Astrônomos dizem que nono planeta do Sistema Solar existe e calculam sua órbita
Uma dupla de astrônomos nos Estados Unidos tornou ainda mais quente a busca pela existência de um nono planeta no Sistema Solar, ao dizer que sabem exatamente em que órbita ele estaria. Não são dois malucos, mas o menino-prodígio Konstantin Batygin (de quem já falamos aqui) e o renomado Mike Brown (também conhecido como “o homem que matou Plutão”), ambos do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia).
“Se você disse, ‘temos evidência para o Planeta X’, quase todos os astrônomos dirão, ‘Isso de novo? Esses caras são claramente malucos’. Eu diria isso também”, brincou Brown, em entrevista à revista “Science”. “Por que isso é diferente? Isso é diferente porque desta vez nós estamos certos.”
O planeta estaria numa órbita bem elíptica (nibirutas se arrepiam), mas que nunca chega realmente perto do Sistema Solar conhecido (nibirutas desanimam). Seu periélio — a aproximação máxima do Sol — se daria a 200 unidades astronômicas de distância, pouco mais de seis vezes a distância entre Netuno e o Sol. Seu afélio o levaria tão longe quanto 600 a 1.200 unidades astronômicas. Sua massa seria estimada em coisa de 10 vezes a da Terra — o que o colocaria numa escala intermediária entre o maior do rochosos (nosso planeta) e o menor dos gasosos (Netuno) no nosso Sistema Solar. Uma superterra ou, mais provavelmente, um mininetuno. Para completar uma órbita em torno do Sol, ele levaria entre 10 mil e 20 mil anos. (Para efeito de comparação, Netuno fecha uma volta em 165 anos, e Plutão, em 248 anos.)
Os pesquisadores propõem a localização de sua órbita (com inclinação de cerca de 30 graus com relação ao plano das órbitas dos outros planetas), mas não sabem exatamente em que ponto dela o planeta pode estar. Ao publicar seu artigo, no “Astronomical Journal”, eles invocam outros astrônomos a iniciar a busca — assim como eles mesmos já estão fazendo. Brown é especialista em achar objetos distantes no Sistema Solar, tendo descoberto Éris, o objeto transnetuniano que levou ao rebaixamento de Plutão da categoria de planeta.
AS PISTAS
“Embora estivéssemos de início bem céticos de que este planeta poderia existir, conforme continuamos a investigar sua órbita e o que ela significaria para o Sistema Solar exterior, começamos a ficar cada vez mais convencidos de que ele está lá”, disse Batygin em nota divulgada pelo Caltech. “Pela primeira vez em cerca de 150 anos, há evidências sólidas de que o censo planetário do Sistema Solar está incompleto.”
Batygin e Brown estavam em busca de uma explicação para as órbitas estranhas encontradas em alguns dos objetos localizados além do cinturão de Kuiper, como Sedna e 0 2012 VP113 (ambos co-descobertos por Brown). Sua excentricidade os levava tão longe do Sol que pareciam sugerir a existência de algum astro de grande porte além de Netuno, capaz de tê-los colocado em sua configuração atual. O que se seguiu foram um ano e meio de simulações e estudos para encontrar uma solução que explicasse tudo.
A resposta perfeita veio numa simulação de um planeta com uma órbita anti-alinhada, ou seja em que o periélio esteja do lado oposto do Sistema Solar com relação a todos os outros planetas. Com isso, a simulação bateu exatamente com o que se vê nas órbitas dos objetos transnetunianos. Segundo Brown e Batygin, a chance de isso ser uma coincidência é de 0,007%. É um número suficientemente baixo para apostar que eles têm razão, e que o Sistema Solar está a ponto de ficar maior e ainda mais interessante.
EM BUSCA DO PLANETA 9
Brown e Batygin já iniciaram a caçada ao novo mundo solar. Se ele estiver neste momento perto de seu periélio, talvez já existam imagens dele feitas em rastreios anteriores — falta analisá-las e encontrá-lo. Caso ele esteja no ponto mais afastado de sua órbita, somente os telescópios mais poderosos do mundo, da classe dos 10 metros (como o Keck, o Subaru, o VLT e o Gemini), poderão encontrá-lo. Se, em compensação, ele estiver em sua distância média, muitos telescópios profissionais poderão acabar por encontrá-lo.
“Eu adoraria achá-lo”, disse Brown. “Mas também ficaria muito feliz se outra pessoa o encontrasse. É por isso que estamos publicando esse artigo. Estamos que outras pessoas vão se inspirar por ele e começar a procurar.”
FORMAÇÃO MISTERIOSA
A descoberta, se confirmada, além de causar um tremendo rebuliço entre os cientistas planetários — que terão pela primeira vez a chance de estudar um planeta de tamanho intermediário entre a Terra e Netuno (esses mundos parecem ser comuns fora do Sistema Solar, mas até então não tínhamos ideia de que poderia haver um logo ali na esquina) — vai dar bastante trabalho aos teóricos que estudam a formação do Sistema Solar. Porque esse novo planeta, na verdade, estaria numa região em que em tese ele não poderia ter se formado. De alguma forma, ele migrou para lá, depois de ter se formado mais perto — ou muito mais longe.
“Vejo duas formas em que um planeta desse tipo poderia ser colocado numa órbita longínqua”, explicou Rodney Gomes, astrônomo do Observatório Nacional que é especialista em dinâmica de formação do Sistema Solar, em um comentário aqui mesmo no blog, na semana passada, quando o Mensageiro Sideral tratou dessa busca pelo possível nono planeta. “Primeiro, da mesma forma em que cometas são colocados no que chamamos de nuvem de Oort, através do espalhamento desses objetos num sistema solar primordial. Um desses objetos poderia ser um planeta em formação. As órbitas de planetas em sistemas extra-solares parecem indicar que houve muitos encontros próximos entre planetas em formação e alguns desses foram jogados para distâncias mais afastadas e podem ter sido colocados em uma órbita estável através da ação da força de gravitação da galáxia. Existem inclusive algumas boas evidências de que o nosso Sistema Solar incluía pelo menos mais um planeta do tamanho de Urano ou Netuno.”
E a segunda forma é ainda mais intrigante. “Como o Sol foi formado muito provavelmente no que chamamos de aglomerado de estrelas, não só o Sistema Solar em formação mas outros sistemas estelares estariam se formando nessa época na vizinhança do Sol. A consequência disso é que muitos planetas devem ter sido ejetados dos vários sistemas planetários vizinhos em formação. Em virtude disso, esse aglomerado de estrelas no qual o Sol estaria imerso seria na verdade um aglomerado de estrelas e planetas ‘errantes’ fugitivos dos vários sistemas planetários vizinhos do Sol. Num ambiente desse tipo, é possível a captura de alguns desses planetas errantes por estrelas.”
Ou seja, talvez o (por ora hipotético) Planeta 9 possa ser até mesmo um membro desgarrado de outro sistema planetário. Não seria incrível?
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Penso que o Salvador não deveria ter dado o link para cadastro….. fico imaginando o Pessagno, o Morelli, a Cláudia e os trolls que visitam este blog se cadastrando e fazendo huehuehuebr no site da pesquisa….
Acho que não teria problema. Desconfio que eles não vão olhar cada uma das indicações. Afinal, humanos estão sujeitos a falha. Vão apenas enxergar correlações estatísticas reais se um número significativo de pessoas enxergar A MESMA COISA. Os astrônomos são mais espertos que os trolls. 😉
Caso não tenha lido ainda segue outra notícia interessante a esse respeito.
– http://www.sciencealert.com/physicists-have-come-up-with-new-ways-to-find-mysterious-planet-nine
Não tinha visto. Olharei.
Segue mais uma apesar dela ser meio especulativa.
http://www.popularmechanics.com/space/a21954/planet-nine-weird-orbits/
Não sabia que um brasileiro estava envolvido no estudo do link anterior, percebi isso hoje lendo uma outra matéria (http://www.sci-news.com/astronomy/tilting-solar-system-properties-planet-nine-04097.html) onde confirmam a massa hipotética desse novo mundo.
Sempre tem um brasileiro! Rodney Gomes inclusive já esteve por aqui, comentando no blog, tempos atrás! Grande astrônomo brasileiro! 🙂
Salvador, uma dúvida.
Se os equipamentos atuais têm capacidade para detectar exoplanetas, como não conseguiram “achar” o planeta X ainda (mesmo com esses cálculos da possível órbita dele)?
Técnicas diferentes, objetos diferentes, lugares diferentes… exoplanetas são detectados pelos efeitos que causam à estrela (ou deslocando-a pela gravidade, ou ofuscando seu brilho, ao passar na frente). Planeta 9 não faz nada disso. Está do lado oposto à estrela dele, o Sol, com relação a nós.
Vira-e-mexe leio alguma matéria interessante sobre esse assunto … talvez seja pseudo-ciencia mas parece que descobriram o tamanho limite para esse planeta.
– http://www.sci-news.com/astronomy/planet-nine-ice-giant-03768.html
Eu vi essa modelagem. O estudo é sério. Mas acho ainda bem especulativo. Cedo para dizer se eles estão na trilha certa. Mas que cientista pode resistir à chance de tentar “prever” alguma coisa? 🙂
Mais outra notícia interessante sobre esse assunto to:
http://www.theverge.com/2016/3/25/11305028/planet-x-ninth-planet-evidence-kuiper-belt
Vale reviver o assunto mesmo um mês depois.
http://news.yahoo.com/search-narrows-planet-nine-192554408.html
Eu li isso há pouco. É bom. Eliminaram metade do espaço de busca. Se o planeta 9 existir, logo será encontrado! (Logo = em poucos anos.)
O meu prezado Salvador, ou algum leitor do Mensageiro Sideral poderia ajudar-me? No final da minha página http://www.ghiorzi.org/planetas.htm eu inseri um desenho ilustrativo da elipse orbital dos planetas do nosso Sistema Solar, mas acho pouco provável que eu tenha acertado a orientação do ângulo hipotético de 30º da elipse do 9º planeta e o foco da elipse no qual repousa o Sol. Não encontro nenhum desenho que esclareça isso.
Helmir, vai ser difícil mesmo de visualizar, porque seria preciso fazer um desenho que mostrasse as órbitas de lado, com a do planeta 9 a 30 graus de inclinação com relação às demais.
Obrigado. Eu imaginava que fosse mais simples, que a órbita de todos os planetas estivesse em um mesmo plano, em torno do Sol. Desisto.
Hehehe, vamos ver se acham o tal planeta antes! 🙂
Ah! Ah! Ah! Pois é, meu caro Salvador, o carro na frente dos bois: eu querendo desenhar a órbita do 9º planeta sem sequer saber se ele existe!
Boa noite, Salvador!
Por vezes leio que os astrônomos deduzem as percentagens mineralógicas prováveis de um determinado planeta. Assim, gostaria de saber quais os dados coletados pelos astrônomos para deduzirem o material rochoso de um planeta?
Marlene, depende. No caso de planetas rochosos no nosso Sistema Solar, podemos trabalhar com amostras diretas (no caso de meteoritos marcianos ou lunares, por exemplo) e com espectroscopia (a análise da luz que vem deles carrega em sua assinatura os átomos que a emitiram, permitindo estimar a composição). No caso de exoplanetas, a estimativa no momento é muito mais grosseira e depende de modelos de composição de acordo com a massa e o conteúdo da nuvem que teria dado origem ao sistema planetário em questão (extrapolada a partir da composição da estrela). Mas esperamos que nos próximos anos medidas espectroscópicas diretas de exoplanetas comecem a se tornar comuns!
Acrescentei à minha página na Internet http://www.ghiorzi.org/planetas.htm uma ilustração sobre a órbita dos oito planetas do Sistema Solar e ousei especular sobre a órbita hipotética do 9º planeta. Todavia, confesso que as informações disponíveis na Rede deixam-me confuso sobre a correta orientação da elipse orbital do novo planeta.
Salvador, boa noite!
Sempre tive uma pequena dúvida sobre a órbita dos planetas. É fato que os 8 planetas (agora talvez o nono) orbitam o sol praticamente alinhados com o seu equador. Pergunto: não seria possível a existência de outros planetas, em nosso sistema, em órbitas mais improváveis e de muito mais difícil constatação? Já se verificou isso em outros sistemas, vide Kepler-56… Um grande abraço! Sou fã do blog…
Rubens, o planeta 9, se existir, está numa inclinação de 30 graus, e isso porque ele não nasceu ali, mas foi atirado àquela órbita. Fora eventos como esse, em que encontros entre planetas alteram drasticamente uma órbita, é de se esperar que eles todos se alinhem no mesmo plano, pelo simples fato de que planetas nascem de discos em torno da estrela nascente. Abraço!
O assunto 9º planeta provocou muitas perguntas sobre o quociente de achatamento da órbita dos planetas do Sistema Solar. As tabelas astronômicas mostram-nos muitas características dos planetas, menos essa. Partindo dos dados conhecidos – semi-eixo maior da elipse e distância entre os focos – desenvolvi a fórmula que revela o achatamento da elipse. Além da fórmula, disponibilizei rotina de cálculo para cada planeta e a tabela dos oito planetas e o achatamento de sua órbita. Mas não creio que seja matéria para exibir neste espaço. Ela está disponível na minha página http://www.ghiorzi.org/planetas.htm
Prezado Salvador.
Apesar de não ser diretamente sobre o tema colocado, tem a ver com a gravidade e, portanto, se relaciona com qualquer assunto de astronomia. Trata-se do seguinte:
O comportamento da força gravitacional segue os princípios da relatividade, ou seja, a influência gravitacional de uma massa só é exercida sobre outro considerando-se a limitação da velocidade da luz? Por exemplo, como experimento teórico (muito apreciado por Stephen Hawking nas suas teorias), se imaginarmos que o Sol desapareça, a Terra levaria aproximadamente 8 minutos para sentir o efeito sobre a sua órbita?
Sim! A gravidade se propaga à velocidade da luz! (Ou, pelo menos, é o que a relatividade sugere.)
qual seria o efeito gravitacional sobre a Terra?
Nenhum, ao menos não diretamente.
só não ficou claro ainda se, com sua longa órbita elípitica, ele estaria atualmente “perto” ou longe de nós…as influências detectadas são de uma passagem próxima, ou de uma interação gravitacional distante mas constante?
De uma interação gravitacional repetitiva, passando sempre pela mesma órbita. Conversando com o Rodney, ele me disse que, se tirassem o planeta 9 de lá, os outros transnetunianos não iam ficar nas órbitas que estão.
Salvador, boa tarde.
No desenho das órbitas, apenas o nono planeta está “alinhando” à direita e todos os outros à esquerda. É um padrão no sistema solar? Ou o desenho foi só para ilustrar a diferença dos órbitas?
De fato, o planeta 9 parece estar alinhado na configuração oposta à do resto do Sistema Solar.