O mistério das borboletas cósmicas

Salvador Nogueira
A nebulosa planetária PN Hb 12 é um exemplo clássico de borboleta cósmica

Poucas coisas no Universo são tão bonitas quanto as nebulosas planetárias. Elas aparecem em diversas formas, mas a mais marcante é a que lembra uma borboleta, como na imagem acima. Pois bem. Estudando mais de cem dessas criaturas cósmicas na região central da galáxia, uma dupla de astrônomos acaba de fazer uma descoberta estranhíssima: as borboletas parecem todas bater asas na mesma direção, por assim dizer.

Primeiro, uma palavrinha sobre nebulosas planetárias. Apesar do nome, elas não têm nada a ver com planetas. Na verdade, são estrelas de pequeno e médio porte (grupo em que o Sol se inclui) que esgotaram seu combustível e sopraram sua atmosfera exterior para o espaço. O que resta no interior é um núcleo compacto, chamado de anã branca, e o bonito padrão colorido é resultante do espalhamento da antiga atmosfera estelar no espaço circundante.

E por que diabos “nebulosa planetária”? Na longínqua década de 1780, quando o astrônomo William Herschel (o descobridor de Urano) estava estudando esses objetos pelo telescópio, imaginou que estivesse vendo um sistema planetário em formação, e por isso usou esse nome. Um par de séculos mais tarde os astrônomos se deram conta do erro, mas aí era tarde demais para mudar o termo. (É mais ou menos como novas/supernovas, que de novas não têm nada, mas acabaram ficando com esse nome porque assim pareceram aos antigos astrônomos que cunharam a expressão.)

Bem, historinha contada, o que importa agora para nós é que o espalhamento do gás da nebulosa planetária pode ter diversas formas, inclusive a de borboleta (ou bipolar, como preferem os especialistas). Os cientistas esperavam que, independentemente do padrão formado, a orientação delas no espaço seria aleatória — dependendo exclusivamente do eixo de rotação do astro que as gerou.

Aí veio a surpresa: de todas as nebulosas observadas, somente as “borboletas” não respeitam essa loteria cósmica. Em vez de estarem viradas para tudo quanto é lado, elas tendem a se alinhar com o plano da nossa galáxia.

E o interessante é que isso só vale para as nebulosas que estão no chamado bojo galáctico (a região central, em forma de bolota, no coração da Via Láctea). Fora dele, em objetos mais próximos da Terra, as borboletas batem asas para a direção que lhes convêm.

Galeria de nebulosas bipolares (as borboletas) observadas pelo Telescópio Espacial Hubble

COMO EXPLICAR?
O trabalho, feito por Bryan Rees e Albert Zijlstra, da Universidade de Manchester, não contesta a hipótese clássica de que o formato da nebulosa planetária é ditado pela rotação da estrela que morreu ali. Em vez disso, ele sugere que um poderoso campo magnético no bojo galáctico influenciou a orientação da estrela já no nascedouro, alinhando sua rotação com relação ao plano da galáxia.

Como essas estrelas nasceram muitos bilhões de anos atrás — seriam bem mais velhas que o Sol –, o estudo dá pistas de como era o ambiente na região central da Via Láctea nos primeiros bilhões de anos de sua formação.

“Podemos aprender muito com o estudo desses objetos”, diz Zijlstra. “Se eles realmente se comportam dessa forma inesperada, isso tem consequências não só para o passado de estrelas individuais, mas para o passado de toda a nossa galáxia.”

O estudo, publicado no periódico “Monthly Notices of the Royal Astronomical Society”, foi realizado com observações do Telescópio Espacial Hubble e do New Technology Telescope, do ESO (Observatório Europeu do Sul).

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Comentários

  1. Uma observação mais cuidadosa revela que o formato não é de borboletas ou seja forma plana 2 dimensões e sim o formato de ampulhetas aqueles antigos relógios de areia quanto ao fato das direções é algo até bastante simples por analogia todos os rios ou a maioria apontam ou levam ao mar.

  2. Salvador, estou tentando assinar o feed do blog e não estou conseguindo.

    Sabe se ele está com algum problema ou é só cmg?

    Abs

    1. Rapaz, não sei não. Preciso consultar a turma da técnica. Enquanto isso (se você usar Facebook), recomendo você dar um joinha na página do blog, porque estou postando os links todos lá.

  3. Tenho certeza que o espaço tem muito mais em materia de beleza para nos oferecer…

  4. Acho que de acordo com a flexibilidade da cauda de alguns sauros e considerando a pulsabilidade dos quasars e dos pulsares, sempre de acordo com a física quântica e do negócio lá do Bóson, creio que o fato se dê devido a possibilidade, sempre possível, da Teoria da Cordas e da Teoria dos Mundos Paralelos estarem influenciando a pesquisa dos cientistas em questão.

    1. Concordo plenamente em tudo e acrescento que a variável de Bóson pode variar de acordo com as leis quânticas da radiação cordas.

  5. “Poucas coisas no Universo são tão bonitas quanto as nebulosas planetárias.”<=Bem, considerando-se só as atrizes de oliúde, eu acho que tem mais de mil candidatas a coisas mais bonitas…

    Mas a direção do eixo de rotação das estrelas – em especial no bojo galático – é aleatória em relação ao plano de rotação da galáxia?

    []s,

    Roberto Takata
    Pesquisa Visão de Ciência, Sociedade e Tecnologia do Brasileiro
    http://genereporter.blogspot.com.br/2013/06/pesquisa-gene-reporter-visao-do.html

    1. Rapaz, sobre a estética do negócio, o que é do gosto regala a vida, já dizia a minha avó.
      Sobre o eixo de rotação, os astrônomos esperavam que fosse aleatório — e é o que eles observam para todas as nebulosas planetárias, menos para as bipolares (borboletas). Existe algo que explica o porquê de elas terem essa forma e ao mesmo tempo justifica elas serem afetadas pelo campo magnético local. Talvez o fato de serem binárias possa explicar, mas os cientistas ainda não sabem ao certo. De todo jeito, é uma coisa bonita de se ver. 😉 Abraço!

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