Estudo com réplica do Sol jovem sugere que a vida na Terra esteve por um fio
Ao estudar uma estrela que é praticamente um réplica perfeita do Sol, só que bem mais jovem, um grupo de astrônomos com participação brasileira demonstrou que a existência da vida na Terra esteve por um fio. De acordo com eles, foi somente graças ao campo magnético do nosso planeta que a história teve final feliz.
O trabalho foi aceito para publicação no periódico “Astrophysical Journal Letters” e tem como primeiro autor José Dias do Nascimento, astrônomo da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e pesquisador visitante do Centro Harvard-Smithsonian para Astrofísica, nos Estados Unidos. Do Brasil, também participa do estudo o astrônomo Gustavo Porto de Mello, do Observatório do Valongo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
O alvo dos pesquisadores foi a estrela Kappa¹ Ceti (não tente falar isso em voz alta; fica esquisito). Ela está localizada na constelação da Baleia, a uns 30 anos-luz de distância. E é igualzinha ao Sol, só que jovem. Enquanto a nossa estrela-mãe é uma senhora de meia-idade, com 4,6 bilhões de anos, os pesquisadores estimam que Kappa¹ Ceti seja uma adolescente, com entre 400 e 600 milhões de anos.
Não custa lembrar: as evidências mais antigas de vida na Terra remontam à época em que o Sol tinha essa idade aí.
“Ela é uma réplica do Sol jovem. Sua metalicidade e massa são praticamente iguais — dentro da barra de erro observacional — às do Sol”, disse José Dias do Nascimento ao Mensageiro Sideral.
ANOS REBELDES
Já se sabe que as estrelas, a exemplo dos seres humanos, são mais agitadas, instáveis e tempestuosas quando jovens. O passar dos anos vai tornando tanto umas como outros mais calmos, pacíficos e cordatos.
A questão é: quão mais raivoso era o Sol em sua juventude? Os pesquisadores puderam estudar isso usando a réplica Kappa¹ Ceti, medindo com precisão a magnetosfera da estrela. Dê uma olhada no naipe da modelagem das linhas de campo magnético. Troço irado.
Com esse campo magnético aí, Kappa¹ Ceti deve ser uma estrela cheia de manchas estelares gigantes, bem maiores que as do Sol de hoje, e capaz de supererupções, com energias milhões de vezes superiores às envolvidas naquelas ejeções de massa coronal da nossa estrela. O vento estelar dela, por sua vez, é cerca de 50 vezes maior que o solar atual. Isso é um caminhão de partículas altamente energéticas que a estrela está ejetando e soprando na direção dos planetas que por ventura estejam ao seu redor.
Decerto o Sol fez a mesmíssima coisa por aqui, 3,8 bilhões de anos atrás, banhando os planetas em altas doses de radiação. Hoje, em proporção bem menor, continua fazendo. Mas a Terra tem seu próprio campo magnético, que age efetivamente como um escudo.
O drama é que, naqueles tempos, a magnetosfera terrestre seria menor e mais fraca — talvez até mesmo metade do seu valor atual. “A Terra primitiva não tinha tanta proteção como tem agora, mas teve o suficiente”, diz Nascimento. “A sobrevivência da vida primitiva em nosso planeta esteve por um triz.”
A GRAMA DO VIZINHO É MENOS MAGNÉTICA
Em compensação, nosso vizinho Marte, naquela época, já estava sofrendo com o “desligamento” do seu campo magnético. A magnetosfera de um mundo tem uma correlação com o nível de energia interna nele, que por sua vez tem ligação com o tamanho. Quanto maior ele é, mais intensa ela tende a ser e por mais tempo tende a durar. O planeta vermelho, menorzinho que a Terra, viu seu campo magnético pifar muito cedo. E aí deu “ruim” para ele. “Perdeu a água, a atmosfera e provavelmente a possível sopa orgânica — vida — que por ventura tenha se formado lá”, diz Nascimento.
Os resultados são consistentes com o da sonda americana Maven, que recentemente mediu a constante erosão da atmosfera marciana pelo vento solar. Os pesquisadores da Nasa estimam que a transição do estado molhado para seco de Marte tenha ocorrido entre 4,2 bilhões e 3,7 bilhões de anos atrás — exatamente na mesma época em que as primeiras formas de vida apareceram na Terra e no momento em que o campo magnético marciano pifou. Tendo um Sol com comportamento de Kappa¹ Ceti, na época, não ajudou. (Não é bonito quando diversas linhas de pesquisa, baseadas em medições diferentes, costurando ciência planetária e astrofísica, começam a contar uma história coesa e consistente? É praticamente o Universo fazendo uma delação premiada para os cientistas.)
E KAPPA¹ CETI?
Não podemos também perder de vista que observar essa estrela na constelação da Baleia é como olhar para um sistema planetário jovem, com apenas 400 milhões a 600 milhões de anos de idade. Sabemos que todas as estrelas produzem planetas — faz parte do processo natural de formação estelar. Quais será que existem lá?
Sabemos que não há um Júpiter quente, ou seja, um planeta gasoso muito próximo da estrela — que seria péssima notícia para vida, pois imagina-se que esses brutamontes nasçam longe de suas estrelas e depois migrem para dentro, aloprando tudo que encontram no caminho — inclusive potenciais mundos rochosos na zona habitável (aquela nem muito quente, nem muito fria) do sistema.
O mais intrigante é que resultados preliminares indicam, talvez, a existência de um planeta de menor porte. Mas não será fácil confirmá-lo. “Muito difícil detectar”, explica Nascimento. Estrelas muito ativas são terríveis alvos para detectar exoplanetas, porque sua atividade gera um ruído muito grande que se sobrepõe (e às vezes até imita) um sinal de planeta. “Mas tudo vai se modernizando, inclusive a modelagem da atividade”, diz o pesquisador. “Kappa é um excelente laboratório para essa modernização e o desenvolvimento de técnicas de detecção em estrelas ativas.”
Apesar de todas essas ressalvas, o pesquisador da UFRN se permite um devaneio. “Pelo que sabemos, Kappa pode ter um planeta e as bactérias estão estourando lá neste instante!”
Será? Difícil saber. Mas é incrível pensar que, em vários cantos do Universo, a cada instante que passa, a sensacional história do nosso Sistema Solar — ou alguma variação dela, com toda a criatividade que o cosmos já revelou ter — está começando de novo, e de novo, e de novo.
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Pelos cálculos poderia levantar a hipótese dos nossos antepassados terem sido os Marcianos? Se parar para analisar, o homem procura outro planeta para Sobreviver, em caso a Terra “acabasse”. Os Marcianos poderiam ter o mesmo pensamento e logo migraram para a Terra. Com a sua tecnologia que trouxeram construirão as pirâmides (entre outros), podendo terem ido embora da Terra depois? ou se extinguido também.
É somente teorias hahah
Antepassado não, mas os primeiros migrantes da terra.
Salvador;
Sei que não pertence exatamente a tua área, mas você já leu em algum lugar, algo que levantasse a hipótese de a separação das placas do Oceano Atlântico seja consequência da entrada de um objeto grande pelo Oceano Pacífico?
Se você considerar o circulo de fogo, e pensar em um objeto de grande porte colidindo com a terra, a expansão provocaria uma dilatação no lado oposto, tal como temos no fundo Atlântico, e o deslocamento da Antártida para o polo sul do planeta.
Sei que pode parecer uma grande bobagem, mas pare um minuto para analisar.
Um abraço.
Laerte, nunca vi essa ideia antes e não acho possível. Está claro que o processo tectônico é lento e constante há muitos milhões, se não bilhões, de anos. E já temos uma compreensão razoável de tectonismo, observando outros exemplos no Sistema Solar — sobretudo nas luas geladas do Sistema Solar exterior. Abraço!
O lamentável sobre esta estrela, é que se uma nave partisse hoje da terra a 30% da velocidade da luz, levaria mais de 90 anos pra chegar lá. Se quando chegasse nos transmitisse na velocidade da luz os dados da observação, eles levariam outros 30 anos pra chegar até nossas antenas. é uma pena, mas pra conseguir ser telespectador de uma aventura dessa só torcendo pra futuramente conseguir transferir minha consciência pra um corpo metálico imortal.
Rodolfo, acho que é a mentalidade humana que precisa mudar. Aliás, essa mesma mentalidade precisa mudar já, aqui, agora, para resolvermos nossas tretas terráqueas. Precisamos parar de pensar em recompensa instantânea e abraçar projetos que atravessem gerações. Como resolver o problema da educação no Brasil se os governantes limitam seus horizontes a 4 ou 8 anos e, pior, só pensam em projetos em termos dos dividendos políticos que podem render? Temos de aprender a apreciar o legado como um valor maior do que a recompensa pessoal. Não é maravilhoso mandar uma sonda para lá e saber que seus bisnetos poderão apreciar todo o valor de um trabalho que você começou, mas não viveu para ver chegar a termo? 🙂
ah claro salvador, o legado deixado aos nossos descendentes também é alvo de parte considerável do rol de coisas com as quais eu me importo. Mas se eu pudesse esticar um pouco mais a minha própria expectativa de vida e a possibilidade de contemplar por mim mesmo esses acontecimentos, certamente eu faria questão.
Ah, sem dúvida. Eu também adoraria uma bisbilhotada no futuro. 🙂
Salvador, bacana, texto excelente como sempre, mas ao olhar tudo o que acontece à nossa volta deixo o “final feliz” do primeiro parágrafo apenas por sua conta….. abs
Não tenho dúvida de que o final é feliz. A humanidade é um experimento que vale a pena. E cabe a nós nos certificarmos disso.
Vou me inspirar no seu otimismo. Abs!
A metalicidade de Kappa1 Ceti é semelhante a do Sol agora ou do Sol jovem? O efeito da Lua não aumenta nosso campo magnético?
É praticamente igual, nos dois casos — metalicidade não muda radicalmente durante a vida da estrela, salvo em suas fases finais, e mesmo assim só no núcleo, que não pode ser medido por espectroscopia.
Boa tarde Salvador!
Só para dizer que nestes últimos dias os bombardeios de notícias ruins e ter a oportunidade de ler coisas que alimentam nossos conhecimentos torna-s um verdadeiro bálsamo. Parabéns.
Valeu!
Meu caro Salvador. Leia com atenção o seu próprio texto: ”Enquanto a nossa estrela-mãe é uma senhora de meia-idade, com 4,6 bilhões de anos, os pesquisadores estimam que Kappa¹ Ceti seja uma adolescente, com entre 400 e 600 milhões de anos. Não custa lembrar: as evidências mais antigas de vida na Terra remontam à época em que o Sol tinha essa idade aí.” Quando você diz “que o Sol tinha essa idade aí”, eu, que sou analfabeto, só posso entender que está se referindo ao último objeto do texto, ou seja, Kappa 1 Ceti. E depois: ““Os pesquisadores da Nasa estimam que a transição do estado molhado para seco de Marte tenha ocorrido entre 4,2 bilhões e 3,7 bilhões de anos atrás — exatamente na mesma época em que as primeiras formas de vida apareceram na Terra e no momento em que o campo magnético marciano pifou.” Precebeu? Se percebeu, tenho certeza que tentará melhorar seu texto na próxima. Afinal quando leio sua coluna, leigo que sou, é para me informar e não me confundir. Obrigado por sua atenção.
Exato, ele está referindo à idade de Kappa1 Ceti. A vida surgiu quando o Sol tinha a idade de Kappa1 Ceti, entre 400 e 600 milhões de anos. Ou seja, entre 4 bilhões e 4,2 bilhões de anos atrás (subtraia 4,6 bilhões — a idade atual — da idade da época — 0,4 a 0,6 bilhão — e você terá esse número, 4 a 4,2 bilhões de anos atrás, que é mais ou menos o mesmo que 3,7 bilhões a 4,2 bilhões, como disse mais adiante.
Continuo sem entender onde há contradição.
Acho que não foi erro honesto Salvador….continuo com a hipótese mobral….
Seu blog é um dos poucos que adoro ler e, também, repensar o desejo de encerrar a assinatura da UOL Ainda bem que a nossa estrela não é do tipo A ou pior… E uma pergunta: tal fase “violenta” pode ocorrer com estrelas de outras classes, principalmente das classes abaixo do G? E se fosse da M5 ou M8, há possibilidade de zona com tal atividade quando a estrela acaba por se formar com os planetas? E vida longa e próspera para o blog!
Carlos, obrigado pela confiança. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Estrelas maiores que o Sol, paradoxalmente, são mais calmas. Mas vivem bem menos e evoluem mais depressa, dando pouco tempo à vida para se desenvolver. Estrelas menores que o Sol, a despeito de mais frias, são mais ativas. Vivem longos bilhões de anos, mas produzem erupções gigantescas, talvez sabotadoras da vida. Abraço!
Salvador, então, se depois do aparecimento da vida primitiva, microscópica, é uma loteria o fato de persistir até aparecer vida mais graúda? E ainda mais o aparecimento de vida inteligente? Por ironia, talvez estejamos aqui graças a uma “pedrinha” que caiu do céu e provocou a extinção K-T… E já foi um milagre a vida ter sobrevivido até esta época, após 4 bilhões de anos exposto à furia da nossa estrela e de termos um campo relativamente forte! Temos o exemplo de Marte (e talvez, de Vênus)… Será que é preciso rever os parâmetros da quantidade provável de civilizações inteligentes no Universo? Também é triste constatar que a maioria não percebe o quão é belo a vida (um milagre, ao meu ver) e tem uma vida medíocre até a morte…
Não é exatamente uma loteria. O mais provável é que tenha a ver com o surgimento da fotossíntese e a saturação de oceanos e, depois, o ar com oxigênio molecular. Mas para isso acontecer é preciso tempo. E energia suficiente para alimentar metabolismos mais poderosos.
parabéns pelo blog. excelente trabalho. precisamos de mais pessoas como você que divulge a ciência e astronomia de maneira simples e direta. seu canal do YouTube tbm é excelente.
Valeu, Edison! Abraço!
A pergunta é
sera que o carneiro comeu ou não comeu a flor?
Salvador,
Eu ia escrever dizendo que ” Kappa¹ Ceti ” (não tente falar isso em voz alta; fica esquisito) ” seria a piada do dia….da semana.
Ledo engano meu. Perdeu para o novo ministro do “desgoverno Dilma”.
Teu blog é simplesmente sensacional…..em todos os sentidos.
Obrigado por compartilhar com nós teus conhecimentos.
Valeu. E, que fique registrado, tinha uma outra piada no texto que tirei antes de publicar. Quando falo que estrelas e pessoas têm padrões de comportamento similar, terminava com um parêntese: “(Jararacas não seguem o mesmo padrão)”. Depois desisti, para não acirrar ânimos. Mas não está fácil ser brasileiro, não.
Sabe o que é pior de tudo Salvador (permitindo-me um off, já se desculpando de antemão)? Estamos todos revoltados com a nomeação de um suspeito no claro intuito de livrá-lo de uma investigação mais pesada. Mas da democratização até aqui, qual ministro foi nomeado pela sua competência (Por incrível que pareça, uma das nomeações mais midiáticas que teve acabou sendo coerente com o perfil da pessoal, justamente a de Gilberto Gil)? Eles são nomeados por sua influência política, não por suas qualidades. Lembro de ter lido aqui uma crítica ao ministro da Tecnologia e Ciência, justamente porque ele não teria perfil nenhum para vaga, apenas era do partido certo com a influência certa. Como se animar em um cenário assim?
Não há como se animar.
Apesar de incomensurável, o Universo, não produz nada igual. Cada galáxia, constelação, estrela, planeta, etc., é único e tem suas propriedades particulares. Não encontramos, nem encontraremos nada igual, parecidos sim, iguais jamais. Logo existe uma temeridade em fazermos por um, prognóstico para outro.
?
Meus queridos, não é mera casualidade. Atmosfera, campo magnético, placas tectônicas foram determinantes ao desenvolvimento da vida em todos os seus estágios e permitiram o desenvolvimento, além dos seres humanos, de nossa fauna, flora, dos nossos oceanos, rios, lagos, clima, etc. Essa possibilidade, única, nos foi concedida por Deus. O restante do Universo nos foi dado de acréscimo, para admiração e para que cheguemos, por nós mesmos, a conclusão de nossa pequenez e capacidade limitada, tanto no executar quanto no entender a nossa dimensão, pois independente dessa imensidão sem fim, nós, pequenas criaturas, somos a razão de tudo isso.
“foram determinantes ao desenvolvimento da vida em todos os seus estágios e permitiram o desenvolvimento,”
apenas demos sorte, e nos adaptamos a estas condições, que para uma outra espécie pode ser letal…
“Essa possibilidade, única, nos foi concedida por Deus.”
nem comento, deus só vem perdendo espaço ao longo dos anos, e espero que continue assim.
“O restante do Universo nos foi dado de acréscimo, para admiração”
Caramba!!! somos importante mesmos hein…todo um cosmo só (e exclusivamente) para nossa observação e filosofia…logo logo você vai falar que a Terra é o centro de tudo…
“somos a razão de tudo isso.”
e fechou com chave de ouro!!
Parabéns Oswaldo!! prova a razão de só existir teste de inteligência, e não de burrice.
Motivo de ser constantemente reprovado.
Pois é…inteligência tem limite, burrice não…por isso só tem teste para medir a inteligência.
Continue estudando a teoria do macaco infinito, é “muito” viável.
“Meus queridos, não é mera casualidade” – Discordo
“Atmosfera, campo magnético, placas tectônicas foram determinantes ao desenvolvimento da vida em todos os seus estágios e permitiram o desenvolvimento, além dos seres humanos, de nossa fauna, flora, dos nossos oceanos, rios, lagos, clima, etc” – Concordo
“Essa possibilidade, única, nos foi concedida por Deus” – Prove
“O restante do Universo nos foi dado de acréscimo, para admiração e para que cheguemos, por nós mesmos, a conclusão de nossa pequenez e capacidade limitada, tanto no executar quanto no entender a nossa dimensão, pois independente dessa imensidão sem fim, nós, pequenas criaturas, somos a razão de tudo isso” – Isso foi de dar náuseas, parece um inquisidor do século XV
Porque seria casualidade? Tenha fé e chega lá.
Como teria condições de provar alguma coisa feita pelo Criador sendo sua criatura. Quem não pode nem o menos, impossível o mais. É a vertente do infinito.
Desculpe o parecer e as náuseas, mas trata-se de um assimilamento de nossa real situação, perante essa obra infinita.
Assimilamento feito a partir de um ponto de vista completamente parcial. Mas tudo bem, não posso criticá-lo por isso, afinal o meu ponto de vista também é parcial, contudo, oposto.
Em seu lugar, eu apenas não tentaria vendê-lo como verdade absoluta, porém desconfio que o faça propositalmente, para instaurar a polêmica que muitas vezes não chega a lugar algum.
Confesso que ando meio cansado disso, em parte por não aguentar mais os embates “coxinha vs mortadela”, que estão me irritando mais que o normal.
Salvador, seus textos são tão fantásticos quanto as descobertas que você descreve. Parabéns pela formidável dialética!
Valeu!
Salvador;
Uma coisa me causa dúvida. Me lembro de ter lido que o campo magnético da Terra tem origem no nosso núcleo de metal, porém me lembro que esse núcleo provavelmente foi algum asteroide que se chocou no momento que nosso planeta ainda era um enorme ‘ magma pastoso”. Sendo assim, essa “coincidência” de termos esse choque entre o asteroide e o planeta, pode não ser comum em outros planetas, o que dificultaria ainda mais a formação de vida nessas estrelas jovens, não?
Até onde me lembro era algo assim, não?
Parabéns, pelo blog!
Não, Luiz, não é isso. Objetos de grande porte (até mesmo asteroides gigantes, como Vesta) sofrem diferenciação. O processo que os forma, por meio de colisões e agregação de planetesimais, é naturalmente violento. Então esses corpos se tornam maleáveis internamente. E aí o material mais pesado afunda para o centro, por isso temos um núcleo em que predominam ferro e níquel, um manto pastoso intermediário e uma crosta sólida. Esse processo de diferenciação se dá em todos os planetas.
Parece contra intuitivo a afirmação: “O material mais pesado afunda para o centro” quando da formação dos planetas, pois durante a agregação dos planetesimais, mesmo e principalmente se formarem uma massa pastosa e homogênea, não definem um centro de massa grande o suficiente que possa funcionar como gerador da força de gravidade apontada para o centro geométrico do novo planeta, necessária para que isso ocorra! Portando, parece mais intuitivo que os materiais pesados fiquem na periferia “Superfície” devido às forças resultantes dos movimentos rotacionais, como em uma centrífuga.
Parafraseando Wanderléia a doçura: “SEI QUE ESTOU ERRADO, MAS NEM MESMO SEI COMO ISSO ACONTECEU” rssss
Afrânio, o efeito da força centrífuga é muito menor que o da gravidade. O planeta gira e não somos arremessados pro céu. Assim, o metal presente na formação do planeta teria de afundar em direção ao núcleo. Para se ter ideia, o efeito da rotação da terra provoca uma redução de apenas 0,3% no valor da gravidade percebida no equador comparada ao valor da gravidade nos polos. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Gravity_of_Earth#Latitude
Ok! Christiano… É claro que em um planeta formado, os elementos pesados tendem a mergulhar para o centro pela força da gravidade que é muito maior que a força causada pelo efeito de rotação, mas um agregado de planetesimais com todos os metais pesados distribuídos aleatoriamente pelo espaço, não tem massa pesada, aglomerada no centro, suficiente para gerar gravidade, portanto gravidade próxima a zero, que é menor que a força centrifuga de um aglomerado de partículas em rotação.
Vou repetir, sei que estou errado, mas… é esta a conclusão que “parece” óbvia!
Meus amigos! Nada como um Scottish Whisky duplo de fim de tarde!
Em um aglomerado de planetesimais, a força resultante da soma das forças de agregação produzidas por suas massas individualmente, poderia atuar como uma incipiente gravidade para as partículas posicionadas na periferia do aglomerado, o que promoveria lentamente, por milhares ou milhões de anos, o mergulho dos materiais pesados destas partículas, para o que será no futuro o centro do planeta, fenômeno este que seria repetido continuamente a partir das partículas mais externas do aglomerado. Este processo formaria um “feto” de planeta que progressivamente, com o aumento do volume e da força da gravidade, posicionaria os elementos segundo seus pesos específicos, até que definitivamente se torne um planeta com gravidade bem definida.
Ps. Recomendação Médica: Um Scottish Whisky duplo no fim da tarde funciona muito bem como “Vaso Dilatador Coronariano”, e serve muito bem para abrir janelas em raciocínios tacanhos. Rsss
Não é contra intuitivo, Afrânio, o material agregado mais pesado iria para o centro parando antes dele pelo aumento da pressão sobre a porção que afundou e nos estágios iniciais tudo ficaria meio misturado mesmo, mas com o passar do tempo a pressão formada “expulsaria” o material de menor densidade para a periferia do planeta sendo formado e no centro ficaria o de maior densidade, formando um “gradiente” de densidade que diminui do centro para as regiões periféricas. Passando mais tempo ainda, o material mais denso de qualquer planetésimo que colidisse com o planeta não conseguiria mais afundar muito, certamente porque as partes menos densas nesta altura já se juntaram numa “capa” mais resistente no planeta em formação e materiais de diferentes densidades permaneceriam misturadas em camadas mais distantes do centro, o que pode ser observado nas pesquisas geológicas na Terra direta e indiretamente.
Você acabou descobrindo onde estava seu engano no primeiro raciocínio… Legal, Afrânio, ter acompanhado todo esse processo! 🙂
Só não exagere no ‘remédio”, que ele queimará seus neurônios, ok? 🙂
“Não é bonito quando diversas linhas de pesquisa, baseadas em medições diferentes, costurando ciência planetária e astrofísica, começam a contar uma história coesa e consistente? É praticamente o Universo fazendo uma delação premiada para os cientistas.” Caramba!! Tava pensando nisso rsrsrs
Achei incrível essas ligações com as outras áreas…e para ver que um estudo não tão complexo e caro (quando comparado com outros), quando se une com outras teorias, rende um bom resultado 😀
Sou iniciante nas leituras de astronomia (meu novo hobby, melhor que todos os outros, é admirar o céu noturno e entender um pouco mais das estrelas, constelações e planetas). E seu blog, Salvador Nogueira, tem uma escrita muito boa e atraente para os iniciantes da astronomia amadora. Obrigado pelas excelentes matérias e pela sua contribuição a quem gosta de astronomia.
Valeu!
Salve, Salva! Eu e João estávamos brincando de naves espaciais com bloquinhos de montar quando surgiu uma dúvida que eu não soube esclarecer a meu filho, nem a mim mesmo. Os veículos lançados pelas agências espaciais levam armas a bordo?
Armas para atirar para fora, não, de jeito nenhum. Nem é permitido por tratados internacionais. Agora, pelo menos durante muito tempo, os russos levavam armas de fogo DENTRO da nave, para o caso de os cosmonautas, num pouso de emergência, descerem num lugar hostil — coisa que, de fato, já aconteceu! O cosmonauta Leonov já se viu cercado por lobos na Sibéria num pouso mal controlado.
Inclusive recomendo o excelente documentário da BBC “Cosmonautas: Como a Rússia Venceu a Corrida Espacial”
Resenha sobre:
http://gizmodo.uol.com.br/caminhada-espacial-alexei-leonov/
😉
Isto põe uma ducha de água fria na esperança de se encontrar vida, pelo menos aquela mais sensível, como os organismos multicelulares. Uma questão que deveria (se é que pode) ser respondida e que seria crucial para essa paranóia de vida extraterrestre é de que como esse campo magnético foi surgir bem a tempo e na intensidade correta para proteger o planeta contra as radiações solares e permitir o desenvolvimento de formas de vida complexas
Poxa, o campo magnético de Marte não durou nada, em relação ao da Terra, e esse planeta nem é tão menor assim…Será que podemos ter uma surpresa com nosso campo também a qualquer hora?
A qualquer hora não. Mas eventualmente, na escala dos muitos milhões de anos, pode apagar.
E quanto a Venus? Ele possui um campo magnético significativo? Parecido com o da Terra ou mais fraco?
Mais uma vez, obrigado Salvador pelos esclarecimentos!
Vênus não tem campo magnético, mas não é por seu tamanho — que é praticamente igual ao da Terra –, mas sim por sua rotação extremamente lenta (uma volta a cada 243 dias terrestres). Tanto a rotação quanto a energia interna são importantes para gerar o movimento de convecção que produz o dínamo no interior do planeta, gerando o campo magnético!
Abraço!
Podia perguntar ao google,porem,
Salvador porque vénus tem uma rotação menor?
é por não possuir uma lua, ao algum corpo que atingiu ela e fez ela desacelerar?
Não é certo. Fala-se em um possível impacto “de mau jeito”, mas o mais provável é que tenha sido só a interação com a gravidade do Sol, travando-o com a face sempre voltada para a estrela. E aí, pela superrotação da atmosfera (que tem uns ventos muito loucos) acabou ganhando um torque que deu um suave giro retrógrado.
Parece que quanto mais estudamos o Universo mais a vida se parece rara.
Eu não encaro deste modo. Aliás, a vida me parece bastante ordinária. Vida complexa e inteligentes, que exigem muito tempo de habitabilidade, provavelmente são bem mais raras. Mas vida ponto, essa deve ser bem comum. Há vários ambientes habitáveis no Sistema Solar (o subsolo de Marte e os oceanos das luas jovianas, para citar um par deles).
Desculpe, eu quis dizer vida inteligente mesmo. Digo isso pois em todos esses anos de estudos só nos aparece noticias que nos levam a dificuldade e raridade da vida inteligente, não aprece uma unica noticia dizendo…Olha acreditamos que ali possa ter vida inteligente pelo que tudo indica. Tirando a Ufologia é claro.
Oswaldo, é importante também relativizar. Vida inteligente deve ser rara, mas o que significa raro num Universo de 200 bilhões de estrelas só na Via Láctea? 1 em 200 bilhões? 1 em 10 milhões? 1 em 1.000 já poderia ser visto como “raro”!
Tem razão, talvez seja minha ansiedade de ouvir a Ciência declarar, descobrimos vida Inteligente!
Puxa, eu não contaria com essa descoberta para esta geração. A não ser que estejamos “cercados”, numa resposta do tipo “hipótese zoo” ao paradoxo de Fermi.
Talvez possa ser de interesse dos leitores: http://arxiv.org/abs/1506.08060
The exoplanets analogy to the Multiverse
Primeiro gostaria de parabenizar o Salvador pela constante atualização do seu blog e pelas excelentes matérias.
É interessante notar que além de Marte, Vênus também poderia ter sido habitável no passado. Há bilhões de anos, Vênus pode ter tido muita água, todavia, radiação ultravioleta do Sol que dividiu as moléculas de água, separando seus átomos de hidrogênio e de oxigênio, os quais escaparam para o espaço, segundo estudos da Agência Espacial Européia feitos com base nos registros da missão Venus Express.
A nossa sorte é que temos um campo magnético que protege a Terra.
Se pudéssemos verificar a presença de campos magnéticos em exoplanetas rochosos… será, que existe alguma forma de se fazer isso? Os astrônomos já conseguiram detectar algo assim?
Seria possível verificar, por meio da espectroscopia ou outro método, a presença de luz decorrente de aurora boreal de um exoplaneta, por exemplo?
Sim. Se bem me lembro, já foi feito inclusive, mas para planetas muito, muito grandes.
Victor, obrigado. A semana tem sido cheia mesmo. rs Sobre verificar campos magnéticos em exoplanetas rochosos, acho complicado no momento. Mas… será fácil modelá-lo se soubermos coisas como rotação, massa e diâmetro. 😉
Salva,
Os livros que você está escrevendo, são referentes a que? E tem previsão de lançamento?
Um é sobre os 50 anos de Star Trek, o outro uma coleção de minibiografias de 25 gênios da ciência comentando o que podemos aprender com cada um deles e aplicar em nossa própria vida.
Oba! Para os dois livros! 🙂
Não é a primeira vez que encontro discrepâncias fabulosas em artigos como este? No caso:
1.”Enquanto a nossa estrela-mãe é uma senhora de meia-idade, com 4,6 bilhões de anos, os pesquisadores estimam que Kappa¹ Ceti seja uma adolescente, com entre 400 e 600 milhões de anos. Não custa lembrar: as evidências mais antigas de vida na Terra remontam à época em que o Sol tinha essa idade aí.”
“Os pesquisadores da Nasa estimam que a transição do estado molhado para seco de Marte tenha ocorrido entre 4,2 bilhões e 3,7 bilhões de anos atrás — exatamente na mesma época em que as primeiras formas de vida apareceram na Terra e no momento em que o campo magnético marciano pifou.”
Estou tentando entender.
Não tem discrepância nenhuma. O Sol tem 4,6 bilhões de anos.
Kappa1 Ceti tem 0,4 a 0,6 bilhões de anos. Ou seja, representa como o Sol era entre 4,2 e 4 bilhões de anos atrás.
A evidência mais antiga de vida que se tem notícia na Terra tem cerca de 3,8 bilhões de anos. Uma aproximação razoável com 4 bilhões de anos, ainda mais se você considerar que é improvável que tenhamos encontrado AS PRIMEIRAS EVIDÊNCIAS deixadas pela vida no planeta.
Já Marte perdeu seu campo magnético entre 4,2 e 3,7 bilhões de anos atrás — mesma faixa de tempo representada por Kappa1 Ceti e as evidências mais antigas de vida na Terra.
Onde está a discrepância?
Salvador, acho que o Carlos Homero Giacomini não sabe contar… 🙁 deve ter reprovado no mobral.
Não fala assim. Foi um erro honesto da parte dele, acho. Acontece a todo mundo.
Eu entendi que vc esta fabulosamente equivocado.
Encontramos o “grande filtro”?
Boa pergunta. Está ai um bom candidato a grande filtro.
Acho estranho, já que o Sol mais jovem também era mais “pálido”, por ser mais frio. Como coadunar esses dois aspectos?
Nível de atividade (vento, manchas e erupções) não correlaciona com o brilho ou a temperatura. Aliás, vale lembrar, as manchas solares representam regiões mais FRIAS do Sol.