Explosão estelar pode até ser vista a olho nu

Salvador Nogueira
Imagem da Nova Delphini 2013 obtida por Leonardo Orazi, em 16 de agosto de 2013

No fim da semana passada, um astrônomo amador japonês tirava fotos de uma região do céu quando descobriu uma estrela que não constava das cartas estelares. Era uma nova.

Localizada próxima à constelação do Golfinho e com magnitude estimada entre +4 e +5, ela está neste momento visível no céu noturno até mesmo a olho nu, para quem se localiza distante da poluição luminosa das grandes cidades. Com um binóculo, até mesmo sob o véu alaranjado do céu paulistano é possível vê-la.

O surgimento de uma nova visível a olho nu é um fenômeno em geral imprevisível, que acontece em média a cada duas décadas. Ninguém sabe exatamente onde ou quando vai rolar, até que alguém que presta atenção no céu a identifica. Por sorte, Koichi Itagaki, em Yamagata, Japão, tirou duas fotos da mesma região do céu entre os dias 13 e 14 de agosto. Na primeira, nada se via onde, no dia seguinte, apareceu um astro extremamente brilhante, se comparado às vizinhas imediatas. Estava, portanto, identificado o astro que ficou conhecido como Nova Delphini 2013.

Agora, se você pensa que, por ter esse nome, o objeto se trata de uma novidade, está redondamente enganado. Mas tudo bem, não se sinta mal por cometer esse erro. Os maiores astrônomos do século 16 também o cometiam, e foi por isso que eles assim batizaram o fenômeno.

Também, como eles poderiam saber do que realmente se tratava, sem entender nada sobre o que fazia as estrelas “funcionarem”? Um astro que aparece de uma hora para outra no céu só pode ser uma nova estrela, certo?

Na verdade, as novas são estrelas que já até morreram de velhas e são momentaneamente trazidas de volta à vida por roubar um pouco de massa de uma vizinha próxima. Ou seja, uma espécie de Frankensteins cósmicos.

Para entendê-las, basta pensar no que será do Sol no futuro. Hoje, ele é uma anã amarela de meia idade, consumindo hidrogênio a todo vapor. Em mais uns bilhões de anos, o combustível vai se esgotar e ele vai se tornar uma gigante vermelha — inchado, mais frio e com uma atmosfera mais tênue.

Concepção artística da anã branca chupinhando matéria da gigante vermelha vizinha

Depois de algum tempo como gigante vermelha, toda e qualquer reação nuclear será impossível. A atmosfera inchada será soprada para o espaço e o que sobrar, o núcleo, será comprimido violentamente pela gravidade e virará um cadáver estelar conhecido como anã branca.

Pois bem, uma nova acontece em sistemas binários, em que uma das estrelas já virou uma anã branca e a outra está a caminho de virar, como gigante vermelha (em alguns casos pode até ser uma estrela normal, dita pelos astrônomos “na sequência principal”).

A menor acaba roubando paulatinamente gás da atmosfera inchada da maior. Esse processo acontece por um certo tempo até que o aumento de massa na anã branca gera uma reação explosiva — uma rápida atividade de fusão nuclear que momentaneamente traz a antiga estrela de volta à vida. Seu brilho aumenta agressivamente e ela passa a ser visível, mesmo a grandes distâncias.

Sequência de imagens de antes e depois da nova, por Velimir Popov e Emil Ivanov, do Observatório Irida

É isso que está rolando na Nova Delphini 2013. Ela não chega a ser uma supernova, cuja reação é bem mais violenta, mas o suficiente para propiciar um espetáculo. E ela pode voltar a se repetir periodicamente no futuro, caso a anã branca continue a chupinhar matéria de sua vizinha (por isso há casos em que o disparo de uma nova pode ser previsível).

Hoje em dia, estudar esses astros ajuda a compreender esses cadáveres estelares resultantes da morte de estrelas como o Sol. Mas, no passado, a simples descoberta de uma nova ajudou a transformar a ciência astronômica.

UM POUCO DE HISTÓRIA

Em 1572, o famoso astrônomo dinamarques Tycho Brahe identificou uma nova e estudou seu comportamento ao longo dos meses seguintes. Com isso, constatou que o objeto estava muito distante da Terra, além da órbita da Lua. Era uma quebra de paradigma com relação ao que antes se pensava sobre o cosmo. Até então, os estudiosos do céu seguiam o pensamento de Aristóteles. o velho grego sugeria que o firmamento era eterno e imutável, e as coisas só sofriam transformações na esfera sublunar — ou seja, da Lua para baixo. Ao descobrir uma novidade no céu e mostrar que ela estava mais distante do solo que a Lua, Tycho começou a quebrar esse conceito.

Por sorte, em 1604, outra nova apareceu para reforçar essa ideia e foi estudada a fundo pelo sucessor do dinamarquês, Johannes Kepler. Essa foi tão espetacular que durante três semanas chegou a ser visível até à luz do dia!

Ambos eventos hoje foram reclassificados como supernovas, e os astrônomos vivem apontando seus telescópios para elas para ver o que sobrou do fenômeno que foi visível 400 anos atrás. Convenhamos, há um certo charme em continuar uma pesquisa que foi iniciada pelos pais da astronomia moderna.

Quanto à Nova Delphini 2013, ela é um ótimo lembrete de que sempre há coisas interessantes rolando lá em cima, e que a curiosidade que o céu desperta no ser humano é uma das coisas que rotineiramente o obrigam a pensar em como o mundo funciona.

PARA OBSERVAR

A Nova Delphini deve ir reduzindo de brilho nos próximos dias. O melhor jeito de achá-la, sobretudo nas grandes cidades, é com um binóculo.

A referência celeste mais fácil consiste em buscar, no horizonte norte, entre 21h e 22h, um trio de estrelas brilhantes — Vega, Deneb e Altair. Elas formam um triângulo, e a nova está no caminho entre Altair e Deneb, um pouco fora da reta (veja a figura acima).

[ATUALIZADO]

Para os entendidos em observação celeste, as coordenadas são 20:23:30.7 (ascenção reta), +20:46:06 (declinação), equinócio de 2000 (J2000).

Comentários

  1. Galera hoje as 5 50 do dia 26 /4 PERTo da estrela canopus (embora ela nao tivesse aparecido ainda ) vi uma estrela forte amarela mas ela durou um segundo e apagou ceu sem nuvens.. alguem tambem viu ?

  2. Desculpem a minha ignorância(não conheço nada de astronomia), mas na terceira imagem do artigo(aquela que apresenta a visualização de dois dias), aquilo brilhante um pouco acima e à direita da Nova Delphini 2013, também é uma nova?

  3. Sou morador na cidade de Rancho Alegre,
    e domingo dia24 e segunda dia 25 apareceu
    no céu acima de Londina uma estrela bém
    maior que as outras, ela apareceu em torno da 22 horas e desapareceu em torno de 22;45, que tipo de estrela e essa?

  4. Ola moro em Paraty RJ e ontem por volta das 19:30 eu vi uma estrela vermelha e ela foi ficando cada vez menor até sumir, várias pessoas viram, o que pode ser?

  5. gente ontem 04/10/2013 por volta da 00:00 em diante ,vi algo estranho no cèu,teve algum fenomeno este dia,alguem viu?

  6. Caro Salvador Nogueira
    Moro na cidade de Londrina, norte do Paraná e gostaria de saber para qual lado devo olhar.
    Obrigado e sucesso.

    1. Antes, só para esclarecer, estava observando a Lua ontem a noite e notei, do lado oposto ao nascimento da mesma, uma estrela muito brilhante. Seria esta?

    2. Para o norte. Dá uma olhadinha na figura e boa sorte. A essa altura, acho que só com binóculo.

  7. Desculpem, existem mais de 200 bilhões de galáxias no universo somente visível e conhecido cada uma com bilhões de estrelas e algumas com trilhões, planetas então a mente humana ainda não pode conceber, e muitos aqui ficam criticando se alguém escreveu errado ou não, quem somos nós para isso, será que milhares são mais importantes que bilhões de pessoas no mundo, eles terão algum lugar diferenciado qdo passar pro outro lado da vida??? vamos viver o dia a dia, o passado já era o futuro não nos pertence.

  8. Olá Salvador, ficou uma dúvida. Como a supernova de 1604 pode ser vista durante o dia, se nesse caso a superfície da terra estaria voltada para o lado oposto de onde ocorreu a supernova?

  9. Não se é mais esperto por usar uma linguagem rebuscada, nem menos inteligente por se usar uma linguagem mais simples.
    Curti a iniciativa de fazer uma matéria com uma linguagem mais informar e próxima aos jovens que estão cada vez mais interessados em mistérios do cosmos e outras ciências.
    e Chupinhar é muito legal, ri alto.
    Não tenha medo de escrever o que sabe e da forma que mais atinja o publico que mais precisa, os jovens.
    aos demais que exigem um nível técnico avançado com todas as terminologias técnicas possíveis, leia a mesma matéria na SCIENCE ou na NATURE devidamente no inglês.
    abraço a todos.

    1. Não é por causa de um “CHUPINHAR” que alguém vai deixar de cantar funk e passar a se interessar por ciência.

  10. Nao entendi o porque do pessoal ficar ofendido com a linguagem. Na minha opinião, um blog de divulgação cientifica deve mostrar para quem conhece novidades e coisas interessantes e, principalmente, aguçar a curiosidade de quem não conhece. O uso de linguagem informal, para quem conhece, não prejudica o entendimento. Mas se forem usados muitos termos técnicos, assusta quem nao conhece, que vai achar que aquilo que esta lendo é incompreensivel e vai deixar pra la…
    Creio que, desde que tenha a informação relevante, a linguagem informal não prejudica a compreensão do texto…

  11. Meu caros terráqueos, eu acredito que existem formas de vidas no universo e além de que o não existe só este nosso universo além de que existem várias dimensões e este nosso planetinha em breve estará mudando de dimensão podem acreditar.

  12. Bom dia meu caro Júlio Giglioti, a luz viaja a uma velocidade de 300 mil quilômetros por hora, um Ano Luz são 9,5 trilhões de quilômetros, o nosso universo conhecido são 150 milhões de anos luz será que só este nosso planetinha que gravita em torno de um solzinho de quinta grandeza seria privilegiado de ter vida? é claro que não!!! O nosso grande erro é achar que vamos encontrar vida igual a nossa lá em cima.

    1. Corrigindo-lhe, a velocidade correta da luz são 300.000 km/SEGUNDO, e não por hora como descrito em seu comentário!

  13. Quanto tempo de luz desse fenômeno a gente vê no céu, quando este acontece?

    1. Com certeza será possível ver nos próximos dias. O tempo de duração até que a estrela suma de vez de vista não é conhecido com exatidão.

    1. Valeu Salvador! Como leigo eu uso o google Earth. Usando as coordenadas e achei a vítima. Uma estrela azul e sua companheira.

  14. Apesar de concordar que certos termos não caem bem em artigos científicos, ficou claro que o autor estava tentando se comunicar com aqueles que tem pouco ou nenhum conhecimento de astronomia. Por isso a falta de coordenadas e o uso de termos informais. Achei elucidativo e que alcança o público que pretende alcançar.

    1. Ótimo… Também achei perfeita a colocação, já que nós simples mortais, sem muito conhecimento científico sobre astronomia, gostamos de nos manter informados sobre o universo

  15. Gostei da matéria, porém escreveu com muita informalidade fazendo com que a mesma pareça algo “barato”

    1. Só espero que a vida fora daqui, a qual vc comenta, não faça uso do mesmo vocabulário que o seu, com “certesa”… rs

  16. Em um artigo de divulgação científica o sr. usou o verbo “chupinhar”! Fantástico! Que coisa útil para todos! Meus parabéns.

  17. Podiam melhorar o vocabulario de quem esccreveu essa matéria. Pelo amor de Deus, que sujeito chinfrin , vá aprender a falar antes de escrever!

  18. Que legal! Minha maior dificuldade é achar as posições das estrelas no céu. No mais é fantástica a criação.

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