O “quase” do cometa Siding Spring

Salvador Nogueira

O cometa Siding Spring passou zunindo a meros 139,5 mil km da superfície de Marte no último domingo (19) e foi observado pela flotilha internacional de espaçonaves e jipes robóticos que trabalha no planeta vermelho. Os cientistas ainda se debruçam sobre a montanha de dados coletados, mas uma coisa já se pôde constatar: o astro era bem menor do que antes se imaginava.

O cometa Siding Spring passa de raspão por Marte, em imagem do astrofotógrafo Damian Peach.
O cometa Siding Spring (mancha verde) passa de raspão por Marte, em imagem do astrofotógrafo Damian Peach.

É bem verdade que ninguém poderia dizer ao certo, de antemão, o tamanho do núcleo do cometa. Esses objetos são notoriamente difíceis de investigar de longe, por telescópio, porque a cauda serve como “camuflagem” para o interior. É preciso estimar o nível de atividade com base na aparência externa, para então dar um palpite sobre o tamanho do pedregulho de gelo e rocha que se esconde lá dentro. De acordo com as observações telescópicas, imaginava-se que o núcleo do Siding Spring tivesse cerca de 1 km de diâmetro. Mas a imagem colhida pela câmera de alta resolução da sonda orbital Mars Reconnaissance Orbiter, da Nasa, revelou um objeto com apenas dois ou três pixels de largura. Como cada pixel na imagem equivalia a cerca de 138 metros, o astro não tem mais que 450 metros de diâmetro.

Imagens captadas pela sonda MRO: acima, pixels brancos representam o núcleo do cometa; abaixo, aumento de exposição revela atividade circundante.
Imagens da sonda MRO: acima, pixels realçam núcleo do cometa; abaixo, maior exposição revela atividade circundante.

Ainda assim, seu nível de atividade foi tal que o jipe robótico Opportunity conseguiu fotografá-lo no céu marciano. A imagem, que se pode ver logo abaixo, não é nada espetacular. Mas permite um belo voo da imaginação, pois a sensibilidade da câmera é similar à dos nossos olhos. Ou seja, o que ele “viu” é mais ou menos o que nós veríamos se estivéssemos em pé na superfície marciana. E é a primeira vez que a passagem de um cometa é registrada do solo de outro mundo, que não fosse o nosso.

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Também é novidade absoluta o fato de espaçonaves terem tido a chance de fotografar de uma distância relativamente pequena um cometa proveniente da nuvem de Oort — região nos confins do Sistema Solar que se estende a até um ano-luz de distância. O cometa, descoberto no ano passado, seguirá em sua trajetória na direção do Sol e depois partirá para nunca mais voltar a essa região do espaço. Tratou-se, portanto, de uma oportunidade única de estudá-lo — uma rara ocorrência cuja chance é estimada em 1 em 1 milhão.

Imagem do Opportunity: manchinha no centro da imagem é o cometa; riscos são raios cósmicos interferindo com a imagem.
Imagem do Opportunity: manchinha no centro da imagem é o cometa; riscos são raios cósmicos interferindo com a imagem.

Há muito mais a ser divulgado sobre o Siding Spring e sua passagem por Marte, em especial das sondas Maven e MOM, que mediram a interação da cauda do cometa com a atmosfera do planeta. Os pesquisadores estão só começando. Fique ligado.

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Comentários

  1. 1 semana se passou e absolutamente nada ainda foi revelado sobre essa passagem. Sondas tão poderosas, capazes de imagens como essas ( http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/7d/Mars_atmosphere.jpg )sem fotos decentes do cometa? mesmo que reveladas preliminarmente!? Esse conta-gotas de informações só mostra que existe uma grande diferença entre a pseudociência que é mostrada para o grande público e as verdadeiras descobertas que invariavelmente são filtradas.

    1. Huahuahua, tás brincando que você não é só cético do pouso lunar, mas também acredita numa conspiração mundial para esconder aliens ou coisa do tipo? rs
      A verdade é que o cometinha era pequenininho, tava pouco ativo, e o flyby foi brochante em imagens. Mas não o será em termos científicos, porque os instrumentos medirão a composição do bicho e tal. Só que isso exige análise de dados e só vai sair em alguns meses. As fotos mesmo foram sem-graçonas. Como em geral são as imagens astronômicas. Não pense que são as fotos bonitosas as que os astrônomos usam para fazer as descobertas… rs

      1. Que feio, desmerecendo meu comentário com uma “Strawman Fallacy”. Não sou eu que ganho a vida escrevendo sobre ETs.

        “cometinha era pequenininho”, vc sabe que o que brilha num cometa não é o núcleo (que invariavelmente é escuro como carvão) e sim o COMA, então faça as contas, a NASA mesmo diz que esse cometa tem COMA de 19000km diâmetro (quase duas terras) passou a 1/3 da distância da Terra na Lua ou seja só o Coma, sem a calda, deveria ter quase 6º no céu de Marte!!! Isso é o diâmetro de todo Cruzeiro do sul!

        Meu comentário se resume nisso, como sondas capazes de fotos tão espetaculares como as do meu exemplo, sensivelmente programadas para analisar e fotografar o clima de Marte simplesmente não mostraram nada além de fotos desfocadas desse evento? Eles mesmos estavam prevendo auroras em Marte! Qual motivo de se esconder essas fotos? Certamente essa interação entre o cometa e Marte vai de encontro com o que mundo aceita como verdade. Até eles mesmos entenderem tudo que aconteceu nessa passagem e filtrar aquilo que é importante, continuemos apenas com a “ciência da discovery channel”.

        1. Alfredo, sim, fotos da cauda são mais fáceis de fazer. Mas se deixassem no tempo de exposição necessária para expor a cauda, não veriam o núcleo, que é o que eles queriam imagear. Na minha postagem você vê o que acontece quando os caras aumentam a exposição, na imagem da MRO. Você vê algo mais exuberante, mas perde de vista o núcleo… Como eu disse, muito da ciência desse encontro não será baseado em imagens. Note que a Maven nem câmera tem, mas vai medir a interação da cauda do cometa com a atmosfera terrestre. O resto é paranóia sua. 😉

          1. A ciência não é feita só de objetivos idôneos, Vc mesmo citou um exemplo desses na matéria do X-37B.
            Então antes paranoico que subserviente ao senso comum. 🙂

  2. Salvador, fiquei pensando bastante nessa imagem tirada pelo robo, com uma visão similar a nossa com um cometa passando tão perto a imagem poderia até passar desapercebida. O haley em 1910 passou mais longe de nós certo? O efeito todo “pirotécnico ” foi por causa da cauda mesmo? abraço!

  3. Salvador, excelente matéria sobre o S. Spring. A propósito, acabei de ler o teu livro “Extraterrestre…”. Gostei muito tanto do conteúdo quanto da maneira como foi escrito, agradável de ler. Foi o livro mais útil que já li sobre o assunto. Parabéns.
    Amabílio

  4. Salvador, não seriam esses riscos nas imagens combinações de duas ou mais fotos tiradas em um intervalo de tempo?
    Sou seguidor das suas matérias!! Parabéns!!!

    1. Luiz, tem das duas coisas: tem risco que é estrela, e tem risco que é raio cósmico.

  5. Droga, esperava um impacto, mas ele nem acertou as naves 🙁

    Ahahahahah.. Brincadeira .. Salvador, o que pode ter causado essa órbita hiperbólica do cometa? Alguma perturbação da Nuvem de Oort?

    1. Provavelmente alguma colisão lá, ou uma interação gravitacional mais aguda entre dois objetos da nuvem.

  6. Essa foto tirada pelo Opportunity se parece com a foto que tirei do Halley em 1986, só que no meu caso, os risquinhos são estrelas e o cometa aparece como um fraco risquinho borrado. Minha única incursão no mundo da astrofotografia! 🙂

    Muito legal o post, Salvador, e com belas imagens!

  7. Ótima matéria, Salvador. Em relação à proximidade que astro com a superfície do mundo marciano, pode os dizer qual a distância aproximada da superfície marciana até a borda da sua atmosfera?
    Um abraço.

  8. Salvador,

    Fiquei curioso em relação aos raios cósmicos na imagem do Opportunity.

    Isso significa que eles são extremamente comuns para um observador na superfície de Marte?

    1. Sim, Ubiratan. Como a atmosfera é pouco densa e não há campo magnético, esses raios cósmicos são bem mais comuns que na Terra.

    1. Sim. Lembrando que o que explodiu na Rússia no ano passado tinha “apenas” 20 metros, e chegou bem próximo ao solo. Esse Siding Spring faria um belo estrago.

  9. O foco da reportagem, não é politico, seria excelente, os nossos politicos irem morar lá para sua eternidade, sonhar não custa nada, pena que é só um sonho!!!!!!

    1. De que adiantaria? Votaríamos (errado) em novos políticos, oriundos de nosso próprio meio, e todos os problemas começariam de novo. O problema não é a política, é o povo.

  10. São Paulo tem 7 reservatórios de agua e 3 reservas técnicas. A agua não vai acabar, se o Cantereira secar. A situação é preocupante, mas a falta de chuvas está sendo explorada de forma eleitoreira. Dilma aparece no ar oferecendo “ajuda financeira” para uma obra que já está em andamento. é o fim da picada… (Desculpe usar este espaço mas a Folha PT não permite em suas noticias tendenciosas)

    1. seria necessário um número imenso de cometas colidindo, claro, se considerarmos que tenham bastante água.

      acho que o impacto seria interessante para estudar o caso, mas é preciso antes saber do que é feito o respectivo cometa.

  11. Como foi determinada a chance de ocorrência de uma em i milhão? Poderia ser uma em dez milhões ou uma em cem mil? Além disso é uma em i milhão o quê? Por ano? Por século? por milênio?
    Sds, Carlos de Azeredo

    1. Carlos, desconfio que a chance seja de 1 em 1 milhão por ano, pois é assim que calculam probabilidade de impactos. É outro modo de dizer que um evento desses acontece em média uma vez a cada 1 milhão de anos. 😉

  12. Creio que os cometas ganham e perdem materiais espaciais, porque com o tamanho da
    cauda que deixam, já haveriam sido extintos.
    Exemplo: O Rastro do cometa Harley que atravessamos há poucos dias.

    1. Nem ar, nem água (em estado líquido), praticamente nem atmosfera e sem proteção contra radiação.

      Sinceramente prefiro aqui, pelo menos temos uma chance de sobreviver.

  13. A chance de um ser humano passar pela Terra novamente (após sua morte) é zero e enquanto estamos vivos não gastamos tanto esforço assim, como a Nasa, para nos conhecermos melhor……Estes dados conseguidos através dessas pesquisas só servem como “curiosidades” …….de que adianta ficar olhando pro infinito e não ver onde está pisando….

    1. Discordo totalmente… Por meio desses estudos desenvolvemos nosso conhecimento e tecnologia, trazendo maior bem estar para as pessoas… Olhe à sua volta e veja se há algo na sua casa que não exista graças ao desenvolvimento científico! Até você já deve ter sido salvo por remédios e atendimento médico.

  14. Salvador, se o Siding Spring passasse pela terra, nas mesmas condições que se aproximou de marte, o evento seria mais interessante, em se tratando de visibilidade, que o do cometa de Halley, em 1986 ?

    1. Acredito que sim, até porque nas proximidades da Terra a ação do Sol é mais intensa e o nível de sublimação do gelo é maior.

  15. Ficamos aguardando notícias desta passagem!
    Lógico que muitos esperam uma grande pirotecnia, como se as espaçonaves que estão em Marte pudessem fotografar o núcleo do cometa com seus gêiseres em ação!
    Mas só os estudos da composição do cometa, idade estimada e etc já trará grandes conhecimentos acerca de nossas origens!

    Parabéns aos pesquisadores!
    abs,

  16. As poucas fotos que já foram divulgadas não mostram muito. Vamos ver as fotos das sondas. Aguardando ansioso…….

  17. Se caísse em Marte, 450mts de rocha fariam um bom estrago, né não? Já que a atmosfera de Marte é rarefeita, pouco ia se consumir sobrando um bom pedregulho. Lógico, não seria o suficiente pra dizimar os dinos marcianos, mas daria um bom susto.
    Valeu pela matéria Salvador.

    1. verdade, daria um bom estudo e talvez sobrassem resíduos interessantes para coleta.

      porém, cometas não são 100% água ou rocha e ao que parece sua composição é bem diferente do que se teorizava.

  18. Ison, Siding Spring.. esses cometas levados! Muita fama e pouco espetáculo no céu, resta à Rosetta nos proporcionar belas imagens do 67P/Churyumov–Gerasimenko, próximo dia 12 promete muito, espero que nada saia errado até lá.

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