Mais um cometa brasileiro

Salvador Nogueira

A equipe do Observatório SONEAR, em Oliveira (MG), ataca novamente. O grupo liderado pelo astrônomo amador Cristóvão Jacques descobriu mais um cometa — e um que terá sua máxima aproximação do Sol numa trajetória que o deixa relativamente perto da Terra na ocasião.

Astrofotógrafo amador Michael Jäger registra o segundo cometa descoberto pelo SONEAR, no ano passado. (Crédito: Michael Jäger)
Astrofotógrafo amador Michael Jäger registra o segundo cometa descoberto pelo SONEAR, no ano passado. O achado atual é o terceiro feito pelo observatório de Oliveira, em Minas Gerais (Crédito: Michael Jäger)

Claro, ninguém precisa temer uma colisão. O cometa Jacques (C/2015 F4) estará a confortáveis 134 milhões de km de distância no dia 8 de agosto, momento em que chegará ao periélio — o ponto de sua órbita que o deixa mais perto do Sol.

Contudo, o espetáculo provavelmente estará reservado apenas aos que tiverem telescópio para observar. Por atingir o periélio muito afastado do Sol, a 259 milhões de km de nossa estrela-mãe, o nível de radiação não será suficiente para produzir um espetáculo visual brilhante.

Ou, pelo menos, é o que dá para imaginar a julgar pelas informações iniciais. “Apesar de passar mais perto da Terra justamente no periélio, ele estará ainda um pouco longe para ter um brilho que dê para ver a olho nu”, disse Jacques ao Mensageiro Sideral. “Isso dificilmente acontecerá, mas, como diz o velho ditado, cometas são como gatos — têm rabo e só fazem o que querem.”

Órbita do cometa Jacques (2015), com sua posição indicada no momento da aproximação máxima do Sol (Crédito: Nasa)
Órbita do cometa Jacques (2015), com sua posição indicada no momento da aproximação máxima do Sol (Crédito: Nasa)

TERCEIRO DA COLEÇÃO
Não é um feito inédito. O grupo do SONEAR já havia descoberto outros dois cometas em 2014 — os primeiros encontrados por astrônomos brasileiros em solo nacional com equipamento construído aqui –, mas o achado mostra que o observatório amador ainda está por atingir seu pleno potencial.

Originalmente projetado para procurar asteroides ameaçadores à Terra, ele decerto há de encontrar muitos cometas pelo caminho. Afinal, eles são detectados basicamente pelo mesmo método, que consiste em comparar imagens tiradas de uma mesma região do céu separadas por alguns minutos. Se houver algum objeto que se move de uma imagem para outra, ele tem boa chance de ser um asteroide ou um cometa. Aí é preciso verificar se ele já é conhecido ou não. Passada essa triagem, o achado é anunciado para ser confirmado por outros astrônomos.

O SONEAR entrou em operação em dezembro de 2013 e no ano passado figurou entre os 12 observatórios mais produtivos na caça a pequenos objetos do Sistema Solar, segundo o Minor Planet Center, órgão da IAU (União Astronômica Internacional) responsável pela coordenação global do esforço de descoberta e monitoramento de asteroides.

Fim de uma noite de observação no SONEAR, em Oliveira (Crédito: SONEAR)
Fim de uma noite de observação no SONEAR, em Oliveira (Crédito: SONEAR)

Não custa lembrar: nem um real de dinheiro público. Todos os equipamentos e instalações foram bancados por Jacques, Eduardo Pimentel e João Ribeiro de Barros, o trio responsável pelo SONEAR. É o Brasil na linha de frente da defesa planetária.

MENSAGEIRO SIDERAL NA TV: Neste sábado (04), às 16h, na TV Cultura, o programa “SP Pesquisa” (produção da Itinerante Filmes) explora o grafeno — um material que pode revolucionar a eletrônica no século 21. E a partir das 22h, no “Jornal das Dez” da GloboNews, um experimento chocante: cientistas conseguiram implantar memórias falsas no cérebro de camundongos enquanto eles dormiam. Confira!

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Comentários

  1. Parabéns à equipe do SONEAR. Uma pena a ciência em nosso país ser tão pouco valorizada.

  2. salvador vou te fazer umas perguntas:Qual a explicação de um planeta gasoso ter suas luas rochosas !Esse planeta dito gasoso é realmente Só gás ou tem um nucleo rochoso,pois se for isso não poderia dizer que e gasoso !! Também leio que foi constatado plumas de vapor dàgua em satelites de jupiter e saturno….ai fica a ultima pergunta :Se for realmente vapor …e o satelite não tem atmosfera ou ela é muito tenue,de onde vem tanta agua se isso com certeza existe à milhões de ano.rsrsrsr Acho que te peguei !!! bom fim de semana !!

    1. Gigantes gasosos têm núcleos rochosos. A água está sob a crosta de gelo, mantida em estado líquido pela energia gravitacional do efeito de maré produzido pleo planeta gigante! Abraços!

  3. Enquanto houver pessoas ricas e inteligentes no Brasil que se dediquem a estudar por si mesmas o universo, temos chances.

    Depender de nossos políticos é atraso de vida.

    1. Realmente nossos políticos é uma piada em tudo…

      Parabenizo pela iniciativa de Jacques, Eduardo Pimentel e João Ribeiro de Barros. SONEAR é o futuro.
      Parabéns a todos que colaboraram.

      Abraços!

  4. Boa tarde, salvador!

    Gostaria de saber se existe alguma diferença de detectar um meteoro de um cometa. Tipo grau de dificuldade. E também se existi-se um cometa ou um meteoro em rota de colisão com a terra, os dois do mesmo tamanho, existiria diferença em proporção de catastroficas.

    1. Suponho que você pergunte sobre asteroide versus cometa. Meteoro é só depois que ele adentra a atmosfera da Terra. A identificação é feita de início com base na aparência — cometas têm uma atmosfera mais apreciável, parecem uns algodõezinhos difusos. Asteroides são apenas pontos brilhantes. Mas nem sempre é fácil perceber isso. Conforme o objeto é acompanhado, a órbita e a contínua observação de sua aparência ajudam a fechar a identificação. Dos três cometas descobertos pelo SONEAR, em dois deles a aparência denunciou de fato que que eram cometas logo de cara, e por isso eles receberam o nome do descobridor (Jacques). Num, de início, não dava para dizer se era cometa ou asteroide. Astrônomos italianos mais tarde confirmaram que se tratava de um cometa. Aí ele ganhou o nome do observatório (SONEAR), seguindo o padrão da IAU.

  5. Seu vídeo sobre a origem do homem americano ta no youtube da Univesp. Excelente documentário. Gostaria de saber onde fica os vídeos do seu quadro no jornal das Dez.

  6. Admirável iniciativa, estu curioso para conhecer o observatório e o pessoal. Quando puder agendarei um visita. Congratulações

  7. Bom dia!
    Salvador, estou ficando fã do SONEAR.
    Existe algum site onde possamos acompanhar os trabalhos deles?

    Parabéns aos três mosqueteiros!

  8. Bom dia Salvador

    “Não custa lembrar: nem um real de dinheiro público. Todos os equipamentos e instalações foram bancados por Jacques, Eduardo Pimentel e João Ribeiro de Barros” – Parabéns a iniciativa destes três realmente brasileiros.
    Aos nossos representantes públicos, que continuem tirando dinheiro da Petrobrás, Correios, enfim, dando as costas para o país, qualquer dia destes, o povo acorda e faz sua parte, por enquanto vamos contando com aqueles que realmente querem deixar um legado positivo – parabéns ao SONEAR

    Abraço

  9. Nenhum centavo de investimento estatal?
    Depois os mimimis reclamam que os Estados Unidos fincam bandeiras na Lua e querem fincar nos demais astros do nosso sistema solar. Aliás, alguns até a cara-de-pau de dizer que é mentira a visita humana na Lua.
    Parabéns ao trio Jacques, Eduardo Pimentel e João Ribeiro e aos demais colaboradores do trabalho!

    1. O programa espacial americano é fruto de investimento estatal. TODO o programa Apollo foi pago com dinheiro de impostos.

      1. Exatamente o que ele quis dizer. O governo norte-americano ajuda a humanidade na conquista espacial.

  10. Oi Salvador,

    Há uma noticia inquietante no setor da astrofísica. RRR ( rajadas rápidas de rádio) ou em Inglês (FRB – fast radio bursts).

    RRRs foram detestadas pelo observatório Parks na Austrália ano passado ao vivo e está causando alvoroço no meio. Todas as RRRs ajustam-se a um padrão que não bate com nada do que sabemos hoje sobre a física cósmica.

    Especialistas estão considerando a hipótese de emissões artificiais não humanas.

    Será este o sinal tão aguardado ?

    Você tem mais detalhes sobre o assunto ?

    Grande Abraço

    1. Eu li isso. Mas não acredito na artificialidade. Sinal de banda ampla não combina com artificialidade.

    2. deve ser o efeito entre duas estrelas de nêutrons ou algo semelhante, é muito forte.

      de toda forma, seria interessante um debate aqui. Pena que o sinal não diz nada, ou seja, sequer tem intervalos artificiais como sequências numéricas de pulsos em passos que seriam difíceis de se ter em algum evento que envolvesse um par de estrelas.

  11. Bom dia Salvador!

    Parabenizo a equipe do SONEAR, principalmente ao Jacques que tive o privilégio de conhecer, o detalhe mais que fantástico deste grupo é a ausência de recursos públicos o que faz acreditar que ciências é mais cérebro e boa vontade que recursos públicos que lamentavelmente são impregnados com o “lado podre” da nossa política.

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