RIP: Espaçonave da Nasa fotografa local do impacto do Schiaparelli em Marte
A imagem fala por si mesma. Dois pontos que não existiam antes em Marte agora estão lá. Um, mais claro, parece ser um para-quedas. O outro, escuro, a um quilômetro de onde caiu o para-quedas, é o local de pouso do Schiaparelli. Só que a mancha escura tem tamanho de 15 x 40 metros. Ou seja, é sinal de uma colisão das brabas. Descanse em paz, Schiaparelli.
O registro foi colhido pela câmera de baixa resolução da sonda americana Mars Reconnaissance Orbiter, a CTX. Fazia sentido começar por essa câmera porque ela tem um campo de visão que permitiria confirmar com alguma precisão o local de pouso, antes de tentar usar o olhar mais afiado, mas com campo mais estreito, da câmera HiRISE. Se tudo tivesse corrido bem, o Schiaparelli não apareceria na imagem, mas o para-quedas sim.
Agora, sabendo exatamente para onde olhar, o plano é que a Mars Reconnaissance Orbiter volte a sobrevoar a região de Meridiani Planum em mais alguns dias e então use a HiRISE para revelar com mais detalhes o que restou do Schiaparelli. Mas um quadro do que foi a tentativa de pouso — a essa altura inequivocamente fracassada — já começa a se formar.
O tamanho da mancha indica que foi uma queda livre significativa, entre 2 e 4 km acima do solo, segundo a ESA (Agência Espacial Europeia). A descida descontrolada deve ter começado logo após a liberação do para-quedas. Os retropropulsores se acionaram por quatro segundos e depois desligaram — a razão para isso ainda é desconhecida. Mas o corte prematuro da propulsão naturalmente levou a sonda a seguir seu caminho atmosfera abaixo atraída apenas pela gravidade.
O impacto deve ter acontecido a mais de 300 km/h (o que bate muito perto com uma conta de verso de envelope que o Mensageiro Sideral havia feito junto com o astrônomo Cássio Barbosa no dia do pouso, depois que começaram a circular os rumores de que a coisa pegou o caminho errado depois do desprendimento dos para-quedas. Havíamos projetado a velocidade de chegada ao solo em 400 km/h).
Não bastasse o impacto violentíssimo, precisamos lembrar que os propulsores só queimaram por quatro segundos, dos mais de 30 esperados, o que significa que o Schiaparelli ainda devia estar cheio de combustível. A mancha escura provavelmente é resultado de uma explosão após o toque com o solo, revirando e calcinando o material da superfície.
As análises continuam para descobrir o que levou ao fracasso e corrigi-lo para a próxima tentativa. Mas, ao menos por ora, a Nasa segue soberana como a única entidade que conseguiu realizar pousos bem-sucedidos em Marte.
E, se quiser ver como o foi o drama ao vivo, o Mensageiro Sideral transmitiu, com comentários do engenheiro Lucas Fonseca e do astrônomo Cássio Barbosa. Confiraí.
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Salvador, parabéns por este espaço elucidativo do Cosmo!
Tamos aí, a proverbial vela acesa na escuridão. 😉
Conheço uns que deviam aproveitar que Marte é vermelho e fugir pra lá depois da vergonheira de ontem.
Salvador não aprovou meu comentário sobre a origem gaudéria do nome da nave? Gauchofobia no blog???
Aprovei sim.
Aprovou sim. Eu é que comi mosca. Estava procurando no post errado. Não ia achar nunca.
Mais uma coisa Salvador. Ao imaginar que realmente existiu vida em marte a cerca de 1, 2 ou 3 bilhoes de anos atrás. E um período longo demais. Estes restos, degradados por incontáveis fatores, deixariam que tipo de evidência reconhecíveis?
Marte é um planeta geologicamente morto, então encontrar evidências fósseis lá deve ser mais fácil do que na Terra, em princípio. Já viram, inclusive, algumas coisas que morfologicamente lembram fósseis…
http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2015/01/05/encontramos-fosseis-em-marte/
Salva. Boa tarde. É realmente possível extrair agua e oxigenio da HIDRAZINA?
Não. Mas você induzir uma reação endotérmica da hidrazina (ou seja, esquentando e expandindo) ao passar por um catalisador.
Salvador, se a NASA colocasse a Nina Mercedez e a Carmella Bing na próxima nave, isso resolveria a falta de combustão em Marte?
Não sei quem são essas senhoras.
Cof! Cof!
Salvador, sei que a pergunta é estúpida, mas qual o comburente na atmosfera marciana para permitir a explosão do combustível? Oxigênio não é, né?
Não é. No caso, o Schiaparelli usava hidrazina, que pode queimar sozinha, ao passar por um catalisador. Quando não é o caso, a nave precisa levar o oxigênio junto para a queima.
Sua pergunta não é estúpida. Estúpido é não saber e não perguntar. Toda pergunta feita no intuito de aprender é válida. Eu tinha a mesma dúvida que você, e graças à sua pergunta, aprendi um pouco mais.
Salvador, por quanto tempo na história do nosso sistema solar marte teria sido um planeta teoricamente habitável (para formas de vidas mais complexas)?
E mesmo que algum tipo de vida tenha se desenvolvido, quais as chances projetadas para se encontrar alguma evidência?
Fico pensando, por exemplo, qual a chance de que daqui há alguns milhões de anos alguma forma de vida inteligente aterrize na terra, em algum ponto, e consiga encontrar evidências de que algum dia tenhamos existido. Acho que seria bastante improvável que encontrassem algo.
Para formas de vida mais complexas, provavelmente nunca e talvez só por uma centena de milhões de anos (conforme a perda de água levou a um enriquecimento da atmosfera com oxigênio). Para vida, ponto, pelo menos 1 bilhão de anos, entre 4 e 3 bilhões de anos atrás.
Salvador, bom dia.
Li na sua reportagem que os americanos foram os unicos a conseguirem aterrisar com sucesso em Marte.
Mas recentemente os indianos também não conseguiram? Ou estou equivocado?
Grande abs!
Boa semana de trabalho para todos nós!
Rafael, os indianos conseguiram entrar em órbita de Marte — o que, para uma primeira tentativa, foi um enorme feito. Mas pousar, por ora, só os americanos. Aparentemente russos e europeus já tiveram cada um um pouso suave — com a Mars-3 e o Beagle 2, respectivamente, mas nenhum dos dois funcionou depois que chegou ao chão. Abraço!
Seria algum tipo de raio atrator disparado por homenzinhos verdes? Mas falando sério, uma grande lástima, além da grana altíssima investida fica a frustração pela enorme ansiedade das descobertas importantes que esse equipamento faria em nosso vizinho, provavelmente conhecimento extra pra tão sonhada descida do homem à Marte.
Salvador, quanto aos orçamentos, vc sabe o custo dessa missão, comparando com a do jipe Opportunity(sem contar a Spirit e nem falo da Curiosity, mais avançada).
Essa missão da ESA para 2020 terá mais investimento? Vc poderia falar um pouco dela?
Um grande abraço!!!
Anderson, estava tentando garimpar esses dados. A ESA só dá conta de dizer o custo inteiro do programa ExoMars — que inclui o orbitador (TGO), o módulo de teste Schiaparelli e o rover de 2020. No total, é 1,3 bilhão de euros. O Schiaparelli certamente é o mais barato de todos os elementos. Eu chutaria — e é *chute* — uns 200 milhões de euros.
E se foram minhas chances de confirmar que a NASA altera a cor de Marte nas fotos. Salvador você acha que o céu de Marte é azul?
Acho que o céu de Marte pode ser azul em condições de atmosfera limpa, com pouca poeira. Em geral, fica naquele tom de salmão por conta da poeira suspensa no ar. Mas provavelmente se você olhar na direção do zênite, será azul.
A NASA “altera” as fotos de superfície de Marte no sentido de calibrar as imagens para que a paleta de cores se assemelhe à da mesma cena fotografada sob a luz que temos na superfície terrestre. É pra isso que servem aqueles padrões geométricos em preto e branco que vemos no corpo no Curiosity. Facilita em muito a vida dos cientistas que analisam as imagens, já que foram treinados a vida inteira vendo as coisas sob a luz “branca” do Sol e não sob uma luz marrom-avermelhada.
Perfeito, Ricardo!
”Homem, de onde vens para onde vais, com duas asas de mariposa que o Sol não comburiu? A Lua é hóstia de Deus na comunhão do sem-fim”. Poesia de Lauro Rodrigues que diz muito das nossas limitações mas que não significa que não devemos continuar buscando respostas com a melhoria cada vez maior da nossa tecnologia.
Parece que a tecnologia de lançamento até entrar na orbita do planeta já tá bem dominada pela ESA.Acredito que a dificuldade técnica esteja mesmo em pousar o modulo intacto na superfície do planeta. E essa dificuldade deve ser por conta do delay do sinal devido a distância.Então neste caso não dá pra comandar daqui ‘ao vivo’ com uma câmera instalada la na nave e pousar.Então o ideal seria que tivesse um astronauta na nave fazendo este serviço ‘ao vivo’. Mas como isso não é possível então imagino que os técnicos tem que optar por inúmeros sensores que informem a um soft pra que ele tome a decisão do que fazer na hora de entrar na atmosfera do planeta e ativar paraquedas/retrofoguetes /etc para pousar com sgurança e tudo isso sem nenhuma intervenção daqui da terra. Acho que é aí que a Nasa leva vantagem pois acredito que eles tenham um soft de AI que deve ser equivalente a ter um ‘astronauta humano’ a bordo. Penso que este deve ser o ‘segredinho’ dos Americanos que eles não compartilham com ninguém. Mas é uma pena ver todo esse esforço/investimento se espatifar no solo vermelho.
Olá José! Nenhumas das agências comandam o pouso a partir da terra (seria impossível). É tudo automatizado. Talvez um erro de cálculo ou um erro de software ou no próprio hardware tenha causado o impacto… Mas isso só descobriremos depois.
Cadê o Afrânio?
… ele me fez engolir (rsrsrs) a história do elástico – que é muito elucidativa quando se estuda um espaço 2D – e agora eu gostaria que ele tomasse conhecimento das minhas BEXIGAS em expansão (rsrsrsr de novo) que identificam melhor um modelo 3D, que parece ser o caso do nosso Universo.
…
Oi Afranio. Achei bastante claro seu comentário. Obrigado.
Agora imagine. Apenas imagine que você tenha duas bexigas que podem se dilatar imensamente ok?
A primeira você enche com 20 centímetros de diâmetro e a segunda com 200 centímetros.
Na superfície das duas bexigas você desenha pontos, todos na mesma distância entre si.
Em seguida enche as duas bexigas na mesma proporção de enchimento.
Pergunto: Os pontos da primeira bexiga se distanciarão na mesma proporção que da segunda?
… desculpe usar bexigas, mas você usou um elástico.
abraço
Essa história das bexigas está mais correta do que a dos elásticos. Só acrescente uma dimensão extra e voilá.
Prezado Salvador, que bela surpresa a descoberta deste site. Vou procurá-lo quando houver um tipo de evento importante como este. Acho que para quem sabe usar esta estranha massa que carregamos na cabeça, o entusiasmo por Marte lembra o que sentimos quando o Sputnik foi lançado, os satélites chegaram às suas órbitas, se criaram astronautas, primeiro grupo de ‘super humanos’ (reais, ao mesmo tempo atletas e, literalmente, cientistas de foguete), a chegada à Lua, os Shuttles, e tudo o que se seguiu. Acompanho e vibro com isto desde que nasci. Como dizia George Mallory para os céticos e acomodados, que não viam sentido em se escalar topo de montanha, e perguntavam, por que? é porque está lá. Sem esta extrema curiosidade, ainda estaríamos em cavernas acuados por outros primatas.
Três pontos sobre Marte (o problema do pouso. embora complexo, vai se resolver logo, porque é essencialmente uma questão mecânica): 1) A exposição continuada de humanos à radiação. Li que apenas uma nave dotada de um revestimento líquido, água, por exemplo, poderia proteger de maneira adequada os astronautas. Imagine a logística de tal conceito. É um grande problema, cuja solução talvez dependa da invenção de dispositivos do qual ainda não temos a mínima idéia do que sejam. Mas gosto deste suspense. 2) A incrível quantidade de dejetos orbitando a Terra, em alta velocidade, que pode arruinar uma nave se a atingirem. Precisamos limpar estes detritos, que felizmente ainda não causaram nenhuma tragédia no espaço. Tarefa cabeluda. 3) Finalmente algo óbvio, cuja pesquisa em busca de soluções já está mostrando algum resultado: a estadia num planeta inóspito, por período indeterminado, possivelmente final. Isto deve requerer um tipo de humano que a evolução nunca precisou criar na Terra. A questão é mais profunda e complexa do que simplesmente achar um grupo de loucos inteligentes que estejam dispostos a largar tudo e morrer em Marte.
Mas como disse, esta expectativa de achar soluções para viagens interplanetárias – mesmo que, cruze os dedos, não sejamos forçados a empreendê-las devido a nosso descaso nefasto com o meio ambiente – estimula aquela massa misteriosa de que falei no início. Dependemos dela. Continue com o excelente trabalho, e não perca tempo com o obscurantismo cruel e obtuso de alguns comentaristas (costumava me perguntar por que insistem em argumentar com interessados em ciência, se já têm milhares de sites seus onde se lambuzam em sua ignorância. Minha atual ‘teoria de trabalho’ é de que estão aqui para catequizar. Então com sua licença, que se desapareçam e se lixem). Abraço
Valeu pelo apoio e pelas valorosas observações! Abraço!
Salvador, parabéns por mais este post, acompanho tudo que vc publica!
A minha curiosidade é sobre sua opinião (ainda que seja um chute). Vc acha que encontraremos vida em marte? Nesse caso, vc acha que estaremos vivos se e quando isso ocorrer, ou seja, serão muitas décadas à frente?
Acho que quase certamente encontraremos sinais de vida pregressa. Sobre vida presente, mais difícil. Mas não perdi a esperança, não.
Salvador, teoricamente pousar em Marte é menos complicado que pousar em um planeta com as características físicas e dinâmicas da Terra?Supondo que seja mais fácil, como as missões ainda falham como essa, já que não é a primeira falha na tentativa de pouso em Marte?
Não é mais fácil. É mais difícil. Tem menos atmosfera, pode contar menos com para-quedas. Isso limita o tamanho da carga que conseguimos descer lá. Além disso, só o fato de ser lá, independentemente da dificuldade, já complica, porque tudo tem de ser feito automaticamente, sem ajustes de última hora.
Rei morto, Rei posto.
Módulo Schiaparelli já era…ponto!
Vamos virar a página e falar do que interessa:
“Sonda Juno” – as fotos já foram processadas para publicação?
Alguma equipe independente, não publicou nada?
O silêncio de informações, é preocupante! Será que deu M….?
Salva, congratulations! Pela qualidade dos comentários, infiro que vc foi para a home do uol muitas vezes nos últimos dias…
Hehehe, a equação química é: notícia quente + agilidade = UOL + chuva de merda. Hehehe
A nasa poderia mostrar esse acontecimento em vídeo e não por foto, eu nunca acreditei na nasa nem antes nem hoje e nem nunca, a nasa esconde muitas coisas sobre o nosso planeta!
E ia acreditar se os caras conseguissem transmitir vídeo de Marte?? 😛