Uma calota polar em Plutão?
A sonda New Horizons segue em desabalada carreira na direção de Plutão, por onde passará em 14 de julho, e os cientistas da Nasa não escondem a empolgação com as descobertas que parecem vir a cada novo conjunto de imagens. Nas últimas, eles encontraram evidências de que talvez o planeta anão tenha uma calota polar.
O objeto ainda não passa de um punhado de pixels nas capturas feitas pela câmera telescópica de bordo (LORRI, para os íntimos), mas é um punhado de pixels respeitável, graças a uma técnica desenvolvida pelos cientistas para extrair a máxima quantidade de dados de cada imagem. Usando um processo que eles chamam de deconvolução e que combina o processamento de diversas imagens brutas em conjunto para operar sua mágica, o pessoal da New Horizons já enxerga alguns traços na superfície de Plutão.
Foi graças a esse esforço que eles conseguiram notar, em imagens feitas em meados de abril, uma região que parece permanentemente mais clara na região polar de Plutão — é o que os leva a crer que se trate de uma calota. Mas eles ainda não têm ideia de qual seja sua composição.
“Esses traços são reais, vistos pela primeira vez, com um pouco mais de qualidade do que as melhores imagens que tínhamos até então”, disse um entusiasmado Alan Stern, cientista-chefe da missão. “Já vemos marcas bem grandes da superfície e informações de albedo [brilho], estruturas com centenas de milhas de largura. E as imagens sempre permanecem brilhantes no polo — estamos interpretando como evidência de uma calota polar.”
Outro aspecto divertido da imagem é ver como Caronte, a maior das luas de Plutão, influencia gravitacionalmente o planeta anão, puxando-o para lá e para cá conforme gira em torno dele.
Uma coisa que os pesquisadores não mencionaram, mas que o Mensageiro Sideral não pode deixar de dizer, é que, pelo menos a essa distância (pouco mais de 100 milhões de quilômetros), Plutão não está parecendo, assim, muuuito esférico. Segundo os cientistas, Plutão é mesmo redondo, e essa impressão de irregularidade nas imagens é gerada pela variação de brilho da superfície em rotação. Certo. Ainda assim, faço questão de comentar isso, porque este é o prazer de uma missão como esta: estamos todos chegando juntos a esse estranho mundo, nunca antes visitado, e vamos aprender mais e mais a cada dia. Especular a cada nova imagem é parte integrante da aventura.
Por falar em novas imagens, outra boa notícia é que o pessoal da New Horizons vai compartilhar as fotos “cruas” (sem processamento) colhidas pela missão na internet — elas serão postadas no máximo 48 horas após seu download. Você pode dar uma olhada no que eles já têm clicando aqui. E pode esperar um frenesi a partir do dia 28 de maio, ponto em que a sonda estará fazendo novas imagens todo dia. Será empolgante!
NA TV: Neste sábado (2), às 16h, na TV Cultura, o programa “SP Pesquisa”, com participação do Mensageiro Sideral, explorará a participação brasileira na histórica descoberta do bóson de Higgs. E a partir das 22h, no Jornal das Dez da GloboNews, conheça a pesquisa que mostra por que o cão é mesmo o melhor amigo do homem (incidentalmente, veja também vários desses simpáticos animais lambendo a minha cara sem a menor cerimônia!).
Prezado Salvador, ontem, assistindo o programa Matéria de Capa sobre o Hubble na Cultura, espantei-me com uma declaração do apresentador: Plutão voltou a ser planeta, não planeta-anão, mas sim planeta. Bem, sendo assim, como ficam os outros corpos do sistema solar, como Ceres, Eris etc? Se a definição serve para um deve ser estendida aos demais, não concorda? Então, ao invés de 9, deveríamos ter 10, 12 ou mais planetas conforme aumente a descoberta de novos corpos no cinturão de Kuiper.
A despeito do que disse o apresentador na Cultura, Plutão é um planeta anão, como ficou definido desde 2006. Não voltou a ser planeta. Temos oito planetas e um punhado de planetas anões (Ceres, Plutão, Éris, Makemake etc.).
Salvador, algo me intriga desde o primeiro momento q vi essas imagens, mas não perguntei.
O efeito maré entre Plutão e Caronte seria grande suficiente para aquecer a estrutura interna do planeta / lua?
Esse suposto aquecimento seria suficiente para ter efeito na superfície como vulcões ou regiões aquecidas?
Já viu alguma coisa a respeito?
Existem alguns modelos que sugerem que Plutão pode ter uma camada de água líquida sob a superfície, por conta disso. É algo que a New Horizons poderá corroborar. A conferir.
Salvador, alguma observação sobre as outras luas Nix e Hidra? Elas também serão observadas?
Abraços!
Quando estivermos mais perto, elas serão bem estudadas!
E, pela forma como a mancha mais clara “gira”, não dá a impressão de que estamos chegando aproximadamente na direção do eixo de rotação de Plutão, caso contrário, se fosse pelo plano do “equador” a mancha apareceria e sumiria regularmente, não? É grande a inclinação do eixo?
Já que estão rolando tantas dúvidas aqui sobre o eixo de rotação, aqui tem uma imagem que mostra-o:
http://www.nasa.gov/sites/default/files/thumbnails/image/nh-stern_7.gif
Salvador, se “estamos” indo na direção do planeta, ou seja, mais ou menos no plano da eclíptica e vemos Caronte completar uma elipse, significa que sua órbita tem uma grande inclinação em relação ao plano dos planetas, não?
Acho que essa imagem ajuda a entender a geometria da coisa: http://www.nasa.gov/sites/default/files/thumbnails/image/nh-stern_7.gif
Essa “lua”, Caronte, é muito grande, não é não?! em relação a Plutão. Será que ela se formou tal qual a nossa Lua ou será que foi capturada pela órbita de Plutão? Interessante. De qualquer forma, só com imagens, sem análise do material rochoso de ambos, não dará para sanar essa dúvida né.
A hipótese mais aceita é que tenha se formado de um impacto, como a nossa Lua.
Ola Salvador, acompanho o Mensageiro Sideral a algum tempo e gostaria de saber sua opinião sobre um assunto que não é o tema direto deste post mas poderia influenciar… Li ultimamente sobre EmDrive, que a NASA teria testado um motor que viola a conservação de momento e que também teria “tropeçado” em uma demonstração da propulsão de Alcubierre. O que você acha disso?
Acho que nem quando os caras apresentam os resultados eles são convincentes, imagine quando não apresentam e começam a discutir experimentos preliminares num fórum de entusiastas da Nasa…
Já abordei o EmDrive e o trabalho do Sonny White aqui no blog antes e o farei novamente assim que ficar claro o que eles estão preparados para declarar de seus experimentos. Pessoalmente, eu acho que é bem improvável que eles tenham criado uma bolha de dobra sem querer…
Não são calotas polares e sim um conjunto de grandes cidades. Essa missão vai mudar a maneira de vermos o Universo.
Não vamos mais a Marte. Vamos iniciar o planejamento para a primeira missão tripulada a Plutão.
Anotem: 2015 é o ano que vai mudar a Humanidade.
Essa é que é uma aposta maluca, hein? Veremos. Te espero aqui nos próximos meses. 😉
É comum chamar pessoas brilhantes de malucos. A história me julgará…
Seria a coisa mais incrível que poderia acontecer. Fico imaginando como seria receber uma notícia dessa. Mas, mas, mas… não veremos cidades, uma pena. 🙁
Salvador, quando é que você vai ganhar um programa nos Canais Discovery ou National Geographic ? As TVs gastando tanta grana com produções bobinhas para atender a lei que obriga conteúdo nacional e desperdiçando talentos como você, nossa versão Tupiniquim do Neil deGrasse Tyson…
Pronto! Agora ele vai ficar se achando!
Vai nada, o Salva é humilde. E não é a primeira vez que comparam ele ao Neil e/ou ao Sagan.
Relaxa.
Quer apostar que Plutão não é esférico e que Caronte seria talvez o “pedaço” que falta ao planeta ou o próprio objeto que colidiu com ele e se estabilizou numa órbita próxima, ou seja, o sistema nasceu numa colisão com Plutão?
Seria divertido! Mas ainda acho que Plutão é esférico mesmo… grande demais para não ser esférico. Seria uma enorme surpresa não ser…
seria a primeira confirmação de gelo ou já existem outras? teriam como aferir características de composições para sabermos se algo semelhante ao que temos por aqui?
Eu apostaria que é gelo de nitrogênio ou algo do tipo.