Para achar gêmeos idênticos da Terra
Quer saber mais sobre a atualização de um instrumento caçador de planetas que poderá em breve permitir a detecção de planetas do tamanho da Terra em órbitas similares à do nosso mundo em torno de estrelas parecidas com o Sol? Aos diletos leitores do blog, segue aqui o texto integral da reportagem publicada nesta quinta-feira (05) pela Folha, que na edição impressa sofreu um corte severo para se acomodar ao espaço no papel.
Uma nova atualização de um instrumento projetado para detectar planetas fora do Sistema Solar, feita com participação brasileira, dá pela primeira vez a capacidade de detecção de virtuais gêmeos da Terra — mundos do mesmo tamanho que o nosso, numa órbita similar em torno de uma estrela parecida com o Sol.
Trata-se da primeira colaboração nacional em termos de instrumentação para o ESO (Observatório Europeu do Sul), maior organização astrônomica do mundo.
O Brasil pleiteia desde 2010 se tornar o primeiro país membro não-europeu do consórcio, e o acordo que torna isso possível foi finalmente ratificado pelo Congresso Nacional no mês passado.
O instrumento envolvido, por sua vez, é o Harps, um espectrógrafo de alta precisão que tem sido usado há mais de uma década para a descoberta de planetas extra-solares.
Sua atualização foi desenvolvida por um grupo que inclui astrônomos da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), do Instituto de Astrofísica das Canárias, na Espanha, do Instituto Max Planck, na Alemanha e do próprio ESO. O equipamento em si foi produzido pela empresa alemã MenloSystems.
CÓDIGO DE BARRAS ESTELAR
O que o Harps faz é basicamente colher no telescópio os raios luminosos que emanam das estrelas e convertê-los num espectro — uma “assinatura” de linhas luminosas e escuras que representa a separação da luz em suas componentes de cor.
Os cientistas sabem que esse padrão de “código de barras” sofre um deslocamento para lá e para cá, conforme a estrela está se movimentando na nossa direção ou no sentido oposto — fenômeno conhecido como efeito Doppler.
Ao comparar a variação do espectro ao longo do tempo, pode-se, portanto, medir esse movimento.
E por que uma estrela estaria se deslocando para lá e para cá? É justamente o efeito da presença de um planeta orbitando ao seu redor, puxando-a ora para um lado, ora para outro.
TAMANHO E ÓRBITA
A facilidade de detecção, portanto, depende basicamente do tamanho do efeito gravitacional que um planeta exerce sobre sua estrela. E isso por sua vez está ligado à massa e à distância que o mundo guarda do astro central.
Por essa razão os primeiros planetas fora do Sistema Solar a ser descobertos eram tão grandes quanto Júpiter e estavam orbitando bem próximos delas — a velocidade impressa na estrela nesse bamboleio era da ordem de 30 metros por segundo.
Já um planeta do tamanho da Terra, numa órbita similar à da Terra, produziria uma variação de apenas 9 cm por segundo.
O limite do Harps, instalado no observatório de La Silla, no Chile, era até agora de mais ou menos 50 cm por segundo — aquém do necessário.
ATUALIZAÇÃO
Entra em cena a mais nova inovação. Trata-se de um pente de frequências laser, e é basicamente uma régua de alta precisão que pode ser confrontada com as medidas de espectros tomadas das estrelas.
Ele foi testado pela primeira vez em 2012, mas não deu muito certo. Então os pesquisadores voltaram à prancheta com ele e o redesenharam completamente.
Um novo teste foi realizado em La Silla durante dez dias, entre os dias 8 e 18 de abril deste ano. E agora a coisa avançou.
“Conseguimos atingir precisões de 2 cm por segundo”, disse à Folha José Renan de Medeiros, pesquisador que lidera o projeto na UFRN. “Assim, parece que finalmente o ser humano construiu o procedimento de medidas necessário para a detecção de planetas como a Terra e, sem egos bobos, é bacana que o Brasil esteja presente nesse grande evento.”
RUÍDO NO MEIO DO CAMINHO
Uma nova bateria de testes será realizada para resolver alguns pequenos problemas não resolvidos e demonstrar que o novo pente de frequências laser está pronto para operações rotineiras em La Silla.
E, ainda que tudo funcione às mil maravilhas, ainda não se pode dizer com certeza que os gêmeos da Terra finalmente serão encontrados.
Isso porque há um crescente entendimento de que variações na superfície da estrela — campos magnéticos, aparição de manchas, tempestades estelares –podem influenciar medições do “bamboleio gravitacional”.
Em essência, a atividade estelar pode gerar falsos positivos. Recentemente, o astrônomo Paul Robertson, da Universidade Estadual da Pensilvânia, fez uma análise desses efeitos e concluiu que diversos planetas descobertos pela medição do bamboleio gravitacional não existem.
A questão ainda é controversa e descredencia por ora apenas mundos descobertos em torno de anãs vermelhas, mas Robertson acredita que isso também influenciará detecções em anãs amarelas — estrelas similares ao Sol.
“Provavelmente serão um problema para qualquer estrela que estudemos”, diz o pesquisador americano.
Por isso ainda há certa cautela a respeito do novo potencial do Harps.
Mais do que ter a resolução necessária, o instrumento precisará que as estrelas-alvos colaborem para permitir a detecção de planetas como o nosso, sem introduzir ruído que mascare o sinal produzido por esses mundos.
Oi Salvador, bom dia. Por favor, gostaria de alguns esclarecimentos. Li há algum tempo que o terremoto e o tsunami de Dez/04 inclinaram (ou balançaram) a Terra em relação ao seu eixo. Eventos como estes “desposicionam” os satélites geoestacionários ou os outros ? isto exige recalibragem nos radiotelescópios, etc. ? e, por fim, não poderiam “contaminar” as medições das estrelas, planetas e seus bamboleios ? obrigado, forte abraço.
Que eu saiba, mesmo os maiores tremores geram variações muito pequenas para causar qualquer distúrbio desse tipo em satélites, e menos ainda para medições astrofísicas. Abraço!
Bom dia Salvador, sou leitor assíduo do seu blog, e recomendo o mesmo para meus alunos(Professor de Física), mas depois das mudanças da página do UOL, ficou mais difícil localizar o blog por meus alunos que praticamente só conhecem o Facebook.
Renato, recomende-os a página do Mensageiro Sideral no Facebook. 😉
Tentando comentar
Salvador, sou leitor do seu blog a muito tempo, embora teísta, vejo o seu blog como ótima fonte de informação científica relevante, e até indico para os meus alunos(professor de Física), mas ficou mas difícil de acharem seu blog depois das mudanças na página da UOL.
NOTA: Coloquei embora teísta, mas num acho que aqui seja um lugar de debate CiênciaxReligião.
Salvado, Um exemplo; vamos dizer que detectamos um planeta a mil anos luz daqui parecido com a terra, e em algum tempo seja daqui 10 anos, 30 anos sei la…conseguimos construir um telescópio muito sofisticado , capaz de observar este planeta muito de perto. Como nós o veríamos ? Veríamos ele como era a mil anos ? Pois existe a velocidade da luz né …como seria esta situação?
Isso, veríamos o passado dele, mil anos atrás.
É engraçado, não é? Eles nos veriam hoje na Idade Média, nem poderiam imaginar que estamos explorando o espaço!
Salvador, a velocidade da luz não seria para deslocamentos ou reflexos? A visão não seria instantânea, ou seja, ao focalizarmos não vemos o momento presente?
Não. A visão nunca é instantânea. Você está olhando para a tela e a vendo como ela estava uma pequena fração de segundo atrás, momento em que a luz dela partiu na direção dos seus olhos, viajando a uma velocidade finita.
Olá Salvador, sempre fico intrigado com um detalhe. Geralmente um sistema planetário é formado por vários planetas grandes e pequenos. Pela técnica do bamboleio, como os astrônomos sabem q determinado deslocamento pertence a um planeta, ou a outro? Entendo q tudo seria um jogo de forças, cada um puxando para o seu lado. No caso do sistema solar, como poderiam saber se determinado deslocamento foi provocado por Marte, ou por Netuno, sendo q todos os outros planetas tbm estão “puxando”. Não sei se fui claro com a pergunta, mas é algo q me intriga faz tempo. Grato se puder me responder.
Excelente pergunta! Eles precisam medir todos os bamboleios e então “encaixar” a melhor solução. Normalmente eles começam com os sinais mais claros — planetas maiores — e meio que “apagam esses sinais” por técnicas matemáticas para encontrar outros. Ao encontrar outros, eles buscam a melhor solução conjunta para todo o bamboleio. Não é fácil. 😉
Obrigado Salvador, bem esclarecedor.
Deve ser um trabalho e tanto analisar todos esses dados 😉
Se me permite, uma analogia interessante seria pensar no bamboleio resultante de uma estrela como um acorde musical, cada nota desse acorde seria causada por um planeta.
O pente laser seria um diapasão a comparar as notas e suas afinações.
Salvador , li hj sobre suposta existencia de um ou dois planetas alem de plutão . voce como astronomo estudioso da astronomia acha isso possivel ?Também seria possivel a existencia de algum planeta com orbita tão oval que passaria por dentro do sistema solar e depois se afastaria tão longe que seria impossivel de observar mesmo com telescopios potentes ? Faço a pergunta pq civilizações antigas tinham isso como certeza, embora tecnicamente isso seria impossivel mas como não é minha praia ….Agora ,que exista planeta similar à terra isso é mais que logico embora isso não seja premissa para ser habitado !! pode ser mais quente ou mais frio ,mais seco ou mais molhado !!pode existir vida de forma diferente da nossa .Pq com a vida como conhecemos não apareceu neste planeta…. com certeza,foi plantada aqui por outra civilização !Afinal vc ja imaginou quanta cultura perdemos nas queimas de livros feitas nas inquisições ou nas biblioteca na antiguidade ? não sei se fui claro nas perguntas mas a intenção foi boa !!! rssrsrsr
abraços ??
Sobre haver planetas além de Plutão, é possível sim. Sobre haver um planeta com órbita oval que visita periodicamente as regiões internas do sistema, não. Júpiter já teria perturbado sua trajetória há muito tempo.
Caro jmingo, tem algumas afirmações nos seus comentários meio estranhas.
Quanto a civilizações antigas terem a certeza da existência de um outro planeta isso não é verdade. Primeiro q as civilizações antigas não sabiam o que era planeta da mesma forma que sabemos hoje. Para os povos antigos o céu era um lugar cravejado de pontos brilhantes, e os planetas eram pontos brilhantes que andavam (e somente os 4 visíveis), diferentes das estrelas que eram fixas. Não tem nenhum escrito que fala de planetas com órbitas excêntricas, ou coisa do tipo, simplesmente pq eles nem sabiam que existiam órbitas ou outros planetas. Essa história de planetas errantes ou excêntricos é coisa de escritores modernos, que com seus livros inventam histórias e misturam com textos antigos levando a uma interpretação errada de coisas que nunca existiram e nunca foram ditas pelos antigos. Hoje tem um monte de sites e gente interessadas em manter essas falsas histórias ou para ganhar dinheiro ou para satisfazer o desejo de buscar o ilógico e o fantástico para se opor ao racional e à ciência, ou sei lá pq desejam tanto em acreditar em algo falso.
Quanto a vida, ela surgiu no nosso planeta a bilhões de anos de forma microscópica, depois evoluiu, passando por várias fases até chegar como ela é hoje. Se foi semeada por alguma civilização, não dá pra saber, mas sabe-se q surgiu de forma simples a bilhões de anos e isso é muito, muito, muito tempo.
Quanto ao conhecimento antigo que perdemos, realmente foi uma tragédia para a história humana, mas uma coisa sabemos, mesmo que esses livros antigos estivem por aqui, não teria nada escrito lá que estive de acordo com essas teorias sem fundamentos propagadas por esses sites modernos de conspiração e falsa ciência.
Desculpe se estou sendo chato, mas o mundo real e o conhecimento honesto é bonito demais para ser trocado ou menosprezado por aqueles que gostam de entender o mundo como é.
O mais triste é que muito provavelmente descobriremos planetas habitáveis, mas jamais chegaremos até eles.
Ah meu caro, na altura do campeonato com a tecnologia que existe e o conhecimento de nossos astrônomos, neste nosso presente tempo, não seria triste se descobrirmos planetas habitável , seria glorioso. E não esquenta a cabeça não pelo fato de nós não nos comunicarmos isto fica para as próximas gerações 😉
Parabéns , Salvador, excelente texto .
Sensacional , estou deveras ansioso aos resultados do trabalhos do Harps atualizado . O que falta é conseguirmos detectar a calmaria nas atividades estelares para que os resultados sejam consistentes sem o mínimo (, sem modéstia mesmo, mínimo ) de margens de erros e assim nos livrando dos ‘falsos positivos’.
Salvador, uma dúvida: os planetas exercem algum efeito gravitacional sobre suas estrelas? É claro que vai depender do tamanho e massa, mas a pergunta é porque a estrela não é sempre muito maior que o planeta?
Sim, os planetas exercem efeito gravitacional sobre as estrelas, mas o efeito é proporcional às massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância. Por isso, o efeito gravitacional do Sol sobre Júpiter faz Júpiter se mover por uma trajetória aproximadamente circular com mais de meio bilhão de km, enquanto o efeito de Júpiter sobre o Sol faz a estrela se deslocar para lá e para cá num círculo bem menor, cujo centro nem chega a sair de dentro da própria estrela. Uma demonstração bem educativa desse efeito é a do sistema Plutão-Caronte. Como Caronte é quase tão grande quanto Plutão, você percebe como o planeta anão faz um bamboleio em torno do centro de gravidade do sistema…
valeu, amado guru.
Tinha lido na versão digital do impresso, Salvador! Bela matéria e parabéns aos pesquisadores brasileiros!
Gente inteligente e capacitada nós temos, faltam verbas e seriedade por parte dos governantes! 🙁
e põe falta de verba nisso! esses poucos brasileiros físicos que conseguem participar de algum evento estrangeiro são os poucos abastados do ramo, isso mesmo, a física não paga bem e há pouco incentivo à pesquisa. No geral, o pessoal vira professor de ensino médio ou cursinho pré-vestibular e isso já é falar nos top-de-linha.
compare a concorrência para física e a medicina ou direito no vestibular das faculdades brasileiras, o que acontece é a total falta de incentivo, não há bolsa de pesquisa para todos e quando aparece uma é disputada aos tapas, nem preciso falar do valor da bolsa que costuma ser bem baixo e, por acaso, chamam-na de vale-livro, pois, mal dá para pagar os livros necessários aos estudos.
sinceramente eu odiei ter iniciado um curso de física, apesar de saber dos tremendos avanços em diversas áreas que ela promove, como na medicina e na tecnologia de equipamentos em geral. O que se faz em laboratório acaba parar na mesa das pessoas e elas nem imaginam, cada nova descoberta pode miniaturizar equipamentos enormes ou criar novas máquinas que trabalham melhor. Porém, apenas a medicina e o direito são valorizados nesse paizinho que se finge de grandes coisas.
o povo brasileiro nem sonha o quanto perde por apostar em dízimo de igreja e ridicularizar o conhecimento científico.
Concordo 100%… A maior universidade do país, a USP, não tem dinheiro para a compra de equipamentos modernos e levar adiante pesquisas de ponta. Gasta tudo o que recebe em salários (incluindo aposentadorias) e vai se degenerando a cada ano que passa.
O governo do Estado deveria começar retirando da USP o custo de aposentadorias, pois isso não é investimento em educação, é desinvestimento! Claro que as aposentadorias têm que ser pagas, mas por um órgão administrativo do Estado, não pela USP!
Para que não me acusem de ser contra os aposentados, informo que sou aposentado do INSS e minha mãe é aposentada da USP (trabalhou 30 anos como pesquisadora técnica em análises clínicas da Faculdade de Medicina).
Sou é contra usar verba da Educação (no caso, da USP), para pagar aposentadorias!
Radoico, o problema não é o aposentar e sim como quem está aposentando conduziu seu trabalho enquanto ativo.
no caso específicos dos professores o trabalho dos mestres é o que tem maior impacto na economia como um todo. Se o professor quer aposentar bem precisa garantir que o maior número de alunos que passaram por sua mão tenham pleno conhecimento do conteúdo ministrado. Do contrário, estará desmantelando sua própria aposentadoria.
um estudante de hoje é um trabalhador na ativa e contribuinte da receita de amanhã. Por mais que um professor critique um aluno diretamente por considerá-lo medíocre e ainda faça questão de não expor o conteúdo necessário ao aprendizado, na verdade, indiretamente, o mestre está se auto-prejudicando. Como irá contribuir de forma suficiente o ex-aluno se os seus professores se esforçaram apenas em garantir constantes aumentos? Eu vejo o caso das pessoas que estudaram comigo, poucos tiveram a sorte de ter hoje um bom emprego e já encontrei dois em situação bem complicada.
falta também consciência de um grande grupo (não todos, claro) que somente enxerga o agora, ignora o futuro que está diante de si. Seus alunos são os profissionais que darão continuidade à manutenção do sistema previdenciário, se não há pessoas suficientes contribuindo o sistema quebra e o governo vai buscar o modo de menor esforço, reduzirá os direitos.
outro grave problema que já se vem alertando é que não adianta dar diploma para todo mundo se falta mercado de trabalho e ainda se o profissional com diploma não domina o curso que fez. Além disso a grande massa só quer ser servidor público o que demonstra terem um conhecimento suficiente apenas para participar de certames desse setor e não aprenderam o suficiente para desenvolver suas carreiras de forma independente.
É verdade, José, o professor tem que ter em mente que a sua aula de hoje ajuda a construir o futuro do aluno e, portanto, da sociedade.
Por isso eles têm que ganhar bem, para trabalhar com tranquilidade e dedicação. Isso do prézinho ao Doutorado.
O que acho é que, nas universidades, muitos professores só pensam, mesmo, em suas pesquisas, dar aulas é um ‘preço a pagar” para poder continuar pesquisando. Isso também está errado. Isso não ocorre em faculdades, nas quais o professor é contratado para dar aulas, sem ter que fazer pesquisas.
Precisamos de bons professores e de bons pesquisadores.
Egito,
Eu acho que esta condição de quem trabalha em profissões técnicas como físicos, geólogos, engenheiros, pesquisadores em geral, em parte se deve à própria cultura brasileira. Nós não somos um povo engajado. Nós estamos acostumados a esperar pela ajuda ao invés de correr atrás dos resultados. Quem deveria fazer a história das ciências brasileiras somos nós mesmos e não o governo ou as instituições internacionais. O que se vê por aqui é uma dependência total do sistema instalado e de gerenciamento de verbas que claramente não é o mais adequado. Não há cobrança por resultados e quem deveria produzir não critica o sistema com receio de perder verbas. Falta brio profissional.
amigo Paulo, primeiro devemos observar que ninguém nasce sabendo e ainda tem muita gente que vem herdando a herança da miséria, a educação é avacalhada muitas vezes por alguns grupos que possuem algum poder de opinião, na China foi o próprio governo de lá que cassou os professores por conta da ausência de entender que o problema era a falta de disseminação de conhecimento e não a sua banalização pública que contou com queima de livros em praça pública. Aqui já tivemos episódios semelhantes durante a ditadura militar e o mais recente é haver o culto exacerbado de algum credo contrário em ver as pessoas tendo conhecimento técnico, afinal, somente os tolos se deixam enganar por ilusões fantasiosas.
além disso, nós temos um Estado omisso com suas responsabilidades de gerenciamento e uma forte tendência publicitária. Em que país um atual presidente da República que antes era responsável majoritário pela decisão do Conselho de uma grande estatal nacional, provoca um enorme prejuízo e ainda sai como inocente? Existem as regras, a Lei, eu tenho de obedecê-las todos os dias, independentemente do seu desconhecimento, pois, não posso cometer um crime e depois dizer que não sabia da Lei afirmar sobre a conduta ser declarada como tal (ilegal) e ainda almejar a liberdade plena de responsabilidade. Mas, para certas autoridades nacionais, o Rei nunca erra.
dou o meu exemplo, sempre fui atrás do conhecimento, mas o mesmo nunca veio até a mim. Durante a minha escola eram greves duas a três vezes ao ano e ficávamos repondo no ano seguinte os atrasos do passado, mas sempre com má vontade dos professores. Quando fui fazer vestibular, se não fosse o “jeitinho brasileiro” dos professores em aprovar os melhores alunos, eu teria de fazer ainda provas do nível médio para somente depois participar da disputa por uma vaga na universidade. Para piorar a qualidade do conteúdo ministrado foi horrível e eu não dispunha de família com um mínimo de educação de berço para saber para que lado correr. A informação dada pelos professores era mínima, mesmo aos apelos constantes era mais interessante a eles falar da importância da nova greve do que responder quanto ao nosso futuro que, por sinal, é o futuro deles também.
sem rumo corríamos muitas vezes atrás do caminho errado, para piorar as famílias sem cultura e muito miolo mole em religião começam a criticar essa coisa de ficar 4 ou mais anos estudando para o quê? Tanto tempo sem trabalhar é coisa de vagabundo!!! Mas pesquisador com competência técnica não se fabrica do nada, demora muito. Professor de universidade não costuma ter paciência para educar, são poucos os que se esforçam e a depender do curso você precisa ter todo o conhecimento do nível médio na cabeça. Mas veja, algo tão fácil como o conteúdo de nível médio comigo e os meus colegas na época não foi ministrado como deveria, era muito fácil, mas nos deixaram sem acesso e eu fui atrás aprender por conta própria. Enquanto tentava aprender o meu prejuízo só crescia, a universidade não lhe dá a mão para educar conteúdo de nível médio e tive de amargar duras críticas por conta de meu parco rendimento à época.
nesse país a nossa cultura é de apontar o dedo e rir da deficiência alheia. Mas quando comecei a melhorar e compreender o conteúdo da universidade, tentei demonstrar para vários professores que detinham a tal bolsa-livro, mas muitos me olhavam com ar de descrédito e ainda me lembro de um deles que imaginou que eu seria apenas um idiota incapaz de compreender o funcionamento de um gerador de plasma, veio com sua fala técnica e eu respondia corretamente sobre o funcionamento da máquina, mas no lugar da bolsa eu ganhei um olhar assustado, esbugalhado e totalmente boquiaberto do grande mestre.
lá dentro a coisa é diferente da teoria e da publicidade dos políticos. O estudante em certas áreas terá de lutar muito e fazer por amor ou analisa o mercado e foge enquanto tem tempo. Vi muitos colegas meus fugirem, meu maior erro foi insistir em um meio onde não há uma política de valorização. Somente aqui a ciência é vista como algo ruim, pessoas acham que remédio vem da mágica.
não é à toa que o país está em crise e nunca sai dela.
Infelizmente, é essa a realidade!
Egito,
Seu desabafo foi preciso e descreve a experiência de milhares de brasileiros que querem correr atrás do conhecimento e simplesmente esbarram nestes obstáculos. Por isso eu disse que é uma questão de cultura, muitas vezes difícil de contornar. Esta mudança de cultura vem da própria comunidade técnico científica. Hoje um engenheiro brasileiro, se tiver a oportunidade, prefere um emprego estável numa multinacional, muitas vezes sem grandes desafios, do que se arriscar numa empresa trabalhando com algo novo, sem garantias de sucesso. Isto vale para um pesquisador acadêmico que não vai se arriscar se posicionando contra o sistema instalado, com receio de perder as verbas de que tanto precisa. O mais preocupante é que este processo de distanciamento da pesquisa básica e dos avanços tecnológicos começa a ocorrer nos grandes centros, pressionado pela necessidade de resultados rápidos cobrados pelos investidores.
O que eu defendo é colocar as pessoas certas nos lugares certos. Esta cultura, muito bem apontada por você, do desdém pelo resultado alheio, muito comum entre nós, tem de mudar radicalmente. Quem é medíocre sempre vai desmerecer o trabalho alheio e nunca vai incentivar aquele que pode superá-lo.
Salvador essa é uma forma indireta de detectar planetas correto? Sempre fico confuso ao ler sobre esse tipo de forma de detecção através do “bamboleio” da luz, e essa discussão dos “falsos positivos”, pois se é feita a detecção, não é possível uma confirmação direta, apontando um telescópio tipo o hubble ou logo mais com o james webb ?
Eder, não conseguimos ainda detectar planetas diretamente, salvo em circunstâncias muito especiais (em que eles sejam novos e estejam bem distantes da estrela). Então, seja pela técnica do trânsito (usada pelo satélite Kepler), seja pela velocidade radial (o bamboleio), a detecção é indireta. Por isso até a importância de usar as duas técnicas para confirmar uma descoberta — aumenta o grau de segurança. Mas nem sempre é possível.
Existe alguma foto real de um planeta fora do nosso sistema solar?
Existem algumas poucas, mas eles não parecem mais que pontos de luz indistintos. Veja isto: http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2015/01/13/uma-olhada-noutros-planetas/
Foi fantástico revisitar esse seu post! Sinceramente, o Mensageiro Sideral merece uma coletânea em livro (eBook, claro!) 🙂
Já pensei nisso. Mas só pensei mesmo. Estou tão atolado com outros projetos de livro que esse vai ficar para 2016! A gente chega lá! 😉
Mas perelá Salva, vai dizer que AINDA tem mais livros nos seus planos? Já contei dois esperando chegar a luz do dia este ano… mais surpresas nos esperam ? 🙂
Estou terminando um, quero atualizar o “Rumo ao Infinito” e vou terminar outro no segundo semestre. 😛
Muito me impressiona o Radoico preferir os ebooks. A imagem que ele passo de um comentarista refinado e culto à moda antiga, sempre imaginei que jamais abriria mão de um bom e velho livro de papel 😛
Ah, compreendi, achava que existia alguma forma direta, através do hubble, ou desse novo telescópio que sera lançado o james webber!
Se quisermos um planeta parecido com a Terra, ou seja uma massa parecida em torno de uma estrela semelhante ao sol com uma órbita parecida à da Terra só temos, durante muito tempo, a técnica espectroscópica. Mesmo sem considerar a atividade estelar teremos que detectar um sinal/ruído, na melhor hipótese, com o Harps de apenas 4 num período próximo a 1 ano. Ou seja, uma detecção razoavelmente positiva necessitará uns 3 anos de observação com muitas observações por ano. Acho até que a atividade estelar numa estrela similar ao Sol pode vir a ser o menor dos problemas (e acho que dará para resolver).
Assim esperamos, Beto. E três anos até que é um tempo pequeno, considerando que estivemos esperando os últimos 400 por outros planetas fora do Sistema Solar. 😉
Abraço!