Astronomia: Tá chovendo lixo!

Salvador Nogueira

Qual é a chance de um pedaço de lixo espacial, como o que caiu na sexta, despencar na sua cabeça?

Pedaço de lixo espacial que reentrou na atmosfera da Terra na sexta-feira (Crédito: Nasa)
Pedaço de lixo espacial que reentrou na atmosfera da Terra na sexta-feira no Sri Lanka. (Crédito: Nasa)

PANCADA COM AVISO
Descoberto em 2013, um pedaço de lixo espacial — possivelmente oriundo de uma missão lunar — voltou à Terra na última sexta-feira. Acompanhado pelos cientistas até sua reentrada incandescente na atmosfera, ele caiu no mar, perto do Sri Lanka, sem causar danos. Mas nem sempre rola essa tranquilidade.

CHUVA DE LIXO
Na Espanha, sem alerta prévio, na semana que passou, três eventos de detritos espaciais foram registrados, e objetos remanescentes foram encontrados nas cidades de Mula, Calasparra e Elda. É um lembrete de que é só questão de tempo até que, um dia, alguma dessas tranqueiras vá cair em cima de alguém.

PORQUICE ESPACIAL
A órbita da Terra já é, a essa altura, um enorme lixão. Cerca de 500 mil detritos espaciais são monitorados constantemente pelas agências espaciais. Vão desde satélites desativados até lascas de foguetes, passando tanques de combustível vazios. E, a cada novo lançamento, mais lixo é introduzido no espaço.

O planeta Terra, a essa altura, está cercado por um invólucro de lixo espacial. (Crédito: ESA)
O planeta Terra, a essa altura, está cercado por um invólucro de lixo espacial. (Crédito: ESA)

O AR NO MEIO DO CAMINHO
Os detritos menores em órbita não são problema para quem está no chão. Ao serem dragados pela atmosfera, viajando a velocidades da ordem de 28 mil km/h, eles simplesmente se vaporizam. Mas, quando é um troço grande, aí é questão de fazer figas.

HUBBLE DESGOVERNADO
Um dos maiores dramas será o do Telescópio Espacial Hubble. Quando for desativado, o satélite vai orbitar a Terra descontrolado por alguns anos, até despencar do céu. O detalhe: ele é grande o suficiente para sobreviver à queima. E ninguém sabe onde vai cair.

PLANETA ÁGUA
Por sorte, vivemos num mundo que é três quartos coberto por água. E a maior parte dos continentes representa terreno com baixa densidade populacional. Estatisticamente, a chance de algo cair na sua cabeça é — e continuará a ser pelas próximas décadas — baixíssima.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

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Comentários

    1. Desconheço, mas é possível. Já houve casos de lixo espacial caindo em casas também. Mas em pessoas, felizmente, ainda não.

  1. Boa tarde.

    Todo esse lixo não interfere/prejudica a camada atmosférica ou nos sinais de rádio, telefone, etc?

  2. Sobre o Hubble,
    uma outra agencia não podia querer cuidar dele?, já que ele vai ser abandonado pela NASA mesmo,
    mandar uma missão para reformar ele e continuar usando, seria mais barato que construir um do zero e mandar mais algumas toneladas(a preço de ouro) para o espaço.
    Eu sei que a Nasa tá querendo mandar um telescópio mais poderoso, então seria legal termos outro telescópio lá, temos a India, China , Japão, UE, seria um projeto de baixo custo.

    1. Ele vai ser usado até pifar. Ninguém vai aposentá-lo antes do tempo. O que não temos mais é ônibus espacial para fazer manutenção no telescópio espacial…

  3. Salva, vamos pensar na idade dos fragmentos…

    Se realmente este evento se deu com restos do projeto Apollo (se for dos anos 60, levou mais de 50 anos pra reentrada), imagino que os restos das proprias missões Apollo posteriores e de outras mais recentes estão por vir.

    Chegaremos a um dia onde teremos lixo espacial caindo do céu todo mês, ou quem sabe, todo dia?

    Nesse caso, sim, a chance de cair algo em sua cabeça vai crescer exponencialmente daqui por diante.

    E mesmo que o Hubble caia no mar, o estrago pode ser grande. Lembra do Skylab?

    1. Não é bem assim que funciona. Porque as órbitas não são previsíveis no caso de missões além da órbita da Terra. No caso das órbitas circulares em torno da Terra, se forem suficientemente alta, durarão por milhares de anos…

    2. A queda da Skylab causou preocupação, pois os engenheiros não contavam com a ação do vento solar e a estação teve uma vida útil muito pequena.

      Parece que o caso da MIR foi mais tranquilo, pois havia meios de guiar a queda da estação para um lugar despovoado.

    1. Filme sobre o tema eu não conheço, mas tem um série de mangá e anime chamada Planetes que é sobre um grupo de astronautas que fazem esse trabalho de “gari espacial”. Vale muito apena conferir.

  4. Bela coluna Salvador!

    Já vi essa imagem que você postou, mas não sei se ela realmente representa o que “veríamos” na realidade, lembro de ter lido algo sobre isso, mas não tenho certeza.

    Lendo em outro site ( https://www.curioso.blog.br/post/lixo-espacial-redor-terra/ ), vi que temos uns 16.000 objetos voando por aí, mesmo assim, pelo tamanho da Terra, a imagem seria bem mais “branda”, não? Ou seja, veríamos os objetos bem menos amontoados no que na imagem que você postou…ou não?

    Abraço!

    1. A imagem mostra os objetos fora de escala, evidentemente. Mas é produzida pela ESA e fidedigna. Abraço!

      1. Mesmo fidedigna é listada como concepção artística. para contrastar observem fotos registradas pelo Hubble.

  5. No caso específico do Hubble, não seria adequado que a NASA providenciasse reduzi-lo a pedaços vaporizáveis como citado? Segundo as leis da probabilidade, já que o local da futura queda é incerto, ele até poderia cais na própria Agência, né?

    1. Explodi-lo em pedaços criaria um risco enorme para outros satélites me órbita, a la “Gravidade”. O que já chegou a se discutir é o desenvolvimento de um robô para acoplar com ele e providenciar uma reentrada controlada. Contudo, seria uma missão muito complexa e cara, e por ora não há financiamento para ela.

  6. E a ISS? O dia que essa coisa cair… Pelo que lembro ela já está em sobrevida pelo projeto original… Por falar nisso, e a MIR? Que fim ela deu?

    1. Sim, a vantagem da ISS e da Mir é que você pode controlar a queda… a Mir caiu no oceano, controlada.

  7. Qual o motivo de não colocarem nos dispositivos enviados ao espaço um sistema de auto-destruição? Sobrariam pedaços pequenos que se queimariam.

    1. Porque os pedaços pequenos se tornariam pequenos satélites descontrolados antes de queimar, podendo se chocar com outros satélites, fazendo-os em pedaços também, e transformando a órbita num amontoado de lixo, como no filme “Gravidade”.

  8. Alguém, de preferencia guru em probabilidades, desses que costuma fazer calculo de probabilidades de alguem ganhar na megasena, deveria fazer esse calculo. Eu acho que essa probabilidade é muito maior que alguem ganhar na megasena.

    1. Já eu acho que é menor. Para efeito de comparação, a chance de ganhar na Mega-Sena é de 1 em 50 milhões.

    2. Segundo a Wikipedia, a área total da superfície da Terra é de 510 milhões de metros quadrados.

      Supondo que uma pessoa sentada ocupa um metro quadrado, a probabilidade de cair no colo dela um pedaço de foguete é de 1 para 510 milhões, dez vezes menor que a chance de ganhar na megasena.

      Numa casa comum, num terreno de 100 metros quadrados, a chance é de 1 para 5,1 milhões…

      Com a minha sorte, acho melhor eu não mais ficar sentado quando for à praia… E talvez seja melhor reforçar o telhado! !!! 😛

      Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ordens_de_magnitude_(Área)

      1. Ops, entendendo melhor: a superfície da Terra tem 510 quadrados de 1 bilhão de metros quadrados cada (1 Mm2)

        Então as probabilidades são 1 milhão de vezes menor do que calculei acima…

        Af, me ajudem aí, se consegui ou não entender direito!

        1. 1 metro quadrado estando sentado?! Gordão, hein! Deitado talvez. A probabilidade é de 1 / 5,1 x 10^14 e a de acertar na Megasena é de 1 / 5 x 10^6. Não se preocupem pois, como dizem por ai, nada cai do céu. Exceto se você for uma vaca ou se chama Ann Hodges.

  9. Salvador, lendo sua frase “Estatisticamente, a chance de algo cair na sua cabeça é — e continuará a ser pelas próximas décadas — baixíssima”, me fez lembrar os anos 1990 quando eu vivia no Japão. Não me lembro em qual cidade ocorreu, mas uma casa (sobrado) foi atingida por um meteorito, que quando resgatado tinha o tamanho de um bola de futebol ou pouco maior; na trajetória atingiu e passou o telhado, o piso do andar superior e ao cair no assoalho inferior abriu um buraco na terra com cerca de pouco mais de um metro de profundidade e, acredite na sorte, o proprietário da casa tinha um seguro contra objetos caídos co céu. O fato inédito é que pelo horário do evento o morador já havia se levantado, mas se estivesse deitado seria uma vítima fatal, pois, o bólido teria trespassado o seu corpo já que ele costumava dormir no andar superior exatamente onde passou o asteroide. E dizem que o seguro morreu de velho.

    1. Pois é, tem histórias também de lixo espacial caindo na casa das pessoas, mas até hoje ninguém foi atingido.

  10. Ai Salvador, esse assunto ta me deixando com a pulga atrás da orelha viu! Vou pesquisar tudo o que conseguir sobre isso dentro da minha área…

    1. É um tema legal e bastante atual, sem dúvida! E um problema. Todas as agências espaciais têm centros de monitoramento de lixo… 🙂

  11. Salva, o Hubble não tem thrusters né? É só operado por giroscópios para manter a atitude? Pq seria só um disparo no momento certo para mandar ele para o pacífico…

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