Numas galáxias nada, nada distantes…
A Via Láctea acaba de ganhar novos vizinhos. Dois grupos independentes de astrônomos descobriram várias galáxias anãs nos arredores da nossa — todas no hemisfério Sul celeste.
No total, foram identificados nove objetos, dos quais três são indiscutivelmente galáxias anãs. Os demais podem acabar se revelando apenas aglomerados globulares de estrelas — algo menos que galáxias, pois carecem da matéria escura que costuma dominar os objetos de natureza galáctica. Estudos posteriores vão determinar a classificação exata desses objetos, mas por ora, segundo os pesquisadores, eles dão mais pinta de galáxias anãs que de aglomerados globulares. A conferir.
Curiosamente, todos os nove objetos estão reunidos numa região relativamente modesta do céu, nas vizinhanças das duas galáxias-satélite mais famosas: as Nuvens de Magalhães.
“A descoberta de tantos satélites numa área tão pequena do céu foi completamente inesperada”, disse em nota Sergey Koposov, astrônomo da Universidade de Cambridge e líder de uma das equipes a chegar ao achado. “Não podia acreditar em meus olhos.”
A baciada de galáxias foi registrada nos dados do primeiro ano de uma iniciativa chamada Dark Energy Survey. Trata-se de um consórcio internacional com liderança americana e participação brasileira.
A equipe da DES apresentou seus resultados simultaneamente aos da equipe britânica, mas identificou apenas oito dos nove objetos.
POVOANDO O CÉU AUSTRAL
Embora a Pequena e a Grande Nuvem de Magalhães estejam ambas no hemisfério Sul e sejam visíveis a olho nu, a maioria das galáxias-satélites conhecidas até agora ficavam ao Norte. Em 2005 e 2006, dezenas delas haviam sido descobertas do lado de lá do equador. E desde então mais nada havia sido achado.
Os objetos descobertos têm um bilionésimo do brilho da Via Láctea e se encontram a diferentes distâncias de nós. O mais próximo está a cerca de 98 mil anos-luz da Terra — praticamente o mesmo diâmetro da própria Via Láctea, estimado em cerca de 100 mil anos-luz. Já a mais distante está a 1,3 milhão de anos-luz.
Além de nos ajudar a realizar o mapeamento de nossa vizinhança galáctica, a descoberta tem importância cosmológica. Muitos dos modelos que reproduzem a evolução do Universo apontam que deveria haver mais galáxias anãs nos arredores da Via Láctea do que as que foram encontradas até agora. A descoberta de novas vizinhas pode, portanto, ajudar a fechar a conta.
Sabemos que todos esses objetos nos arredores da Via Láctea fazem parte do chamado Grupo Local, um miniaglomerado de galáxias do qual a nossa é um dos maiores membros. (A campeã é a galáxia de Andrômeda.) Mas o contexto exato dessas novas galáxias anãs ainda precisa ser determinado.
Os pesquisadores de Cambridge suspeitam, pela distribuição delas no céu, que pelo menos algumas delas possam ter um passado que as associe às Nuvens de Magalhães. Podem ter sido satélites delas que foram atiradas pela interação entre ambas ou talvez fizessem parte de um grupo gigantesco de galáxias que, junto com as Nuvens de Magalhães, estão literalmente despencando na direção da Via Láctea. No futuro, seremos todos uma enorme galáxia feliz.
Salvadoooor! Eu quero comprar uma luneta ou um telescópio pra poder eventualmente dar uma (muito boa) espiada no céu, como amadora, mas apaixonada pelo céu. Pode me indicar uma marca que não seja esssas que se compra em supermercado? Ficaria muito grata pois não entendo nada, mas gostaria de poder ver estrelas binárias se possível e detalhes da lua… Obrigada…desculpa o incômodo…
Vanessa, tem algumas marcas boas, como Skywatcher e Celestron. E muitos astrônomos amadores costumam comentar por aqui e podem te dar dicas! Abraço!
Thanks!!
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Dá uma olhada nos produtos à venda e nos comentários em cada produto, o dono do site sempre costuma responder e dar dicas aos visitantes interessados.
Nossa, muito obrigada!
Só de perceber a distância que é 1 Ano Luz, e a velocidade máxima que conseguimos atingir com nossa tecnologia atual, dá até desanimo…
Por outro lado, estamos seguros de catástrofes como uma estrela ou galáxia se chocar com a gente por agora, rsrsrs.
Salvador, se, analisando essa pequena parte do hemisfério sul foi detectado 9, é correto afirmar que pode haver inúmeros vizinhos rondando nossa casa mas que ainda não detectamos?
Bem, as imagens tomadas cobrem mais que essa área, mas aí é que foram encontradas as tais — numa concentração maior que a esperada. Talvez porque tenham relação com as Nuvens de Magalhães. Provavelmente há outras em outras partes do céu, mas não nesse nível de concentração.
Não é possível que estejamos sozinhos no universo.
Do mesmo modo que nós estamos procurando, deve ter (tinha que ter/deverá ter) alguma civilização procurando o mesmo que nós.
É mais do que possível de que estejamos realmente sozinhos no universo, é bastante provável até. Se você ler o livro “Sós no Universo” (Earth Rare); aliás, todo mundo deveria ler esse livro e também “O Mundo de Sofia”; terá acesso nas mínimas informações do quão é muito improvável o surgimento da vida em qualquer lugar do universo.
A receita básica da vida pode ter chegado aqui “de carona”. Seria muita arrogância achar que ela surgiu aqui, mesmo sendo rara. A probabilidade é que, de qualquer lugar em que tenha surgido, ela acabou se espalhando. No nível mais básico, é óbvio, pré-DNA.
A vida na Terra,adaptou-se as condições terrestres e não o contrário!Achar que um planeta deva ser igual a Terra para ser bio-amigável é muita presunção 🙂 .Se você tive-se em mãos um copo e só pode-se tirar esta porção de agua do mar,encontrando somente uma forma de vida(como se fosse possivel rsrsrs) diria que todo o oceano é sem vida?Esta Hipótese da Terra rara é totalmente egocêntrica e cheira a design inteligente.
Não li ambos os livros, mas entendo o ponto de vista (baseado ou não em teorias) de quem acha que estejamos sós.
Em ambos os casos, os argumentos são verdadeiros 😛 Por enquanto é uma questão de fé.
Surgimento da vida talvez não seja tão raro. A vida surgiu na Terra tão rápido que dizer que é difícil seria contraditório. Praticamente quando o planeta Terra resfriou e parou de ser bombardeado por meteoros e cometas, a vida floresceu e espalhou rapidamente. O bom que a Terra permaneceu como um ambiente propício a evolução da vida, então estamos aqui.
Veja bem, “vida” não quer dizer “civilização avançada”, a vida parece ser fácil, mas criaturas inteligentes podem ser mais difíceis. Hoje é sabido que podem existir milhões (ou mais) de planetas na Via Láctea com condições semelhantes a da Terra, e se aqui deu certo, pq lá também não daria? Agora extrapola isso para as bilhões de galáxias conhecidas. E mais, se a vida for mais “flexível” do que imaginamos, os números ficam estonteantes. Os números a favor são tão grandes, que mesmo as projeções mais pessimistas se dobram para a vida.
Não dá para entender um argumento dizendo que a vida é “improvável”, sendo que o único planeta que conhecemos habitável a vida surgiu e proliferou de forma rápida e abundante, em termos estatístico isso é 100% (brincadeira, claro), mas enquanto não provem o contrário, a vida Wins! 🙂
Qualquer linha de raciocínio minimamente lógica defendendo a existência ou não de vida fora do nosso mundinho é um chute, pois nos baseamos apenas e tão somente em uma amostra total de 1 único planeta habitado conhecido.
Mas é isso que eu acho interessante! Só conhecemos um único mundo habitável, e nele a vida proliferou forma abundante e insistente por bilhões de anos. Imagine então quando conhecermos outros bilhões de mundos habitáveis que existem por aí. Se aqui deu tão, mas tão, mas tão certo, então só podemos crer que lá também dará. O dia que a humanidade descobrir pelo menos uns 100 planetas habitáveis e comprovar por a+b que são estéreis aí sim podemos começar a admitir que a vida é realmente rara. Mas até que isso aconteça, só sabemos q a vida surge e prospera quando encontra o ambiente adequado. A Terra é a prova disso.
Então… não deu tãaaao certo assim por um bom tempo. Tudo o que sabemos nos diz que a vida unicelular pode ser absolutamente comum universo à fora. Já a vida multicelular é outra história…
As condições gerais para a essa complexidade já estavam lá, mas o pulo do gato só ocorreu a 580 milhões de anos atrás (a tal da explosão cambriana, um tema muito interessante). O do porquê disso ter acontecido somente depois de mais de 3 bilhões de anos ainda é incerto, mas nos diz que esse salto pode ter sido um tremendo golpe de sorte.
Leiam “Extraterrestres”, de Salvador Nogueira. Ele discute no livro esses aspectos e conta a história de como chegamos à pesquisa de planetas extrassolares. Muito bom!
E eu nem paguei você para dizer isso! 🙂
Nem precisa. É importante divulgar as coisas boas! 🙂
Salva, se eu entendi bem:
1- Tanto Andrômeda, quanto Via Láctea e todas essas galáxias anãs num futuro vão se juntar e serão todas uma só, sem maiores conturbações e tragédias?
2-Elas estão no espaço entre nós e Andrômeda?
3- A Wikipedia diz: . “A Grande Nuvem de Magalhães, com mais de 30 bilhões de estrelas, é considerada por uns uma galáxia anã, enquanto outros a consideram uma galáxia comum orbitando a Via Láctea.
Qual você considera?
4- Nas anãs há alguma coisa que impeça formação de vida?
1- Sim. Devem se tornar uma imensa galáxia elíptica.
2- Não. Note que Andrômeda fica no hemisfério Norte celeste (embora seja visível daqui também)
3- A forma irregular parece indicar uma galáxia anã, mas como há sinais de barra nela, ela pode ter sido uma espiral deformada pela gravidade de outras galáxias, inclusive a Via Láctea. Eu a considero uma anã, mas não me apego muito a essas classificações.
4- É mais complicado, porque as estrelas estão mais compactadas e o ambiente é em geral mais hostil. Mas impedir é uma palavra forte demais.
Só uma dúvida: imagino que as estrelas já eram conhecidas, então dizer que elas agora estão “agrupadas” não é o mesmo que uma câmera de vereadores mudar o nome de uma rua?
Não, os agrupamentos de estrelas não eram conhecidos. Muito pouco brilhantes.
É uma insanidade pensar que, se acendermos um holofote na Terra, a luz dele só vai ser vista na outra galáxia daqui a um milhão e trezentos mil anos… e ela está no mesmo Grupo Local que nós! Digo, não dá nem pra começar a imaginar onde estão os outros aglomerados mais distantes em uma escala dessa.
Isso é o que mais me fascina! Dá pra viajar muito pensando e olhando o céu cheio de estrelas!
Mais insano ainda é pensar que, para o fóton, ele chega instantaneamente no seu destino e para nós levaria 1,3 mi de anos.
Desculpe-me, mas o fóton não chega instantaneamente… Ele viaja à velocidade da luz. Aliás, ele é a luz.
Ou não entendi sua colocação?
Do ponto de vista do fóton, à velocidade da luz, o tempo para. Acho que foi isso que ele quis dizer. O fóton viaja por bilhões de anos, mas para ele, fosse capaz de pensar, teria sido instantâneo. 😉
Valeu, obrigado!
Muio interessante, parabéns Salvador!
Seu blog é basante informativo e o mais importante, tem uma linguagem fácil e dócil para o publico leigo! Você consegue passar a informação de forma clara e objetiva e com uma pontinha de humor! Isso ajuda a deixar os menos informados(eu por exemplo) por dentro de pelo menos uma parte do que acontece no mundo da ciência astronômica. Sou doido com astronomia mas não tenho tempo nem recursos para estudar mais afundo… Obrigado!
Bom dia Salvador!
Antes de ler sua matéria de hoje fui atraído pela chamada “Cientistas descobrem 9 galáxias anãs orbitando a Via Láctea” e lendo o texto fiquei “espantado” com o trecho “A mais próxima das nove galáxias anãs se encontra na região da constelação de Reticulum, a 97 bilhões de anos luz da Terra”!!!! Fiquei atônito, pois, será que eu fiquei tão defasado em tecnologia num curtíssimo espaço de tempo que nunca soube do mega ultramoderno Telescópios Auxiliares no Observatório Paranal, no Deserto do Atacama, no Chile capaz de “enxergar” os corpos antes mesmo de suas criações? Ao ler em seguida o seu texto, agora sim, faz sentido “mais próximo está a cerca de 98 mil anos-luz da Terra”; já imaginou quem redigiu o texto conforme apresentado no UOL trabalhando como operador de um banco, que ao executar uma ordem de pagamento de 98 mil creditou 97 bilhões (prefiro a minha parte em euros ou libras esterlinas)? Se fossem créditos para os honrados diretores da Petrobrás, num clicar de mouse este “dinheirinho já estaria no HSBC da Suíça, né não???? Desculpe-me fugir do assunto que achei interessantíssimo e creio que “olhar para baixo” a partir do hemisfério sul ainda teremos muitas novidades.
Pois é…
Agora que fomos informados com tanta exatidão sobre as galáxias, sugiro nomearmos adequadamente…
Frodo, Sam, Merry, Pippin, Aragorn, Boromir, Legolas, Gimli e Gandalf.
Apoiado! Salvador, mande essa sugestão à entidade internacional que nomeia os corpos celestes!
P.S.: Estou falando sério, não é ironia não!
Recomendo o vídeo “Cosmography of the Local Universe”.