter, do Instituto SETI, na Califórnia, teve de desenvolver uma técnica para bloquear o brilho de Netuno, a fim de enxergar Naiad.

“É o equivalente a enxergar a espessura de um fio de cabelo a 15 metros de distância”, afirma Showalter, que apresentou seus resultados durante a última reunião anual da Sociedade Astronômica Americana (AAS).

Além de redescobrir Naiad, com seus 100 km de largura, com os mesmos dados o grupo também descobriu uma nova lua em Netuno, com no máximo 20 km de diâmetro. O anúncio dessa descoberta foi feito em julho, elevando o número de luas netunianas conhecidas a 14.

As imagens do Hubble, obtidas entre 2004 e 2009, também ajudam os astrônomos a estudar o estranho sistema de aneis e de arcos (algo como aneis incompletos) que haviam sido originalmente observados pela Voyager-2.

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A Voyager e o iPhone https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2013/09/13/a-voyager-e-o-iphone/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2013/09/13/a-voyager-e-o-iphone/#comments Fri, 13 Sep 2013 17:43:20 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=489
A Voyager-1 adentra o espaço interestelar, com 68 KB de memória RAM

Quando eu apresentei cinco provas da ida do homem à Lua, teve gente dizendo que seria impossível pousar em nosso satélite natural com os precários computadores instalados a bordo das naves Apollo. Curiosamente, ninguém duvida que a sonda Voyager tenha conseguido sair do Sistema Solar, depois de visitar vários planetas,  com um trio de computadores cuja memória de trabalho* combinada era de meros 68 kbytes, o que limitava severamente seu modesto poder computacional de 8.000 operações por segundo.

Para mandar sua vasta biblioteca de resultados — que obviamente não cabia na memória dos computadores de bordo –, a nave dispunha de um gravador de fita magnética. Uma vez registrados, a fita era rebobinada e “tocada” de volta para a Terra. E assim obtivemos as incríveis imagens de Júpiter, Saturno, Urano e Netuno colhidas pela sonda.

Tem gente comparando ao iPhone. Pelamordedeus. O primeiro iPhone, hoje já muito ultrapassado, tinha memória RAM de 128 megabytes. 1 MB é 1.000 vezes mais que 1 KB. Isso significa que, no seu bolso, um aparelho de seis anos atrás, tem cerca de 2.000 vezes mais poder computacional que as sondas Voyager.

Então, qual é o segredo do sucesso? Como essas máquinas podem estar até hoje nos assombrando, 36 anos depois de seu lançamento? Bem, para começar, programação esperta e focada. O sistema da Voyager era distribuído entre três computadores.  Um controlava os instrumentos, outro o voo e um terceiro comandava os outros dois. As instruções eram simples, e as opções, limitadas.

Não estamos falando de um computador multifuncional, capaz de executar qualquer tarefa, de editar vídeos a executar games. Ele tinha um propósito bem definido.

O maior segredo da Voyager, contudo, não eram seus computadores. Eram os controladores em solo, usando uma máquina vastamente mais poderosa que o mais recente iPhone 5S: o cérebro humano.

É verdade que, a uma imensa distância da Terra, as sondas precisavam ser automatizadas e autônomas, dotadas de inteligência artificial capaz de reagir ao ambiente sem “consulta” ao controle da missão. Contudo, essas variáveis e o plano de voo eram todos definidos em terra, para depois serem “carregados” nos computadores da nave.

A mesma coisa valeu para as naves Apollo pousando na Lua: quando Armstrong e Aldrin desciam para a alunissagem, em 20 de julho de 1969, o computador de bordo deu tilt. Excesso de dados dos instrumentos sobrecarregaram a memória. Sem problemas. Olhando pela janela, Armstrong seguiu pilotando o módulo lunar enquanto o computador era resetado. O pouso foi realizado quando só restavam 25 segundos para o esgotamento do combustível, e o astronauta precisou desviar de um morro antes de descer.

Os grandes feitos da era espacial ajudaram a desenvolver os computadores, de forma que hoje podemos celebrar nossos smartphones e comemorar seus primos precários das décadas de 60 e 70. Mas nunca se pode perder de vista que a máquina de pensar mais poderosa existente, tanto lá quanto cá, ainda é a mente humana.

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*frase reformulada para aumentar a clareza.

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Voyager: antes e depois https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2013/09/13/voyager/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2013/09/13/voyager/#comments Fri, 13 Sep 2013 09:12:49 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=464 É impressionante como as sondas Voyager mudaram a compreensão do Sistema Solar. Uma revolução quase tão impactante quanto a de quem viveu a missão durante todos esses anos.

Após 36 anos, Voyager-1 deixa o Sistema Solar

Quando eu era criança, lá no início dos anos 1980, eu já sonhava com outros mundos e viagens espaciais. Eu me debruçava sobre um livro antigo que muita gente até hoje conhece — a enciclopédia “Conhecer” — e passava horas admirando a página dupla que falava sobre o Sistema Solar.

A edição que tinha em casa era de 1966 — 13 anos mais velha que eu — e mostrava um sistema planetário bem diferente do que viemos a conhecer mais tarde. Tudo por causa das Voyagers.

Depois dê uma clicada na imagem ao lado para ampliar e ler o texto. É divertido saber o que se dizia dos planetas — que eram nove, Plutão incluído — naquela época (duas revisões ortográficas do português brasileiro atrás).

LONGA VIAGEM

A Voyager-1 passou por Júpiter em 1979, e por Saturno em 1980. A Voyager-2 chegou ao maior planeta do Sistema Solar pela mesma época, mas levou um pouco mais de tempo para atingir seu vizinho cercado de anéis, chegando só em 1981.

Depois disso, a Voyager-1 foi ejetada (pela gravidade de Saturno) para fora do plano do Sistema Solar, enquanto sua irmã gêmea foi direcionada para Urano e, depois, para Netuno. Era a realização do sonho de um grande tour dos planetas mais distantes, só possível graças a um fortuito e raro alinhamento planetário. A cada passagem, a gravidade do planeta visitado empurrava a Voyager-2 na direção do próximo.

A Voyager-2 chegou a Urano em 1986, e foi nesse momento — com 7 anos — que travei contato com a missão. Lembro-me de ver as imagens espetaculares pela televisão e automaticamente me apaixonar por aquela espaçonave que me permitia ir além daquele esboço cheio de lacunas das páginas da “Conhecer”.

A mesma sensação eu tive três anos depois, quando a sonda atingiu Netuno. Era a realização de um sonho poder conhecer — junto com o resto do mundo — o oitavo planeta do Sistema Solar. Lembro-me também da frustração que foi saber que a Voyager-2 não passaria por Plutão para completar a coleção. (Em 2009, encurtaram a coleção ao cortar Plutão da lista; mesmo assim, a sonda New Horizons está para chegar lá, em 2015, e realizar meu sonho de infância.)

JÚPITER

O maior planeta do Sistema Solar era outro antes da visita das Voyagers. Júpiter, pelo “Conhecer” de 1966, tinha 12 satélites. Antes das sondas passarem por lá, mais um havia sido descoberto. Três foram achados pela missão, totalizando 16. E assim ficou até 1999, quando a contagem começou a aumentar graças às melhorias nos telescópios. Hoje são 67, e ninguém duvida que existam outros.

A revolução das Voyagers, contudo, não foi descobrir luas, mas estudar as que já conhecíamos. A sonda descobriu que Io, a mais interna das luas jovianas, sofre com intensa atividade vulcânica, e que Europa deveria ter um oceano de água sob sua crosta de gelo — especula-se hoje que possa até haver vida por lá.

É difícil expressar o tamanho dessas descobertas. De uma hora para outra, Júpiter e suas luas se tornavam uma espécie de sistema planetário em miniatura, cheio de variedade e riqueza de detalhes.

As sondas estudaram a turbulenta atmosfera de Júpiter e pela primeira vez fotografaram os discretos anéis que circulam o maior gigante do Sistema Solar.

SATURNO

As Voyagers acharam três novas luas saturninas, elevando o total a 17 (apenas 9 eram conhecidas na época da publicação do “Conhecer”). Hoje a contagem está em 62.

O que mais chamou a atenção, contudo, foi o estudo dos anéis, que antes se pensava serem três, e a Voyager revelou que na verdade são incontáveis, compostos por pequenos detritos, e que sofrem ondulações influenciados pela gravidade de luas vizinhas.

Além disso, a Voyager revelou a atmosfera densa da lua Titã, a segunda maior do Sistema Solar, com nuvens e chuvas de metano. Especula-se atualmente que Titã seja uma réplica “congelada no tempo” do que foi a Terra primitiva, no início da formação dos planetas. Em 2005, a sonda Huygens, da agência espacial europeia mergulhou atmosfera adentro e tirou fotos do solo de Titã — primeira vez que uma sonda pousa numa lua que não a nossa.

URANO

A Voyager-2 adicionou nada menos que 10 luas ao sétimo planeta e revelou que ele também tinha mais dois finos anéis, além dos que já eram conhecidos. Hoje são conhecidas 27 luas naquele mundo.

A sonda também investigou em detalhe o clima em Urano — um planeta estranho, porque gira “deitado”, com o eixo de rotação apontado para o Sol. Isso quer dizer que o pólo recebe mais luz que o equador! Ainda assim, a sonda mostrou que a temperatura de sua atmosfera é mais ou menos homogênea, revelando uma dinâmica interessante.

NETUNO

A Voyager-2 estudou em detalhe a Grande Mancha Escura do oitavo planeta — uma tempestade com ventos de 1.600 km/h! Além disso, investigou gêiseres criogênicos em Tritão, a maior das luas netunianas. Foi o último objeto a ser visitado pela sonda antes da jornada rumo ao espaço interestelar.

A sonda encontrou cinco novas luas em Netuno, de um total de 14 conhecidas hoje.

NAS PROFUNDEZAS

Eu cresci fascinado pela Voyager. E hoje tenho a oportunidade de trabalhar reportando as novas descobertas da sonda, que está há 36 anos no espaço, audaciosamente indo onde ninguém jamais esteve!

Ela transformou o entendimento da nossa vizinhança cósmica e levou uma mensagem de esperança a todos que vivenciaram seus sucessos. Ontem, disparei um e-mail a Ed Stone, cientista que está com a missão desde o início e virou sinônimo do projeto.

Depois de solicitar comentários sobre o estudo que mostrou que a Voyager-1 havia atingido o espaço interestelar, não pude me furtar a agradecê-lo.

“Eu sou um apaixonado pela missão Voyager. Não apenas pela ciência brilhante e pelas lindas imagens, mas pela aventura: ela é, de verdade, nosso primeiro passo para as estrelas… obrigado pela inspiração todos esses anos.”

Kirk e Spock encontram a Voyager, para minha alegria completa

Espero ainda ter o que falar da Voyager nos próximos anos (ela vai continuar operando pelo menos até 2020), mas sinto uma nostalgia incontida ao pensar no que ela representou e representa, até hoje, na minha vida.

É como os dizeres que fecham “Jornada nas Estrelas: O Filme”, que a propósito tem uma sonda Voyager como protagonista: a aventura humana está apenas começando. Dá arrepios pensar nisso e imaginar qual será a Voyager do meu filho, dos filhos dele e dos filhos dos filhos dele.

E não importa o que acontecerá à humanidade nos próximos dez milhões de anos. As Voyagers estarão viajando pela Via Láctea, como um monumento perene à civilização que as projetou. A humanidade está, desde já, eternizada nas estrelas.

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