Europa, por um punhado de dólares

Salvador Nogueira

A Nasa acaba de lançar um desafio a cientistas e engenheiros americanos: como realizar uma missão de exploração não-tripulada de Europa, uma das luas de Júpiter, por um valor inferior a US$ 1 bilhão? Propostas serão aceitas até 30 de maio, e o consenso geral é que não vai ser fácil encontrar uma proposta satisfatória com essa grana. É bem alto o preço de explorar um dos mais interessantes potenciais habitats para vida alienígena no Sistema Solar.

Europa pode ter um ecossistema alienígena, esperando para ser estudado. O duro é chegar lá
Europa pode ter um ecossistema extraterrestre, esperando para ser estudado. O duro é chegar lá

A proposta mais econômica até agora já formulada vinha sendo cozinhada pelo JPL (Laboratório de Propulsão a Jato) da própria agência espacial americana e chegava com uma etiqueta de preço de US$ 2,1 bilhões. A ideia, batizada de Europa Clipper, não envolvia nem mesmo entrar em órbita do satélite, mas sim se manter girando em torno de Júpiter e, ao longo de três anos e meio, fazer uma série de sobrevoos próximos da lua, a fim de mapear sua superfície em detalhes.

Será preciso, portanto, muita criatividade para conseguir adequar os ambiciosos objetivos da Nasa com o orçamento disponível. As dificuldades que envolvem a exploração de Europa são muitas. Primeiro, Júpiter não é exatamente aqui do lado — ir até lá demora e custa caro. Segundo, a lua tem uma órbita próxima do planeta e é banhada por intensas doses de radiação, o que significa dizer que a espaçonave sofre se ficar lá por muito tempo. É melhor uma sonda distante da lua em pleno funcionamento que uma sonda próxima e pifada.

O interesse principal da missão é investigar o oceano global que aparentemente existe sob a crosta gelada do satélite natural. Em seu interior, vastas quantidades de água salgada são mantidas em estado líquido pelo poderoso efeito de marés provocado pelo gigante Júpiter. Recentemente, para tornar tudo ainda mais interessante, pesquisadores detectaram plumas de água sendo ejetadas do hemisfério Sul de Europa, o que poderia permitir um estudo direto do conteúdo do oceano — potencial abrigo para a vida — mesmo sem realizar um pouso.

Para a Nasa, a missão teria de cumprir cinco metas:

– Caracterizar o tamanho do oceano e sua relação com o interior mais profundo;

– Caracterizar a crosta de gelo e qualquer presença de água sob a superfície, incluindo sua heterogeneidade e a natureza das trocas oceano-gelo-superfície;

– Determinar a composição química da superfície, especialmente no que diz respeito a habitabilidade;

– Entender a formação de traços da superfície, inclusive sítios de atividade corrente ou recente, e identificar e caracterizar locais candidatos a futura exploração detalhada;

– Entender o ambiente espacial de Europa e sua interação com a magnetosfera de Júpiter.

“Embora a caracterização de locais de pouso para futura exploração in situ seja a quarta prioridade científica, a Nasa dá alta prioridade programática a essa meta, para permitir uma potencial futura missão de pouso em Europa”, afirma o documento de solicitação de propostas, dando uma pista do que a agência espacial americana vai querer fazer em seguida. Mas, convenhamos, é um bocado de coisas por US$ 1 bilhão. Parece muito dinheiro para você? Para que se tenha uma ideia, a missão Juno — também com destino a Júpiter, mas bem mais simples –, lançada em 2011, teve custo total até agora estimado em US$ 1,1 bilhão.

Será que existe algo mais barato que o Europa Clipper, orçado em US$ 2,1 bilhões, capaz de atender aos objetivos propostos? Engenheiros e cientistas espalhados pelos Estados Unidos têm um mês para achar a resposta. O Mensageiro Sideral certamente vai torcer para que eles encontrem um meio. Europa é interessante demais para deixarmos para lá.

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Comentários

  1. Salvador, senão me engano nos aceleradores de partículas, elas são impulsionadas a 99,99% da velocidade da luz no vácuo, através de cavidades de radiofrequência e de força magnética por ímãs poderosos, tal tecnologia não poderia ser “adaptada/transformada” e utilizada como “motor” espaço? sei que se utiliza muita energia para isso, mas poderia-se usar baterias nucleares para alimenta-lo. O que vc acha?

    Abraço.

    1. O problema é que os aceleradores são máquinas imensamente grandes, e além de tudo aceleram as partículas a altíssimas velocidades, mas são relativamente poucas. Como elas são poucas, geram pouco impulso. Um acelerador de partículas mal sairia do lugar, porque sua massa é muito maior que a das partículas que ele ejetaria, ainda que a velocidades próximas da luz. Abraço!

  2. Um dispositivo nuclear hermético poderia ser deixado na superfície de Europa, e pelo calor que gera, ir derretendo o gelo e afundando até atingir o oceano interno, nesse estágio seria acionada uma bóia para ancorar a sonda sob a calota de gelo para coletar e analisar amostras, estimar as dimensões do núcleo rochoso procedendo uma sismologia por sonar. Os dados seriam transmitidos à superfície do satélite por um umbilical de fibra óptica.
    (Pode-se testar protótipo no gelo do àrtico, na Terra!)
    Uma sonda auxiliar pode orbitar Júpiter à uma distância segura e fazer “rendezvous” periódicos com Europa, mapeando-a, realizando “upload” de informações da superfície e transmitindo para a Terra.
    Par entregar o conteúdo na superfície de Europa poderia se realizar uma frenagem atmosférica com Júpiter e realizar o pouso com balões protetores minimizando assim o uso de retro-foguetes.

  3. Grande salvador! Essa notícia nos faz refletir o dinamismo dos EUA e porque eles não deixam a peteca cair na liderança do Espaço. Acho que a iniciativa privada vai chegar em 1 Bilhão ou menos. A iniciativa privada arrisca mais e o foco é a vitória. Lembremo-nos da “space ship one”. Os EUA por sua vez são o palco para isso ocorrer. Parafraseando Batman em o cavaleiro das trevas ” as vezes as pessoas merecem mais que a verdade, merecem ter sua fé recompensada”, lá, diferentemente daqui, a iniciativa privada ganha o prêmio pelo mérito, não precisa saber se o interesse dos E.U.A é manter a liderança achar água ou vida em Europa, o Estado está acima dos cidadãos, porém instiga-os a ajudá-lo, justamente oferecendo um palco para que eles persigam e concretizem seus sonhos. O acordo é limpo. Não há um déspota medieval tributário, e sim o Estado é mais um meio do que um fim em si mesmo. Porque será que isso não rola por aqui? Não que os EUA não tenha defeitos, particularmente entendo repudiáveis as guerras e outras artimanhas movidas por interesses estratégicos que ferrem os cidadãos de outros países (que às vezes prejudicam até seus próprios cidadãos), porém em matéria de possibilitar a recompensa da fé particular de seus cidadãos, não tem ninguém na frente. Agora imagine um Estado sem os pecados americanos, com os mesmos “insights” para a consecução de seus fins em conjunto com o seu próprio povo, com amplos recursos e território. O que será que tá faltando para nós?

    1. Samuel, se, você olhar de forma fria, objetiva e sem quaisquer sentimentalismos, as guerras tem muitos pontos positivos: desenvolvimento científico tecnológico. Se nós olharmos para os homens das cavernas e pudéssemos mensurar o tempo nas empreitadas das caças, seguramente devem ter levado anos ou séculos para desenvolverem arcos e flechas. O próprio programa espacial nasceu dos programas das bombas voadoras desenvolvidas por Von Braun durante o nazismo. Se, apenas foguetes e bombas sejam “sonhos do mal”, atualmente se desenvolvem medicamentos com os benefícios da baixa gravidade espacial.

      Quanto ao surgimento hipotético de um Estado sem os pecados dos americanos eu acho que jamais chegaremos afinal, como dizia um ex-secretário de Estado americano, “o poder é afrodisíaco”. E Lula/PT não o desmentem.

    2. O que está faltando para a América Latina em geral é acabar com o voto obrigatório.

  4. A iniciativa privada não dá prego sem estopa. Visa é o lucro fácil e imediato. Se for para formar um exército de mercenários para combater no Iraque ou Afeganistão, está a postos. Mas em Europa? Só se for aquela Europa ali do outro lado do Atlântico.

    1. bem lembrado, a iniciativa privada significa propriedade de alguém e visa o lucro rápido e fácil, muitas vezes as pessoas acreditam que é esse o tipo ideal de organização.

      acontece que, felizmente, é um plano para levar máquinas até Júpiter e não PESSOAS. Como a iniciativa privada é malandra, costuma fazer de conta que certos cuidados com segurança podem ser “retirados” e com isso reduzir custos.

      a NASA costuma gastar mais porque já morreram muitas pessoas durante a corrida espacial e mesmo nos ônibus espaciais, que eram considerados mais seguros SQN.

      o espaço é muito perigoso para nós, a “nave” Terra é tão aconchegante que nem parece haver perigo lá no alto, apenas uns falsos deuses de mentirinha pra gente rir.

      sobre a matéria, muito boa, os desafios são enormes e a nasa está buscando novas ideias. Ainda bem que não pediram para o braxil, porque daqui só sai dilma.

  5. E a lua Io? Ela, sim, pelo que consta, possui temperatura (20ºC) mais próxima da nossa realidade e, além disso, possui atividade vulcânica ativa, evento este ainda não detectado em nenhum outro orbe do sistema solar.

    1. Sim, mas sem atmosfera, sem água e com atividade vulcânica sem igual no Sistema Solar, cuspindo enxofre para tudo quanto é lado. Uma ideia interessante é que Io pode “espirrar” matéria para a superfície de Europa, a lua vizinha, habilitando ainda mais o ecossistema europano.

    2. Sergio, Europa e Titãn sem duvida são os astros com a maior chance de albergar vida. Seria espetacular quando conseguirmos estudar o oceano Europano e os mares e lagos de Titãn .

      1. Deve-se mencionar também a lua Encélado, de Saturno, que tem a possibilidade de abrigar vida.

  6. Salvador, excelente o texto. Aliás, muito bom esse blog. Só acrescenta coisas boas e muitos sonhos nas nossas mentes.

    1. Valeu, Vitor. A ideia é essa mesmo. A humanidade só pode realizar aquilo que antes sonhar. 😉

  7. Salvador,

    Lembro que um tempo atrás, a NASA detectou evidencias de minerais na superfície de Europa que só seriam possíveis, devido a um contato do oceano interno com a sua superfície.
    Sabendo que a superfície de Europa é casca grossa, seria essa uma expedição com o propósito de encontrar essas possíveis fendas, alem do estudo em geral?

    1. Rodrigo, fui eu que escrevi sobre isso, aqui! Mas acho que o trabalho da sonda ainda seria bem preliminar mesmo, mais geral.

  8. Salvador,

    Se, eu disse se, a plataforma de lançamento fosse na lua conseguiríamos ter uma aceleração muito maior nas viagens pelo espaço?
    E se sim, estamos longe tecnologicamente falando de poder criar uma plataforma lá?

    1. Luciano, sim, seria absurdamente mais fácil lançar da Lua. Tecnologicamente, nada nos falta. O que não temos é o dinheiro que isso ia custar…

      1. Olá Salvador, dinheiro é o que não falta, o que falta é pessoas querer investir em tecnologia espacial, Richard Dawnkins tem uma matéria bacana no youtube onde ele explora o fato de que o ser humano não gosta de investir para o futuro e sim para o presente, e por se tratar de viagens muito longas muitos podem não estarem mais vivos para contemplar o retorno de seu investimento, por esta razão ainda não se tem investimentos maciços em tecnologias espaciais.

    2. Luciano,

      A Lua é perfeita como base de lançamento para viagens dentro do Sistema Solar. Ainda mais agora que descobriram reservas importantes de água lá. Dá para produzir o combustível a partir da água. As naves poderiam ser montadas em órbita da terra a partir de módulos menores lançados da Terra e depois rebocadas para a órbita lunar. Ai abastecidas e prontas para seguir viagem.

  9. Minha solução é enviar duas missões em uma:: Uma sonda que ficaria em órbita e outra para pouso ou ser arremessada contra a superfície, para estudar mais detalhadamente sua composição. Duas missões em uma, reduzindo custo de lançamento, acompanhamento, etc. E assim, o custo de uma viagem daria muito mais resultados em menos tempo.

  10. Como analista de sistemas não consigo resistir a tentação de caçoar do primeiro objetivo “Caracterizar o tamanho do oceano e sua relação com o interior mais profundo”. Atualmente não temos um completo entendimento da relação dos oceanos terrestres com o interior mais profundo, o que se dirá sobre um orçamento de projeto para fazê-lo em algum lugar a poucos milhões de quilômetros de distância.
    De qualquer maneira reduções de custo obirgatóriamente passam por revoluções tecnológicas principalmente no aspecto de propulsão. Nosso modelo atual de propulsão por combustão para deixar entrar e deixar a órbita terrestre praticamente deixa qualquer projeto mais arrojado (como este e qualquer outro de exploração planetária) como impeditivo financeiramente.
    Salvador você tem visto alguma novidade quanto a diferentes maneiras de se colocar coisas em órbita? A última que me fez algum sentido foi o elevador de nanotubos que conseguiu ser comprovado teoricamente e construído em pequena escala, mas ainda não possuímos a tecnologia para construí-lo em escala real.

    1. Thiago, elevador espacial é interessante, mas no momento impraticável. Por ora, para colocar coisas no espaço, ainda precisamos de foguete. Sua tecnologia em particular tem sido impulsionada pelas novas empresas aeroespaciais americanas, o que tem resultado em reduções de custo. Mas nada revolucionário até o momento.

    2. Trabalha-se em fibras que poderiam suportar as tensões envolvidas na construção do elevador espacial. Elas teriam de ser muito mais resistentes do que as de carbono para não romperem com o próprio peso. Além do mais teriam que se estender até a órbita geo estacionária……42.000 km…..Definitivamente foguete é mais fácil…..

      1. Schaefer, concordo com o que você pontuou em outra oportunidade.
        Para uma exploração espacial mais arrojada, teremos de promover uma nova revolução tecnológica. Teremos que avançar além da era eletrônica, que há cerca de um século ainda é baseada nos mesmos princípios.
        Mas talvez o conhecimento não evolua o suficiente. Talvez não seja infindável.

  11. Salvador, tenho uma pergunta! Se as doses de radiação que Europa recebe são muito altas, a chance de existir vida lá não é muito menor? Ou isso não interefere na probabilidade?

    1. Marcos, o lance é que as especulações de vida se concentram no oceano, que está protegido da radiação por uma capa de gelo de 10 km!

  12. Uê, a força misteriosa que transformou Júpiter numa estrela não proibiu a raça humana de fazer pesquisas na lua Europa? Hehehehe

    1. Qual a necessidade de ficar citando deus em um espaço dedicado pra discussão científica? Só pelo seu “(3 , 2, 1 e ateus trollando)” já dá pra ver, claramente, que você comentou com o propósito de provocar. E a louça? Já lavou?

          1. Ai Dinei, provavelmente foi a mãe dele quem lavou a louça, ele estava aqui enchendo linguiça e nossa paciência tbm…

      1. Na verdade ele só tá se antecipando à enxurrada de crentelhos bibliostras que virão aqui falar que “a cada do senhor tem muitas moradas” ou “tá na ‘bíbra'” ou “deus é o cara e vai matar todo mundo que não acredita nele” e coisas assim.

        😉

          1. c vc acredita que um “beijinho no ombro” faz o efeito… então vc crê, crer é o suficiente para vc não ser ateu.

          2. Ateu não significa não ter crenças. Ateu é aquele que não acredita em Deus.

    2. Você gosta de uma briguinha, hein?

      E esta é para o Salvador – o que fica mais caro – o foguete para levar uma espaçonave fora da atmosfera terrestre ou o veículo com sensores e tudo o mais até Europa, considerando o conjunto foguete+veículo? Será que o veículo não poderia ser lançado de um grande avião, evitando gastos imensos com um foguete tradicional?

      1. Numa missão dessas o mais caro é a espaçonave mesmo. Esse preço de US$ 1 bi seria só para a sonda, sem contar despesas de lançamento — que podem variar bastante. Você pode usar um foguete menor e mais barato, viajar mais devagar, usar vários estilingues gravitacionais em sobrevoos de planetas para acelerar a nave, e chegar lá em 4-5 anos, ou usar um foguetão (como o SLS), pegar uma trajetória direta e chegar lá em 1,5 ano.

        1. Boa resposta, Salvador! Na minha ignara compreensão, eu pensei num lançador à partir de um avião. Este lançador seria pequeno (tipo um míssil), com força suficiente para vencer a “gravidade” da Terra e seria lançado pelo avião à partir da maior altitude que pudesse alcançar. A cabeça útil deste míssil seria um veículo pequeno com toda a instrumentação necessária para alcançar as metas estipuladas pela Nasa (e talvez mais algumas). É claro que teria combustível e manobrabilidade, mas poderia ser bem pequeno, considerando os avanços em miniaturização e excelência dos propelentes atuais. Talvez levasse 5 anos para atingir Europa, mas considerando a “merreca” que estão dispostos a investir isto parece ser bom. Este tempo pode “diminuir” tremendamente se houver outros lançamentos deste porte durante a primeira viagem e, assim sendo, o primeiro levará 5/6 anos para atingir a meta, já o segundo e os demais o intervalo de tempo entre um e outro (e isto melhora se considerarmos outros objetivos, tipo outra lua ou outro planeta ou coisa assim).
          P.S. Este veículo não seria retornável (tipo um satélite) e isto simplificaria muito sua complexidade, volume e custo. Obrigado por partilhar seu conhecimento. Um abração e até breve! 🙂

          1. Valeu, Marques. Alguns satélites de fato são lançados nesse esquema avião/foguete, mas precisam ser de pequeno porte e se limitar a órbitas baixas em torno da Terra. O SCD-1, primeiro satélite brasileiro, foi lançado assim, de um avião, por um foguete americano Pegasus. Abraço!

          2. Salva, meio que na linha do comentário sobre o lançamento a partir de um avião: o Youtube tá cheio de videos de gente que colocou câmeras na estratosfera só usando balões de gás. Será que isso não seria uma opção mais barata pra vencer a gravidade da Terra num primeiro momento? Chegando na estratosfera com (muitos) balões, economizamos um monte de combustível e de lá sim ativamos os foguetes. Depois seria usar os estilingues gravitacionais até chegar lá. Quanto à sonda, de repente valia mais a pena tentar algo mais simples pra começar, com câmeras, um espectrômetro, um transmissor potente e uma carcaça de chumbo pra proteger. Posso estar sendo simplista, mas acho que é a única forma de tentar ficar dentro do orçamento proposto… que acha?

          3. Tiago, não é bem assim que funciona. A impressão que temos é de que os objetos ficam em órbita porque atingem uma altitude que é tão grande que a gravidade da Terra já não faz tanto efeito. Na verdade, a gravidade na altitude da Estação Espacial Internacional é praticamente a mesma da superfície da Terra — acima de 90% da que experimentamos aqui. Mas então por que o trambolho todo simplesmente não cai no chão? É por causa da velocidade. Orbitando a 28 mil km/h, a estação está sempre caindo, mas avança tão rápido que a curva descrita pela queda contorna o planeta, em vez de atingir o chão. Em essência, todas as espaçonaves estão em queda livre, caindo o tempo todo e “errando” o planeta por conta da curvatura dele. Objetos em queda livre não experimentam a sensação da gravidade, e por isso tudo parece flutuar a bordo. Voltando ao seu exemplo, com um balão, conseguimos atingir uma altitude respeitável, mas como obter a velocidade necessária para não cair de volta? Teria de ser com um foguete, e como a gravidade lá não é muito menor que aqui, o consumo do combustível não será muito menor, se quisermos colocar algo em órbita. Nesse sentido, um foguete acoplado a um avião faz muito mais sentido. Embora voe mais baixo, o avião pode dar 1.000 km/h ou até mais (se for supersônico) de impulso inicial antes do lançamento do foguete, que precisaria “só” empurrar os 27.000 km/h faltantes…
            Abraço!

          4. Valeu, Salva! Tá explicado! Então lançar a partir da Estação Internacional também não daria muita diferença (era minha próxima idéia)… vms ter que esperar a Estação Lunar ser criada pra economizar em combustível então…

          5. Pois é. Ou podemos simplesmente não economizar em combustível, o que me parece mais adequado nesse caso. 🙂

      2. Salvador, uma dúvida quanto à tua resposta à sugestão de lançamento por balão.

        Ainda que a gravidade seja praticamente a mesma que ao nível do mar, o ar é mais rarefeito e, por consequência, gera menos atrito para a nave vencer. Isso já não daria uma baita economia em combustível?

        Bom, acredito que se a ideia fosse de fato viável, já a teriam ao menos tentado. Mas não deixa de ser interessante… 🙂

        1. Hakim, não chega a ser inviável. É uma ideia boa, por exemplo, para voos suborbitais. (Se não me engano, um dos concorrentes na disputa pelo antigo Prêmio X tinha uma estratégia de lançar o foguete de um balão.) Mas para voos orbitais ela não ajuda muito, porque o problema não é a atmosfera, é a gravidade. A atmosfera, com aerodinâmica, você já resolve bem. Mas o puxão da gravidade e a necessidade de atingir pelo menos 28 mil km/h é o que pega.

    3. (ou é só retardado que gosta de ser escorraçado nos comentários todas as vezes)

      Das duas, uma.

  13. O que esta havendo com a principal potência do mundo, esta quebrando? Uma exploração na Lua Europa deve ser feita por um equipamento que perfure a crosta de gelo e entre em contato com a água para verifica-la.
    Mas valeu pela matéria.

    1. Não está quebrando, apenas direciona MUITO menos dinheiro do orçamento anual para a NASA do que direcionava antes, como já explicado inúmeras vezes.

  14. É claro que há solução barata, Salvador!
    E aquí vai a receita, minhas amiga:
    1) Pega um avião espião (aquele que voa bem alto e rápido) e reserva.
    2) Separe um estilingue de bicicleta (vende em qualquer lugar, menos naqueles que você está acostumado a frequentar).
    3) Pega um robô pedaleiro movido à energia solar (tem que ser um bom robô, não pode ser ching-ling não, viu minhas amiga?).
    4) Faz o avião voar bem alto, mas bem alto mesmo e, quando estiver bem alto, BÓING, ativa o estilingue e a bicicleta com o robo é lançado em direção à Europa (não a Europa que tem a França, Portugal (eu falei Portugal?), etc, mas à lua de Zúpiter (quero dizer, Júpiter).
    Aí o robô pedaleiro vai pedalando, pedalando, até chegar lá. Aí é só relaxar, minhas amiga, pois o robô vai informando aos pesquisadores o que for encontrando pela frente, através do uso de um celular da Embratel (eu disse Embratel?), algo tipo assim – “zente, eu acho que um meteoro vai acertar minha fuça” e coisas maravilhosas deste tipo.
    Se vocês fizerem tudo direitinho, minhas amiga, vocês vão receber muitos elogios (e eu muita porrada, quem manda eu ser besta?).

  15. Salvador, no texto vc diz “intensas doses de radiação”, não está claro pelo menos pra min de onde vem esta radiação. se do sol, já temos tecnologia para isto (viagens a lua, nossos satelites por ai). explicite, grato.

    1. Vem principalmente do Sol. Mas Europa fica basicamente no cinturão de radiação gerado pelo campo magnético de Júpiter, ou seja, uma região que concentra a radiação vinda do Sol. Cinturões similares existem em torno da Terra, e não há problema em cruzá-los, como as naves Apollo fizeram para ir à Lua. Mas seria problema se a nave ficasse o tempo todo nele, como seria exigido de um orbitador de Europa. É um problema insolúvel? Não. Basta fabricar a nave com mais proteção à radiação. Mas isso aumenta o peso do veículo, e com o aumento do peso sobe o custo!

  16. Acredito que à medida que a iniciativa privada americana se integre à pesquisa espacial, os custos tendem a cair. Hoje esta iniciativa já participa intensamente. A NASA praticamente não implementa nada. Quem implementa as capsulas e foguetes são empresas como a Boeing, por exemplo. Quando ficar ao encargo da iniciativa privada, todo o processo, ficando a NASA apenas na coordenação, os custos devem cair. Um bom exemplo é o sucesso absoluto da empresa SpaceX que competentemente está levando a cabo um programa de lançamentos da NASA orçado em US$ 1,6 bilhão. É atualmente a única empresa americana envolvida no envio de cargas à ISS.
    Por outro lado, acho que está na hora da NASA abrir seu programa a outros países, de forma semelhante ao que faz a ESA.

  17. Deveriam se juntar com a China, Japão e a Russia para um proposito maior. Isso é oque eu mais desejo em relação à exploração dos Planetas, mesmo com a ISS a relação entre os países me parece muito distante. Qual sua opinião sobre esse assunto SALVADOR NOGUEIRA?

    1. Concordo, mas com a situação na Crimeia e uma lei americana que impede cooperação com a China, não veremos isso tão cedo.

  18. Salvador, uma coisa que não entendo é de onde vem a energia que provoca as forças de maré ( pois a energia apenas se transforma) em europa? e se ela esta constantemente recebendo energia térmica, aonde esta perdendo a energia, seria da sua órbita tornando menos energética?

    1. Existe uma interação complexa entre Júpiter e outras duas luas, em ressonância, para produzir o efeito de maré. Mas é isso. Você troca a energia da órbita por calor interno.

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