O local de pouso da Rosetta

Salvador Nogueira

A equipe responsável pela missão europeia Rosetta escolheu os cinco locais mais promissores para o primeiro pouso de uma sonda num cometa, evento histórico — e tenso — marcado para 11 de novembro.

Os cinco possíveis locais de pouso para o Philae, pré-selecionados de uma lista de dez
Os cinco possíveis locais de pouso para o Philae, pré-selecionados de uma lista de dez

Os cientistas têm trabalhado furiosamente no mapeamento do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko desde a chegada da espaçonave ao astro, no último dia 6. As primeiras imagens com essa finalidade foram obtidas a uma distância de 100 km e forneceram subsídios para uma seleção inicial de dez sítios para o futuro pouso do módulo Philae.

Agora, esta seleção foi reduzida a cinco locais — e escolher o melhor ponto para descida é mais complicado do que pode parecer. Não é somente escolher o lugar mais lisinho, com menos risco de a sonda ser danificada ao impactar contra uma rocha pontiaguda. Um dos requerimentos, por exemplo, é que ele forneça pelo menos seis horas de exposição ao Sol conforme o cometa gira em torno de seu próprio eixo, de forma que as baterias do Philae possam ser recarregadas via painéis solares, após o esgotamento da carga inicial de 64 horas. Mas calma lá! Também não pode ter Sol demais, sob risco de causar super-aquecimento.

(Meu alvo favorito? É o marcado com a letra A, na imagem acima; ele permite a observação dos dois lobos do cometa e está numa reentrância que parece limitar à medida certa a exposição ao Sol. Mas só imagens com mais resolução permitirão concluir que ele seria mesmo uma boa opção.)

E agora, quais serão os próximos passos? A essa altura a Rosetta já está monitorando o cometa de mais perto — 60 km — e deve descer ainda mais na semana que vem, chegando a 30 km de distância. Esse processo permitirá um mapeamento mais detalhado dos cinco sítios pré-selecionados, e no dia 14 de setembro restarão apenas dois: um primário e um reserva. No fim de setembro, a distância orbital entre a Rosetta e o cometa terá caído para 20 km e, a partir de 10 de outubro, essa distância cai para 10 km — o equivalente aproximado à altitude de cruzeiro de um avião de passageiros.

Em 12 de outubro, a equipe responsável pela escolha dará o “Go!” (ou o “No Go!”, se for o caso) para o sítio primário, e os operadores começam a adaptar o software da Philae para as especificidades do plano de pouso. Em 9 de novembro o software é transmitido da Terra para o Philae e, dois dias depois, em 11 de novembro, vamos todos fazer figas pelo módulo de pouso em sua audaciosa tentativa de fazer uma descida suave na superfície do cometa.

Será de arrepiar. Fique ligado.

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Comentários

  1. Achei em algum site na Internet. Não conferi. Gravidade estimada na superfície do cometa = 0,001m/s².

  2. A primeira imagem tem um padrão sinistro se o observador usar a imaginação (procure por um rosto do lado direito do ponto I).
    Tudo bem, é apenas a nossa capacidade de reconhecer padrões faciais…

    Salvador, legal sua participação no jornal cultura!

    1. Verdade, parece o rosto de um bebê alien visto em uma ecografia tridimensional. 🙂

  3. Salvador,
    Por causa da gravidade ser muito pequena, a manobra deveria se chamar acoplamento ao cometa, e não, pouso. Como o cometa tem rotação, a manobra de acoplamento se complica ainda mais. Um acoplamento desse sem poder dar comandos em tempo real, é uma façanha e tanto ! Tomara que dê certo, e que aprendamos muita coisa com esse cometa.

  4. Olá Salvador, parabéns pelo blog!

    Gostaria de saber se você poderia me dar alguma dica a respeito de lunetas ou telescópios (sou muito leigo na área), tenho apenas R$600,00 para gastar, felizmente moro no Ceará e o céu aqui é maravilhoso favorecendo muito a observação.

    1. Eu, não fique triste. O veículo que explodiu foi o F-9R Dev1, o sucessor do Grasshopper, que era destinado a testar a decolagem e o pouso vertical em baixa altitude.

      Ele tinha o objetivo de verificar os limites do equipamento e uma falha já era esperada em algum momento.

      1. Inclusive a própria detonação, embora não intencional, serviu como uma demonstração, com sucesso, de um dispositivo autônomo (Range Safety) que verifica se o foguete está fazendo o que deveria e caso contrário causa sua autodestruição para evitar danos a pessoas e patrimônio.

        1. Ah sim, mas é sempre ruim quando tanto dinheiro e tecnologia assim são “jogados fora”.

          😉

    1. Será um evento histórico, os dados obtidos nessa exploração serão confrontados com o que a ciência possui: novas conclusões, confirmações, eliminação de hipóteses e possibilidade de estabelecimento de novas hipóteses.

  5. Uma pergunta de uma pessoa sem noção sobre ações espaciais.
    Por que esta descida tão lenta e cuidadosa?

    Pois hoje esta a 60 km e até outubro 10 km quais os riscos e problemas para se descer se a distancia for menos em menos tempo.

    1. O objeto tem forma irregular, o que significa que há variação da intensidade da gravidade ao longo da órbita. Quanto mais perto, mais significativo é isso. Além do quê, como a gravidade é muito fraca, é preciso muito cuidado nas manobras. Um erro de cálculo e a sonda pode se desgarrar do cometa ou, pior, colidir com ele. Isso sem falar no fato de que cometas desprendem um monte de poeira e gás de suas superfícies, conforme se aproximam do Sol — coisa que este fará ao longo do próximo ano. É uma missão complexa. Cautela e canja de galinha nunca fazem mal nesses casos. 😉

  6. Qual o propósito disso? acompanhar o cometa pelo espaço? Ja pensou se ET’s ja fizeram isso e ele caisse aqui na terra???rs

    1. O propósito é observar as mudanças de nível de atividade conforme ele se aproxima do Sol.

  7. Tomara que a NASA transmita as imagens ao vivo do centro espacial. Seria fantástico!

  8. Esse tipo de procedimento é para muitos do futuro, como uma coisa normal.

    Quero dizer, que tudo que é novo hoje,já esta sendo passado para quem estuda o futuro do universo.

    Estudo o passado e o futuro.

    Faço parte do GEV. ( Grupo de estudo da vida).

  9. Sensacional! Mais emocionante seria se a Rosetta tivesse alguma câmera para registrar todos os momentos da aproximação e pouso. Estou ligado!

  10. Bom dia Salvador!

    Depois de colocarem a sonda na superfície todos da equipe poderão planejar a vinda ao RJ nas Olimpíadas participando do tiro ao alvo, pois o que estarão tentando seria equivalente a um piloto atirar com uma arma de fogo no olho esquerdo de uma formiga, supondo que a bala não a liquide. Muito emocionante esta tentativa e obrigado por nos manter informados.

  11. Muito bom. Como já falei anteriormente, o melhor é poder “fazer parte” de um acontecimento grandioso como este.

    🙂

  12. Viação Cometa vai processar cientistas por viajarem de graça, quer receber os r$3,20, cientistas se dizem estudantes e vão promover passeata pela passagem livre.

  13. Salvador, qual é a força da gravidade deste corpo? É o suficiente para, hipoteticamente claro, um astronauta saltar sem ser lançado ao espaço?

    Abraços. Parabéns pelo livro.

      1. Não seria possível nem ficar em pé, presumo. O astronauta se desequilibraria. E qualquer movimento contra o cometa, o faria se desgarrar. Chegar próximo a esse cometa seria semelhante a aproximação com uma estação espacial. Acho que a gravidade eh irrisória.

        Essa sonda terá que se ancorar, para não cair lentamente de lado, ou quicar e se desgarrar.

  14. Aposto minhas fichas no site C como primário e A como secundário. O site A me parece muito próximo ao lobo lateral, aumentando o risco de imacto no pouso. O site C ainda possibilita a visão dos 2 lobos. Talvez um impedimento ao C seja a superexposição ao sol. Aguardemos…

  15. Salvador, sou fã de suas reportagens. Sua sugestão tb seria minha. Acompanho todos eventos desta natureza com meu GOTo de 200mm e tenho um suporte em suas indicações. Neste release achei que faltou para maior compreensão uma arte com escala de tamanho do cometa além dos pontos de descida.
    Valeu!

    1. Estudar sua composição. Sabemos que os cometas produzem compostos orgânicos essenciais à vida, além de terem água. São também objetos remanescentes da época em que o Sistema Solar estava se formando. Podem nos ajudar, portanto, a investigar tanto a origem dos planetas como a origem da vida.

      1. Essa missão pode ser um marco e uma reviravolta em tudo que a ciência aceita como Verdadeiro sobre a formação dos planetas. Infelizmente A ESA tem divulgado tão a conta gotas as esperadas informações e justamente quando a sonda fica cada vez mais próxima do seu alvo.

        Temperatura bem mais elevada que o esperado, estimativa de massa diferentes do esperado seu formato, crateras e vales inconsistentes com o modelo dirt snowball… Esperando ansioso pelas cenas do próximos capítulos.

        1. Alfredo, até agora não vi nada de muito inconsistente não. A massa, de fato, veio diferente da esperada, mas é natural em objetos desse porte e difíceis de observar de longe. Já o formato não é surpreendente. Veja como ele se parece com o Halley, o Borrelly e o Hartley 2 (http://planetary.s3.amazonaws.com/assets/images/9-small-bodies/2014/20140804_comets_sc_0-000-020_2014_2.png). Mas, claro, a prova dos noves será lá no solo. Torçamos para que tudo corra bem e para que a ESA seja mais rápida na divulgação dos dados.

          1. A surpresa de seu formato não é pela diferença com os outros cometas já fotografados, mas sim pela semelhança entre todos, pois não se encaixam no que seria esperado de bolas sujas de gelo que deveriam se sublimar e erodir a cada periélio. A Análise visual não os difere de simples asteroides, sendo que H2O pode ser formado
            sem a presença de gelo, uma vez que sílica (SiO2) bombardeada com Prótons (H+) tbm produz H2O, como comprovou Hannes Alfven, Gustaf Arrhenius no paper Evolution of the Solar System. As variáveis estão na mesa para serem interpretadas vamos ver o que os novos dados tem a mostrar.

          2. Alfredo, mas eles sofrem erosão a cada periélio. O mistério é por que a erosão acontece numa faixa. Sem dúvida a Rosetta vai ajudar nisso.

    2. A órbita dele o faz passar perto da Terra, mas não tão perto, no máximo 0,245 UA (um pouco mais de 36 milhões de km).

  16. esse momento ( o do pouso ) certamente será mais um dos mais importantes marcos pós era viagem a lua .

  17. É sensacional o avanço científico.Espero que o pouso seja um sucesso e que os dados sejam aproveitados para mais avanços.

  18. Salvador: Agregar a massa do módulo de pouso à massa do cometa não poderia causar um viés em sua órbita? Ou o impacto do pouso do módulo não poderia causar algum viés?

  19. Lindo demais!! Impressionante a capacidade dos engenheiros de conseguir levar essa sonda com exatidão ate o cometa a milhoes de kms de distancia. Não sei quanto é o tempo que leva o sinal para ir e vir até o comenta, mas deve ser complicadissimo trabalhar com essa defasagem.
    Parabéns a raça humana por esse feito histórico!

  20. Tenso, tenso, tenso! 11/11 tá tão longe. Mas dará tudo certo, tem que dar certo! Salvador! Qual o peso do Rosetta? Haverá transmissão ao vivo, in loco, simultânea enfim?

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