Mensageiro Sideral https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br De onde viemos, onde estamos e para onde vamos Sat, 04 Dec 2021 19:09:39 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Objeto além de Plutão é achatado como panqueca, revela New Horizons https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/02/18/objeto-alem-de-plutao-e-achatado-como-panqueca-revela-new-horizons/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/02/18/objeto-alem-de-plutao-e-achatado-como-panqueca-revela-new-horizons/#respond Mon, 18 Feb 2019 05:00:59 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/mu69_only_ca07_linear_0_to_50_extras-320x213.png https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8645 A Terra não é plana, mas Ultima Thule, pelo visto, é. A descoberta surpreendente vem da sonda New Horizons, que fez um sobrevoo deste intrigante objeto nos confins do Sistema Solar em 1o de janeiro, e com suas últimas imagens deixou os cientistas da missão sem saber muito bem o que pensar.

Veja você o que é o poder da mudança de perspectiva. A New Horizons viajou 13 anos, passou por Plutão em 2015 e sobrevoou Ultima Thule (formalmente conhecido como 2014 MU69) a incríveis 50 mil km/h em pleno réveillon.

As imagens obtidas durante a aproximação final batiam exatamente com o esperado com base em estudos feitos em solo: era um objeto duplo — tecnicamente chamado de binário de contato –, formado por duas bolotas coladas uma na outra, no que parecia mais um grande boneco de neve espacial de 31 km de comprimento.

Ultima Thule é um residente clássico do chamado cinturão de Kuiper, um agregado de objetos localizados além da órbita de Netuno (dos quais Plutão é o mais notório membro) que remontam à formação do Sistema Solar, 4,5 bilhões de anos, muitos deles praticamente mantidos inalterados, “congelados”, por todo esse tempo.

Os cientistas tinham uma ideia de como esses objetos primitivos se formaram, pouco antes de os próprios planetas nascerem, e foi com alegria que viram lá as duas bolotas coladas — supostos remanescentes de um processo que eles sabiam exatamente como descrever com seus modelos de formação.

E então a New Horizons mandou de volta as imagens que colheu após a passagem pelo objeto, registrando apenas sua silhueta num fino crescente contra um fundo de estrelas. E eis que não são duas bolotas, mas duas panquecas grudadas. E isso nenhum modelo sabe explicar.

“Nós nunca vimos algo assim orbitando o Sol”, declara Alan Stern, cientista-chefe da New Horizons. E a descoberta, que começou com uma imagem relativamente despretensiosa de despedida, obrigará os cientistas a repensarem a base do processo de formação planetária.

Má notícia? Pelo contrário. O desafio da ciência não é “enquadrar” a natureza, e sim “refletir” toda a sua rica variedade. A imaginação humana, longe de ser a última bolacha do pacote, é só um limitado ponto de partida. E Ultima Thule acaba de jogar uma daquelas bolas de curva para o pessoal da New Horizons agarrar.

No fim das contas, entender como Ultima Thule se formou pode acabar explicando outros objetos com formato inesperado, como o recente visitante interestelar superalongado ‘Oumuamua — que muito provavelmente também era um objeto similar aos do cinturão de Kuiper, com a diferença de ter vindo de outro sistema planetário.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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Sonda New Horizons revela como é um cometa antes de ser ‘gasto’ pelo Sol https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/01/02/sonda-new-horizons-revela-como-e-um-cometa-antes-de-ser-gasto-pelo-sol/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/01/02/sonda-new-horizons-revela-como-e-um-cometa-antes-de-ser-gasto-pelo-sol/#respond Wed, 02 Jan 2019 20:33:30 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2019/01/ultima-thule-20190102-320x213.png https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8520 As primeiras imagens obtidas durante o sobrevoo de Ultima Thule pela sonda New Horizons revelaram o que pode ser a forma típica de um cometa antes de ser “gasto” pela interação com a luz solar intensa num mergulho ao interior do Sistema Solar.

Os resultados revelaram duas bolotas coladas gentilmente, algo que os astrônomos chamam de um “binário de contato”.

“Como não somos muito criativos com nomes, apelidamos o maior de Ultima e o menor de Thule”, diz Alan Stern, cientista-chefe da missão, durante coletiva realizada nesta quarta-feira (2), no Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins, em Laurel, Maryland. (Oficialmente, o objeto tem a designação 2014 MU69.)

A New Horizons continua a transmitir os dados colhidos durante um rápido encontro com esse modesto objeto do chamado cinturão de Kuiper, região além da órbita de Netuno onde estão presentes muitos objetos semelhantes, além de alguns planetas anões, como Plutão (explorado anteriormente pela mesma espaçonave em 2015).

A imagem de maior resolução disponível nesta quarta foi colhida 30 minutos antes da aproximação máxima da sonda, a 28 mil km da superfície do objeto. Nela, cada pixel representa 140 metros. Mas os pesquisadores esperam que as fotos feitas durante a fase mais aguda do rápido sobrevoo, caso o apontamento da câmera tenha sido suficientemente preciso, possam revelar até 35 metros por pixel.

Quem está familiarizado com a exploração do Sistema Solar, ao deitar os olhos sobre Ultima Thule, provavelmente se lembrará de outro objeto: o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, estudado de perto pela sonda europeia Rosetta.

Imagem obtida pela sonda Rosetta no último dia 5 mostra atividade intensa no cometa Churyumov-Gerasimenko. Um cometa, ao se aproximar do Sol, começa a se desmanchar. (Crédito: ESA)

Sabe-se que o Chury um dia foi apenas um objeto do cinturão de Kuiper. Só que ele acabou ejetado de lá por algum encontrão e atirado para dentro do Sistema Solar, onde a radiação solar intensa acabou sublimando seus gelos e erodindo a superfície.

“Toda vez que vemos cometas, eles são formas muito danificadas de objetos do cinturão de Kuiper”, explicou Jeff Moore, líder da equipe de geologia e geofísica da New Horizons.

Ao estudar de perto pela primeira vez um objeto desses em seu estado mais primitivo, é possível compreender como ele se formou, nos primórdios do surgimento do Sistema Solar.

E de fato é isso que as imagens estão revelando. Primeiro, a observação dá suporte à ideia de que o Chury e vários outros núcleos cometários já explorados são mesmo binários de contato, e não objetos que eram inteiriços e que tiveram sua superfície erodida de forma seletiva pela radiação solar.

Além disso, ao encontrar um binário que está praticamente do mesmo jeito desde que se formou, 4,5 bilhões de anos atrás, a New Horizons agora confirmar modelos de formação desses objetos. E o resultado é consistente com o que se esperava para a acreção de planetesimais, os tijolos básicos que dariam mais tarde origem aos planetas.

Combinação de imagem colorida de baixa resolução e imagem preto e branco de alta resolução revelam as cores de Ultima Thule. (Crédito: Nasa)

A primeira imagem colorida revelou também o tom avermelhado de Ultima Thule, além do baixo nível de brilho do objeto, que reflete apenas 6% a 13% da (pouquíssima) luz solar que chega até ele.

Os dados preliminares de composição do solo ainda estão sendo transmitidos pela espaçonave, e uma nova coletiva nesta quinta deve trazer novidades. Até agora, tudo que vimos é menos de 1% do total de dados colhidos pela sonda durante o encontro. O download de tudo, vindo dos cafundós do Sistema Solar, vai levar 20 meses para terminar.

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O que vem aí em 2019 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/12/31/o-que-vem-ai-em-2019/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/12/31/o-que-vem-ai-em-2019/#respond Mon, 31 Dec 2018 04:00:36 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/04/NewHorizonsKBOencounter-180x101.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8498 Aperte os cintos, porque o ano espacial vai começar agitadíssimo! Confira a seguir os eventos mais esperados no Sistema Solar em 2019.

NOVOS HORIZONTES
A emoção começa literalmente nas primeiras horas do dia 1º, quando a sonda New Horizons (aquela mesma que visitou Plutão em 2015) bate seu próprio recorde e realiza o sobrevoo mais distante da história da exploração espacial, ao passar a 3.500 km do objeto 2014 MU69, também conhecido como Ultima Thule — um pedregulho de gelo que sobrou da formação do Sistema Solar há 4,5 bilhões de anos, localizado a mais de 6,6 bilhões de km da Terra. Os primeiros dados pós-encontro chegam por volta das 13h desta terça, e as primeiras análises científicas só no dia seguinte.

O jipe robótico chinês Yutu roda pela Lua; a Chang’e-4 levará um igual, para o lado afastado lunar. (Crédito: CNSA)

ATRÁS DA LUA
Nem bem terminamos com a New Horizons, no dia 3 de janeiro ou arredores deve acontecer o pouso da sonda não tripulada chinesa Chang’e-4 na Lua. Será a segunda alunissagem chinesa, mas igual a esta você nunca viu. Pela primeira vez, uma espaçonave vai pousar no lado afastado da Lua, aquele que não dá para ver daqui. Será também a primeira vez que a China faz algo no espaço que ninguém nunca fez antes — mais uma prova de que eles estão levando a sério esse negócio de exploração espacial. E esta será apenas a primeira de muitas missões lunares esperadas para 2019: indianos e israelenses farão uma tentativa, e é bem possível que os chineses voltem à carga com a Chang’e-5 até o fim do ano.

Astronautas Bob Behnken e Doug Hurley serão os primeiros a voar numa cápsula tripulada da SpaceX, em 2019. (Crédito: Nasa)

EMPRESAS NO ESPAÇO
No começo do ano, possivelmente em janeiro, a empresa SpaceX deve fazer o primeiro voo-teste, ainda sem tripulação, de sua cápsula Dragon para astronautas. A rival Boeing deve lançar a sua, Starliner, em março, e a expectativa de ambas é, antes que este ano acabe, voar com astronautas da Nasa a bordo, encerrando a dependência americana das naves russas Soyuz, iniciada com a aposentadoria dos ônibus espaciais, em 2011.

Imagem mostra o terreno acidentado na superfície de asteroide Ryugu. Repare na sombra da Hayabusa2. (Crédito: Jaxa)

EXPLORADORAS DE ASTEROIDES
As missões Hayabusa2 (do Japão) e Osiris-Rex (dos EUA) estão a todo vapor. Dessas, a que trará mais ação em 2019 é a japonesa, que deve pousar e colher amostras do asteroide Ryugu ao longo do ano que vem, iniciando a jornada de volta à Terra em novembro ou dezembro. A Osiris-Rex, por sua vez, só colherá suas amostras do asteroide Bennu em 2020.

Sequência de imagens mostra um trânsito de Mercúrio por sobre o disco solar (Crédito: Nasa)

TRÂNSITO DE MERCÚRIO
Em 11 de novembro, uma ocorrência relativamente rara irá ocorrer: o pequenino planeta Mercúrio cruzará à frente do disco solar. É algo que só se pode ver com equipamentos apropriados, mas a América do Sul está no lugar certo na hora certa para ver o fenômeno. Vai valer a pena.

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New Horizons abre 2019 com sobrevoo de objeto mais distante já visitado https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/12/30/new-horizons-abre-2019-com-sobrevoo-de-objeto-mais-distante-ja-visitado/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/12/30/new-horizons-abre-2019-com-sobrevoo-de-objeto-mais-distante-ja-visitado/#respond Sun, 30 Dec 2018 18:00:42 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/nh_orex_image_nhonly-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8483 Com as primeiras horas do dia 1º de janeiro, a sonda New Horizons fará o sobrevoo do objeto mais distante a ser visitado por uma espaçonave. Seu nome oficial é obtuso: 2014 MU69. Seu apelido é provisório: Ultima Thule. Mas seu segredos são antigos e remontam à própria formação do Sistema Solar.

Trata-se de um pedregulho remanescente do processo que deu origem aos planetas da família solar, 4,5 bilhões de anos atrás. Mantido afastado do Sol por todo esse tempo, ele é quase como uma amostra congelada do material que originou nosso sistema planetário.

O sobrevoo vem três anos e meio depois da passagem da mesma New Horizons por Plutão, planeta anão que até o momento detinha o recorde de objeto mais distante a ser explorado de perto. Ultima Thule (ou 2014 MU69, como queira), contudo, é bem menor e mais distante, o que torna o sobrevoo ainda mais desafiador.

A aproximação máxima se dará às 3h33 (de Brasília), momento em que a emissária robótica da Terra estará ocupada tirando tantas fotos e medidas quantas forem possíveis, numa passagem furiosa pelo pequeno objeto a 14,4 km/s. Convertendo para medidas mais familiares do dia a dia, são quase 52 mil km/h, ou 170 vezes mais rápido que um carro de Fórmula 1.

A velocidade faz forte contraste com o tamanho do objeto, estimado em cerca de 20 a 30 km. Imagine: a sonda cruzará de uma ponta a outra do MU69 em meros 2 segundos. Claro, como o sobrevoo vai se dar a cerca de 3.500 km da superfície do objeto, seu deslocamento nas câmeras da New Horizons parecerá mais maneiro, da mesma forma que temos a sensação, num avião em cruzeiro, de que o chão está se deslocando devagar abaixo de nós, embora estejamos voando a 1.000 km/h.

Ainda assim, não há tempo a perder para fotografá-lo durante a máxima aproximação, de modo que a New Horizons está programada para executar todas as suas observações automaticamente e só ao final do encontro apontar sua antena principal na direção da longínqua Terra — a 6,6 bilhões de km dali — para nos contar como foi o passeio.

Espera-se que a sonda se volte para a Terra e inicie uma transmissão às 7h20 (de Brasília), apenas com dados de telemetria, indicando os “sinais vitais” da espaçonave. As ondas de rádio, viajando à velocidade da luz, vão levar pouco menos de 6 horas para chegar às antenas da Deep Space Network, da Nasa. Ou seja, por volta das 13h de terça-feira.

A equipe responsável pela missão espera, se tudo correr bem, poder apresentar as primeiras análises científicas do objeto no dia 2, em coletiva marcada para as 17h (de Brasília).

PARADINHA
Apesar de ser mais um marco histórico do programa espacial americano, a Nasa está sofrendo para mantê-lo em evidência, devido à paralisação do governo americano em torno do debate sobre o muro que Donald Trump quer erguer na fronteira entre os EUA e o México.

A agência espacial americana entrou na paralisação e só deve retomar suas atividades normais quando o governo reabrir, no ano que vem. Nesse meio-tempo, as ações de mídia da New Horizons estão sendo feitas pelo APL, o Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins, responsável pelo gerenciamento da missão.

É de lá que serão transmitidas as coletivas apresentando os resultados. Na última sexta-feira, houve trapalhada sobre que canal de vídeo transmitiria uma apresentação final do sobrevoo. De início, seria no canal da Nasa, depois passou ao canal do APL, e finalmente voltou ao canal da Nasa — mas apenas na transmissão no próprio site da agência, e não em seus feeds no YouTube.

No trabalho científico do sobrevoo, claro, tudo normal: operações que não podem parar, como o gerenciamento da Estação Espacial Internacional, seguem adiante mesmo durante a paralisação, e o mesmo se pode dizer da recepção dos dados da New Horizons. Afinal de contas, o Sistema Solar não espera ninguém.

MISTÉRIOS DE ULTIMA
Descoberto em 2014 com a ajuda do Telescópio Espacial Hubble, ele é definido mais propriamente como um KBO, sigla inglesa para Objeto do Cinturão de Kuiper. Acredita-se que esse agregado de astros compostos majoritariamente de gelo, localizados além da órbita de Netuno, sejam parte do que sobrou do processo de formação planetária (assim como o cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter).

Como todos os seus colegas da região (salvo Plutão), o MU69 até hoje não passou de um ponto de luz indistinto ao telescópio (por sinal, até mesmo a quatro dias do encontro o objeto continuava sendo um único pixel na câmera telescópica da New Horizons, a Lorri).

Observações em solo ajudaram a determinar sua órbita aproximada (ele completa uma volta ao redor do Sol a cada 296 anos) e campanhas de monitoramento de ocultações estelares (quando o MU69 passava à frente de uma estrela distante) permitiram ter-se uma vaga ideia de seu formato irregular.

Cronometrando a duração da ocultação em diversos pontos da Terra, foi possível revelar que o objeto é provavelmente bem alongado — talvez até um binário de contato, ou seja, um objeto que é resultado da união de dois precursores, como é o caso do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, explorado pela sonda Rosetta.

Estranhamente, durante sua aproximação, a New Horizons não viu oscilações significativas no brilho do astro, que seriam esperadas no caso de uma forma irregular como essa (e ajudariam a determinar sua taxa de rotação). É possível que a sonda esteja se aproximando de MU69 na direção de seu eixo de rotação, mas isso não será sabido até o sobrevoo.

O mesmo se pode dizer da composição do objeto. Sabe-se que é avermelhado (a exemplo de Plutão), mas não muito mais que isso. Só observações detalhadas, que farão o pedregulho passar de 1 pixel a cerca de 1.000 pixels (nas melhores imagens da Lorri) ajudarão a revelar de que é feito.

Os resultados permitirão entender melhor a formação desses objetos primordiais e a relação entre os planetas anões da região, como Plutão, e os objetos menores, como o MU69.

E DEPOIS?
A transmissão de dados dos cafundós do Sistema Solar não é exatamente banda larga. Para enviar tudo que colheu do encontro com o MU69, a New Horizons precisará de 20 meses. Mas mesmo o último bit transmitido pode não significar o fim da missão. Talvez haja ainda outro sobrevoo a ser feito.

“A espaçonave está muito saudável, todos os sistemas vão estar funcionando, e seus reservas estão disponíveis”, diz Alan Stern, cientista-chefe da missão. “Nós estaremos no cinturão de Kuiper até o final da década de 2020 e podemos, se a Nasa aprovar, tentar fazer mais um sobrevoo.”

Este objeto precisa estar mais ou menos no caminho já traçado pela New Horizons em sua saída do Sistema Solar, e a busca por ele deve começar em 2021, segundo Stern, com todos os recursos possíveis.

“Vamos usar os equipamentos maiores e mais capazes disponíveis. Podemos usar o Hubble, podemos usar o Telescópio Espacial James Webb, se ele estiver disponível, e podemos usar a nossa própria câmera, a Lorri. Talvez a espaçonave encontre seu próprio alvo. Ninguém fez isso antes. É quase uma coisa de ficção científica.”

Quem sabe ainda há mais um recorde a ser batido pela New Horizons?

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Estudo explica as dunas de Plutão https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/06/04/estudo-explica-as-dunas-de-plutao/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/06/04/estudo-explica-as-dunas-de-plutao/#respond Mon, 04 Jun 2018 05:00:05 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/plutao-dunas-2-320x213.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7767 As dunas de Plutão intrigaram os cientistas assim que foram primeiro observadas, em 2015. Imagens da sonda New Horizons revelaram sua existência, após o histórico sobrevoo de 14 de julho daquele ano. O problema: ninguém conseguia explicar como elas podiam existir. Agora, um grupo internacional de pesquisadores parece ter a resposta.

Essas formações esculpidas pelo vento nunca foram exclusividade terrestre. Marte tem dunas. Vênus, idem. A lua Titã, de Saturno, também. E até cometas, como a sonda Rosetta mostrou, também têm estruturas similares.

Em Plutão, contudo, foi um achado inesperado. O planeta anão tem uma atmosfera rarefeita demais para carregar partículas de um lado a outro. Para dar uma ideia, a pressão atmosférica na superfície plutoniana é apenas um centésimo de milésimo da terrestre ao nível do mar.

E, no entanto, as dunas estão lá, para quem tiver interesse por turismo interplanetário de aventura. Como elas surgiram? Matt Telfer, da Universidade de Plymouth, no Reino Unido, e seus colegas encontraram uma possível solução e a publicaram na última edição da revista Science.

O Sol não esquenta grande coisa na região de Plutão, quase 40 vezes mais afastado dele que a Terra. O mais quente que fica por lá é -218 ºC. Congelante pelos nossos padrões, mas suficiente para converter parte do metano sólido presente na superfície em vapor. Esse gás evaporando do chão, lutando contra a débil gravidade plutoniana, é suficiente para elevar partículas no ar — talvez de gelo de metano, talvez de nitrogênio, ainda não se sabe.

Uma vez suspensas, até mesmo a modesta atmosfera consegue arrastá-las e gerar o padrão observado na planície Sputnik pela New Horizons. De acordo com o modelo explicativo dos pesquisadores, as formações registradas são relativamente recentes — menos de meio milhão de anos. Mais uma prova de que, a despeito da pequenez, Plutão é mundo dinâmico e fascinante.

BÔNUS: O céu de junho
Confira as principais efemérides para o mês, marcado pelas aproximações máximas de Saturno e Vesta.

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Astronomia: Frio de rachar em Plutão https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/11/20/astronomia-frio-de-rachar-em-plutao/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/11/20/astronomia-frio-de-rachar-em-plutao/#comments Mon, 20 Nov 2017 04:00:20 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2015/10/blue_skies_on_pluto-final-2-180x180.png http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7090 Névoa no ar de Plutão explica por que o planeta anão é ainda mais gélido que o esperado.

A BRISA DO HADES
Há algo de gélido no reino de Plutão. OK, não foi novidade quando o planeta anão, visitado pela primeira vez em 2015, pela sonda New Horizons, se mostrou um lugar frio de rachar. Afinal, é o que já se imagina de uma bolota de gelo 40 vezes mais distante do Sol que a Terra.

PÕE MAIS GELO
O que realmente surpreendeu os cientistas da missão foi que ele se mostrou ainda mais frio do que eles esperavam, com temperaturas superficiais que podem cair a -240 graus Celsius. E agora finalmente um trio de pesquisadores parece ter descoberto por quê. É a névoa que recobre o planeta anão.

TERMOSTATO
Já sabemos há décadas que Plutão tem uma atmosfera. Ralinha, mas está lá. E uma das principais propriedades do invólucro de ar de um mundo, seja ele qual for, é modular a temperatura. De início, os pesquisadores achavam que a atmosfera plutoniana, dominada por nitrogênio e metano, fizesse esse serviço de termostato. Só que os modelos antes do sobrevoo da New Horizons baseados nessa ideia sugeriam, por exemplo, uma temperatura de relativamente modestos -140 graus Celsius a uma altitude de 100 km. O que a sonda viu foi uns 40 graus mais frio.

ALGO NO AR
Ninguém de início imaginou que a névoa, feita de partículas de moléculas orgânicas em suspensão na alta atmosfera plutoniana, pudesse explicar a grande diferença. Até porque, até a New Horizons passar por lá, ninguém nem sabia que essa névoa existia.

NOVO ENCAIXE
Xi Zhang, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, e seus colegas então resolveram modelar a atmosfera levando em conta também os efeitos da névoa, e aí teoria e observação se alinharam lindamente — provavelmente um mistério resolvido.

PREDIÇÃO
Mas o teste final ainda vem aí: se o modelo estiver certo, Plutão deve ser mais brilhante em infravermelho do que antes se imaginava — algo que poderá ser colocado à prova pelo Telescópio Espacial James Webb, a ser lançado pela Nasa em 2019. O trabalho foi publicado na última edição do periódico britânico “Nature”.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

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Astronomia: O próximo alvo da New Horizons https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/08/14/astronomia-o-proximo-alvo-da-new-horizons/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/08/14/astronomia-o-proximo-alvo-da-new-horizons/#comments Mon, 14 Aug 2017 05:00:13 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/08/kbo_comparison_parker-180x145.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6731 Próximo alvo da sonda New Horizons, além de Plutão, parece ter formato “dois em um”.

PLANEJAMENTO DE VOO
A viagem da sonda New Horizons pelo cinturão de Kuiper acaba de ficar mais interessante. O sobrevoo do objeto conhecido apenas pela sigla 2014 MU69 está marcado para 1o de janeiro de 2019, e os astrônomos têm trabalhado para descobrir tudo que podem sobre ele antes dessa data.

DEPOIS DE PLUTÃO
A sonda ganhou sua fama depois de fazer um espetacular sobrevoo do planeta anão Plutão, em 14 de julho de 2015. Mas, como dizem, passou lotada e segue numa trajetória de saída do Sistema Solar. Para não perder a viagem, a Nasa fez uma caça a objetos que ela pudesse visitar em seguida. Foi assim que o Hubble encontrou o MU69.

DE OLHO
No mês passado, o telescópio espacial voltou a ser apontado para o misterioso objeto, numa tentativa de procurar detritos ao redor dele que pudessem ameaçar a segurança da nave. Os resultados foram inconclusivos. Mas observações mais intrigantes, contudo, foram feitas na Argentina, em 17 de julho.

NA SOMBRA DA ESTRELA
Era a chance de observar o MU69 realizar uma ocultação estelar — passar à frente de uma estrela distante com relação à Terra. Foram distribuídos 24 telescópios móveis na região da Patagônia, e cinco deles conseguiram detectar a “piscada” da estrela. Combinadas, essas observações sugeriram algo surpreendente: o objeto tem forma altamente irregular e provavelmente é duplo.

DOIS EM UM
O termo técnico é “binário de contato”, basicamente duas bolotas coladas. Você já viu essa estrutura com a missão Rosetta ao cometa Churyumov-Gerasimenko. E, como muitos cometas têm origem no cinturão de Kuiper, o parentesco é bem-vindo. Mas o MU69 é bem maior que o Chury: se for mesmo um binário de contato, cada um de seus lobos deve ter entre 20 e 18 km.

RUMO AO DESCONHECIDO
Por outro lado, as observações não descartam que se trate de um único objeto em forma alongada, ou mesmo dois objetos separados em órbita um do outro. Só saberemos com certeza quando a New Horizons tornar o desconhecido conhecido, em pouco mais de um ano.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

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Faça um tour pelas montanhas de Plutão! https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/07/14/faca-um-tour-pelas-montanhas-de-plutao/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/07/14/faca-um-tour-pelas-montanhas-de-plutao/#comments Fri, 14 Jul 2017 18:00:08 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/07/plutao-altimetrico-180x100.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6579 Exatos dois anos atrás, em 14 de julho de 2015, chegávamos a Plutão. O sobrevoo da sonda New Horizons revolucionou nosso entendimento do planeta anão mais famoso do Sistema Solar e sua maior lua, Caronte. E, claro, a exploração científica dos dados colhida durante o frenético encontro está apenas começando.

Para comemorar a data, a Nasa divulgou mapas altimétricos de Plutão e Caronte — que indicam basicamente a altitude do terreno nas regiões dos dois corpos celestes que puderam ser registradas com qualidade suficiente durante o sobrevoo. E, para tornar tudo ainda mais interessante, criaram um “tour virtual” pelos dois astros.

Por um lado, os mapas destacam a qualidade das informações colhidas pela missão. Mas, por outro lado, também revelam o quanto da superfície de Plutão ainda ficou oculto. Da latitude de 30 graus Sul para baixo, por exemplo, não temos rigorosamente nada — nem imagens distantes, uma vez que o ângulo de rotação de Plutão manteve essa região permanentemente oculta das câmeras.

Mapas de elevação de Plutão e Caronte feitos com dados da New Horizons. (Crédito: NASA/JHUAPL/SwRI/LPI)

Situação similar se viu em Caronte, que mantém um alinhamento permanente com Plutão, com a mesma face sempre voltada para o mesmo lado do planeta anão (e vice-versa, a propósito).

Os mapas são interessantes, mas nada substitui o sobrevoo virtual por esses terrenos que foi possível recriar. Confira o vídeo que mostra como seria passear por sobre várias regiões de Plutão e Caronte — com um exagero de relevo de duas a três vezes o real, para permitir uma percepção visual mais detalhada dos acidentes do terreno.

O trabalho de visualização 3D foi feito pelos cientistas Paul Schenk e John Blackwell, do Instituto Lunar e Planetário, nos Estados Unidos. É imperdível.

Enquanto isso, a New Horizons continua sua odisseia espacial, com um encontro marcado com um pequeno objeto do cinturão de Kuiper em janeiro de 2019. A aventura continua.

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Astronomia: No reino dos planetas anões https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/04/17/astronomia-no-reino-dos-planetas-anoes/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/04/17/astronomia-no-reino-dos-planetas-anoes/#comments Mon, 17 Apr 2017 05:00:28 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/04/NewHorizonsKBOencounter-180x101.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6234 Cientistas usam sonda que foi a Plutão como telescópio para estudar outros planetas anões.

DE OLHO
Depois de visitar Plutão, a sonda New Horizons está a meio caminho de seu próximo alvo, o objeto conhecido como 2014 MU69. Nesse meio tempo, ela tem sido usada como um telescópio móvel para a observação de outros astros residentes nos confins do Sistema Solar.

DAQUI ATÉ LÁ
A revelação foi feita por Alan Stern, cientista-chefe da missão, numa reunião científica em Montevidéu, no Uruguai, na semana passada. Além de apresentar os planos da equipe para as observações do MU69, num sobrevoo marcado para 1º de janeiro de 2019, ele comentou alguns dos resultados obtidos no estudo remoto de membros do clube do qual Plutão é o sócio mais notório.

UM DE MUITOS
O cinturão de Kuiper é um conjunto de objetos remanescentes do processo que levou à formação do Sistema Solar, há 4,6 bilhões de anos, e está localizado numa região entre 30 e 50 vezes mais afastada do Sol que a Terra. É lá que Plutão mora.

OS VISITANTES
Vez por outra vemos um objeto do cinturão aparecer nas nossas redondezas — muitos cometas vêm de lá. Contudo, essas aproximações os trazem para perto do Sol e isso afeta radicalmente sua superfície, de modo que eles não são referências ideais para investigarmos suas propriedades originais.

RESULTADOS
A New Horizons já observou, além de Plutão, três planetas anões com sua câmera telescópica: Quaoar, Makemake e Haumea. A análise dos dados ainda não terminou, mas espera-se que ela possa ajudar a determinar parâmetros como a rotação desses objetos. Com efeito, a sonda conseguiu já medir a rotação de um astro no cinturão de Kuiper, o pequeno Arawn. Com 145 quilômetros de diâmetro, ele não chega a ser planeta anão. Mas agora sabemos que o “dia” lá dura 5,5 horas.

NO CONTEXTO
As imagens em si não são espetaculares como as de Plutão — os objetos aparecem como pontinhos. Mas com elas os cientistas começam a colocar o mais famoso dos planetas anões no contexto de seus vizinhos e investigar toda a variedade que existe nessa fronteira ainda largamente inexplorada do Sistema Solar.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

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‘Coração’ de Plutão revela a saga do planeta anão https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2016/11/16/coracao-de-plutao-revela-a-saga-do-planeta-anao/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2016/11/16/coracao-de-plutao-revela-a-saga-do-planeta-anao/#comments Wed, 16 Nov 2016 19:40:10 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2016/11/Keane-Pluto-Reorienting-2-unannotated-180x142.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=5620 O famoso “coração” de Plutão, a mais evidente das formações visíveis nas imagens da sonda New Horizons, está dando o que falar. Um par de novos estudos revelam lances do passado e do presente do mais célebre dos planetas anões — inclusive com a apresentação de evidências de que um oceano de água líquida sob a gélida superfície congelada ainda possa existir por lá até hoje.

Batizada de Sputnik Planitia pelos cientistas da missão — que, por sinal, terminou apenas duas semanas atrás o “download” de todos os dados colhidos durante o rápido sobrevoo de Plutão, em 14 de julho de 2015 –, a região esquerda (e mais clara) do “coração” consiste numa camada extensa de deposição de nitrogênio sólido.

Aqui na Terra, com nosso clima ameno, o nitrogênio só pode existir como gás. Mas lá em Plutão, sob o frio intenso de -230 graus Celsius dos cafundós do Sistema Solar, a história é outra. Lá o nitrogênio atmosférico pode se solidificar e se depositar sobre a superfície. Neve plutoniana.

Agora, por que esse nitrogênio todo foi se juntar ali? É exatamente isso o que aconteceria se a região tivesse sido vitimada por um impacto de um meteorito gigante no passado remoto. A ocorrência não seria totalmente inesperada. Eventos como esse são comuns, sobretudo nas fases iniciais de formação dos sistemas planetários, e explicam tanto a formação da Lua, ao redor da Terra, quanto a de Caronte, o maior dos satélites naturais plutonianos.

Só que essa pancada aí não gerou uma nova lua, até onde sabemos. Apenas escavou uma bacia enorme em Plutão, com cerca de 1.000 km de largura. Era o lugar ideal para que o nitrogênio que estivesse sendo evaporado nas regiões polares — que, no caso de Plutão, ficam voltadas para o Sol — pudesse se solidificar e acumular como neve ali.

Esse processo de acúmulo de neve foi lento, gradual, e muito provavelmente ainda está em andamento — a maior revelação feita pela New Horizons é que Plutão é um mundo ativo, com ciclos e processos geológicos complexos.

Agora, você pode imaginar que ir juntando nitrogênio durante muito tempo foi aumentando a quantidade de massa presente naquela parte específica do planeta anão. E estamos falando de uma região bem grande (1.000 km) num planeta anão (com 2.300 km de diâmetro). Isso quer dizer, na prática, que Plutão engordou na região da Sputnik Planitia!

Esse processo de “gordura localizada”, por sua vez, ajuda a explicar outra característica da Sputnik Planitia — ela está diametralmente oposta a Caronte, a maior das luas.

Mas ela não começou ali. De acordo com os modelos, Plutão literalmente “tombou” com o passar do tempo para atingir esse equilíbrio.

Hoje, o planeta anão e a maior de suas luas estão no que se convencionou chamar de “trava gravitacional”. A mesma face de Plutão fica sempre voltada para a mesma face de Caronte. Mas agora temos pistas de que essa acomodação pelo efeito de maré ainda sofre ajustes por conta dessa constante transferência de massa, na forma de neve de nitrogênio, no planeta anão.

Ao que tudo indica, nem sempre a face oposta a Caronte era onde estava a Sputnik Planitia. De acordo com uma modelagem publicada na última edição da “Nature”, Plutão foi gradualmente mudando seu eixo de rotação para que isso acontecesse.

keane-animation-sizeE, segundo James Keane, da Universidade do Arizona em Tucson, e seus colegas, o processo ainda não acabou: o eixo de rotação ainda deve se deslocar um pouco mais nos próximos milhões de anos, conforme mais nitrogênio se acumular na região do “coração” plutoniano (que, a despeito do aumento gradual de massa, ainda está cerca de 3,5 km afundado com relação a seus arredores na superfície).

O OCEANO
Keane aponta que as coisas se desenrolariam conforme seu modelo apenas se houvesse um oceano de água líquida no interior de Plutão, que foi se solidificando com o passar do tempo. Seu estudo indica a presença de fissuras no solo plutoniano que seriam indicativas desse congelamento interno e gradual.

Contudo, outro estudo, publicado lado a lado na mesma edição da “Nature”, parece sugerir que o oceano ainda deve estar lá.

Francis Nimmo, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, e seus colegas chegaram, de forma independente, às mesmas conclusões de Keane no que diz respeito à formação da Sputnik Planitia e a mudança de rotação de Plutão ao longo do tempo. Mas, com um detalhe adicional: na modelagem deles, o oceano ainda estaria lá — não teria congelado totalmente ainda, mesmo depois de 4,6 bilhões de anos de resfriamento interno.

Eles alegam que, para o modelo funcionar com um oceano completamente congelado, a Sputnik teria de ter acumulado uma camada de 40 km de neve de nitrogênio — quantidade que, segundo os pesquisadores, é irrealista.

Estima-se que a quantidade real esteja em torno de 3 a 10 km de espessura — o que, por si só, não chega a ser massa suficiente para fazer a girada no eixo de rotação. Mas, então, de onde estaria vindo a massa que falta?

A equipe de Nimmo mostra que o impacto formador da Sputnik naturalmente teria arrancado grandes quantidades de gelo de água superficial e, com isso, levado a um soerguimento da divisão entre gelo e água naquela parte do planeta anão. Água é mais densa que gelo, o que equivale a dizer que, para volumes iguais, água tem mais massa. O soerguimento, trazendo o oceano interno para mais perto da superfície naquela região, explicaria o aumento de massa ali naquele ponto, capaz de fazer o planeta anão “tombar” em seu eixo com o passar de milhões de anos.

RESUMINDO
Como se pode ver, não é fácil deduzir a história geológica de um planeta anão pelas medições furiosas feitas num único sobrevoo. Aliás, é notável que grupos independentes de cientistas possam chegar a conclusões similares — sinal de que, a essa altura, já temos conhecimento suficiente para compreender muitos processos planetários, mesmo com uma única “passada d’olhos”.

A essa altura, é seguro afirmar que:

– A região da Sputnik Planitia, apesar da baixa altitude, representa uma região com mais massa em Plutão, que continua a evoluir e crescer conforme a neve de nitrogênio segue se acumulando em sua superfície.

– Plutão “tombou”, graças ao efeito de maré, para que a Sputnik Planitia — provavelmente produzida por um impacto violento no passado do planeta anão — ficasse no lado oposto ao da lua Caronte.

– É quase certo que Plutão teve um oceano de água líquida sob a superfície no passado, e há algumas dicas de que ao menos parte desse oceano possa não ter ainda se congelado e ainda estar lá até hoje.

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