Pontapé inicial na mineração espacial

Salvador Nogueira

A empresa americana Planetary Resources anunciou que na segunda-feira (13) começa a colocar em prática seu plano ambicioso de iniciar uma operação de mineração de asteroides. A primeira etapa é o lançamento de um protótipo limitado de um pequeno telescópio espacial.

Concepção artística do Arkyd-3, primeiro protótipo de telescópio espacial (Crédito: Planetary Resources)
Concepção artística do Arkyd-3, primeiro protótipo de telescópio espacial (Crédito: Planetary Resources)

Chamado de Arkyd-3, ele é o primeiro equipamento que a companhia colocará no espaço. Ele viajará a bordo da cápsula Dragon, que levará suprimentos à Estação Espacial Internacional, e de lá será colocado em sua própria órbita em torno da Terra, em julho.

O próprio voo da Dragon também promete fortes emoções. Conduzido pela empresa SpaceX, ele tentará realizar o pouso suave do primeiro estágio do foguete Falcon 9 que levará a cápsula ao espaço. A ideia é que ele desça e pouse sobre uma plataforma marinha desenvolvida pela companhia americana e possa ser reutilizado em futuras missões.

Uma tentativa foi feita em janeiro, na missão anterior de reabastecimento da Estação Espacial Internacional, mas as abas que faziam o controle do ângulo de descida esgotaram seu fluido hidráulico. O primeiro estágio chegou à plataforma, mas na diagonal, e sofreu o que Elon Musk, de forma humorada, chamou de “desmontagem rápida não-agendada”, também conhecida como explosão. Desta vez, a expectativa é grande de que dê certo.

Para o Arkyd-3, da Planetary Resources, essa também é a segunda tentativa. A primeira versão do satélite estava a bordo da cápsula Cygnus, da empresa Orbital, que explodiu pouco depois do lançamento em 28 de outubro do ano passado. A ideia agora é testar no espaço todos os dispositivos eletrônicos envolvidos na construção de um telescópio espacial de verdade, menos a parte óptica. A empresa pretende colocar um segundo protótipo no espaço, o Arkyd-6, até o fim do ano, antes de lançar seu telescópio espacial para valer, o Arkyd-100.

Com o Arkyd-100 as coisas começam a esquentar, com a busca e caracterização de asteroides próximos à Terra que possam ter valor comercial. A classe seguinte de espaçonaves, Arkyd-200, fará viagens a esses asteroides, para estudá-los de perto. E a Arkyd-300 produzirá mineração propriamente dita.

Será que vai acontecer? Difícil dizer, pois tudo depende da viabilidade comercial do projeto e do apoio de investidores. A Planetary Resources já tem alguns grandes apoiadores, como o cineasta James Cameron, mas vai precisar de muita grana antes de começar a dar lucro com mineração. Por ora, eles têm feito avanços significativos, mas modestos.

Exemplo: no começo do ano, em parceria com a Nasa (agência espacial americana), a companhia lançou um aplicativo gratuito para computador que permite que as pessoas contribuam na busca por novos asteroides — o software serve a quem tem telescópio e quer usá-lo na busca por esses objetos. De acordo com seus criadores, que o desenvolveram em regime de “código aberto”, o algoritmo oferece uma melhora de 15% na detecção de objetos no cinturão entre Marte e Júpiter.

Isso tudo é interessante, mas está bem longe de mineração espacial de verdade. Por outro lado, se iniciativas como as da SpaceX, de desenvolver foguetes reutilizáveis, derem certo — como parece mesmo que vai acontecer –, o acesso ao espaço pode ficar bem mais barato nos próximos anos. E aí, literalmente, o céu é o limite.

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Comentários

  1. Salvador, excelente notícia, mas fica a dúvida: esses “satélites de desenvolvimento”, lançados apenas para testar futuras aplicações, depois de usados serão queimados na atmosfera terrestre ou ficarão vagando como lixo espacial? Não deveria haver uma regulamento geral que obrigasse a quem lançar satélites cuidar de jogá-los numa “lixeira adequada”, ou já existe isso?

  2. Como fica a questão de direitos? Como a Antártda, a Lua também sofre restrições quanto a exploração de recursos. E os asteróides?

    1. Existe uma infinidade de asteróides lá fora. Tem para todos e ainda vai sobrar bastante! 😉

  3. Dificilmente teremos, ou acharemos, quaisquer elementos desconhecidos. Se desconhecidos passarão a ser conhecidos, se raros passarão a ser comum. Trilhões de dolares para trazermos algumas pedrinhas. Esses valores sòmente poderiam ser gastos pelos fabricantes da moeda, que já possuem uma dívida impagável com o mundo e que poderiam ser gastos para melhorias do mundo atual.

  4. ….eu não boto fé na iniciativa privada em matéria de ir ao espaço.
    Os custos são elevados, os acionistas querem resultados, e os riscos de fracassos e prejuízos, além das variantes que são inúmeras e inimagináveis.
    quem investe em empresas que resultados imediatos não meras conjecturas, por mais fundamentas que sejam.
    É melhor comprar ações da Petrobras

  5. Se não der certo pelo menos a participação do cineasta nos renderá bons documentários. Parte dos R$ captados para o projeto deveriam ser direcionados para preservação de nossos recursos naturais/minerais ainda presentes em abundância por aqui. Importante avançarmos para fora mas não podemos esquecermos de nos organizarmos simultaneamente por dentro.

  6. Parabéns ao Mensageiro Sideral pelas matérias e aos comentários, pertinentes e interessantes.

  7. O fato é que lá a iniciativa privada definitivamente colocou um pé no espaço, com toda competência.

    Por aqui estamos cancelando o acordo com a Ucrânia e literalmente voltando à estaca zero.

    Dá inveja…..

    1. Paulo, essa “competência” na inicia privada não resolve porque serve para interesses cooporativistas sem a devida preocupação no retorno social. Temos de fortalecer e multiplicar nossos Institutos Federais de forma que formulem e executem com eficiência o ensino e a aplicação do aprendizado da temática em questão. Poderia até ser em parceria com a iniciativa privada, mas em outros moldes de costumes e interesses do que vemos vigentes hoje nos partidos e outros vários segmentos da sociedade. Nossas empresas poderiam empenhar mais no sentido de taxa de retorno social o governo sozinho já mostrou que não dá conta.

      1. O que você entende por retorno social? Acho que a tecnologia que desenvolvem já traz um grande retorno social. Acho preconceito achar que por ser iniciativa privada só serve para enriquecer alguns. Aqui no Brasil começamos a segregar tudo aquilo que se identifica como iniciativa privada. E, acredite, deixe nas mãos dos institutos federais e nada acontece. Estabeleça leis adequadas e terás uma iniciativa privada saudável. quer um estado que tutele a população, sinceramente não resolve nossos problemas.

        1. Retorno social seria oferta de bens e serviços eficientes e baratos. Isso significa diminuição nos lucros e impostos. As empresas tem grande parcela de culpa do sistema atual e ultrapassado. A reforma de nosso nível superior se dará pora ações a começarem pela educação básica com nossos jovens focados no desenvolvimento de mecanismos aplicados nas melhorias para educação infantil. Isso pode perfeitamente acontecer nos ifets em parceria com as Universidades Federais. Não creio que estados e municípios seriam mais eficientes. O sistema S poderia agregar muito nesse processo.

    2. Paulo, essa “competência” na inicia privada não resolve porque serve para interesses cooporativistas que visam maximização de lucros sem a devida preocupação no retorno social. Temos de fortalecer e multiplicar nossos Institutos Federais de forma que formulem e executem com eficiência o ensino e a aplicação do aprendizado da temática em questão. Poderia até ser em parceria com a iniciativa privada, mas em outros moldes de costumes e interesses do que vemos vigentes hoje nos partidos e outros vários segmentos da sociedade. Nossas empresas poderiam empenhar mais no sentido de taxa de retorno social o governo sozinho já mostrou que não dá conta.

  8. Não acredito que dê certo no atual estágio de sistemas de propulsão. Nada em pesquisa espacial poderá dar certo a longo prazo com motores de combustão.

    Ou as pessoas quebram esse paradigma sobre o uso de energia nuclear para impulsionar naves ou “nadar nadar e morrer na praia”.

    Este tipo de empreendimento até talvez dÊ certo se for para explorar minerais na lua. Em asteroides não.

  9. Parabéns pelas matérias Salvador, acesso todos os dias o blog. Estou terminando de ler o livro. Continue nessa pegada. Abs!

  10. Mineração de asteróides? Muito difícil imaginar que isto seja economicamente viável. Dá a impressão de não ser uma coisa muito séria, tanto que a matéria nem cita qual mineral pretendem extrair dos asteróides. Parece que é um besteirol como o da empresa que pretende colonizar Marte.

    1. A diferença é que na cultura de primeiro mundo (e com dinheiro) não se pré julga uma ideia apenas por parecer estapafúrdia. Lógico que esta empresa não pretende tornar a empreitada viável em poucos anos. Mas eles dão o primeiro passo e alguém lá na frente aproveita a experiência adquirida. De passo em passo uma hora vira realidade (ou não).

      A colonização de Marte é a mesma coisa. Vai ser a MarsOne? Muito provável que não. Mas eles certamente colocaram o assunto na agenda científica. Do projeto já apareceram críticas contra e a favor. E assim começamos a pensar no assunto.

      Um bom exemplo é a SpaceX. Começou com a ideia louca de um cara com dinheiro e hoje demonstra total competência em tecnologia espacial. Diria até que com uma produtividade superior à na NASA.

    1. Eu vi, Thoth. Mas não acho que estejamos diante de ETs. É interessante, mas no fim vai ser algum fenômeno astrofísico curioso, como foram os pulsares e os quasares. Eu acho. rs

      1. Olá Salvador, é prudente isolar todas as possíveis causas já conhecidas para não dar notícias erradas, porém, a matéria do link postado, deixa claro que é algo estranho, um padrão não visto até o momento e ondas de rádio vindo em uma sequência matemática, o que esta fazendo pensar que pode ser da própria Terra, ou seja, algo inteligente. Mesmo em sua experiência, você deixa um leque em aberto ao dizer “eu acho”. A pergunta é a seguinte. Pulsares emitem ondas de rádio de forma matemática a ponto de serem confundidas com mensagens inteligentes? E a outra questão é: De que forma teria de ser essas ondas, para que de fato os responsáveis por analisar estes fenômenos pudessem declarar. Isso é sinal de vida inteligente extra-terrestre. Um Abr.

        1. De início pulsares foram interpretados como possível comunicação inteligente.

    2. Salvador,
      Dentro deste anexo ao assunto da matéria e,
      Longe de ser impertinente, e com o máximo respeito:

      Sendo que, “Design Inteligente” não é ciência como disse, o que pode-se dizer da busca por “Informaçao Codificada” por estes institutos (como o SETI – NASA)??

      São coisas diferentes ou, os cientístas dão a mão à palmatória neste caso em prol da descoberta?

      Concordam e fazem ciência com evidências que aqui na terra são refutadas como coisas elaboradas e construídas por um arquiteto superior?

      Desculpe minha fase iniciante (ignorante) nisto..
      Mais um Excelente post.. Abraço.

      1. Roger, SETI é ciência. Testa a hipótese de que civilizações alienígenas tentariam contato entre si por meio de ondaseletromagnéticas. Caso nada seja detectado após buscas exaustivas, saberemos que a hipótese é falsa. Agora, qual é o teste que permitiria demonstrar que o design inteligente é uma ideia falsa?

  11. Salvador,

    A intenção é minerar para utilizar no próprio espaço, ou trazer o minério para a Terra?

    Um kg de ferro, de um asteroide metálico, valeria muito mais em órbita do que em solo…

    1. Imagino que a ideia seja fazer as duas coisas, mas sim a maior parte dos recursos seria para desenvolver uma civilização espacial, claro.

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