Estrelas em fuga da Via Láctea

Salvador Nogueira

O Sol e sua coleção de planetas levam cerca de 230 milhões de anos para dar uma volta em torno do centro da Via Láctea. Mas, ao que parece, algumas estrelas similares à nossa resolveram ir embora da galáxia para sempre.

Concepção artística de uma estrela como o Sol viajando para fora da Via Láctea
Concepção artística de uma estrela como o Sol viajando para fora da Via Láctea

Um grupo de astrônomos da Universidade Venderbilt, nos Estados Unidos, encontrou 20 estrelas numa condição conhecida como “hipervelocidade”, em que os astros atingiram a velocidade de escape da Via Láctea e são ejetados dela.

Não é a primeira vez que se detectam astros nessa condição, mas todas as outras ejeções consistiam em estrelas de grande porte que foram arremessadas para fora da galáxia depois de passar de raspão pelo buraco negro supermassivo existente no núcleo da Via Láctea.

“Nossas novas estrelas são relativamente pequenas — aproximadamente do tamanho do Sol — e a parte surpreendente é que nenhuma delas parece estar vindo do núcleo galáctico”, diz Lauren Palladino, líder da pesquisa apresentada na reunião anual da Socidade Astronômica Americana, em Washington.

Os pesquisadores encontraram 20 astros desse tipo, e análises estatísticas mostram que pelo menos metade deles, com 98% de certeza, estão numa trajetória de escape da Via Láctea. Para isso, elas precisam atingir velocidades da ordem de 1.000 km/s, ou 1/300 da velocidade da luz.

A reconstrução de seu trajeto não levava ao centro da Via Láctea, mas de regiões mais externas do disco, o que consiste num mistério. Os cientistas chegaram até a verificar se esses astros não poderiam ter sido arremessados do buraco negro supermassivo que reside na galáxia vizinha de Andrômeda — cálculos sugerem que, vindos de lá, esses astros teriam levado 1 bilhão de anos para chegar aqui –, mas a trajetória não batia.

Sua origem é portanto um mistério. Eles podem ter sido arremessados da própria Via Láctea por algum mecanismo pouco compreendido, ou vieram de galáxias anãs vizinhas. Ninguém sabe ao certo.

Ao Mensageiro Sideral não escapou que esse é o plano de viagem perfeito para uma missão de exploração intergaláctica. Para resistir ao incomensurável tempo que levaria uma travessia entre galáxias, talvez a única forma prática de realizá-la seja levando seu sol e seu sistema planetário junto.

Mesmo sem levar em conta a dificuldade que seria imaginar um mecanismo tecnológico capaz de impulsionar uma estrela para fora de sua galáxia, o número de astros descobertos nessa condição já sugere que não é este o caso. A não ser que estivéssemos testemunhando um êxodo galáctico.

Por outro lado, muito mais crível é imaginar que, em meio à viagem intergaláctica dessas estrelas como o Sol, com cerca de 10 bilhões de anos de vida útil, a evolução biológica encontre uma rota para o surgimento de uma espécie inteligente. Essas criaturas olharão para o céu relativamente vazio nesse espaço entre galáxias, e hão de se perguntar se estão sozinhos no Universo.

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Comentários

  1. Estas estrelas devem ser remanescentes da colisão de galáxias anãs na borda da Via Láctea da qual não temos muito conhecimento. Na minha obra trato dessa possibilidade, mesmo sem ter conhecido tal fato anteriormente. E concordo com a tese, tb defendida na obra, de que a melhor maneira de transpor o oceano cósmico é lançar o sistema solar numa jornada pelas galáxias.

  2. Muito boa esta matéria!
    Realmente é um mistério o porque ocorre esses fenômenos.

    Salvador, você tem planos de publicar uma matéria sobre planetas órfãos?

    1. Tenho! Já me foi demandada há tempos! Mas uma hora vou falar sobre isso, pode deixar!

  3. Fazemos previsões do que irá ocorrer no universo daqui a bilhões de anos baseados apenas no que vemos hoje (que já é um passado tanto mais remoto quanto mais distante a observação, de modo que não sabemos o que está rolando ali agora). Por outro lado, não há nada que impeça que o universo inteiro possa entrar em colapso a qualquer momento, bastando que algumas constantes físicas sofram uma alteração infinitesimal. Em outras palavras, mero exercício de adivinhação

  4. Eu também acredito que essas estrelas não sejam nativas da Via Láctea. Provavelmente são visitantes oriundas de uma colisão entre galáxias.

  5. Estas estrelas poderiam ter passado muito perto de um aglomerado estelar e adquirido velocidade para se aproximarem do núcleo da galáxia e daí para fora da galáxia. Temos que ter em mente que dentro de uma galáxia qualquer coisa pode acontecer com as estrelas constituintes dela. Há um certo grau de ordem, mas nem sempre esta ordem é seguida por todas as estrelas e algumas podem seguir trajetórias diversas da maioria.

  6. certamente é um Sol que passou perto de um buraco negro.

    existem black holes em outras partes da galáxia, podem ter origem aqui ou ser de galáxias engolidas pela nossa.

    essa quantidade demonstra que há mais de um black hole por aí se escondendo, imagina uma espaçonave desavisada dar de cara com um negócio desses.

    o black hole no centro da galáxia é o resultado e vários bh que colidiram no passado, com o tempo todos vão a um ponto comum por conta da interação gravitacional, ao longo do caminho vão ejetando alguns Sois e o que estiver junto (provavelmente os planetas são tão perturbados que acabam sendo aniquilados)

  7. Eu fico imaginando como será o choque entra a nossa Via Láctea com a Galáxia de Andrômeda, a quantidade de Estrelas que será lançada espaço àfora provavelmente será Enorme! Mas… daqui a 2 bilhões de anos… só na imaginação mesmo. Rsrs

    1. Pode ter certeza Carlos!!! Será um negócio bem doido!!! Vc verá o céu noturno parecer dia.

      A quntidade de raios cósmicos será muito alta e calcinará o planeta Terra.

      Nessa época nosso sol já estará se encaminhando para uma gigante vermelha e, provavelmente não haverá mais nada vivo na superfície do planeta.

      Mas, no subsolo, pode ser que ainda haverá uns heróis da resistência (bactérias, protozoários, vermes, artropodes). Bactérias foram uns dos seres vivos que chegaram aqui primeiro e serão uns dos últimos a sair de cena.

      De dia, vc será capaz de ver estrelas, claro, um tanto que ofuscadas pelo brilho solar que será bem mais intenso.

      Se vc pudesse viver por 2 bi de anos, veria Lactômera se formar. Se tivesse sorte, ainda estaria em sua periferia e poderia viver em paz.

      Mas isso não seria um processo rápido. Seria bem lento, até que os dois buracos necros massivos se fundissem para formar Lactômera.

      Vc veria uma galáxia passar pela outra como se fosse um jato de poeira passando por outro. certamente, muitas estrelas e sistemas serão atirados para longe das galáxias e será uma fase ruim para a vida.

      Pena não podermos assistir a este espetáculo!!!

      1. Pode crê Elyson e Ricardo, O BAGUIO VAI SER TENSO! Aqui vai um vídeo de uma simulação do choque entre Andrômeda e a Via Láctea:

        https://www.youtube.com/watch?v=bqZF3wA9kv0

        E o episódio 12 da sério o Universo do History Channel, que fala do choque entre as galáxias, reparem nos 13:20 o que é dito: “… é assim que estrelas de uma galáxias longínqua podem percorrer milhões de quilômetros de espaço!…”

        https://www.youtube.com/watch?v=PhFGSnr49Ac

    2. Colisão de galáxias … eu me contentaria apenas entre estrelas, mesmo que fosse contra o nosso próprio sol e caso esta colisão custasse minha vida, ainda assim, eu topava. Caríssimo o custo, mas eu pagaria pelo espetáculo.

      1. Ou… tomara que já tenha detonado! Pelo menos à uns 20 mil anos atrás! Aí observariamos agora o evento né não.

  8. Delírio de um leigo: se a 65 milhões de anos um corpo celestial atingiu a península de Yucatan e provocou o fim dos dinossauros, podemos acreditar que no “caos organizado” do Universo de vez em quando podem ocorrer astronômicas colisões de corpos com liberação de energias inimagináveis, algo como pegar a maior bola de boliche para jogar aquelas partidinhas com bolinhas de gude ou em escala, bolinhas nanométricas. A cada desenvolvimento tecnológico novos e sensacionais mistérios; pena que nossa existência seja tão curta.

  9. Difícil conceber tal fato. E a mecânica celeste, como fica? As órbitas dos planetas de um dado sistema, não seriam alteradas, para não dizer profundamente modificadas. Imagino um caos. Enfim, quem sou eu pobre mortal, para ir contra fatos observados por astrônomos?

  10. Salvador, há algum indício de que essas estrelas fossem periféricas à nossa galáxia?
    Interações gravitacionais podem explicar o impulsionamento, usando como metonímia o que ocorre na nuvem de Oort, você não acha? Essas estrelas estão indo para onde? Andrômeda, ou para o vazio total? Realmente criaturas nelas, se existirem, com mais razão do que a humanidade sentir-se-ão no centro do universo!

    1. Samuel, o mapa no paper sugere que elas saíram de algum lugar a cerca de 10 kiloparsecs do centro da galáxia. Elas estão indo na direção do vazio mesmo, sem um destino claro.

      1. 10 kiloparsecs é uma distância menor do que a do nosso sistema solar do centro da galáxia, porém estavam na minha opinião distante do centro para serem lançadas pelo buraco… Mas para vararem a galáxia rumo ao nada… de onde estavam, é muito estranho…

        1. Pois é. Os astrônomos sugerem vários mecanismos, como a detonação de uma supernova, mas a verdade é que não têm ideia do que pode ser. Para procurarem um alinhamento com Andrômeda para ver se elas vieram de lá, você já tem uma ideia da esquisitice…

          1. Se estimamos que a Via Lactea e Andrômeda iniciarão uma fusão em alguns bilhões de anos, caso essas estrelas tivessem vindo de lá, deveríamos entender como representantes diplomáticas da futura fusão ou espiãs? Mas daí elas teriam de voltar para lá…Rs

          2. Pois é. Mas talvez na passagem elas pudessem saltar na “estação Via Láctea” e depois pegar o trem no sentido contrário. 🙂

    2. A meio caminho entre galaxias o viajante de um planeta filho desta estrela, vislumbraria apenas galaxias distannntes… e ai sim diria: Somos sim o CENTRO DO UNIVERSO.

    1. Não há nada mais maravilhoso e curioso do que o espaço, a Física… A imaginação humana é pequena em relação ao que pode ocorrer no Universo.
      Salvador, esse seu blog é d+ !

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