Foguete brasileiro movido a etanol

Salvador Nogueira

O Brasil lançou ao espaço, na calada da noite de segunda-feira, seu primeiro foguete de propulsão líquida. E ele é movido a etanol.

VS-30 sobe ao espaço às 23h02 de segunda-feira e testa estágio movido a etanol
VS-30 sobe ao espaço às 23h02 de segunda-feira e testa estágio movido a etanol

Trata-se de um veículo de sondagem, capaz apenas de voo suborbital, ou seja, sem potência suficiente para atingir a velocidade requerida à colocação de algum artefato em órbita da Terra. Mas a missão consiste em avanço importante para o país, pois é a primeira vez que testou-se um motor de foguete com combustível líquido desenvolvido nacionalmente. Essa é a tecnologia de praxe para veículos lançadores de satélites, pois permite um controle de voo melhor, embora seja mais complexa que a dos propelentes sólidos.

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O lançamento em si foi cheio de mistério. Sob encargo do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), órgão da Força Aérea Brasileira, o voo estava agendado para o último dia 29, sexta-feira passada, a partir do Centro Lançamento de Alcântara, no Maranhão. Mas eis que, dois dias depois, a Agência Espacial Brasileira reportou por meio de nota que houve um adiamento e que uma nova tentativa seria feita em 15 dias. Então, ontem, de surpresa, a AEB noticiou o voo bem-sucedido. (A nota original reportando o atraso de duas semanas foi apagada do site do órgão do governo.)

VELHO FOGUETE, NOVO ESTÁGIO
O veículo que subiu de Alcântara era uma combinação do velho e do novo. A base era o VS-30, tradicional foguete de sondagem brasileiro de um estágio movido a combustível sólido que já fez 12 voos antes deste. Somente o segundo estágio era de propulsão líquida, movido a etanol. Mas o que importa mesmo é que funcionou, colocando o país na lista dos detentores dessa tecnologia crucial para missões espaciais.

“Neste primeiro voo do Estágio Propulsivo Líquido verificou-se o bom funcionamento do motor pelo tempo previsto”, disse em nota o coronel-aviador Avandelino Santana Júnior, coordenador geral da Operação Raposa, nome dado ao esforço de lançamento em Alcântara.

O voo completo durou 3 minutos e 34 segundos, seguindo a trajetória nominal e encerrando-se com uma queda no mar na região prevista. Que fiquem registrados aqui a admiração e o entusiasmo do Mensageiro Sideral pelos obstinados engenheiros e técnicos do IAE, que obtiveram mais essa conquista a despeito do histórico descaso das autoridades com relação ao programa espacial brasileiro.

A decolagem do VS-30-V13, com seu primeiro estágio de propelente sólido
A decolagem do VS-30-V13, com seu primeiro estágio de propelente sólido.

RENOVAÇÃO?
Que o sucesso abre portas e perspectivas para o futuro desenvolvimento de foguetes nacionais, não há dúvida. Parabéns a todos os envolvidos. Contudo, eu seria hipócrita se fingisse que está tudo bem e deixasse essa conversa terminar com um mero tapinha nas costas. A verdade é que o Brasil está muito atrasado nesse segmento tecnológico estratégico e essencial à soberania nacional e ao desenvolvimento econômico do país. Precisamos recuperar o tempo perdido. Aproveitando que estamos em período eleitoral, não custa aqui deixar minhas sugestões do que eu gostaria de ver acontecer no ramo de foguetes para a próxima década. Quem sabe Papai Noel está lendo e resolve me atender?

Este não é Papai Noel; é o VS-30, 39 segundos após o lançamento, em Alcântara
Este não é Papai Noel; é o VS-30, 39 segundos após o lançamento, em Alcântara

1- Transparência e uso pacífico
O Brasil precisa deixar claro para a comunidade internacional que seu programa de desenvolvimento de foguetes é pacífico. Por mais que a AEB sirva de fachada para o resto do mundo, a verdade é que nossos foguetes são desenvolvidos pela Força Aérea, que, a rigor, nem muito interesse tem em alavancar nosso avanço no espaço. Alguém precisa ter a coragem de desvincular o IAE da FAB (corporação pela qual tenho a maior admiração, mas que por seu caráter militar é por definição o ambiente inadequado para o desenvolvimento de um programa espacial civil) e torná-lo um centro vinculado diretamente à própria AEB, com estrutura independente e financiamento adequado voltado para sua atividade-fim: a concepção e os testes dos lançadores nacionais. A falta de transparência no ambiente militar incomoda muito. Exemplo: no dia 30, ansioso para saber se o lançamento do VS-30 havia acontecido conforme o planejado, contatei um engenheiro do IAE a quem tenho acesso, que me informou que não poderia falar sobre o assunto sem autorização do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica — que, por sinal, deveria estar dando o passo-a-passo da Operação Raposa à imprensa, mas manteve um silêncio inexplicável enquanto todos buscavam qualquer fiapo de informação a respeito do voo. Na boa, não dá. Como vamos contagiar a população com o entusiasmo e o orgulho de termos um programa espacial ativo se não contamos para ninguém o que estamos fazendo?

2- O VLS-1 já era
O Brasil, como você talvez saiba, tem desde 1980 um projeto para o desenvolvimento de seu primeiro Veículo Lançador de Satélites, o VLS-1. Três tentativas foram feitas de lançá-lo, após anos de atrasos. Duas falharam, em 1997 e 1999, e uma terceira terminou em tragédia, matando 21 técnicos e engenheiros do IAE em 2003. Na ocasião do acidente, o então presidente Lula havia prometido nova tentativa de lançamento para 2006. Já estamos em 2014 e ela não aconteceu. Mais: graças ao acordo com a Ucrânia para o lançamento dos foguetes Cyclone-4 a partir de Alcântara, que deve levar a um primeiro voo antes da próxima missão do VLS-1, parece desimportante levar o veículo nacional a termo. Certamente tivemos lições aprendidas (e algumas até já desaprendidas, com o passar do tempo) no desenvolvimento do foguete, e pouco irá acrescentar, além de orgulho, a essa altura, levar a cabo um lançamento bem-sucedido. Por mais que me doa o coração (sou fã do VLS-1 e queria muito vê-lo colocar um satélite no espaço), acho que é hora de cancelar. O projeto é atrasado e do tamanho errado para o Brasil.

3- Acelerar, com recursos adequados, o desenvolvimento dos sucessores do VLS
O plano já existe há mais de década: é o programa Cruzeiro do Sul, que prevê o desenvolvimento de cinco foguetes, com aumento gradual de capacidade e transição da tecnologia de combustível sólido para o líquido. O Alfa é basicamente o VLS-1 com um terceiro estágio de propulsão líquida. Vamos direto para ele. E de lá, agressivamente, rumo ao Beta, ao Gama, ao Delta e ao Epsilon. Com verba adequada e ambição, seria possível desenvolver num horizonte de 10 a 15 anos um sucessor evoluído para o Cyclone-4 — que, por sinal, não é minha opção favorita para o Brasil no momento, mas é o plano que o governo comprou mais de uma década atrás e pior que tê-lo seria interrompê-lo sem ter nada para colocar no lugar.

No fundo, o que precisamos mesmo nesse setor é de metas inspiradoras, realistas, claras e associadas a uma dotação orçamentária compatível com nosso potencial e com nossas ambições. Não dá mais para esperar. A quem quer que vença a eleição presidencial deste ano, fica a dica.

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Comentários

  1. O Brasil é um País muito rico, somos privilegiados em tantas coisas e vivemos a míngua. O que estraga a honra deste lugar é a Corrupção que está enraizada na nossa Classe Política. Projetos como este dos militares que deveriam está ganhando uma atenção especial por parte do Estado Brasileiro. Vamos lutar por esta nação! BRASIL!

  2. Na posição que ocupo neste meu torrão; por ter nascido neste meu querido Brasil, obrigo-me a dar opinião: todo cidadão neste planeta possue uma nacionalidade e por dever cívico deve torcer pelo seu país, espelhei apenas o óbvio. O problema do brasileiro é que ele é um admirador dos europeus e americanos. Para você vencer é necessário que trabalhe duro, não pense só em comprar pronto mais fabrique, crie seu próprio centro de tecnologia, não dependa tanto do estrangeiro. O resto é responsabilidade das entidades da segurança nacional, dando sempre o troco à altura. Para que tudo isso se concretize é necessário colocar todos os ladroes na cadeia, aí você me pergunta como? Eu lhe respondo: Faça uma checada na Justiça deste País escolha o melhor Juiz, crie uma vara de execução rápida coloque todos os ladroes e traidores da pátria, na cadeia e jogue a chav

  3. Eu sou favoravel que a FAB esteja junta neste projeto, pois eh importante para o Brasil ter um foguete com
    fins militares , soh assim seremos mais respeitados
    pelas potencias mundiais. MANDA VER FAB.

  4. Boa noite,lamentável que nosso País não tenha um verdadeiro compromisso com esse projeto.quero lembrar aqui que os estados unidos são os responsáveis pelo fracasso dessa missão,pois eles explodirão nosso foguete VLS e mataram (21)BRASILEIRO, são sabotadores e terroristas aves de rapina.não podemos tirar esse projeto das mãos dos militares e leva ló para os civis . atenção militares vamos tomar nosso País das mãos dos espiões que o comandam

  5. O brasil tem que mostrar que é capaz de produzir misseis de longo alcance, só assim esses bandos internacionais respeitarão mais a nossa soberania e para isso nada melhor do que o programa ficar nas mãos dos militares.

  6. Prezados, houve sim uma data pré-concebida e a programação seguia em ritmo normal, no entanto, como foi noticiado na época, havia uma frota de guerra de um país “player” no mercado de satélites nas imediações do lançamento. Um determinado político brasileiro muito importante no atraso econômico-cultural do nosso país, inclusive afirmou uma possível sabotagem espacial, mas aí vocês sabem né … o anão diplomático se calou. Portanto, temos sim, por enquanto, evitar lançamentos com previsão antecipada. Existe espionagem industrial e outras coisitas mais e ponto final. O Brasil tem que crescer, amadurecer e para com essa história de ser bonzinho o tempo todo. SANTA MEDIOCRIDADE ACHAR QUE TODOS ACEITARAM O BRASIL DETENTOR DE TECNOLOGIA ESPACIAL, OU SEJA, DONO DO SEU DESTINO E PODER DIPLOMÁTICO NAS MÃOS! Por iss, infelizmente, um país minúsculo e inexpressivo para manter a paz chama-nos de “Anão diplomático” pois pensam que devemos se contentar com samba, futebol, prostitutas e traficantes e nada mais.

  7. Os politicos tem que ter visão modernista apoiando veementemente com atitudes praticas nosso programa espacial brasileiro para não ficarmos etrelados a paizes oportunistas que procuram interromper nossos objetivos de pais livre e democratico.

  8. Salvador, qual a velocidade requerida à colocação de algum artefato em órbita da Terra? E qual a velocidade e altitude alcançadas pelo VS-30 ontem?

    1. Para entrar em órbita precisa de 28 mil km/h. Não sei que velocidade atingiu o foguete ontem, mas apostaria que deve ter ficado ao redor dos 4 mil ou 5 mil km/h.

  9. Tetsuo! Antes que me esqueça vá para o japão e seja tratado como cidadão de segunda classe, pois nem falar japonês, você deve saber. Sempre criticando o Brasil.

  10. Bom mesmo é o Japão. Fica brincando com robozinhos. Quando precisou de robôs de verdade devido à Fukushima, teve que pedir robôs da Inglaterra e EUA.

    1. Tapar o Sol com a peneira e procurar a causa dos nossos problemas sempre lá fora em nada nos ajuda. Não respeitar a opinião dos outros e partir para a ofensa é coisa de quem não tem argumentação.

  11. Tetsuo. Sabe por que qualquer estudante secundarista nos EUA pode lançar foguete?Porquê lá não tem os EUA para impedir. Sabe porquê nos EUA não tem golpe de estado?Porque lá não tem embaixada americana.

  12. Que engraçado. Quando foi feito um lançamento “secreto” funcionou. Não deu tempo de sabotar. Temos que agir assim nas missões mais cruciais.

    1. Ageu, na época do acidente, a data certa de voo também foi mais ou menos ocultada. E o foguete explodiu DOIS DIAS antes da tentativa marcada para o lançamento.

        1. Não vejo nenhuma necessidade de se falar o momento de lançamento. Pelo sim, pelo não, eles fizeram certo.

        2. Prezados, houve sim uma data precomcebida e a programação seguia em ritmo normal, no entanto, como foi noticiado na época, havia uma frota de guerra de um país “player” no mercado de satélites nas imediações do lançamento. Um determinado político brasileiro muito importante no atraso econômico-cultural do nosso país, inclusive afirmou uma possível sabotagem espacial, mas aí vocês sabem né … o anão diplomático se calou. Portanto, temos sim, por enquanto, evitar lançamentos com previsão antecipada. Existe espionagem industrial e outras coisitas mais e ponto final. O Brasil tem que crescer, amadurecer e para com essa história de ser bonzinho o tempo todo SANTA MEDIOCRIDADE!

  13. Tetsuo.

    Conheço você do Estadão. Não seja mal intencionado. O estágio líquido, será parte do futuro propulsor que esse sim, colocará um satélite em órbita. Você leu, mas não entendeu.

  14. Magnífico avanço. Competentíssimos, parabéns IAE/DCTA, vocês estão honrando os heróis mortos no “acidente” de alcântara.

  15. Você usou o termo na calada da noite. Certíssimo o que o Brasil fez, nós todos estamos lembrados do que aconteceu com o VLS, quando todo mundo (EUA)estava sabendo. O título do blog foi tirado de siderius nuncius (mensageiro espacial) da obra de Galileu?

    1. Ageu, como disse no Facebook, se os EUA promovem sabotagem, também promovem espionagem. Duvido que eles chequem planos de lançamento no site do CTA. Eles teriam espiões em Alcântara, como, por sinal, os franceses já tiveram. E sim, o nome do blog é inspirado no nome do primeiro livro do Galileu, embora a tradução correta do livro dele seja “A Mensagem Sideral”, ou “A Mensagem das Estrelas”. Mas como Nuncius pode ser traduzido dos dois modos (Mensagem ou Mensageiro), optei pelo segundo, para pessoalizar. É uma homenagem ao Galileu, que para mim foi o primeiro cientista a de fato promover DIVULGAÇÃO de ciência.

  16. Parabéns a nossos bravos engenheiros espaciais! E, Salvador, concordo em gênero, número e grau com seu post.
    Respeito muito o trabalho dos militares, mas o fato deles estarem envolvidos nos trabalhos leva a dois problemas: sigilo desnecessário e desconfiança internacional.
    Algumas semanas antes da infeliz explosão em Alcântara, eu voei de volta de São Luiz a Sampa – onde tinha ido a trabalho – e o passageiro ao meu lado era um dos engenheiros do projeto (não me lembro do nome dele, tentei decorar naquele dia, mas sou muito ruim de nome – espero que ele tenha sido um dos sobreviventes, não tenho como saber). Nossa, conversamos muito sobre o programa e os problemas que eles tinham, como peças que chegavam completamente destruídas em embalagens perfeitas, o fato de terem apenas 3 mesas inerciais, feitas com peças de 5 mesas velhas compradas da URSS (mesa inercial é o sistema de giroscópios), duas já utilizadas e a última seria usada no lançamento seguinte – o que explodiu…

    Na conversa, ficou claro para mim que, além da falta de verbas, a desconfiança internacional era outra coisa que atrapalhava demais o desenvolvimento.

  17. Foram mais motores do tipo S30 lançados. Pois são utilizados no VS-30, VSB-30 e foi utilizado no sonda III. Devem ser apx uns 60 vôos desse propulsor

      1. 😉

        Tá vendo, “seu” Umbiguismo invejoso? Eu e o Salva somos todos macacos BFF e você é feio e bobo. Volte pro Gizmodo e ache um amiguinho pra chamar de seu.

        KKK

        E já falei, mude seu nick pra “Invejoso Master”, combina mais com você!

        1. Mas eu sai do Gizmodo justamente para acompanhar a tua saga aqui no MS. Você não só é ignorante como espirituoso também. Aprendo muito com você. A personificação do Paradoxo. Merece estudos.

          1. E você é apaixonado por mim. Só pode. Mas te digo que já sou casado, fica pra próxima encarnação.

            😉

  18. Foguete a etanol? Então isto explica porque o trajeto dele é torto! Ele vai para o céu cambaleando! Se faltar etanol, basta colocar pinga! Genial. Hehehehehe… brincadeira!

    Mas o negócio é fazer um foguete que suba sem muito combustível, aliás usando apenas fótons:

    http://www.defesabr.com/Tecno/tecno_laser.htm
    http://brazilianspace.blogspot.com.br/2009/07/brasileua-programa-de-parceria-para.html
    http://brazilianspace.blogspot.com.br/2009/11/brasileiros-desenvolvem-foguete.html

    Como diria o Dr. Evil:

    https://www.youtube.com/watch?v=voSpOrimkMY

  19. Que ótima notícia saber que não estamos parados, apesar do grande atraso.
    Quanto às questões levantadas, você já ouviu falar nisto:
    http://www.portaltic.com/84-alcyon-junior/469-wikileaks-revela-gravissima-sabotagem-dos-eua-contra-brasil-com-aval-de-fhc.html
    Quanto à validade dos lançamentos:
    – posso estar errado, mas pelo que sei, só se aprende fazendo
    – ninguém nos dará NADA de graça
    – se não é proveitoso, por que China e Índia se aventuram nessa área?

    1. Luis, só bobagem. Eu conheço bem a história do acordo de salva-guardas com os EUA. O Wikileaks não revelou nada de novo aí, e chamar isso de sabotagem é desonesto. Um governo pressionar outro é do jogo político. Um governo sabotar outro é coisa completamente diferente.

      1. Mas não deixa de ser uma sabotagem discreta, não é Salvador? Atrapalham nossos planos, dificultam a nossa vida e depois ainda querem humilhar a gente com o tal “uso exclusivo” da base de Alcântara. Atitude bem imperial a deles, não é?

        1. Não vejo como sabotagem. É boicote. Bem diferente. E acho bem razoável da parte do governo americano. Se você quer evitar a proliferação da tecnologia de mísseis, parece razoável exigir que o lucro obtido com o lançamento de satélites americanos não revertesse para o desenvolvimento de potenciais mísseis. Tendo dito isso, essa política era apenas da boca pra fora, pois uma vez que a grana tivesse entrado no Brasil, ia para o bolo do orçamento federal e poderia ser rearranjada de qualquer jeito que quiséssemos.

        2. Geraldo,

          Coincidentemente saiu uma reportagem hoje sobre uma pendenga entre Argentinos e Chineses pelo mesmo motivo. Os Chineses querem implantar uma base na Argentina, mas sem dar direito aos Argentinos de acompanharem as tecnologias sensíveis que serão instaladas lá. Não chamo isto de imperialismo, mas se eles se esforçam e gastam rios de recursos para desenvolver certas tecnologias, não é justo que outros adquiram estas tecnologias de forma fácil.

          1. Será que a espionagem e a engenharia reversa dos argentinos está boa? Os chineses tem vastos conhecimentos nestas áreas e podem tentar se prevenir.

  20. Bom dia Salvador!

    Como quase em tudo, acho o Brasil um país singular para não falar, estranho. Por quê? Hoje, nas mídias afinadas com Brasília, parece que o assunto principal é brigar por um revanchismo contra os governos militares ou governos passados (entenda-se FHC) e, veja que escrevi governos militares e não ditadura. Muitos serão contra a minha posição, mas para quem viveu o antes, o durante e o pós, pode ser um juiz menos radical ou propenso a erros emocionais, que o PT tanto explora com uma aparelhada Comissão da (in) Verdade. Após a Constituição de 1988 os militares batem continências ao presidente, que em tese é o Comandante em Chefe das Forças Armadas, portanto, eu não veria nenhum problema na FAB liderar as pesquisas em mísseis ou lançadores de cargas científicas afinal, o Centro Tecnológico da Aeronáutica é o que há de mais equipado e estruturado em assuntos relacionados ao espaço. Criar uma Agência Brasileira Espacial num ambiente de governos sórdidos como o que vivenciamos seria mais danoso que útil, pois, no dia seguinte da criação seria mais um cabide de empregos e mais um concurso para empresas que “prestam” serviços dos concursos para o governo federal; quando não há previsões de vagas, criam listas de esperas ou um “over booking” de “concurseiros” i.e., pessoas que incapazes de trabalhar em ambiente privado preferem as mamatas dos cargos públicos.

    Entendo que pesquisas sempre são válidas até mesmo para aprender o quê não fazer ou tentar reinventarem rodas, mas qual seria o valor deste lançamento? Fazer sondagens em grandes altitudes? Um belo balão não faria o mesmo? Afinal, sem potência suficiente para atingir a velocidade requerida à colocação de algum artefato em órbita da Terra eu faria a comparação com os projetos Coperçúcar-Fitipaldi na sua participação da F1 com um carro brasileiro.

    A frase: “Mas o que importa mesmo é que funcionou, colocando o país na lista dos detentores dessa tecnologia crucial para missões espaciais” achei muito ufanista. Por quê? Ainda, durante os governos militares o Brasil possuía uma “indústria aeroespacial militar”, que à época, incomodou aos americanos, europeus e soviéticos na conquista de mercados armamentistas a tal ponto, que no atual conflito no Oriente Médio foram encontrados armamentos nas formas de blindados e mísseis fabricados em São José dos Campos onde está o CTA e também estavam a Engesa, Avibrás e outras. Achei muito ufanismo porque lançar “foguetinhos” qualquer secundarista ou graduando de faculdades nos EUA o fazem sem grandes alardes e o “pai” dos foguetes Wernher Von Braun, fabricou muitos V2 para Adolf Hitler bombardear Londres, isto lá pelos anos 1942. O quê incomoda e não produz avanços no Brasil é a cada governo, surgir um cara que desiste dos projetos que estavam em andamentos para reinventar a roda ou procurar pelos em cascas de ovos, portanto, com tantas descontinuidades não chegamos a lugar nenhum.

    “O lançamento em si foi cheio de mistério. Sob encargo… a partir do Centro Lançamento de Alcântara, no Maranhão. Mas eis que… e que uma nova tentativa seria feita em 15 dias” Por que será que tudo no Brasil democrático tudo corre em segredo, ora militar, ora de justiça, ora político? Será, que conforme os conspiracionistas, as potências espaciais estariam interessadas em obter as tecnologias do nosso fusquinha a álcool?

    A “era espacial brasileira” começou em Natal na Barreira do Inferno, que pela infeliz escolha do nome se tornou uma verdadeira barreira infernal as pesquisas aeroespaciais.

    Finalizando, o seu último parágrafo traduz o sonho da maioria dos brasileiros que amam este país, mas como disse em parágrafo anterior a cada governo se mudam tudo e recomeçam de um zero para ao término atingirem quando muito, 0,00001%. A dotação orçamentária? Sem querer ironizar eu te pergunto: “Tais brincando?” Se a base de todas as pesquisas são as escolas e estas não se enquadram sequer a pré-projeto de protótipo de “street school” porque não recebem dotação orçamentária para amplo atendimento, que dirá pesquisas espaciais? A última linha: “A quem quer que vença a eleição presidencial deste ano, fica a dica” tem a minha integral e irrestrita concordância. Clonando a frase de Mané Garrincha: “Já combinou com os russos” resta saber quem irá avisar aos candidatos que tanto aspiram chegar à presidência sobre a necessidade do Brasil deixar de ser um país tão primitivo que exporta commodities para comprar produtos acabados.

  21. Caro Salvador Nogueira, excelente matéria e muito preciso os seus comentários, além das boas dicas para a próxima gestão federal. Parabéns! Como você destacou, também gostaria muito de ver um(a) Presidente(a) de coragem para ajustar os rumos do Programa Espacial Brasileiro.

  22. Salvador, concordo em linhas gerais com sua reportagem.

    Mas em relação ao sigilo, me permita discordar.

    Como você bem lembra, a intenção de, com isso, desenvolverem tecnologia voltada à defesa de soberania etc, é clara.

    Sendo assim, ao menos em um estágio de desenvolvimento inicial como este, a presença da FAB e da proteção é de praxe para algo que PRECISA dar certo. A tecnologia balística de vetores de médio e longo alcance foram desenvolvidos entre as décadas de 40 e 50 justamente para fins militares e a propulsão espacial decorre em grande parte deste esforço.

    O Brasil não vai implementar vetores avançados de longo alcance para fins militares porque temos hoje tratados (assinados pelo FHC) que impedem isso. Mas a intenção é clara: se não dá pra implementar, querem pelo menos permitir a capacidade latente. Faz sentido!

    E o desenvolvimento de tecnologia de foguetes para fins de exploração espacial é uma consequência natural, como foi em quase todos os outros programas espaciais, ok?

    1. Eu respeito. E acho que a FAB manteria o envolvimento com o CLA, implementando as políticas de segurança que julgasse pertinentes. Mas o desenvolvimento tecnológico deveria ser civil.

      1. Salvador.

        O ambiente militar é bastante propício ao desenvolvimento tecnológico.
        Qualquer programa fica sujeito a técnicas de administração que na iniciativa privada se chamariam modernas, tais como metas, controles, prazos etc. Se não fazem melhor ou mais rápido é por falta de recursos orçamentários. Há outra vantagem: num ambiente civil, mas estatal, nenhum programa fica livre dos interesses imediatos dos políticos, que são muito volúveis. Acredito que como está o programa tem mais chances de vingar e produzir resultados para o país.
        Existe um outro caminho, que não conflita com o atual, que é fomentar a iniciativa privada a desenvolver programas independentes. Creio que aqui teríamos grandes oportunidades de inovação e desenvolvimento tecnológico e científico, mas é preciso que os investidores vislumbrem a possibilidade de lucro!
        Com relação a o Etanol como propelente, é preciso lembrar que Von Braun criou sua V2 com base nessa substância, de modo que não me parece inadequada.
        Parabéns pelos seus textos: além de precisos são saborosíssimos.
        AAM

        1. Antônio,

          Talvez o que falte ao programa espacial é justamente transparência e divulgação. Atualmente observamos uma nova forma de fazer negócio, fortemente apoiada em recursos de mídia. Agências espaciais como a NASA ou a ESA se esforçam para cativar a opinião pública e desta forma atrair a atenção dos responsáveis por financiamentos e verbas. Isto pode ser feito facilmente sem divulgar tecnologias sensíveis. As melhores universidades brasileiras, no tocante às tecnologias avançadas, são militares. Assim, fica difícil a não participação dos militares no processo. Mas certamente muito dos entraves que vivenciamos é por não ficar claro o objetivo pacífico de nosso programa, em função da proximidade dos militares. Falta também foco no objetivo civil do programa com lançamentos comerciais de satélites.

          1. Prezados,

            Acompanhando a opinião acima exposta, nossa política aeroespacial deveria ser semelhante a da NASA. Essa agência espacial é acompanhada de perto pela USAF, que tem uma base de lançamento de foguetes ao lado da NASA em Cabo Canaveral (EUA). A NASA desenvolve a tecnologia aberta ao público, inclusive com participação da iniciativa privada, repassando em reservado aos militares.

            Mas voltando a nossa realidade, aqui em São Paulo fazem mais de 20 anos que estamos construindo uma linha de Metro, imagine quanto tempo vai demorar para lançar um satélite!

            Att.,

            Wagner

  23. Como disse um amigo meu, o Canabrava I tá voando baixo!!!

    Parabéns pela retomada do Programa Aeroespacial Brasileiro!!

    1. Hehehe, esse link é certeza que não vou usar como pauta. 😛
      Prazer foi meu! Abraço!

    2. Foi divertido perceber o alívio do Salvador ontem depois que entreguei pra assinar e disse:

      “Quero falar com você sobre Nimbiru”.

      pausa dramática…

      “Tô zuando”. Parabéns pelo livro!

      Sinceramente, eu teria medo de atrair malucos para uma noite de autógrafos. Apareceram, Salvador?

  24. Parabéns pela bela reportagem e a todos os integrantes do IAE/DCTA envolvidos na operação. O Programa Espacial Brasileiro vai caminhando passo a passo e num futuro bem próximo chegará ao espaço tão almejado.

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