Galileu, Quixote e Poltergeist? Confira os novos nomes oficiais dos exoplanetas!
Saem nomes insossos como PSR 1257+12 c, 55 Cancri b e Mu Arae b. No lugar deles, entram referências inspiradas, como Poltergeist, Galileu e Quixote. Esses são apenas alguns dos 31 planetas que foram oficialmente renomeados pela União Astronômica Internacional, numa iniciativa para dar designações mais palatáveis aos mundos descobertos fora do Sistema Solar.
Os novos nomes foram escolhidos democraticamente por meio de votação da internet, a partir de sugestões dadas por grupos amadores e profissionais de astronomia espalhados pelo mundo.
Embora houvesse algumas sugestões brasileiras, nenhuma delas foi eleita. Ainda assim, o Brasil foi o oitavo país com o maior número de votantes, com cerca de 10 mil participações (1,76% do total). No total, foram aproximadamente 573 mil votos válidos contabilizados pela IAU, vindos de 182 países e territórios.
O país que participou com mais votos foi a Índia, seguido de perto pelos Estados Unidos. Em ordem decrescente, Espanha, Reino Unido, França, Alemanha e Canadá também terminaram à frente do Brasil. Logo atrás de nós, vieram Itália, México, Portugal, Austrália, Turquia e Síria.
O PRIMEIRO, HÁ DUAS DÉCADAS
Entre os exoplanetas que receberam novos nomes está o famoso 51 Pegasi b, um mundo com cerca de metade da massa de Júpiter localizado a 50 anos-luz daqui que teve a honra de ser o primeiro descoberto em torno de uma estrela similar ao Sol, exatos 20 anos atrás. Ele agora se chama Dimidium, e sua estrela-mãe recebeu o nome de Helvetios.
A sugestão vencedora partiu de um grupo de astronomia suíço — e faz justiça aos autores da descoberta histórica, Michel Mayor e Didier Queloz, ligados ao Observatório de Genebra. Helvetios é o nome em latim da tribo celta que vivia na Suíça durante a Idade Média. Já Dimidium significa “metade” em latim e faz referência à massa do planeta, comparada à de Júpiter.
REVOLUÇÃO COPERNICANA
Outro sistema que ficou com nomes muito mais simpáticos foi o da estrela 55 Cancri — que agora é conhecida como Copérnico, em homenagem ao astrônomo que, no século 16, tirou a Terra do centro do Universo e colocou-a em seu devido lugar, como mais um planeta a girar em torno do Sol.
Há cinco planetas conhecidos em torno de 55 Cancri, e eles agora se chamam Galileu (b), Brahe (c), Lippershey (d), Janssen (e) e Harriot (f).
Galileu Galilei (1564-1642) dispensa apresentações (mas, se você faz questão, ele é o pai da ciência moderna e o primeiro “Mensageiro Sideral”). Tycho Brahe (1546-1601) foi o maior astrônomo da era que antecedeu a introdução de instrumentação óptica, e graças a suas observações seu pupilo Johannes Kepler se viu capaz de determinar a natureza elíptica das órbitas dos planetas. Hans Lippershey (1570-1619) foi o holandês que inventou o telescópio refrator, a popular luneta, que Galileu depois adaptou para observação astronômica. Jacharias Janssen (1580-1638) inventou o primeiro microscópio. E, por fim, Thomas Harriot (1560-1621) fez os primeiros desenhos da Lua com base em observações telescópicas. Todos sem dúvida merecem ter um planeta só para eles.
Já no batismo de Mu Arae, estrela a cerca de 50 anos-luz daqui com quatro planetas conhecidos, todos gigantes gasosos, a pegada foi outra. Agora a estrela se chama oficialmente Cervantes, homenagem ao escritor espanhol Miguel de Cervantes y Saavedra (1547-1616), autor de “Dom Quixote de La Mancha”. Seus planetas, apropriadamente, receberam os nomes de Quixote (b), Dulcineia (c), Rocinante (d) e Sancho (e) — todos personagens da obra de Cervantes.
FANTASMAS DO ESPAÇO
Os nomes mais evocativos da lista, contudo, recaíram sobre o astro conhecido como PSR 1257+12. Em torno desse astro, estão os primeiros planetas já descobertos fora do Sistema Solar. Encontrados em 1992, por Aleksander Wolszcan e Dale Frail, eles causaram enorme surpresa. Afinal de contas, PSR 1257+12 é um pulsar, ou seja, o cadáver estelar deixado por uma estrela de alta massa que explodiu como uma supernova.
Até então, ninguém imaginava que poderia haver planetas em torno dessa categoria de astros. Imagina-se que eles tenham se formado a partir dos restos da estrela detonada — uma segunda geração de formação planetária. E nada melhor que nomes que remetam a criaturas que se recusam a morrer para batizar esses planetas.
O pulsar agora se chama Lich, em homenagem à criatura mítica ligada ao jogo Dungeons & Dragons — um morto-vivo que adquiriu a imortalidade e controla outros mortos-vivos com magia.
Já os planetas b, c e d receberam respectivamente os nomes de Draugr (termo que se refere a mortos-vivos na mitologia nórdica), Poltergeist (seres sobrenaturais que causam perturbações físicas) e Fobetor (a divindade mitológica grega dos pesadelos).
Os nomes oficiais definidos agora envolvem apenas 31 dos cerca de 2.000 planetas já descobertos fora do Sistema Solar e não anulam a nomenclatura anterior. Os cientistas poderão usar as duas indistintamente. Mas não há dúvida que, ao dar nome aos exobois, a comunidade astronômica dá um passo importante na relação que a humanidade trava com esses mundos distantes — quase num passe de mágica, eles deixam de ser uma estatística e passam a ter personalidade própria. Não acha?
Confira abaixo a lista completa de exomundos e estrelas batizados pela iniciativa NameExoWorlds, em um bonito pôster (em inglês) divulgado pela IAU.
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Muito bacana esse artigo, obrigado por compartilhar, amigo!
Salvador, adoro suas matérias e os comentários, são um show a parte.
Valeu, Débora! 🙂
Salvador, existe regras para a sugestão do nomes? Ou vale quaisquer sugestões? Tipo posso sugerir o meu próprio nome? kkkk
Talvez eu sugira o meu próprio nome! Hehe
A número de estrelas nos seus superam em milhões de vezes o número de habitantes da Terra.
Assim, um exoplaneta com o meu nome, ou mesmo uma estrela não é digamos assim um mal negócio. Hehe 😛
E para não dizer que sou humilde, aceito qualquer anã vermelha! Haha
Muitas pessoas já devem ter sugerido os seus próprios nomes na esperança que eles sejam ascendidos aos céus.
Brincadeiras a parte, a astronomia se tornaria extremamente popular se a comunidade astronômica pegasse o nome de cada estrela de Hollywood existente na calçada da fama e a desse para um estrela correspondente no céu. Será que nunca pensaram nisto?
Existem regras. Inclusive os planetas de Tau Boötis ficaram sem nome porque a proposta vencedora não se adequava aos critérios, segundo a IAU. Já falei das regras no primeiro post sobre esse negócio: http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2014/07/14/a-eleicao-dos-exoplanetas/
Em dado momento, na antiguidade clássica na Grécia, filósofos gregos, de grande repercussão até hoje, aprovaram cortar as mãos dos ladrões. Foi um grande avanço social, pois até então eram mortos. Estou mencionando isso porque, sempre que nos referirmos ao passado, temos que retroceder nosso raciocínio para o pensamento e o conhecimento da época. Não temos como analisar o passado com a luz do presente. O Antigo Testamento bíblico, bom ou mau, foi o primeiro código de direitos, que digamos de passagem, até hoje são falhos. Por outro lado, bem ou mau, a Igreja Católica foi a guardiã de quase todos os conhecimentos antigos, visto que o povo, com raríssimas exceções, não possuía quaisquer conhecimentos acadêmicos que na época dependiam de mentes brilhantes, pois não tínhamos computadores, calculadoras, Google, etc., como também arcaicos eram os sistemas de armazenamentos dos conhecimentos.
O primeiro codigo de direitos foi criado por Hamurabi, por volta de 1700 A.C., é patacoada dizer que é do antigo testamento.
Segundo a Wikipedia, temos como pontos principais do código de Hamurabi:
– Não cumprimento de contrato.[2]
– lei de talião (olho por olho, dente por dente)
– falso testemunho
– roubo e receptação
– estupro
– família
– escravos
É, eu também tinha por mim que o Hamurabi era mais antigo.
Salvador, mais antigas que Hamurabi são os códigos de Ur Nammu, rei de Ur, código de Eshnunna e código de Lipit Ishtar, mas que conforme o meu conceito de lei, não eram igualitárias e sim preservação das elites.
Quando códigos não tratam todas as pessoas em mesmo grau de igualdade não são códigos de direitos e sim preservação de direitos de classes (castas).
Certo. E os direitos das mulheres no Velho Testamento, como vão? 😛
Como disse acima, temos que nos deslocar ao passado e acompanharmos os avanços de mentalidade.
Penso que nomear os exoplanetas e respectivas estrelas não só lhes dá uma certa personalidade, como cria ligação entre nós e elas. Essa ligação vai, com o (muito) tempo tornar-se mais concreta. É como uma paixão platonica que culminará numa ardente noite de amor.
Olá Salvador, veja que quando você comenta sobre o pulsar Lich afirma ser o seu sistema planetário o primeiro a ser descoberto fora do sistema solar. Mas antes você fala de Pegasi, descoberto há 20 anos.
No mais, continue na jornada de divulgação do maior dos prodígios humanos, a busca pelas fronteiras, que dialeticamente fracassa a cada novo passo. E contraditoriamente nos leva ao próximo, e ao próximo…
Edson, 51 Pegasi b (ou Dimitium, qual eu deveria usar agora?) foi o primeiro planeta a orbitar uma estrela similar ao Sol a ser descoberto, em 1995. Os planetas do pulsar Lich (PSR 1257+12) foram descobertos em 1992, mas não orbitavam uma estrela similar ao Sol, e sim um cadáver estelar!
Pena que o sistema mais próximo está ainda há 04 e pouco anos-luz de nós, sendo ainda difícil chegar a esses planetas. Pelo menos para agilizar as explorações até o limite do nosso sistema, acredito que não vai demorar para que consigamos desenvolver tecnologia e artifícios para ir aos poucos driblando essa questão de velocidade limitadora, imposta pela teoria da relatividade. Quem sabe também para a exploração direta de astros mais longínquos? Há várias alternativas teóricas, e muitas ideias despretensiosas colocadas hoje em prática que podem ajudar a esse fim, a exemplo o teletransporte quântico, que pode revolucionar a transmissão de informações (embora não se trate de transmissão de informação propriamente dita, pois nada pode viajar mais rápido que a luz, mas indiretamente o “tempo” de resposta de um entrelaçamento quântico ignora distâncias, e assim, pode driblar a limitação relativística revelando instantaneamente uma informação para a Terra em um ponto muito mais distante do que um ano luz).
Gostei desse novo layout da page. Sou um leitor assíduo de seu blog, perdi algumas postagens recentemente por causa da correria de resultados do local onde trabalho, mas hoje arrumei um tempo para ler um pouco do que havia perdido.
Gostei da nova formatação do site!
É uma excelente iniciativa… e exemplos na ficção científica não faltam.
Podemos emprestar centenas de referências se usarmos fontes como: StarTrek, Star Wars, Dr. Who, Firefly, Hitchhiker’s guide to the Galaxy, Dragon Ball, Transformers, DC Comics, Marvel, etc…
Isso sem contar com a vasta mitologia das diversas culturas, além do D&D que já serviu para nomear o, agora famigerado, pulsar Lich.
Muito legal. Fico imaginando se um dia, num futuro utópico de alta tecnologia, uma expedição para explorar o planeta Harriot, no Sistema Copérnico, para citar um exemplo, poderia vir a ser lançada. Tripulada, de preferência, para deixar o sonho mais bonito, rs. Quem sabe até poderia se tornar uma nova ‘casa’ humana, um dia!
Eu queria ser imortal, só pra poder ver todo o avanço que a ciência vai promover ao longo do tempo (claro, partindo do pressuposto que não seremos extintos até lá, rs).
Ah, gostei do novo layout do blog! Deu um ar moderno!
Temos um planeta batizado temporariamente como “Musica”
Olá Salvador. Galileu é incensado. Porém, antes tiveram pioneiros que já defendiam que a terra não era o centro do universo, mas que não tinham instrumentos em mão para provar. Aristarco, séc. VI antes de Cristo, já defendia essa tese. E mesmo um pouco antes Giordano Bruno morrera na fogueira por conta disso. Além de Copérnico que lançara as bases fundamentais para o entendimento. Abraços!
O mérito de Galileu foi ter estabelecido o método científico, baseado na observação. Todos antes dele filosofavam apenas.
É um erro histórico dizer que Galileu (1564-1642) “estabeleceu o método científico”. Na Antiguidade, Arquimedes já estudava hidrostática e estática segundo padrões modernos. Galileu inventou uma balança hidrostática para a pesagem de metais no ar e na água inspirado no trabalho de Arquimedes que foi publicado em latim por volta de 1544. As primeiras universidades medievais surgiram por volta de 1150 e a atividade intelectual dos franciscanos já incluía a “filosofia natural” com uma abordagem mais concreta e empírica da natureza, representando um prelúdio do pensamento moderno que, posteriormente, produziria um Descartes, um Galileu e um Newton.
É impressionante como a história é distorcida a fim de que sejam ignoradas as grandes contribuições da Ciência Medieval.
Apolinário, o Arquimedes não era medieval. Jesus nem tinha nascido quando ele deu suas contribuições. Mas fico feliz de você reconhecer que o Renascimento foi buscar nos gregos antigos a inspiração para dar continuidade à evolução do pensamento racional, pulando em boa parte aquela tosqueira que foi a Idade Média. (Não por acaso, se chama “Renascimento”.)
Contudo, é importante lembrar que, na Grécia Antiga, embora se fizesse ciência, ainda não havia o rigor do método científico. Dependendo da corrente filosófica, havia repúdio à própria experiência física (como no idealismo de Platão), e o próprio Aristóteles, embora valorizasse o mundo físico e sua observação, era avesso a experimentação. Galileu foi o primeiro de fato a colocar o experimento e o teste de hipóteses como condição “sine qua non” para o conhecimento. Mas, sim, os gregos na Antiguidade tiveram muitas ideias “modernas”, e fico imaginando que nível de conhecimento não teríamos hoje se não tivéssemos perdido 1.500 anos com a quebra momentânea dessa tradição.
“se não tivéssemos perdido 1.500 anos com a quebra momentânea dessa tradição”
Jeito sutil de dizer “desgraça causada pela Igreja Católica”.
uhahuahuauhauha
É, mas sendo completamente honesto, não é só isso. Muita merda aconteceu. Com a queda do Império Romano, o poder se diluiu entre feudos, as cidades se esvaziaram e o obscurantismo tomou conta. Esse foi o ambiente em que a Igreja Católica floresceu, e em grande medida ela contribuiu com ele. Mas foi uma relação simbiótica. Ela foi tanto produto quanto produtora dessa fase, numa relação dialética. E, como é comum na dialética, cada elemento novo acaba conduzindo a circunstâncias que levam à sua própria queda. A Igreja Católica hoje só é vista como essa imensa pedra no sapato porque ela servia a um projeto de mundo que já não mais impera. Ainda bem, diga-se de passagem. E isso talvez se conecte com o que diz o Apolinário. Ao adotar uma visão excessivamente conservadora, a Igreja Católica inadvertidamente foi grande impulsora do desenvolvimento — levando a reações como a Reforma Protestante, a separação entre a Igreja e o Estado, e, como ponto culminante, o Renascimento, com seus valores humanistas.
Salva, Curtindo meu viés masoquista reparei que o Apô não disse em momento algum que Arquimedes era medieval!
Não, não disse. Mas partiu da menção a Arquimedes para defender os pensadores medievais. A conexão fica implícita, e justamente por isso fiz questão de desfazê-la de forma explícita, para que nenhum leitor desavisado incorresse nesse erro.
Não se deve atribuir a Galilei aquilo que ele não fez! Os pensadores da Escola Franciscana de Oxford, como o inglês Roger Bacon, promoveram o empirismo e o uso da Matemática no estudo da Natureza. Isso ainda no século XIII – portanto muito antes do Renascimento. Bacon desenvolveu trabalhos de Ótica baseados no ciclo “observação, hipótese e experimentação ” sendo assim, o verdadeiro precursor do método científico.
Meu livro, que já está quase pronto, vai esclarecer todas essas questões e dar à Ciência Medieval, e aos Cristãos, o devido crédito.
Apolinário, seu livro já vai nascer desatualizado. O consenso entre os historiadores hoje é de que Roger Bacon, embora de fato tenha defendido a experimentação, era um pensador medieval clássico, que obteve a maior parte do seu conhecimento de fontes escolásticas, e não do empirismo que ele defendia. Galileu foi o primeiro a não só defender o empirismo, mas praticá-lo em sua plenitude, a ponto de não permitir que suas conclusões excedessem aquilo que a observação não confirmava. Nisso, ele foi o primeiro cientista moderno, aquele que não abraça versões sem que elas tenham sido corroboradas experimentalmente.
Ainda assim, vamos dar a Roger Bacon o mérito de ter a ideia certa, ainda que na época errada e sem produzir impacto notável no modo de pensar de seus contemporâneos. Infelizmente, ele estava praticamente sozinho nessa. É por essa razão que dou mais valor a Copérnico do que a Aristarco. Embora o velho grego tenha tido a ideia certa muitos séculos antes, ele não soube defendê-la e torná-la corrente. Copérnico, ainda que por vias tortas (sem Galileu e Kepler, ele não chegaria lá), e contra todo o peso do obscurantismo religioso, conseguiu. Temos hoje uma revolução copernicana, mas nunca tivemos uma revolução aristarcana.
Sobre seu livro, acho preocupante esse viés religioso. Acho ótimo que você nos revele os melhores — ainda que pouco influentes — pensadores da Idade Média (tentar proibir as pessoas de pensar é uma causa perdida em qualquer época), mas temo que você tenha o viés de valorizar apenas os cristãos, e despreze, por exemplo, o fato de que os árabes, em grande medida, serviram como os bastiões da cultura durante a Idade Média, desenvolvendo a astronomia e a matemática e preservando boa parte da sabedoria helênica perdida durante a época feudal.
Apolinário, não deixe de colocar no seu livro uma verdade insofismável, que é o fato de que foram os muçulmanos que criaram o dígito zero e revolucionaram a matemática!
Radoico, não foi “só” o zero, mas sim todos os algarismos arábicos (0 a 9). Imagine fazer uma conta de divisão simples com algarismos romanos?
LVI / VII = VIII (qual o sentido disso?)
Sim, Bruno, mas o zero foi a chave de tudo, o sistema decimal! E não consta na Bíblia, não é mesmo?
Apolinário, você está parecendo o Ignatius do livro “Uma Confraria de Tolos”.
Os grandes pensadores franciscanos trabalharam duro para promover a difusão da razão, da dialética, do conhecimento e da Ciência numa época em que era comum a decapitação em praça pública. Só mesmo gigantes do intelecto seriam capazes de conduzir essa empreitada. Podemos dizer, sem nenhum exagero, que foi graças à Igreja Católica que a Europa sobreviveu e nos legou as maravilhas do intelecto humano que, posteriormente, proporcionariam ao homem um conhecimento mais profundo da Natureza. É difícil exagerar a importância desses precursores, mas eu darei o devido crédito a todos, mesmo contra a corrente difamatória que empanturra o jornalismo científico atual.
Jornalismo científico não versa sobre franciscanos e o papel da Igreja Católica. Jornalismo científico versa sobre ciência. Por isso estamos falando disso nos comentários, mas não no texto do blog. Porque aqui estou respondendo a um leitor. No texto do blog, estou praticamente jornalismo científico.
Sei não. Acho beeem exagerado. De fato haviam muitos monges e padres que deram grande contribuição para a ciência, mesmo durante a idade média (mas agiam quase como uma corrente contracultural para fazer isso!). Mas a razão para isso é bem simples, ao meu ver: Praticamente apenas os religiosos e os mais ricos tinham acesso à educação. Se somente eles podiam estudar, obvio que somente eles poderiam contribuir para a ciencia. Como um camponês medio da Idade Média (vish) poderia contribuir para o entendimento do Universo, se basicamente o que ele sabia vinha do empirismo tradicional ao longo de gerações? Entendia os equinócios e solsticios apenas o suficiente para marcar um calendário agrario, sem saber o que realmente acontecia ao planeta; Entendia que certas ervas curavam, e certas ervas matavam, e que era assim, tão somente, sem conhecer sobre principios ativos; sabia que devia cruzar as vacas leiteiras de maior produção com os touros mais fortes, sem conhecer de genética, nada! E havia sido instruido, pela propria Igreja, a não ter dúvidas, de modo que praticamente nem lhe ocorria a ideia de tentar entender todas estas coisas.
É fácil exaltar um grupo, alegando que somente ele fez algo, quando somente ele, de fato, tinha condições de fazer algo…
!00% de acordo, Helton!
e hoje não é assim???????
você acha que um africano do congo vai resolver descobrir a cura da AIDS?????
não é mais provável que alguém de um país rico o faça??????
kkk
Pela primeira vez na vida, concordo com você, JR. 🙂
O jornalismo científico também versa sobre a história da Ciência. Portanto, isso inclui as contribuições da Ciência Medieval e, em particular, dos franciscanos e do papel da Igreja Católica. É impossível passar uma borracha na História apenas para destacar aquilo que se deseja ou aquilo que se aprecia.
Apolinário, concordo com você em certa medida — a história da ciência só é abordada no jornalismo científico para dar contexto, mas não como um objeto em si. Afinal, jornalismo, por definição, trata da ordem do dia, do atual. Então, ele só ilumina o passado se for importante para o presente. No caso específico do blog, ele versa sobre astronomia. E os medievais pouco contribuíram para a astronomia. Mesmo os mais sofisticados astrônomos árabes da era medieval ainda viviam o paradigma geocêntrico de Aristóteles e Ptolomeu. Não por acaso, os primeiros cientistas influentes aqui no blog foram Copérnico, Galileu e Kepler — foi com eles que ganhamos a visão que até hoje reverbera na ciência de um cosmos amplo, em que a Terra não ocupa lugar central. Só por essa razão — e nenhum tipo de preconceito — você vai ver esses caras no blog, e não pensadores medievais.
Como eu disse — e repito –, acho interessantíssimo fazer a valorização do pensamento medieval, e considero válida sua empreitada. Só tenho medo que ela seja contaminada — como o são seus comentários — com sua ideologia religiosa. O resgate da tradição medieval precisa passar pelo pensamento dos árabes, que não só mantiveram acesa a chama da filosofia dos antigos como influenciaram diretamente no seu resgate na Europa, principalmente com a ocupação da península Ibérica.
Apolinário, sucesso com o livro. Não posso julgar o conteúdo sem antes lê-lo. Se sua visão será parcial ou imparcial, é um julgamento que caberá cada leitor fazê-lo.
De todo jeito, tenho para mim que não deixará de ser uma leitura interessante.
O que torna este blog tão especial é o jornalismo científico que Salvador pública, mas não posso me olvidar dos debates que travamos aqui diariamente nos comentários.
Não dá para negar que o confronto de idéias, de forma muito bem articulada e respeitosa é algo raro nos dias de hoje, especialmente quando esse o “campo de batalha” é a internet.
Apolinário, mesmo que pessoalmente, eu não concorde com certos pontos de vista reiteradamente defendidos por você neste blog, penso que as suas opiniões e a do Salvador, sempre em constante contraste, dariam, por si só, um excelente livro. hehe
PS: sinceramente, é um privilégio eu acordar no meio da noite, preocupado com problemas e com as decisões difíceis que eu terei que tomar amanhã no meu escritório e de certa forma poder esquecer de tudo isso ao me surpreender com um rico debate sobre pensadores gregos, medievais e renascentistas nos comentários deste blog, todos de alguma forma percussores do que um dia viria a ser o método científico. 🙂
“Dar nome aos exobois” hahahaha ri alto aqui!
também ri alto com os exobois! mto bom né hahahahah
🙂