Mensageiro Sideral https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br De onde viemos, onde estamos e para onde vamos Sat, 04 Dec 2021 19:09:39 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 O estranho campo magnético de Júpiter https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/09/10/o-estranho-campo-magnetico-de-jupiter/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/09/10/o-estranho-campo-magnetico-de-jupiter/#respond Mon, 10 Sep 2018 05:00:50 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/09/campo-magnetico-jupiter-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8044 Um estudo baseado nos dados colhidos em 8 dos 9 primeiros voos rasantes da sonda Juno por Júpiter mostra que o campo magnético do maior planeta do Sistema Solar é… esquisito.

Em órbita do gigante gasoso desde 2016, a espaçonave percorre um traçado que a leva alternadamente para perto e para longe de Júpiter. Na aproximação máxima, a cada 53 dias, a Juno chega a ficar a apenas 4.000 km do topo das nuvens jovianas.

A cada mergulho, ela atravessa o campo de radiação gerado pela magnetosfera do planeta, e sucessivas passagens vão criando um modelo 3D do campo magnético. Eis aí os dados que revelaram a bizarrice joviana nesse quesito.

Na Terra, o campo magnético é bem conhecido. Ele é gerado por correntes elétricas que se movem pelo ferro derretido da região mais externa do núcleo e funciona quase como se a Terra tivesse um ímã gigante dentro de si, com um polo magnético no norte e outro no sul. Nas demais regiões do globo, há uma homogeneidade do campo, dito não dipolar.

Em Júpiter a coisa é mais complicada. Além de um polo magnético no norte e outro no sul, há um foco parecido com o polo sul na região do equador, e o lado negativo do campo se distribui por todo o hemisfério Sul. Só no Norte há homogeneidade similar à dos dois hemisférios terrestres.

Imagem obtida pela sonda Juno em 15 de julho revela uma tempestade no hemisfério Sul de Júpiter, parecida com (mas menor que) a Grande Mancha Vermelha (Crédito: NASA/JPL-Caltech/SwRI/MSSS/Björn Jónsson)

Kimberly Moore, da Universidade Harvard, e seus colegas apostam, em artigo publicado na Nature, que a bizarrice tem a ver com a estrutura interna de Júpiter, bem diferente da terrestre. Imagina-se que o campo magnético joviano seja gerado no interior do planeta numa região em que o hidrogênio, seu principal componente, em razão da pressão, se comporta como um metal.

A configuração estranha do campo pode indicar que o dínamo do planeta não é gerado numa única camada espessa e uniforme, como na Terra. Para investigar isso, os cientistas terão de modelar esse campo em computador e deduzir qual seria a estrutura interna correspondente _ajudando assim a Juno a cumprir sua principal meta: entender como é o interior profundo do maior planeta do Sistema Solar.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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Garçom, me vê mais 12 luas em Júpiter e um vulcão em Io, por favor https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/07/17/garcom-me-ve-mais-12-luas-em-jupiter-e-um-vulcao-em-io-por-favor/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/07/17/garcom-me-ve-mais-12-luas-em-jupiter-e-um-vulcao-em-io-por-favor/#respond Tue, 17 Jul 2018 18:07:32 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/io-home-320x213.gif https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7913 Um grupo de astrônomos encontrou mais 12 luas orbitando Júpiter. Com a multidescoberta, o total agora subiu a 79, que garante ao maior planeta do Sistema Solar também o posto de maior proprietário de satélites naturais. Saturno fica em segundo, como lhe cai bem, com 62 luas.

E não é só isso, como diria o vendedor das facas Ginsu. Há menos de uma semana, a Nasa anunciou que a sonda Juno pode ter descoberto mais um vulcão em Io, a mais interna das grandes luas de Júpiter.

OK, é difícil dizer o que é mais provável, encontrar mais luas em Júpiter ou encontrar mais vulcões em Io. É o maior planeta do Sistema Solar versus o corpo celeste geologicamente mais ativo do Sistema Solar.

Comecemos por Io. Ele seria apenas uma grande bola de rocha (3.643 km de diâmetro), não fosse sua proximidade com Júpiter. O efeito de maré monumental gerado pela gravidade do planeta gigante gasoso chacoalha o interior da lua a ponto de aquecê-la brutalmente. O resultado é um sem-número de vulcões ativos.

A atual recordista na descoberta de vulcões é a astrônoma brasileira Rosaly Lopes, que trabalha no JPL, o Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa. Embora ela estude vulcões onde quer que eles estejam, o prato cheio sempre foi Io. Como parte da equipe da missão Galileo, que orbitou Júpiter entre 1995 e 2003, coube a ela estudar as imagens da superfície da lua e identificar os vulcões presentes.

Em entrevista ao Mensageiro Sideral no ano passado, ela mesma disse que, a despeito de seu recorde, provavelmente ainda há muitos outros vulcões a serem descobertos em Io — dadas as dificuldades técnicas enfrentadas pela missão Galileo. Sua afirmação serviu como premonição para o novo achado, que por isso mesmo não chega a ser surpreendente.

Surpresa mesmo é ver a Juno fazendo alguma descoberta em Io. A missão originalmente foi projetada para realizar observações de Júpiter, mas não de suas luas. Colocada numa órbita polar ao redor do planeta gigante gasoso, ela fica em posição desfavorável para até mesmo fotografar as grandes luas, que orbitam sobre a faixa equatorial do planeta.

Com efeito, a potencial descoberta do vulcão foi feita com uma foto em infravermelho obtida a grande distância de Io (470 mil km) e focada na região polar sul da lua, em 16 de dezembro de 2017.

A imagem, feita com o instrumento JIRAM (sigla para Mapeador Joviano de Auroras em Infravermelho), revela basicamente focos de calor na superfície de Io. Presume-se que sejam vulcões, como já confirmado para muitos deles graças ao trabalho da Galileo. Mas um em particular aparece a 300 km do foco de calor previamente mapeado mais próximo. Provavelmente é um vulcão até então desconhecido.

A ideia agora é recolher mais dados da JIRAM em futuros sobrevoos (alguns um pouco mais próximos que esse) para confirmar a descoberta e, quem sabe, fazer outras. Embora Io seja só um pouco maior que a Lua da Terra, são conhecidos cerca de 150 vulcões ativos por lá. E a estimativa é a de que existam mais 250 ainda por serem encontrados.

E AS 12 LUAS?

O aumento do rebanho de Júpiter não tem nada a ver com a Juno. As observações foram feitas todas da Terra, com telescópios. A única coisa em comum é que elas foram em sua maioria observadas pela primeira vez, a exemplo do novo vulcão de Io, em 2017. (Inclusive duas delas chegaram a ser provisoriamente anunciadas no ano passado.)

Desde então, os astrônomos liderados por Scott Sheppard, da Instituição Carnegie de Washington, realizaram uma série de observações para confirmar que os pequeninos pontos de luz de fato estavam orbitando o gigante gasoso, e não simplesmente passando por aquela região do céu, mas em órbita solar.

Curiosamente, não é isso que eles estavam procurando. Em vez disso, estavam vasculhando os céus em busca de objetos nos cafundós do Sistema Solar, quiçá o cobiçado planeta 9. “Júpiter só calhou de estar no céu perto dos campos em que estávamos buscando, e pudemos procurar novas luas ao mesmo tempo em que caçávamos planetas no limite exterior do Sistema Solar”, disse Sheppard.

A circular da União Astronômica Internacional que confirma a natureza dos objetos foi publicada nesta terça-feira (17), praticamente um ano após a descoberta.

Estamos falando, em todos os 12 casos, de pequenos objetos, com cerca de 1 a 3 km de diâmetro. Não se comparam em porte às luas galileanas (Io, Europa, Ganimedes e Calisto), assim chamadas por terem sido descobertas por Galileu Galilei entre 1609 e 1610. Em vez de mundos aproximadamente esféricos e grandes, são basicamente pedregulhos de forma irregular.

Sequência de imagens registra o movimento de uma das luas recém-descobertas, batizada de Valetudo. (Crédito: Carnegie)

A despeito disso, eles contam histórias fascinantes sobre a formação e a evolução do sistema de luas de Júpiter. Por exemplo: nove dessas luas recém-descobertas são retrógradas. Não quer dizer que sejam antiquadas, conservadoras ou eleitoras do Bolsonaro, claro. Órbitas retrógradas são aquelas em que o objeto gira na contramão da rotação do planeta. Provavelmente são objetos capturados pela gravidade de Júpiter no passado e convertidos de asteroides em luas.

E mais: essas nove luas compõem pelo menos três agrupamentos distintos, que parecem sugerir que elas são remanescentes de luas um pouco maiores, quebradas em pedaços após impactos com outros objetos. Em órbitas bem afastadas do planeta, elas levam cerca de dois anos terrestres para dar uma volta ao redor de Júpiter.

Outras duas luas recém-descobertas giram numa órbita prógrada, ou seja, acompanhando a rotação do planeta, e parecem fazer parte de um agrupamento previamente conhecido, indicando que elas também provavelmente fizeram parte de uma lua maior, que acabou fragmentada por impactos. Essas duas luas têm órbitas mais internas e levam menos de um ano para dar a volta em Júpiter.

Por fim, completando o pacote, uma lua realmente estranha foi descoberta: provisoriamente batizada de Valetudo (nada a ver com a música do Tim Maia ou a novela; é o nome da bisneta mitológica de Júpiter), ela tem provavelmente menos de 1 km de diâmetro e está numa órbita prógrada, mas cruzando uma faixa repleta de luas retrógradas. Ou seja: está pedindo para bater de frente com alguma delas num ponto futuro.

Talvez ela represente um “acidente prestes a acontecer” similar ao que fragmentou alguma das luas antigas e deu origem aos atuais agrupamentos observados. “Esta é uma situação instável”, diz Sheppard. “Colisões de frente rapidamente quebrariam e moeriam os objetos até virarem poeira.”

Esse caso ilustra bem como os astrônomos estudam processos cujas escalas de tempo em muito superam o tempo de vida do ser humano. Observando resultados de coisas que já aconteceram e juntando com coisas que se pode prever que ainda irão acontecer, podemos entender melhor o caminho que leva do passado longínquo ao futuro remoto, reconstruindo assim histórias que se estendem por bilhões de anos — como a que envolve a contínua formação e evolução do sistema de luas do gigante Júpiter.

Júpiter
Júpiter (Nasas, ESA e A. Simon (GSFC) , via Associated Press)

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Interior do gigante gasoso Júpiter gira como se planeta fosse sólido, diz sonda https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/03/08/interior-do-gigante-gasoso-jupiter-gira-como-se-planeta-fosse-solido-diz-sonda/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/03/08/interior-do-gigante-gasoso-jupiter-gira-como-se-planeta-fosse-solido-diz-sonda/#respond Thu, 08 Mar 2018 03:01:13 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/03/jupiter-polo-norte-320x213.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7420 A sonda Juno segue em sua missão de decifrar o interior de Júpiter, e uma nova leva de artigos científicos acaba de ser publicada na revista “Nature”. Há muitas revelações interessantes, uma das quais que, a uma profundidade de 3.000 km do topo das nuvens, o maior planeta do Sistema Solar, embora seja um gigante gasoso, gira como se fosse uma bola sólida.

Já era uma desconfiança dos cientistas. Sabe-se que Júpiter, a exemplo do próprio Sol, é majoritariamente feito dos elementos mais abundantes do Universo, hidrogênio e hélio. Ainda se estuda exatamente como esses gases se comportam a pressões cada vez maiores, e havia uma suspeita de que, a partir de uma determinada profundidade, ele se tornassem fluidos metálicos, por onde elétrons e prótons fluem livremente — daí o poderoso campo magnético de Júpiter. A essa profundidade, embora hidrogênio e hélio se tornem fluidos, o planeta em si se comporta como um esferoide sólido em sua rotação.

Os trabalhos publicados por dois grupos, um encabeçado por Yohai Kaspi, do Instituto Weizmann de Ciência, em Israel, e outro por Tristan Guillot, da Université Côte d’Azur, na França, corroboram essa visão, indicando que a transição em que os ventos da atmosfera joviana dão lugar a esse comportamento acontece a mais ou menos 3.000 km do topo das nuvens. Para efeito de comparação, Júpiter tem um raio de 69,9 mil km. Nessa camada superior, estão apenas 1% da massa total do planeta.

Os estudos são baseados nos dados do instrumento de rádio da Juno. A ideia é medir a transmissão da espaçonave para a Terra, cuja frequência exata é influenciada pelo campo gravitacional a que ela está submetida conforme passa perto de Júpiter. Pequenas variações na frequência indicam pequenas variações no campo gravitacional, que por sua vez apontam pequenas diferenças na distribuição de massa no interior do planeta.

Concepção artística da sonda Juno em órbita de Júpiter (Crédito: Nasa)

Com efeito, um outro grupo, liderado por Luciano Iess, da Sapienza Universitá di Roma, na Itália, publicou artigo correlato, indicando que o campo gravitacional de Júpiter varia de polo a polo. Ou seja, há uma assimetria entre a quantidade de massa que se faz presente no polo Norte, comparada ao polo Sul. Isso é surpreendente e inesperado para um planeta como Júpiter, que tem rápida rotação e é bastante achatado nos polos. De acordo com Iess e seus colegas, isso tem a ver com os fluxos de vento na atmosfera de Júpiter.

Que Júpiter é um rei da ventania, nunca foi segredo. Observando o topo das nuvens — o que se pode fazer até da Terra, ao telescópio — vemos que o maior planeta do Sistema Solar é composto por faixas alternadas claras e escuras que fluem em direções opostas.

Até a Juno, ninguém sabia se essa era uma característica apenas superficial, do topo da atmosfera, ou se refletia nas profundezas do planeta. Graças aos dados da sonda, sabemos que a segunda opção é a correta.

Capa da “Nature” desta semana destaca as novas descobertas de Júpiter. (Crédito: Nature)

“A descoberta mais estonteante de Iess e seus colegas é que há um componente do campo gravitacional de Júpiter que não mostra simetria norte-sul — uma observação peculiar para um planeta gigante gasoso em rotação rápida”, afirma Jonathan Fortney, pesquisador da Universidade da Califórnia em Santa Cruz que não se envolveu nos trabalhos, mas comentou-os em artigo separado para a “Nature”.

“Kaspi e seus colegas mostram que essa característica é resultado da assimetria latitudinal na velocidade dos ventos na superfície. A única maneira de esses ventos poderem afetar o campo gravitacional do planeta é se eles estiverem relativamente fundo e envolvessem uma quantidade substancial de massa. Isso implica que as faixas de Júpiter não são um fenômeno superficial, respondendo à velha questão.”

Os resultados da equipe de Kaspi sugerem que a magnitude dos ventos vai diminuindo vagarosamente com a profundidade até 3.000 km de profundidade, onde a pressão é cerca de 100 mil vezes maior que a da atmosfera da Terra ao nível do mar. É uma diferença brutal, inimaginável.

O quarto trabalho, o único a não envolver medições de gravidade, e sim observações em luz visível e infravermelha das regiões polares, foi conduzido por Alberto Adriani, do Istituto di Astrofisica e Planetologia Spaziali, na Itália, e colegas, e seu foco foi caracterizar os ciclones presentes nos polos de Júpiter — outra das surpresas da missão.

O trabalho concluiu que, no polo norte, oito ciclones circumpolares giram ao redor de um único ciclone, enquanto no sul o ciclone polar é cercado por outros cinco. Está claro que os ciclones formam um padrão poligonal ao redor do polo, mas os cientistas admitem não ter a mais vaga ideia de como eles podem ser persistentes, sem se fundirem, ou qual é sua origem. Os turbulentos polos de Júpiter continuam sendo um grande mistério — um que a Juno continuará a investigar ao longo de sua missão.

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Nasa divulga primeiras imagens do sobrevoo da Grande Mancha Vermelha de Júpiter https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/07/12/nasa-divulga-primeiras-imagens-do-sobrevoo-da-grande-mancha-vermelha-de-jupiter/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/07/12/nasa-divulga-primeiras-imagens-do-sobrevoo-da-grande-mancha-vermelha-de-jupiter/#comments Wed, 12 Jul 2017 17:54:17 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/07/JNCE_2017192_07C00061_V01-mapprojected-180x180.png http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6562 A equipe responsável pela sonda Juno, da Nasa, já divulgou as primeiras imagens produzidas pela JunoCam — a câmera de luz visível da espaçonave — durante o sobrevoo rasante da Grande Mancha Vermelha de Júpiter, realizado na segunda-feira (10). Elas foram divulgadas no site da missão hospedado no portal do Instituto de Pesquisas do Sudoeste (SwRI), que você pode visitar aqui.

São três imagens ao todo, mostrando a grande marca registrada do Sistema Solar de variadas altitudes: 13.917,4, 9.866,1 e 6.276,3 km. A segunda dessas reflete o momento em que a Juno passou exatamente sobre a Grande Mancha Vermelha. Na aproximação máxima do planeta, a sonda passou a meros 3.500 km do topo das nuvens jovianas.

Veja a sequência completa, com direito a zoom.

As imagens foram compostas a partir de três fotos diferentes, cada uma captando filtros de uma faixa de cor — verde, vermelho e azul. Combinadas, elas dão uma visão aproximada de como veríamos Júpiter com nossos próprios olhos, se estivéssemos a bordo da Juno.

Claro, esse é só um aperitivo — uma primeira divulgação, claramente para atender à ansiedade do público. Essas imagens devem passar por processamento adicional (e o público participa disso, com acesso às imagens brutas) para que se possa extrair mais detalhes.

A propósito, veja uma primeira imagem processada (por Gerald Eichstädt) para mostrar, com exagero de cores, as nuances da mancha. É de babar.

Imagem processada por Gerald Eichstädt, com base no material bruto da Nasa. (Crédito: NASA/SwRI/MSSS/Gerald Eichstädt /Seán Doran)

Além disso, temos de lembrar que a JunoCam — a câmera de luz visível — é só uma “cereja do bolo” na missão. O que conta mais são os resultados obtidos com os outros sete instrumentos embarcados, que sondam campos magnéticos, micro-ondas, infravermelho e ultravioleta. Com eles poderemos saber o que se esconde “por baixo” da Grande Mancha Vermelha e, assim, ter um melhor entendimento da dinâmica dessa tempestade gigante joviana que está rolando há pelo menos 350 anos.

Há muitas questões em aberto sobre ela, como o porquê da cor avermelhada das nuvens e se o encolhimento visto em tempos recentes é sinal de que ela está para sumir. Portanto, não saia daí.

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Astronomia: Na cara da Grande Mancha Vermelha https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/07/10/astronomia-na-cara-da-grande-mancha-vermelha/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/07/10/astronomia-na-cara-da-grande-mancha-vermelha/#comments Mon, 10 Jul 2017 05:00:58 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2013/09/jupiter-voyager-150x150.gif http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6549 Sonda Juno realiza hoje um voo rasante sobre a Grande Mancha Vermelha de Júpiter.

CARTÃO POSTAL
É difícil pensar em algo que seja, ao mesmo tempo, tão hipnoticamente encantador e apavorante quanto a Grande Mancha Vermelha de Júpiter, um “cartão postal” clássico do Sistema Solar. Embora os registros mais seguros dela comecem em 1830, há quem diga que ela já é vista ao telescópio desde 1665. Uma tempestade que perdura por quase 400 anos — e quem sabe quanto mais?

É HOJE!
Pois bem. Para os fãs da Grande Mancha Vermelha, hoje é um dia especial. É quando a sonda Juno faz seu primeiro sobrevoo dela. Jamais uma espaçonave passou tão perto antes, e a Nasa promete que todos os oito instrumentos estarão ligados, colhendo uma montanha de dados — e imagens — da principal marca registrada do rei dos planetas solares.

SETE ÓRBITAS E UM ANO
Há um ano, a Juno chegou a Júpiter, com a meta de decifrar sua estrutura interna e matar a charada de sua formação. Posicionada numa órbita alongada, ela realiza um sobrevoo próximo do planeta a cada 53 dias. Às 22h55 de hoje, estará a meros 3.500 km do topo das nuvens jovianas. E, apenas 11 minutos depois, já um pouco mais longe, passará sobre a Grande Mancha Vermelha.

VAI FUNDO
A JunoCam, câmera de luz visível, estará apontada para lá, assim como sensores de rádio, infravermelho e ultravioleta. Com isso, a Nasa espera registrar não só detalhes da estrutura superior das nuvens como também ter pistas do que existe abaixo delas, a centenas de quilômetros de profundidade — uma busca pela raiz do persistente fenômeno.

PARA GUARDAR
Embora a Grande Mancha Vermelha já esteja na mira dos nossos telescópios há séculos, ainda não compreendemos mesmo aspectos básicos, como o porquê de sua cor vermelha e quais são os turbulentos processos que a sustentam. E, para tornar tudo mais emocionante, sabemos que ela tem encolhido, e rápido, ao longo das últimas décadas. Será que ela vai voltar a crescer? Vai sumir de vez? Não sabemos. Mas, depois de hoje, pelo menos poderemos dizer que não perdemos a oportunidade de olhá-la bem de perto.

A Nasa diz que as imagens do sobrevoo devem ser divulgadas na sexta-feira (14).

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

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Campo magnético e turbulências polares de Júpiter surpreendem cientistas da sonda Juno https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/05/25/campo-magnetico-de-jupiter-surpreende-cientistas/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/05/25/campo-magnetico-de-jupiter-surpreende-cientistas/#comments Thu, 25 May 2017 18:10:13 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/05/juno-jupiter-linda-180x145.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6411 Júpiter tem um campo magnético ainda mais intenso do que se imaginava, seus polos turbulentos são diferentes de tudo que os cientistas já viram e os padrões atmosféricos vistos no topo das nuvens jovianas se aprofundam por centenas de quilômetros.

Essas são algumas das descobertas feitas pela sonda Juno, que desde 5 de julho do ano passado orbita o maior planeta do Sistema Solar. Nesta quinta-feira (25), os cientistas envolvidos com a missão apresentaram, em entrevista coletiva, os primeiros resultados científicos consolidados, publicados em dois artigos na edição desta semana da revista científica “Science” (aqui e aqui).

VEJA A COLETIVA, COM TRADUÇÃO SIMULTÂNEA

Os resultados remetem a apenas duas passagens próximas por Júpiter, realizadas pela espaçonave da Nasa a cada 53 dias, numa órbita bastante alongada que a traz a cerca de 4.000 km do topo das nuvens jovianas em seu ponto mais próximo.

Sondagens da atmosfera realizadas em micro-ondas mostraram que os padrões atmosféricos dominados por nuvens de amônia se mantêm nas profundezas da atmosfera, onde a pressão atinge mais de cem vezes a que se encontra na Terra ao nível do mar. Outro aspecto interessante é que as observações sugerem a existência, de Júpiter, de algo similar às células de Hadley — padrões de circulação atmosférica comuns na Terra, em que o ar circula na direção dos polos na alta atmosfera e retorna na direção do equador nas porções inferiores. Mas, claro, como em Júpiter, trata-se de uma versão gigante das células de Hadley terrestres.

Imagens feitas pela Juno mapeiam Júpiter em infravermelho. (Crédito: Connerney et al., Science)

CADA GIGANTE É UM GIGANTE
Por falar nas regiões polares, elas foram a grande surpresa de Júpiter. Nenhuma espaçonave havia feito observações tão detalhadas delas. “Apenas a Pioneer 11 obteve imagens não oblíquas sobre o polo norte de Júpiter, mas 10 vezes mais distante que a Juno”, escrevem os autores liderados por Scott Bolton, cientista-chefe da missão.

Polos norte e sul de Júpiter, vistos pela Juno. (Crédito Connerney et al., Science)

“As imagens dos polos de Júpiter mostram uma cena caótica, diferente dos polos de Saturno”, detalham os pesquisadores. “Eles parecem ser diferentes dos de Saturno de dois modos específicos. Primeiro, não há equivalente do hexágono polar norte de Saturno, embora ondas circumpolares tenham sido observadas. Segundo é a falta de um vórtice que seja rápido (150 m/s), compacto (2 graus ou 2.500 km em raio), e centrado no polo, como aqueles nos polos norte e sul de Saturno. Embora a área a 3 graus de latitude em torno do polo norte [de Júpiter] não esteja iluminada, o polo sul é visível e os traços visíveis lá são similares a outros na região. Logo, as dinâmicas e estruturas polares das atmosferas desses dois planetas são fundamentalmente diferentes. Observações futuras estabelecerão melhor a morfologia completa dos polos em todas as longitudes e caracterizarão sua evolução com o tempo.”

Outra coisa que irá exigir mais tempo de observação é uma das perguntas fundamentais a motivar a missão Juno: qual é a estrutura interna de Júpiter? Ele tem um núcleo feito de elementos pesados?

O trabalho nessas questões já começou. O magnetômetro da Juno demonstrou, por exemplo, que o campo magnético joviano é maior do que se esperava. Na aproximação máxima da sonda, ela registrou um campo de 7,766 gauss — mais de dez vezes o máximo medido na superfície da Terra, no polo sul (0,66 gauss).

O campo magnético continuará a ser medido ao longo da missão, a fim de que se investigue sua dinâmica. E, claro, ele dá pistas da estrutura interna de Júpiter e de onde e como, em seu interior, opera o dínamo que gera a magnetosfera.

Da mesma maneira, estudos com precisão inédita da gravidade de Júpiter estão sendo feitos com a Juno. Com a medida de apenas poucas passagens próximas, ainda não dá para cravar, e nenhum dos modelos de estrutura internos formulados até hoje se encaixa com as observações. Mas um estudo usando os dados até agora colhidos, e publicado em artigo no periódico “Geophysical Research Letters”, sugere que o núcleo com elementos pesados pode estar disperso numa região com cerca de metade do diâmetro do planeta — o que é completamente inesperado.

“Tínhamos dois modelos principais, um que Júpiter tivesse um núcleo rochoso compacto, com uma ou duas massas terrestres, e outro que Júpiter não tivesse núcleo algum”, disse Scott Bolton. “Nossos dados são incompatíveis com essas duas visões. O que parece é que o que existe é um núcleo difuso, que talvez vá do centro até a metade de Júpiter.”

No conjunto, os resultados, que também incluem observações em ultravioleta das auroras jovianas, estão mudando nossa forma de entender o maior dos planetas da família solar. Estamos, com isso, mais próximos de elucidar sua formação e, por consequência, a maneira como ele moldou o resto do sistema planetário em razão de sua enorme influência gravitacional.

Com apenas seis órbitas concluídas, a aventura da Juno está só começando.

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AO VIVO: Nasa apresenta primeiros resultados científicos da sonda Juno em Júpiter https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/05/25/ao-vivo-nasa-apresenta-primeiros-resultados-cientificos-da-juno-em-jupiter/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/05/25/ao-vivo-nasa-apresenta-primeiros-resultados-cientificos-da-juno-em-jupiter/#comments Thu, 25 May 2017 17:00:22 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/05/juno-jupiter-180x101.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6417 Nesta quinta-feira (25), a partir das 15h, a Nasa realiza entrevista coletiva para apresentar os primeiros resultados científicos consolidados da sonda Juno, que explora Júpiter desde julho de 2016. Confira com o Mensageiro Sideral a transmissão em áudio ao vivo, com tradução simultânea.

Participam da coletiva:

– Diane Brown, executiva de programa no QG da Nasa, em Washington.
– Scott Bolton, cientista-chefe da Juno, do Instituto de Pesquisa do Sudoeste, em San Antonio.
– Jack Connerney, vice-cientista-chefe, do Centro Goddard de Voo Espacial da Nasa, em Greenbelt.
– Heidi Becker, chefe de investigação do monitoramento de radiação da Juno, no Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, em Pasadena.
– Candy Hansen, co-pesquisadora da Juno, no Instituto de Ciência Planetária em Tucson.

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Novas imagens da sonda Juno em Júpiter deixam cientistas alvoroçados https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2016/12/14/novas-imagens-da-sonda-juno-em-jupiter-deixam-cientistas-alvorocados/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2016/12/14/novas-imagens-da-sonda-juno-em-jupiter-deixam-cientistas-alvorocados/#comments Wed, 14 Dec 2016 03:50:58 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2016/12/4D4F23F2-BBA1-4354-9861-342489B94E12-6784-00000CC521A3DD5B_tmp-e1481687022497-129x180.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=5712 A épica missão Juno realizou mais uma passagem de raspão por Júpiter no último domingo (11), e a boa notícia é que, desta vez, os instrumentos funcionaram todos à perfeição, conforme a espaçonave passou a pouco mais de 4.000 km do topo das nuvens jovianas. Agora, a ótima notícia é que os cientistas ficaram alvoroçados quando foram apresentados a alguns dos resultados, durante reunião da União Geofísica Americana (AGU), em San Francisco, na terça-feira.

“A JunoCam acabou de flagrar os anéis de Júpiter PELO LADO DE DENTRO”, escreveu Simon Porter, pesquisador do Instituto de Pesquisas do Sudoeste (SwRI), direto do encontro científico, via Twitter. “Oohs e aahs audíveis na sala.”

Para não deixar o público agonizando, o JPL (Laboratório de Propulsão a Jato) da Nasa divulgou no fim da noite de terça uma das imagens do encontro, feita quando a Juno estava a 24.600 km do topo das nuvens jovianas. Nela, podemos ver mais de perto uma das “pérolas” do planeta, uma tempestade que aparece com uma forma oval branca.

Imagem feita pela JunoCam a 24.600 km do topo das nuvens de Júpiter. Crédito: Nasa
Imagem feita pela JunoCam a 24.600 km do topo das nuvens de Júpiter, no dia 11 de dezembro de 2016. (Crédito: Nasa)

A “corrente de pérolas” é uma faixa com diversas dessas ocorrências, localizadas no hemisfério Sul de Júpiter. Monitoradas cuidadosamente desde 1986, elas aparecem e desaparecem, variando em número. Houve tempos em que houve apenas seis delas, e o número máximo observado foi nove. Atualmente, há oito “pérolas”, e a fotografada é a sétima.

Os gerentes da missão começaram a publicar nesta quarta-feira (14) algumas das imagens colhidas nesse mais recente encontro próximo com Júpiter (perijove 3, para os íntimos). Entre elas figuram algumas do momento de máxima aproximação. Veja a seguir a mais interessante dessa fase mais aguda e rápida do voo, a 4.971 km do topo das nuvens.

Imagem feita pela JunoCam a 4.971 km do topo das nuvens de Júpiter, no dia 11 de dezembro de 2016. (Crédito: Nasa)
Imagem feita pela JunoCam a 4.971 km do topo das nuvens de Júpiter, no dia 11 de dezembro de 2016. (Crédito: Nasa)

Imagens similares foram colhidas no perijove 1, mas ali os cientistas ainda experimentavam com a calibragem da câmera, e o resultado foi uma foto que mais lembrava um borrão. Agora, já vemos uma melhora. E deve ficar ainda mais interessante nos próximos encontros, conforme o comportamento da câmera vai sendo mais bem compreendido.

(Um aspecto interessante que torna a missão “à prova de teorias da conspiração” é que a JunoCam é operada em cooperação com voluntários que se inscreveram no site da Juno. Em geral astrônomos amadores, eles ajudam a escolher os alvos de observação durante os perijoves, têm acesso às imagens “cruas” e podem fazer seu próprio processamento delas; as melhores são escolhidas e publicadas no site da missão. Ou seja, não há segredos.)

Resta, contudo, a expectativa pela tão falada imagem processada dos anéis jovianos. Diferentes dos de Saturno, eles são majoritariamente feitos de rocha (em vez de gelo), sendo portanto mais escuros, e são estreitos, o que os torna bem difíceis de observar.

PASSO DE TARTARUGA
Quanto às revelações científicas da missão, que tem por principal objetivo desvendar a estrutura interna do maior planeta do Sistema Solar, teremos de ser pacientes. Isso porque um problema com o sistema de válvulas de combustível fez com que a manobra que reduziria a órbita da Juno de 53 para 14 dias fosse adiada indefinidamente.

Com uma passagem próxima de Júpiter a cada dois meses, praticamente, a coleta de dados será bem mais lenta. Para que se tenha uma ideia, desde que chegou ao planeta gigante, a Juno passou quatro vezes por ele.

Na primeira (perijove 0), fez sua tensa manobra de inserção orbital (transmitida ao vivo pelo Mensageiro Sideral). Na segunda (perijove 1), colheu seus primeiros dados científicos e calibrou os instrumentos para a observação de Júpiter. A terceira (perijove 2) estava destinada à manobra de encurtamento da órbita, que acabou cancelada pelo problema hidráulico. Diante do revés, os cientistas bem que tentaram usar a passagem para observações científicas, mas na hora agá, no dia 19 de outubro, a sonda bugou e entrou em “modo de segurança” (a Nasa nega que o efeito tenha alguma conexão com a prisão de Eduardo Cunha, na mesma data). Eis que chegamos agora à quarta passagem (perijove 3), mas na real apenas a segunda usada para produzir imagens e leituras do planeta. A próxima virá agora só no começo de fevereiro de 2017.

Portanto, meu caro leitor, paciência. Até mesmo para sua esposa Juno o velho Júpiter reluta em revelar seus segredos mais íntimos.

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Astronomia: Juno investiga o interior de Júpiter https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2016/11/14/astronomia-juno-investiga-o-interior-de-jupiter/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2016/11/14/astronomia-juno-investiga-o-interior-de-jupiter/#comments Mon, 14 Nov 2016 04:00:36 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2016/11/juno-jupiterrise-180x74.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=5609 Aos trancos e barrancos, a Juno começa a revelar o que existe no interior de Júpiter.

O DESAFIO DE JÚPITER
Depois de mais de quatro meses em órbita de Júpiter, a sonda Juno não está tendo vida fácil. Até agora, após passar de raspão pelo gigante gasoso três vezes, apenas em uma delas foi possível colher imagens e resultados científicos.

BANHOS DE RADIAÇÃO
A dureza já era esperada. Com seu campo magnético megamasterblaster, Júpiter é cercado por cinturões intensos de radiação, capazes de fritar os circuitos de qualquer espaçonave convencional. Ao passar a apenas 4.100 km do topo das nuvens jovianas, a Juno precisa atravessá-los repetidas vezes.

CORRIDA MALUCA
A órbita da sonda foi projetada para reduzir ao mínimo essa exposição, permanecendo o menor tempo possível nos cinturões. Ainda assim, a Juno tem sofrido uma série de problemas técnicos que estão deixando os cientistas de cabelo em pé.

BUGADA
No dia 19 de outubro, ela deveria fazer uma manobra de ajuste que encurtaria o tempo que leva para completar uma órbita de 53 para 14 dias. Mas uma falha no sistema de combustível fez com que os gerentes adiassem a manobra, com medo de perder a sonda de vez. E, para tornar tudo ainda mais dramático, no mesmo dia, seu computador de bordo entrou em “modo de segurança”, sobrevoando Júpiter sem registrar nada.

CIÊNCIA LENTA
A próxima passagem só deve acontecer em 11 de dezembro. E, para evitar riscos, a órbita de 53 dias será mantida. “O único impacto dessa decisão é que eu terei de ser paciente, porque obteremos os dados científicos lentamente”, brincou Scott Bolton, cientista-chefe da Juno.

O QUE JÁ SE APRENDEU
Apesar dos reveses, os resultados até aqui são fascinantes. Os cientistas já descobriram que a estrutura de nuvens se estende a uma profundidade de pelo menos uns 400 km. Também constataram que o campo magnético e as auroras jovianas são ainda mais intensos do que se imaginava. Pouco a pouco, a Juno vai cumprindo sua missão: desvendar a estrutura interna do maior planeta do Sistema Solar.

BÔNUS!
Não se esqueça de ficar de olho na “superlua” da noite desta segunda-feira (14), a mais próxima da Terra em 68 anos. A próxima superlua vem no mês que vem, mas a próxima tão perto assim, só em 2034. Confira também os demais eventos celestes do mês!

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

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Problema com a Juno impede ajuste de órbita https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2016/10/18/problema-com-a-juno-impede-ajuste-de-orbita/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2016/10/18/problema-com-a-juno-impede-ajuste-de-orbita/#comments Tue, 18 Oct 2016 02:50:32 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2016/10/m16-122-180x101.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=5456 A sonda Juno está passando por um aperto em Júpiter. Um problema com duas válvulas que compõem o sistema de pressurização do combustível obrigou os engenheiros a cancelarem a tentativa de reajuste de órbita marcada para esta quarta-feira (19).

A manobra estava agendada desde antes da chegada da espaçonave ao maior planeta do Sistema Solar, no dia 5 de julho. De início, a Juno se estabeleceria numa órbita bastante elíptica com período de 53,4 dias. Após o segundo perijove — momento de máxima aproximação com Júpiter –, um disparo de seu motor reduziria o período orbital para 14 dias.

Esse é o procedimento que estava marcado para quarta-feira e que agora teve de ser adiado. “A telemetria indica que duas válculas de checagem de hélio que têm um papel importante no disparo do motor principal da espaçonave não operaram conforme o esperado”, disse Rick Nybakken, gerente de projeto da Juno no JPL (Laboratório de Propulsão a Jato) da Nasa.

Imagem dos turbilhões atmosféricos do polo Sul de Júpiter, fotografado pela Juno em 27 de agosto. (Crédito: Nasa)
Imagem dos turbilhões atmosféricos do polo Sul de Júpiter, fotografado pela Juno em 27 de agosto. (Crédito: Nasa)

O programado era que as válvulas se abrissem em alguns segundos, mas o procedimento levou vários minutos. Isso naturalmente causou apreensão no controle da missão, que decidiu investigar a fundo a anomalia antes de acionar o motor da sonda e colocá-la sob risco maior.

Isso significa que ela passará de raspão por Júpiter na quarta-feira, mas não reduzirá sua órbita. A próxima tentativa, portanto, só poderá acontecer no próximo perijove, daqui a 53,4 dias, em 11 de dezembro.

IMPACTO CIENTÍFICO
A mudança repentina de planos levou os cientistas a replanejarem suas observações para quarta-feira. Originalmente, por conta do disparo do motor, nem todos os instrumentos a bordo colheriam dados. Agora, todos estarão em operação para o perijove.

Será a segunda oportunidade de registrar imagens a cerca de 4.000 km de distância do topo das nuvens jovianas. (Veja, no vídeo abaixo, uma sequência de fotos que mostra, de forma dramática, a aproximação anterior, em 27 de agosto.)

A notícia do problema, óbvio, não é boa. Mas ainda não está claro que impacto o problema poderá ter na missão a longo prazo. Por um lado, é uma manobra que pode ser realizada sem problemas no próximo perijove. E, no limite, a sonda poderia se manter na órbita atual e cumprir seus objetivos principais de onde está — mas a um ritmo muito mais lento.

Seja qual for o desfecho, cientistas e engenheiros terão um longo trabalho pela frente, essencialmente replanejando todas as observações daqui para a frente (seja na órbita atual, ou num reajuste mais adiante). Mas é melhor isso do que perder a espaçonave por conta de uma falha explosiva do motor.

A Nasa realizará uma entrevista coletiva no fim da tarde de quarta-feira para discutir esse problema e abordar os resultados científicos iniciais colhidos pela Juno. O Mensageiro Sideral, claro, estará de olho.

SEMANA ESPACIAL
Mudando de assunto, um cargueiro Cygnus partiu com sucesso às 19h45 desta segunda-feira (17), rumo à Estação Espacial Internacional, retomando com sucesso o voo dos foguetes Antares, depois que uma explosão espetacular os tirou de circulação dois anos atrás.

E a super-sequência espacial continuará semana adentro. Nesta quarta, além da coletiva da Juno, uma nave Soyuz russa deve partir com três astronautas para promover a rotação de tripulação a bordo do complexo orbital internacional. E, no mesmo dia, pela manhã, europeus e russos tentarão promover seu primeiro pouso bem-sucedido, não tripulado, em Marte. E, claro, com transmissão ao vivo do Mensageiro Sideral, a partir das 11h. Não perca!

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