Uma olhada noutros planetas
Astrônomos estão empolgados com os primeiros resultados de uma câmera projetada para observar diretamente planetas fora do Sistema Solar.
Algumas imagens mais intrigantes foram divulgadas durante a reunião da Sociedade Astronômica Americana, que aconteceu na semana passada em Seattle, nos Estados Unidos. A câmera, chamada GPI (Gemini Planet Imager), completou seu primeiro ano de operações (no qual metade do tempo foi para a calibração do instrumento) e já disse a que veio.
Um dos resultados mais interessantes apresentados por Marshall Perrin, do Space Telescope Science Institute, corresponde aos planetas descobertos em torno da estrela HR 8799. São quatro gigantes gasosos, como Júpiter, em torno de uma estrela jovem, com “apenas” 30 milhões de anos. (Nosso Sol, em comparação, tem 4,6 bilhões de anos.)
Dos quatro, a imagem da GPI revela três (o quarto, mais externo, está fora do quadro), a despeito do enorme brilho da estrela — um astro do tipo A, com cerca de 50% mais massa que o Sol e cinco vezes mais brilhante que a nossa estrela-mãe.
Eis aí o grande trunfo da GPI: ela usa um coronógrafo para bloquear a luz que vem da estrela e que normalmente ofusca a presença de planetas ao seu redor. Assim, torna-se possível observar os astros circundantes.
Há, claro, limitações. A câmera não consegue enxergar planetas muito pequenos ou muito próximos de sua estrela. No caso de HR 8799, se houver planetas rochosos, do tipo Terra, ao seu redor, eles estão numa órbita mais interna do que HR 8799e e não poderiam ser vistos. (Pelo que entendemos de formação planetária, temos todas as razões para acreditar que eles estão lá.)
Para que se tenha uma ideia, o planeta “e”, o mais próximo da estrela conhecido, está a uma distância cerca de 15 vezes maior que a Terra guarda do Sol. (No nosso Sistema Solar, esse planeta estaria entre Saturno e Urano.)
As perspectivas abertas por um instrumento como a GPI são incríveis. Ao captar diretamente a luz vinda dos planetas, é possível estudar detalhadamente sua “assinatura de luz”, o famoso espectro. Embutida nela estão informações preciosas, como composição, cor, temperatura e outros detalhes que nos permitem caracterizar outros planetas.
Algumas surpresas já apareceram conforme os cientistas da GPI analisaram os espectros dos planetas HR 8799c e d. Contrariando observações anteriores e menos poderosas, eles constataram diferenças entre as assinaturas de luz dos dois mundos.
Apesar de serem de tamanho similar, são planetas diferentes, e o espectro revela isso. O planeta d, ao que tudo indica, é mais quente que o c. “Os modelos atmosféricos atuais dos exoplanetas não conseguem explicar as sutis diferenças em cor que a GPI revelou. Inferimos que elas podem ser diferenças na cobertura de nuvens ou em sua composição”, disse Patrick Ingraham, da Universidade Stanford, que liderou o estudo sobre esses dois mundos em particular.
O MELHOR AINDA ESTÁ POR VIR
Essas primeiras observações da GPI, instalada no observatório Gemini Sul, no Chile, representam apenas o começo da revolução. Para calibrar o instrumento, a bateria inicial de alvos se restringiu a sistemas razoavelmente conhecidos. Por exemplo, os planetas de HR 8799 já haviam sido observados.
Mas agora, com o instrumento tinindo, é que começa a fase de exploração. O principal programa de observações da câmera é o GPIES (GPI Exoplanet Survey). Serão monitoradas cerca de 600 estrelas jovens e próximas durante três anos, em busca de planetas desconhecidos.
Assim, além de permitir estudar a composição desses planetas, o trabalho descobrirá novos mundos. E preencherá uma lacuna importante na caça a exoplanetas, uma vez que as duas técnicas mais comuns (a que envolve a passagem do planeta à frente da estrela e a que mede o bamboleio estelar na interação gravitacional com seus planetas) são bem menos sensíveis para planetas que estão muito afastados de seus astros centrais.
Além da GPI, uma segunda câmera destinada a observar exoplanetas diretamente também iniciou recentemente suas operações. Trata-se do instrumento SPHERE, instalado no VLT, telescópio do ESO (Observatório Europeu do Sul).
Definitivamente, estamos passando da etapa em que descobrimos planetas para um momento em que efetivamente passamos a estudá-los. A essa altura, o Sistema Solar ficou pequeno demais para nós.
Muito legal, Salvador! Fiquei 10 dias sem ler seus posts e pego 4 muitíssimos interessantes. Que espetáculo, agora podemos tirar fotos de exoplanetas!
Salvador,
Por que os planetas rochosos se formam mais próximos das estrelas e os gasosos mais distantes?
Bem, a pergunta foi dirigida a Salvador Nogueira, porém vou me dar à liberdade de respondê-la, já que se trata de minha área de estudo. Praticamente tudo o que sabemos sobre a formação planetária se deve aos estudos do nosso próprio sistema. Acreditamos que a explosão de uma supernova próxima há cerca de 5 bilhões de anos tenha enriquecido a nebulosa pré-solar com materiais pesados e ao mesmo tempo dado o impulso inicial, através da enorme onda de choque provocada, para que essa nuvem começasse a se contrair. A nuvem então entrou em colapso pela força da gravidade transformando-se em um disco giratório, cujo centro deu origem ao proto-sol . Após o núcleo da proto-estrela atingir um limite crítico de calor e pressão, deu-se início a fusão termonuclear de hidrogênio, transformando-a em uma estrela da sequencia principal, cerca de 50 milhões de anos após o início da formação do sistema. Bem antes disso, cerca de 1 milhão de anos após o instante zero, a temperatura do disco pré-solar serviu de diferencial para separar os variados materiais que formariam os planetas: próximo ao proto-sol, as temperaturas acima dos 2000° transformaram tudo em vapor; há cerca de 8 mil Km, passa a existir a linha de rocha, na qual a temperatura é suficientemente baixa para permitir a solidificação de metais e minerais; bem mais distante, ficava a linha de neve, com temperaturas ainda menores, suficiente para transformar água, metano e amônia em gelo. Na parte interna do sistema o processo de agregação de partículas foi longo, mas na externa esse processo foi bem mais acelerado e cerca de 2 milhões de anos após o instante zero partículas de poeira e gelo começaram a se juntar por meio de fricção e eletricidade estática formando blocos cada vez maiores a ponto de a gravidade assumir o controle formando os chamados planetesimais, os quais chocando-se entre si, se transformaram em proto-planetas compostos de rocha e gelo cuja gravidade sugou grandes quantidades de gás para formar Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Júpiter que sugou a maior parte do gás livre se transformando no maior provocador gravitacional do sistema teria se formado em apenas cerca de 3 milhões de anos. O vento estelar do proto-sol varreu a maior parte do material leve de suas proximidades, fazendo com que cerca de 10 milhões de anos após o instante inicial, gás e poeira fossem praticamente extintos. Só após a transformação do proto-sol em uma verdadeira estrela, os proto-planetas da parte interna com bem menos materiais à sua disposição, atingiram massa suficiente para sua transformação nos quatro planetas rochosos que levaram cerca de 10 vezes mais tempo que os gigantes gasosos para se formarem. Mas certamente os planetas podem migrar de suas órbitas originais, como aconteceu no próprio sistema solar desde sua formação devido à ejeção de planetesimais restantes pelos quatro gigantes gasosos num processo de conservação de energia. Saturno, Urano e Netuno teriam ejetado planetesimais na direção do Sol vindo a se deslocarem para fora, ao passo que Júpiter ejetou os detritos da formação do sistema para fora do mesmo, vindo a se deslocar para mais perto do Sol. Acreditamos que esse processo de formação planetária se repita em outros sistemas.
Márcio A. Silva – físico e astrônomo amador
Legal, Márcio, valeu!
Bela explicação! Obrigado!
Caro Márcio.
É uma pergunta fora do contexto. Mas indago tendo em vista seu farto conhecimento. Qual seria o binóculo ideal para a astronomia? Desde já agradeço.
Desculpe pela demora em respondê-lo, mas vamos lá: a função do binóculo, em Astronomia, não é a de proporcionar um grande aumento, mas sim, a de permitir enxergar melhor, proporcionando-nos uma panorâmica bastante luminosa. Um de seus maiores trunfos é a conjugação de um bom poder de captação de luz com um campo visual extenso. Em poucos casos a ampliação do binóculo torna-se um parâmetro significativo, como por exemplo a observação da Lua, de Júpiter e de seus quatro grandes satélites, a separação de estrelas binárias, etc.Um bom binóculo de 30x poderia ser interessante para este propósito, porém um pequeno telescópio de 60 a 100 mm de abertura e boa qualidade sairia mais em conta e seria mais eficaz para as observações. Espero tê-lo ajudado.
Márcio A. Silva – físico e astrônomo amador
Parabéns pelo post!
Sempre passo por aqui e hoje resolvi postar pela primeira vez.
A pergunta é sobre a forma de detecção – a luz. Mas precisamente espectro de luz. Essa câmera, mencionada na reportagem, captura um determinado espectro e, acredito eu, um computador deve processar os dados e traduzi-los em alguma forma reconhecível para nos: numeros, graficos… enfim.
Mas porque não temos esse tipo de câmera apontada para nossa própria realidade na terra? Afinal, vemos atrás da química existente em nosso corpo e somos limitadas a ela.
Você acredita que esse tipo de experiência já foi feita e os resultados não divulgados intencionalmente (teoria da conspiração em baixa intensidade).
Abraços,
Cristiano
Não sei se estou entendendo a pergunta, Cristiano. Estudos de espectro servem para determinar a composição de um objeto. Aqui temos formas laboratoriais mais seguras de determinar a composição de qualquer amostra. A análise do espectro é útil quando não temos acesso à amostra, como é o caso de planetas distantes. 😉
Abraço!
Usa-se em laboratórios instrumentos muito sofisticados que analisam o espectro de gases e líquidos para definir com precisão do que a amostra é composta.
Você pode ler mais em http://pt.wikipedia.org/wiki/Espectroscopia
e
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cromatografia_líquida_de_alta_eficiência
Salvador, completamente off, mas dia 12/01 estava na praia em Vila Velha – ES, de férias, quando vi algo que pra mim, era um cometa, durou mais de 1h cortando o céu, razoavelmente pequeno e difícil de ver. Cheguei em casa e fui pesquisar sobre o que havia visto e a única coisa que deparei, e que me causou espanto, foi que seria o dia que a Terra passaria pelo caminho do, pasmem, ISON! Será que vi um pedacinho dele que ninguém esperava? O evento foi aproximadamente 18h, o céu claro de horário de verão.
Diogo, cometas não atravessam o céu. Eles aparecem “parados”. Com essa velocidade de travessia do céu, não sei o que pode ser. Pelo horário, eu apostaria num satélite artificial, mas ele também dificilmente levaria uma hora inteira pra atravessar o céu…
Pela magnitude aparente (facilmente visível no céu ainda claro) não era o ISON. Difícil dizer o que pode ter sido sem informações mais precisas, mas pela duração e o horário do avistamento eu chutaria que foi um balão meteorológico.
Pode ser!
É verdade, apesar de lento, ficou no meu campo de visão por aproximadamente 1 hora, achei estranho por que apresentava uma cauda, mas enfim, nem que quisesse, conseguiria filmar ou fotografar, precisaria de uma câmera muito boa.
De cara, pensei que fosse um meteorito, mas normalmente eles passam muito rapidamente.
Este é o melhor Blog da UOL e com certeza o melhor em ciência espacial!!! Demais!!!
🙂
Salvador, sempre acompanho suas matérias porque sou fascinado por astronomia, então
se existem vários planetas que orbitam em
distâncias diferentes da estrela, deve então
haver pelo menos um planeta em condições
de haver vida?
Não sei se nesse sistema HR 8799. Se houver, ele está muito perto da estrela pra ser visto pela GPI. Mas em outros sistemas, com certeza há. Muitos.
O Salvador escreveu um livro muito bom sobre a busca por planetas e vida fora da Terra: “Extraterrestres”. Recomendo muito, para aprender não só o estágio atual das buscas, mas, também, sobre a história da ciência.
Salvador, uma duvida:
Qual o percentual de Estrelas que possuem Planetas em sua Órbita?
E desses, qual o percentual de Planetas Jovianos e de Telúricos?
Desde já obrigado.
Praticamente todas as estrelas. Em algumas delas, o sistema é desestabilizado e os planetas se perdem. As vezes resta um, ou dois. E planetas telúricos são mais frequentes que jovianos. Quanto menor o planeta, até cerca de 2 vezes o diâmetro da Terra, mais frequente ele é. De 2 vezes o diâmetro pra baixo, a curva aplaina. Isso quer dizer que planetas com metade do tamanho da Terra, com o tamanho da Terra e com o dobro do tamanho da Terra são igualmente frequentes. Quando passa do dobro do tamanho da Terra, eles vão diminuindo a frequência. Os maiores são menos comuns.
Obrigado pela resposta.
Primeiramente, parabéns pelo blog, Salvador!
Acho incrível como você torna um assunto complexo como astronomia tão palatável para nós leigos.
Mas agora fiquei com uma dúvida (e me perdoe pela ignorância): você afirmou que “Praticamente todas as estrelas” possuem planetas em sua órbita. É isso mesmo?
Sei que existem tipos de estrelas diferentes, de acordo com sua idade e composição física… Mas sendo assim, as incontáveis estrelas que vemos no céu, todas essas observáveis da Terra, também entram nessa estatística?
Mais uma vez peço desculpas pela ignorância, sou apenas um leitor curioso a respeito.
Obrigado!
P.S.: Se você pudesse me recomendar um livro, uma “Bíblia” da astronomia, qual você me recomendaria?
Marconi, sim, todas as estrelas, das maiores às menores, parecem ter planetas. O fenômeno é tão comum que parece que, mesmo depois que estrelas de alta massa detonam como supernovas, discos de gás e poeira se formam em torno dos restos e voltam a coalescer formando planetas. Claro que cada um desses astros conta sua própria história. Em alguns, os planetas podem ser ejetados do sistema e vagar soltos pela galáxia. Em outros, a estrela pode acabar por engolindo-os. Noutros, um único Júpiter quente é tudo que resta. E alguns formam sistemas multiplanetários estáveis, como o nosso. A variedade é incrível e entusiasmante. Antes achávamos que o Sistema Solar era um modelo padrão. Agora sabemos que muitas coisas diferentes podem acontecer.
Sobre uma “bíblia” da astronomia, o “Cosmos”, do Carl Sagan, é muito bom. “O Despertar na Via Láctea”, do Tymothy Ferris, também é bem bacana. E há “O Livro de Ouro da Astronomia”, do Ronaldo Mourão, para citar uma obra brasileira.
Salvador,
Parabéns pelas excelentes matérias. Existem estudos como este voltados para as estrelas mais próximas a nós, como Alfa Centauro, Sirius, Estrela de Barnard, etc. Se tem, aonde estão divulgados?
Abraços,
David
David, os astrônomos têm enorme interesse por esses sistemas por estarem bem próximos de nós. Ainda não há resultados da GPI para esses astros e desconfio que não haverá, pois tanto Alfa Centauro como Sírius são sistemas de múltiplas estrelas, o que dificultaria a caça por planetas. No caso de Barnard, também seria perda de tempo uma vez que estudos de velocidade radial mostram que não há planetas gigantes em torno dela.
Abraço!
1. a Estrela mais próxima de nós é a Alfa, fica na constelação do Centauro;
Uma das coisas mais empolgantes para um leigo como eu é a presença das tais “nuvens negras” que atrai corpos que se aproximam, como um infinito campo magnético de polaridade negativa, quer dizer, um buraco magnético a atrair tudo que for matéria de eletrons, ou estática! Isso é mito ou verdade?
Nelson, não faço ideia do que você esteja falando…
Salvador, parabéns por seu blog, muito instrutivo e didático.
Vi lá em cima que vc respondeu para o Tiiagoo que vc acredita em vida extraterrestre (não humana). No entanto, ficou um pouco ambigua sua resposta. Vc acredita em vida extraterrestre inteligente? Em caso afirmativo, como vc descreveria (biotipo) desse extraterrestre inteligente.
Eu acredito em inteligência extraterrestre, embora a considere relativamente rara (veja meu post sobre a equação de Drake, aqui: http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2014/12/11/minha-solucao-da-equacao-de-drake/). Sobre o biotipo, não tenho a mais vaga ideia. Imagino que, tendo cérebro grande, órgãos sensoriais eficientes (eu chutaria que olhos são meio essenciais) e capacidade de manusear ferramentas com precisão, o resto pode variar bastante.
Pode ser um sapo com vários dedos, um deles polegar! 🙂
Salvador, faço minhas as palavras do Felipe: seu blog é um dos melhores do UOL!
Parabéns!
E continue nos brindando com suas novidades, por favor!!!
Salve, Salvador! Boa noite!
A GPI está “acoplada”, digamos assim, ao telescópio Gemini, aquele de 8 metros do Cerro Pachón, no Chile?
Isso!
Salvador, não entendo, toda essa tecnologia óptica para tão longe, quando podemos ter vida aqui mesmo em nosso sistema solar, mais precisamente nas luas de Jupiter e Saturno, uma tecnologia tão avançada como essa não seria muito mais útil aqui por “perto”, onde não precisaremos viajar na velocidade da luz que impossível ?
Jonas, a Nasa também está de olho nas luas de Júpiter e Saturno, claro. Mas ali, se houver vida, está sob espessas camadas de gelo. O que significa que o único jeito de detectar é indo até lá. No caso dos planetas extra-solares, podemos procurar pistas de vida na composição atmosférica, estudando daqui mesmo.
Animal eim!
Mto massa seu blog, um dos melhores, senão o melhor do uol/folha!
Valeu, Felipe! 🙂
Eu vou na coluna de ciências e procuro embaixo “Mensageiro Sideral”. Nem as manchetes da coluna me interessam.
Tirando “Darwin e Deus” este é o único blog que me interessa na FSP
Parabéns Salva, vc nos serve de inspiração. Uma noticia mais interessante que a outra. Nem sei como vc consegue, mas ainda bem que sim.
Abraços!
Valeu! 🙂
Boa tarde Salvador e todos os comentadores, sou leigo no assunto, mas adoro ler todas as novidades do post que sao intrigantes e tambem todos os comentarios e as respostas do Salvador, obrigado.
Olha que legal, galera. 🙂
Veja quantos vocês conseguem acertar 😉
http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2010/09/g1-lista-mitos-sobre-astronomia-veja-verdades-e-mentiras.html
Salvador, desculpe pelo off-topi, mas preciso que você me salve! (hehe)
Meu filho de 6 anos perguntou pra mim por que o céu é azul. Fui pesquisar na internet uma resposta adequada para a idade, mas achei as explicações complexas, e não tenho a manha da didática que sei que você tem. Poderia me dar um help e me ajudar a explicar de forma bem simples? Abração.
Fabio, difícil essa. Tenta assim.
O ar na verdade é feito de pequenas bolinhas, tão pequenas que não conseguimos enxergar. Quando a luz do Sol chega na Terra, ela vem em todas as cores do arco-íris. Mas aí ela encontra essas bolinhas do ar, e elas espalham muito mais a luz azul do que as outras cores. Por isso o céu é azul. Já no por do Sol e no nascer do Sol, o céu fica vermelho, né? O que acontece é que, quando o Sol está no horizonte, a luz dele tem que passar por muito mais ar até chegar a nós. Aí a luz azul acabou toda espalhada pelo caminho e o que chega a nós é apenas a luz vermelha.
Abraço!
Valeu Salvador! Está ótimo!
Para fechar a questão: As outras cores do arco-íris vão embora para o espaço ou ficam no ar escondidas?
Essa dúvida é também do pai do menino! hehe
Todas estão por aí, mas a azul se espalha dez vezes mais que a vermelha.
Salvador, aproveitando a deixa…. e em Marte, com sua rarefeita (ou nenhuma, não sei) atmosfera? Qual deve ser a cor do céu?
O espalhamento atmosférico também deixa o céu azul por lá, mas com a presença de muitas partículas de poeira em suspensão no ar ele fica com aquele tom salmão clássico das fotos.
Olá Salvador! Uma dúvida relacionada à pergunta do colega, e que eu estava aguardando a oportunidade para perguntar: nas fotos que os astronautas tiram, de dia (ou seja, nos períodos em que é dia para eles, com o sol no alto), o céu é preto em vez de azul. Geralmente, algumas fotos trazem o planeta Terra, o céu preto e o Sol ao fundo. É muito interessante! A ISS está acima da atmosfera? É a atmosfera que transforma a luz solar em azul?
Sim, é a atmosfera que torna o céu azul. A ISS está praticamente fora da atmosfera (ainda restam umas poucas moléculas de ar, mas nada que mude a cor do céu).
Essa aqui é pra guardar… 😀
ô Salva, então a cor que a gente vê o processo se dá dentro da nossa atmosfera somente, antes de chegar aqui, lá no vácuo a gente veria branco como disseram?
Na hipótese de não ficarmos cegos sem atmosfera para espalhar parte da luz do Sol, sim, veríamos o Sol branco no espaço.
E porque as estrelas que vemos no céu não são amarelas ? por causa da pouca luz que chega delas até aqui ??
Acredito que seja isso.
E tem a lua também, não deveria ser amarela no céu ? já que eh a luz do sol refletida
Aí também tem a ver com a quantidade de luz, suponho. Note que no horizonte ela costuma ficar amarelada, porque a luz precisa atravessar uma camada maior de ar.
Ricardo, lembre-se que as estrelas têm cores bem variadas, Das azuis às vermelhas e marrons, passando pelas amarelas.
A estrela Antares tem esse nome (Anti-Ares) porque é avermelhada como o planeta Marte (Ares). Prestando atenção, no escuro e num céu límpido sem luzes de cidades grandes por perto, você conseguirá ver as diferentes cores das estrelas.
Fábio, complementando a excelente resposta do Salvador, tenho uma sugestão: compre um prisma de vidro (sai entre 10 e 20 reais no aliexpress) para ilustrar para seu filho o fato de que a luz do sol é composta por todas as cores do arco-íris. Nas condições corretas vocês vão ver algo assim:
http://images2.pics4learning.com/catalog/p/prism01.jpg
Curiosidade: o céu nos parece azul pela mesma razão que o sol nos parece amarelo ou alaranjado. Quando visto do espaço, o sol é branco. 🙂
Complementando o complemento: quando seu filho estiver mais velho (uns 10 ou 12 anos), um excelente presente será o livro A Magia da Realidade (http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=12946). Lindamente ilustrado, contém explicações para diversos fenômenos naturais, dentre eles as cores do arco-íris que vocês verão com o prisma.
Obrigado Ricardo! Excelentes dicas. Vou comprar o prisma e o livro, não o conhecia! Saudações.
Ei, valeu! Ano que vem vou dar esse livro a meu sobrinho!
Comprei o livro! Cuidado, na Livr. Cultura apareceu por R$52,00, nas Amazon Brasil está indisponível, no Submarino paguei 26,46 reais… O Buscapé mostra várias opções boas.
Salvador boa tarde! Parabéns pelo blog super interessante e cada dia mais empolgante, uma pergunta. Você acredita em alguma vida humana, ou em outra coisa em outros planetas ?
Obrigado!
Acredito em vida extraterrestre, mas não humana. Abraço!
O Sistema Solar ainda é grande demais para nós. Mal conseguimos colocar uma estação espacial em órbita da Terra. A Lua foi uma grande decepção e as “colônias lunares” nunca saíram do papel. Os ônibus espaciais foram aposentados após produzirem várias mortes de astronautas e, ainda hoje, foguetes explodem durante o lançamento. As primeiras missões tripuladas para Marte estão previstas só para 2030 (sendo otimista como Obama) e a chance de que fracassem é muito grande. A vida humana no espaço é um desafio que difícilmente será superado. Em suma, exploração espacial foi um fiasco completo. Estamos presos no planeta Terra, o único lugar no Cosmo que permite a nossa existência com dignidade.Talvez o Apolinário esteja certo…
Jose, o Apolinário é um entusiasta da colonização do espaço pela humanidade. Ele só não acredita em vida alienígena.
E dizer que a exploração espacial foi um fracasso após 50 anos é meio como dizer que a colonização do Brasil foi um fiasco em 1550. 😉
Arg! Ele é um entusiasta da Bíblia isso sim… Ainda bem que ele está de férias…
O Ônibus Espacial não foi aposentado por causa da morte de 14 astronautas, mas porque era caro demais fazer novos, a operação ter saído muito mais cara do que se pensava… Além de já estarem com a vida útil esgotada.
Carros, aviões, trens, navios e até andar a pé pode matar. Não é porque é perigoso e difícil que não se deve tentar.
Seria uma BLASFÊMIA se eu rompesse com a tradição, né Salva? 😉
1-Tendo em vista os esforços do projeto SETI e seguindo sua intuição e mente científica, qual das opções você escolheria como mais provável a respeito de possíveis contatos conosco vindo de civilizações extraterrestres nas próximas décadas ou num futuro não tão distante:
a)quase nulo; b) talvez; c) muito provável d) quase certo
2-O que mais te deixa irritado no blog? a) conspiradores que negam a ida do homem à lua ou a evolução; b) aquele pessoal que vem avacalhar com posts religiosos, misturando ciência com dogmas; c) nibirutas que te acusam de trabalhar pros illuminati e pra NASA ao esconder os terríveis segredos da grande e fatal aproximação desse planeta ameaçador; d) ou Apolinário citando passagens aleatórias da Bíblia pra justificar seus argumentos?
3-se sexo é tão vital pra nossa espécie se perpetuar, por que, na sua opinião, a igreja católica tem tantos problemas com isso, tratando o assunto como um imenso tabu? Mesmo a ciência e medicina já tendo provado que nada tem de perverso, o que leva o Vaticano, que não tem problemas em aceitar a evolução e a possível existência de ETs a tratar desse tema de uma forma tão retrógrada, a ponto de ouvirmos um papa no século XXI condenando o uso da camisinha?
4-Se o universo for realmente infinito, não importa o quão longe formos, a gravidade de um objeto, por mais distante que esteja, estará lá se estendendo ao infinito e interagindo conosco, mesmo que cada vez mais fraca?
5-Tá, eu sei que viagens à velocidade da luz não são possíveis, mas e se fótons de luz fossem vivos e pudessem enxergar, o que eles veriam enquanto viajassem? 🙂
6-Fótons de luz indo na direção do sol são absorvidos e transformados, passam direto ou rebatem e voltam?
7-Fótons não têm massa, então por mais que fosse criados fótons no universo, nunca seria possível encher todo o espaço disponível com eles?
8-Se pudéssemos dar um zoom na imagem que um único fóton de luz carrega, a gente veria uma imagem panorâmica de seu local de partida, ou só um pontinho minúsculo igual um pixel numa tela – que depois forma um todo quando juntado aos outros?
9-O Criador está disposto a responder a qualquer pergunta sobre o universo, qual o Mensageiro Sideral faria?
10-Pelo que você conhece, acredita que nosso universo tem tudo para continuar eternamente se expandindo?
11-Sendo assim, você acredita que: se a raça humana não se perder até a singularidade, será possível então ela se perpetuar eternamente, reciclando matéria e energia + moldando sistemas planetários?
1- Quase nulo.
2- O que mais me deixa irritado é quando ninguém comenta. Felizmente isso é bem raro. 😉
3- Acho que a Igreja tem problemas com sexo casual, não com sexo pura e simplesmente. E justamente porque o comando divino no texto bíblico é “crescei e multiplicai-vos”, dando a entender que o sexo deve ser praticado para fins reprodutivos (portanto, sem preservativo) e em relações estáveis (como era o caso entre Adão e Eva). De toda forma, não acho que os tabus sexuais sejam culpa das religiões. O ser humano cria esses tabus como forma de proteger suas relações pessoais e garantir que ninguém vá criar a prole do outro — tudo na base do “gene egoísta”, para citar Richard Dawkins. E eu particularmente não acho que isso seja reprogramável nos humanos. Evoluímos para ser ciumentos e possessivos. Podemos administrar isso, mas a pregação recente de alguns psicólogos de eliminar isso por completo me parece particularmente ingênua. Como se o ciúmes fosse uma construção cultural. Não é. É biológico. Chimpanzés matam por ciúmes.
4- Sim, ela nunca chega a zero.
5- Nada. Como o tempo para pra eles, toda viagem seria instantânea. (Tenho pensado intensamente nisso por causa de uma leitura recente… rs)
6- Absorvidos. A energia depois é reemitida.
7- Não têm massa, mas massa e energia são facetas da mesma moeda. Desconfio que exista um limite, imposto pelo inventário de matéria/energia do Universo.
8- Só um ponto. O fóton é a unidade mínima de luz.
9- Por que você criou o universo?
10- É o que parece, segundo nosso entendimento atual. Mas ele está longe de completo, então tudo é possível.
11- Sim, acho que o David Grinspoon tem uma ideia interessante quando fala num “grande gargalo”. Nem todas as civilizações conseguiriam sobreviver a ele, mas as que conseguissem adquiririam praticamente imortalidade.
5- pela relatividade é possível visualizar as coisas, por exemplo, se você estivesse em um trem imaginário capaz de viajar à velocidade da luz e coloca um espelho em sua frente para ver o seu reflexo, a luz que entra pela janela do trem atinge o seu rosto, se reflete no espelho e atinge sua retina, ou seja, você vê o seu reflexo porque a velocidade da luz é o limite máximo e ela não muda, mesmo estando à velocidade da luz.
em um buraco negro a luz se curva, então os objetos podem parecer deformados, mas é possível ver aquilo que há de informação na luz.
a luz tem a propriedade de permitir a transmissão de dados, por isso a fibra ótica funciona e o olho é capaz, pela evolução, de decodificar informações sobre objetos que refletiu alguma luz.
Uhm… Desculpe-me, não é que a luz é capaz de transmitir dados, mas sim que nós modulamos a luz (na base do acende-apaga) num código que o receptor pode transformar em sinal elétrico e daí ser reprocessado e decodificado por computadores.
Complementando: nossos olhos captam os fótons na faixa da luz visível e o cérebro monta a imagem do que está diante de nós. O bebê aprende a fazer isso aos poucos, ele não nasce “enxergando” de fato, só vê borrões no início da vida.
sim, mas é a mesma coisa que falei, quando a luz reflete de um objeto forma uma cor ou é totalmente absorvida (preto), ou seja, nós percebemos o que se reflete e os objetos não são exatamente como percebemos.
não sei o motivo do exemplo do bebê, mas a verdade é que as crianças percebem a curta distância a fisionomia das pessoas e até as imitam. De certa forma, estamos falando de pessoas que ainda estão desenvolvendo suas células e que obviamente não possuem capacidade de discernimento total.
a modulação é uma forma de aproveitar a capacidade de transmissão de informação pela luz, quando se diz que um buraco negro não destrói a informação estamos falando da luz não perder a modulação a qual foi submetida antes, seja artificialmente como no seu exemplo, seja naturalmente, por reflexão.
valeu pelas respostas Salva
há muito já suspeitava que eras Jedi 😉
Hehehe! 🙂
Recomendo um livro muito legal, chamado Paradoxo, do Jim Al-Khalili.
Ele explica 9 ‘Paradoxos’ da ciência de maneira acessível aos menos versados em física. E aborda algumas das perguntas feitas neste comentário.
Entrevista via blog! Legal! Parabéns ao entrevistado e ao entrevistador!
Que fantástico! Os próximos anos prometem.. e pensar que isso é só o começo. Com o lançamento do James Webb, em breve, não consigo imaginar como será a pesquisa acerca dos exoplanetas.
PS (OFF TOPIC): Salvador, não sei se você viu, um joguinho que uns astrônomos criaram, na verdade um simulador de sistemas planetários, “Super Planet Crash”:
http://www.stefanom.org/spc/
O objetivo é manter um sistema estável por, no mínimo, 500 anos, mantendo interações gravitacionais saudáveis.. hahahaha achei sensacional, até pelo valor educativo. Mas o legal é que o programa usa simulações reais de computador. Mais informações:
http://apod.nasa.gov/apod/ap150112.html
http://save-point.io/
Leandro, eu vi sim. É divertido. 🙂
muito legal, dá para perceber como os gigantes gasosos influenciam gravitacionalmente os planetas, eles forçam os menores a seguir a sua rota e acabam por desviar o curso dos mesmos.
essas páginas deveriam ficar fixadas no blog
Isso é incrível! Salvador, parabéns belo blog, cada dia mais empolgante. Você imagina que com o desenvolvimento desse tipo de câmera poderemos chegar a instrumentos que consigam ver planetas telúricos mais próximos à estrela (na zona habitável)? É possível bloquear mais intensamente a luz da estrela? E nesse caso, com o estudo da assinatura de luz de um planeta desses, seria possível verificar a presença de gases na atmosfera que indicariam a existência de vida? Obrigado e grande abraço!
Com interferometria, estima-se que possa ser possível chegar à zona habitável. Mas será preciso desenvolver plataformas espaciais caríssimas…
Bom dia Salvador e demais amigos!
Esse equipamento trabalha no espectro da luz visível ou a imagem final é obtida a partir do infravermelho?
Paulo Antonio, do blog “Astronomia observacional e astrofotografia amadora”
http://astrosantos.blogspot.com.br/
Infravermelho próximo!
Suspeitei desde o princípio, rsrsrs
Intrigante… as vezes paro pra pensar nessa imensidão que temos mundo afora e fico atordoado. Imaginem só o que não conhecemos ainda…
Empolgante essas novas técnicas de detecção de planetas. 🙂
O GPI seria útil para analisar um planeta rochoso mais próximo já conhecido?
Não, planetas rochosos são pequenos demais pra ela…
Salvador, poderia indicar-me um livro sobre planetas, galáxias, estrelas, etc., para crianças?
Tenho um filho de 11 anos que adora assistir comigo o programa Cosmos, ele me faz muitas perguntas e eu como leigo não sei explicar a grande maioria, e não encontro nada voltado para crianças.
Ainda preciso escrever esse livro! 🙂
Não conheço nenhum com esse perfil.
Seria ótimo Salvador.
Com muitas imagens, as crianças adorariam.
Tá na lista. 🙂
111 Questões Sobre a Terra e o Espaço de Isac Asimov
http://www.saraiva.com.br/astronomia-para-criancas-um-periplo-astronomico-4064799.html
http://www.saraiva.com.br/astronomia-do-outro-mundo-3420387.html
http://www.livrariacultura.com.br/p/o-universo-1374177
Outros livros que cobrem um pouco de astronomia e incluem outras áreas da ciência:
http://www.livrariacultura.com.br/p/ensine-ciencia-a-seu-filho-29143515
http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=12946
Obrigado Ricardo!
Enquanto isso a Voyager estando agora tão distante não poderia tirar nenhuma foto de algum planeta de outro sistema ou é pedir demais mesmo pela distância?
Ela tá longe pela escala do sistema solar, mas tá praticamente aqui pela escala interestelar…
Salvador! bom dia!!! pergunta boba… mas as suas respostas sempre sao interessantes entao vou arriscar…rs!!! se vc tivesse possibilidade de entrar numa nave em direçao ao espaço, porem… ela iria, iria, iria… e nao haveria possibilidade de volta… voce toparia?
abraçaoooo e otima semana!
Não. Minha família é mais importante que minha curiosidade.
o quÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊEÊÊ?
Boa, Salvador! Com certeza é possível achar voluntários para isso, que nos manteriam informados! 🙂
Bom dia Salvador!
A foto é realmente empolgante e nos permite imaginar as surpresas que virão nos próximos dez, vinte ou cinquenta anos. Se olharmos para o passado recente e lembrar que ficamos maravilhados com as imagens dos Pilares da Criação obtidos pelo Hubble em 1995 parecem que foi ontem. As novidades estonteantes com que seremos contemplados com o telescópio substituto do Hubble, que certamente estará equipado com as mais recentes tecnologias.
Nesta matéria faltou mencionar a que distância está a estrela HR8799 da Terra; seria ela a estrela mais próxima do sistema Solar?
Em troca de alimentação e estadia em tempo integral no ESO eu aceitaria trabalhar de graça fazendo manutenções nos sistemas que um mortal comum jamais verá em toda sua existência.
129 anos-luz. Tem outras bem mais próximas.