Schiaparelli: foi bom enquanto durou

Salvador Nogueira

Um quadro inevitavelmente pessimista sobre o resultado do pouso do módulo Schiaparelli foi pintado na entrevista coletiva promovida pela ESA (Agência Espacial Europeia) na manhã desta quinta-feira (20). Os engenheiros ainda hesitam em confirmar que o veículo não sobreviveu à descida até a superfície de Marte. Fato é que ele interrompeu contato antes de chegar ao chão e não se ouviu nada dele com as espaçonaves que sobrevoaram a região do pouso desde então.

No dia anterior, por volta de 12h42, enquanto sua nave-mãe, o Trace Gas Orbiter, disparava seu motor principal para se inserir com sucesso em órbita marciana, o Schiaparelli adentrou, conforme o previsto, a atmosfera do planeta vermelho. Viajando a 21 mil km/h, ele iniciou sua furiosa descida rumo à superfície.

O escudo térmico responsável por proteger o módulo do atrito com o ar desempenhou seu papel, e então os para-quedas foram abertos. A descida prosseguiu de acordo com as expectativas e a nave foi freada até modestos 250 km/h. E então o para-quedas se desprendeu do veículo — e foi aí que os dados de telemetria começaram a divergir das previsões. O próximo passo no procedimento de descida, a menos de um minuto do toque no solo, era o acionamento dos retropropulsores.

E a telemetria recebida confirma que eles foram ativados — por quatro segundos, pelo menos. E então as comunicações com o Schiaparelli foram interrompidas. Como para baixo todo santo ajuda, é certo que ele chegou à superfície — em que estado de conservação, não se sabe.

E é isso que temos.

Cerca de 600 megabytes de dados transmitidos pela sonda durante a descida foram recebidos e ajudarão os engenheiros a reconstruir o cenário do pouso. E, como se tratava essencialmente de um teste tecnológico, o fato de a telemetria até o ponto da perda de contato ter sido recuperada foi comemorado como um sucesso importante.

Claro que os jornalistas presentes não compraram essa versão, chegando a irritar Jan Wörner, o diretor-geral da ESA. “Eu não entendo isso. O orbitador funcionou perfeitamente. O módulo de pouso era um teste. Temos os dados dele. É um sucesso, não há dúvida.”

De fato, para pelo menos um dos instrumentos científicos embarcados no Schiaparelli, isso pode ser verdade — chamado AMELIA, ele ia operar basicamente durante a descida (usando os sensores de engenharia), e suas medições devem ter sido recebidas antes da falha de comunicação.

Mas óbvio que a história toda deixou um gosto de guarda-chuva na boca.

A análise detalhada da telemetria recebida será feita ao longo das próximas semanas e traz, ao menos, o reconforto de que os problemas do pouso serão identificados. “Tenho convicção de que poderemos entender exatamente o que aconteceu”, disse Andrea Accomazzo, diretor da Divisão de Missões Solares e Planetárias da ESA, ressaltando que a análise preliminar não permite nem mesmo estimar em que estado — ou em que velocidade — o Schiaparelli chegou ao solo.

Novas tentativas de comunicação serão feitas nos próximos dias, e discute-se inclusive a possibilidade de enviar um comando às cegas para o Schiaparelli, para que ele reinicialize seu sistema de transmissão (algo que, no planejamento original, não seria necessário), numa esperança de fazê-lo voltar à vida, caso exista algo ali que ainda funcione.

Em paralelo, o orbitador americano Mars Reconnaissance Orbiter, com sua câmera de alta resolução HiRISE, deve tirar uma foto da região de pouso nos próximos dias, para tentar encontrar o módulo na superfície e determinar seu destino final.

De resto, Jan Wörner tem pela frente a desconfortável tarefa de solicitar aos países-membros da ESA, em dezembro agora, verba extra, cerca de 300 milhões de euros, para bancar estouros de orçamento do jipe ExoMars 2020. Isso sem a demonstração cabal de que a agência tem o que precisa, em termos tecnológicos, para levar um veículo ao solo marciano em segurança.

Confira abaixo a transmissão ao vivo do pouso do Schiaparelli — com todas as angústias que ela envolveu — e uma rica discussão sobre o potencial científico representado pelo sucesso da inserção orbital do Trace Gas Orbiter, na busca por evidências de vida, passada ou presente, em Marte. Com sucessos e alguns contratempos, a missão ExoMars 2016 está em operação!

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Comentários

  1. Parabéns pela cobertura e toda a equipe da transmissão!Eu pré suponho que essa missão tenha se concluído da forma que fôra programada por seus idealizadores,vejamos;Porquê então a ESA diria que a sonda pousou em solo firme, com uma transmissão ao vivo?Retransmissão para o público com espaço suficiente para modificar a ocorrência verdadeira?!Centenas de milhões de euros investidos nessa exploração, para dar de bandeja à curiosos e especialistas da área?!Provavelmente a ESA e seus secretos apoiadores estão recebendo dados de Marte,que de fato,são de interesse humano,porém,restritamente ouvido e visualizado somente por seus alto investidores e escolhidos à dedo…LOBÃO 24/10/2016 08:58 São Luís-Ma

    1. Eu sempre disse isso. Marte tem vida inteligente, identificada e catalogada desde os anos 60. Mas é óbvio que o material obtido nessas sondas é filtrado, e o grande público só recebe imagens de desertos.

      Em poucos anos eles vão divulgar que tem vida unicelular, mas não divulgarão ao grande público por enquanto o que poucos de nós sabemos.

    1. A ESA não divulgou o custo separado dela. Ela + orbitador de 2016 + rover de 2020 é 1,3 bilhão de euros. O Schiaparelli certamente é o mais barato dos três. Chutaria uns 250 milhões de euros.

  2. Eu falei pra ti Salvador que, o ideal seria um pouso numa zona mais distante do equador tipo; as planícies ao norte do planeta onde os elementos são mais amenos e sem os riscos das megas tempestades de areia.

  3. Pergunta boba: Porque os cientistas insistem em procurar formas de vida semelhantes à vida terrestre. Diante da dimensão do universo, não seria crível que houvesse formas de vida, inclusive inteligente, composta por elementos diversos dos que existem na terra? Inclusive elementos que o homem sequer conseguiria enxergar?

    1. Eduarda, é uma ótima pergunta.

      Há razões para acreditar que, ao menos em seus princípios básicos, a vida vá ser similar à terrestre, ou seja, baseada em moléculas de carbono e exigindo água como solvente.

      Quais seriam essas razões? Primeiro, hidrogênio, oxigênio e carbono estão entre os elementos mais comuns, não só na Terra, mas no Universo todo. Pressupõe-se que a vida tenha mais condições de se formar baseada nos elementos mais comuns, em vez dos mais raros (pelo simples fato de que a natureza promoverá um número maior de reações químicas com esses elementos do que com outros, mais raros).

      Além disso, em toda a tabela periódica, não encontramos um átomo mais versátil e capaz de formar moléculas complexas que o carbono. O silício, da mesma família, seria o próximo da lista, mas um distante segundo colocado. Como a vida é algo em geral bem complexo, presume-se que ela provavelmente vai precisar do craque da complexidade, o carbono.

      E, para terminar, também não há composto químico conhecido que faça um papel tão bom como solvente, promovendo a quebra e reocmbinação de moléculas, quanto a água.

      Por tudo isso, há razões para apostar que vida fora da Terra, se a encontrarmos, pode seguir essa mesma receita básica. Os detalhes, evidentemente, podem ser diferentes. Mas a base provavelmente será essa.

      Agora, não há nada a priori que impeça o surgimento de formas de vida que não sigam essa receita e sejam realmente de todo diferentes. Nesse caso, por que os cientistas não procuram por ela?

      Em essência, porque eles não têm a mais vaga ideia de como ela poderia ser. Como projetar um experimento capaz de detectar vida como não a conhecemos? Seria fácil se topássemos com um bichão claramente vivo, mas baseado em silício, em Júpiter. Mas a verdade é que ainda não topamos com nada óbvio. E a própria vida na Terra se limitou a micróbios durante a maior parte de sua história.

      Micróbios são tão difíceis de detectar que até na Terra custamos a descobri-los! Imagine em outros planetas! Teríamos de saber o que estamos procurando! Por isso a aposta em vida similar à terrestre. 😉

      1. Muito didatica a resposta!

        Salvador…pode-se dizer, considerando a evolucao do universo, e distribuicao dos elementos quimicos pelas galaxias, durante bilhoes de anos, que a quimica da tabela periodica eh essa mesma que conhecemos, salvo algum composto extremamente raro?…digo, seria possivel existir algum composto abundante em outro sistema solar, mas que aqui no nosso nao foi detectado ou eh raro???

        1. Sabemos bem como os elementos são fabricados, e os que ainda por ventura não conhecemos, não conhecemos porque são instáveis, mas vamos aos poucos criando-os em laboratório (onde podemos observá-los decair numa fração de segundo). Então, uma composição radicalmente diferente não é esperada lá fora. Mas… estrelas diferentes tem níveis diferentes de “poluição” por elementos pesados, então podemos ter mundos que têm muito mais elementos pesados do que os do Sol. Há alguma variação nas proporções, mas não nos elementos em si.

      2. Também me pergunto o mesmo que a Eduarda. Mas a resposta do Salvador é fatal. Se existe vida de outras formas, dificilmente conseguiremos encontrar, justamente por não saber o que estamos procurando.

        Aliás, sobre algo análogo, sugiro o conto CARTA DE UM LOUCO, do Guy de Maupassant. Uma googleada rápida é suficiente para encontrá-lo.

    2. Filha, a ciência não vive de crença, vive de provas, de evidências. A equação de Drake sugere que há uma grande chance de existir vida (inteligente inclusive) no universo. Mas a ciência precisa coletar e encontrar as provas para atestar e validar as suas teorias. Além do mais, a curiosidade humana impede que fiquemos simplesmente sentados e esperando um dia, abraçados no Paradoxo de Fermi, que alguma civilização inteligente venha nos visitar.

  4. Enquanto as viagens espaciais não se tornarem tão seguras e banais como os vôos comerciais, nenhum governo sério e comprometido com um programa espacial de longo prazo irá investir em explorações tripuladas nem para a Lua, quanto mais para locais mais distantes. Sempre vão existir empresas privadas que, em troca da garantia que o vôo, independente do resultado, seja lucrativo, irão desenvolver tais viagens espaciais, até porque sempre existem pessoas interessadas em pagar para correr o risco. Mas tal situação não ajuda um efetivo desenvolvimento da área.
    Este foi o recado que o governo Obama passou quando suspendeu o programa do Ônibus Espacial, pois não queria acrescentar ao seu currículo (e a do seu partido) a perda de uma ou mais tripulações, como ocorreu com os governos republicanos.
    Talvez se o Trump vencer (considerando quem é) desenvolva um programa para humanos explorarem a superfície do Sol. Irão de noite, claro!

    Sérgio

    1. Nah, tanto o Trump quanto a Hillary sabem que o Sol não serve pra nada, de que adianta iluminar quando já é dia? Boa mesmo é a Lua, que ilumina de noite.

  5. Muito boa a piada do vídeo “era para ser assim… mas provavelmente foi assim”. Alguma chance de você ter uma equipe de umas dez pessoas para te ajudar a publicar umas 3 reportagens por dia?! Fico muito ansioso pela próxima! Abraxxx!

    1. A chance maior, infelizmente, é eu ter uma estafa qualquer hora dessas.
      Meu maior problema é que eu amo essa coisa toda. Faz meu sangue circular e meu coração bater! Aí vou dormir às 3h da manhã pensando no Schiaparelli e acordo às 6h para ver a coletiva da ESA… isso ainda vai acabar mal. Mas a paixão é difícil de controlar. 🙂

      1. Então que tal fazer um periodico de assinatura? Tipo uma super interessante de fatos reais rs, com retrospectivas (muitas fotos), curiosidades, sessão conspiração totaly crazy (com ETS, religião, nimbirutas e teorias do Oswaldo e cia), comentários dos leitores e a sessão de fatos recentes? Eu seria o primeiro a assinar! Vai com calma rs precisa ensinar uma equipe para não estafar! Fica aí a sugestão!

  6. Salvador,
    Se ele transmitiu 19 segundos após a liberação do paraquedas e, supondo que entrou em queda livre, então ele teria percorrido algo como 2,5 km antes de bater no solo (sendo a velocidade inicial de 250km/h). Isso é razoável não? Não é mais ou menos entre 1 e 2 km que seria a previsão de liberação do paraquedas? Então, dá para imaginar que os 19 segundo foram exatamente de queda livre até o solo…uma pena. =(

    1. A telemetria ainda não conta uma história clara. Parece que eventos aconteceram antes do tempo, os propulsores só se ativaram por três ou quatro segundos, e o contato foi perdido 19 segundos depois. E no meio do caminho tinha uma potencial tempestade de areia. Difícil dizer. Não por acaso a ESA tem falado em “semanas” para reconstruir o que houve exatamente e por quê…

  7. É uma notícia triste, mas se olharmos para a história todos os avanços humanos foram feitos de fracassos e sucessos em que se foi acumulando experiência e conhecimento para o próximo passo. A parte boa é que se coletaram dados para análise e que certamente contribuirão para sucessos futuros. A parte ruim é realmente o gosto do guarda-chuva, mas seria pior se fosse uma missão tripulada.

    1. Ah sim. E melhor que falhe esse do que o ExoMars 2020. Aquele é que é pra valer. Treino é treino e jogo é jogo. Hehehe

  8. Quantos milhões de $$$$ num teste! Enquanto milhoes morrem de fome aqui mesmo neste nosso planeta que borbulha vida!

    Em nome da ciência não justifica!

    1. Não é em nome da ciência. É em nome da humanidade e da erradicação da fome! Você já imaginou quantos chineses a mais não estariam passando fome se não houvesse uma indústria de smartphones? E você não imaginou que não existiria nem a miniaturização de componentes, nem o desenvolvimento de câmeras digitais necessários aos smartphones se isso não tivesse sido criado em primeiro lugar para atender aos desafios espaciais? Exploração espacial gera dinheiro, gera conhecimento, gera tecnologia e REDUZ a fome no mundo. Já reparou que os países mais ricos são os que têm os melhores e mais avançados programas espaciais? Coincidência? 😛

    2. A grande maioria das coisas que você usa hoje nasceu de pesquisas aparentemente inúteis. Do seu remédio antibiótico ao seu celular…
      Pense nisso antes de criticar a iniciativa de outras pessoas que usam dinheiro que não é o seu para promover avanços que serão compartilhados futuramente com todos.

  9. Qtdas toneladas de entulho já depositamos na superfície de Marte, antes mesmo de viajar até la hein… Sobre o Schiaparelli, logo o Mars Reconnaissance Orbiter, localiza ele espatifado no chão…

    1. Mais um motivo para irmos até lá, recolhermos tudo e colocarmos em museus — aqui e lá! 🙂

  10. Olá Salvador!

    Antes da pergunta em si, quero dizer que aqui em casa somos todos seus fãs. Parabéns pelo trabalho!

    A pergunta (meio Arquivo X…): o que é aquele ponto branco que se desloca da direita para a esquerda no canto superior direito da imagem e que desaparece atrás de Marte? Acontece, poe exemplo, no minuto 2h18min.

    Grato!

    1. Maurício, obrigado! Eu chego a explicar no começo da transmissão. São passagens ocasionais das luas Fobos e Deimos (acontece em vários trechos da transmissão). Essa é, obviamente, uma animação simulada da rotação de Marte, muito mais acelerada que o normal. 😉

  11. Salvador, desculpe a minha completa ignorância, mas não entendo quando vc diz que pra ir até a Lua é muito caro, quando estão enviando sondas (que talvez sejam baratas) e até planejando uma viagem tripulada à Marte (o próprio Obama está empolgado com a idéia)…
    A Lua é tão desprezível assim ???
    Ou será que o pessoal da Nasa, ESA e até o Obama estão se favorecendo de informações privilegiadas no caso de Marte ???
    Talvez o planeta vermelho não possua vida mas por outro lado pode possuir muita riqueza mineral por exemplo….
    Ou talvez estão prevendo grandes catástrofes na Terra daqui pra frente devido ao talvez irreversível efeito estufa ???
    Pode ser talvez que viajei um pouco na maionese, mas qual a sua opinião sobre tudo isso ???

    Forte abraço e parabéns pelo seu sucesso e pela sua competência em lidar com nós leigos….

    1. Ir a qualquer lugar do espaço com gente é muito caro. Ir com sondas a qualquer lugar do espaço é barato, e a distância influencia relativamente pouco. Veja que o jipe Curiosity, que foi até Marte, foi mais caro que a New Horizons, que foi a Plutão.

      A Nasa está advogando em colocar o foco do programa tripulado em ir para Marte, mas só na década de 2030 — justamente porque é muito caro. Nesse meio-tempo, realizará viagens à Lua como testes tecnológicos em preparação para o voo a Marte. Provavelmente, teremos americanos na órbita da Lua no início da década de 2020 (chutaria 2023).

      Agora, veja que só foi possível fazer progressos nessa direção depois que a Nasa parou de gastar dinheiro com os ônibus espaciais — e por isso já faz cinco anos que ela depende dos russos para levar seus astronautas à estação espacial.

      Como tudo em voo tripulado é muito caro, é preciso fazer escolhas duras. A tentativa de envolver parceiros comerciais tem a ver justamente com isso: usar a força do capitalismo para baixar o custo de acesso ao espaço e não ter de jogar fora uma determinada missão para abrir outra frente, como tem sido desde sempre no programa americano (cancela-se as missões lunares Apollo para construir o ônibus espacial e a estação espacial, cancela-se o ônibus espacial e, futuramente, a estação espacial para ir a Marte, e assim por diante).

  12. Fico fascinado com a exploração de outros planetas com naves não tripuladas, mas quando ocorre uma frustração como esta, fico imaginando nos milhões de Euros espatifados no solo marciano. Mais uma conta a ser paga pelos contribuintes europeus….. Como o Salvador Nogueira acompanha as aventuras espaciais humanas, poderiam fazer um post sobre como anda as missões Voyager lançadas nos anos 70. Faz tempo que não leio nada atualizado sobre elas.

    1. Everton, não tinha dinheiro na sonda. O dinheiro que foi usado para construí-la está no bolso dos engenheiros, cientistas, fornecedores, e toda a gama de envolvidos na construção e lançamento da mesma.

      1. Exatamente! O que ela levou para lá foi o peso dela em plástico/circuitos/titânio/cobre/alumínio/cobre… Duvido que isso supere os mil dólares.

      2. Mas o objetivo desse gasto todo era um retorno grande em informação, coisa que a Spatifarelli não vai mandar.

        1. O Schiaparelli mandou a maior parte da informação que foi projetado para enviar — ela dizia respeito à entrada atmosférica. No chão mesmo, ele faria pouco. Mas o que ele fez mesmo foi mostrar que a Europa precisa ainda aperfeiçoar suas técnicas para pousar em Marte. Essa era a função dele. Responder: Estamos prontos, sim ou não, para mandar um jipe como o ExoMars, esse sim para fazer ciência? A resposta foi, por ora, não.

  13. Salvador, como vai? Tenho uma teoria “leiga”: e se estivéssemos procurando rastros de outras civilizações humanas do passado? Poderiam ter sido, à qualquer época, mais adiantados tecnologicamente que nós, e por essa razão terem destruído suas conquistas. Tô louco? Abs.

    1. Louco, você não está. Mas é improvável que nenhum sinal de alta tecnologia tenha sobrevivido até hoje, uma vez que humanos modernos só existem há uns 200 mil anos (e temos evidências de suas “tecnologias” da época, como pedras lascadas e polidas). Vê-se uma progressão tecnológica clara da pré-história até hoje e não seria fácil encaixar nessa história uma civilização que nasceu, atingiu um pico além do nosso e sumiu sem deixar vestígios…

  14. Meio decepcionado com esse suposto fracasso dessa missão da sonda ESA/Rússia. Acredito que a sonda Rosetta teve uma missão bem mais complicada e obteve sucesso.Será que o pouso em Marte é mais complicado, apesar de ser um alvo muito maior do que cometa 67P.?

    1. As chances de pouso bem-sucedido do Philae eram até mais baixas, mas as condições eram completamente diferentes. No pouso no cometa, o maior perigo era sofrer um rebote e voltar ao espaço. Em Marte, o problema é inverso — o maior desafio é impedir que a nave despenque do céu e se esborrache no chão. No fim das contas, a Europa acertou os pousos mais arrojados — Huygens em Titã, Philae no cometa 67P — e errou nos mais clássicos (e energéticos), Beagle 2 e Schiaparelli em Marte.

  15. Eu fico tentando entender o que significa o silêncio da Nasa…. será que a sonda encontrou o que procurava? Ou será que em vez de encontrar, ela foi encontrada? A Nasa é sempre muito rápida em dar desculpas para despistar quando algo acontece…. pela demora, a descoberta deve ter sido surpreendente até mesmo pra ela.

        1. Se vc acha que acreditar que agências de governos escondem tecnologia, usam e abusam de verbas fantasmas e nunca contam tudo o que descobrem, conte 3.

  16. Salvador, eles não contavam com as lesmas fósseis paradigmáticas. Com certeza elas almoçaram o Schiaparelli antes que ele chegasse ao solo. Elas se fingem de areia movediça e almoçam sondinhas e módulos indefesos.

    Posso mandar o link?

  17. O pouso tem sido o momento mais crucial de qualquer missão à Marte, e não poucos os fracassos, seria por causa do “delay” entre a Terra e o astro?

    1. Bem, o delay é dado — não há como evitá-lo. Ainda assim, os americanos acertaram em sete de oito tentativas. Europeus fracassaram em duas — mas assumidamente gastaram pouco em ambas. Russos fracassaram em várias, mas basicamente porque concentraram suas tentativas numa época em que a tecnologia não era suficientemente avançada.

  18. Uma pena, mas faz parte.

    Daqui 3 copas do mundo, humanos in loco investigarão o que deu errado!

    🙂

  19. Sensacional! Fantástico!!! Parabéns aos idealizadores dessa nave.

    Não obstante, parece-me que há um equívoco dos cientistas em encontrar vida semelhante a que existe na Terra. Em ambientes diferentes, pode haver modo de vida tb diferente, inclusive não detectado pelos dispositivos que a ciência hoje dispõe.

  20. Uma pena isso. Se tivesse dado integralmente certa a missão seria um ponto importante que facilitaria novos investimentos.

    Espero que a UE não corte financiamentos. Enquanto isso o planeta continua gastando seus 2 trilhões de dolares anualmente em armas e guerras.

  21. Apoiar a ciência para descobrirmos algo sobre nós mesmos na imensidão do universo é algo aceitável. O problema é que: quantos iremos a Marte algum dia? Cem, duzentos, mil? Segundo a reportagem, será solicitada uma “verbinha” (sic) extra de 300 milhões de euros para o projeto. Será que esse dinheiro não seria melhor aplicado na redução da fome no mundo? Há um elitismo exacerbado nos projetos científicos, trazendo prejuízos às populações miseráveis do mundo. Argh!!!

    1. >> Será que esse dinheiro não seria melhor aplicado na redução da fome no mundo?

      E quem disse que não está ?
      Engenheiros, cientistas, técnicos e todos os envolvidos na operação precisam comer.
      O salário que eles recebem reduz a fome deles.
      Menos pessoas com fome = redução da fome no mundo

      🙂

      1. Exato, xará.
        Você tem o direito de trabalhar e ser pago pra isso, “a não ser que você trabalhe em uma missão espacial”. Aí, dirão que pessoas estão deixando de comer por culpa sua.
        É ridículo…

      1. Só pra um contraste de custos. O Bolsa Família, que dá uma miséria por inscrito (e, com isso, ajuda a resolver a fome, mas sozinho não resolve), custa R$ 27 bilhões POR ANO. Ou seja, tudo que foi gasto esses anos todos no Schiaparelli não paga nem 1/20 do Bolsa Família em UM ano.

  22. bem, a missão estava mesmo fadada ao fracasso…não iam achar sinal de vida nenhum em Marte

    a trombada apenas abreviou as espectativas….kkk

    1. A parte que vai procurar vida na verdade deu certo — é o orbitador. Só o módulo de pouso, que estava testando tecnologias de descida, que falhou. As lesmas paradigmáticas estão chegando! 🙂

      1. É o Bertinho que é o rei das lesmas paradigmáticas(só que ele não acentua), não o JR.
        JR é o que zapeia o dia inteiro os posts do Salvador. rsrs

    2. Eita JR, vai zapear todo post do Salvador?
      Seja bem vindo JR. Pare de zapear todo dia e comece a participar do grupo.
      O Salvador vai te salvar. rsrs

      1. Só não fala em salvar que atrai o pessoal que curte discutir São Paulo e Coríntios. 😛

    1. Porque custa caro. Mas estamos quase de volta novamente. Preços lentamente caindo. 😉

  23. O que faz Marte gerar tantos fracassos em missões do tipo aos Russos e, nos últimos tempos, aos Europeus também?

    Poxa, já é quase rotina sair e voltar da nossa atmosfera… o que torna a de lá tão mais complicada para se fazer o mesmo?

    Ou é só má sorte mesmo?

    1. Borba, em justiça aos europeus, eles só tentaram duas vezes, e nas duas foram tentativas quase que “de oportunidade”, na linha: “Já que estamos indo para lá, vamos levar um modulinho para tentar pousar? Vai que dá certo?”
      Sobre as dificuldades adicionais entre ir à Terra e ir a Marte, são duas as principais: a atmosfera terrestre é muito mais bem conhecida — e certamente envolveu várias tentativas fracassadas antes de acertarmos a mão –, e Marte fica longe, de modo que qualquer coisa que pouse lá tem de fazer isso sozinha, sem ajuda daqui.

    1. Vi. Mas como não saiu o bichinho na foto, nem mencionei. Achei legal que eles tenham tentado, mas ia ser bem difícil acertarem a hora e o local para a fotografia…

    1. Nada impede. E eles colaboram. Só há uma lei americana que impede cooperação espacial com a China. De resto, eles cooperam com todo mundo.

      1. E qual a razão dessa lei proibindo a cooperação com a China???? Eles chegaram a colaborar até com a URSS….

        1. Chilique dos congressistas americanos. Na real, é uma tentativa de barrar o crescimento chinês. A desculpa oficial é a das violações de direitos humanos na China.

  24. Não entendo muito bem “a fundo” essas missões espaciais para falar de um modo mais coerente. Porém a única coisa que não entendo é que eles gastam esse dinheiro todo para procurar vida em outros planetas; enquanto aqui a população passa fome, morre sem atendimento médico de qualidade, não temos segurança, etc… Todo esse blá, blá, blá que falamos todos os dias aqui e em outros comentários. A única forma é proibir esses inteligentes metidos a idiotas a parar com isso e a achar soluções para evolução humanitária aqui na terra. Mais uma coisa é certa. A culpa é nossa também…Como dizia Tyler Durden no filme Clube da Luta: somos vacas doceis no curral. O restante não precisa explicar…

    1. Se você ouvir a transmissão ao vivo, vai entender… em detalhes. Abordamos isso lá.

    2. De novo essa pergunta/argumento? É tão dificil dar um search no Google e ler as defesas de pesquisas científicas e/ou viagens espaciais?

  25. Olá Salvador, será que o problema tenha sido nos retro-foguetes russos?esse sistema de pouso em geral é arriscado, qualquer falha em um propulsor desconpensaria a sonda fazendo a mesma tombar.
    Abs.

    1. Pode ter sido esse o problema. Se bem que as coisas parecem ter pego o caminho errado um tiquinho antes, na separação do para-quedas…

  26. Salvador! Primeiramente parabéns pela matéria! Pena que a missão não foi um sucesso… 🙁

    Aproveitando: qual o diferencial gritante entre as sondas Norte Americanas e as Europeias e Russas? Os americanos utilizam estes sistemas de amortecimentos tipo espuma ou este último “amassável” ??? Pois se os Americanos possuem uma melhor taxa de sucesso nos pousos, porque os Europeus não se utilizam de técnicas semelhantes??? Isso que não entendo. Ou utilizam e erram em outras áreas?

    Abraço!

    1. Os americanos já usaram diversos métodos para pousar em Marte. Viking 1 e 2, e o Phoenix usaram retropropulsores e trem de pouso (mesma técnica usada pela Mars Polar Lander, a única tentativa americana fracassada de pouso em Marte, de 1999). Pathfinder, Spirit e Opportunity usaram airbags para amortecer o impacto com o chão. E o Curiosity usou um guindaste com retropropulsores para colocar o jipe no chão.

      Nas tentativas europeias, uma usou airbags (Beagle 2) e a outra usou retropropulsores e um fundo amassável (Schiaparelli).

      Os russos usaram uma espuma para amortecer o impacto nas quedas. O melhor desempenho foi a Mars-3, que pousou e transmitiu telemetria por 20 segundos no solo antes de pifar.

      Por que todas essas técnicas? Cada missão tem um tamanho, um conjunto de tecnologias à disposição e um nível de investimento e prioridade. Quando foram lançar o Spirit e o Opportunity, os americanos deram um jeito de “dobrar” os jipes para caberem no mesmo espaço que havia para a missão Mars Pathfinder, de forma a ganhar confiabilidade no sucesso. Já para o Curiosity, isso não seria possível, e eles tiveram de desenvolver o método do guindaste.

  27. Espero que consigam entender o que deu errado no pouso. Digo isso, conforme Salvador alertou, pelo futuro do rover que será (seria) lançado em 2020.

  28. Salvador, meu caro!

    Quais as chances de todas essas missões em Marte já estarem contaminando o planeta com alguma forma de vida terrestre?
    Isso pode afetar as analises que estamos fazendo lá? (Pergunta de quem conhece muito pouco sobre quimica/fisica/etc)

    1. Não estão na fronteira do impossível, definitivamente. Não é algo que possa ser completamente descartado.

  29. 4 segundos de propulsores, significa que eles foram acionados depois do impacto com o solo marciano . Hein ?!

  30. Cara… que azar é esse que a Europa (principalmente os Russos) tem com Marte ein? Acho que os marcianos preferem os EUA…. rsrs

    1. Tem um intertítulo no meu livro “Rumo ao Infinito” que é: “Americanos são de Marte, Russos são de Vênus”. rs

  31. E isso tudo para voltarmos ao assunto. O motivo principal da missão, encontrar sinais de vida passada, presente ou futura. Com certeza futura: restos de terráqueos que se aventurarem nessa missão suicida, tomando o lugar dos teóricos, que sem dúvidas não irão. Isso é uma baita furada de uns “doidaivana”.

  32. se la havia montanhas ele ele pode ter se chocado, digamos que ele tocou o chão 56 segundos antes do previsto, dizem que a gravidade em marte oscila de local para local, eles deveriam ter dado uma margem de uns 4 minutos nos cálculos em vez de tão pouco.

  33. Idiotas Estúpidos Imbecis Acéfalos Conspiracionistas dizendo que foi sabotagem dos EUA começando a bostejar cholar zurrar gritar em 3… 2… 1…

    1. EU, pede pra sair otário!
      Não fala nada de útil e só fica “controlando” homens. EU hein!

        1. Olha só, otário!
          Pessoas tipo o Gilberto Pessagno, são necessárias para podermos descontrair e não levarmos a vida tão a sério. Ele é um fanfarrão necessário.
          Quanto a tua pessoa delatora, se não existisse, seria um somatório, .. hehe!

  34. Bom dia Salvador!

    O meu comentário nada tem a ver com política ou hegemonia tecnológica, mas por volta dos anos 1960 e inícios de 70 o Brasil foi invadido por produtos da antiga CCCP (União Soviética); eram válvulas para equipamentos eletrônicos, auto peças…, que acredite duravam até acabar, mas eram uma pena, pois acabavam sem nada durar e necessitavam ser transportados como quem transporta nitroglicerina uma vez que qualquer choque mecânico detonariam e nos dias atuais não temos acessos a nenhum produtos Made in Russia exceto ver os jurássicos veículos Ladas para que possamos “sentir” a qualidade ou a sua falta, então eu não seria candidato a uma viagem mesmo que gratuita em naves russas ou mesmo em aviões de fabricação russa. Tudo isto apenas para tentar entender porque deste fiasco mesmo que com forte influência dos “europeus” (até onde eu saiba de geografia Moscow está na Europa).

    1. Faço a distinção entre russos e europeus porque têm agências espaciais distintas.
      E o método soviético de exploração espacial sempre se diferenciou do americano, e se beneficiou do “segredo” que cercava os projetos.
      A estratégia básica dos soviéticos era: vamos fazer dez sondas iguais, e pelo menos uma delas há de funcionar. Evitamos os custos com controle de qualidade mais apurado, e só revelamos o lançamento bem-sucedido, ocultando do público os fracassados.
      Já a estratégia americana era: vamos fazer tudo aos olhos do público, então vamos gastar mais, ter a convicção de que o nosso sistema funciona, e lançar uma espaçonave só, mas feita para dar certo. Se der errado, pagamos o ônus da má propaganda. Mas não precisamos fazer dez sondas iguais para acertar uma vez.
      Com o passar do tempo, é óbvio que a estratégia americana se mostrou mais acertada. Mas pode-se argumentar que isso manteve os custos da exploração espacial altos. Agora, finalmente, estamos conseguindo começar a conciliar as duas coisas: baixo custo por unidade e taxa mais alta de sucesso.
      Agora, claro, pousar em Marte é sempre um desafio. Ainda mais se o módulo de pouso é um teste tecnológico feito com um orçamento relativamente baixo.

  35. Putz… não acredito……..
    Agora só nos resta torcer para que Schiaparelli “volte a vida” após ter seu sistema reinicializado.
    Que Marte seja detalhadamente analisado e que todos os dados sejam encontrados.
    Para alimentar mitos, nada pior que a ignorância.

    1. O orbitador, espera-se, por muitos anos ainda. O Mars Express, orbitador anterior da ESA, chegou lá em 2003 e segue em operação até hoje!

    1. Em defesa da Nasa, ela acertou o pouso em Marte em sete de oito tentativas. E acertou logo de cara — duas vezes seguidas. 😛

  36. Mesmo com a atmosfera tênue e pobre em gases/ar como a de Marte, me parece mais difícil uma missão de pouso na superficie marciana do que uma reentrada na Terra, ou seria somente pela dificuldade da distância e tudo ter que ser feito pela inteligência embarcada das próprias naves?
    Fato que se recuperarem os dados para entender o que ocorreu já se pode comemorar também, visto como é difícil essas missões distantes onde não se pode intervir em tempo hábil para mudar/corrigir alguma coisa nas manobras!

    1. É mais difícil pousar em Marte porque a atmosfera ajuda muito menos a frear — é mais rarefeita.
      E não ajuda o fato de que tudo tem de acontecer automaticamente, o que cria uma camada adicional de dificuldade.

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