Dilma: lançador brasileiro em 2015

Salvador Nogueira

Cinco dias após o prazo originalmente estabelecido, a presidente Dilma Rousseff aceitou o desafio e respondeu, por meio de seu comitê de campanha, às perguntas do Mensageiro Sideral sobre o futuro do programa espacial e da astronomia brasileira num potencial segundo mandato. Caso seja eleita, a candidata promete um lançamento do VLS, o Veículo Lançador de Satélites, ainda que numa versão apenas parcialmente funcional, para 2015. Já o primeiro lançamento de satélite feito por veículo brasileiro deve recair sobre um derivado do VLS, o VLM (Veículo Lançador de Microssatélites), com voo inaugural previsto para 2017.

Segunda tentativa de lançamento do VLS-1, feita em 1999.
Segunda tentativa de lançamento do VLS-1 (Veículo Lançador de Satélites), feita em 1999.

Dilma também declarou apoio à adesão do Brasil ao ESO (Observatório Europeu do Sul), embora destaque o objetivo de reduzir o custo do acordo, assinado em 2010 e que até agora não concluiu sua tramitação no Congresso.

O Mensageiro Sideral enviou as mesmas perguntas ao comitê do candidato Aécio Neves, que respondeu apenas o seguinte: “No momento, não temos como responder as suas perguntas. Envio abaixo o nosso posicionamento do nosso programa de governo. O programa de governo do candidato à Presidência pela Coligação Muda Brasil, Aécio Neves, prevê que o setor aeroespacial será priorizado, depois de ter sido sucateado pelo governo do PT. Os pilares desse fortalecimento passam pela inovação tecnológica conjugada e pela transferência efetiva de tecnologia.”

Caso o comitê do candidato do PSDB encontre tempo para responder às perguntas nos próximos dias, o Mensageiro Sideral publicará com prazer, na esperança de contribuir com o debate programático nesta reta final de campanha, até agora tão carente de ideias, propostas e compromissos para o futuro do Brasil.

Abaixo, as respostas do comitê de Dilma Rousseff, na íntegra:

Mensageiro Sideral: O programa espacial brasileiro se encontra bastante moroso no segmento de veículos lançadores desde o acidente com o VLS-1, em 2003. Caso seja eleita(o), quais são suas ambições para esse setor?

RESPOSTA: Desde 2003, muitos avanços foram efetivamente conquistados no âmbito do projeto que visa dotar o Brasil de autonomia no acesso ao espaço. Além da completa revisão do projeto do VLS, diversas partes e subsistemas foram aprimorados e uma nova torre de lançamentos foi construída e hoje está pronta para executar lançamentos no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA). Além disso, o Brasil conseguiu desenvolver e dominar a tecnologia dos sistemas de navegação de foguetes e diversos itens da infraestrutura do CLA e do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), localizado em Natal (RN), foram reformados e modernizados. Os resultados desses investimentos devem começar a produzir seus frutos a partir de 2015, quando ocorrerá o lançamento do protótipo denominado VSISNAV, que será o primeiro lançamento do VLS desde 2003.

Além dos investimentos diretamente relacionados ao VLS, o Brasil iniciou, em parceria com a Alemanha, o desenvolvimento de um novo veículo, denominado VLM, destinado ao lançamento de microssatélites. O VLM deverá ter seu primeiro lançamento em 2017. Também será mantido o importante programa de lançamento de foguetes suborbitais destinado a manter as operacionalidades dos nossos centros de lançamento e a atender a demandas por pesquisas em microgravidade no Brasil e na Europa. O objetivo do próximo governo é completar e lançar o próximo protótipo do VLS, desenvolver e lançar o VLM e colocar essas tecnologias para atender às necessidades do Programa Espacial Brasileiro e de nações parceiras.

Mensageiro Sideral: Os investimentos no programa espacial têm aumentado de forma significativa na última década, mas não se traduzem em grandes avanços palpáveis. O que está dificultando os progressos?

RESPOSTA: O ciclo de desenvolvimento de sistemas espaciais é reconhecidamente de longo prazo e, portanto, os investimentos efetuados não geram resultados imediatos. Mas, seguramente, os resultados serão perceptíveis gradualmente a médio e longo prazo. Basta verificar que o Programa Espacial Brasileiro investe em várias frentes distintas e complementares, tais como na infraestrutura de unidades de pesquisa e centros de lançamento; no desenvolvimento de satélites e suas aplicações; em lançadores; em educação, e no desenvolvimento de tecnologias críticas. Em todas essas frentes, temos obtido resultados importantes e sucessivos em decorrência dos investimentos realizados.

Há ainda a expectativa de crescimento nos investimentos, pelas novas iniciativas dos Ministérios da Defesa e Comunicações, que se unem aos programas do MCTI, compondo um cenário mais amplo e promissor de investimentos no Programa Espacial Brasileiro, com benefícios diretos para nossa base industrial, como a meta já alcançada da criação de uma empresa integradora, capaz de organizar a cadeia produtiva desse setor.

Mensageiro Sideral: Quais serão as prioridades do Brasil em seu programa espacial para os próximos quatro anos, caso seja eleita(o)?

RESPOSTA: Prosseguir na implementação do Programa Nacional de Atividades Espaciais para o período de 2012 a 2021, nas várias vertentes ali contempladas. Dentre os resultados esperados, podemos citar o lançamento do satélite CBERS-4, a ser realizado em dezembro deste ano, em parceria com a China, assim como a continuidade na cooperação espacial com aquela nação parceira. Também está previsto o lançamento do satélite de sensoriamento remoto Amazônia-1, em 2016, e o desenvolvimento de um par de satélites oceanográficos em parceria com a Argentina, denominados SABIA-Mar, com lançamentos previstos para 2017 e 2018. Para atender aas outras demandas hidrometeorológicas, está em desenvolvimento um novo sistemade satélites denominado SCD-Hidro, que dará continuidade ao Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais (SCD), implantado nos primórdios do Programa Espacial Brasileiro. Na vertente de lançadores, serão mantidos os investimentos no VLS e VLM, e na infraestrutura a eles associada, como já exposto anteriormente na primeira pergunta.

Neste período, serão iniciados os desenvolvimentos de novos sistemas de observação da terra baseados em radar e também um novo sistema geometeorológico – todos voltados para atender às demandas ambientais brasileiras. Como forma de ampliar os benefícios das atividades espaciais, serão mantidos e ampliados os investimentos em suas aplicações, como o de acompanhamento e alertas de desmatamento na região amazônica e outros biomas. Também será implantado o programa de transferência de tecnologia associado à aquisição do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC) e mantida a orientação que busca consolidar a base industrial do setor espacial. Na vertente da educação e do desenvolvimento de tecnologias críticas, importante citar a existência do programa Ciência sem Fronteiras Espacial, assim como os programas de desenvolvimento tecnológico financiados pela Agência Espacial Brasileira (Uniespaço e Microgravidade) e pela Finep em parceria com o BNDES (Inova Aerodefesa), iniciativas que serão mantidas e ampliadas no futuro.

Mensageiro Sideral: Em 2010, o MCTI assinou um acordo com o ESO para a entrada do Brasil na renomada organização europeia de astronomia. Desde então, o texto tramita no Congresso, sem ser concluído. Sua aprovação terá prioridade caso seja eleita(o)?

RESPOSTA: A adesão do Brasil ao ESO é uma grande expectativa dos astrônomos brasileiros e recebe todo o nosso apoio. O grande esforço que temos feito neste momento está na revisão dos recursos envolvidos para esta adesão. O MCTI tem insistido com a Administração do ESO uma redução tanto da taxa de entrada como da contribuição anual a ser paga pelo Brasil.

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Comentários

  1. vc é otário. o prog. do VLS que a Dilma prometeu morreu pela falência do BRasil e os cortes da Min. de Defesa e Ciência & tecn.

  2. Salvador estou escrevendo na segunda-feira negra após a reeleição de Dilma; espero que nas últimas semanas de 2017 você volte ao assunto VLS e tenha novas informações.

    1. Pois é. Agora podemos cobrar. E contrastar o discurso com a realidade. Aliás, o choque de realidade já começou. A economia, que para o governo estava ótima até domingo, hoje já está cheia de desafios e tal. Vou te falar, viu?

  3. Pois bem, mérito dela que pelo menos respondeu. De todo modo, acho quase impossível que ela cumpra sequer o lançamento de 2015…

    Cobrar também não vai adiantar, pois o impacto para a cabeça do povinho é pequeno com esse tipo de assunto, haja vista a baixa votação no Marcos Pontes (eu votei nele com orgulho!).

    Só acho um absurdíssima a última resposta, quanto ao ESO, oportunidade única para o Brasil, tendo em vista o oceano de dinheiro gasto com porto em Cuba… que de nada vai servir ao povo brasileiro de verdade como poderia servir o investimento na ciência brasileira.

    Estou é seriamente pensando em sair desse país, pois nos próximos 4 anos o PT+PMDB acaba de detonar com o pouco que o Itamar e FHC deixaram.

    Até 2018, pode esperar o retorno dos 40% de inflação…

  4. adorei a resposta dada pela presidentA, que é uma palavra inexistente, assim como demonstra na desresposta dada cheia de siglas muito bem produzidas e ainda dou sugestões de tão grato que fiquei:
    > VSF e VTNC (Veículo Sofisticado Federal e Voo Técnico da Natureza Compreendida)

    então, como ser estudioso nas áreas sensíveis para se desenvolver um programa espacial é muito caro, exige muita paciência, inteligência, força de vontade e aceitar a exclusão de investimentos, temos que os cursos de Direito e Medicina são e sempre foram os mais procurados pelo motivo óbvio: boa remuneração e excelentes perspectivas.

  5. Eu até poderia acreditar se a resposta trouxesse planos de longo prazo. Mas crer que depois de 12 anos de governo sem nenhum resultado teremos um lançamento exatamente no ano que vem? É pedir demais.

    Vindo de um governo cheio de obras atrasadas e superfaturadas que deveriam ter sido concluídas há anos, então, é mais difícil ainda de acreditar.

  6. Pelo menos eles responderam.
    Não gosto do PT, não vou votar nele, mas pelo menos eles responderam… isso tem que ser dito.
    Atento ao tema eles estão.

    Quem controla este tipo de operação são as forças armadas não?
    O problema é que (parece), que o PT tem alguns problemas políticos com as forças armadas por conta de alguns radicais.

  7. Cheguei atrasado neste post mas tudo bem, na minha opinião a resposta da candidata poderá servir como base para futuras cobranças caso ele vença o embate, mas também não ficou nada claro sobre os avanços e nem conseguimos perceber os avanços, Salvador você acha que com o que foi visto até aqui pelo Programa Espacial Brasileiro seremos realmente capazes de fazer um lançamento em 2015?

  8. Salvador,
    É interessante ver que todos se interessam pela C&T quando respondem as suas perguntas, principalmente elencando o quanto gastaram ou gastarão se eleitos.
    Mas a sua pergunta permanece sem resposta: Se gasta-se tanto com o programa espacial, por que não lançamos nada?
    Resposta simples: Porque quem faz o projeto, os cientistas e pesquisadores, os funcionários de C&T, estão sendo sucateados ano a ano. Em mais de seis anos receberam apenas três aumentos de 5% só. E mais da metade se aposentou sem ser repostas.
    Perdemos o mais caro e importante, o conhecimento adquirido com anos de trabalho duro, e não temos previsão de repor pessoal em tempo de aprenderem com os mais experientes.
    Isto sim é o que não deixa o projeto avançar.

  9. Acho que o candidato Aécio dará muito apoio ao setor de helicópteros. Não conta como programa espacia, mas enfim…

  10. Boa tarde Salvador!

    Está muito difícil até para sentar na frente do monitor devido ao calor infernal que tem feito nos últimos dias e noites mal dormidas apesar de todas as janelas escancaradas.

    Eu acho que o Aécio Neves não tem lá como responder sobre o tema mesmo que senador licenciado, porque o Brasil paga fortunas astronômicas para sustentar um Congresso Nacional cuja função primordial seria fiscalizar o executivo e produzir Leis, mas se tornou refém via Mensalão, Petrobrás, Correios, Previ, Postalis e outras infindáveis fontes de dinheiro fácil tomados dos contribuintes caprichosamente aparelhadas pelo Partido dos Trabalhadores (que ironia!)

    As respostas endereçadas a você pelo comitê de Dilma Rousseff são tão claras e definidas quanto o interior do buraco negro e sua borda por onde somem bilhões de reais dos contribuintes a troco de nada em contrapartida. A começar com a eterna cantilena que “desde 2003…” como se o Brasil passasse a existir efetivamente a partir de quando o nefando partido se apossou democraticamente do Brasil pelos brasileiros que foram seduzidos pelos discursos do sindicalista agitador; prossegue com besteiras e evasivas como “muitos avanços foram efetivamente conquistados no âmbito do projeto que visa dotar o Brasil de autonomia…”; quais e quantos são os avanços?

    Como não pretendo discutir cada bobagem inserida nas respostas, só me cabe dizer que o festival de besteirol já era plenamente previsível, mas o fecho de ouro da redação está em: “O grande esforço que temos feito neste momento está na revisão dos recursos envolvidos para esta adesão. O MCTI tem insistido com a Administração do ESO…”, ou seja, pagar 250 milhões de euros em dez anos é muito dinheiro, mas US$ 2,5 bilhões pela refinaria de Pasadena, que valia apenas US$ 42 milhões não é nada e ela não sabia de nada. Que conforto!

    Você acreditou sequer em um ponto ou vírgula do comunicado? Não! Não precisa responder.

    1. Obrigado por me poupar. Mas, para não ficar em cima do muro, acho valorosa a manifestação por dar subsídios para avaliarmos o desempenho do governo, em caso de vitória de Dilma. Mas para mim foi mera reprodução do cronograma da AEB, que a cada ano é empurrado um ano. E senti falta de alguma menção à Alcantara Cyclone Space, que foi ralo de dinheiro do governo durante todos esses anos.

        1. Respostas protocolares geralmente são “bullshit”. E esta me pareceu um Ctrl-C + Ctrl-V de algum lugar que eu não conhecia, mas o Salvador me esclareceu. Na verdade há programas inteiros de candidatos e diretrizes de partidos políticos copiados deste jeito, quase não há nada inédito saindo da cabeça destes pilantras. Fazer politicagem, negociatas e fingir que governa são coisas muito bem conhecidas por estes e todos os outros candidatos. O povo tem que aprender a cobrar destes caras sem medo deles e para fazer isto o governo TEM que ser transparente e democrático.

      1. Salvador,

        A impressão que ficou é a mesma quando o professor chega na sala na segunda cedo e fala pra turma: prova surpresa!! O comitê de ambos candidatos não estavam preparados para suas perguntas, mostrando que definitivamente o programa espacial não faz parte das demandas prioritárias dos candidatos. As repostas obtidas hoje mostram que pelo menos um dos comitês foi estudar o assunto e respondeu aquilo que já é de conhecimento público. E você tem razão. As colocações fazem parte do programa atual que rotineiramente é adiado ano a ano.
        Gostaríamos de acreditar que finalmente passaremos a ter um programa espacial robusto mas os fatos ainda não permitem chegar a esta conclusão. permitem

  11. O Brasil é um país pobretão, precisa negociar reduções de taxas e contribuições que por ventura precise pagar, senão fica difícil. Se eles parassem de desviar verbas, ia sobrar muito dinheiro para qualquer projeto.

  12. Parabéns, Mensageiro Sideral, mais uma vez contribuindo para um debate saudável de ideias (agora, até na seara política 🙂 ). Em meio a um deserto de ignorância, seu blog é um oásis.

    1. Eu já havia colocado para o Salvador este potencial deste trabalho desenvolvido aqui no blog. Além de um lugar para divulgação é também um lugar para questionamentos e acho sim que pode fazer diferença. Acho até que é o primeiro local onde poderemos ver questionamentos e cobranças que podem trazer algumas respostas.

  13. Faltou a conclusão do Mensageiro.

    Pra mim parecem respostas dos órgãos envolvidos na pesquisa, e não uma resposta do comitê de um candidato.

    Fica parecendo que o programa espacial brasileiro, engenheiros e cientístas são todos do comitê. Pegar uma resposta de um órgão financiado com o nosso dinheiro e apresentar como própria resposta não é realemente uma resposta.

    Qualquer candidato que fosse eleito teria a mesma influência sobre os órgaos de pesquisa e poderia dar as mesma respostas, somente garantindo o mesmo investimento.

    Fica a pergunta. Qual órgão os outros candidatos poderiam consultar ou até exigir respostas para essas perguntas?

    1. Cassio, eles teriam de consultar as pessoas que querem ver comandar esses órgãos em seus governos. Não vejo problema em um candidato buscando a reeleição consultando seus próprios especialistas na área, ainda que eles façam parte do corpo do governo atual. Difícil seria eles fazerem programa de governo sem seu “primeiro time”.

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