Júpiter e Saturno ajudaram a semear a Terra com os ingredientes da vida, diz estudo
Nos primórdios da formação do Sistema Solar, Júpiter e Saturno tiveram um papel fundamental para semear a Terra com água e compostos orgânicos — os principais ingredientes para o surgimento da vida. É o que sugere uma série de simulações computacionais realizadas por Kevin Grazier, cientista do JPL (Laboratório de Propulsão a Jato), da Nasa.
O estudo derruba a velha tese de que Júpiter serve à Terra como uma espécie de escudo contra o impacto de asteroides e cometas. Na verdade, o maior planeta do Sistema Solar — em concerto com seu vizinho gigante, Saturno — faz mais por induzir objetos distantes a entrarem em possível rota de colisão com a Terra do que efetivamente evitar impactos.
Mas isso não quer dizer que Júpiter e Saturno sejam necessariamente vilões. Afinal, ao produzir colisões entre objetos do Sistema Solar exterior e os mundos mais próximos do Sol, os dois planetas levaram um grande número de cometas a semear nosso planeta com compostos voláteis — sobretudo água — e moléculas orgânicas.
Talvez por conta disso a Terra tenha logo de cara reunido as condições para o surgimento e a evolução da vida — ainda que impactos posteriores tenham causado extinções em massa, como a que aconteceu há 65 milhões de anos, quando os dinossauros bateram as botas.
Grazier simulou os efeitos gravitacionais de Júpiter, Saturno, Urano e Netuno sobre a evolução de dezenas de milhares de pequenos objetos originalmente localizados na região dos planetas gigantes. Cada simulação acompanhou esse processo por 100 milhões de anos, dos 4,6 bilhões que tem o Sistema Solar.
Algumas coisas surpreenderam: primeiro, caiu o mito de que Júpiter age como um escudo efetivo contra colisões frequentes. Muito pelo contrário. Sua presença aumenta o risco de impactos. Segundo, os resultados mostraram que Saturno também tem um papel importante no envio desses objetos para a região da órbita da Terra. “Para usar uma metáfora esportiva, Júpiter é quem marca o gol, mas Saturno faz a assistência”, escreveu Grazier em seu artigo, publicado na edição de janeiro da revista “Astrobiology”.
Agora, qual é a consequência disso para a existência de vida em outros sistemas planetários? Sabemos a essa altura que planetas gigantes gasosos são comuns, mas menos comuns que mundos rochosos como a Terra. Em muitos sistemas, teremos mundos terrestres, mas não teremos mundos jovianos.
Está claro que Júpiter e Saturno tiveram um papel importante trazendo compostos essenciais ao surgimento da vida para o nosso planeta (na forma de nada simpáticas colisões de cometas). Mas não sabemos se esses mesmos compostos já não faziam parte da “receita original” da Terra, durante sua formação, 4,6 bilhões de anos atrás. (A presença de grandes quantidades de água no manto terrestre, constatada recentemente, parece sugerir que esse pode muito bem ser o caso.)
Um exoplaneta rochoso que tenha se formado em circunstâncias similares às da Terra provavelmente também já viria com seu próprio suprimento de água. Mas, sem um equivalente de Júpiter e outro de Saturno por perto, ele talvez não recebesse tantos impactos de cometas. Por um lado, é possível que, por conta disso, faltassem alguns dos ingredientes essenciais para o surgimento da vida. Em compensação, podemos imaginar que a quantidade de impactos capazes de extinguir qualquer vida que surgisse seria bem menor.
No fim das contas, a mensagem mais importante do estudo é mostrar como a evolução do nosso Sistema Solar dependeu fortemente de sua configuração original. Qualquer alteração (e Grazier rodou simulações alternativas, com Júpiter, mas sem Saturno, e vice-versa) levaria a um outro desfecho. Moral da história: cada sistema planetário evolui a seu próprio modo, de forma que teremos de tomar muito cuidado para não concluir apressadamente sobre a habitabilidade ou não de cada um dos planetas similares à Terra descobertos em torno de outras estrelas. Em essência, cada caso será um caso.
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Que termo mais chulo utilizado pelo jornalista da matéria onde diz que… os dinossauros bateram as botas. O correto seria extintos.
Uiuiuiui. Se você sabe o que eu quis dizer, sinal de que não foi tão ruim assim, né?
Senti no texto original e em alguns comentários o desejo de provar a inexistência de Deus. Questionando tal pretensão sirvo-me de um texto do “O HOMEM ETERNO “ de Chesterton
Ninguém poderia imaginar como o nada se poderia transformar em alguma coisa. Ninguém se aproxima nem sequer um centímetro disso mediante a explicação de como alguma coisa poderia se transforma em alguma outra coisa. É de fato muito mais lógico começar dizendo “No começo Deus criou o céu e a terra”, mesmo que só se queira dizer “No começo algum poder inimaginável começou algum processo inimaginável”. Pois Deus é por natureza um nome misterioso, e ninguém jamais supôs que o homem pudesse imaginar como o mundo foi criado e muito menos que ele pudesse criar um mundo. Mas de fato a evolução é erroneamente tomada como uma explicação. Ela tem o condão fatal de deixar em muitas mentes a impressão de que elas a entendem e entendem todo o resto; da mesma forma que muitos alimentam a falsa impressão de que leram “A origem das espécies”.
Bom dia, será que essas simulações por abarcarem 100 milhões de anos apenas, não seriam tendenciosas em serem conclusivas quanto ao fato de retirarem de Jupiter e Saturno o pódio atual de escudo de cometas para os rochosos internos? Digo, imaginemos o restante do tempo, e pensemos justamente no ponto em que a vida complexa está evoluída perto da estrela, será que a dinâmica seria a mesma do período simulado? (vamos pensar pelo menos só no nosso sistema).
Pelo que entendi da conclusão do artigo, as demais simulações feitas serviriam para mostrar os possíveis cenários quanto a permeabilidade de cometas pela região dos rochosos (maior ou menor, pois se formos olhar para a configuração dos outros sistemas estelares, há sistemas de configuração para todo gosto) ou seja o encalço observado nas simulações é a permeabilidade de cometas pela região dos gasosos, por defesa da panspermia.
Embora credite muito sensível o seu artigo, Salvador, em asseverar que vida a partir daí, ou extinção, são outros 500, percebo, entretanto, que o estudo se preocupa muito com a questão do bombardeamento dos cometas para o surgimento da vida, é aliás o que parece ter o orientado. Será que os estudos avançados de astrobiologia estão mesmo fechando o cerco na conclusão de que o surgimento de vida depende de bombardeamento, desconsiderando que pode surgir vida com choque de poucos cometas, ou mesmo com o próprio material planetário, remanescente da formação do sistema solar?
Espero que não pois, particularmente, e em compasso com as ressalvas feitas no artigo, também gosto de acreditar que as portas estão abertas para as outras possibilidades, quanto ao surgimento de vida, inclusive com a integração entre os meios.
Bom Carnaval..
Samuel, ele estendeu algumas das simulações para 1 bilhão de anos só para garantir. E outra: o problema é que os planetas jovianos pouco fizeram para desviar cometas vindos da nuvem de Oort. Em compensação, pegaram um monte de objetos que jamais adentrariam o Sistema Solar interior e jogaram para dentro. É meio inquestionável que eles mais bombardeiam que protegem os planetas rochosos.
E lá se foram nossos guarda-chuvas…
O cometa “Chury” é um exemplo de objeto desviado por Júpiter para a região interna do Sistema Solar. Desde que ele foi descoberto em 1969 seu periélio vem diminuindo a cada passagem pela órbita de Júpiter e segundo simulações da trajetória anterior a descoberta ele provavelmente veio do cinturão de Kuiper.
Exato, ele é um exemplo perfeito! 🙂
Salvador boa tarde,frequento seu blog toda semana,as vz comento as vezes pergunto…Hoje é dia de perguntar.A ciencia ja tem certeza quase absoluta que quando a terra se formou,ja tinha agua.(ate pq seria muiiiiitos cometas para trazer essa quantidade de agua que temos né não ?).Só não se sabe ainda se tinha todos os “ingredientes” para formar formas de vidas.Sabe também que a agua é algo muito comum no universo.Sabe também com certeza que,a formação de uma unica celula é um processo extremamente complicado em que milhões de coisas tem que acontecer de forma coordenada ,ainda assim pode ate não dar certo(a formação da celula).Tudo colocado,agora vem a cereja do bolo…..sera que não viemos de outro planeta,onde pode ter acontecia um cataclismo,e aqui devido as condições involuimos ate certo ponto para depois “acertarmos” o rumo e quem sabe podermos chegar ao ponto de chegarmos ao nivel tecnologico de quando aqui aportamos.?! Pq seria possivel nosso sistema solar ter tido um outro planeta e que pode ter sido ejetado de sua orbita ?Ou nosso sol em sua trajetoria pode ter passado perto de outra estrela (que tenha um sistema de planetas) em algum ponto do passado ? Ou pode ter havido algum sistema(solar) similar ao nosso proximo o suficiente para ter exportado alguma espaçonave grande o suficiente para ter trazido alguma civilização para cá ? Carvalho !!! essa foi de doer heim !!!! abraços
Todas especulações interessantes! Começando pelo começo: sim, tanto água quanto compostos orgânicos deviam ser mais comuns que areia no deserto na nuvem que formou o Sol e o Sistema Solar. Contudo, conforme o Sol “acende” e começa a irradiar o disco de acreção em volta, ele começa a evaporar os compostos mais voláteis — e isso incluiria a água. Então, houve alguma dificuldade no início em simular a formação de uma Terra “molhada”, em seu lugar de origem, por conta disso. Hoje, essa já não é uma dificuldade significativa. Sabemos que moléculas de água podem ficar presas em condritos, sem evaporar, e então ser integradas a um planeta durante sua formação. Mais tarde, em erupções vulcânicas, essa água sairia para fora do planeta em forma de vapor e depois choveria, “alagando-o”. Isso, contudo, não muda o fato de que pelo menos uma parte da água da Terra deve ter vindo do espaço, porque sabemos que essas colisões com cometas e asteroides eram extremamente comuns nos primórdios do nosso planeta. Então, na prática, temos as duas coisas: água vindo do espaço num planeta já molhado.
Sobre a vida, na verdade ela não exige a ocorrência de milhões de coisas ao mesmo tempo. Tudo que ela exige é a formação de uma molécula capaz de auto-replicação e armazenamento de informação, que se submeta à evolução darwiniana. Um pedacinho de RNA com 100 bases “bem escolhidas” podia fazer o serviço. Então, o problema não é tanto quantas coisas precisam acontecer, mais quais. Ninguém sabe como formar RNA num ambiente aquoso a partir de compostos mais simples. Eis o xis da questão, o que falta para resolver o maior enigma da origem da vida. (E a maioria desconfia que tudo começou com o RNA, mas não temos certeza disso.)
Tendo dito isso, a vida pode ter sim vindo do espaço. Por que não? Sabemos que bactérias podem resistir por milhões de anos dentro de meteoritos, de forma que podem viajar de um planeta a outro com relativa facilidade. Talvez possam até fazer voos interestelares, em grãos de poeira cósmica (veja que a nossa sonda Pioneer 10 vai passar por Aldebarã em coisa de 2 milhões de anos, um tempo aceitável para um esporo bacteriano viajar de um planeta a outro).
Contudo, não temos evidência de que a vida na Terra tenha começado no espaço, muito menos que tenha sido artificialmente semeada. Sem evidência, convém não trabalharmos com essa hipótese, que complica desnecessariamente a questão (até porque, mesmo que sejamos alienígenas de origem, a própria origem dos alienígenas nos traz de volta ao problema da origem da vida).
Abraço!
Salvador, não é apenas a questão de ter os produtos químicos orgânicos na Terra, mas como utilizá-los da forma adequada para construir a vida. É necessário informação adequada para construir uma célula, informação essa contida no DNA, que coordena todas as nanomáquinas celulares para a construção e manutenção da célula e dos seres vivos. Dá a impressão que é apenas química e leis naturais. Mas não é só isso! Sei quanta informação é necessária para produzir este notebook onde escrevo isto e quanta inteligência é necessária para fazer os softwares que operam e fazem a comunicação interna e externa. Essa história de ter apenas os produtos químicos certos é de uma simplicidade e ingenuidade absurdas. Isso já foi superado, em muito, depois da descoberta do DNA e todas as rotinas e loops temporais que ele executa para, baseado no projeto que ele também possui codificado, construir uma célula e um ser vivo qualquer.
Celio,
móleculas auto-replicantes de RNA precisam de umas 100 letrinhas de comprimento, de forma que o pontapé inicial para a evolução pode ter sido bem elementar. Não é preciso começar com uma célula pronta, muito menos com uma sequência genética de um organismo moderno. E é interessante você trazer o exemplo da informática, porque é possível simular evolução de software! Comandos são introduzidos aleatoriamente, programas que melhoram seguem adiante e se copiam com novas alterações, programas que pioram “morrem” e não deixam descendentes. Isso já foi demonstrado! É possível obter programas mais eficientes (medidos em termos de quanta memória ocupam, afinal esse seria o “nicho ecológico” de um programa) por meio de evolução por seleção natural! 🙂
“‘Salvador, boa noite!
Amanhã vou para a “roça” e estou com grande expectativa com relação às “alfa-centaurídeas”, pois o céu lá, é inimaginável. 10/02, comentarei.
Em tempo, lá, no dia 29/01, teve um efeito fantástico com a lua e nuvens.
Salvador, se houve essa contribuição de Júpiter e Saturno para o surgimento da vida na Terra, então pode-se dizer que Marte foi beneficiado com maior quantidade dos mesmos ingredientes, já que fica mais próximo desses gigantes gasosos?
Sim. E na real, todo o sistema solar interior seria beneficiado.
Oque se pode concluir, desde sempre é que cada coisa que existe está interligada formando o mundo que temos hoje e que, mesmo que não queiram, uma inteligência está por trás de tudo isto, seja ela chamada de Deus ou de uma inteligência de formação que ainda desconhecemos. O mundo é maravilhoso!
Por Júpiter!
Salvador, e essa agora?
http://www.independent.co.uk/news/science/life-on-mars-discovery-scientists-mineral-rock-formations-a6850846.html
Jose, é interessante, mas não sem precedentes. Tem um monte de paleobiólogos vendo coisas assim. Veja o que eu mesmo já publiquei a respeito um ano atrás:
http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2015/01/05/encontramos-fosseis-em-marte/
Essa agora é mais uma pista desse quebra-cabeça. Sabemos que Marte já foi habitável e que a vida pode ser transferida entre os planetas. Para mim, se não acharmos nenhuma evidência de vida passada em Marte, esse sim será um grande mistério.
Essa nova tese derrubou a antiga tese, até quando? O cabeça simulou essa situação que deve perdurar até o advento de novas tecnologias que farão outras simulações mais complexas que derrubarão essa, que é parte do nosso quintal, mas continuarão sendo simulações, ou seja, teorias e hipóteses, que a bem da verdade permanecerão teorias e hipóteses e nunca verdades comprovadas, pois é passado, restando-nos conjecturar.
Claro, é isso! A ciência sempre progride, sempre se aperfeiçoa, sempre melhora. O Grazier elogia os esforços do Wetherhill, que nos anos 1990 fez as primeiras análises que sugeriam Júpiter como escudo, mas a deficiência computacional na época exigiu alguns “atalhos” que comprometeram o resultado. Desde aquele trabalho, a Lei de Moore já causou 12 duplicações na capacidade computacional! (Não fui eu que fiz essa conta, o Grazier aponta isso no estudo.) Então, é isso. Sabemos que nossos conhecimentos atuais não são a palavra final. Aí podemos ter duas atitudes: reconhecer as deficiências e tentar aprender cada vez mais, sabendo que de vez em quando precisamos reavaliar velhas ideias (quer coisa mais saudável que isso?), ou simplesmente largar tudo e ficar escrevendo comentários idiotas e insistentes em blogs de ciência, com uma agenda ideológica supostamente oculta, mas tão óbvia que até um chimpanzé míope e estrábico consegue perceber. Eu prefiro o primeiro caminho. Mas você pode escolher o seu, à vontade. 😉
Boa!… Novamente com luva de pelica e educadamente!!! Rarararará
Passe mais um pouquinho.
O Salvador usa essa luva com carinho em vc, né? Vc não para de falar nela. Odioso….
E aí eu fico imaginando: por que será que há tamanha correlação entre os maliciosos e os religiosos/criacionistas aqui nos comentários do blog? Freud explicaria?
Concordo, só que não podem viver dizendo que é isso que é aquilo se não sabem nem onde esta o rabo, isso que é minha contestação, enquanto não tiver certeza nada de ficar enchendo linguiça, ou seja, reconhecer as deficiências e enquanto não chegar as conclusões certas ficar em silêncio, guardando para si até uma comprovação.
Cara, não precisa voltar mais. A ciência não constrói certezas. Ela constrói modelos cada vez mais precisos da realidade, cada vez mais capazes de fazer previsões sobre o mundo que nos cerca. Mas não certezas absolutas. Se você está esperando a ciência te dar certezas absolutas, vai esperar para sempre. Agora, ela pode te dar certezas “práticas”, no sentido de que não são absolutas, mas para os padrões humanos são como se fossem. Nessa categoria entram a relatividade geral, a mecânica quântica, a teoria da evolução pela seleção natural, as propriedades dos elementos químicos, e por aí vai.
Claro! Se não tenho certeza, não compartilho minhas ideias. E sigo sendo ignorante. Sou meio burrinho, não é não?
Coitado do chimpanzé…
TÓIN.
Vadinho, para, miga. Tá ficando impossível te defender.
Uau! Wadinho, o maiúsculo, e Wadão, o minúsculo, no mesmo “cluster” de comentários…
De novo palavras ao vento: parte-se do nada e chega-se a lugar nenhum; o insofismável Oswaldo e seus delírios previsíveis de sempre.
Irretocável o ensinamento do Salvador. O mestre mais uma vez ensinando como é feita Ciência de verdade.
Oswaldo, nada neste mundo é certo a não ser que um dia a gente morre e viramos “pó” e lembrança, que também é fadada a ser esquecida com o tempo. Antes de sabermos da existência da fissão e da fusão nuclear era garantido que o “pó” era eterno, mas agora sabemos que nem ele é assim.
até quando? Pra sempre. Ciência Oswaldo, Oswaldo ciência!
Salvador,
Me parece que na grande maioria dos sitemas solares, planetas maiores como Jupiter, ficam um pouco mais distante de seu Astro, equilibrando assim a gravidade. Sabe me dizer se isso é verdade e o porque desses planetas maiores nunca serem os maius próximos de suas estrelas?
Oswaldo, na verdade encontramos planetas como Júpiter em diversas faixas de distância de suas estrelas, inclusive na cobiçada zona habitável! Mas o esperado é de fato que eles sejam mais frequentes em órbitas mais afastadas, mas não por qualquer tipo de compensação gravitacional, e sim porque planetas gigantes só podem se formar longe de suas estrelas. Quando a estrela começa a brilhar e, com isso, “soprar” o gás do disco de formação planetária para longe, por conta de sua própria radiação, essa “limpeza” é feita de dentro para fora. Então, o consenso entre os astrônomos é de que não há tempo hábil para formar planetas gigantes muito próximos à estrela, e eles só podem juntar gás suficiente antes da dispersão completa nas regiões mais externas. Então, quando vemos um Júpiter numa órbita colada à sua estrela, ele provavelmente nasceu bem mais longe, e depois migrou para dentro.
Salvador,
Nao ficou claro… qual situação é a mais favorável? Ter um Jupiter? ter um Saturno? Ter os dois ao mesmo tempo? Neste caso, a hipótese de Terra Rara poderia ser modificada como: “ter um Jupiter e Saturno ao mesmo tempo maximiza a probabilidade de emergência de vida”. Isso é um fator de Terra rara, pois os planetas rochosos com um Jupiter e Saturno ao mesmo tempo são mais raros do que os planetas rochosos com apenas um Jupiter, um Saturno, ou nenhum dos dois, certo?
Osame, qualquer pessoa seria desonesta se tentasse dizer o que é mais favorável à vida, porque, na real, não sabemos o que favorece ou não a vida. O que se pode dizer é que Júpiter não serve como escudo anti-impacto (ruim para a vida!) e que ele e Saturno entregam material volátil e orgânico presente em cometas para a Terra, que sem eles não chegaria lá. (Bom para a origem da vida, mas ruim para uma biosfera formada? Possivelmente. Como escreveu o Grazier no paper, a pergunta do “é bom ou é ruim” entra naquela faixa do “It’s complicated”.)
Adicionalmente, sabemos que essa entrega de material volátil acontece de forma mais eficiente quando há um Júpiter e um Saturno do que quando há apenas um deles (Grazier fez permutações do estudo sem Júpiter e sem Saturno, além de simular o efeito que teria se Júpiter e Saturno não tivessem conseguido acumular seus invólucros gasosos, terminando bem menores do que são). Agora, é preciso essa entrega de material para a vida surgir? Ter apenas Júpiter bastaria? Saturno é essencial? Não sabemos nada disso, claro.
O ponto é: cada sistema planetário terá de ser estudado de acordo com isso, para que possamos entender melhor os efeitos. Vamos supor que encontremos um planeta rochoso com oceanos num sistema sem um Júpiter. Aí teremos uma noção melhor de que Júpiter não é necessário. Por outro lado, se só encontrarmos planetas “secos” nos sistemas sem Júpiter, aí saberemos que o papel do nosso Júpiter foi fundamental. Por ora, não conseguimos saber conhecendo a fundo apenas um exemplo, e com uma história ainda parcialmente indecifrada. (Veja aí o lance do planeta 9 para ter uma noção do quanto ainda NÃO sabemos sobre a evolução do Sistema Solar…)
Sem chamada na home? Bem que estranhei a falta de “comentaristas de G1” por aqui.
Depois de limpar suas órbitas, depois das coisas terem “se acalmado”, os planetas gigantes não teriam assumido esse papel de aspiradores espaciais contra os pequenos objetos vindos da periferia do sistema solar?
Salva… Interessante…
Acredito que foi dado um passo a mais na questão “vida em outros planetas” que você tem abordado com frequência por aqui.
Ou seja, não podemos procurar vida em um determinado local sem analisar o conteúdo do sistema completo. Não haveria Terra sem Sol, Júpiter e Saturno… E talvez até os demais planetas. O sistema solar deve ser um local raro no universo e esse estudo só torna esta afirmação mais verdadeira.
Grande abraço!
Se você acha um percentual de mais de 50% de estrelas similares ao sol, que estão na nossa PROXIMIDADE, constituírem sistemas planetários, apenas uma “simples raridade”, fico tentando imaginar o que, para você, seria uma unanimidade/totalidade.
Parece que eu até li as palavras que vc ficou morrendo de vontade de escrever, mas não escreveu para tentar dar um verniz de ciência à sua afirmação: “tudo é obra de deus”, hahaha.
#sóquenão
Cada sistema estelar tem sua história e suas características próprias. Pode haver outros parecidos com o nosso, mas sempre haverá diferenças. É como as pessoas: cada uma é única e, ao mesmo tempo, similar às outras. (Nem gêmeos idênticos são totalmente idênticos, cada um terá sua história e isso lhes provocará diferenças.)
Isso, ao contrário de impedir que haja vida em outros sistemas, apenas agrega valor à possibilidade de haver incontáveis planetas com vida por aí a fora…
Salvador,
já se pode dar por descartada a função de aspirador de pó de Júpiter? Ainda que tenha mudado sua função, é impressão minha ou a “rare earth hypothesis” tem ganho força?
Felipe, não acho que Rare Earth tenha ganhado força, não. No paper do Grazier, ele cita bastante como o livro “Rare Earth” errou ao apostar em Júpiter como aspirador de pó. Eu acho que mil vezes mais impactos (como sugeria o pessoal do aspirador de pó) seria terrível para a vida, mas a falta de um ou outro impacto de cometa (como ficou agora, sem Júpiter) não acho que seja um problema, porque a Terra parece ter nascido já com bastante água.
“Sabemos a essa altura que planetas gigantes gasosos são comuns, mas menos comuns que mundos rochosos como a Terra. Em muitos sistemas, teremos mundos terrestres, mas não teremos mundos jovianos.”
Caro Salvador, sabemos mesmo disso? Sem sombra de dúvida? Como sabemos?
Sabemos. Já temos estatísticas mais ou menos seguras com base nas detecções de exoplanetas. Quanto menor é um planeta, mais frequente ele se torna, até umas 2 vezes a massa da Terra. Menor que isso, a frequência é a mesma. É o que sugerem as estatísticas do Kepler.
Essas simulações não levam em conta que nosso planeta foi montado a partir de colisões de corpos menores entre si, e que portanto já tinham todos os ingredientes necessários para o desenvolvimento da vida, não necessitando de impactos posteriores para isso, que pelo contrário, seriam agentes nocivos a qualquer tentativa de desenvolvimento de algo tão complexo e delicado como a vida
Tersio, na verdade o estudo leva isso em conta. A simulação começa com Júpiter, Saturno, Urano e Netuno ainda em formação. 😉
Uma pena ver uma matéria tão interessante ser deturpada pelos arcaístas de plantão…
Bruno… Não entendi o que você quis dizer!
Estava me adiantando aos comentários de Vavá, Apô e outros… sofrendo por antecedência, sabe?
E meus temores sempre se confirmam, estas criaturas nunca deixam de nos brindar com suas sofismas…
Oi Afrânio, eu entendi (eu acho)!
Bruno, quando eu li no texto a metáfora do próprio Grazier (“Para usar uma metáfora esportiva, Júpiter é quem marca o gol, mas Saturno faz a assistência”), eu pensei de cara “ih, vai encher destes puristas linguísticos/arcaístas que sempre enchem o saco do Salvador, reclamando do uso do português informal.
Até agora, não achei nenhum destes babacas.
Deve ser por que, como todo bom “cachorrinho amestrado/macaquinho de estrangeiro”, estes tais “puristas” só reclamam se o autor for brasileiro. Se for um estrangeiro, não só pode, como eles ainda batem palmas…
Com o diria o sábio Nelson Rodrigues, é o nosso velho “complexo de vira-latas” quem fala mais alto.
Por isto que eu sempre digo e repito: “Salvador Nogueira para Presidente & Leandro Karnal para vice”! hehehehe
Abraços
🙂
Mas também devemos esta falta de comentários puristas e deístas (apenas vavá apareceu*) ao fato de que este post não foi lançado às hienas do portal…
*teve um tal de doug também, mas este nem merece atenção…
Abs
A propósito, é muito interessante esse debate (e aqui salvas ao Salvador, que nos ajudou a traduzir a mensagem principal do artigo).
Me intriga o esforço de tentar comparar nosso Sistema com outros para equacionar um problema, na minha opinião é essenciamente particular, que é o surgimento da vida na Terra (ou no nosso Sistema).
O ponto não entender o surgimento da vida na Terra. A comparação com outros exoplanetas é estimar a chance de que algo parecido com o que aconteceu aqui tenha ocorrido lá! O foco é astrobiologia! 😉
Sei que o foco é astrobiologia. Era sobre isso que estava falando Salvador. O que , ao meu ver, transparece dos esforços de descobertas de exoplanetas é a necessidade de encontrar um planeta igual ou parecido à Terra que tente explicar o que aconteceu na Terra em termos de evolução biologica. Exemplo, em Europa podemos encontrar um ecossistema completo numa situação completamente diferente da Terra. Nossas premissas de zona de habitabiliade podem não ser tão corretas.
Existem evidências de que a vida continua a se formar na Terra?
Não. A vida não mais se forma na Terra porque a Terra já é dominada pela vida. Então quaisquer moléculas úteis à vida já são cooptadas pela biosfera existente antes que possam reagir para dar uma segunda origem à vida.
Fiz essa pergunta uma vez e o Salvador respondeu mais ou menos assim: na Terra, qualquer coisa que seja “quase vida” vira comidinha da vida já existente.
É isso. Hoje em dia, achar um pedaço da Terra que não esteja cheio de vida é dificílimo (quiçá impossível). E a vida já estabelecida está perfeitamente adaptada ao ambiente. Como alguém recém-criado a partir do acaso pode se ver em condições de competir com o vizinho que teve 4 bilhões de anos de seleção natural às costas?
O Lineweaver falou coisas pertinentes a essa questão na entrevista da semana passada. Ele supõe que a vida sempre comece muito frágil. Depois de evoluir, ela se torna dura na queda, invencível, como vemos aqui na Terra. Mas no começo não deve ser grande coisa e deve exigir condições muito estáveis. Improvável que vá acontecer em nichos já ocupados…
Salvador, dizer que a vida não surge por falta de espaço, é só uma hipótese. Experimentos em laboratório até hoje fracassaram em mostrar um surgimento de vida, a não ser reprodutivo.
Olha, muito se fala em “ingredientes” da vida. Acho muito válida a comparação. Aliás, é tão valido que quando os ingredientes são os corretos, o bolo, a torta e tudo mais pode ficar delicioso.
Só tem um detalhe. O mérito é de quem usa os ingredientes com inteligência, habilidade e precisão.
Glória a Deus, todo poderoso, criador do universo!
Parabéns pelo blog, cada vez melhor!!!
Alan, experimentos em laboratório já replicaram diversas etapas do surgimento da vida. Só não podem replicar todas de uma só vez porque precisariam milhões de anos. E, assumidamente, ainda há algumas etapas não realizadas. Agora, o bolo não precisa ser delicioso. Ou você acha o zika vírus, para citar um exemplo que está na cabeça de todo mundo agora, uma criação divina, deliciosa? Ele é bem eficiente e insidioso. Do ponto de vista da biologia, muito sofisticado. Difícil de extinguir. E, no entanto, se Deus é mesmo o responsável por sua concepção, eu não quero ter nada a ver com esse Deus.
Obrigado pelo elogio ao blog! Abraço!
De fato no fim do sexto dia criativo, Deus descansou….. 3…2…1… eeee
Bom dia Salvador!
Achei perfeito você terminar com a moral da história afinal, diante dos 4,6 bilhões de anos do Sistema Solar nós apenas acabamos de nascer ou de ser concebidos e muitas coisas ainda poderão ser “concluídas e posteriormente desmentidas” a cada etapa do desenvolvimento tecnológico.
Não sei onde li, mas como ficariam as influências dos gigantes jovianos quando estiveram na parte interna do Sistema?
As conclusões que imaginamos somente são possíveis com os acúmulos dos aprendizados de cada era e em nenhuma precisamos “acertar todas”.
Tetsuo, o estudo não mede o efeito de migrações simplesmente porque não há consenso sobre a migração dos planetas. Há quem diga que migraram para fora, há quem diga que migraram para dentro, há quem diga que migraram para dentro E para fora. Não sabemos o que rolou, na real!