Mensageiro Sideral https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br De onde viemos, onde estamos e para onde vamos Sat, 04 Dec 2021 19:09:39 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Fracassa tentativa indiana de pousar na superfície da Lua https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/09/06/fracassa-tentativa-indiana-de-pousar-na-lua/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/09/06/fracassa-tentativa-indiana-de-pousar-na-lua/#respond Fri, 06 Sep 2019 20:53:05 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/isro-chandrayaan-vikram-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9020 Não é moleza descer na Lua, parte 2, edição 2019. Primeiro foi o módulo israelense Beresheet, em abril. Nesta sexta-feira (6), foi a vez do Vikram, módulo de pouso da missão indiana Chandrayaan-2. A descida propulsada começou às 17h08 (pelo horário de Brasília), a partir de uma altitude de cerca de 35 km, e seguiu adiante de forma nominal até a fase final. Um silêncio tomou conta do centro de controle da Isro (a agência espacial indiana), mas as expressões e falta de dados de telemetria na tela indicavam o pior. Cerca de 30 minutos depois, veio a palavra final: o sinal foi perdido quando o Vikram estava a 2,1 km da superfície lunar.

Agora, dados de telemetria serão analisados para compreender exatamente o que aconteceu. Mas a mensagem é clara: não se trata de operação trivial. Apenas três países conseguiram realizar um pouso suave na Lua: Rússia, EUA e China. Desses, apenas EUA e China acertaram na primeira tentativa. E, dos três, apenas a China ainda não colecionou um fracasso (embora seja a que tem menor número de tentativas até agora, apenas duas, a mais recente delas no comecinho deste ano).

Ainda assim, nem tudo está perdido para o programa lunar indiano. A sonda orbitadora Chandrayaan-2 continua em órbita, colhendo dados científicos e estudando a superfície lunar de uma altitude de cerca de 100 km. E certamente a Isro tem bons motivos para tentar de novo.

Lançada em 22 de julho, a Chandrayaan-2 é a segunda empreitada indiana na Lua. A jornada até a Lua foi longa, partindo inicialmente de uma órbita bastante achatada ao redor da Terra, com aumentos graduais do apogeu, até intersectar com a órbita lunar, a cerca de 384 mil km de distância.

Orbitador e módulo de pouso da Chandrayaan-2 reunidos para embarque no foguete GSLV Mk.3. (Crédito: Isro)

Ao encontrar a Lua por lá, em 20 de agosto, a espaçonave usou seus motores para frear e ser capturada pela gravidade do satélite natural. Sua primeira órbita ao redor da Lua tinha perilúnio de 114 km e apolúnio de 1.807 km. Cinco manobras de circularização foram conduzidas nos dias seguintes, até estar tudo pronto para a separação do Vikram.

O custo total foi de cerca de US$ 140 milhões. Não há dados específicos sobre quanto disso foi no Vikram e no seu jipe embarcado, o Pragyan, e o quanto foi no orbitador. Para efeito de comparação, a missão Chandrayaan-1, orbitador que operou nas imediações da Lua entre 2008 e 2010, custou US$ 80 milhões.

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Missão indiana Chandrayaan-2 se prepara para realizar pouso na Lua https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/09/02/missao-indiana-chandrayaan-2-se-prepara-para-realizar-pouso-na-lua/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/09/02/missao-indiana-chandrayaan-2-se-prepara-para-realizar-pouso-na-lua/#respond Mon, 02 Sep 2019 05:00:17 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/chandrayaan-2-lua-320x213.png https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=9012 A missão Chandrayaan-2 (“nave lunar-2”, em sânscrito) entrou em sua fase mais crítica para vencer o desafio de tornar a Índia o quarto país a realizar um pouso suave na Lua, depois de Rússia, EUA e China. No domingo (1), a sonda terminou o ajuste de sua órbita ao redor da Lua, e as primeiras horas desta segunda-feira devem ver a separação do módulo de pouso Vikram (“valor”, em sânscrito).

Ao longo dos próximos dias, ele fará duas manobras de redução de sua órbita. Na primeira, sairá de uma altitude de 120 km para 110 km. Na segunda, chegará a um perilúnio (ponto de máxima aproximação da Lua) de 36 km. E então, no dia 6 de setembro, próxima sexta, a propulsão iniciará a descida propriamente dita, com alunissagem marcada para algum momento entre as 17h e 18h (de Brasília).

Lançada em 22 de julho, a Chandrayaan-2 é a segunda empreitada indiana na Lua. A jornada até a Lua foi longa, partindo inicialmente de uma órbita bastante achatada ao redor da Terra, com aumentos graduais do apogeu, até intersectar com a órbita lunar, a cerca de 384 mil km de distância.

Ao encontrar a Lua por lá, em 20 de agosto, a espaçonave usou seus motores para frear e ser capturada pela gravidade do satélite natural. Sua primeira órbita ao redor da Lua tinha perilúnio de 114 km e apolúnio de 1.807 km. Cinco manobras de circularização foram conduzidas nos dias seguintes, até estar tudo pronto para a separação do Vikram.

Orbitador e módulo de pouso da Chandrayaan-2 reunidos para embarque no foguete GSLV Mk.3. (Crédito: Isro)

É quando começam realmente as novidades para a Isro, a agência espacial indiana. Até aqui, a missão Chandrayaan-1 já havia feito, operando em órbita da Lua entre 2008 e 2010, a um custo de US$ 80 milhões. O novo projeto foi mais caro, cerca de US$ 140 milhões, mas ainda assim considerado uma pechincha para missões interplanetárias nesses moldes.

Se tudo der certo, na próxima semana, o Vikram deve descer na região do polo sul lunar, de alto interesse científico e exploratório pela presença de gelo de água no interior de crateras onde a luz solar nunca atinge. Pousar na Lua nunca é fácil, como lembrou recentemente a tentativa malograda do módulo israelense Beresheet, em abril.

A bordo do Vikram viaja um pequeno jipe robótico, o Pragyan (“sabedoria”, em sânscrito). Em solo, a missão deve durar apenas 14 dias, o equivalente ao tempo em que o Sol estará brilhando na região de pouso (nenhum deles está equipado para lidar com as temperaturas de -170 °C a que seus sistemas serão submetidos durante a noite lunar).

Em órbita, contudo, o trabalho prosseguirá. A Chandrayaan-2 deve continuar operando por pelo menos um ano, possivelmente dois, realizando observações científicas da Lua.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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Top Ten do Mensageiro Sideral, 2014 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2014/12/23/top-ten-do-mensageiro-sideral-2014/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2014/12/23/top-ten-do-mensageiro-sideral-2014/#comments Tue, 23 Dec 2014 07:59:53 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=2787 Estamos prestes a completar mais uma volta em torno do Sol a bordo da aconchegante espaçonave Terra. Como sempre, uma boa oportunidade para o já tradicional Top Ten do Mensageiro Sideral, onde relembramos, em ordem crescente de importância, as notícias espaciais mais bombásticas do ano que passou. Tem tristeza, tem alegria, mas acima de tudo tem a obstinação humana em busca de seu lugar no cosmos. Confira.

10- Ronaldo Mourão se junta ao cosmos

O astrônomo Ronaldo Mourão (1935-2014), em 2009, na Universidade Federal de Juiz de Fora (MG)
O astrônomo Ronaldo Mourão (1935-2014), em 2009, na Universidade Federal de Juiz de Fora (MG)

Em 25 de julho de 2014, o Brasil perdeu um de seus maiores divulgadores e popularizadores da ciência. Morreu, aos 79 anos, no Rio de Janeiro, Ronaldo Rogério de Freitas Mourão. O astrônomo influenciou várias gerações de cientistas e amadores, cativando-as com sua prosa charmosa e sua inabalável dedicação à transmissão da “mensagem das estrelas”. A biografia de Mourão nunca foi livre de polêmicas, mas ninguém pode negar sua contribuição à popularização da astronomia no Brasil. Sua ausência certamente será bastante sentida nos próximos anos, que prometem ser os mais empolgantes da história na exploração dos mistérios do Universo.

9- Ensaio para a volta ao espaço profundo

Retorno da cápsula Órion no oceano Pacífico, após histórico voo de teste.
Retorno da cápsula Órion no oceano Pacífico, após histórico voo de teste.

Em 5 de dezembro, com um dia de atraso, aconteceu um lançamento marcante para o futuro do programa espacial americano: pela primeira vez, uma cápsula Órion foi ao espaço. Foram apenas duas voltas ao redor da Terra, e sem tripulação, mas pela primeira vez desde 1972 uma espaçonave destinada a transportar humanos foi além da órbita terrestre baixa. A ideia é que, na próxima década, a Órion sirva como veículo para viagens em torno da Lua e até um asteroide — tudo isso é tido pela Nasa como preparação para o objetivo final, uma missão tripulada a Marte. Com o primeiro lançamento da Órion, os americanos saem na frente. Mas ninguém deve pensar que eles estarão sozinhos nisso.

8- Chineses focados na conquista da Lua

Imagem da sonda chinesa C5-T1. Aquele planetinha ali ao fundo somos nós.
Imagem da sonda chinesa C5-T1. Aquele planetinha ali ao fundo somos nós.

Os chineses a essa altura não escondem mais sua ambição de reprisar todos os grandes sucessos obtidos por americanos e russos durante a corrida espacial, inclusive envolvendo missões tripuladas à Lua. No fim de 2013, eles já causaram espanto global ao conseguir pousar com sucesso um jipe robótico na Lua. E neste ano eles pela primeira vez enviaram uma sonda para contornar a Lua e retornar à Terra em segurança — tecnologia essencial para o futuro envio de astronautas. A essa altura, com seus passos calculados e precisos, os chineses já ameaçam tomar a dianteira na exploração espacial a partir da próxima década. Até mesmo Buzz Aldrin, o segundo homem a pisar na Lua, acha que é preciso que os americanos mudem de atitude e passem a cooperar com os chineses. Os próximos anos prometem ser ainda mais interessantes.

7- Agora foi! CBERS-4 em órbita

Imagem da câmera brasileira WFI, a bordo do CBERS-4, fotografa a Amazônia.
Imagem da câmera brasileira WFI, a bordo do CBERS-4, fotografa a Amazônia.

Depois do fiasco ocorrido no fim de 2013, quando um foguete Longa Marcha-4B fracassou em colocar o satélite sino-brasileiro CBERS-3, brasileiros e chineses aceleraram o desenvolvimento do próximo sátelite da série. A despeito dos riscos envolvidos, o esforço deu certo e, em 7 de dezembro, o CBERS-4 foi colocado em órbita da Terra. Já há acordo para lançar, em três anos, um novo satélite conjunto, CBERS-4A, além de discussões para estender o projeto até o 5 e o 6. Trata-se de um recurso importante para o Brasil, para monitoramento de seu território, além de impulsionar o desenvolvimento de tecnologia espacial de ponta. Congratulações a todos os envolvidos nos dois países. Mas, cá para nós, não podemos viver apenas de CBERS. O sucesso solitário dele só reforça quão pouco avançamos em outros segmentos do nosso programa espacial. Falta ambição, atualidade e vontade política. Pequenas conquistas merecem menção, como o lançamento bem-sucedido do cubesat NanoSatC-Br1 e do foguete suborbital VS-30 com estágio de propulsão líquida. Mas é muito pouco para o Brasil. Estamos tomando um baile da nossa vizinha Argentina. E pensar que, uma dúzia de anos atrás, engenheiros aeroespaciais hermanos manifestavam ao Mensageiro Sideral admiração pelo nosso programa, com participação na Estação Espacial Internacional, um lançador de satélites próprio e diversas espaçonaves em desenvolvimento. Nada disso decolou, e eles deixaram a gente para trás. Construíram seu próprio satélite geoestacionário, enquanto estamos pagando aos europeus meio bilhão de reais para construir o “nosso”. Eles estão prestes a testar seu próprio lançador de satélites, enquanto o nosso VLS segue deixado às traças. E não custa lembrar que fomos expulsos da Estação Espacial Internacional depois que passamos uma década inteira sem entregar uma peça sequer das que prometemos à Nasa. E tem gente que ainda acha que a Petrobras é nosso único problema…

6- SONEAR e os cometas brasileiros

Astrofotógrafo amador Michael Jäger registra o cometa Jacques, descoberto pelo SONEAR.
Astrofotógrafo amador Michael Jäger registra o cometa Jacques, descoberto pelo SONEAR.

Aí tem uns que põem a culpa nos cientistas brasileiros, em vez de enxergar a crise gerencial e política de nossos programas. Para demonstrar que não é esse o caso, nada melhor que lembrar os feitos de um grupo de astrônomos amadores de Minas Gerais. Na pequena cidade de Oliveira, a 150 km de Belo Horizonte, eles conceberam, construíram e operaram durante 2014 um observatório dedicado a descobrir asteroides próximos da Terra. Chamado SONEAR (sigla inglesa para Observatório Austral para Pesquisa de Asteroides Próximos à Terra), ele é um esforço solitário em todo o hemisfério Sul e teve um primeiro ano sensacional. O grupo liderado pelo astrônomo amador Cristóvão Jacques encontrou 11 novos asteroides próximos, dois dos quais potencialmente perigosos (felizmente nenhum deles em rota de colisão), além de outros 10 asteroides no cinturão entre Marte e Júpiter. Isso sem falar em dois cometas — os dois primeiros objetos do tipo descobertos por astrônomos brasileiros usando telescópio brasileiro em solo brasileiro. E quanto isso tudo custou aos cofres públicos? Nada. O investimento foi todo feito pelos próprios astrônomos, num esforço para desbravar o desconhecido, proteger nosso planeta e elevar o nome do Brasil no cenário internacional. Por que iniciativas como essa, feitas com dinheiro privado e muito suor por parte dos envolvidos, dão tão certo, enquanto esforços públicos parecem ser um ralo de dinheiro sem fim, onde quase nada é realizado? Essa questão fica como lição de casa para o leitor.

5- Hawking, Hawking e mais Hawking

Stephen Hawking arrepiou em 2014, com afirmações chocantes.
Stephen Hawking arrepiou em 2014, com afirmações chocantes.

Em janeiro, ele disse que buracos negros não existiam. Em setembro, afirmou que a manipulação do bóson de Higgs, descoberto em 2012 no acelerador de partículas LHC, podia ocasionar a destruição do Universo. E, em dezembro, ele disse que o desenvolvimento iminente de máquinas inteligentes é a maior ameaça existencial à civilização. Quem afinal é o marqueteiro do físico britânico Stephen Hawking, João Santana? Das três estocadas que ele deu neste ano, a mais controversa, por incrível que pareça, é a dos buracos negros. Muitos cientistas não estão convencidos de sua afirmação, apresentada sem cálculos que a justificassem adequadamente. Já seus alertas sobre o bóson e sobre a inteligência artificial fazem parte de um consenso científico, mas ganham um realce todo especial quando apresentados pelo cientista mais famoso do mundo. E, ao que tudo indica, Hawking não pretende abdicar do posto em 2015. Ele também já declarou que gostaria de viver um vilão de James Bond no cinema. Gênio da física e da publicidade.

4- Indianos em Marte, e a caça aos marcianos

Concepção artística da MOM, primeira missão indiana a Marte.
Concepção artística da MOM, primeira missão indiana a Marte.

Em 23 de setembro, após uma longa viagem interplanetária, a sonda indiana MOM (sigla para Mars Orbiter Mission) conseguiu entrar em órbita de Marte. Pela primeira vez uma nação solitária conseguiu ter sucesso numa missão orbital marciana em sua primeira tentativa. (A ESA acertou de primeira com sua Mars Express, mas representava um consórcio de países europeus.) Entre os objetivos da MOM está a detecção de metano na atmosfera marciana, gás que pode estar associado a atividade biológica no planeta vermelho. Diversas sondas orbitais anteriores haviam detectado metano no rarefeito ar marciano, mas o grande avanço em 2014 foi feito pelo jipe Curiosity, da Nasa. Em dezembro, cientistas ligados à agência espacial americana anunciaram a confirmação da detecção do gás, emitido de uma fonte próxima ao local do veículo. Resta saber se ele é produzido por micróbios ou por atividade geológica. De toda forma, está aberta a temporada de caça aos marcianos.

3- Dores de crescimento no espaço

Imagem da VSS Enterprise em voo-teste. Acidente despedaçou o veículo.
Imagem da VSS Enterprise em voo-teste. Acidente despedaçou o veículo.

A tendência de aumento da participação da iniciativa privada na conquista espacial segue em alta, mas dois acidentes ocorridos em 2014 nos ensinam que as coisas não serão tão fáceis quanto supunham os mais otimistas. Em 28 de outubro, um cargueiro Cygnus, destinado a levar suprimentos à Estação Espacial Internacional, explodiu pouco depois do lançamento, por falha do foguete que o transportava, o Antares. Três dias depois, uma falha com o veículo suborbital VSS Enterprise levou à morte de um dos dois pilotos e provocou uma crise para a empresa Virgin Galactic, que pretendia usar a nave para promover voos turísticos ao espaço a partir de 2015. É um lembrete importante de como, mesmo depois de mais de meio século, a tecnologia para missões espaciais ainda é delicada e perigosa. Os acidentes também colocam em xeque a viabilidade do plano impulsionado pelo presidente Barack Obama de usar empresas privadas para fornecer serviços de transporte de cargas e tripulações à órbita terrestre baixa para a Nasa. O Mensageiro Sideral acredita que essas sejam inevitáveis dores de crescimento e ainda guarda enorme entusiasmo pela estratégia. Vai funcionar. É só dar tempo ao tempo.

2- A era dos planetas habitáveis

Concepção artística do planeta Kepler-186f: mesmo tamanho da Terra e capaz de abrigar água em estado líquido
Concepção artística do planeta Kepler-186f: mesmo tamanho da Terra e capaz de abrigar água em estado líquido

Descobertas entusiasmantes foram feitas em 2014, inaugurando uma nova era na pesquisa de exoplanetas. Em abril, usando dados do telescópio espacial Kepler, astrônomos americanos descobriram um planeta em torno de uma estrela anã vermelha que tem praticamente o mesmo tamanho da Terra. Além disso, ele está na região certa de seu sistema planetário para a preservação de água em estado líquido, condição essencial à vida. O único senão é que o Kepler-186f, como ficou conhecido, está um pouco distante para futuras investigações mais detalhadas: cerca de 490 anos-luz de distância. Mas ele decerto não é incomum. Em agosto, outro grupo de astrônomos descobriu um mundo potencialmente rochoso e habitável, como a Terra, em torno de uma estrela muito velha, com quase 12 bilhões de anos. O planeta Kapteyn b pode portanto ter abrigado vida muito antes que nosso mundo sequer existisse! E ele está a apenas 13 anos-luz daqui. Nos próximos anos, muitos planetas como esses serão descobertos e os astrônomos terão condições de investigar a composição atmosférica desses orbes celestes. Talvez daí saia a constatação de que, afinal, não estamos mesmo sozinhos no Universo.

1- O primeiro pouso num cometa

Imagem mostra um dos pés do Philae, na superfície do cometa.
Imagem mostra um dos pés do Philae, na superfície do cometa.

Não há como negar que o evento mais espetacular de 2014 foi o primeiro pouso feito por um artefato humano num cometa. O sucesso obtido pela ESA (Agência Espacial Europeia) com a missão Rosetta é um daqueles momentos em que não há como não se entusiasmar com a capacidade de realização humana. É nessas horas que, pelo menos por um instante ou dois, ousamos acreditar que não há desafio que não possamos conquistar e que nosso destino como espécie é mais brilhante do que sugerem os pessimistas apocalípticos. Isso sem falar na ciência. A descida do módulo de pouso Philae ao cometa Churyumov-Gerasimenko já encantou o mundo, mas ainda promete render muitos anos de trabalho aos pesquisadores. E pode se preparar que em 2015 deve ter mais: os técnicos e engenheiros da ESA estão confiantes de que, a partir de fevereiro, o Philae recarregará suas baterias e voltará a transmitir informações diretamente da superfície do astro. O show ainda não acabou.

NA TV: Neste sábado (27), na GloboNews, o Mensageiro Sideral faz em vídeo sua retrospectiva dos principais eventos que marcaram a exploração espacial em 2014, abordando o pouso do Philae, a descoberta de planetas similares à Terra e os acidentes dos foguetes comerciais americanos. Não perca, sábado, a partir das 22h, no Jornal das Dez da GloboNews!

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Índia testa sua cápsula espacial https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2014/12/18/india-testa-sua-capsula-espacial/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2014/12/18/india-testa-sua-capsula-espacial/#comments Thu, 18 Dec 2014 05:05:34 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=2770 E você que achou que a Índia ia sossegar depois de ter colocado com sucesso em setembro uma sonda em órbita de Marte. Na madrugada desta quinta-feira (18), os indianos lançaram com sucesso o protótipo de um foguete de alta capacidade. A bordo, uma cápsula que no futuro servirá para levar astronautas ao espaço.

Protótipo do GSLV Mark III voa com sucesso na Índia (Crédito: Isro)
Protótipo do GSLV Mark III voa com sucesso na Índia (Crédito: Isro)

Ainda há um longo caminho pela frente. Mas o sucesso do voo do foguete GSLV Mk-III já abre caminho para que a Índia desenvolva sua própria tecnologia para lançamento de pesados satélites de telecomunicações, com até quatro toneladas.

A versão final do foguete ainda pende pelo desenvolvimento de um motor criogênico, mas os elementos testados no voo de hoje funcionaram perfeitamente — inclusive o veículo destinado a carregar humanos ao espaço, algo considerado como um bônus para o teste.

“O módulo de tripulação pousou como esperado na baía de Bengala”, informou K. Radhakrishnan, diretor da Isro (agência espacial indiana), antes de receber uma salva de palmas dos presentes no centro de controle.

SUBORBITAL
Nesse modelo de teste, o foguete não atingiu a velocidade necessária para instalar a cápsula em órbita. O objetivo era realizar um voo suborbital a uma altitude de 126 km, para observar o desempenho do lançador e a reentrada bem-sucedida da cápsula, trazida à água por para-quedas.

A cápsula indiana para voo tripulado, com capacidade para dois astronautas.
A cápsula indiana para voo tripulado, com capacidade para dois astronautas. (Crédito: Isro)

A essa altura, está claro que a Índia tem mais um lançador bem encaminhado, o maior já desenvolvido pelo país, e está no caminho para se tornar o quarto país do mundo capaz de transportar humanos à órbita terrestre por seus próprios meios, embora isso ainda possa levar uma década para chegar a termo. Até agora, só Rússia (1961), Estados Unidos (1962) e China (2003) chegaram lá.

Aí sempre tem um que diz: “com tanta fome, tanta miséria, tantos problemas, é uma vergonha a Índia investir em tecnologia espacial”. A esses, não custa lembrar que os indianos não perdem dinheiro com isso. Eles ganham dinheiro. Só para 2015, os indianos já comercializaram serviços de lançamento para cinco satélites, três do Reino Unido e dois da Indonésia.

É esse tipo de visão que as pessoas não costumam ter aqui no Brasil. Noves fora aspectos de soberania, elas se esquecem de que a civilização moderna é 100% dependente de satélites artificiais. E, se o seu país não é capaz de lançá-los, seu governo há de pagar a outro para fazer isso. Alternativamente, se sua nação está no rol dos que detêm a tecnologia, você poderá ganhar dinheiro lançando satélites de outras nações e aí reinvesti-lo em suas prioridades locais: educação, saúde, programas sociais de moradia, distribuição de renda e por aí vai.

O Brasil tem no Centro de Lançamento de Alcântara (MA), por sua proximidade da linha do Equador, o melhor sítio do mundo para o envio de satélites de telecomunicações. Pergunte quanta grana até agora isso nos rendeu. Enquanto isso, os indianos já desenvolveram vários foguetes lançadores e realizaram missões não-tripuladas à Lua e a Marte. Quando eles começaram seu programa? 1962. E nós? 1961. Fica a dica.

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A Índia chegou a Marte! https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2014/09/23/a-india-chegou-a-marte/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2014/09/23/a-india-chegou-a-marte/#comments Wed, 24 Sep 2014 02:43:38 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=2308 A Índia acaba de se tornar o primeiro país asiático a colocar um satélite em órbita de Marte. E o primeiro país do mundo a conseguir isso na primeira tentativa. Num evento eletrizante transmitido ao vivo pela internet, o mundo acompanhou a inserção orbital bem-sucedida da sonda MOM (sigla para Mars Orbiter Mission) no fim da noite desta terça-feira (23).

Concepção artística da MOM, primeira missão indiana a Marte.
Concepção artística da MOM, primeira missão indiana a Marte.

Com isso, os indianos conseguiram bater seus rivais locais, China e Japão, no estabelecimento de um artefato em órbita do planeta vermelho. Ambos já haviam lançado espaçonaves com esse objetivo, mas a japonesa Nozomi falhou na inserção em sua rota interplanetária, em 1998, e a chinesa Yinghuo-1 sofreu com a falha de um foguete russo que a levaria a Marte, junto com a sonda russa Fobos-Grunt, em 2011.

A MOM, também chamada informalmente de Mangalyaan (algo como “nave marciana”, em sânscrito), é sem dúvida o maior sucesso do pujante programa espacial indiano, que já enviou uma espaçonave em órbita da Lua com sucesso, tem seus próprios lançadores e centros de lançamento, assim como a capacidade técnica para produzir satélites científicos de alto nível e a ambição de desenvolver um programa tripulado.

A missão marciana foi orçada em cerca de US$ 74 milhões — uma ninharia, em termos de projetos de exploração interplanetários. Sem dúvida é algo que nós, brasileiros, poderíamos estar fazendo, se houvesse determinação e visão em nosso próprio programa espacial. E o entusiasmo que um projeto desses produz certamente trará resultados importantes para a Índia, estimulando mais pessoas a buscar carreiras na ciência e na indústria aeroespacial. Sem falar no prestígio internacional.

“Inovação envolve risco. Somente se aceitarmos o risco, teremos sucesso”, disse o primeiro-ministro Narendra Modi, logo após a confirmação do sucesso, direto do controle da missão. “Nós assumimos esse risco.”

Mas, claro, nada disso aliviou a tensão momentos antes da confirmação da inserção orbital.

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MEIA HORA NERVOSA
Uma primeira salva de palmas efusiva aconteceu exatamente às 23h. O disparo dos motores foi confirmado. E então a pequena MOM se escondeu atrás de Marte, com o planeta vermelho bloqueando o sinal da sonda captado na Terra. O “blecaute” durou por 24 minutos. Longos 24 minutos de tensão. Se tudo corresse bem, o fim do voo propulsado, com a consequente inserção orbital, aconteceria coisa de três minutos antes do fim do silêncio de rádio. Os engenheiros da ISRO (Organização de Pesquisa Espacial Indiana, a Nasa da Índia) esperaram. Esperaram e esperaram.

Então, às 23h30, a mais entusiástica salva de palmas confirmou o retorno do sinal. Manobra bem-sucedida. A MOM estava capturada numa órbita em torno de Marte!

A sonda indiana se junta a outras quatro espaçonaves atualmente operando em torno do planeta vermelho — as antigas Mars Odyssey (EUA), Mars Express (Europa) e Mars Reconnaissance Orbiter (EUA), e a recém-chegada Maven (EUA).

Com cinco instrumentos, os indianos farão imagens da superfície marciana e analisarão a composição da atmosfera, procurando nela sinais de metano — gás possivelmente ligado a atividade biológica. Para os íntimos, vida. A exploração de Marte fica mais entusiasmante a cada dia!

Parabéns à Índia pelo incrível sucesso!

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Índia agenda teste de nave tripulada https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2014/03/05/india-agenda-teste-de-nave-tripulada/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2014/03/05/india-agenda-teste-de-nave-tripulada/#comments Wed, 05 Mar 2014 09:05:58 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=1429 Concepção artística do Veículo Orbital indiano, que terá seu primeiro teste em 2014
Concepção artística do Veículo Orbital indiano, que terá seu primeiro teste em 2014.

Se alguém ainda duvidava que China e Índia estão em sua corrida espacial particular, agora não há mais por que questionar. A ISRO, a “Nasa” indiana, acaba de anunciar o primeiro voo de sua própria espaçonave destinada a colocar seres humanos em órbita.

O lançamento-teste da cápsula, construída pela empresa HAL (Hindustan Aeronautics Limited), deve acontecer entre abril e junho deste ano, embarcado num foguete GSLV Mark III, também desenvolvido pela Índia, e em fase de voos experimentais.

O custo do projeto até agora excedeu a marca de US$ 4 bilhões, em oito anos. Os estudos preliminares de design foram iniciados em 2006 — três anos depois que os chineses se tornaram o terceiro país a desenvolver a capacidade de colocar astronautas em órbita, igualando os feitos de russos (1961) e americanos (1962).

A primeira missão — naturalmente não-tripulada — testará sistemas de controle, navegação e pouso, num voo suborbital. Caso tudo dê certo, o próximo passo será testar o suporte de vida, controle ambiental e sistema de escape da tripulação (em caso de falha no lançamento). Só então eles poderão começar a cogitar o envio dos primeiros astronautas. Segundo analistas, é possível que isso só venha a acontecer por volta de 2020, em razão de dificuldades com o potente lançador, embora os planos originais previssem uma missão tripulada já em 2016.

Será a cápsula tripulada mais modesta em operação, mas ainda assim trata-se de um grande feito do programa espacial indiano, que vai bem além desse projeto. O país tem um programa robusto de exploração interplanetária. Sua primeira sonda lunar, Chandrayaan-1, foi lançada em 2008 e operou em órbita durante um ano. No ano passado, os indianos lançaram sua Mars Orbiter Mission (MOM), também chamada de Mangalyaan. A espaçonave está a caminho do planeta vermelho, e até agora tem sido um sucesso.

Em 2017, deve partir a Chandrayaan-2, que levará um jipe até a superfície da Lua. (Qualquer semelhança entre os passos chineses no espaço, cujo último grande feito foi levar o rover Yutu à superfície lunar no fim do ano passado, não é mera coincidência.)

VALE A PENA?

É natural que muitos se perguntem: num país com 1,2 bilhão de habitantes, a maioria mergulhada na pobreza, é indecente a Índia investir em exploração espacial? Não só não é nada vergonhoso, como é visionário.

Ao contrário do que se costuma pensar, a exploração espacial não consome recursos. Ela gera recursos. Estudos nos Estados Unidos mostraram que, para cada US$ 1 investido pelo governo americano em seu programa espacial, a indústria acaba gerando US$ 10 em produtos e serviços de alta tecnologia. Trata-se de um investimento nacional com potencial de 1000% de retorno!

Não é à toa que, dos gloriosos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), os supostos “donos da bola” na atual economia mundial, todos (menos nós) investem pesadamente em sua indústria espacial. Eles já sacaram que é assim que podem reduzir a pobreza em seus próprios países, além de projetar seu poderio tecnológico e dar a seus respectivos povos o direito de sonhar com a grandeza. Só aqui o governo ainda não se deu conta de que precisa despertar o “Gigante espacial”.

É verdade que três desses quatro países têm motivação bélica para desenvolver seus foguetes. A Índia vive uma eterna miniguerra fria com o vizinho Paquistão, a China tem ambições militaristas óbvias, e a Rússia está no negócio do armamentismo pesado desde a Segunda Guerra Mundial. Contudo, achar que isso explica tudo — e que portanto certo está o Brasil de não desenvolver essas tecnologias — é de uma miopia ímpar. Primeiro porque ter acesso próprio ao espaço, assim como os meios de explorá-lo, é questão de soberania, não de belicismo.

Exemplo: vemos nossa querida presidente estrilando sobre espionagem gringa e defendendo a construção de um Satélite Geoestacionário Brasileiro, para que nossas comunicações civis e militares possam ser feitas sem o uso de sistemas estrangeiros. E aí quem a Agência Espacial Brasileira contrata para construí-lo? A empresa europeia Thales Alenia Space, a um custo de R$ 1,3 bilhões. Depois, como reclamar?

É verdade que o acordo, assinado em dezembro do ano passado, inclui um contrato em separado com a companhia europeia voltado para transferência de tecnologia em telecomunicações. Mas é ingenuidade (ou malícia, como queira) de nossos governantes sugerir aos contribuintes que podemos “comprar” nosso caminho em meio às tecnologias espaciais de ponta. Não podemos. País nenhum entrega o ouro desse jeito, num setor estratégico. Enquanto isso, nossos engenheiros no IAE e no INPE vivem de recursos pingados a conta-gotas e de um plano de longo prazo que a cada cinco anos atrasa meia década.

Não acredita? Em 1980, o Brasil havia se determinado a realizar uma Missão Espacial Completa: lançar um satélite nacional, de um centro de lançamentos nacional, com um foguete nacional. Se esse plano tivesse sido executado com determinação e num prazo razoável, poderíamos hoje estar emparelhados com indianos e chineses. Os brasileiros teriam o direito de sonhar em explorar outros mundos e enviar astronautas por seus próprios meios ao espaço. Por que não tem na Agência Espacial Brasileira alguém, agora, neste exato momento, pensando num plano de exploração científica do Sistema Solar? Por que temos lideranças tão cegas?

Optamos, historicamente, pela letargia. Até hoje o plano elementar da Missão Espacial Completa não foi executado. Apenas três tentativas malogradas de levá-lo a termo, em 1997, 1999 e 2003. A última delas, você deve se recordar, foi catastrófica, com um incêndio que matou 21 técnicos e engenheiros em Alcântara. Na ocasião da tragédia, o então presidente Lula havia prometido um novo lançamento em 2006. Estamos em 2014, e nada. Não é à toa que, entre os BRICs, somos hoje os patinhos feios. E pensar que, meros cinco anos atrás, a comunidade internacional imaginava que pudéssemos ser a tábua de salvação do Ocidente em meio à crise econômica mundial…

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