O primeiro exoplaneta brasileiro

Salvador Nogueira

O ESO (Observatório Europeu do Sul) escolheu o dia seguinte à passagem da primeira espaçonave enviada da Terra por Plutão para anunciar a descoberta do primeiro exoplaneta brasileiro. Parabéns.

Concepção artística do planeta HIP 11915b, um gêmeo de Júpiter. (Crédito: ESO)
Concepção artística do planeta HIP 11915b, um gêmeo de Júpiter. (Crédito: ESO)

Isso significa que talvez você não dê a devida atenção a quão incrivelmente importante é esse resultado, mas faça um esforço (prometo trazer mais informações sobre Plutão daqui a pouco, quando a Nasa irá divulgar imagens feitas durante o sobrevoo histórico).

Vamos agora viajar até HIP 11915, uma estrela que é literalmente uma gêmea do Sol — mesma idade, mesmo tamanho, mesma composição. E lá, o grupo internacional de astrônomos liderado por Jorge Meléndez, da USP (Universidade de São Paulo), encontrou um planeta que também parece ser um gêmeo de Júpiter — mais ou menos o mesmo tamanho e a mesma órbita que o nosso vizinho aqui do Sistema Solar.

Se você acompanha esse negócio de busca por planetas fora do Sistema Solar, talvez não seja algo que você considere extraordinário. Afinal, quem se importa com gêmeos de Júpiter? Queremos gêmeos da Terra, certo? Bem, aí é que está. As duas coisas extraordinárias desse trabalho é que, em primeiro lugar, os cientistas previram que acabariam encontrando um gêmeo de Júpiter em uma amostra limitada de estrelas (cerca de 60, todas muito parecidas com o Sol). Isso, ninguém tinha feito antes. E, em segundo lugar, eles apostam que o melhor jeito para encontrar gêmeos da Terra é procurar sistemas planetários que sejam parecidos com o nosso — e isso passa por ter um Júpiter no lugar certo, por assim dizer.

“Isso tem sido uma descoberta bem recente envolvendo dois grupos independentes, um americano e um europeu e brasileiro”, disse Meléndez ao Mensageiro Sideral. “Ambos os grupos têm mostrado por meio de simulações que a presença de Júpiter é fundamental para termos uma arquitetura similar à do nosso Sistema Solar: planetas rochosos internos e planetas gigantes externos.”

Com o avanço de sua linha de pesquisa, Meléndez acredita que possa encontrar a “receita” para sistemas planetários do tipo solar, de forma que se possa prever, de antemão, em que astros temos maior chance de encontrar réplicas da nossa Terra. “Acho que uma continuação de nosso trabalho vai permitir afirmar que de fato um Júpiter gêmeo implica planetas internos rochosos. Ou seja, se mais observações indicarem que o nosso sistema [HIP 11915] de fato não tem superterras ou mininetunos [mundos comuns em muitos sistemas, mas ausentes no solar], isso estaria de acordo com as previsões teóricas e deixaria o caminho aberto para a existência de outras Terras nesses sistemas.”

O resultado positivo também realça a importância da entrada do Brasil no ESO, iniciativa iniciada em 2010 que foi recentemente ratificada pelo Congresso Nacional. Pesquisas como essa, com exoplanetas, estão na fronteira da ciência, mas normalmente exigem muito tempo de observação. Para o gêmeo de Júpiter completar uma volta em torno de HIP 11915, ele precisa de cerca de 10 anos! (O nosso leva 11 anos para circundar o Sol.) No ESO, os projetos brasileiros não só têm acesso aos melhores equipamentos do mundo para a busca por planetas em solo (no caso, o espectrógrafo Harps, instalado no observatório de La Silla, no Chile) como também podem conseguir tempo suficiente para observação, uma vez que o projeto é julgado pelo mérito e não sofre com as limitações de uma cota específica de tempo destinada ao país de origem do pesquisador.

Mais informações sobre esse achado fascinante, publicado no periódico “Astronomy & Astrophysics”, vêm depois de Plutão, na Folha de amanhã.

Acompanhe o Mensageiro Sideral no Facebook e no Twitter

Comentários

  1. Ola Salvador

    Como este processo é feito? Seria o uso de software de tratamento de imagens ou modelagem matemática?
    Obrigado!

      1. Para eles poderem identificar um planeta do tipo Jupiter, como este processo é feito? Iimagino se tratar de apenas um ponto de luz bem tenue observado em condições muito boas; as oscilações medidas são tratadas com modelos matematicos ou detectadas por softwares de tratamento de imagem?

        1. Eles nem “enxergam” nada. Medem o efeito gravitacional do planeta sobre a estrela, que se reflete em distorções na própria luz emitida pelo astro central.

          1. OK, mas vc saberia se esta medida do campo gravitacional seria feita usando um modelo matematico?
            Obrigado!

          2. Nada sofisticado. Só as leis de Kepler, descobertas no século 17. (Não por acaso, o satélite caçador de planetas da Nasa se chama Kepler.)

  2. Já está mais do que comprovado que é só dar as ferramentas e os recursos que os cientistas brasileiros fazem coisas espetaculares.

    E aí, governinho de quinta categoria, vai ou não investir em Ciência? É para o bem geral de todos, seus idiotas!

  3. Salvador, com os novos supertelescópios extremamente grandes, com espelhos de mais de 30 metros de diâmetro, seria possível observar diretamente planetas de tamanho similar, ou pelo ao da Terra, ou menos maiores, orbitando outras estrelas?

  4. Salvador, você poderia explicar hora dessas com seu jeito empolgante e didático algo sobre essas classificações de planetas (superterras, mininetunos, gasosos, etc). Até procurei sobre “mininetunos”, mas as informações disponíveis não saciaram minha curiosidade hehe. Um abraço!

    1. Claro! Só uma palhinha: no Sistema Solar, temos dois tipos bem diferentes de planeta. Gigantes gasosos de um lado (dos quais Netuno é o menor) e rochosos de outro (dos quais a Terra é o maior). E nada intermediário. Contudo, lá fora, achamos vários planetas com tamanho intermediário. Alguns deles devem ser rochosos mais avantajados (superterras) e outros devem ser minigigantes (!) gasosos, ou mininetunos. Ao que parece, a divisa entre um e outro está ao redor de 1,5 diâmetro terrestre.

      1. Salvador, aproveitando essa sua palhinha, me tira uma duvida> por que os planetas rochosos são sempre os mais pertos do Sol???

        1. Porque quando eles estão se formando a estrela já soprou, com o vento estelar, todo o gás do disco que dá origem aos planetas. 😉

      1. E vo cê a cha que dar es pa ços vai en ga nar o mo de ra dor? E le é hu ma no, não uma má qui na.

        1. Tai Salvador. Quando uma máquina conseguir decifrar este tipo de comentário terá superado a inteligência humana!

      2. Eu leio a Bíblia. Eu também acompanho este blog com muito interesse. Penso que se você estudar um pouco mais de ambos irá deixar de os posicionar em extremos teóricos ou teológicos. No mínimo, um pouco de argumentação crítica faz bem até a mais estúpida das ideias.

  5. salvador,

    na busca de exoplanetas gemeos à terra significa que os astronomos anseiam encontrar um planeta, entre outras coisas, com uma composição de gases semelhante aos da terra pra chamarem de 2ª casa, ou um planeta, respeitando sua historicidade, seja capaz de suportar vida mesmo que em condições adversas à nossa habitabilidade?

    1. Yuri, acho que tudo isso. Queremos saber o nosso contexto no Universo. Isso significa saber quão comum é o nosso planeta, o nosso sistema solar, nossas formas de vida, e quais são as possibilidades. E o que estamos descobrindo é maravilhoso. O Universo é muito mais criativo que a gente. 🙂

        1. Correção da correção: eu estava certo. 🙂
          Acabei de falar com o autor, o Jorge Melendez, e ele me disse que são cerca de 57 parsecs — ou aproximadamente 186 anos-luz. Arredondando, os 200 mencionados.

  6. Essa abordagem é muitissimo interessante na busca por planetas similares ao nosso, porém não sei se uma composição solar com um “jupiter” a uma mesma distancia desse sol poderia ser determinante para o surgimento da vida em um eventual planeta rochoso mais interno.

    Levando em consideração que na Terra uma simples inclinação do nosso planeta é capaz de congelar ou derreter a água liquida, influenciando enormemente no tipo da flora e da fauna capaz de sobreviver nessas regiões de maiores latitude, imagine então uma simples posição de órbita de apenas alguns milhares de kilometros desse planeta, seja estando mais próximo ou mais afastado da sua estrela, no que isso poderia acarretar nesse planeta rochoso.

    Acho que enquanto não houver um telescópio realmente capaz de enxergar mundos rochosos como o nosso, todo e qualquer sistema solar é sim um potencial lugar para se achar a vida. Afinal o tamanho da estrela é determinante para se dizer onde está a zona habitavel, porem ter um “jupiter” como o nosso é apenas uma pequena parte da equação.

  7. Angustiado e muito, mais muito ansioso por noticias de Plutão. Meu caro Salvador, cá entre nós, se tiver alguma coisa de muito extraordinária que a Nasa possa por ventura descobrir em Plutão, vc acha que eles revelariam a humanidade, ou esconderiam? Seja sincero!!!!

    1. Ai que vergonha alheia de pergunta.
      Salvador Nogueira não é um idiota youtuber conspiracionista amigão.

      1. Acho a pergunta honesta. Se a exploração espacial estivesse aos cuidados da CIA, a resposta seria outra. 😉

        1. Sim, tão honesta a pergunta como:
          1- Porque o homem nunca voltou a lua
          2- Porque a nasa esconde fotos do lado escuro da Lua
          3- Porque a Nasa edita as fotos de Marte escondendo ruinas de civilizações antigas.
          Etc.

          Mas vc esta certo, tem que ser gentil com seus leitores

          1. 1- Porque é caro. Se você pagar, até eu vou. A tecnologia está aí, para todo mundo ver. Os chineses pousaram na Lua esses dias com um jipe. Para levar gente, basta uma nave maior, um foguete maior e os sistemas já em operação, por exemplo, na estação espacial internacional. Falta só a grana.
            2- Não esconde. Você é que não procurou. Eu já cansei de ver o lado afastado (não escuro, porque bate Sol lá regularmente) da Lua, em altíssima resolução. Aliás, a primeira foto do lado afastado é de 1959, de uma sonda soviética Luna.
            3- Não edita. Quem edita são os que dizem que há ruínas em Marte. Muitas vezes uma edição “benigna”, como aumentar contraste ou ampliar além do limite da resolução da imagem. Mas ainda assim, as imagens cruas da Nasa são todas disponibilizadas no site. Diariamente. É só olhar.
            Abraço!

          2. Amigo Salvador, as perguntas eram retóricas.
            Eu sei as respostas das perguntas, apenas simulei pergunta idiotas feitas por pessoas com pouco interesse em se informar, e saem falando bobeiras pela internet

          3. Agora a pergunta da moda é “por que nas fotos da New Horizons não aparecem estrelas ao fundo? #NASAMENTE”

            KKKK

        2. E so lembrando que a Nasa responde aos interesses do governo Americano, não está acima deles, e jamais teriam autonomia própria para soltar informações a qual o governo estadounidense o considerasse perigoso a segurança, hegemonia do país.
          Ao falar o que acabou de falar, sim, você está afirmando que a Nasa, também o faz, pois a mesma jamais ia the contramão aos interesses de Washignton.
          Resumindo:
          Washignton: Nasa, vou lhe liberar a verba para a sonda, quando chegar a plutão libere fotos ao publico apenas de rochas, montanhas e crateras, qualquer coisa além disso, primeiro nos informe, e decidiremos o que fazer.
          Nasa: Sim senhores.
          Fim 🙂

          1. E qual é o interesse de Washington em esconder algo em Plutão, onde até a luz leva 5 horas pra chegar. Estou curioso… rs

          2. Sim, podem esconder a existência de aliens, a existência de ruínas de civilizações avançadas pra que só eles saibam como funcionava e manter sua hegemonia no mundo…

          3. …e eles podem querem manter segredo de alguma supercivilização que foi extinta e estudar as ruínas dela e aprender novas tecnologias…

          4. Tá vendo o desfavor que o History Channel faz ao mundo ao fomentar a imaginação das pessoas com histórias de conspiração alienígenas e governamental?

            Sim, depois do troll cristão que usa o espaço do blog para doutrinar os leitores, temos o troll conspiracionista que acha que o governo dos EUA é a MIB do filme Homens de Preto.

    2. Não vão revelar porque não vão achar COISA NENHUMA naquele ridículo e desértico planeta anão!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

  8. Salvador,

    Como ficou aquela história da presidente ter ou não que sancionar o acordo com o ESO? Estamos definitivamente dentro do projeto ou ainda falta alguma assinatura?

  9. Salve Salvador!
    Notícias dos pontos brancos de Ceres?
    Só se fala em Plutão nesses dias… :-p

  10. Ualll! Tenho acompanhado por um bom tempo as descobertas de exoplanetas, e fiquei muito feliz com essa descoberta pela equipe brasileira.
    Quem sabe seremos brindados com uma Terra gêmea nesse sistema 🙂

    Por fim, parabéns aos astrônomos brasileiros que, com muita competência, tem mostrado um trabalho de primeira.

    Dica: para quem curte esse assunto tem um app muito bom, chama Exoplanet e é desenvolvido por Hanno Rein. Sempre trazendo as novas descobertas e com muitos detalhes. Tenho a versão para IOS, mas deve ter para Android também. Fortemente recomendado.

  11. Parabéns pelo blog! Acompanho há pouco tempo, mas já me tornei assíduo.
    Não sei se já existe post sobre isso, mas (aproveitando que o post trata de padrões de sistemas solares) você saberia dizer se existe alguma explicação para as “faixas” de planetas, p.e., até uma determinada distância do sol, os planetas são sólidos. A partir dessa distância, são gasosos e, após voltam a ser sólidos. Há alguma coisa nesse “faixa de planetas gasosos” que condicionem qualquer planeta a ser gasoso? Valeu!!!

    1. Planetas gasosos só podem se formar mais longe da estrela, onde dá tempo para juntar o gás, antes que a estrelas nascida sopre tudo.

  12. Para uma sonda chegar ” mais rápido ” no exoplaneta mais perto do sistema solar existe algum propulsor melhor para próximas sondas e quanto anos levaria?

    1. não, a sonda que viajou até Plutão usou um impulso da gravidade de Júpiter através do tangenciamento da órbita, mas nem usando o Sol para ganhar velocidade seria possível atingir uma velocidade suficiente para chegar em outro sistema solar.

      supondo que fosse possível atingir a velocidade da luz com uma sonda, ainda seria preciso um mecanismo de redução de velocidade, pois, no espaço a velocidade do objeto se mantém constante devido a falta de atrito, exceto se a sonda passar por uma densa nuvem de gás, mas aí ela corre o risco de se arrebentar porque à velocidade da luz uma colisão permite liberar muita energia, conforme mostra a equação:

      E=mc²

    2. Atualmente é impossível, demoraria muito tempo mesmo que a sonda estivesse viajando na velocidade da luz…

    3. Salvador, deixo a sugestão para uma matéria sobre essa questão do limite da velocidade da luz (não sei se já foi feita, não que eu tenha visto).

      Qual a importância desta “regra básica” da física? Tecnologia x física (porque não conseguimos viajar nesta velocidade ou mais rápido)? Questionamentos sobre esse limite da velocidade da luz.

      Abraço!

  13. Super importante essa noticia pra nós brasileiro, mas Salva tô aqui me remoendo de curiosidade de ver as fotos de Plutão.

      1. oooooops! Salvador, estou acostumado a assistir filmes com legendas. logo, minha vista automaticamente vai para o pé da imagem. Reclamação: esses filmes não têm pés!

        1. Era só ativar o CC (Closed Caption). Ok que a “legenda” é em inglês, mas que tem legenda, tem! rs

  14. Salvador, existe algum estudo teorico sobre o impacto de campos gravitacionais mais fortes ou mais fracos no desenvolvimento de vida, e potencialmente vida animal macroscopica? Me explico. Imagino que nenhum “gemeo” da terra quando encontrado tera exatamente os mesmos 9,8ms2 da terra por diferencas em massa, densidade tamnho etc, assim como existe uma goldilock zone para a orbita manter agua em estado liquido nao existiria algo similar na gravidade para que estruturas mais complexas macroscopicas possam prosperar?

        1. Não experimentamos o suficiente. Sabemos que gravidade absurdamente grande é ruim para nós, assim como absurdamente pequena. Não sabemos qual o intervalo seguro, sobretudo a longo prazo.

        2. Luiz,
          Se vc vivesse ‘ad eternum’ sob baixa gravidade, ou sob alta gravidade, seu corpo estaria adaptado a esta gravidade. Assim, imaginemos que vc viva sob baixa gravidade, vc só teria problemas se viesse pra Terra e se submetesse à gravidade terrestre!
          Analogicamente, vejamos a questão da pressão atmosférica: os que vivem próximo à linha do mar estão a 1 ATM, já os que vivem no alto de montanhas vivem a 0,7 ATM por exemplo. Vivemos felizes, até o momento que experimentamos trocar de lugar! Ou seja, se o organismo está adaptado a determinada pressão ou gravidade, nada de mal lhe acontece!
          Como desconhecemos (ainda) outros tipos de vida, que não a terrestre, impossível determinar se existe limite e quais são os valores aceitáveis para a vida!
          abs,

          1. Correto! E você me lembrou dos seres que vivem nos abismos oceânicos da Terra, em que a pressão é muitas vezes maior que a pressão atmosférica e eles lá estão, felizes.

            A vida sempre dá um jeito, adapta-se!

            Essa questão da vida sob altíssimas forças gravitacionais é abordada no livro de ficção científica “Dragon’s Egg” escrito pelo físico Robert L. Forward. Excelente livro, por sinal, recomendo.

  15. Uma bela notícia na busca por vida fora da Terra enquanto a NASA utiliza o photoshop para apagar os ETs de Plutão antes de revelar as imagens. Hehehe brincadeira!

Comments are closed.