Os desafios do elevador espacial
Você talvez tenha visto a divertida reportagem que o “Fantástico” exibiu no domingo (31) sobre a empresa japonesa Obayashi Corporation, que quer construir um elevador espacial em 2050. A proposta da empreiteira já havia sido abordada pelo Mensageiro Sideral no ano passado, e, convenhamos, é sensacional. Mas será que é viável?
Tecnicamente, o único impedimento conhecido hoje é a dificuldade na construção de cabos com a resistência e a força suficientes para resistir às tensões de serem esticados a um comprimento de 100 mil km, espaço afora. Não sabemos como fabricá-los e a principal aposta está nos nanotubos de carbono. O difícil até agora tem sido fazê-los com a extensão necessária.
Uma alternativa recente foi explorada por pesquisadores da Universidade Estadual da Pensilvânia e publicada no periódico “Nature Materials”: nanofios de diamante. Eles basicamente comprimiram benzeno a uma pressão extraordinariamente alta e obtiveram esses fios de carbono cristalino estruturado que poderiam ser ainda mais resistentes que os nanotubos. Resta saber se também haverá como produzi-los na extensão requerida — que não é pouca.
Caso esses materiais resolvam a questão, um elevador espacial, capaz de reduzir drasticamente o custo (e o drama) do transporte à órbita terrestre, poderia ser, em princípio, construído. Seria um baita desafio de engenharia, verdade, mas tecnicamente viável. O que é altamente improvável é que isso tudo possa acontecer em 35 anos, como quer a companhia japonesa. E nossos amigos da Obayashi também não explicaram quem vai pagar a obra. Segundo algumas estimativas, o sistema poderia custar a bagatela de US$ 100 bilhões.
Deu vontade de dar risada? Então é sinal de que estamos longe de ver esse projeto executado. O escritor inglês Arthur C. Clarke era um dos mais entusiasmados defensores dos elevadores espaciais — retratando-os na ficção em seus livros “As Fontes do Paraíso” e “3001” –, mas sabia que eles não seriam tão facilmente trazidos à realidade quanto outra ideia que ele ajudou a criar e a popularizar: os satélites geoestacionários de telecomunicações. Quando perguntaram a Clarke quando ele achava que um elevador espacial seria construído, ele respondeu: “Provavelmente uns cinquenta anos depois que todo mundo parar de rir.”
Nem todo mundo parou de rir, mas muitos cientistas e entusiastas já. Entre eles estão os que pertencem ao Consórcio Internacional do Elevador Espacial (ISEC), que realizará em agosto deste ano mais uma conferência científica, em Seattle, nos Estados Unidos, para tratar do tema. A exemplo da Obayashi, eles também acreditam que pode dar pé. Eu confesso que tenho minhas dúvidas.
No meu primeiro livro, “Rumo ao Infinito: Passado e Futuro da Aventura Humana na Conquista do Espaço”, publicado no longínquo ano de 2005 (alguém aí tem interesse em uma versão revisada, ampliada e atualizada?), eu abordo alguns dos desafios — talvez intransponíveis — que se colocam entre nós e o transporte espacial via elevadores.
Alguns deles são bem triviais, como o risco de terrorismo. Imagine o estrago que um Bin Laden do século 22 (supondo que todo mundo tenha parado de rir até lá) poderia fazer ao chocar um avião contra o prédio que serve de ancoragem ao elevador espacial aqui na Terra. Estamos falando de uma estrutura com uma centena de milhares quilômetros de altura, e nos primeiros 10 km não seria difícil atingi-la com um avião. Isso sem falar nos desafios que ter uma atmosfera impõem a edifícios muito altos.
Seguindo adiante, lá em cima, fora da atmosfera, temos de nos lembrar da imensa quantidade de detritos espaciais, entre lixo gerado por nós mesmos e pequenos asteroides. Você não pode desviar os cabos do elevador deles, ainda que pudesse detectá-los todos de antemão e antecipar colisões. Haveria, na melhor das hipóteses, pequenos danos constantes à estrutura, que teriam de ser reparados com frequência. E, se a manutenção for cara demais, a própria razão de ser do elevador — a redução do custo do transporte até o espaço — pode desaparecer.
Ainda assim, como alerto no livro, nesse estágio tão preliminar da pesquisa, não vale a pena abandonar a esperança. Deixemos os japoneses — e tantos outros — nos contagiarem com seus sonhos de elevadores espaciais. Afinal, outro dia mesmo os foguetes eram apenas sonhos, e antes deles até os aviões não passavam de devaneios de mentes imaginativas como as dos irmãos Wright e a de Alberto Santos-Dumont.
A Globo e suas excentricidades querendo parecer tecnológica…como sincronizar uma estação nesta altitude com a rotação da Terra? este é o desafio menos que cabos e tecnologias…a Estação Espacial hoje dá uma volta na Terra a cada +- 9 horas…teria que fazer em 24 horas alguns minutos alguns segundos e alguns milésimos de segundos nem mais nem menos…baita desafio.
Mario, a estação completa uma volta a cada 1h30, aproximadamente. Mas colocar um satélite numa órbita em sincronismo com a rotação da Terra não é tão difícil. Basta estar a cerca de 36 mil km da superfície, e a órbita acompanhará a rotação — é a chamada órbita geoestacionária, onde ficam os satélites de telecomunicações. 😉
Comprei seu livro, Extraterestres, e achei o máximo. Tenho muito interesse em que você continue publicando, inclusive uma versão revisada, ampliada e atualizada de:“Rumo ao Infinito: Passado e Futuro da Aventura Humana na Conquista do Espaço”.
Eu também! Obrigado pela leitura! Abraço!
Para todos aqueles que perguntam se não é melhor usar o dinheiro da ciência para acabar com a fome no mundo, eu pergunto: não é melhor utilizar todo o dinheiro gasto com mansões, carrões de luxo, roupas de grife e iates para acabar com a fome no mundo? Ou é só o dinheiro da ciência que você quer que seja utilizado para esse fim? Ficaram sem respostas? Cheque mate né!!! Agora eu quero ver um engraçadinho desses ainda ter coragem de aparecer por aqui!!!!
Salvador,
Talvez aqui na Terra não fosse possível, mas seria viável fazer um elevador deste na Lua? Isso talvez poupasse os futuros astronautas do perigo de uma alunissagem além de facilitar seu retorno a Terra. Se bem compreendo o elevador espacial poderia levar os astronautas do solo da Lua para sua órbita e de lá pegariam um veículo para a Terra.
Não sei se seria possível, em razão da baixa rotação da Lua. Boa pergunta.
Salvador,
Tenho o teu livro Rumo ao infinito e recomendo aos teus eleitores. Quando será lançada a versão atualizada. Estou interessado.
Amanhã completa 50 anos da primeira EVA americana feita pelo astronauta Edward White em 1965. Esta seria uma matéria legal para a tua “Coluna de Ciências” da Globo News.
Então, mãos à obra.
Todos nós estamos esperando.
Abraços e parabéns pela matéria.
Valeu, Gilson, pelo interesse no Rumo ao Infinito (versão original e 2.0!) e pela sugestão do Ed White! Abraço!
É isso ae Salva, que venha o Rumo ao Infinito 2.0 com a versão digital também. Mal posso esperar 🙂
E os danos causados por um possível rompimento?
Abordo isso quando falo em ataque terrorista. É óbvio que, se bem construído, o elevador não corre risco de rompimento espontâneo, mas por um incidente, pode acontecer.