A eleição dos exoplanetas

Salvador Nogueira

Você por acaso está entre os que acham os nomes dados aos planetas fora do Sistema Solar chatos e difíceis de memorizar? Falta empatia e malemolência à nomenclatura? Impossível se entusiasmar com mundos com esses nomes? Seus problemas acabaram! A União Astronômica Internacional (IAU) fará uma votação pública para definir nomes populares oficiais para 305 exoplanetas descobertos entre 1995 e 2008.

Este não é um lugar bonito demais para ser chamado por uma sequência insossa de letras e números?
Este não é um lugar bonito demais para ser chamado por uma sequência insossa de letras e números?

Quer tomar parte? Há duas formas possíveis de participação. Clubes de astronomia e organizações sem fins lucrativos poderão se inscrever e sugerir nomes para os mundos “disponíveis”. Depois, os nomes serão submetidos a uma votação pública, e aí qualquer um inscrito no processo poderá participar. Tudo isso acontecerá por meio do site www.nameexoworlds.org. A eleição em si acontecerá em março de 2015, e os resultados serão anunciados em agosto.

E não pense você que será puro oba-oba. Haverá regras. Os nomes sugeridos não poderão ter mais de 16 caracteres, precisam ser pronunciáveis (em alguma língua), de preferência serem uma palavra só e não podem ser similares a nomes de objetos astronômicos já oficialmente batizados. Além disso, não vale sugerir nomes de animais de estimação, marcas ou nomes de natureza comercial (incluindo aqueles presentes em obras da ficção sob proteção de direitos autorais) ou ainda indivíduos, lugares ou eventos conhecidos por atividades religiosas, militares ou políticas. (E lá se vai o planeta Lula…)

Nomes de pessoas vivas também estão automaticamente desclassificados.

Por fim, qualquer organização que quiser sugerir nomes para exoplanetas terá de buscar o apoio dos descobridores dos ditos cujos. Ou seja, apesar do engajamento com o público, o procedimento vai seguir todas as regras caretas (e justas!) adotadas pela União Astronômica Internacional para o estabelecimento de nomenclatura.

POR QUALQUER OUTRO NOME
Acho bacana aproveitar o fascínio que os exoplanetas exercem sobre os humanos para engajá-los ainda mais na astronomia, e vejo com bons olhos a IAU calçando as sandálias da humildade e permitindo ao público participar do processo.

Contudo, será que faz sentido sair batizando toneladas de exoplanetas só pelo prazer de lhes dar nomes? Até o momentos, eles já são mais de 1.800, e a contagem só vai aumentar nos próximos anos.

Falem o que quiserem sobre a nomenclatura atual, mas ela é funcional. Ela indica, de uma vez só, em torno de qual estrela o planeta orbita, a ordem de descobrimento e o fato de fazer ou não parte de um sistema estelar múltiplo.

Exemplo: 16 Cygni B b. 16 Cygni é o nome da estrela. O “B” maiúsculo indica que estamos falando da segunda maior estrela de um sistema múltiplo (no caso em questão, trinário, sendo que as estrelas A e B são similares ao Sol, do tipo G, e a estrela C é bem menor, uma anã vermelha, tipo M). E o “b” indica que é o primeiro planeta descoberto em torno da estrela em questão (a letra “a” não é usada, como se fosse indicativa do astro principal, e os planetas são sempre contados a partir de “b”).

Outro: HD 183263 c. HD 183263 é o nome da estrela. A falta de letra maiúscula indica que o astro é solitário, a exemplo do Sol. A letra “c” indica que é o segundo planeta a ser descoberto em torno dela.

Os nomes das estrelas em si vêm dos catálogos que as listaram individualmente. O catálogo do telescópio espacial Kepler, por exemplo, segue o padrão “Kepler-Número” para designar uma estrela. O do satélite europeu CoRoT, a mesma coisa: “CoRoT-Número”. E temos outros catálogos, como o HD, o Gliese e o HIP, em formato similar “sigla número”.

Então, se por um lado os nomes não são tão facilmente memorizáveis, eles têm uma lógica que contém informação e referência. Os astrônomos jamais confundirão um planeta com outro pela nomenclatura atual. E a própria IAU aponta que os nomes científicos continuarão a ser esses, que os pesquisadores têm usado desde a descoberta do primeiro exoplaneta a orbitar uma estrela similar ao Sol, o 51 Pegasi b, em 1995.

A questão é: adicionar nomes populares a esses mundos todos, principalmente para uso midiático, agrega valor ao camarote?

A LÓGICA DOS NOMES
Acho, francamente, que a iniciativa é prematura. A verdade é que sabemos muito pouco sobre esses planetas para dar nomes significativos a eles. Os nomes dos planetas do Sistema Solar, derivados da mitologia romana, tinham uma simbologia própria. Mercúrio, sempre aparecendo próximo ao Sol e com deslocamento célere pelo céu, naturalmente se identificava com o deus-mensageiro romano. Vênus, esplendorosa em seu brilho, evocava naturalmente a deusa do amor. Marte, avermelhado, era a perfeita representação do deus da guerra. Júpiter, o maior deles, o deus dos deuses. Saturno, o mais vagaroso, como o deus do tempo.

Ao batizar exoplanetas sobre os quais quase nada sabemos, esvaziamos o próprio sentido do batismo. Note que até mesmo mundos cuja existência é ainda disputada (como Gliese 581 d) figuram da lista inicial.

Ainda se houvesse uma regra clara que norteasse a nomenclatura popular dos exoplanetas, essa iniciativa podia funcionar. A IAU até vai cobrar uma justificativa razoável por parte dos proponentes de nomes para planetas. Ainda assim, nenhum critério unificador norteará todas as escolhas, o que pode tornar tudo uma grande — e confusa — brincadeira.

A ideia, segundo os astrônomos responsáveis, é que os nomes populares oficiais dos exoplanetas, com essa multiplicidade de regras de batismo, reflitam a diversidade cultural da própria Terra. Mas não sei não. Tomara que seja só um pessimismo besta da minha parte e o processo de proposição e posterior votação produza resultados inspirados. E você, o que acha?

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Comentários

  1. Seria interessante algo como fixar um ponto de partida como por exemplo uma constelacao principal x, voltado para país x, na data x. Dai, naquela data cada regiao do globo com sua determinada mitologia ou cultura, a estrela voltada para o Brasil: Tupã, voltada para Israel: El Shadai, para India: Krishina, para Noruega: Odin, para Roma nome de anjos ou santos e assim por diante…

  2. Saturno (Cronus) não é a personificação do tempo e sim Chronos. A escolha do nome deste planeta nada tem a ver com seu longo período orbital, mas com o fato de que o titã Saturno era pai do deus Júpiter (Saturno está além de Júpiter).

    O mesmo se dá com o nome do planeta Urano, além de Saturno (o deus Urano era pai do titã Saturno).

  3. Bom dia, Salvador!

    Há alguma página de internet que forneça a exata localização dos planetas do nosso sistema solar?

    Obrigado e abraço!

  4. Vixe, como eu só consegui eleger um presidente na vida – e foi um desastre, o Lula – duvido que consiga eleger um nome para um desses planetas, nem arriscarei. Vulcano, proposto por muitos comentadores, é um excelente nome! Agora, que me perdoem os “apoiadores” do nome Dilma para um planeta gélido, escuro e feio, acho que esse nome deveria ser reservado para um tremendo Buraco Negro, desses que sugam a esperança de milhões de compatriotas..

  5. Para o primeiro planeta que comprovadamente seja rochoso, possua órbita, massa e atmosfera compatível com a vida, podem batizar de “Conseguimos!”

  6. Salvador, vejo como boa iniciativa de chamar atencao, despertar o interesse e popularizar a informação de que em breve confirmaremos planetas com características e composições semelhantes ao da terra. Mas concordo que a utilização de nomenclaturas indicativas que defendeste seria mais ideal. De qualquer forma, Carl Sagan deveria ser um dos homenageados, assim como você, daqui muitas décadas quando padecer.

  7. Sugeriria nomes de nosso folclore: caipora, curupira, saci. Ou quem sabe nomes de divindades indígenas e animais de nossa fauna. Nosso céu já tá cheiode divindades gregas, romanas, além de ursos, lobos e etc. Vamos abrasileirar esse céu, minha gente!!

  8. Trantor, Helicon, Terminus, Gaia, Aurora, Melpomenia, Solaria, Arrakis, Giedi, Salusa, Ginaz, Corrin, Ix, Wallach, Caladan, Altair, Azeroth, Chiron, Erythro, Thalassa, Magrathea.

  9. Com o avanço dia a dia da Astronomia conheceremos melhor a cara desses planetas e aí estaremos em condição nomeá-los. Imagina se chamamos um planeta de Sócrates, Platão ou Kepler e com o tempo descobrimos que ele não está à altura!!

  10. Até que enfim!!! Vamos dar nomes aos bois!!!
    Chega de planeta fdjlhdhgkjbsh252645 ou zzzxxbtfdr456lkk90!!!!!

  11. Nomes bíblicos, é o mínimo que podemos fazer para homenagear O Criador. Além disso, nomes bíblicos são em geral bonitos e misteriosos.

  12. Malemolência não me parece tão necessária, mas empatia, sem dúvida! Um nome, entre os outras coisas, ajuda a tornar o assunto mais amigável para todos, e se pode manter, junto com o novo nome, a designação antiga com número (igual já se faz com asteróides e outros objetos, se não me engano).

  13. só não pode deixar os PTralhas participarem porque vão querer dar nomes dos bandidos presos no mensalão
    mas se tiver um planeta escuro frio e sem ar pra respirar manda essa corja PTralhas pra la

  14. Kra vc ta falando besteira. Como vc mesmo disse os romanos e gregos não tinham ideia de como eram os planetas como deram nomes a eles e estes nomes ajudaram as pessoas a se facinarem por eles…

    Vai ser legal ver um krypton e coisas do genero aparecendo…

  15. Poderia ter Namekusei, Vegeta, Krypton, Melmac, Tau Volantis, Aegis VII, Vekta, Cybertron, K-PAX, Kamino, Tatooine, Thundera, Zebes…

    Sabem dizer de onde vem cada um?

  16. Otima oportunidade para usarmos um pouco da mitologia Nordica, suméria, japonesa e etc. Imagine que loco seria Planeta Niflheim!!

  17. Não há nenhuma razão científica objetiva para batizar esses planetas, pelo menos não no estágio em que nos encontramos. Como você mesmo diz, a nomenclatura atual é clara e funcional. Isto posto, considero essa uma das ideias mais sensacionais dos últimos tempos 🙂

    Não vejo ação mais interessante para tornar a astronomia mais popular, Salvador.

    Pena que, pelas regras, não poderemos olhar para o céu e procurar por Romulus, Vulcano, Coruscant, Tatooine e Namek, entre vários outros…

  18. Realmente é muito prematura essa iniciativa da IAU. Você da o nome a um gigante gasoso e logo vem a noticia de na verdade é uma anã marrom. Decepção total! 🙁

  19. Brasileiros, vamos nos unir ao redor de nomear um planeta com o HUEHUEBRBR kkkkkkkkkkkkkkkk

    Brincadeiras a parte… também acho precipitado. Até acho estranho que olhem praqueles pontos e digam “véi, é um planeta”

  20. Gostei da citação de Shakespeare:
    “A rosa com qualquer outra nome ainda teria o mesmo perfume.”
    Qualquer planeta, com qualquer nome, ainda será o que ele é. Estamos fazendo o mesmo que um desenho que tenta dar nome ao desenhista. Não vejo maldade, mas também não vejo propósito.

    1. nota 100 pra este , pelo menos ficaria bem longe da nossa população e faria merda sozinha , e tomava no c,,,,,sozinha tbem,,,,áhhhhhhhh,,,,,pra ela não ficar só poderiamos mandar o lula junto pra ele vender friboi lá casa do c,,,,,,,,rsrsrsrrsrsrs

  21. Ainda vai aparecer algum clube ou OSF sugerindo Nibiru. Aposto uma garrafa de vinho contigo, Salvador!

      1. Legal seria. O problema é que ia ter uns adeptos da ideia mais insuportáveis do que argentino se ganhasse a Copa no Brasil…

  22. Dar nomes mais agradáveis a alguns desses planetas é inevitável mas concordo com você, Salvador, de que ainda é muito cedo para isso.

  23. Eu acho válido se forem selecionados os mais próximos e com mais chance de observações nos próximos anos. Acredito que assim ficaríamos mais familiarizados com eles.

  24. Na minha opinião, um exoplaneta só deveria ser nomeado a partir do momento em que houvesse algum conhecimento indiscutível sobre ele. Talvez: período orbital, máxima e mínima distância da estrela e informações mínimas e indiscutíveis sobre sua composição química.
    Que eu saiba, alem do conhecimento de sua existência (nem sempre indiscutível), só há teorias e especulações.

    1. Acho bem razoável sua proposta e tendo a me alinhar com ela. Só depois que há medidas espectroscópicas da atmosfera que o planeta se tornaria “nomeável”.

  25. Olá, Salvador! Será que não podíamos inscrever uma organização para nomear os exoplanetas, do tipo “Mensageiro Sideral e seguidores Inc.”? hahaha..

    Brincadeiras à parte, não seria mais fácil que todos os exoplanetas e estrelas correspondentes fossem nomeados a partir da constelação ou área do céu onde foram encontrados? Acho que alguns já seguem essa lógica.. enfim, penso que a iniciativa visa mesmo aproximar a pesquisa astronômica do grande público, uma vez que os nomes científicos serão mantidos.

  26. Caro Salvador, acho demasiado prematuro nomear planetas dos quais sabemos muito pouco ou quase nada de sua reais características! Se a ideia é popularizar a ciência, deve ser feita a coisa certa, que é esperar mais informação para que não se produza algo que de que se possa arrepender depois!

  27. Que nome será que nosso planeta teria para eventuais aliens nos observando a partir dos telescópios deles?

  28. Concordo com você, Salvador. É cedo demais para nomear planetas dos quais sabemos quase nada – em alguns casos, sequer sabemos se de fato existem!

  29. Tenho um nome sugestivo:

    “Terra de ninguém”

    Nada tão verdadeiro!

    “Fique deserto o lugar deles;
    não haja ninguém que habite nas suas tendas.”

    (Salmos 69:25)

  30. Bom dia Salvador!

    Eu também acho que a iniciativa é prematura senão, apenas uma tentativa de relações com o público da IAU afinal, são corpos no espaço inatingíveis pelo mortal comum. Se a ideia é tornar mais popular a astronomia e suas consequências seria mais interessante manter um site bem elucidativo, que aliás nem sei se existe, mas uso acessar a NASA e também recebo as newsletter. Uma pergunta: por acaso existem links em tempo real com os telescópios, seja o HUbble, ESO e qualquer outro?

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