Mensageiro Sideral https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br De onde viemos, onde estamos e para onde vamos Sat, 04 Dec 2021 19:09:39 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Hayabusa2 realiza pouso para coleta de amostras no asteroide Ryugu https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/02/21/hayabusa2-realiza-pouso-para-coleta-de-amostras-no-asteroide-ryugu/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/02/21/hayabusa2-realiza-pouso-para-coleta-de-amostras-no-asteroide-ryugu/#respond Thu, 21 Feb 2019 23:12:33 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/fig1-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8655 A sonda Hayabusa2 realizou nesta quinta-feira (21), aparentemente com sucesso, o pouso e a coleta de uma amostra do asteroide Ryugu, em mais um marco para esta impressionante missão japonesa.

O sinal do pouso chegou ao controle da missão às 19h48 (de Brasília). Toda a manobra foi realizada automaticamente, dada a distância entre o Ryugu e a Terra, que neste momento equivale a cerca de 340 milhões de km. Um sinal de rádio percorrendo essa distância toda leva 19 minutos em trânsito, viajando à velocidade da luz, o que impediria intervenções humanas durante a delicada descida.

Aos cientistas e engenheiros da Jaxa, agência espacial japonesa, restou acompanhar o sinal de rádio de baixa potência vindo da sonda e, com base apenas na variação do comprimento de onda causada pelas alterações de velocidade do veículo (o chamado efeito Doppler), identificar as etapas do pouso.

Na manobra desta quinta-feira, a sonda tinha como desafio atingir um “alvo” na cratera Urashima com apenas 6 metros de diâmetro. Para guiá-la na aproximação final, uma cápsula marcadora de alvo foi lançada previamente ao solo. E, a fim de proteger ainda mais a espaçonave, o contato com o solo foi planejado para acontecer a uma inclinação de cerca de 5 a 10 graus, para minimizar chance de colisão com rochedos próximos.

Após a coleta, a espaçonave acelerou para longe e, ao atingir uma distância segura, apontou sua antena principal para a Terra, a fim de transmitir todas as imagens e dados colhidos. A telemetria confirmou que tudo transcorreu como mandava o figurino.

A Hayabusa2 tem uma forma peculiar — talvez passional, diriam alguns — de colher amostras. Ela literalmente dá um beijo, e em seguida um tiro, no Ryugu. Após uma descida em marcha lenta, a 10 cm/s, ela toca um cone de coleta no solo por uma fração de segundo e então um projétil de tântalo é disparado, fazendo com que detritos do asteroide subam pelo cone e sejam armazenados numa cápsula, enquanto a própria sonda torna a subir, a 45 cm/s, para evitar quaisquer danos.

A despeito da descrição abrutalhada, trata-se de procedimento delicado, em que qualquer erro pode colocar tudo a perder.

Lançada em 2014, a Hayabusa2 chegou ao Ryugu — um pedregulho de pouco menos de 1 km de diâmetro residente entre as órbitas da Terra e de Marte — em julho do ano passado. Desde então, fez um mapeamento completo do objeto e chegou a lançar minirrovers à sua superfície, em setembro. O ponto mais crucial, contudo, era o de agora: o pouso da própria espaçonave e a subsequente coleta de amostras.

De início, os planejadores da missão cogitaram realizar até três dessas manobras de coleta, mas o asteroide se revelou mais inóspito do que o esperado, com muitos rochedos em sua superfície que dificultariam um pouso seguro. Daí que ainda não há definição se eles arriscarão outras tentativas até dezembro, quando a Hayabusa2 impreterivelmente deve partir do asteroide para pegar o caminho de casa com as preciosas amostras. Se tudo isso der certo, a cápsula da espaçonave deve reentrar a atmosfera terrestre e ser recuperada pela Jaxa no fim de 2020.

 

Concepção artística da Hayabusa2 em voo ao redor do asteroide Ryugu. (Crédito: Jaxa)

SOBRE A MISSÃO
A Hayabusa2 é a segunda missão de retorno de amostras de asteroides do Japão. Sua predecessora, a Hayabusa, voou entre 2003 e 2010 e trouxe de volta à Terra farelinhos do asteroide Itokawa. Ao chegar ao Ryugu, a Hayabusa2 se tornou a primeira sonda a visitar um asteroide do tipo C (carbonáceo).

Esses astros costumam ser mais escuros e acredita-se que sua composição seja primitiva, mais parecida com o conteúdo original da nebulosa que teria formado o Sol. Eles nos remetem à época em que os planetas estavam se formando.

Estudar o Ryugu é, portanto, um trabalho de arqueologia cósmica — a busca por vestígios do ambiente que levou ao surgimento do Sistema Solar, há 4,6 bilhões de anos.

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O que vem aí em 2019 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/12/31/o-que-vem-ai-em-2019/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/12/31/o-que-vem-ai-em-2019/#respond Mon, 31 Dec 2018 04:00:36 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/04/NewHorizonsKBOencounter-180x101.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8498 Aperte os cintos, porque o ano espacial vai começar agitadíssimo! Confira a seguir os eventos mais esperados no Sistema Solar em 2019.

NOVOS HORIZONTES
A emoção começa literalmente nas primeiras horas do dia 1º, quando a sonda New Horizons (aquela mesma que visitou Plutão em 2015) bate seu próprio recorde e realiza o sobrevoo mais distante da história da exploração espacial, ao passar a 3.500 km do objeto 2014 MU69, também conhecido como Ultima Thule — um pedregulho de gelo que sobrou da formação do Sistema Solar há 4,5 bilhões de anos, localizado a mais de 6,6 bilhões de km da Terra. Os primeiros dados pós-encontro chegam por volta das 13h desta terça, e as primeiras análises científicas só no dia seguinte.

O jipe robótico chinês Yutu roda pela Lua; a Chang’e-4 levará um igual, para o lado afastado lunar. (Crédito: CNSA)

ATRÁS DA LUA
Nem bem terminamos com a New Horizons, no dia 3 de janeiro ou arredores deve acontecer o pouso da sonda não tripulada chinesa Chang’e-4 na Lua. Será a segunda alunissagem chinesa, mas igual a esta você nunca viu. Pela primeira vez, uma espaçonave vai pousar no lado afastado da Lua, aquele que não dá para ver daqui. Será também a primeira vez que a China faz algo no espaço que ninguém nunca fez antes — mais uma prova de que eles estão levando a sério esse negócio de exploração espacial. E esta será apenas a primeira de muitas missões lunares esperadas para 2019: indianos e israelenses farão uma tentativa, e é bem possível que os chineses voltem à carga com a Chang’e-5 até o fim do ano.

Astronautas Bob Behnken e Doug Hurley serão os primeiros a voar numa cápsula tripulada da SpaceX, em 2019. (Crédito: Nasa)

EMPRESAS NO ESPAÇO
No começo do ano, possivelmente em janeiro, a empresa SpaceX deve fazer o primeiro voo-teste, ainda sem tripulação, de sua cápsula Dragon para astronautas. A rival Boeing deve lançar a sua, Starliner, em março, e a expectativa de ambas é, antes que este ano acabe, voar com astronautas da Nasa a bordo, encerrando a dependência americana das naves russas Soyuz, iniciada com a aposentadoria dos ônibus espaciais, em 2011.

Imagem mostra o terreno acidentado na superfície de asteroide Ryugu. Repare na sombra da Hayabusa2. (Crédito: Jaxa)

EXPLORADORAS DE ASTEROIDES
As missões Hayabusa2 (do Japão) e Osiris-Rex (dos EUA) estão a todo vapor. Dessas, a que trará mais ação em 2019 é a japonesa, que deve pousar e colher amostras do asteroide Ryugu ao longo do ano que vem, iniciando a jornada de volta à Terra em novembro ou dezembro. A Osiris-Rex, por sua vez, só colherá suas amostras do asteroide Bennu em 2020.

Sequência de imagens mostra um trânsito de Mercúrio por sobre o disco solar (Crédito: Nasa)

TRÂNSITO DE MERCÚRIO
Em 11 de novembro, uma ocorrência relativamente rara irá ocorrer: o pequenino planeta Mercúrio cruzará à frente do disco solar. É algo que só se pode ver com equipamentos apropriados, mas a América do Sul está no lugar certo na hora certa para ver o fenômeno. Vai valer a pena.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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Vem passear no asteroide Ryugu! https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/09/27/vem-passear-no-asteroide-ryugu/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/09/27/vem-passear-no-asteroide-ryugu/#respond Thu, 27 Sep 2018 19:58:55 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/09/27-09-minervaii1b-antesdosalto-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8165 Os entusiastas do voo espacial andam apreensivos com a morosidade da Jaxa, a agência espacial japonesa, em divulgar mais imagens feitas pelos minirrovers Minerva II1A e B, que foram lançados pela sonda Hayabusa2 à superfície do asteroide Ryugu.

“Não vos afobeis!”, como costuma dizer a minha avó. Nesta quinta-feira (27), tiramos a barriga da miséria, conforme os japoneses divulgaram mais algumas imagens e até mesmo um pequeno vídeo feito na superfície pelo minirrover B. Confira aí.

Sequência confirma o salto do minirrover II1B. (Crédito: Jaxa)
Minirrover II1B registra seu local de pouso no Ryugu. (Crédito: Jaxa)
Imagem do minirrover II1A revela detalhes da superfície do Ryugu. (Crédito: Jaxa)
O minirrover II1A registra sua própria sombra (note uma das antenas) na superfície do Ryugu. (Crédito: Jaxa)

São imagens muito interessantes, e o vídeo, feito pelo minirrover B já em seu local final de repouso, é incrível. São alguns frames, colhidos ao longo de 1h 14min, que mostram o movimento do Sol conforme o asteroide gira ao redor de seu próprio eixo. Veja.

Sequência de imagens captadas pelo minirrover II1B entre 22h34 e 23h48 (de Brasília) do dia 22 de setembro de 2018. (Crédito: Jaxa)

De novo, essas são apenas algumas amostras adicionais, de várias outras imagens que os minirrovers devem ter captado. Elas decerto serão não só interessantes, como úteis, na hora de comparar o que se vê do chão com o que se vê da órbita do Ryugu, pela sonda Hayabusa2. Por falar nela, durante a descida para o lançamento dos pequenos módulos de 18 cm de diâmetro, ela também fez imagens de alta resolução da superfície, como esta.

Imagem da superfície do Ryugu obtida pela Hayabusa2 a 64 metros do chão. (Crédito: Jaxa)

Sobre os minirrovers Minerva II1A e B, não custa lembrar que o principal objetivo já foi atingido só de eles terem *alguma* imagem. Eles estão basicamente testando uma tecnologia nova, agora demonstrada útil na exploração da superfície de corpos com baixíssima gravidade, como é o caso dos asteroides. Seria muito complicado operar um jipe com rodas nessa superfície, mas uma sonda que vai quicando, usando cada salto como forma de locomoção, é uma ideia simples e — sabemos agora — funciona!

Concepção artística dos minirrovers Minerva II1A e B na superfície do asteroide Ryugu. (Crédito: Jaxa)

Isso permitirá que futuras missões tenham dispositivos mais sofisticados baseados na mesma estratégia. Duas lembranças são importantes aí:

  • Quem persiste sempre alcança; a Hayabusa original também levava um Minerva, mas ele não funcionou… simplesmente “errou” a superfície ao se desprender da nave-mãe. (Mostra como não se pode contar muito com a gravidade para trazer coisas ao chão nesse tipo de corpo celeste.)
  • A festa ainda não acabou, porque a Hayabusa2 ainda tem outros dois “minimódulos de pouso” para testar, o japonês Minerva II2 e o europeu Mascot. Além disso, a própria nave-mãe ainda deve fazer um pouso no asteroide Ryugu para colher amostras e trazê-las de volta à Terra.

SOBRE A MISSÃO
A Hayabusa2 é a segunda missão de retorno de amostras de asteroides do Japão. Sua predecessora, a Hayabusa, voou entre 2003 e 2010 e trouxe de volta à Terra farelinhos do asteroide Itokawa. A Hayabusa2 foi lançada em 2014, na direção do asteroide Ryugu, com 900 metros de diâmetro, o primeiro asteroide de tipo C (carbonáceo) a ser visitado por uma sonda.

Asteroides carbonáceos costumam ser mais escuros e acredita-se que sua composição seja primitiva, mais parecida com o conteúdo original da nebulosa que teria formado o Sol. Eles nos remetem à época em que os planetas estavam se formando.

Estudar o Ryugu é, portanto, um trabalho de arqueologia cósmica — a busca por vestígios do ambiente que levou ao surgimento do Sistema Solar, há 4,6 bilhões de anos.

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Minirrovers mandam imagens da superfície do asteroide Ryugu https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/09/22/minirrovers-mandam-imagens-da-superficie-do-asteroide-ryugu/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/09/22/minirrovers-mandam-imagens-da-superficie-do-asteroide-ryugu/#respond Sun, 23 Sep 2018 01:44:14 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/09/4963C4BB-EE9D-4DBB-92ED-C5FC4C8C5AC8-320x213.jpeg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8152 A Jaxa (agência espacial japonesa) divulgou as primeiras imagens dos minirrovers Minerva II1, que realizaram um pouso bem-sucedido no asteroide Ryugu após serem lançados por sua nave-mãe, a Hayabusa2, na sexta-feira (21). E elas são, como se poderia esperar, de tirar o fôlego!

Os pequenos dispositivos lembram discos com 18 centímetros de diâmetro e se locomovem dando saltos na superfície, deslocando-se em média 15 metros a cada salto. Segundo os dados de telemetria, os dois chegaram à superfície e seguem transmitindo dados, e até o sábado (22) pelo menos um deles ainda estava em movimento.

A imagem acima mostra um desses saltos, em que uma imagem dinâmica revela a superfície do asteroide e o brilho intenso da luz solar. A Jaxa divulgou outras duas fotos, ambas feitas logo depois que os minirrovers foram liberados pela Hayabusa2. Numa delas pode se ver a própria nave-mãe, com sua dupla de painéis solares (ainda que num borrão), e na outra — a mais nítida — temos detalhes da superfície do Ryugu.

Imagem do minirrover Minerva II1A logo após a liberação revela a sonda Hayabusa2 e a superfície do asteroide Ryugu. (Crédito: Jaxa)
Minirrover Minerva II1B mostra a superfície do asteroide Ryugu antes do pouso. (Crédito: Jaxa)

Esses são naturalmente aperitivos. Os pesquisadores esperam mais e melhores imagens do solo do Ryugu dos dois minirrovers, que se tornaram os primeiros dispositivos móveis da história a explorar a superfície de um asteroide. Com mais imagens, será possível colocar em contexto as observações remotas feitas pela Hayabusa2, que ainda tem muita emoção adiante — mais dois pequenos módulos de pouso, o Minerva II2, do Japão, e o Mascot, da Europa, devem ser lançados à superfície nos próximos meses. E, até o fim de outubro, a própria Hayabusa2 deve fazer uma tentativa de pouso e coleta de amostras do Ryugu, para depois trazê-las de volta à Terra. Jamais se fez uma exploração tão detalhada de um asteroide antes, e a barra estará lá em cima para a missão OSIRIS-REx, da Nasa, que deve chegar em dezembro deste ano ao asteroide Bennu.

Parabéns aos japoneses por esta extraordinária realização!

SOBRE A MISSÃO
A Hayabusa2 é a segunda missão de retorno de amostras de asteroides do Japão. Sua predecessora, a Hayabusa, voou entre 2003 e 2010 e trouxe de volta à Terra farelinhos do asteroide Itokawa. A Hayabusa2 foi lançada em 2014, na direção do asteroide Ryugu, com 900 metros de diâmetro, o primeiro asteroide de tipo C (carbonáceo) a ser visitado por uma sonda.

Asteroides carbonáceos costumam ser mais escuros e acredita-se que sua composição seja primitiva, mais parecida com o conteúdo original da nebulosa que teria formado o Sol. Eles nos remetem à época em que os planetas estavam se formando.

Estudar o Ryugu é, portanto, um trabalho de arqueologia cósmica — a busca por vestígios do ambiente que levou ao surgimento do Sistema Solar, há 4,6 bilhões de anos.

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Astrônomos detectam asteroide em rota de colisão e acompanham sua queda https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/06/03/astronomos-detectam-asteroide-em-rota-de-colisao-e-acompanham-sua-queda/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/06/03/astronomos-detectam-asteroide-em-rota-de-colisao-e-acompanham-sua-queda/#respond Sun, 03 Jun 2018 16:35:21 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/asteroide-queda-320x213.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7757 Já está ficando velha a notícia “astrônomos encontram asteroide que vai passar de raspão pela Terra”. Muito menos comum é a notícia “asteroide vai bater na Terra”. Mas aconteceu neste fim de semana.

Tudo começou na virada de sexta-feira para sábado (2), quando o Catalina Sky Survey, projeto de monitoramento de asteroides localizado no Arizona (EUA), descobriu um novo objeto próximo à Terra, catalogado com o nome 2018 LA. Era pequeno, com estimados 3 a 4 metros, mas com uma trajetória que o colocava em provável curso de colisão com a Terra.

Uma vez soado o alerta entre os astrônomos, a comunidade começou a trabalhar em suas projeções, que davam uma chance de 80% de entrada na atmosfera terrestre. A trajetória o colocava a caminho da Oceania, fazendo uma travessia por sobre a África. Previsão de impacto: 12h12 de sábado, com margem de erro de alguns minutos.

Foi por volta deste horário que o Mensageiro Sideral ficou sabendo do caso, alertado pelo astrônomo Cristóvão Jacques, que lidera o principal projeto descobridor de asteroides no Brasil, no observatório SONEAR, em Oliveira, interior de Minas Gerais. Mas como confirmar que os 80% se converteram em 100%? “Vamos aguardar as próximas horas para ver se ele sobreviveu à aproximação com a Terra ou realmente caiu”, disse Jacques. “Se caiu, aquele sistema que detecta explosões na atmosfera deve apontar.”

As notícias seguintes viriam da África, na noite de sábado. Pessoas em Botswana e na África do Sul viram uma “fireball” (bola de fogo) muito brilhante cruzando o céu. Os registros feitos permitiram determinar a posição e a trajetória do bólido celeste.

Ao colocá-lo no mapa numa primeira aproximação, o astrônomo Bill Gray percebeu que ele coincidia com a trajetória prevista do 2018 LA e também batia no tempo com a previsão de entrada na atmosfera, dentro da margem de erro de 5 minutos. Mas novos dados de observação do asteroide ainda no espaço continuavam a ser compartilhados comunitariamente, ajudando a refinar a trajetória prevista. Nas últimas horas, pintaram dois novos pontos no gráfico, fornecidos pelo observatório Atlas, no Havaí, ajudaram a reduzir a imprecisão sobre a área estimada de impacto de 13 mil km (note que era maior que o diâmetro da Terra, então talvez ele pudesse não ter batido) para apenas 1,5 mil km. Se os dados estavam todos certos, o asteroide deve ter entrado em nossa atmosfera, numa região entre Botswana e Namíbia.

Por fim, uma estação responsável por monitorar explosões na atmosfera instalada na África do Sul identificou, por infrasom, uma explosão com energia entre 3 e 5 quilotoneladas de TNT (entre um terço e um quarto do potencial explosivo da bomba de Hiroshima). O nível era compatível com a entrada explosiva de um asteroide com cerca de 2 metros de diâmetro.

Ou seja, tudo leva a crer que a bola de fogo vista na África corresponda ao incauto 2018 LA, que queimou na atmosfera. “Com estas evidências não temos dúvidas de que o asteroide chegou a entrar na atmosfera da Terra. Agora é aguardar por mais relatos para determinar com mais precisão o local da queda”, diz Jacques.

É a terceira vez que astrônomos detectam um asteroide em rota de colisão e acompanham o desfecho da história, até o impacto. As duas anteriores, por sinal, também começaram com uma detecção do Catalina Sky Survey. Em 2008, foi um asteroide de cerca de 4 metros, que entrou na atmosfera em 7 de outubro daquele ano. Explodiu sobre o deserto da Núbia, no Sudão, e resultou na coleta de cerca de 600 meteoritos, com massa total de 10,5 quilos. Uma fração mínima das cerca de 80 toneladas que compunham o objeto original. Já o segundo caso aconteceu em 2014, mas o asteroide 2014 AA caiu no mar, sem chance de recuperação de meteoritos.

Será que desta vez os cientistas encontrarão fragmentos do asteroide para terminar de contar a história? Só o futuro dirá.

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Um objeto interestelar veio morar no Sistema Solar, diz estudo https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/05/21/um-asteroide-interestelar-veio-morar-no-sistema-solar-diz-estudo/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/05/21/um-asteroide-interestelar-veio-morar-no-sistema-solar-diz-estudo/#respond Mon, 21 May 2018 12:00:51 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/04/bz509-180x101.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7727 Um objeto gerado em outro sistema planetário veio morar nos arredores de Júpiter há 4,5 bilhões de anos e desde então é um residente permanente do Sistema Solar. Quem conta essa fascinante história de imigração interestelar é Helena Morais, astrônoma portuguesa que trabalha na Unesp (Universidade Estadual Paulista) em Rio Claro, no interior de São Paulo. E a descoberta tem implicações importantes para estudos que vão desde formação planetária até origem da vida.

O trabalho, feito em parceria com Fathi Namouni, do
Observatoire de la Côte d’Azur, na França, foi aceito para publicação nos Monthly Notices of the Royal Astronomical Society e diz respeito ao misterioso asteroide 2015 BZ509.

Trata-se de um objeto que já chamou atenção no ano passado, quando um grupo de pesquisadores revelou que ele estava numa órbita na região de Júpiter, mas girando em sentido contrário ao do planeta. A trajetória retrógrada fazia com que ele passasse pelo gigante gasoso duas vezes a cada volta em torno do Sol, sem no entanto jamais se aproximar demais do sistema joviano para que sua órbita fosse desestabilizada.

O achado de imediato chamou a atenção de Morais e Namouni, por uma razão muito simples: eles foram os primeiros a prever que uma órbita assim seria possível. Desde então, os dois seguiram a investigação numa tentativa de descobrir como o BZ509 foi parar lá.

O primeiro passo foi determinar quão estável é a órbita dele. Para isso, a dupla lançou mão de simulações de computador com 1 milhão de “clones” do asteroide, cada um deles com parâmetros orbitais ligeiramente diferentes (para levar em conta as incertezas na determinação da situação real do BZ509, descoberto apenas há três anos). E aí deixaram a coisa rolar por 4,5 bilhões de anos — simulados, é claro.

O exercício demonstrou que o BZ509 está lá há muito, muito tempo. Provavelmente, desde que o Sistema Solar se estabilizou e seus planetas se fixaram em suas posições atuais. E aí o problema se torna outro: não teria como o processo de formação do nosso sistema planetário, então recém-terminado, produzir um objeto que essencialmente orbita na contramão dos planetas.

“Uma órbita retrógrada nos primórdios do Sistema Solar só pode ter sido capturada do exterior porque a nuvem de Oort formada devido à ejeção de pequenos corpos durante a fase de crescimento dos planetas gigantes, que depois foi tomando uma forma esférica devido ao efeito gravitacional da galáxia, não existia ainda”, explica Morais. “A própria nuvem de Oort pode ter uma componente primordial de objetos extrassolares capturados de outros sistemas quando o Sol estava ainda no seu berçário estelar.”

Com efeito, sabemos que estrelas nascem em ninhadas, e o Sol devia ter muitas vizinhas próximas, cada uma com seu kit completo de planetas e asteroides. Que alguns deles se desgarrassem de seus sistemas de origem e fossem capturados pela gravidade solar parece apenas natural. E provavelmente foi isso que aconteceu ao BZ509.

IMPLICAÇÕES VASTAS

De um ilustre desconhecido, o BZ509 passa a ser um alvo preferencial para futuras espaçonaves. Afinal, que chance melhor para estudar um objeto de outro sistema planetário do que quando ele está numa órbita estável (ainda que retrógrada, o que complica bem) ao redor do seu sol? Em tese, ele poderia ter uma composição bem diferente dos asteroides “Made in Solar System”.

Mas as consequências vão bem além disso. O fato de que o BZ509 está por aí indica que deve haver outros como ele zanzando ainda hoje pelo Sistema Solar. E, claro, nos faz pensar em todos os que passaram por aqui e não viveram para contar a história.

Decerto muitos fizeram como o célebre ‘Oumuamua, um objeto interestelar que nos visitou no ano passado e já foi catapultado pelo Sol de volta para o vazio entre as estrelas. Tantos outros foram capturados em órbitas instáveis, que os levaram a colidir com algum dos planetas ou mesmo mergulhar no Sol. Fato é que houve troca significativa de material entre o nascente Sistema Solar e seus vizinhos — talvez o suficiente para nos fazer repensar o processo de formação planetária.

E isso para não falar sobre a origem da vida. Uma das hipóteses levantadas para explicar como organismos vivos surgiram na Terra assim que as condições se mostraram favoráveis, mais de 4 bilhões de anos atrás, é a chamada panspermia — a noção de que a vida teria vindo de fora e meramente colonizado nosso planeta.

Até então, todas as tentativas de encontrar um mecanismo plausível para essa transferência por distâncias interestelares haviam fracassado. Falava-se em células propagadas em pequenos grãos de poeira, mas ali elas teriam pouquíssima proteção contra o ambiente hostil do vácuo do espaço. Uma alternativa é que elas viajassem no interior de rochas maiores, onde teriam maior sobrevida, mas a transferência por esse método parecia incrivelmente ineficaz. Ênfase em parecia. Já não parece tanto assim, ainda mais depois das descobertas do ‘Oumuamua e do BZ509. Não é mais impensável imaginar que, como gosta de dizer o astrônomo Roberto Costa, da USP, talvez a vida seja uma praga de proporções galácticas, contaminando sistema planetário após sistema planetário.

Seja como for, uma propriedade mais que evidente do Universo a essa altura é a de que, quanto mais nós o estudamos, mais interessante ele fica.

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Astronomia: ‘Oumuamua, o vagabundo interestelar https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/11/13/astronomia-oumuamua-o-vagabundo-interestelar/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/11/13/astronomia-oumuamua-o-vagabundo-interestelar/#comments Mon, 13 Nov 2017 04:00:36 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/11/scr00000-180x94.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7074 O que já aprendemos sobre o objeto 1I/’Oumuamua, o primeiro vagabundo interestelar.

DAS ESTRELAS
A descoberta do primeiro objeto interestelar a visitar o nosso Sistema Solar deixou os astrônomos em polvorosa. A União Astronômica Internacional teve de criar uma nova categoria em seus catálogos e pesquisadores estão freneticamente publicando novos resultados do rápido encontro com esse intrigante viajante cósmico.

DE SAÍDA
Ele foi descoberto em 19 de outubro, pelo telescópio Pan-Starrs, quando já estava de saída do Sistema Solar. Sua trajetória e velocidade indicavam que ele havia vindo de algum lugar na constelação de Lira e agora rumava para a constelação de Hércules.

COMETA OU ASTEROIDE
Na descoberta, ele foi catalogado com o nome provisório C/2017 U1. “C” de cometa, pois observações iniciais pareciam sugerir que se tratava de um. Imagens posteriores, contudo, mostraram que ele parecia mais um asteroide, o que levou a uma novo nome provisório, A/2017 U1.

FAZENDO TIPO
Em seguida, os astrônomos notaram que um objeto desses, numa rápida passagem por aqui, jamais teria número suficiente de observações para ganhar nome definitivo, pelos critérios estabelecidos. Decidiu-se então criar uma nova categoria: “I”, de interestelar. E seu primeiro membro é o 1I/’Oumuamua. Na língua nativa do Havaí, significa algo como “o primeiro a ir além”.

VERMELHO E ALONGADO
Bem, e o que conseguimos aprender sobre ele até agora? Não muito. No Observatório de Palomar, foi possível determinar que sua cor é avermelhada. Outro grupo, fazendo observações com o Telescópio Discovery Channel, sugere que seu período de rotação tem pelo menos 5 horas e que sua forma deve ser bastante alongada.

TEM MAIS
O mais interessante, entretanto, é o que essa descoberta prenuncia: a noção de que objetos interestelares devem ser bem comuns. Com os atuais instrumentos de detecção, podemos encontrar um desses vagabundos interestelares a cada cinco anos, e, a partir de 2022, com a chegada do LSST, um novo telescópio de varredura, a tendência é o ritmo de descobertas do tipo aumentar para uma por ano.

BÔNUS: Uma cidade marciana em Dubai
Caso você não tenha visto, o Mensageiro Sideral publicou nesta Folha, no domingo, uma reportagem sobre o projeto de US$ 140 milhões dos Emirados Árabes Unidos para construir um protótipo de cidade marciana no deserto de Dubai. Leia clicando aqui.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

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Objeto duplo no cinturão de asteroides é dublê de cometa, sugere Hubble https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/09/21/objeto-duplo-no-cinturao-de-asteroides-e-duble-de-cometa-sugere-hubble/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/09/21/objeto-duplo-no-cinturao-de-asteroides-e-duble-de-cometa-sugere-hubble/#comments Thu, 21 Sep 2017 05:49:27 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/09/IMG_0396-96x180.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6892 No começo acharam que era apenas mais um asteroide no cinturão entre Marte e Júpiter. Uma olhada mais atenta em 2011 revelou que o objeto parecia uma manchinha difusa, um sinal de que talvez se tratasse de um cometa. Mas nada havia preparado os cientistas para a descoberta que eles fariam em setembro de 2016, conforme o tal 288P se colocasse na posição mais favorável para observação. Eis que o poderoso Telescópio Espacial Hubble revelou que o objeto era na verdade… algo que não sabemos que nome dar. Talvez o melhor que possamos fazer no momento é chamá-lo de “asteroide-binário-que-se-comporta-como-cometa”.

De cara, a descoberta feita por um grupo alemão de astrônomos confirmou algo há muito suspeitado: a natureza não está nem aí para os rótulos que damos aos astros. Pode estar muito clara na cabeça dos cientistas a diferença básica entre um asteroide — que é preponderantemente feito de rocha e se formou nas regiões mais internas do Sistema Solar — e um cometa — que tem alto teor de gelos e origem na zona mais remota do sistema planetário. Mas isso não quer dizer que a natureza não possa embaralhar as cartas de vez em quando, como fez com o 288P.

As imagens do Hubble revelaram que ele é composto por dois bólidos com massa mais ou menos igual, girando ao redor de um centro de gravidade comum, a cerca de 100 km um do outro.

Asteroides duplos são relativamente comuns, então a novidade não é essa. O estranho desse objeto é a combinação de tamanho similar entre os dois componentes, separação relativamente grande entre eles, órbita bastante achatada e a atividade cometária que ele apresenta.

Essa combinação estranha de elementos de asteroide e cometa justificou a publicação da descoberta na revista “Nature”, em artigo que tem como primeira autora Jessica Agarwal, do Instituto Max Planck, na Alemanha.

O trabalho de detetive dos astrônomos, que acompanham o 288P desde 2011 (data de seu último periélio), revelou que ele faz parte de uma família de objetos no cinturão que resultou da fragmentação de um objeto maior, com cerca de 10 km de diâmetro, aproximadamente 7,5 milhões de anos atrás. E deve ter começado como um único objeto.

A quebra do astro parental pode deixado em seus “filhotes” partes de gelo que o compunham expostas ao Sol. Ao sublimarem, esses compostos voláteis podem levar à aceleração da rotação do objeto a ponto de dividi-lo em dois. É isso que provavelmente aconteceu ao 288P, uns 5.000 anos atrás, dando a ele sua configuração atual, binária.

O objeto, além de estranho, é de grande interesse dos cientistas, pois, com todas as suas características híbridas, ele pode ajudar bastante a entender a formação do cinturão de asteroides e o papel que cometas teriam nele. É o tipo de coisa que, por sua vez, pode ajudar a elucidar de onde veio a água da Terra. Mas, acima de tudo, é mais uma daquelas demonstrações contundentes da incrível variedade de astros que temos lá fora, a despeito de nossas classificações padronizadas.

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E se fosse descoberto um asteroide em rota de colisão com a Terra? Astrônomo conta o que rola https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/08/10/e-se-fosse-descoberto-um-asteroide-em-rota-de-colisao-com-a-terra-astronomo-conta-o-que-rola/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/08/10/e-se-fosse-descoberto-um-asteroide-em-rota-de-colisao-com-a-terra-astronomo-conta-o-que-rola/#comments Thu, 10 Aug 2017 10:50:00 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2014/09/asteroid-earth-150x150.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6717 O que aconteceria se um asteroide fosse descoberto em rota de colisão com a Terra? Cristóvão Jacques, astrônomo que lidera o Observatório SONEAR, em Oliveira (MG), maior centro descobridor de asteroides perigosos no hemisfério Sul, já esteve nessa situação duas vezes e pode contar como a coisa se desenrola — e como é difícil prosperar uma conspiração para esconder um eventual impacto da população.

O trabalho de descobrir asteroides consiste basicamente em tirar várias imagens sequenciais da mesma região do céu, em busca de objetos que estejam se movendo de uma foto para outra. Objetos que se movimentem nesse curto espaço de tempo “entregam” que estão em órbita ao redor do Sol, e o passo seguinte é reobservá-los, em cooperação com cientistas do mundo todo, para refinar a órbita e determinar os riscos que ele oferece.

“O processo é o seguinte: a gente descobre o asteroide, verifica se ele já não é conhecido, e, caso não exista na base de dados, a gente envia para o Minor Planet Center [órgão da União Astronômica Internacional], que é o centro que coleta essas informações”, conta Jacques ao Mensageiro Sideral. “O Minor Planet Center recebe essa informação e disponibiliza esse objeto numa página, e aí os cientistas e observatórios do mundo inteiro vão tentar seguir aquele asteroide para melhorar a [estimativa da] órbita dele.”

Mas e se, numa avaliação preliminar, o asteroide recém-descoberto parece mesmo estar em rota de colisão conosco?

“Ano passado, mais ou menos em abril, nós descobrimos um objeto e aí eu vi como funciona o esquema”, diz o astrônomo. “Ele disparou um alarme, pessoal da Nasa, pessoal da Itália, não sei o quê, e aí começaram a pipocar perguntas para mim. ‘E aí, você conseguiu [fazer mais imagens dele]?’ Porque a gente observa o asteroide e logo depois, uma hora depois, duas horas depois de a gente descobri-lo, a gente tenta fazer mais uma imagem dele para ter uma órbita melhor.”

“Mas nesse tempo, entre a descoberta e o tempo em que eu consegui fazer o segundo lote de imagens, começaram a pipocar as observações, e o pessoal mandando os e-mails, eu via eles dando aquele ‘forward’ na mensagem, e eu vi ali, ‘alerta, não sei o quê, asteroide com tanto percentual de probabilidade de chocar com a Terra, não sei quê, tarará’. E aí, no momento que nós fizemos a segunda observação, que eu enviei, vi que não era um asteroide — era um satélite artificial ou lixo espacial que estava perdido, que não estava catalogado. Então, a partir da segunda observação, excluímos toda a questão de possibilidade de bater na Terra. Então, esse foi o primeiro caso.”

Jacques teve outro “quase” desses poucos meses depois. E aí foi mesmo um asteroide, e não um satélite artificial desgarrado. “Descobrimos em agosto do ano passado, no final da madrugada, lá para as 4h da madrugada. E às 5h da manhã, eu estava acordado, fiz uma segunda imagem desse asteroide e eu vi que ele ia passar a 80 mil km da Terra mais ou menos 20 horas depois. Ele é do tamanho do Tunguska, para você ter uma ideia. Ou seja, se batesse na Terra, poderia causar…”

O evento Tunguska ocorreu na Rússia em 1908, em que um bólido celeste de cerca de 30 metros explodiu ao entrar na atmosfera da Terra, com uma energia cerca de mil vezes a da bomba atômica de Hiroshima. Devastou uma área de aproximadamente 2.000 km2 na Sibéria. Felizmente era uma região desabitada.

Em 2013, tivemos o evento Chelyabinsk, também na Rússia, em que um asteroide de aproximadamente 17 metros quase reeditou o episódio Tunguska. A onda de choque danificou prédios na cidade de Chelyabinsk e feriu milhares de pessoas, mas ninguém morreu.

Esse objeto foi descoberto de manhãzinha, e no final da noite ele já ia passar a 86 mil km da Terra. Então, com a segunda observação, já tem uma ideia razoável de onde ele vai passar.

Com isso, pode-se imaginar a apreensão de Jacques quando sua primeira observação indicava uma passagem muito próxima da Terra — 80 mil km é cerca de um quinto da distância até a Lua. Mas sua segunda observação, feita naquele mesmo dia, refinou a órbita e afastou o risco de impacto.

As histórias revelam como funciona o sistema de detecção de asteroides — é um esforço colaborativo, pois nem sempre os mesmos astrônomos estão no momento exato na posição ideal na Terra para acompanhar o objeto. Com isso, é extremamente improvável que alguém possa descobrir um asteroide em potencial rota de colisão e não contar nada. E se, por acaso, um grupo tentar esconder uma descoberta, ela acabará sendo “redescoberta” por outro grupo em questão de dias. “Eu vou dizer que é muito, muito difícil ter uma conspiração de as pessoas não saberem”, diz Jacques.

Confira a seguir toda a conversa com o astrônomo do SONEAR, que está promovendo uma vaquinha para arrecadar recursos para manter o observatório em operação até o fim de 2018.

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Astronomia: Anéis de Cáriclo no computador https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/05/08/astronomia-aneis-de-cariclo-no-computador/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/05/08/astronomia-aneis-de-cariclo-no-computador/#comments Mon, 08 May 2017 05:00:24 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/05/aneis-cariclo-180x113.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6353 Supercomputador japonês ajuda a estudar anéis descobertos por brasileiros em asteroide.

ANÉIS PARA TODO LADO
Eles estão certamente entre as mais intrigantes formações observadas em nosso Sistema Solar. Saturno imediatamente vem à mente, com seu vistoso conjunto de anéis. Mas eles são mais comuns do que se imagina. Todos os planetas gigantes têm os seus, e até mesmo asteroides podem ter anéis.

DO OIAPOQUE AO CHUÍ
A descoberta foi feita por um grupo de astrônomos liderado pelo brasileiro Felipe Braga-Ribas. Em 2014, eles descobriram que o pequeno Cáriclo, um objeto com cerca de 250 km de diâmetro que transita entre as órbitas de Saturno e Urano, tem dois anéis, batizados informalmente de Oiapoque e Chuí.

MAIS DE UM
Normalmente, quando um astro com uma dada característica é encontrado, isso é sinal de que muitos outros similares devem existir. Com efeito, em 2015, um grupo do MIT, nos Estados Unidos, mostrou que Quíron, outro objeto entre Saturno e Urano, pode ter também dois anéis.

CENTAUROS
Cáriclo, Quíron e outros objetos como eles, que transitam na faixa dos planetas gigantes, vivem uma crise de identidade. Têm características mistas de asteroides e cometas. Não por acaso, são chamados de centauros, as criaturas mitológicas parte humanas, parte equinas.

A NOVIDADE
Ainda há muitas perguntas sobre como anéis podem se formar e persistir em corpos tão pequenos. Um passo importante para respondê-las acaba de ser dado por um grupo de astrônomos japoneses. Eles usaram um supercomputador para simular o comportamento dos anéis de Cáriclo. Foi a primeira vez que um sistema completo de anéis foi recriado digitalmente.

TEORIA E PRÁTICA
No trabalho, 345 milhões de partículas foram simuladas para analisar como os anéis evoluem. Os resultados indicam que o mais interno deles deve ter estranhos padrões listrados e que a manutenção do sistema talvez dependa da existência de luas “pastoras”, que mantenham os anéis confinados. Agora, os astrônomos se voltam de novo para os telescópios, a fim de testar as predições e compreender como a natureza produz essas belas estruturas.

BÔNUS: Curso gratuito sobre o Sistema Solar e projeto Mulheres na Astronomia
Um par de informações que pode interessar ao leitor. O Observatório Nacional acaba de abrir as inscrições para um curso gratuito e à distância sobre o Sistema Solar. Para quem se interessa por saber mais sobre o nosso quintal no Universo, fica a dica. Mais informações aqui. E, para provar que lugar de mulher é no observatório astronômico, Camila Beli Silva, aluna do Instituto de Física de São Carlos da USP, produziu um vídeo sobre Mulheres na Astronomia e na Astrofísica. Com cerca de cinco minutos e narração da aluna Natália Palivanas, ele faz parte de um projeto mais amplo, coordenado pela professora Manuela Vecchi, do IFSC/USP. Vale a pena dar uma olhada, clicando aqui.

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