Pedacinhos do Halley na atmosfera!

Salvador Nogueira

Uma das melhores chuvas de meteoros anuais atingirá seu pico na madrugada desta terça (5) para quarta-feira (6). São os Eta Aquarídeos, pequenos detritos do cometa Halley que entram na atmosfera da Terra e queimam como bonitas e brilhantes estrelas cadentes.

Composição mostra chuva de meteoros em 2013 na Austrália pelo astrofotógrafo Colin Legg
Composição mostra chuva de meteoros em 2013 na Austrália pelo astrofotógrafo Colin Legg

Bem, mas se são pedacinhos do Halley, onde está o cometa? Muito longe daqui, se afastando cada vez mais do nosso planeta após sua última passagem pelas redondezas, em 1986. A cada aproximação do Sol, que ocorre periodicamente em intervalos de 76 anos, ele produz uma bonita cauda e dispersa detritos por onde passa. São justamente esses pedacinhos deixados pela última passagem que aparecem como estrelas cadentes todo ano, quando a Terra atravessa a órbita do cometa.

Aliás, duas vezes por ano — uma quando a Terra passa pela trajetória de “ida” do Halley, e outra da “volta”. A primeira delas acontece agora, no começo de maio, com pico na madrugada do dia 6, e a outra, os famosos Orionídeos, é em outubro.

É um fenômeno sempre bonito de ver, e as circunstâncias são muito boas hoje — contanto que não haja nuvens. “Aqui no Brasil, o melhor horário para observar a chuva será entre 3h e o alvorecer, com pico provável às 5h05”, diz o astrônomo Gabriel Hickel, da Universidade Federal de Itajubá (MG).

COMO OBSERVAR
Para ver a chuva de meteoros, não tem muito mistério. Trata-se do fenômeno astronômico mais democrático que tem. O único jeito bacana de observar é a olho nu. Binóculos, lunetas e telescópios só atrapalham.

O que mais se precisa, na verdade, é de paciência e pouco sono. Encontre um local onde se possa ter uma boa visão do céu e olhe na direção da constelação de Aquário. Para encontrá-la, olhe para o leste (onde o Sol nasce), a partir das 2h30 da manhã. Quanto mais tarde, mais Aquário sobe no céu, facilitando a observação. Pouco antes do amanhecer, ele vai estar quase no zênite (o “topo” da abóbada celeste).

A razão para olhar para a constelação de Aquário é que é lá que está o chamado radiante da chuva de meteoros — o que significa que eles parecem emanar todos daquela direção. Mas a verdade é que eles podem aparecer em qualquer parte do céu.

A chuva será mais intensa na região Norte do país, pois seu máximo se dará exatamente sobre essa área do globo, com taxas de 15 a 30 meteoros por hora. No Nordeste, a expectavia é de 10 a 20 meteoros, um pouco menos que o Centro-Oeste (10 a 25). No Sudeste, pode-se esperar entre 8 e 15 meteoros por hora. No Sul, os menores núemros — 5 a 12 meteoros horários.

Imagem do núcleo do cometa Halley feita pela sonda europeia Giotto em 1986 (Crédito: ESA)
Imagem do núcleo do cometa Halley feita pela sonda europeia Giotto em 1986 (Crédito: ESA)

Então, para cada risquinho que você vir no céu, já sabe: trata-se de uma partícula do cometa Halley — um pedacinho de gelo sujo formado na mesma época em que o Sol e seus planetas nasceram — queimando na atmosfera a estonteantes 237 mil km/h.

Um aspecto interessante é que essa chuva não é regular todos os anos. A gravidade de Júpiter provoca flutuações na distribuição de detritos ao longo da órbita do Halley, de forma que existe uma periodicidade de 12 anos para o pico de atividade. Em 2008, ela atingiu seu último pico de intensidade. Agora, estamos, em tese, numa fase mais modesta. Mas, como lembra Hickel, flutuações podem ocorrer. Em 2013, chegamos a ver 100 meteoros por hora!

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Comentários

  1. Se a Terra cruza a órbita do cometa Halley então significa que a órbita da Terra e a órbita do Halley se encontram em algum ponto? Isso quer dizer que um dia pode haver uma colisão entre os dois corpos?

    1. Sim, elas se intersectam, mas as periodicidades por ora impedem uma colisão. Num futuro distante, com modificações sutis de trajetória e órbita, sim, é possível.

  2. Coloquei o despertador, fiz tudo direitinho mas o céu estava nublado na maior parte do horário indicado, não vi nada. Agora vou esperar pra ver se consigo em outubro.

    1. Esperei até as 02:30 da manhã, e estava nublado, fazer o quê? deixa pra próxima, rsrsrs

  3. Salvador, essa foto do Halley que você colocou no post mostra bem seu núcleo, parecido com o do 67P fotografado pela Rosetta,sem o formato de patinho de borracha, claro.

    Mais um ponto positivo para a Rosetta, que nos ensinou a enxergar melhor como é um cometa! 🙂

  4. Caro Salvador, tenho uma filha de 8 anos, ela pediu um telescópio de Natal, comprei um Zenit, mas estamos com dificuldades para observar os planetas, a lua obviamente é mais fácil, mas marte, jupiter e venus, ainda não conseguimos, teria uma dica?

    1. Tem que arrumar bem o apontador, ter paciência para mirar e ajustar com frequência, porque eles saem do campo de visão conforme a Terra gira…

  5. Prezado Salvador, lá vou eu com minhas perguntas simplistas. Mas, enquanto este seu blog existir, vou aproveitar a máximo.
    Toda vez que o cometa Halley passa perto da terra ele deixa detritios (pedacinhos do cometa).
    Depois ele se “recompõe” de alguma maneira ou ele vai diminindo e, daqui a milhares/bilhares de anos ele deixará de existir?
    É possível que no pássado tenha existidos cometas que passavam pela terra de tempos em tempos e tenha se decomposto na terra? Pergunto isto porque li uma vez (não sei onde) que a água da terra pode ter vindo de cometas que aqui colidiram enquanto ela se formava (não sei se isto é uma teoria válida, ou um absurdo, mas achei interessante, pois siginificaria a possibildiade da da vida na terra tenha tido início com um uma célula extra-terrestre).

    1. Vai diminuindo. Os cometas vivem nas profundezas do Sistema Solar. Vez por outra são desviados para trajetórias que os trazem para dentro do sistema. Com a aproximação do Sol, vão se desgastando até se tornarem rochas secas.

    2. Luís, a Terra sofreu muitos impactos de cometas e asteróides ao longo de sua história e muito de sua água foi assim obtida.

      É possível que componentes orgânicos tenham sido trazidos também por eles e os estudos dos cometas objetivam verificar essa hipótese.

      1. Cometas e asteroides não tem nada que ver com a água existente na terra (3/4 da superfície).

        1. Na verdade, a hipótese mais aceita no momento é que a água da Terra tenha vindo de planetesimais desviados de mais longe, talvez pela migração temporária de Júpiter para mais dentro do sistema, mas ainda carece de confirmação segura. Importante lembrar que não há diferença apreciável entre planetesimais e asteroides e cometas, então você está tecnicamente errado. Talvez esteja certo se dissesse que colisões de cometas e asteroides ocorridas *após* a formação da Terra não tenham nada a ver com a água do planeta. Mas durante a formação, foi exatamente daí que veio a nossa água.

          1. Exato. E, na condição de hipóteses, não convém você dar certeza de nada. 😉

          2. Mas continuo defendendo a hipótese de que a própria Terra permitiu e desenvolveu a água.

          3. Não sei nem como fazer sentido disso. Você acha que a Terra se formou a partir de planetesimais completamente seca, mas com certos inventários de hidrogênio e oxigênio dissociados, que só então se combinaram, já no planeta, para formar a água? Se for isso, lamento desapontá-lo, mas estudos já constataram que até metade da água terrestre é sabidamente mais velha que o próprio Sol, ou seja, já estava na nebulosa que formou o Sol e os planetas. (http://www.sciencemag.org/content/345/6204/1590)

          4. não é só a junção dos dois elementos, é necessário algo mais, como chegaram a conclusão que a água antecedeu ao sol e a terra e da nebulosa donde veio, pegaram amostras? Quando de sua formação, os elementos facilidados pela quantidade e condições permitiram o ciclo.

          5. Nossa, você faz parecer que água é uma coisa divina? É uma das substâncias mais comuns do Universo, assim como hidrogênio é o elemento mais comum, e oxigênio é o terceiro elemento mais comum. Do jeito que você fala, parece que água é um troço raríssimo, que só existe aqui. De onde você tira essas ideias? 😛

          6. Salvador, a água não parece, é, coisa divina é nosso bem mais precioso. As substâncias realmente são comuns mas as condições nos são específicas, senão, diga-me onde foi encontrada (não teorias) fora da Terra? Tanto que é um foguetório geral quando encontram algum gelo (inconclusivo) através de alguma sonda.

          7. Na verdade, já viram gotas de água no trem de pouso da sonda Phoenix, em Marte, e não fica muito mais conclusivo que isso (só se levassem alguém junto pra beber a água! rs). A própria sonda escavou o solo e também encontrou gelo de água sob a superfície. Por medidas espectroscópicas, sabemos que há água em muitas nebulosas por aí, e não existe controvérsia sobre água em Europa, a lua de Júpiter, por exemplo. O chão é feito de água! A gente vê de longe! A única diferença pros oceanos da Terra é que lá, pelo frio, a água está em estado sólido. O que você pode julgar menos segura é a presença de um oceano líquido sob o gelo de Europa, mas mesmo isso já é um fato bem estabelecido por múltiplas evidências, inclusive possíveis plumas de água emanando da lua. O mesmo, aliás, conclusivamente acontece em Encélado. O solo é feito de gelo de água, e há plumas de água — muito evidentes em fotos e já devidamente analisadas pela Cassini, ao passar por elas. Então, se água é uma coisa divina, como você diz, é também vulgar. Achar que ela só existe aqui na Terra não é só uma ideia pouco provável — é ignorância mesmo. Tá cheio de água por aí, e não são só “teorias”.

          8. O dia que conseguirem trazer, pelo menos, uma xícara de água de que confins forem, voltaremos ao assunto.

          1. Não, não é. Você pode mudar proporção isotópica de hidrogênio e deutério, ou entre oxigênio-16, 17 e 18, mas todos têm as mesmas propriedades, de forma que a substância é a mesma. É a mesma água. Você bebe água com deutério todo dia. Água é água.

          2. Oswaldo, nos brinde com essa nova composição da água, por favor, se não é H20, estamos curiosos, afinal você descobriu água que não é água?! Meu Deus! Pode ficar rico um dia sabia…

  6. Se fosse possível coletar parte desse material formado a tudo isso de tempo e que passará em nossa atmosfera seria bem interessante para estudo não é?

    Salvador, uma missão com esse intuito seria pouco provável devido a alta velocidade ou há mais fatores que inviabilizam?

    1. Até dá pra colher poeira de cometa no espaço. A Stardust, da Nasa, fez isso. 😉

  7. Aquela foto do astrofotógrafo Colin Legg, é artística ou é real? Pois se ele deixou a objetiva aberta para pegar aquela quantidade toda de meteoritos, por que as estrelas ao fundo e principalmente a lua no centro não aparecem como um risco em arco devida a rotação da Terra?

    1. É uma composição de fotos. Ele registrou todos os meteoritos individualmente e compôs.

    1. Como todo cometa, gelo sujo, com rochas e matéria orgânica. O tamanho é modesto: 15 x 8 km.

      1. 15 comprimento, 8 largura, está faltando uma medida, e a espessura?

      2. salvador Bom dia,
        quase nunca comento, mas sou leitor assiduo de suas publicações. UM OASIS NO DESERTO, NO MEIO DAS PORCARIAS QUE SE TEM PRA LER.
        mas uma questão me incomoda. quando vc diz GELO, fica um pouco ambiguo no meu entender, GELO DE AGUA, GELO DE HIDROGENIO, GELO DE UM OUTRO ELEMENTO QQ. please me responda.
        um grande abraço.

        1. Podem ser muitos tipos de gelo, de fato. Nos cometas, é principalmente gelo de água mesmo. Água é um troço bastante comum, feito por átomos extremamente comuns e abundantes no Universo, numa ligação notavelmente estável. Não deveria surpreender que tem água em tudo quanto é lugar! Abraço!

      3. Ao longo do percurso o cometa perde e adquiri massa ou só perde? se a calda é formada por detritos e só perder em quanto tempo será que ele vai pulverizar até sumir? sendo assim, a perda de massa não interferiria na trajetória?

        1. Só perde. Mas a perda não influencia a trajetória. A massa dele é desprezível se comparada com a do Sol, que é quem dita seu percurso (lembre-se: uma pedra pesada cai na mesma velocidade que uma pena, sem outras influências que não sejam gravitacionais).

      1. Aproveitando, quero parabenizar pelo excelente mix do site, com artigos de cunho científico misturados com a parte humorística nos comentários…!

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