Urano tem um admirador secreto

Salvador Nogueira
A Voyager 2 se despede de Urano, em 1986. Até hoje, ela é a única sonda a visitar o planeta

Taí um planeta que sempre me fascinou, e nem é pelas piadinhas infames que fazem em inglês com o nome dele. Sétimo a contar do Sol, Urano foi o primeiro planeta descoberto depois do advento do telescópio.

O responsável foi o astrônomo William Herschel. Em 1781, ele identificou por acidente o planeta, que quis batizar de “estrela de Jorge”, em homenagem ao rei Jorge III da Inglaterra. Mas, por favor, não o leve a mal. Naquela época (como hoje), a astronomia dependia de inevstimentos públicos para ser desenvolvida, e puxar o saco dos poderosos era (como hoje ainda é) um importante meio para garantir verbas para a pesquisa. (Galileu tentou fazer a mesma coisa 150 anos antes, ao descobrir as quatro maiores luas de Júpiter e batizá-las de “estrelas de Médici”. Hoje elas são referidas coletivamente como os satélites galileanos.)

Claro, os franceses na época não gostaram nada de ter de se referir a um planeta com o nome do rei inglês, e passaram a falar do astro apenas como “Herschel”, até que um nome mais apropriado, extraído da mitologia greco-romana, foi oficialmente adotado: Urano.

Bem, mas tudo isso é uma imensa digressão. O admirador secreto a que me refiro no título não sou eu, mas sim um objeto que acaba de ser flagrado perseguindo Urano em sua órbita. É uma lua? Não. É um asteroide? Não. É um disco voador? Não. É um troiano.

Troianos são objetos que compartilham a órbita de um planeta, girando ao redor do Sol. Normalmente são cometas e asteroides capturados e estabilizados pela gravidade do planeta que acompanham.

Os cientistas sabem há tempos que Júpiter, Saturno e Netuno — os outros três gigantes gasosos do nosso Sistema Solar — tinham lá sua população de troianos. A órbita de Urano, contudo, era tida como muito instável para abrigar objetos desse tipo, e daí a justificativa para a descoberta do admirador secreto uraniano ter sido publicada na prestigiosa revista “Science” desta semana.

Usando o Telescópio Canadá-França-Havaí, os pesquisadores liderados por Mike Alexandersen, da Universidade da Columbia Britânica em Vancouver, encontraram o objeto, mas não contestaram o que já se sabia sobre a situação de Urano. De fato, esse pedregulho espacial será vizinho de Urano por cerca de 70 mil anos terrestres, antes de trocar de órbita e voltar para o imenso vazio que separa os planetas gigantes do Sistema Solar.

Imagem revela o pequeno troiano encontrado na órbita de Urano

Mas o mais interessante é que o tal troiano temporário (pense nele como o Bolsa-Família, só que aplicado ao Sistema Solar) não deve estar sozinho. Embora nenhum troiano fique muito tempo por lá, estima-se que, a cada momento, cerca de 0,4% de todos os pedregulhos além da órbita de Júpiter façam o papel de troianos para Urano.

O estudo ajuda a compreender a evolução do Sistema Solar, que já tem respeitáveis 4,7 bilhões de anos de idade.

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Comentários

  1. Em Astrologia, penso que Urano é o planeta regente do signo de Aquário…Se estiver errado, corrija-me por favor…

  2. Urano e Netuno são bastante “marginalizados”, recebendo menos atenção até que o seu irmão recém rebaixado Plutão.
    Só não consegui encontrar algum material que esclareça se quando sua órbita se desestabilizar, ao invés dos troianos se afastarem, se eles podem ser atraídos pela gravidade do planeta.

  3. Com este telescópio é possível constatar a grande inclinação do eixo de rotação(com uma boa dose de fé).

  4. Eu sou fã mesmo é da Voyager, pois essas fotos das fases dos planetas exteriores são de perder o fôlego.

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