HISTÓRICO: Físicos nos Estados Unidos anunciam a primeira detecção de ondas gravitacionais

Com grande fanfarra, e após um bocado de suspense, físicos nos Estados Unidos anunciaram a realização da primeira detecção positiva de ondas gravitacionais, uma das previsões mais incríveis da teoria da relatividade. E com isso está oficialmente aberta uma nova e poderosa janela para o estudo do Universo — uma que pode até mesmo nos levar a investigar o momento exato de seu nascimento!

O comunicado, transmitido pela internet para o mundo todo no começo da tarde desta quinta-feira (11), foi promovido pela Fundação Nacional de Ciência dos EUA, em Washington, e envolve uma detecção feita pelo imenso experimento conhecido pela sigla LIGO, sigla para Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory. A colaboração envolve cerca de 1.000 cientistas de 16 países.

O sinal em questão parece envolver a colisão de dois buracos negros relativamente modestos, um com 29 vezes a massa do Sol e outro com 36 vezes a massa do Sol. Eles espiralaram um em torno do outro até colidir e se fundir, gerando um único buraco negro com cerca de 62 massas solares — e míseros 300 km de diâmetro. A massa faltante foi convertida durante a colisão em ondas gravitacionais — detectadas então pelo LIGO, a mais de 1 bilhão de anos-luz de distância.

“É a primeira vez que um sistema como esse foi observado, um buraco negro binário em fusão, e é a confirmação de que esses sistemas existem no Universo”, disse David Reitze, diretor-executivo da colaboração LIGO. “O que é realmente empolgante é o que vem a seguir. Quatrocentos anos atrás, Galileu apontou seu telescópio para o céu e abriu uma nova janela para o estudo do Universo. Nós estamos fazendo algo similarmente importante aqui hoje.”

GRANDES INSTALAÇÕES, PEQUENAS MEDIDAS
Composto por duas instalações gêmeas localizadas nos estados de Washington e da Louisiana, o sistema usa lasers correndo em circuitos perpendiculares de 4 km e interagindo uns com os outros. Qualquer minúscula variação no comprimento de um dos braços, provocada por uma onda gravitacional, geraria um padrão de interferência detectável. E, quando falamos em “minúscula”, é algo como um milésimo do tamanho de um próton.

ligo-louisiana

Mas que diacho é essa tal de onda gravitacional? Bem, é uma das predições mais difíceis de confirmar da relatividade geral, que Einstein formulou em 1915 e publicou no começo do ano seguinte — exatos cem anos atrás, portanto. A teoria revolucionária mudou a noção que tínhamos de espaço e tempo, indicando que eles não seriam fixos e imutáveis, como se acreditava até então, mas flexíveis, maleáveis. E a gravidade nada mais seria do que uma distorção nessa nova entidade, o continuum espaço-tempo.

A teoria sugere que objetos em órbita um do outro sofreriam uma redução paulatina de sua distância, como se estivessem espiralando em torno de um centro de massa comum. Isso valeria para todos os objetos no espaço. Então, até mesmo a Terra estaria espiralando na direção do Sol — mas num ritmo tão lento que nem mesmo centenas de vezes a idade do Universo fariam com que nosso planeta mergulhasse em sua estrela.

Isso, contudo, é uma perspectiva muito mais real para estrelas de nêutrons e buracos negros binários, já orbitando muito perto um do outro. Com efeito, a primeira evidência indireta da existência das ondas gravitacionais foi descoberta na década de 1970, quando os astrofísicos americanos Russell Alan Hulse e Joseph Hooton Taylor Jr. descobriram o objeto PSR B1913+16, um par de estrelas de nêutrons orbitando velozmente em torno de um centro de gravidade comum.

Estrelas de nêutrons são o que resta de astros muito maiores, depois que eles esgotaram sua capacidade de produzir energia por fusão nuclear e explodiram violentamente como supernovas. Quando o material que sobra da explosão é superior a três ou quatro vezes a massa do Sol, não há lei física conhecida que impeça seu colapso completo –- o objeto se torna um buraco negro. Contudo, se a massa é menor que essa e pelo menos 40% maior que a do Sol, o resultado final é uma estrela de nêutrons.

No caso do PSR B1913+16, Hulse e Taylor notaram que o período orbital das duas estrelas de nêutrons estava encurtando, como se eles estivessem espiralando para dentro, gradualmente se aproximando um do outro. É exatamente o “sintoma” de que o sistema está perdendo energia na forma de ondas gravitacionais. A descoberta valeu aos cientistas americanos o Nobel em Física de 1993, e graças a isso sabemos que ondas gravitacionais deveriam existir mesmo. Faltava detectá-las diretamente.

É o que parece ter acontecido agora, pela primeira vez.

SERÁ QUE AGORA VAI?
O que deixa o mundo científico um pouco trepidante é que é a terceira vez que isso acontece pela primeira vez. E as duas primeiras não passaram de alarme falso.

A primeira delas envolveu o físico americano Joseph Weber, um pioneiro da caça às ondas gravitacionais e o primeiro a desenvolver detectores para esse fim, na década de 1960. (Um de seus detectores inclusive foi colocado na Lua pela missão Apollo 17!) Weber chegou a anunciar sucesso na busca, mas tudo não passou de um problema no processamento dos dados produzidos pelo detector.

Já o segundo alarme falso foi bem mais recente, em 2014: o grupo do experimento BICEP2, telescópio instalado no polo Sul, disse ter detectado sinais de ondas gravitacionais na radiação cósmica de fundo — supostamente confirmando que o Universo teria tido um período inflacionário logo após o Big Bang –, mas depois teve de voltar atrás, quando se tornou provável que o sinal não passasse, novamente, de um problema de processamento de dados. Eles haviam subestimado o ruído produzido pela presença de poeira dentro da nossa própria galáxia.

Para não repetir o fiasco, o pessoal do LIGO tem mastigado cuidadosamente nos últimos meses o sinal detectado, para excluir ao máximo qualquer chance de engano. Isso levou a meses de especulação de que uma detecção havia sido feita, iniciada pelo físico americano Lawrence Krauss, seguida por longos meses de silêncio.

O experimento já está atrás dessas ondas há um bom tempo. Ligado em 2002, ele passou os oito anos seguintes em busca de uma detecção, sem sucesso. Depois, passou cinco anos fechado para uma atualização, o que o transformou no Advanced LIGO, religado novamente em setembro do ano passado. Mais sensível, ele aumentou seu alcance de detecção. Se antes o sistema podia detectar o sinal de ondas gravitacionais de um par de estrelas de nêutrons em colisão a no máximo 70 milhões de anos-luz de distância, ele passou a poder captar sinais do mesmo tipo num raio de mais de 210 milhões de anos luz. Para eventos mais radicais, como a colisão de buracos negros, o alcance é ainda maior, se estendendo a bilhões de anos-luz. Foi o que bastou.

E agora? Com a divulgação, o resultado estará disponível para ser analisado cuidadosamente por toda a comunidade científica. Não só isso permitirá certificar sua autencidade como abrirá uma nova maneira de estudar o Universo. Objetos como buracos negros em colisão são inacessíveis por meio de telescópios convencionais. Mas é possível estudar em detalhes fenômenos como esse por meio das ondas gravitacionais.

A primeira detecção positiva levará a um aumento radical de interesse na área. Espera-se que os detectores já em operação — e os que ainda virão, baseados em terra ou no espaço — permitam investigar um número cada vez maior de objetos astrofísicos. Talvez seja possível, no futuro, detectar até mesmo as ondas gravitacionais produzidas pelo próprio Big Bang, oferecendo aos cientistas um acesso sem precedentes à origem do Universo.

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Comentários

  1. E a Folha continua travando a noticia para assinantes. Se ainda fosse um furo, tudo bem, mas se isso tá aparecendo até na Gazeta Esportiva, qual o motivo de travar o conteúdo ? Por essas e outras que a Folha vem perdendo audiência ao longo do tempo. Abre o Olho Folha.

    1. Posta o link da Gazeta Esportiva? Adoraria ler um texto sobre ondas gravitacionais feito por uma equipe de esportes… rs

  2. Duas coisas que não entendi são as seguinte:

    Aquela ‘teia’ que aparece no video (min 1:18) é uma representação gráfica da gravidade, não? Qualquer objeto de grande massa causa uma perturbação na gravidade, tanto que buracos negros desviam a luz, correto?

    Não daria pra detectar qualquer uma dessas perturbações? Ou só quando a ‘porrada’ é muito grande?

    A ‘geração’ de ondas gravitacionais gasta energia?

    1. A onda gravitacional é uma distorção que se propaga pelo espaço. A gravidade em si, digamos, fica parada no mesmo lugar — e é fácil de detectar. Toda vez que você tropeça e cai, está detectando. 🙂

      E sim, a geração de ondas gravitacionais gasta energia. Nada é de graça no Universo. rs

  3. A Teoria Geral da Relatividade é de i915 e não 1905, como informa a reportagem.
    Em 1905 Einstein publicou o que se conhece hoje Como Teoria Restrita da Relatividade.
    A teoria que descreve a gravidade como distorção do espaço-tempo é a de 2015. Ondas gravitacionais são perturbações que se propagam pela deformação do espaço-tempo, que é uma estrutura elástica.

    1. Você tá doido? No texto está escrito 1915 (com publicação em 1916), não 1905.
      E outra, em seguida, você fala que a teoria é de 2015. Ahn?

  4. Que dureza! Acessando a CNN e a BBC pude ver e ouvir cientistas, muitos dos quais participaram da detecção, e outros geniais, como é o caso do Hawking. No Brasil a notícia chega através de um tradutor de matérias mundo afora, e o pior, q nem cita as fontes q utilizou. Não esquenta não tradutor, não vou contar seu segredo pra ninguém.

    1. Puxa, um novo morador de Fodópolis! Fica lá na BBC, e beije o espelho.

      Quando seu ego explodir depois de tanto inflar, a onda gravitacional será detectada pelo LIGO.

  5. Salvador, sou leigo no assunto, mas curioso o suficiente para tentar entender. E confesso que estou bem confuso.
    Vi que já perguntaram, mas sinceramente não entendi a conversão de 3 massas solares em ondas gravitacionais.
    Já vi descrição de processos de conversão de matéria em fótons, mas nunca tinha visto nada sobre conversão em gravidade (ou ondas gravitacionais).
    Tinha lido em alguns artigos que as ondas gravitacionais eram geradas pela pertubação do tecido espaço-tempo devido a rotação dos objetos em colisão, mas não dizia da perda de massa no processo. Mas se há perda de massa algo de fato acontece 🙂

    Enfim, estou bem curioso agora, vou dar uma pesquisada a respeito no google.

    Seja como for, fantástica essa noticia!
    Abs!

  6. Pessoal, uma pergunta que já me fizeram quando eu fazia meu curso de Física:
    Será que esses aparelhos são construídos somente para detectar exatamente o que a teoria prediz? Será que estamos procurando realmente o que precisa ser descoberto?
    São perguntas de Filosofia da Ciencia, e creio que são relevantes e inquietantes.
    Já procuram as ondas gravitacionais há tanto tempo e tiveram que construir vários aparelhos até agora.
    Não deu certo com um, constroi outro e vai assim por diante, até detectar.
    Tenho um certo ceticismo dessas descobertas. Mas não sou contra elas.

    1. Celso, a descoberta validou a tentativa. Agora, ainda que não tivessem achado nada, a tentativa seria válida, porque desafiaria a teoria. Ciência é isso. Testar e confirmar (ou refutar, não importa) hipóteses! 🙂

    2. Óbvio que são construídos para detectar o que a teoria prediz. Como construir algo com o propósito específico de detectar o que não se imagina que exista? É claro que às vezes acontecem acidentes felizes e aparece algo inesperado, o melhor exemplo disso é a detecção pioneira da radiação cósmica de fundo em equipamentos de radar (inicialmente acharam que era defeito ou ruído terrestre, no final rendeu um prêmio Nobel).

  7. Mal comparando, é como se este equipamento de deteção tivesse descoberto o efeito tsunami dos terremotos no espaço sideral. A elevação das ondas marinhas, guardam aqui certa similaridade com as energias detectadas nas ondas gravitacionais. No futuro, acredito que os cientistas vão poder identificar o quanto de energia foi gerado, e a que distância da Terra aconteceu o fenômeno. Beleza!

  8. Salvador, qual a diferença conceitual entre ondas gravitacionais e a força da gravidade em si. Esta última não trafega, teoricamente, mesmo mais rápido do que a luz (como ilustrado no famoso exemplo do desaparecimento hipotético do Sol e seu efeito gravitacional quase que instantâneo no planeta Terra, e não no lapso de aproximadamente 8 minutos que a luz leva para viajar do Sol à Terra)?

    1. O efeito gravitacional NÃO É instantâneo. A gravidade trafega na velocidade da luz. Se o Sol sumisse, a Terra levaria 8 minutos para parar de orbitar em torno do ponto em que ele estava! Já ondas gravitacionais são o resultado de algum evento gravitacional dramático que produz flutuações no espaço-tempo — e elas também viajam à velocidade da luz.

  9. Olá Salvador, não entendi como detectaram que a origem dessa onda gravitacional seria da união de 2 buracos negros… Como descobriram isso? Poderia ser de alguma outra coisa certo?

    Abraços

    1. Você vê o padrão de onda detectado e compara com a previsão da teoria, escolhendo o modelo que melhor se encaixa. É impressionante como a teoria e a observação se encaixam precisamente — e permitem você saber o que rolou por lá!

  10. muito provavelmente einstein foi abduzido por ets, que o escolheu como mensageiro dos segredos mais profundos do universo, mas acho que apenas 10% foi revelado por ele, como um chute inicial para que os humanos desvendem o resto dos segredos por si só. se a raça humana estagnar “cientificamente” falando nos próximos séculos, talvez os ets nos enviem novos conhecimentos novamente.

    1. Pra que diminuir os méritos da inteligência humana?
      Einstein usando de engenhosidade, percepção e de muito conhecimento conseguiu formular algo q revolucionou a ciencia, mas só o fez pq muitos antes dele pavimentaram o caminho. Não foi uma revelação magica e gratutita de ETs, mas o resultado de muito trabalho e dedicação.

  11. Salvador,

    Existe a possibilidade de tais ondas gravitacionais serem uma das consequências de algumas das esquisitices da física quântica? Abraço.

    1. Fiz a pergunta de forma errada. O correto seria, existe a possibilidade de algumas das esquisitices da física quântica serem uma das consequências de tais ondas gravitacionais?

      1. Não. Aliás, hoje, na coletiva na UNESP, perguntei bastante sobre unificação, mas não saiu nada. Esse é um fenômeno 100% relativístico.

  12. Salvador, com certeza, esse instrumento duplo é muito mais sofisticado que uma lunetinha de Galileu, que tanto revolucionou o mundo… Há outros que possam replicar a experiência? É possível direcionar o instrumento para uma dada região do céu, como um telescópio ou radiotelescópio, ou ele capta qualquer onda, de qualquer direção?

    1. Perguntas todas pertinentes! Sim, o Virgo, na Itália, será capaz de replicar a partir de setembro, e o próprio LIGO, sendo duplo, já ajuda. Com uma triangulação de duas fontes (os dois LIGOs) dá para estimar a região do céu de onde vieram as ondas, mas vagamente. Os cientistas sabem que veio de algum lugar na direção da Grande Nuvem de Magalhães (mas muito mais longe que ela). E, sim, a ideia é tentar observar algo que possa ser associado à onda gravitacional. Nesse caso, houve o esforço, mas não foi possível observar nada de anormal que se atribuísse ao fenômeno — o que até é normal, uma vez que não se espera que dois buracos negros em colisão, com essas massas, vão produzir algo no espectro eletromagnético!

  13. O nosso mundo, tal qual o universo e suas leis são, ainda , quase que totalmente desconhecidos por nós terrestres. Não tenho dúvidas de que já fomos objeto de estudos e visitas por seres com milhares de anos a nossa frente, mas um dia poderemos lá chegar, e essas no vás descobertas sobre ondas gravitacionais são alguns passos, apesar de ínfimos, para que um dia tenhamos um razoável domínio desse universo.

  14. Pessoal, tou na correria aqui ainda, mas não percam a esperança — se você postou um comentário, ele vai entrar, cedo ou tarde, OK? 🙂

  15. Salvador, esse “emagrecimento” de buraco negros por ondas gravitacionais tem algo a ver com a radiação Hawking? Até então eu imaginava que só pela evaporação um buraco negro poderia perder massa…

    Outra coisa: a onda gravitacional é limitada pela velocidade da luz?

    Abraço!

    1. Nada a ver com radiação Hawking. E agora que o buraco negro é um só, e não dois, e não vai mais perder energia pela interação gravitacional, só a radiação Hawking para emagrecê-lo. rs
      E sim, ondas gravitacionais, ao menos de acordo com a teoria, trafegam na velocidade da luz.

  16. A Voyager capitã Janeway foi várias vezes atropelada por ondas gravitacionais, e o Q pintava e bordava no continuum espaço-tempo.
    Pena que será daqui a 400 anos…

  17. Salvador, somos levados a crer que nada escapa da gravidade de um buraco negro, excluindo aí a “Radiação Hawking”. Inclusive gerando problemas conceituais como a perda de informação de forma irreversível (o “paradoxo da informação”). De que forma, portanto, esse sistema binário “lança” a energia equivalente a 3 massas solares em forma de ondas gravitacionais? Como essa onda, energia, escapa do sistema? Existe já uma teoria para isso, uma “agitação” de cordas, através de “gravitons”? Pelo que eu li os cientistas dizem poder analisar essas ondas atrás de informações a respeito dos sistemas que as geraram, essas ondas poderiam conter informações a respeito também do que compõe os buracos em si, ou seja, talvez um caminho para recuperar informações “perdidas” da matéria e energia que já foi consumida por eles?

    1. Qualquer objeto pode perder energia por interação gravitacional. O fato de ser binário permite isso. Mas, claro, depois da fusão, aí não perde mais energia, a não ser pela radiação Hawking.

      1. Salvador, qual a relação entre gravidade e ondas gravitacionais? No caso dos buracos negros, então, todo seu poder de atração é resultado da radiação Hawking?

        1. Ondas gravitacionais são o produto de objetos que geram gravidade se movendo. Radiação Hawking é a forma pela qual buracos negros evaporam, não tem nada a ver com sua atração (que se dá pela gravidade).

    2. Minha opinião de leigo meio-físico: Se um buraco negro estivesse apenas em órbita do outro, ambos não emitiriam ondas gravitacionais, o sistema seria “estável”. Como um está literalmente caindo no outro e vice-versa, o potencial gravitacional perdido escapa na forma de ondas gravitacionais, além de se transformar em energia cinética nos objetos (aumento de velocidade da queda)…

      Seria isso, não é, tchurma?

      1. Não, Radoico, a própria teoria sugere que, ao girar um em torno do outro, eles emitem ondas gravitacionais (que leva parte da energia e faz com que a órbita decaia). Então a colisão é uma consequência natural da teoria. Não havia como esses objetos ficarem em órbita eternamente, sem decair.

  18. Estou cada vez mais entusiasmado por viver neste momento histórico, tendo oportunidade de acompanhar essa possível transformação sistêmica do Universo onde o homem também faz parte. Nada disso será possível se não buscarmos ressonância entre as transformações do Universo pelo conhecimento do homem, com o Universo da consciência Humana. Viva o Século XXl……..

  19. Salvador

    Gostaria de saber se entendi corretamente. Os dois buracos-negros iniciais tinham um massa somada de 65 vezes a massa do Sol. O buraco-negro resultante da fusão tem uma massa de 62 vezes a massa do Sol. A diferença (equivalente a 3 vezes a massa do nosso Sol) foi convertida em atração gravitacional (e a consequente curvatura do espaço-tempo ao redor do buraco-negro resultante). A atração (curvatura) não se dá em “bloco” e sim através de uma sucessão de ondas gravitacionais, que se deslocam à velocidade da luz. Cada onda gravitacional, por sua vez, provoca uma distorção mínima no espaço-tempo. E cada onda gravitacional é muito, mas muito pequena mesmo, e daí a dificuldade de detectá-la.

    É isso mesmo? (sou leigo total, por isso desculpa a chatice da pergunta).

    1. Eduardo, tem umas dez oscilações ao todo, correspondendo à aproximação final e fusão dos dois buracos negros. Nesse processo, essas ondas são emitidas à custa de massa. O sistema começa com 65 massas solares, termina com 62. 😉

  20. Obrigado Salvador, você tornou minha tarde de trabalho completamente improdutiva. Agora só consigo ficar imaginando essas ondas gravitacionais rsrs.

    Este princípio é semelhante ao de cargas elétricas quando sofrem aceleração e emitem ondas eletromagnéticas (o erro principal dos primeiros modelos atômicos, antes da mecânica quântica vir em ajuda, era justamente esse – os elétrons deveriam colidir com o núcleo, pelo eletromagnetismo clássico).

    Obviamente, ainda estou confuso com algumas coisas. A frequência desta onda, neste caso específico dos sistemas binários, estaria relacionada à frequência de rotação do sistema. O que seria exatamente a intensidade da onda? Distorção espacial? Que espécie de medida seria essa?

    1. É uma curiosa analogia essa com o eletromagnetismo. Não sei se é precisa, mas é interessante.
      Sobre a frequência, sim, é a da rotação, e a intensidade parece subir quase linearmente com a massa, se não me engano.

    2. Eis uma analogia intrigante, ondas gravitacionais serem similares às ondas eletromagnéticas… Claro, como a força eletromagnética é MUITO maior que a força gravitacional, as ondas eletromagnéticas seriam muito mais atuantes e facilmente detectáveis…

      (Se você não acredita nessa relação de forças, veja que um imãzinho de nada puxa um clip que está sendo atraído pela poderosa Terra inteira.)

      Com a palavra, os físicos! 🙂

  21. O que Einstein falar pode assinar em baixo, confirmamos hoje o que ele já sabia muito tempo atrás, em analogia o universo é como um lago quando se atira pedras provoca ondas e universo funciona desta forma a detecção dessas ondas no espaço tempo abrem portas para estudo de grandes eventos cósmicos

  22. o problema nao é provar que existem ondas gravitacionais.
    o problema é provar a fonte das ondas, que nao podem
    existir sem algo que provoque essas ondas. nao existe qualquer
    ideia de que exista tal fonte.

    1. Esse é o charme de estudar ondas gravitacionais! Nesse caso, souberam o que as produziu! A colisão de dois buracos negros!

    1. Ignorância desculpada. Essa descoberta valida um esforço tecnológico para abordar um problema de ciência básica que pode ampliar os horizontes de nossa compreensão acerca do Universo. Claro que, para desenvolver os instrumentos necessários, os cientistas tiveram de desenvolver uma série de tecnologias que impactam no seu dia-a-dia, nas áreas de telecomunicações, processamento de dados, uso de lasers e detecção de ruídos nos instrumentos (como, por exemplo, tremores de terra). Então, se no varejo, a descoberta pode não ter servido para nada, persegui-la serviu. E mais: agora que chegamos lá, certamente desenvolveremos mais tecnologia a partir dos avanços da ciência básica, de forma que você pode esperar novos impactos na sua vida nos próximos anos e décadas. O que você provavelmente também pode esperar é não entender nada disso quando esses avanços chegarem. Você vai achar que é mágica ou coisa do tipo. Ou será que você sabia que o Waze no seu celular só funciona porque o Einstein formulou a teoria da relatividade geral, que no varejo daquela época também não servia para nada?

    1. Infelizmente o Nobel não é concedido postumamente. Além do mais, o Einstein já havia recebido o prêmio em 1922 pelo efeito fotoelétrico (não se concede outro prêmio para a mesma pessoa na mesma área).

      1. Ele poderia ganhar se estivesse vivo. Mas quem certamente vai ganhar é o pessoal da colaboração LIGO, pela descoberta.

  23. Olá Salvador,

    Quão direcional é a detecção de ondas gravitacionais? Como se faz para filtrar o sinal gravitacional da colisão dos dois buracos negros, de outros tantos eventos que devem ter existido nessa raio de 1 bilhão de anos-luz?

    grato,
    Danilo.

    1. Eventos capazes de produzir ondas gravitacionais detectáveis não são tão comuns assim. Podemos esperar alguns por ano, mas não uma cacofonia gravitacional. Sobre o direcionamento, é possível triangular com detecções por múltiplas instalações. No caso de hoje, foram duas (os dois LIGO), então só dá para estimar vagamente a região do céu de onde veio o sinal.

  24. Interessante, as ondas sempre existiram, o Vácuo Quântico sempre existiu inclusive antes do big ben. Infeliz é a nossa ciência que para crer precisa ver!

    1. Ué, sem a ciência, vc nunca saberia q ondas gravitacionais e vacuo quantico existem.
      Infeliz o homem q crê em tudo q lê mas não sabe o que é…

  25. Caro Salvador, neste caso a onda gravitacional seria o quê? Uma partícula? Uma onda? Ou os dois, como no caso do fóton? E mais: sua detecção abriria espaço para uma teoria do tudo, envolvendo Relatividade e a Mecânica quântica? Ou estou sendo precipitado ou estou formulando a pergunta de forma errada?

    1. A onda gravitacional é uma flutuação no próprio espaço. Não é uma entidade física. É uma vibração do espaço. 🙂
      Pelo visto, para teoria de tudo, não tem muitas implicações. Perguntei bastante sobre isso lá na coletiva da UNESP.

  26. que mais poderemos saber? gravidade propaga-se em alguma velocidade específica (da luz?), podemos difratá-la, concentrar o feixe???

  27. O terceiro provavelmente será fruto de ondas sismológicas. O que tem isso com a origem do Universo?

    1. Não, já descartaram ondas sismológicas. Aliás, é a primeira coisa que olham, né? Se até você pensou nisso…

      A conexão com a origem do Universo é que, agora que sabemos que as ondas gravitacionais existem mesmo, podemos ambicionar detectar as que foram geradas pelo Big Bang e com isso estudar de forma mais detalhada o nascimento do cosmos.

  28. Ótimo texto Salvador, salvei o link aqui pra repassar como contraponto quando começarem a surgir os hypes sobre antigravidade baseados nesse experimento. 🙂 Só uma ressalva, se não me engano a ordem de grandeza da deformação detectada é de 1/1000 do raio do próton.

    Abraços,

  29. …e perto de dois mil anos atrás alguém já dizia: “…e ainda que conheça toda ciência e mistérios do universo, se não tiver caridade (amor) de nada servirei…”
    Aplausos à evolução tecnológica do homem; mas… e a sua evolução moral? Quando se conquistará?

    1. “Nosso poder científico superou nosso poder espiritual. Temos mísseis telecontrolados e homens descontrolados.”
      Martin Luther King

      “Contra a estupidez os próprios deuses lutam em vão.” (Von Schiller).

      Parece-me que essas frases se confirmam a cada dia que passa…

  30. Não deveriam publicar notícias assim. O iluminismo científico prejudica o obscurantismo religioso. Na medida em que as grandes descobertas vão chegando ao público, o criacionismo se encolhe diante das evidências de que nenhum “ser” de outro mundo foi responsável pela existência do universo.

  31. Salvador,
    Parabéns pelas publicações.
    Só, não entendi se essas ondas são raras ou difíceis de serem detectadas.

    1. Salvador, na boa… eu admiro sua paciência e a liberdade que vc dá ao visitante de escrever asneiras.

      Mas esse tipo de coisa encoraja seu blog virar espaço de “trabalhe em casa e ganhe dinheiro”, “emagreça agora, pergunte-me como” ou até mesmo “enlarge your p(*)”.

      A propósito… Hélio, escafeda-se.

      1. Ah, mas quando vem comentário assim, eu barro. (Ou você não acha que chegam toneladas de spam aqui todo dia?) Asneira pode falar. Propaganda sem relação com o assunto feita por robô, fica de fora.

  32. Vou ler a noticia no Estadão, pois a Folha tem a deselegante mania de bloquear conteúdo. Que vergonha.

    1. As pessoas têm o deselegante hábito de quererem tudo de graça, inclusive informação de qualidade…

  33. Qual a possibilidade de um evento desses acontecer nos próximos anos ou meses, com a nova sensibilidade do Advanced LIGO? Ondas gravitacionais são previstas apenas nesses sistemas binários ou outros eventos podem gerá-los?
    Achei que pudesse ter alguma ligação com a supernova ASASSN-15lh mas seria muito recente para validarem os dados, além de estar muito distante.

    1. Alguns eventos detectáveis por ano são esperados. Acredite se quiser, a descoberta foi feita apenas com os primeiros 15 dias de coleta de dados do Advanced LIGO! 🙂

  34. A cada descoberta da Física vemos o mundo de maneira diferente e mais perto do real.
    Quando pudermos controlar a onda gravitacional poderíamos pular do prédio mais alto do mundo sem proteção e cairíamos suavemente na rua de asfalto.
    agiríamos como o super homem segurando ponte que cai, trocaríampos os predios de lugar com uma mão só etc.

    Por isso amo a tecnologia.

  35. Legal, possivelmente o próximo Nobel! Muito bom saber que ainda se usa a tecnologia para alguns fins que não a nosso própria destruição!

    1. Vejo num comentário desses, o que chamo de “Síndrome do Doutor Silvana” o cientista louco,das histórias da Família Marvel.Eu diria o contrário:MUITAS,MAS MUITAS VEZES ,E NA MAIOIRA ESMAGADORA, ELA É USADA PARA O NOSSO BEM, NOSSO CONFORTO E NOSSO LAZER.Apenas em ALGUNS casos ela é mal usada.
      O ensino bem feito e bem completo é raridade em nossas escolas,como também no mundo em geral.E ao afastar-se do povo, como por exemplo na elitização excessiva dos cursos universitários, onde as licenciaturas só vão se empobrecendo, menos gente sabe de fatos corriqueiros.
      Sempre leitor assíduo de revistas BOAS de divulgação científica popular.”Popular Science” por exemplo.Lia nas bibliotecas da USIS.Meu pai não poderia comprá-las.Daí que aprendi a fazer umas “mágicas”.Exemplo:num bastão de vidro,com a ponta embebida emálcool e levemente tocada por uma solução de ácido sulfúrico concentrado e permanganato de potássio.É só bater em qualquer coisa que o algodão pega fogo.Não deu outra: ganhei apeolido de “Dr.Silvana” e “Cientista Louco”.
      Na minha casa tem dessas “loucuras”,por todo lado.Tudo funciona para melhor e com muito menos esforço.Móveis com roletes, dois em trava, dois com trava.Por que?O atrito por rolamento é 10 vezes menor que o atrito por escorregamento.
      E assim devia ser.A melhor tecnologia vem do que a gente aprende direito na escola e usa.Daí é um pulo para saber cada vez mais.Graças a Deus e a mim, consegui.
      E vamos ver se um di acharemos o “graviton” ou não.

  36. Carambaaaaa PARA TUDO!!!
    Pensei que não iam achar!
    Imagina unificar as leis da física, como Einstein tanto tentou? Que elegância.

  37. Além de acesso à origem do Universo, essas ondas ajudam a entender a gravidade e a manipula-la de forma mais prática?

    1. Esse experimento não é para entendermos a gravidade, isso um carinha chamado Isaac Newton fez em 1684…

      O que esta peteca fez, foi confirmar uma das mais difíceis previsões de outro carinha, um tal de Einstein…

      Quanto a manipular uma coisa capaz de curvar o continuum espaço-tempo, creio que seja pretensão demais…

  38. Creio que o experimento precisa ser repetido por um grupo de físicos independentes para comprovação do feito experimental.

    1. A ciência se auto regula, como fala no texto “Com a divulgação, o resultado estará disponível para ser analisado cuidadosamente por toda a comunidade científica. Não só isso permitirá certificar sua autencidade como abrirá uma nova maneira de estudar o Universo.” Ou seja a partir do momento que isso foi compartilhado existe um mundo inteiro da ciência querendo desmentir isso, se tiver algo errado vão encontrar… É mais ou menos assim que a ciência funciona!

      1. É isso! Mas a chance de engano está em 1 em 5 milhões, segundo os autores da descoberta. 🙂

    2. Como, se só existe este par de sensores capaz de replicar o resultado?

      Não dá pra chegar lá no IFUSP e falar: “E aí pessoal, vamos procurar ondas gravitacionais?”

      1. Calma, o resultado pode ser replicado com outras observações feitas com o mesmo observatório, de outros eventos similares. E não custa lembrar que o episódio de agora já teve uma contraprova, porque foi detectado pelos dois observatórios gêmeos do LIGO! 🙂

        1. Explico-me: Tenho certeza que serão feitas novas detecções de ondas gravitacionais, mas, pelos mesmos equipamentos e pela mesma equipe de cientistas, ou seja, por hora é impossível fazer o que o Deilton sugeriu.

          1. O Virgo, detector italiano, deve ter capacidade similar e entrará em operação em setembro. Logo não será só o LIGO a dominar o “mercado” das ondas gravitacionais.

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