A destruição iminente de Fobos

Salvador Nogueira

Um novo estudo mostra que a gravidade de Marte está destroçando uma de suas duas luas. Em mais alguns milhões de anos, ela será completamente destruída, e o planeta vermelho terá apenas um satélite natural, assim como a Terra.

Fobos, a lua condenada, fotografada pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter (Crédito: Nasa)
Fobos, a lua condenada, fotografada pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter (Crédito: Nasa)

O trabalho, liderado por Terry Hurford, do Centro Goddard de Voo Espacial da Nasa, mostrou que uma série de ranhuras presentes na superfície de Fobos, a mais interna das duas luas marcianas, é produto de estresse gerado pelo efeito de maré do planeta sobre o pequeno satélite. Esse fenômeno, em mais alguns milhões de anos, irá despedaçá-lo por completo.

Diferentemente da Lua terrestre, os dois satélites naturais de Marte não são corpos celestes esféricos e grandes. São meramente pedregulhos espaciais, que mais lembram asteroides que qualquer outra coisa. Há até quem defenda que eles sejam de fato asteroides, que acabaram capturados pela gravidade de Marte e convertidos em luas. Mas também não se descarta a possibilidade de que Fobos e sua parceira Deimos tenham se formado ali mesmo, resultado de um impacto violento no planeta no passado remoto — mesmo mecanismo que teria dado origem à nossa Lua.

De todo modo, uma coisa que já sabíamos é que o tempo de Fobos no Sistema Solar já está no fim, em termos astronômicos. Ele orbita a apenas 6 mil km da superfície de Marte (um sexagésimo da distância Terra-Lua) e está se aproximando cada vez mais, quase dois centímetros por ano. Estima-se que, em 100 milhões de anos, Fobos, com seus cerca de 22 km de diâmetro, vá se despedaçar e então despencar sobre Marte.

O que ninguém ainda tinha noção é de que esse processo já começou. Conforme sua órbita vai decaindo, a força gravitacional imposta pelo planeta vermelho sofre variações que esticam e puxam o satélite natural. O resultado é, de início, as ranhuras observadas na superfície.

Foi o que demonstrou o novo trabalho, apresentado ontem em reunião da Sociedade Geológica da América. Ele construiu um modelo da estrutura interna de Fobos — que, ao que parece, é composto por um agregado de pedregulhos soltos, mantidos reunidos apenas pela força da gravidade, sobrepostos por uma camada de solo. O estudo mostrou que o estresse de maré causado por Marte produziria exatamente as mesmas ranhuras que são observadas em imagens obtidas por sondas.

Ou seja, a destruição da maior das luas de Marte já começou. Agora é correr para visitá-la antes que ela suma. Mas não se preocupe. Nos planos que a Nasa está desenvolvendo para missões tripuladas ao planeta vermelho, há uma grande chance de que isso aconteça. Antes de um pouso em Marte, que seria mais complicado, uma missão precursora poderia levar astronautas à superficie de uma das luas marcianas — possivelmente Fobos.

Deimos, menor, com seus 12 km, e mais afastado, a cerca de 20 mil km da superfície de Marte, está seguro para o que der e vier nos próximos bilhões de anos.

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Comentários

  1. Com a queda de fobos não vai aumentar a gravidade de Marte, já que ambos se tornarão um?
    No documentário “Cosmos: Space time Odissey” diz que a outra lua, deimos, está se afastando como a lua terrestre, confirma?

    Abraço

    Rafael

    1. Sim, Deimos está se afastando. E a gravidade de Marte não vai aumentar apreciavelmente. Fobos é muito, mas muito, mas muito menor.

  2. Salvador,

    apesar das distâncias relativamente curtas, é possível a visualização de Fobos e Deimos a partir da superfície de Marte, dados os diminutos diâmetros das luas (22 e 12 km)?

    Abs!

  3. Salvador,
    supondo que este evento acontecesse na terra, seria outra extinção em massa? Uma vez que você comentou mais abaixo que ele não deverá cair de uma vez só.

  4. Que pena, Mark Watney não conseguirá mais se orientar 😛

    Salva, é Fobos que é feito de um material quase irreflectível?

    1. Fobos tem a mesma aparência externa de alguns asteroides. Não acho que seja quase irreflectível, mas certamente brilha bem menos que as luas geladas do Sistema Solar.

    1. Provavelmente vai alimentar ainda mais a massa com insinuações sobre a possível existência de vida em Marte. Já se foi o tempo em que a NASA era uma instituição respeitável.

      1. Not a word. Exceto, claro, a óbvia afirmação de que tudo faz parte de montar o quebra-cabeça de Marte e compreender sua habitabilidade passada. Mas, não, ninguém falou de evidências de vida em Marte. Aliás, a Nasa é muito cuidadosa com isso, desde as Vikings…

  5. Tempos atrás ví um documentário em que numa possível missão a Marte seria mais tranquilo pousar em Fobos porque a força gravitacional é menor e dalí dar um “pulo” no planeta vermelho.

  6. Para meus olhos de leigo essa “lua” teve um abalroamento de raspão em algo que deixou aqueles arranhões e amassou a “frente”.

    1. Os arranhões são justamente o produto do estresse de maré, segundo esse novo estudo.

  7. Imaginava ver por aqui algum artigo a respeito da filmagem do Sol em 4k que a NASA divulgou. Não havia muito que acrescentar além do vídeo? rs

    Valeu e parabéns pelo blog!

    PS: Ah, uma versão mobile seria bem vinda! rsrs

    1. Pois é. A versão mobile está em desenvolvimento, segundo me informa a Folha. Aguardemos. 😛

  8. Boa tarde Salvador,

    A humanidade poderia instalar foguetes em Fobos para que seja arremessada em direção a Marte. Isso causaria um impacto suficiente para aquecer novamente o planeta, reativando seu núcleo criando um campo magnético capaz de proteger a atmosfera.

    Aonde vendo esse plano pra Nasa? rsrs

    1. Apostaria que jogar Fobos em Marte congelaria ainda mais o planeta, após o inverno nuclear causado pelo levantamento de poeira do impacto. A não ser que o impacto fosse no polo, derretendo gelo e colocando-o na atmosfera. Mas como Fobos está numa órbita equatorial, ia ser dureza fazer isso… 😛

  9. Salvador, não dá pra soltar um balão em Marte e ele ir fotografando, aleatoriamente, é verdade, mas daria mais velocidade e emoção, não? Mais rápido que tratores e iria “onde o vento me levar”.

  10. Salvador,
    Porque seria mais complicado pousar em Marte do que em Fobos ou Deimos, sendo que todos estão praticamente na mesma distancia e oferecem a mesmas Geológicas?

    1. Oswaldo, Marte tem uma gravidade bem maior, o que significa que, para decolar de lá, a coisa é bem complicada. E o planeta também tem atmosfera, que oferece desafios adicionais na travessia do chão e até o chão. Já Fobos ou Deimos seriam como visitar um asteroide — a gravidade é pequena, de forma que um módulo para pouso lá poderia ser bem mais simples e a decolagem seria igualmente livre de grande esforço.

  11. Salvador, e a história da foto deste satélite em que encontraram uma estrutura rochosa enorme e pela simetria parecia ser feita artificialmente, não encontraram uma resposta para isso?

    1. Não existe isso! Aliás, há vários hoaxes muito legais sobre Fobos, a começar por um 1o de abril de 1959, em que se espalhou que Fobos em si fosse um satélite artificial. Infelizmente, nada disso era verdade! 🙂

  12. Incríveis essas distâncias tão pequenas de Fobos e Deimos a Marte! Da superfície devem parecer relativamente grandes como nossa Lua, apesar de bem menores.

    Agora, Salvador, essa “destruição iminente” enganou até a mim, que já estou acostumado com os intervalos de tempo espaciais. 🙂

    1. É, é iminente do ponto de vista do Sistema Solar, não dos pobres humanos de vida curta. rs

    2. Rodoico, uma pitada de alarde para atrair o leitor sempre ávido por notícias espetaculares. rsrs

  13. Salvador,
    Isso não põe em risco qualquer missão tripulada pra lá? Concluir que o terreno é instável e que está “caindo” no planeta não indica que o local deixa de ser “seguro?

  14. Na verdade, Fobos está a meio caminho de atingir o chamado “limite de Roche” (O quanto um corpo consegue se aproximar de outro com densidade diferente, sem se fragmentar) e, possivelmente, os detritos não devam cair por sobre Marte, durante a fragmentação. Existe a possibilidade de um anel inclinado, quando “preso” por uma ressonância. O que seria fantástico, o futuro de Marte se confundindo com o passado terrestre… Demais!

    1. Há dois desfechos possíveis, um anel ou a queda do material. Desconfio que teremos o primeiro, seguido pelo segundo.

  15. Fascinante… espero que não haja colonos em marte daqui há 100 milhões de anos.

    Salvador, a queda de um pedregulho de 22 km poderia mudar drasticamente a paisagem natural de Marte?

    1. Sem dúvida! Mas ele não vai cair inteiro. Vai se despedaçar antes. E possivelmente formar um anel antes que os detritos, pouco a pouco, caiam sobre Marte.

      1. Um anel em Marte!!! Isso é mais fascinante ainda!!! \o/

        De alguma forma, isso me lembra Iapetus, uma lua de Saturno. Iapetus sofreu um processo semelhante, salvo engano. Os detritos que formavam um antigo anel sobre Iapetus caíram na sua superfície há alguns milhares de anos atrás e acabaram dando origem a uma cordilheira que rasga todo o equador da lua, conferido a ela um formato de noz.

        http://i.space.com/images/i/7558/original/050111_iod_iapetus_04.jpg?1294512127

        No entanto, Marte é muito maior, acredito que o seu equador ficará salpicado de crateras.

        🙂

  16. Olá Salvador. Se uma civilização avançada lançasse uma nave como a Viking e a enviasse ao espaço haveria a possibilidade de acordo com a tecnologia atual poder rastreá-la? E qual raio de ação poderíamos identificá-la? No nosso sistema solar, nas cercanias da Terra? Ab

    1. Walmir, seria bem complicado, porque as antenas de alto ganho dessas sondas precisam ser apontadas para a Terra de forma a captarmos o sinal. Uma sonda alienígena não teria por que apontar sua antena para a Terra. Restaria o sistema de comunicação passivo, com sinal muito mais fraco, que só poderíamos detectar com os maiores radiotelescópios e ainda assim se soubéssemos para onde apontar. Não seria nada fácil. Altamente improvável.

  17. Oi Salvador,

    Bom Dia !

    Tem chamada da Nasa para mais uma divulgação bombástica sobre Marte hoje. Parece que a agencia partiu mesmo para um marketing mais agressivo em busca dos preciosos dólares de que precisa.

    Sabe algo sobre o anuncio de hoje ?

    Abraços

    1. Sei, e sei que não é bombástica, nem a Nasa disse que era. É apenas importante e diz respeito à perda da atmosfera marciana (resultados da sonda Maven). A imprensa é que tem gostado de fazer oba-oba toda vez que a Nasa convoca uma coletiva… Abraço!

    1. Leandro, você é o terceiro a me apontar a matéria, mas o primeiro a apontar o paper! Obrigado! Mas veja que o próprio articulista diz que não pode descartar ruído deixado pela própria Via Láctea na radiação cósmica de fundo (mesmo efeito que alvejou a confirmação da inflação cósmica no ano passado!). Acho interessante, mas beeem especulativo. Quem sabe em breve falo sobre isso? Abraço!

    1. Para ser completamente honesto, escrevi no fim da noite, mas deixei para postar só de madrugada para ter a data de hoje e não sofrer preconceito de velhice na hora de vender a história para as homes do UOL e da Folha. (Infelizmente, contudo, o UOL não tem chamado mais o blog, por não ter versão para celular.)

  18. Esse portal ocasionou medo. Se levarmos em conta que 100 milhões em astronomia é nada, dentro em breve nos privaremos das marés marcianas e, pior, caso a lua despenque sobre marte ocasionará a extinção de toda vida existente.

    1. A lua vai se despedaçar antes de cair. Duvido que ofereça algum risco a eventuais ecossistemas marcianos subterrâneos. (Pancadas com asteroides de grande porte ocorrem em frequência similar a 100 milhões de anos e, pela experiência da Terra, sabemos que eles não são capazes de extinguir vida microbiana de forma substancial!)

      1. Salva, dentro do que postulamos no post anterior, talvez o Wadinho seja o Wadão pós-Lexotan.

        (putz… postular em um post é dose!).

        1. Não se apoquente MC, o diminutivo gosta de apertados, o maiúsculo dos mais flácidos.

      2. Salvador, conseguiu extinguir minha fobia incauta e inculta, estava deveras preocupado com as vidas que, provavelmente, nossa amada NASA, ainda semeará nesse imenso e inóspito planeta.

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