Mensageiro Sideral https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br De onde viemos, onde estamos e para onde vamos Sat, 04 Dec 2021 19:09:39 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Uma superterra na Estrela de Barnard https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/11/14/uma-superterra-na-estrela-de-barnard/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/11/14/uma-superterra-na-estrela-de-barnard/#respond Wed, 14 Nov 2018 18:00:42 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/11/barnard-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8313 Com muito processamento e cerca de 20 anos de dados de observações, um grupo internacional de astrônomos detectou evidências de um planeta orbitando a Estrela de Barnard, localizada a apenas 6 anos-luz de distância.

Trata-se da estrela solitária mais próxima do Sol, que só não está mais perto que o sistema trinário Alfa Centauri (4,3 anos-luz). Isso anima os pesquisadores quanto às possibilidades de fazer observações diretas da luz do planeta com a próxima geração de telescópios e, assim, caracterizá-lo detalhadamente.

O planeta é uma superterra — com porte um pouco maior que o do nosso — e completa uma volta em torno de sua estrela a cada 233 dias. Se fosse no Sistema Solar, sua órbita seria um pouquinho maior que a de Vênus. Mas a Estrela de Barnard é bem menor e menos brilhante que o Sol, o que significa que, a essa distância, o mundo recém-descoberto deve ser um deserto gélido e hostil à vida, com temperatura estimada em -170 °C.

A descoberta foi feita pelo método de velocidade radial, também conhecido como o do “bamboleio gravitacional”. A lógica é que, conforme um planeta gira ao redor da estrela, ele induz um suave movimento na estrela, para lá e para cá, que altera o comprimento de onda da luz que emana dela. Ao monitorar um padrão repetitivo, os pesquisadores podem deduzir a distância e um valor mínimo da massa do planeta responsável.

Na teoria é simples. Na prática, bem mais complicado, porque a própria atividade estelar pode ser confundida com o padrão induzido pelo planeta.

“É, foi difícil”, diz Guillem Anglada-Escudé, pesquisador da Queen Mary University, de Londres, e coautor do trabalho, publicado na edição desta semana da revista Nature. “E a detecção não é tão limpa quanto gostaríamos. Mas é hora de reportar, já que as evidências agora são muito fortes.”

Além de vasculhar a base de dados com cerca de 20 anos de observações da Estrela de Barnard, com sete instrumentos diferentes, a equipe lançou mão de uma temporada de novas observações com os espectrógrafos Harps, do ESO (Observatório Europeu do Sul), e Carmenes, do Observatório de Calar Alto, na Espanha.

Com uma análise cuidadosa de todos os dados, antigos e novos, os pesquisadores calculam a chance de um falso positivo em menos de 1%.

As observações sugerem que a superterra Estrela de Barnard b tem pelo menos 3,2 vezes mais massa que a Terra (o valor exato depende da inclinação da órbita, que no momento é desconhecida).

UMA LONGA HISTÓRIA
Para os fissurados por astronomia, não passará despercebido o fato de que há muito tempo já se fala em planetas orbitando a Estrela de Barnard.

O astro ganhou esse nome graças às observações reportadas em 1916 pelo astrônomo americano Edward E. Barnard. Ele notou que a estrela, localizada na constelação de Ofiúco, estava mudando de lugar no céu em alta velocidade — deslocando-se depressa com relação a nós (de fato, ela será a estrela mais próxima do Sistema Solar em mais 10 mil anos, chegando a uma distância mínima de 3,8 anos-luz). Mas o bicho pegou mesmo nos anos 1960, quando o astrônomo holandês Peter van de Kamp disse ter descoberto evidências de planetas gigantes gasosos ao redor da estrela.

Ué, mas o primeiro exoplaneta descoberto ao redor de uma estrela ativa não veio só em 1995? Pois é. Embora tenha passado duas décadas reportando esses planetas gigantes gasosos ao redor da Estrela de Barnard, no fim ficou demonstrado que as “descobertas” de Van de Kamp não passaram de falsos positivos, causados por efeitos induzidos por algo tão trivial quando o processo de manutenção do telescópio.

Fato é que, desde então, cientistas têm procurado os “verdadeiros” planetas de Barnard. Agora acharam o primeiro. E, veja só, talvez exista também um gigante gasoso ao redor dela, como sugeria — por motivos errados — Van de Kamp.

“Há evidências muito fortes de um padrão que tipicamente indicaria a presença de um planeta gigante gasoso — maior que Netuno — com período orbital muito longo, mas o conjunto de dados não é ainda suficiente para dizer muito mais que isso”, diz Anglada-Escudé.

Em seu artigo científico, os pesquisadores sugerem que esse gigante gasoso, se existir, deve completar uma volta ao redor da Estrela de Barnard a cada 18 anos, aproximadamente. Mas, com os dados à disposição, ainda é cedo para afirmar que ele realmente esteja lá.

E quanto a planetas interiores, mais próximos da estrela que o Estrela de Barnard b, poderia haver algum? Improvável, mas não impossível.

“Parece não haver nenhum planeta ‘significativo’ dentro da órbita do Estrela de Barnard b”, diz Anglada-Escudé. “Poderíamos ter detectado coisas tão pequenas quanto a Terra e não vimos nada até agora. Isso não significa que eles não estão lá — poderia haver planetas numa órbita inclinada que não teríamos como detectar –, mas não há evidências para qualquer mundo como a Terra, ‘ameno’, até agora.”

Ou seja, diferentemente do Sol e de Proxima Centauri, a Estrela de Barnard parece não ter ganho na loteria cósmica dos planetas potencialmente habitáveis. Mas isso não torna a atual descoberta menos importante.

Concepção artística da superfície do planeta Estrela de Barnard b, um deserto gélido palidamente iluminado por seu astro-rei. (Crédito: ESO)

IMPLICAÇÕES
Uma das principais vantagens de encontrar planetas ao redor da Estrela de Barnard é que ela está muito próxima de nós. Isso significa que, com a próxima geração de telescópios em solo e no espaço, na década de 2020, existe a perspectiva de que possamos detectar a luz refletida por eles de forma direta.

Essa luz carrega consigo uma “assinatura” que pode informar uma grande quantidade de dados sobre a composição da superfície e da atmosfera desse mundo, além de seu padrão de rotação e nuvens, entre outros parâmetros. Uma visão até agora sem precedentes do ambiente de um exoplaneta.

Outro aspecto interessante é a descoberta de que o Estrela de Barnard b está numa região de seu sistema que é muito próxima à chamada “linha do gelo”, a fronteira que divide a área do sistema em que materiais voláteis (como água) se tornam sólidos no espaço e ajudam a compor os planetas.

Há algumas predições teóricas de que a região da linha do gelo é particularmente propícia à formação planetária, e a descoberta deste novo mundo pode dar força a essa ideia.

Agora, claro que a etapa número zero agora é confirmar que o planeta está mesmo lá. Afinal, 99% de probabilidade não é 100%. E os próprios autores da descoberta têm uma sugestão para isso, sabor ironia.

Eles dizem que as medições de astrometria de alta precisão feitas pelo satélite europeu Gaia, que vêm se acumulando desde seu lançamento, em 2013, poderão em breve não só confirmar que o planeta está lá, mas também determinar sua massa (e não apenas seu valor mínimo, como a técnica da velocidade radial).

Astrometria consiste em observar com precisão a posição da estrela no céu com o passar do tempo, e com suficiente precisão seria possível ver o bamboleio gravitacional causado pelo planeta diretamente, e não apenas inferi-lo pela distorção causada pela assinatura de luz da estrela.

Foi essa justamente a técnica empregada por Peter van de Kamp, na época sem sucesso, para detectar seus falsos positivos em Barnard. Seis décadas depois, agora é para valer.

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A fúria das estrelas anãs vermelhas https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/10/22/a-furia-das-estrelas-anas-vermelhas/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/10/22/a-furia-das-estrelas-anas-vermelhas/#respond Mon, 22 Oct 2018 04:00:44 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/ana-vermelha-planeta-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8256 Bastaram 10 horas de observações do Telescópio Espacial Hubble para que astrônomos detectassem uma supererupção estelar, daquelas capazes de estragar a habitabilidade de um planeta, em uma estrela anã vermelha. Pois é, o Universo costuma ser bem mais hostil lá fora do que viver na Terra sugere.

O resultado, aceito para publicação no Astrophysical Journal, faz parte de um estudo chamado Hazmat, voltado justamente para investigar as ameaças a que estão submetidos mundos potencialmente habitáveis ao redor de estrelas anãs vermelhas.

Menores que o nosso Sol, esses astros são extremamente comuns e compõem cerca de três quartos de todas as estrelas em nossa Via Láctea. Sabe-se também que, sobretudo em sua juventude, elas são muito mais ativas, com frequentes e imensas explosões de plasma e radiação. Mas os detalhes ainda carecem de investigação, e essa é uma das motivações do estudo Hazmat.

O projeto está voltado para a observação de estrelas anãs vermelhas jovens (40 milhões de anos), adolescentes (650 milhões de anos) e maduras (com bilhões de anos). A primeira fase contemplou 12 estrelas jovens, observadas em luz ultravioleta. Ao todo, foram observadas 18 explosões estelares, uma delas tão forte que pode ser classificada como uma “superexplosão”. Eles a apelidaram de Hazflare.

“Com o Sol, temos cem anos de boas observações e, nesse período, vimos uma ou duas explosões com energia comparável à da Hazflare”, disse Parke Loyd, pesquisador da Universidade Estadual do Arizona e primeiro autor da pesquisa. “Em menos de um dia dessas estrelas jovens, pegamos a Hazflare, o que significa que temos superexplosões acontecendo todos os dias ou talvez várias vezes ao dia.”

Uma explosão dessas, viajando na direção de um planeta como a Terra, seria capaz de varrer completamente sua atmosfera. O que, é claro, é uma péssima notícia para qualquer coisa que pretenda viver nele.

Os pesquisadores agora seguem trabalhando e passam a investigar estrelas com mais idade, sabidamente mais tranquilas. É possível que, com o passar de bilhões de anos, até as mais rebeldes anãs vermelhas se tornem menos inóspitas a planetas habitáveis. Resta contudo saber se há mecanismo que permita que eles restaurem sua atmosfera, varrida diversas vezes durante a evolução inicial do sistema.

A pergunta é premente, e a resposta, idem. Espera-se que, com a próxima geração de telescópios em terra e no espaço, seja possível estudar a atmosfera de planetas ao redor de anãs vermelhas próximas e assim caracterizar o ambiente que impera em suas superfícies.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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Pela primeira vez, grupo observa diretamente planeta recém-nascido https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/07/02/pela-primeira-vez-grupo-observa-diretamente-planeta-recem-nascido/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/07/02/pela-primeira-vez-grupo-observa-diretamente-planeta-recem-nascido/#respond Mon, 02 Jul 2018 10:00:49 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/eso1821a-320x213.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7888 Pela primeira vez, um grupo de astrônomos faz uma detecção direta e inequívoca de um planeta recém-nascido, possivelmente ainda em fase de crescimento. Trata-se de um avanço extremamente importante para que os cientistas possam finalmente decifrar como se dá o processo de formação planetária.

O planeta orbita uma estrela anã laranja conhecida como PDS 70, localizada na constelação do Centauro, com apenas 5,4 milhões de anos. Isso é sinônimo de “tenra infância” em termos astronômicos. Acredita-se que a formação de planetas se dê nos primeiros 10 milhões de anos de vida da estrela, o que significa que PDS 70 foi basicamente “flagrada no ato” de fabricar mundos.

(PDS, por sinal, é sigla de Pico dos Dias Survey, um esforço de catalogação de estrelas feito no Observatório do Pico dos Dias, em Brazópolis, Minas Gerais. Brasil-sil-sil!!!)

As observações foram feitas com o instrumento Sphere, que equipa o VLT (Very Large Telescope), instalação pertencente ao ESO (Observatório Europeu do Sul), no Chile. O Sphere foi projetado justamente para estudar diretamente a luz de planetas jovens e dos discos de gás e poeira que dão origem a eles.

Com efeito, as observações revelaram a presença de um desses discos ao redor de PDS 70, com um diâmetro de 130 unidades astronômicas. E é claramente perceptível a presença de um vão a cerca de 22 unidades astronômicas do astro central. (Uma unidade astronômica, ou UA, é a distância média Terra-Sol, cerca de 150 milhões de km.)

Vãos como esse já foram observados ao redor de muitas outras estrelas jovens e é uma desconfiança perene dos cientistas que muitos deles sejam produzidos pela presença de planetas em formação. Em tese, ao acumularem cada vez mais gás e poeira, esses mundos recém-nascidos vão abrindo caminho no disco, criando uma trilha vazia. Faz todo sentido, mas ninguém havia feito uma detecção indisputável e direta de um planeta num desses vãos — até agora.

A equipe liderada por Miriam Keppler, do Instituto Max Planck para Astronomia, na Alemanha, conseguiu a façanha — nas imagens produzidas com o Sphere, claramente se vê um ponto luminoso correspondente a um planeta com massa várias vezes maior que a de Júpiter, a 22 UA da estrela central.

“Esses discos ao redor de estrelas jovens são o local de nascimento de planetas, mas até agora apenas um punhado de observações havia detectado pistas de planetas-bebês neles”, disse Keppler em nota, ressaltando que, em nenhum desses casos, um planeta havia sido clara e diretamente observado, como agora.

O resultado começa a abrir a caixa-preta dos processos de formação planetária, um tema sobre o qual já se avançou um bocado, mas quase tudo baseado em modelos e simulações, comparados a sistemas planetários maduros. Ou seja, um conhecimento ainda tentativo e cheio de incertezas. Poder ver o processo em pleno andamento, com riqueza de detalhes, é fundamental para consolidar e aperfeiçoar nossas hipóteses, contrastando-as com observações diretas.

CARACTERIZAÇÃO
Outro aspecto importante de fazer a observação direta é poder usar a assinatura de luz do planeta para descobrir de que ele é feito e como ele é. Não por acaso, um segundo artigo científico, produzido por muitos dos mesmos pesquisadores ligados à descoberta do planeta, se debruçou exatamente sobre a caracterização do mundo-bebê de PDS 70. Os dois artigos foram publicados nesta segunda-feira (02) no periódico Astronomy & Astrophysics.

Os resultados são para lá interessantes: além de sugerirem que o planeta está num órbita aproximadamente circular no mesmo plano do disco onde ele nasceu, completando uma volta ao redor de sua estrela a cada 120 anos aproximadamente, eles indicam que a temperatura dele no topo das nuvens (sim, a assinatura de luz indica a presença de nuvens!) é de cerca de 1.000 °C. Você pode estranhar um calor infernal desses, tão longe da estrela-mãe, mas é o que se espera de um mundo que esteja em formação, bombardeado constantemente por colisões com objetos no disco protoplanetário e ainda muito jovem para poder ter dissipado todo o calor gerado em seu nascimento. Por sinal, se não fosse esse o caso, o Sphere não poderia detectá-lo — o brilho no infravermelho de planetas gigantes “frios” e maduros, como os do Sistema Solar, seria insuficiente para permitir a detecção.

Um aspecto curioso é que também há sinais — embora sejam apenas sugestivos no momento — de que o planeta tem ao seu redor seu próprio minidisco de gás e poeira. É uma aposta razoável que esse minidisco dará origem a luas, do mesmo jeito que deve ter acontecido ao redor de Júpiter há 4,5 bilhões de anos.

ARQUITETURAS
Com a descoberta, os astrônomos poderão agora observar em tempo real a evolução desse sistema e procurar sinais da interação do planeta — provavelmente ainda não totalmente formado — com o disco protoplanetário. Acredita-se que aí esteja a chave para compreender o processo de migração planetária, fenômeno ainda misterioso, mas que deve ser responsável pela grande variedade de arquiteturas nos sistemas planetários maduros já descobertos. Em alguns deles, encontramos planetas gigantes gasosos quase colados à estrela-mãe, e tudo que sabemos sobre como esses mundos se formam indica que eles só poderiam ter nascido mais afastados. É na interação com o disco protoplanetário que eles acabariam mergulhando para dentro, segundo nossos modelos.

Como exatamente isso se dá ainda é um mistério. Com efeito, um estudo publicado no último sábado (30) por pesquisadores no Reino Unido e no Japão baseado em simulações feitas em supercomputador sugere que essa migração pode acontecer não só de fora para dentro, trazendo gigantes gasosos para mais perto de sua estrela, mas também de dentro para fora, levando-os ainda mais longe do que o local original de seu nascimento.

Este trabalho, publicado nos Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, sugere que muitos planetas gigantes podem acabar orbitando a distâncias entre 50 e 200 unidades astronômicas de sua estrela (10 a 40 vezes mais afastados que Júpiter do Sol). Será? É o tipo de coisa que descobertas como o PDS 70 b ajudarão a testar.

E, assim, passo a passo, os cientistas vão decifrando o que faz cada sistema planetário ser como é — e isso inclui, naturalmente, o nosso. Somente investigando toda a variedade que há lá fora podemos de fato entender como a formação dos planetas se deu por aqui para terminar como terminou. E, claro, esse desfecho foi determinante para a existência da Terra como ela é e, por consequência, para a nossa existência. No fundo, a pergunta que os cientistas querem responder é: como viemos parar aqui?

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Astronomia: Um gigante em Epsilon Indi https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/03/26/astronomia-um-gigante-em-epsilon-indi/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/03/26/astronomia-um-gigante-em-epsilon-indi/#respond Mon, 26 Mar 2018 05:00:06 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/03/Snapshot-45-320x213.png http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7513 Grupo encontra exoplaneta do tipo Júpiter mais próximo, a 12 anos-luz do Sistema Solar.

LOGO ALI
Uma descoberta muito interessante vem de Epsilon Indi, uma das estrelas vizinhas mais próximas do Sistema Solar, a pouco menos de 12 anos-luz daqui. Um novo estudo confirma que ela tem um planeta gigante gasoso numa órbita afastada da estrela. Seria o exoplaneta do tipo Júpiter mais próximo já detectado.

TRÊS EM UM
Epsilon Indi, na verdade, é um sistema trinário, ou seja, composto por três astros principais. Epsilon Indi A é uma estrela do tipo K, com 76% da massa do Sol. Ao redor dela, numa órbita bem distante (cerca de 1.500 unidades astronômicas), há duas anãs marrons, Epsilon Indi Ba e Epsilon Indi Bb.

QUASE LÁ
Anãs marrons são basicamente estrelas “abortadas” — astros que, em sua formação, não conseguiram reunir gás suficiente para “acender”. Estão a meio caminho entre planetas gigantes gasosos e estrelas puro-sangue.

NO BAMBOLEIO

O sistema ficou ainda mais interessante, contudo, com a análise de uma longa série de dados sobre o movimento de Epsilon Indi A, as chamadas medidas de velocidade radial. Elas indicam o bamboleio que a estrela executa conforme é suavemente puxada para lá e para cá pela gravidade de planetas ao redor.

SUPERJÚPITER
A observação confirmou que Epsilon Indi A também deve ter ao seu redor um planeta gigante com 2,5 a 5 vezes a massa de Júpiter e uma órbita quase perfeitamente circular a 13 unidades astronômicas do astro principal.

ESPAÇO PARA TERRAS
O achado “fornece um caso de referência para nosso entendimento da formação de gigantes gasosos e anãs marrons”, dizem Fabo Feng e seus colegas da Universidade de Hertfordshire, no Reino Unido, em artigo submetido ao periódico “Monthly Notices of the Royal Astronomical Society”. Eles destacam também a possibilidade de que o sistema abrigue planetas menores, do tipo Terra, na zona habitável da estrela.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

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Astronomia: O enigma da Estrela de Tabby https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/05/22/astronomia-o-enigma-da-estrela-de-tabby/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/05/22/astronomia-o-enigma-da-estrela-de-tabby/#comments Mon, 22 May 2017 07:00:00 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/05/KIC_8462852_in_IR_and_UV-180x101.png http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6402 Estrela da ‘megaestrutura alienígena’ volta a piscar e mobiliza astrônomos no mundo todo.

CORRE-CORRE
O último fim de semana foi marcado por cenas chocantes de astronomia explícita. Cientistas profissionais e amadores correram a apontar seus telescópios para a famosa Estrela de Tabby, sigla KIC 8462852. Localizada a 1.500 anos-luz da Terra, ela subitamente voltou a “piscar”.

ATIROU NO QUE VIU
O comportamento bizarro do astro já havia sido identificado em 2015, por um grupo de ciência cidadã chamado Planet Hunters. Recrutados pela internet, eles analisavam dados do satélite Kepler em busca de planetas. Mas o que encontraram em KIC 8462852 foi diferente: um padrão de variação de brilho totalmente bizarro.

ACERTOU NO QUE NÃO VIU
A descoberta teve a liderança de Tabetha Boyajian, da Universidade Yale, e justificou o apelido dado ao astro: “Estrela de Tabby”. Mas, entre o público, o mais comum foi chamá-la de “estrela da megaestrutura alienígena”. Isso porque a hipótese mais radical para explicar a variação irregular de brilho era a de que uma civilização extraterrestre estivesse construindo ali uma esfera de Dyson.

ET NA JOGADA?
Originalmente proposta pelo físico Freeman Dyson em 1960, uma megaestrutura como essa iria gradualmente envolvendo a estrela, para permitir a captação por uma sociedade avançada de até 100% da energia emitida. É uma hipótese intrigante, mas, convenhamos, não muito provável.

O MAIS PROVÁVEL
De saída, os astrônomos cogitaram também uma explicação mais trivial, como uma chuva de cometas mergulhando na direção da estrela. E, em 2017, um grupo nos EUA sugeriu que o fenômeno poderia ser explicado pelo engolimento de um planeta pela estrela.

O QUE VEM AÍ
O teste das hipóteses, contudo, requer mais observações. E por isso os astrônomos ficaram em polvorosa na sexta, quando o Instituto de Astrofísica das Canárias disparou o alerta: a estrela está de novo a se apagar e reduziu seu brilho em 2%. Quem teve chance apontou seu telescópio para lá, na esperança de fazer a observação crucial que finalmente desvendará o mistério.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

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No Universo, tem para todo mundo https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/05/12/no-universo-tem-para-todo-mundo/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/05/12/no-universo-tem-para-todo-mundo/#comments Fri, 12 May 2017 18:29:55 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/05/epsilon-eridani-180x135.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6358 A coisa mais bonita que o estudo dos planetas fora do Sistema Solar está mostrando é a incrível criatividade da natureza. Existem incontáveis arquiteturas possíveis para um sistema planetário, e algumas delas são tão radicalmente diferentes que ousamos imaginar que a nossa família solar possa ser algo como uma raridade.

Nada, contudo, poderia estar mais longe da verdade. Com efeito, astrônomos têm estudado um sistema planetário vizinho que lembra muito o nosso próprio — só que em sua juventude.

Estamos falando de Epsilon Eridani, uma estrela só um cadinho menor que o Sol (80% da massa do Sol, tipo K) a 10,5 anos-luz daqui. Sua idade é estimada em algo ao redor de 500 milhões de anos, contra 4,6 bilhões do Sol.

Ela abriga um dos exoplanetas mais antigos conhecidos. Epsilon Eridani b (também chamado de AEgir pela União Astronômica Internacional) foi descoberto em 2000 e lembra muito o nosso bom e velho Júpiter. AEgir completa uma volta em torno da estrela a cada 7 anos, aproximadamente. (Júpiter, por aqui, leva 12 anos para contornar o Sol.)

O que torna esse sistema ainda mais reminiscente do nosso, entretanto, é a detecção de um cinturão de asteroides similar ao nosso, circunscrito pela órbita do planeta gigante. A descoberta foi confirmada em um novo estudo, publicado no “Astronomical Journal”.

O trabalho, realizado por astrônomos americanos e alemães, lançou mão do SOFIA, o Observatório Estratosférico para Astronomia de Infravermelho, uma parceria da Nasa com a agência espacial alemã, DLR. Trata-se de um avião Boeing 747SP modificado para carregar um telescópio com abertura de 2,5 metros — similar à do Hubble. A 15 mil metros de altitude, ele não chega a se livrar de toda a interferência que a atmosfera terrestre causa às observações, mas já deixa para trás um bom bocado.

O telescópio móvel SOFIA, embarcado num 747 modificado. (Crédito: Massimo Marengo)

Com ele, os astrônomos puderam determinar que a configuração mais provável para o sistema é que ele tenha três cinturões de pequenos objetos — um interno à órbita de AEgir, outro a uma distância que, no nosso Sistema Solar, seria na faixa de Urano, e um terceiro, mais afastado, feito mais de gelo do que de rocha (a exemplo do nosso cinturão de Kuiper).

Moral da história: eis aí uma arquitetura que lembra muito a do nosso sistema! Nada impede, por exemplo, que existam planetas rochosos, quiçá habitáveis, na região mais interna.

Comparação entre o Sistema Solar e o de Epsilon Eridani, a 10,5 anos-luz da Terra (Crédito: Nasa)

E o mais interessante é que o estudo parece reforçar uma ligação entre a presença de planetas gigantes gasosos como Júpiter e cinturões de detritos próximos. (Muitos modelos de formação planetária inspirados pelo Sistema Solar sugeriam que tanto o tamanho diminuto de Marte quanto a ausência de um planeta onde existe o cinturão de asteroides seriam reflexo da poderosa influência gravitacional joviana na região.)

Talvez cada Júpiter clássico lá fora acabe tendo seu cinturão de asteroides associado. Mas ainda é cedo para cravar. Com efeito, se isso estiver correto, os astrônomos lançam uma predição. Como Epsilon Eridani parece ter dois cinturões de asteroides, eles propõem a existência de um planeta gigante mais externo — até hoje não descoberto — que explique o fenômeno. E também imaginam que deva haver um equivalente do nosso Netuno para delimitar a fronteira do cinturão de Kuiper por lá.

“Nós não o detectamos ainda, mas eu ficaria surpreso se eles não estiverem lá”, disse em nota Massimo Marengo, da Universidade Estadual do Iowa, um dos participantes do estudo. “Vê-los provavelmente exigirá o uso de instrumentação de próxima geração, talvez o Telescópio Espacial James Webb, de 6,5 metros, que deve ser lançado em outubro de 2018.”

O estudo de Epsilon Eridani ajuda a quebrar um pouco o viés de observação gerado pelas técnicas de descoberta de planetas. Elas em geral favorecem a detecção de mundos com órbitas curtas e alta massa, o que nos levou a descobrir muitos sistemas diferentes do nosso — com órbitas compactas e por vezes com os famosos Hot Jupiters, planetas gigantes que orbitam muito próximos a suas estrelas.

A despeito disso ,o fato de encontrarmos um sistema infante a meros 10,5 anos-luz de distância que tem características muito similares às da família solar são evidência convincente de que o contexto de formação da Terra no Universo não seguiu nenhuma rota bizarra ou peculiar. Em meio à maravilhosa variedade do Universo, tem para todo mundo.

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Uma viagem virtual a Mercúrio, em 360 graus https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/04/20/uma-viagem-virtual-a-mercurio-em-360-graus/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/04/20/uma-viagem-virtual-a-mercurio-em-360-graus/#comments Thu, 20 Apr 2017 17:55:14 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/04/mercurio-360-180x101.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6251 Vamos fazer uma visitinha a Mercúrio, o menor dos planetas do nosso Sistema Solar? Confira o mais recente vídeo em 360 graus da série escrita, produzida, editada e empurrada no tranco pelo Mensageiro Sideral!

Essa já é o quarto episódio da série, que fez visitas à Terra, à Lua e ao Sol. (E, para dar uma olhada nesses e em outros vídeos, dê uma passada lá no canal!)

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Astrônomos detectam atmosfera em exoplaneta de porte terrestre https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/04/07/astronomos-detectam-atmosfera-em-exoplaneta-de-porte-terrestre/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/04/07/astronomos-detectam-atmosfera-em-exoplaneta-de-porte-terrestre/#comments Fri, 07 Apr 2017 04:26:56 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/04/img_0352-180x172.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6203 Usando um telescópio de modestos 2,2 metros de abertura, um grupo de astrônomos acaba de reportar a detecção da assinatura de luz da atmosfera de um planeta ligeiramente maior que a Terra, a 39 anos-luz daqui, na constelação da Vela. Ao que tudo indica, ela pode ser rica em vapor d’água. O pequeno mundo é quente demais para abrigar vida, mas trata-se de um feito importante para finalmente começarmos abrir a “caixa-preta” dos exoplanetas.

O exoplaneta GJ 1132 b completa uma volta em torno de sua estrela, a pequena anã vermelha GJ 1132, a cada 1,6 dia. Com essa órbita tão curta, ele tem uma temperatura de equilíbrio de cerca de 350 graus Celsius, o que faz dele um péssimo candidato para abrigar formas de vida terráqueas — mas um ótimo candidato a ter sua atmosfera detectada. A proximidade entre o planeta e a estrela ajuda, assim como o fato de que ele realiza trânsitos periódicos à frente dela com relação a nós, aqui na Terra.

Usando o telescópio de La Silla, do ESO (Observatório Europeu do Sul), no Chile, o grupo de astrônomos liderado por John Southworth, da Universidade Keele, no Reino Unido, observou nove desses trânsitos, colhendo simultaneamente luz em diversas frequências do espectro eletromagnético, entre visível e infravermelho. A ideia era observar a redução do brilho da estrela conforme o planeta passava à frente dela, nos diferentes comprimentos de onda observados.

E o que eles notaram foi que em um dos comprimentos de onda, no infravermelho, o planeta parecia sensivelmente maior que nos demais. Essa diferença só poderia ser explicada por uma atmosfera que é “opaca” (ou seja, barra a luz estelar) nessa frequência, mas “transparente” (ou seja, deixa a luz passar) nas demais.

De acordo com as análises feitas pelos pesquisadores, publicadas no “Astrophysical Journal”, a detecção é bastante robusta e inequívoca — o efeito é real com mais de 99% de confiança. Trata-se do menor exoplaneta, portanto, a ter sua atmosfera detectada. Estima-se que ele tenha diâmetro 40% maior que o da Terra, e massa 60% maior. Para que se tenha uma ideia, o recordista anterior a ter sua atmosfera sondada, 55 Cancri e, tinha 700% mais massa que a Terra. (O Mensageiro Sideral falou dessa detecção aqui, no ano passado.)

E A COMPOSIÇÃO?

O principal ganho em observar uma atmosfera exoplanetária é poder dizer de que ela é feita. Com a detecção feita em La Silla, ainda não dá para cravar, mas os principais gases suspeitos de barrar a luz estelar na frequência medida são vapor d’água e/ou metano, em concentrações variadas. Os pesquisadores indicam inclusive que, com a câmera WFC3, do Telescópio Espacial Hubble, seria possível confirmar que se trata mesmo de água, se for o caso. (E aposto que eles já devem estar solicitando tempo de observação com o venerável satelite da Nasa para fazer essa checagem.)

Claro que a presença de vapor d’água, nesse caso, não seria um indicativo de habitabilidade; GJ 1132 b é um mundo escaldante, com temperaturas altíssimas, e viver nele seria mais difícil do que no interior de uma panela com água fervente.

Ainda assim, a potencial detecção de uma atmosfera relativamente espessa nesse planeta (com altitude estimada em 1.400 km, bem maior que a da Terra, que já não é muito apreciável além dos 100 km) é uma boa notícia para a busca por vida. Isso porque ele orbita uma estrela anã vermelha de meia-idade, com mais de 5 bilhões de anos.

Esses astros costumam ter uma infância muito turbulenta, de modo que alguns astrônomos consideravam bastante possível que planetas ao redor delas tivessem sua atmosfera completamente devastada logo nos primeiros milhões de anos do sistema. A detecção mostra que, pelo menos em alguns casos, isso não acontece, e exoplanetas de anãs vermelhas são capazes de reter respeitáveis invólucros de ar — pré-requisito para a presença de água líquida em sua superfície, que por sua vez é condição essencial para a vida tal qual a conhecemos.

Não custa lembrar que anãs vermelhas, menores que o nosso Sol, respondem por três quartos de todas as estrelas da galáxia, de modo que a perspectiva de que elas abriguem mundos habitáveis aumenta em muito a chance de encontrarmos um deles nos próximos anos.

Estamos só esquentando os motores. Daqui para frente, a pesquisa de exoplanetas será de arrepiar.

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Ajude a Nasa a descobrir um novo planeta no Sistema Solar! https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/02/16/ajude-a-nasa-a-descobrir-um-novo-planeta-no-sistema-solar/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/02/16/ajude-a-nasa-a-descobrir-um-novo-planeta-no-sistema-solar/#comments Thu, 16 Feb 2017 20:44:04 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2016/01/planet_9_art_1_-180x107.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=5966 Em janeiro do ano passado, uma dupla de astrônomos assombrou o mundo ao apresentar evidências convincentes de que existe um planeta além de Netuno no Sistema Solar. E agora você pode ajudar a descobri-lo.

O projeto, chamado Backyard Worlds: Planet 9, é uma iniciativa conjunta da Universidade da Califórnia em Berkeley com a Nasa.

A primeira tem larga experiência em esforços de ciência-cidadã/colaborativa, ao inaugurar o campo, em 1999, com o SETI@home, que permitia a qualquer um ajudar a buscar sinais de inteligência extraterrestre processando os dados do radiotelescópio de Arecibo com o tempo ocioso do seu computador.

A agência espacial americana, por sua vez, tem um imenso catálogo de imagens feitas pelo seu satélite de infravermelho Wise, destinado justamente a descobrir objetos celestes que estejam nas proximidades do Sistema Solar — quiçá como parte dele. O catálogo cobre o céu inteiro cerca de seis vezes seguidas.

A análise dessas imagens por técnicas de processamento digital já fez uma boa peneirada nessas imagens — e um número significativo de descobertas. O que os computadores fizeram foi comparar várias fotografias feitas do mesmo canto do céu em momentos diferentes e então ver se algum desses pontos se movia (como nessa sequência abaixo).

Objetos que se movem com relação às estrelas distantes estão mais próximos ou mesmo dentro do Sistema Solar, e com base em seu movimento é possível calcular sua órbita. Foi assim que Clyde Tombaugh descobriu Plutão, em 1930, e também como Mike Brown descobriu Éris, em 2005. Na imagem acima, o Wise permitiu a descoberta de uma anã marrom próxima ao nosso sistema planetário, catalogada como WISE 0855-0714.

Um problema é que nem mesmo os mais sofisticados softwares são tão bons em enxergar padrões consistentes de movimento quanto os olhos humanos. Então, para participar da busca do chamado Planeta 9 (ou de outros objetos ainda por ser descobertos), basta você se cadastrar no site e assistir a pequenos filminhos (sequências de cinco ou seis imagens), indicando se há algum objeto se movendo nelas.

É uma aposta. No momento, não há garantias de que o Planeta 9 exista mesmo, muito menos que o Wise tivesse sensibilidade suficiente para encontrá-lo. Mas os coordenadores do projeto indicam que qualquer descoberta feita pelos colaboradores valerá a eles co-autoria no trabalho científico que reportará sua existência.

Então é isso aí: existe uma chance de que você seja um co-descobridor do Planeta 9. Mãos à obra!

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Estrela da ‘megaestrutura alienígena’ na verdade teria engolido planeta, dizem astrônomos https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/01/12/estrela-da-megaestrutura-alienigena-na-verdade-teria-engolido-planeta-dizem-astronomos/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/01/12/estrela-da-megaestrutura-alienigena-na-verdade-teria-engolido-planeta-dizem-astronomos/#comments Thu, 12 Jan 2017 03:25:03 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/01/star-planet-180x101.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=5834 Finalmente alguém apareceu com uma explicação consistente do que pode estar acontecendo em KIC 8462852, também conhecida como Estrela de Tabby, que ficou famosa no ano retrasado por apresentar sinais compatíveis com a construção paulatina de uma megaestrutura alienígena ao seu redor.

E não, não são alienígenas. Ao que parece, tudo que a estrela fez foi engolir um planeta.

Vamos lá, recordar é viver: tudo começou em outubro de 2015, quando uma análise feita por participantes do projeto de ciência-cidadã Planet Hunters com base em observações realizadas pelo satélite Kepler mostrou que a estrela estava piscando de maneira irregular, por vezes perdendo até 20% do seu brilho por períodos irregulares com duração entre 5 e 80 dias.

Diversas hipóteses foram aventadas, como um evento cataclísmico de colisão como o que deu origem ao sistema Terra-Lua, ou a passagem de um grande cometa, ou talvez um enxame deles, mergulhando na direção da estrela. Em ambos os casos, poderíamos ter um resultado parecido com o observado, mas os cientistas consideravam pouco provável que tivéssemos tido a “sorte” de testemunhar algo incomum assim com uma amostra limitada de estrelas (cerca de 150 mil no campo de visão do Kepler).

A alternativa mais desvairada aventada então era a de que uma civilização pudesse estar construindo em torno da estrela algo como uma esfera de Dyson — uma megaestrutura teorizada pelo físico Freeman Dyson em 1960 para sociedades ultrafamintas por energia. Construída ao redor da estrela, ela seria capaz de recolher a maior parte do suprimento energético da estrela-mãe.

Claro que foi também a hipótese que chamou mais a atenção. E vai que, né? Contudo, e de forma nada inesperada, buscas subsequentes por emissões de rádio ou laser daquela estrela feita pelos grupos de pesquisa SETI (busca por inteligência extraterrestre) deram com os burros n’água.

FICA MAIS ESTRANHO
Em paralelo, pesquisadores foram atrás de imagens de arquivo feitas da estrela por outros projetos astronômicos de pesquisa, o que revelaram mais uma bizarrice associada ao astro: afora as variações mais abruptas de brilho, a estrela de Tabby (batizada em homenagem à americana Tabetha Boyajian, que liderou a descoberta em parceria com os Planet Hunters) vinha paulatinamente reduzindo seu brilho ao longo do último século.

Estudo de chapas de Harvard mostraram que o astro ficou 14% menos brilhante entre 1890 e 1989 e que, mesmo durante a missão original do Kepler, entre 2009 e 2013, ela reduziu seu brilho em outros 3%.

Esse é um fenômeno bem diferente das reduções mais agudas, rápidas e transitórias de brilho e não tem a menor cara de megaestrutura alienígena — é algo que está mesmo acontecendo à estrela em si.

Por outro lado, é improvável que uma estrela de modo geral normal apresente dois comportamentos anômalos e eles não estejam de algum modo contectados.

O que nos traz à solução recém-apresentada por Brian D. Metzger e Nicholas C. Stone, da Universidade Columbia, em Nova York, e Ken J. Shen, da Universidade da Califórnia em Berkeley.

Eles sugerem que um planeta — ou talvez mais de um — pode ter sido despedaçado e engolido pela estrela nos últimos 10 mil anos. O efeito de um episódio catastrófico como esse seria produzir um brilho aumentado da estrela, conforme os destroços mergulhassem para o interior da estrela. Depois disso, ela iria gradualmente perdendo o brilho adicional até voltar ao normal — processo que parece ter sido observado no último século daqui da Terra.

Certo, e os bloqueios abruptos de luminosidade que começaram essa investigação? Eles podem muito bem ser resultado de detritos do processo de destruição do hipotético planeta que restaram em órbita da estrela — talvez até algumas de suas luas. Alternativamente, poderiam ser os cometas já aventados desde o início, mas de algum modo conectados com o mergulho do planeta em seu sol.

Pode muito bem ter rolado uns cometas também para ajudar na zoeira do sistema (Crédito: ESO)
Pode muito bem ter rolado uns cometas também para ajudar na zoeira do sistema (Crédito: ESO)

O trabalho foi aceito para publicação no “Monthly Notices of the Royal Astronomical Society” e é no momento a melhor ideia para explicar tudo que vimos até agora na Estrela de Tabby. Mas, claro, não é à prova de bala. Ele exige ou que sistemas planetários em estrelas como ela (do tipo F, maior do que o Sol) tipicamente tenham bem mais massa do que suas irmãs menores ou que tenhamos sido vítimas de uma enorme coincidência em flagrar um fenômeno que, em princípio, deve ser extremamente raro. Ou talvez as duas coisas ao mesmo tempo.

Caso encerrado então? Não, claro que não. Os cientistas devem continuar a monitorar o astro nos próximos anos e a observar seu comportamento. Se o trio americano estiver certo, a estrela deve continuar a perder brilho nos próximos anos, até se estabilizar, seguindo um padrão previsível. Da mesma maneira, os episódios de obscurecimento temporário da estrela devem continuar a se repetir e a evoluir, o que ajudará a restringir hipóteses e explicar o caso.

E assim avança o compasso da ciência, palmo a palmo, sem restringir hipóteses por qualquer preconceito que se tenha, mas fazendo todo o possível para corroborá-las ou refutá-las e, assim, chegar cada vez mais perto de uma compreensão mais sofisticada dos fenômenos naturais — ou artificiais, se for o caso. Na Estrela de Tabby, pelo visto, a natureza deu conta do recado sozinha, sem qualquer ajuda de uma supercivilização.

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